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ESTRUTU: © cestrturaliano esti na moda. Ea moda tom is de exagperante: 40 erties, de certo Inodo-@ weeitmas. 0 presente volun, ‘com ‘agredo. menos 80” estutualinno ea. Ses problemas, pretendo. mostrar que eras eit cas que lhe sto ‘onderocadas concernem tio pouco ao estutualino ato certae apo. ie ‘As pessoas falvam de estrus em antes do sonhirer dizerse_estruturaistasy eransn0 sem. 9 saber ens teria claborads mals tide Iodtficon 9 fenslo da palanra? Jean’ POUIL- ox, ator do ensafo de tpreentaguo déste vo- fem, afrna gaunt defini cise da pala via “esuatura! = a mane como as partes de 1m todo lquer fo aranjadas ents st =o Aceato fol dedbcador o que importa © mao amtanj. objetivo, consttado, ue sa’ “ma Trout lado, falar de “mancina” supse aqve¥hafa miu ue seria tan tmancia’ se ‘Mo houvese outs? — 0 cstrtiralisno anstitule en sepia, como conseqttn dessa plralidade, Nao se julgve, por. isso, fque 0 estruturalisimo se Tanita a om’ dowitnio fue The eja_ proprio rie, dominio algun he ¢ proibide, n do iso dizer {que flo resolva tolos os problemas, mas, ape nas, que poe abordé-las’ a todos, sejam les Tingltions, histiricos om socias, sempre. dem: tro de um porpectivatotalaate ented: pendento Essa amplide de abordagem ¢ demonstra a nos ensaios aqui sounides, publieadas. or Bindriamente em mnimero especial da revista Ghrigida por Jian-Paun. Sanne, Les Tempe Moderne, estudando Mane Barmor @ sentie de palaven “estrutura” em matemitien, A. J Gretaras em sua aplicagao & cigacia histories, Mavmicr Goomumm a aplica ao sentido de contradigdo. em. Capital, Paste BoUkon a0 campo intelectual © projeto eriador, e Pre. fe Maciamay e JAcgexs EnmMass a anilise Heri Titulo original: PROBLEMES DU STRUCTURALISME, ‘Trduzido do u* 246, publicado em novenibro de 1966, da revi ‘LES TEMPS MODERNES, Paris, Franca | e Copyright © 1988, Les Temps Modernes oe APRESENTAGAO: UMA TENTATIVA DE DEFINIGAO — Jean Povsttos Tradugio de Moscx Patannns © SENTIDO DA PALAVRA “ESTRUTURA” EM MATEMATICA — Mane Bansur ‘Traducio de Jacqusus Casto ESTRUTURA E HISTORIA — A. J. Gnerotas Tradugio de Apa Navan, Ropiicvns SISTEMA, ESTRUTURA E CONTRADIGAO EM “0 CAPITAL” — Mavmce Goveuimn’ ‘Tradugio de Envuros pz S4 Rico CAMPO INTELECTUAL E PROJETO CRIADOR — Prenne: Bouromev Tradugio de Rosa Mana Riswno pa Sova A ANALISE LITERARIA, TUMULO DAS ESTRUTURAS — Pirane Macuenry Dirvitos para a lingua portaguésa adres por pe eaeee eer ‘Tradugio do Mama Cita, BaNpetra ZAHAR EDITORES Tua México 31 — Rio de Jancira AS STRUTURAS DA TROCA EM CINNA — Impreeso no Brasit a 53, o 105 ui 169) i CAMPO INTELECTUAL E PROJETO CRIADOR | } Prenne Bounpey ‘Traduedo de Rosh Mania Risetno na Siva i “As teorlas @ as esealas se devoram reciproca- mente, como 08 mierdbios © os globulos, & asso furan por sua Tuta a continnidade da vida. 'M. Drousr, Sodome et Gomorthe, | Ease 4 Sociologia da eriasio incest ¢ aptisticn seu ‘objeto proprio , ao mesmo tempo, seus limites, & preciso per | cecher ¢ considerar que a "aia tim etiador rrantém €om sua obra e, por isso mesmo, & prépria obra sito afetadas pelo sistoma de relagGes socinis nas quais se realiza a eriagéo como ato de comunicagio ou, mais precisamente, pela posigio do criador na estrutura do. campo intelectual (ela propria fun- ‘cas, 20 menos por um lado, de sua obra anterior e da acei- - tagdo obtida por cla). Ledutivel a um simples agregado de agentes isolados, a um conjunto aditivo de elementos simples- snente justapostes, o campo intelectual, da mesma maaneira que © campo magnético, constitui um sistema de linhas de f8rga: isto 6, 0s agentes ou sistemas de agentes que 0 compoem po- dem ser descritos como férgas que se dispondo, opondo com- pondo, Ihe conferem sus estrutura ica num dado mo- ‘mento do tempo. Por outro lado, cada um déles é determi- nado pelo fato de fazer parte désse campo: & posigio parti- 106 PROBLEMAS DO HSTRUTERALISIO) cular que éle af ocupa deve com efeito, propriedades de po- Sie, Imedutiets bs propriodades intrasecas ey paca mente, um tipo determinado de participacéo no campo cul- | tural enquanto sistema de relagoes entre temas e problemas ¢, por isso mesmo, um tipo determinado de inconsciente cultural, 49 mesmo tempo que é, intrinsecamente, dotado daquilo que chamaremos péso funcional, porque sua'“massa” propria, isto 6 seu poder (ou melhor, sua autoridade) dentro do campo, nito pode ser definido independentemente da posigio que ocupa no campo. ‘Tal procedimento sé tem fundamento, é claro, na medida fem que 0 objeto ao qual se aplica, a saber, 0 campo inte Jectual (e por isso mesmo 0 campo cultural), possui uma aue tonomia relativa, que autoriza a autonomizagdo metodolégica efetuada pelo método estrutural ao tratar © campo intelectual como uma sistema rogido por suas préprias leis. Ora, a hist6ria da vida intelectual € artistica no Ovidente permite ver como © campo intelectual (e, ao mesmo tempo, o intelectual em ‘0, por exemplo, ao letrado) se constituiu, progressiva- mente, dentro de um tipo particular de sociedades histéricas Na medida em quo os dominios da atividade humana se dife- renciavam, uma ordem prdpriamente intelectual, dominada por um tipo particular de legitimidade, se definia por oposigao. a0 poder econémico, ao poder politico e ao poder religioso, isto 6, a t8das as instincias que possam pretender logislar em ma- téria de cultura, em nome de um poder ou de uma autoridade que nfo seja prdpriamente intelectual. Dominada por uma instincia de legitimidade exterior durante téda a Idade Média, uma parte da Renaseenea e, na Franga, com a vida de eérte, durante todo o periodo clissico, a vida intelectual se org- nizou, progressivamente, em um campo intelectual na medida fem que 05 artistas so libertavam, econémica e socialmente, da tutela da aristocracia ¢ da Igroja, de seus valéres éticos © es- téticos, e também, na medida em que apareciam instdnetas especificas de selecdo e de consagracdo propriamente intelec- tuais (ainda que, como os editéres ou diretores de teatro, con- ‘tinuassem subordinadas a_pressdes econdmicas e sociais que, através delas, pesavam sibre a vida intelectual) e colocadas em situacéo de concorréncia pela legitimidade cultural. Assim, L. L. Sehucking mostra que 2 dependéneia dos escritores ‘capo neTELECTeAT, E PROSETO ERIADOR 107 ‘para com a aristocracia e seus einones estéticos se manteve amas tempo no dominio da litemtura do que em matéria de teatro porque “aquéle que queria ver las suas obras devia ter sssogurdo © patrociio de um nobre”«, par ata sna aprovacio e a do piblico, ao qual necessiriamente se di- rigia, devia submeterse a seu ideal cultural, seu gésto pelas formas dificls e artificial, pelo esterimo eo humanismo clissico, préprios de um grupo preocupado em se distin Gh comm ints gs pitas cults go sont, oon tor teatral da época elisabetana néo dependia mais, exchusiva- mente, da boa vontade ¢ da benevoléncia de um sé. patrono ¢ — & diferenca do teatro de cérte francés que (como lembra Voltaire contra um eritico inglés que Touvava a naturalidade da expressio "Not a mouse stirring” de Hamlet) esta préso a uma finguagem tfo nobre quanto’ a das pessoas de posicéo social alfa as quais se dirige —, devia sua liberdade aos pe- didos dos diferentes diretores de teatro ¢, através déles, aos direitos de entrada pages por um piblico cada ver mais di versificado. Assim, & medida que se multiplicam e se diferen- ciam as instincias de consagracio intelectual e artistica tais como as academias © os siloes (onde, sobretudo, no século XVIIL, com a dissolugio da cdrte e de sua arte, a aristocra- cia se’ mistura & intelligentsia burguesa, adotando seus mode- Jos de pensamento © suas concepgdes artisticas ¢ morais), € também as instineias de consagracio e de difusio cultural tais como as editéras, os teatros, as associagbes culturais ¢ cien- tificas; & medida, também, que o pitblico se expande ¢ se di- versifica, 0 campo intelectual se constitui como sistema sem- pre mais complexo ¢ mais independente das influéncias exter- nas (dat por diante mediatizadas pela ostrutura do campo), come campo de relagées dominadas por uma légica especitica, \que @ a da concorréncia pela legitimidade cultural. “Historie camente’, observa ainda L. L. Schucking, “o editor comega ‘a desempenhar uma fungio no século XVIII, no momento em que 0 “patrono” desaparece.? Os autores estiio plenamente cons- 1 L. L, Scuvoxno, The Soojology of Literary Taste, trad. E,W. Dicks, Londres, Routledge and Kogan Paul, 1068, pigs. 10-15 2 Como o nota Schucking (ibid, pag. 16), hi ume fase de tans fem que o editor & tibutdrio de subserigées que dependem muito das relagies enlee 0 autor e 08 patron0s, 108 PROSLENAS DO xsTROTMATIS\CO lentes disso. Assim, Alexandte Pope, escrevendo a Wycherley em 20 de maio de 1709, lancava uma provocagio a Jacob Tone son, © eélebre editor de uma antologia muito considerada, Jacob, diz éle, faz os pootas como os reis faziam antigamente os cavalheiros. Um outro editor, Dodsley, viria a ter mais tarde a mesma autoridade, 0 que o levaria a tornar-se alvo dos ver~ 80s espirituosos de Richard Grave: In vain the poets from thelr mine Extract the ‘ining mass, Till Dodsey’s tind has stamped the coin And bide the sterling pase E, de fato, essas editdras tomaram-se, progressivamente, fonte de autoridade. Quem poderia imaginar a literatura in lésa daquele século sem um Dodsley ou a literatura alema lo séeulo seguinte sem um Cotta? (...) Depois que Cotta conseguiu rcunir em suas publicagées alguns. dos escritores “clissicos” mais eminentes, ser editado por ele foi, durante vi- ias décadas, uma espécie de dircito a imartalidade Schu- cking mostra da mesma forma que a influéneia dos diretores de teatro é ainda maior, pois, como o féz Otto Brahm, podem orientar o gésto de uma époce através de suas eseolhas* Tudo leva a pensar que a constituieao de wm campo in- telectual dotado de uma relativa autonomia é a con aparecimento do intelectual auténomo que née conhece e no quer conhecer outras presses que nao sejam as exigéncias constitutivas de sew projeto eriador. Na verdade, esquece-se muitas vézes que 0 artista nem sempre manifestou, em rela- Go a téda pressio exterior, a impaciéncia que 0 projeto cria- dor nos paroce definir. Schucking conta que Alexandre Pope, considerado um grande poeta duranto todo o séeulo XVI, few sua obra-prima, uma tradugio de Homero que seus contem- pordneos consideravam uma maravilha, para seu patrono Lorde Halifas, na presenca de numerosa asvembléia ¢, segundo Sa- muel Johnson, aceitou sem protestar as modifieacées que Ihe foram’ sugeridas pelo nobre. E multiplica os exemplos que tendem a provar que tais préticas nfo tinham nada de ex- 4 L. Le Schucking, op. cit, pigs. 5051. © Op.ci pis. 8” campo INEELECTUAL B PRO}ETO GHADOR 109 copeional: “Lydgate, 0 famoso disefpulo de Chaucer, achava muito natural que seu patrono, 0 Duque Humphrey de Glow cester, irmao de Henrique V, “corrigisse” seu manuscrito; ¢ conhecemos casos exatumente iguais 2 éste na vida de Spen- ser, contemporiineo de Shakespeare. O préprio Shakespeare declara, no sonéto 78, que seu mecenas corrige os erros dox ou- tros "20 Hamlet, coloca em cena um Pracips que diige 9s atéres como um diretor experiente” A medida que o cam- po intelectual ganha em. autonomia, o artista afirma cada vez mais fortemente sua pretensio 2 autonomia, proclamando sua indiferenga para com-o piblico. £ sem divida com o-século XIX e 0 movimento. romintico que comeca 0 movimento de Iibertagéo da intencao eriadora, que vai encontrar nas teorias da arte pela arte sua primeira afirmagio sistemitica” Esta redefinigio revolucionéria da vocagio do intelectual e de sua fungio na sociedade nem sempre 6 vista como tal porque Teva 2 formagio do sistema de representagées e de valores consti- tutivos da definicdo social do intelectual que nossa sociedade admite como evidente. Segundo Raymond Williams, “a mu- danga radical em matéria de idéias sébre a arte, 0 artista e seu Jugar na sociedade” que (com as duas geragdes de artistas rominticos: Blake, Wodsworth, Coleridge e Southley de um lado; Byron, Shelley ¢ Keats de outro) coincide na Inglaterra com a revolucio industrial apresenta cinco caracteristicas fan- damentais: “primeiro, a natureza da relagéo entre o escritor 6 sens leitores sofre uma transformagio profunda; segundo, uma atitude diferente em relagio 20 “piblico” torna-se costumei- 1a; terceiro, a produgio artistica tende a ser considerada como uum tipo de producio especializada como tantas outras, sujeita © Op, cit, pig. 27. Mais adlnte (pig. 43), Schucking relate sinda jue Chorcivard, um’ contemporineo de Shakespeare, escrevia em tant le sas dedicatrias, coi Una franquen que "nos parece ‘ciica, quo, initando 0 peito, tha madado.a favor di comentey Drylew adit abertamente que’ ni ‘inka outa. prescupacio senio. a de conguistat © pablicn © que se ste esperava dle wnt comédia Ou umn siti mals i, le nao hes est Io ofercor, Sem livid, enconteanso em épocts mais afastada, desde 0 steulo XVI e'taher antes, aftzmagies do" desdém aritoeritico, do. artista om, 0 mau sto do. pablico, mas elas nao cousutacm concn, antl do ‘etlo AIX, ‘ima profisio de fé consttutia da ifongaoefaant Tuam spéelo de alutrina 4 110 [PROBLEMAS Do FSTMUTERALISNO fs mesmas condigdes que a produggo em geral; quarto, a teo- ria'da realidade “superior da arte", come coloctgto. de’ uma yerdade de imaginagao, reveste-se de uma importincia eres- conte; quinto, a representagio do escritor como eriador inde- pendente, como génio autonome, toma-se uma espécie de re- ‘gra’ Mas é preciso tomar a revolugio estética, que se afirma nia teoria da realidade superior da arte e do génio autinamo, por uma simples ideologia compensadora, suscitada pela amea- 8 que a sociedade industrial e a industrializagio da sociedade intelectual fazem pesar sObre a autonomia da criagio artis- tica e sObre a singularidade insubstituivel do homem eulto? Se- nia o mesmo que dar como explicagio total da realidade wma parte da realidade total quo dove sor explicada. ©. pequeno circulo de leitores diretamente freqiientados, cujos conselhos « crfticas 0 artista se tinha habituado a admitir por prudén- cia, deferéncia, boa vontade ou tudo isso ao mesmo tempo, fot substitufdo’ por um ptiblico, “massa” indiferenciada, im- pessoal e andnima de leitores sem rosto, © também mercado de compradores em potencial capazes de dar & obra uma san- ‘sio econdmica que além de poder assegurar a independéncia econdmica e intelectual do artista nem’ sempre & desprovida de tOda legitimidade cultural. A existéncia de um “mercado literério e artistico” torna possivel a formagio de um corpo de profissies propriamente intelectuais — seja com o apareeimen- to do novos personagens, seja com personagens antigos que recebem novas fungdes — isto é, a constituieao de um verda- deiro campo intelectual como sistema de relagBes que se esta- bbelecem entre os agentes do sistema de produgéo intelectual.§ A Be Muar Cutan aud Solty, 17801950, Harnondswort, Peogiia Books, 3° ed., 1985, laso FFE Wisse eclaioce también as relagdes de. interdependncia «qe imem 2 apareeimenta. de wm ndvo.pibleny que perionee a wuna Sova classe sola, a un sorters saido¥ da ines caste. © dk insituleses. ou de formas erlsdoas eriadas. por osta classe, “O ca ‘tr dv Heri ot sbi foal pe tom do cnc. fo © pela mudanga do piblio. Quando tssistinos ao ‘aparecimento 2 cctres'do ant nbvo grup soca, deveros consider eben at inutigser eas formas eradat pelo confumto do grape a. que, Perten- com. 0 teatro charbetano (.-}, enguanto fostigaey foi ean andes Dirle erndo por expeculadores sados! das. classes tains, vivo, de Decas de escdtores sldos em tun mai de fanllas de atesios @ de omerciantes, embora, de falo, tonha sido sempre. combatido por essa (CAMPO INTELECTUAL E PROJETO GMADOR 1 espesifcdade disse sistema de produsio (Iigada a especiti- cidade de seu produto, realidade de dupla face, mercadoria. signifieagio, cujo valor estético se mantém irredutivel ao valor econdmico, mesmo quando a sangio econdmica vem redobrar @ consagragio intelectual) acarreta a especificidade das rela- es que af se instauram. As rclagGes entre cada um dos ages tes do sistema e 08 agentes ou as instituicies, total ou parcial mente, exteriores so sistema Go sempre mediatizadas pelag relagées que se estabelecem dentro do proprio sistema, isto é, xno interior do campo intelectual, a concorréncia pela legitimi- dade cultural de que © piiblico é 0 penhor e, a0 menos apa entemente, 0 érbitro, nunca se identificando completamente & concorréncia pelo éxito no mercado. E: significativo que a) frrupgiio de métodas e ténicas, tomados de empréstimos 4 ordem econémica ¢ ligados & comercializagio da obra de arte (como a publicidade comercial dos produtos intelectuais), coin- ida no 36 com a glorificagio do artista © de sua missio qua- se profética, com 0 esférgo metédico para soparar o intelectual 6 seu universo do mundo comum (como, por exemplo, através da extravagéneia no vestir), mas também com a intengio de- clarada de nao reconhecer seniio éste leitor ideal que é um alter ego, isto é, um outro intelectual, contempor’neo ou fu- turo, capaz de empenhar em sua eriago ou sua compreensio das obras a mesma vocagao propriamente intelectual que de- fine o intelectual auténomo, nao reconhecendo outra legitim- dade que nio a intelectual. “E belo aquilo que corresponde a uma necessidade interior”, diz Kandinsky, Aafirmagdo daa tonomia da intengio criadora leva a uma moral da conviecio que favorece um julgamento das obras segundo a pureza da inten¢io do artista ¢ que pode terminar numa espécie de ter- orismo do gisto quando 0 artista, em nome de sua convieg Clase iin de comeriutn, Acai, um poo popu, ee Vive graces & protecio da edrte e da nobreza (...) Bodesse atribuie 4 fomeao do "implica erganizaco de" clests wnélls, no sdeulo XVIIL a certs eieriores do nese grupo. socal, mas também, 'e 50. bret, pode-se ver nela 9 resultado eum desenvolvimento indepen dlonte que oferecen. aos esxtores soa oportunklade. A expansio ea ‘ngantztcio.désse piblioo 20, prolonganm pelo s6calo XIX. araindo novos escritores de origenssbelals ‘diversas mas homogencizanonos através de suas instituigdes” (R, Wunuiass, The Long Revolution, Hare ‘iond-Worth, Pelikan hooks, 1965, pag. 366). 9 112 PROBLESAS DO merMETOMALIEMO exige um reconhecimento incondicional para sua obra. Assim, 3 ambicéo da autonomia aparece logo como a tendéncia espe: (ciiea ‘do compo intloctuel” © afastnncnte ds piblico e a re- eusa declarada das exigencias vulgares que fomentam 0 culto a forma por ela mesina, da arte pela arte — acentuagao sem precedente do aspect mais especifico e mais irredativel do ato da criagio e, com isso, afirmagio da especificidade ¢ da ‘rredutbilidade do criador — sio acompinhados de um cs. treitamento e de uma tntensificagao das relagdes entre os mem. bros da sociedade artistiea. 1 assim que se vé formar o que Schucking chama de “sociedades de admiragéo. miitua”, po- quenas seitas fechadas sdbre sen esoterismo,” ao mesmo’ tem que aparecem os sinais de uma solidariedade nova entre © artista e 0 eritico ou o jomalista. “Os dnicos criticos reconho- cidos eram aquéles que tinham acesso aos arcanos ¢ tinham sido iniciados, isto é, que tinham sido mais ou menos conquis- {ndos pela visto estén do grupo (...) Coneluise quo cada uum désses grupos esotéricos tendia a tornar-se uma espécie de sociedade de admiragéo mitua. E os contemporineas so ¢s- pantavam de que os eriticos que, habitualmente, exprimiam um gisto conservador, de repente tivessem podido lancar-se nos bragos dos paladinos do “art nouveau”. Tnspirada pela eonviegio — to profundamente inscrita na definigdo social da vocagiio do intelectual que tende a ser admitida sem dis- cusséo — de que o puiblico esté, inevitivelmente, condenado 3 incompreensiio, ou melhor, a uma compreensio diferenciada, esta “nouvelle critique” (no verdadeiro sentido pelo menos uma vez) se preocupa em render justiga ao criador ¢, deixan. do de se sentir autorizada, enquanto delegada do pablico eul- to, a baixar um veredicto peremptério em nome de um eédigo incontestado, se coloca, incondicionalmente, a servigo do ar. Lista cujas intengies e razdes tenta decifrar’ escrupulosamente, através do que ‘se pretende soja uma simples interpretacio do conhecedor. Trata-se, evidentemente, de colocar 0 piblico fora do jOgo: e, de fato, vemos surgir, sob a pena dos eriticos 9 Enoontrase ma, obra de Schucking (pigs. 28-30) oma evoeag dhs pits tendéncns lo “nia anos a BL. 1, Souvernso, op. city pg 0. Enconte-so também (, 3) sina esto do faciontntns demas tocnetg Ct CPE: das “trocas' do Serviges” autorzadas por css CcaMPO IVRELECTUAL B PRO]EFO GMADOR 113 dramiticos ou artisticos que, progressivamente, deixam de fa- zer alusio & atitude do piblico por ocasiio das estréins ou das cernissages, expressdes tio elogiientes quanto “a pega féz ‘um sucesso de public”! Lembrar que 0 campo intelectual como sistema auténomo gu pretondente & autononsia ¢ 0, produto do um process his ‘térico de autonomizacio © de diferenciagio interna é legiti- mar a aulonomizagio metodolégica, autorizando a pesquisa da légiea especifica das relagSes que se instauram no interior asso sisteina e © constituem enquanto tal. também dissipar as ilusdes nascidas da familiaridade mostrando que, produto de uma histéria, ésse sistema nfo pode ser dissociade das con- digées histéricas e sociais de sua constituiglo e, com iss0, con- denar téda tentativa de considerar as proposigées. depreendi- das do estudo sinetdnico de um estado do campo como ver- dades essenciais, trans-histéricas e transculturais.” Sendo co- mhesidas as condigdes histéricas e sociais que tomam possi- vel a existéncia de um campo intelectual — e definidas, a0 mesmo tempo, os limites da validade de um estudo de um estado désse campo — ésse estudo adquire entio todo seu sentido, porque pode apreender em acto a totalidade con- cerota das relagdes que constituem o campo intelectual como sistema. Os Passaros de Psaphon Nunca foi completamente apreendido tudo aquilo que esti implicito no fato de que o autor escreve para um pabli- 0. Poueos so os atéres sociais que dependem tanto quanto (s artistas, e de maneira. mais geral, os intelectuais, no que Jeles sio e'na imagem que tém de si mesmos, da imagem que ‘os outros tém déles e daquilo que sio. “Existem qualidades que nos sio atribufdas tnicamente pelos julgumentos de ou- 1 L. Le Scuuamne, op. ety pig. 62. 42.8 event que to prope Ugptendidar dp etude de un cam jo telectua consti podem fomeoor @ principio do. unm. interpre. {igi esrutwal, ja de campos intelectuae Sumgifos do umn. evalaguo histrien difereste, como ‘0 canpo intelectual do. Atenas do" s6cld Y, soja memo de’ eas inteleetusis em. constlgto 414 DROBLENAS D0 ESERUTUNALISO. trem’, escreve Jean-Paul Sartre."¥ H 0 que acontece com a qualidade de excrter, qualidade soclalmente definida inse. ariel, em cada sociedade e em cada época, de uma certa lemanda social com a qual 0 escritor deve contar, 0 mesmo se dé, ainda mais claramente, com a fama do eseritor, isto é, com a representagio que a sociedade forma sdbre o valor 6 a verdade da obra de wm eseritor ou de um artista, © ar- tista pode esposar ou repudiar ésse personagem que Ihe & re- aetido pela socialade, alo pose (gnortle: por iaternédip dessa representagio social, que tem a opacidade © a necessi- dade de um dado de fato, a sociedade intervém no imago mesmo do projeto eriador, investe o artista de suas exigéncias ‘ou de suas rocusas, de suas expectativas ou de sua indiferen. ca. O que quer que faca ou queira, 0 artista tem que enfren- tar a defingio socal de sun obra, isto & concrotamente, os sucessos © 0s reveses conhecidos por ela, as interpretacies Ihe foram dadas, a represontagio social, quise sempre est, reotipade e simpiifiadora, que o publica de amacdlores poss 4 seu respeito. Ein suma, possufdo pela angistia da salvagio, © autor esté condenado a esperar na incerteza os sinais sem. pre ambiguos de uma clei¢éo sempre em suspenso: éle pode viver 0 revés como um sinal de cleicio, ow 0 sucesso muito ripido ¢ estrondoso como uma ameaca de maldigio (em re- feréncia a uma definigio, histdricamente datada, do artista con- Sagrado ou maldito), éle deve, novessiviamente, reconhecer fem seu. projeto criador a verdade de seu projeto criador dada ek reeepgio socal do. sua obra, ordue 0, reconhecimento lessa verdade esté contida num projeto que é sempre projeto de ser reconhecido. EES ene aa No projeto criador se confundem o, as vézes, se contra: iam, a necessidade intrinseca da obra que precisa ser conti. ruada, apereigoads, acabada, 0 as premoas fois que orien. rm a obra de fora: Paul Valéry opunha “obras que parecem criadas por seu prilico, cujas expectativas clas procichcm, ¢ sio assim quase que determinadas pelo conhecimento destas ©, as obras que, a0 contrério, tendem a criar sew publica". E 4B J-B. Sante, Qwestce que la litérature? Pars, Callima a rg. Qwestce que la lutérature? Pasi, Gallimard, 1948, MOP. Vauin, Ocuvres, Pass, N.R.F., col. Pléiade, J., pg. 1442 ceantro nsvELneiuAL. © PROJETO CRIADOR 15) seria possfvel encontrar tédas as mediagdes entre as obras quase que exchusivamente determinadas ¢ dominadas pela re- presentaco (intuitiva ou cientificamente informada} das ex- pectativas do piblico como os jomais, os semanérios, as obras de grande divulgaeao, e as obras inteiramente submetidas 2s exigéncias do criador. Seguem-se dai conseqiiéncias metodo- dgicas importantes: tanto mais adequada quanto mais aut nomas sio as obras as quais ‘ela se aplica (em comparacto Com # autonomizagio metodolgica pela quel ein coloen seu objeto como sistema), uma andlise interna da obra corre 0 co de tomar-se fieticia ¢ enganadora quando se aplica a essas, “obras destinadas a agir fortemente ¢ brutalmente sébre a sen- sibilidade, a conquistar o publico amador de emogdes fortes fou aventuras estranhas” de que fala Valéry, a obras criadas por seu puiblico, porque cri essamente para seu pir Fito odo 0 joel Lancés France Solr, France Dimanohe’ on Paris-Match, on as fotografias de Parisionnes, ¢ quase que to- talmente redutiveis is condigSes eeondinicas e sociais de sua fabricagio, portanto inteiramente passiveis de uma anélise ex: tema. Os chamados “autores de sucesso” sio, sem diivida, os objetos mais Pacilmente acessiveis aos métodos tradicionais da Sociologia, ja que se pode supor que as presses sociais (von- tade de se manter fiel a um estilo que tenha tido éxito, médo de nio ter sucesso) dominam em seu projeto intelectual a necessidade intrinseca da obra. A mistien jansenista dos inte- Tectuais que sempre olham com alguma suspeita os sucessos muito estrondosos encontra talvez: na experiéneia algumas de suas justificativas: pode ser que aquéles que criam sejam mals vulneriiveis ao sucesso do que ao revés ¢, na yerdade, acon- tece que, nfo sabendo triunfar de seu triunfo, éles se subor- dinam as pressdes que Ihes impde a definicto de uma obra consagrada pelo éxito. Inversamente, as obras escapam tanto mais completamente a ésses métodos quanto mais seu auto- res, recusando-se a se ajustarem as expectativas dos leitores reais, impSem as exigéncias que a necessidade da obra Thes impoe, sem nada conceder & representago, antecipada ou ex- perimentada, da representago que os leitores tém ou teyio de sua obra. Entretanto a intengfo artistica mais “pura” nfo eseapa completamente & Sociologia, porque, como vimos, ela deve a 116 tum tipo particular de condigdes histériens ¢ soc Jade de’ se constitu oe pings est obigia eo refert 2 verdade objtiva que the & remetida pelo campo in electnal. A relagio que o eriador mantém com sua obra 6 Sempre amigos 'o algumas vlzes contraditra, na media gm que obra cnlturel, enquanto objeto simbice destinado set comunicado, enquanto mensagem que pode ser recebida ou recusada, reconhecida ou ignorada, € com ela acu autor ta no sen 2 le — que pode’ ser medido polo reco" nhecimento dade pelos pares ou rande pablico, pelos eon Pet, Bee gp ane til eo nificacio ¢ sua vordade daqueles que a recebem tato aa’ Inguele que a produriu. Se lhe acontece ser manifesta, al gumas vézes, sob a forma dieta e brutal das presses finan. Geiras on da obrigacdo juridiea, como aconteco quando tn omprader de quadros intima ui pintor a se ater 20 estilo que The deu sucesso,” a limitagio social age, geralmente, da maneira mais insidiosa. Q_autor mais indiferente as sedu- ses do éxito © menos disposto a fazer concessées As exigen. ias do piblico néo deve levar em conta a verdade social d {i ohm. gue Ihe Ihe &remetda pelo publ, cites on ae Its ¢ redetinir om relagio a ola set projetoerindar? Gon. ada com esta definico objetiva, sua intencio nao ¢ e1 corajada a refletir sObre si mesma ¢ a se explicitur ©, assim, niio corre o risco de ser transformada? Na maioria das vézes,\ @ projeto criador nfo se define, ineyitivelmente, em referén. cia aos projetos dos outros criadores? ‘Sie poucas as obrus) que no contenhain indicagées sdbre a representaca0 que © ‘tutor so tenha feito de sen empreendimento, sbbre 0s concert | tos nos quais pensou sua originalidade e sua inovacio, isto é | oes distinguia, a seus préprios olhos, de seus contempo- | rineos © de seus “antecessores. Assim, como observa Louis! Althusser, "Marx nos deixou, de passagem, no texto ou nas nots Jo Coal daa sé de julginemos sobre win or ria obra, comparagées criticas com seus predecessores (OF i eee ee om eee Ca dolégicas muito precisas que confrontam seus procedimentos 15 R. Mouuin, Le marché de ta peintue en Frence, ext de Aconongue, Pais; Editions do. Min, 1967." “tt 4 sotlegte casero SNFELECTUAL © PROTO CIADOR 117 de anilise do método das ciéncias mateméticas, fisicas, biold- wicas, ete. ¢ do método dialético definido por Hegel (...). Falando de sua obra e de suas descobertas, Marx refletia em térmos filosdficamente adequados sobre a inovacio, portanto sobre a distingio especifica de seu objeto”. Nem todos os Crindores intelectuais tém, sem davida, uma representacio tio consciente de seu empreendimento; © pensa-se, por exemplo, fem Flaubert sacrificando, sob as instincias de Louis Bouilhet, muitas “frases parasitas” e “predmbulos que retardavam a agio”, mas que talvez exprimissem as tendéncias profundas de seu genio: “Essa volta, essa devolugio do discurso a seu ‘contririo silencioso, que hoje € para nds a propria literatura, Flaubert foi, sem divida, o primeiro a empreender — mas asso empreendimento foi da parte déle quase sempre incons- teiento ou vergonhoso. Sua conscitncia literdria no estava, © hilo podia estar, ao nivel de sua obra e de sua experiéncia (...). Flaubert nfo dé (em sua correspondéncia) uma verdadeira teoria sObre sua pratica, que se mantém, no que tem de au- ducioso, completamente obscura para éle. Ele proprio achava [Education Sontimentale estticamente faiha por falta de aco, de perspectiva, de construgio. Nao via que ésse livro era 0 primeito a fazer esta desdramatizactio, poder-seia quase di- Jer esta desromantizagio do romance por onde comogaria toda 1 iteratury moderna, ou, melhor, sonia como defeto 0 que wara nds € a maior qualidade”.!* Basta pensar no quo teria Bio a obra de Flaubert (ea comparagto as versies de Madame Bovary nos permite imaginé-lo) se éle nfo tivesse que contar com as censuras pouco propicias para ajudélo a descobrir a verdade de sua intengao artistica e, so em vez de Ser obrigado a se referir a uma estética para a qual a caraete- istiea da obra romanesca reside na psicologia dos. persona- gens e na cliedcia da narrativa, tivesse encontrado nos criticos no pitblico a teoria do romance que vem ao encontro dos romancistas de hoje e através da qual os leitores contempo- Hineos Igem sua obra ¢ os siléncios ok obra, para com= 0 dad preender que seu projeto criador e, ao/mesmo tempo, tida Sua obra, teriam sido profmdamente madados. 1 1, Atzmussun, Live le Capita, Pas, Maspero, 1905, t. TH pgs. 0.20, at G. Grnerte, Figures, Paris, Ea. du Scail, col. “Tel quel, 1906, pigs. 240-048, 118 [PNOBLESIAS po EsTRUTURATASNO “Depois do aparecimento de Lannée derniére @ Marien- bad, observa. Gérted Covell, se. produziy ra reputagio de Alain Robbe-Grilict uma singular inversio de perspectiva. At6é entio, © apesar da estranheza perceptivel de seus primeiros livros, Robbe-Grillet era tido como um escritor realista © obje- tivo que passeava sdbre tédas as coisas o dlho impassivel do uma espécie de pena-cimara, recortando no visivel, para cada um de seus romances, um campo de observagio que s6 aban- donava uma vez esgotados os recursos deseritivos de sou estar 4, sem preocupaciio de acto nem de personagens. Roland Barthes havia mostrado, no caso de Les gommes e de Le voyeur, 0 aspecto revoluciondrio dessa descricio que, redu- zindo 0 mundo conbecido a um desdobramento de superficies, dlesfaziase, ap mesmo tempo, do “objeto clissico” e da “sensi, bilidade romantica”, Adotadas pelo proprio Robbe-Grillet, sim- lifieadas e popularizadas sob mil formas diferentes, essas and. lises deram na conhecida oulgata sdbre 0 “noweau roman” © “école du regard”. Robbe-Crillet parecia entio definitiva- mente fechado em seu papel de agrimensor exigente, denun- ciado e, portanto, adotado enquanto tal pela critica oficial ¢ pelo espirito ptblico. Liannée derniére @ Marienbad transfor. ‘mou tudo isso de uma tal maneira que tirou da publicidade propria 20 acontecimento cinematogréfico uma oficicia de- Cisiva: eis Robbe-Grillet transformado, de repente, mima es. pécie de autor fantistico, um espeledlogo do imaginério, um Yidento, um taumaturgo,” Lantréamont, Bioy Casares, Binur, dello, 0 surrealismo, substituem, de um momento para outro, no arsenal de referéneias, Indicador das estradas de ferro ¢ © Catélogo de armas ¢ velculos (...). Teria sido uma con- versio, ou seria preciso reconsiderar “o caso Robbe-Grillet”? Re- lidos, rapidamente, sob esta nova luz, os romances anterior revelaram uma irrealidade inquietanto, até ha pouco insus tada, cuja naturera aparecia de repente filmit, klontifed vel: ésse espaco, ao mesmo tempo instivel e obcecante, se Procedimento ansioso e repisado, essas falsas semelhancas, essas Eoafusies de lugares de. pessoas, sve tempo dllatate, one culpabilidade difusa, essa surda faseinagio da violéncia, quem niio as reconheceria? O universo de Robbe-Crillet era 0 do s0- mho ¢ da alucinagio © sé uma mé Jeitura, som atencio ou mal orientada, nos poderia ter desvindo dessa evidéncia (...) 19 CAMPO INTELECTUAL © FROYEETO CRIADOR -Grillet deixou de ser 0 simbolo de um neo-realismo “coi- aoe ee rctado palin de sua obra ostlou iesisivelmento eniro 6 imaginirio e a subjetividade, Pode-so objetar que essa mudanga de sentido afeta apenas 0 “mito Robbe-Grillet” ¢ per- Ianece exterior a sua obriy mas se nota uma evoluglo, pa: falela nas teorias professadas pelo proprio Robbe-Gullet Entre tgodle que, em 1953, afirmava: “Les gommes & um romance dascrtivo ¢ cientfico" (...) ¢, aquéle que, em 1961, precise aque us deserigaes do Voyeur o de Jalouie “sempre si0 fetes jor alguém” (...) para eoneluir que essas descrigses slo “per- Fetamente subjelivas” 0 que estt subjetividade & a enracte- ristca essencial do que se chamou o “Nouveau Roman’, quem hnfo pereebe uma dessas mudangas de ténica que traduzem, to, mestno tempo, @ revirevota de um pensamento e a von- fade de alinhar as obras anteriores sob uma nova perspocti- var Géined Genet conc ext ane, (gue merece i iro por sua precisio etnogrifics ) reivindican Re tr“ it eo contadier”- Nes, meso qe Eeempenhe, em seguida, em mostrar, por uma nova leitura, Gaquelas mesmas obras, ‘a legitimidade das duas interpreta~ Ses concerrntes, nao teria excamoteado a questo propria: Thento socioldgica que se coloca pelo fato de que Robbe-Grillt tenia dado, sucessivamente, sua garantia 3s duas vulgatas con- traditéras? A ovolucio concomitante do discurso do criader sBlne sua obra, do “mito pblico” desta, ¢ talver mesmo day tstrutura interna de tal obra, Teva & questo de suber se as tenses iniiais 2 objetividade © 0 conversto posterior 4 Mibjetividade pura nio estio separadas por uma toma do Consciénci ¢ im reconhecimento feito a si mesmo da verdad abjetva da obra e do projto criader, tomada de consiéncia ¢ reconecimentopreparados e favorecides pelo discurso dos, criticos e pela vulgata ieee de fato, nfo, se notow, sul nfemente, que hoje em dia pelo menos. o discurso dos ex. ticos sdbre obra se coloca para 0 eeprio crindr, nfo tanto como um julgamento ertico feito sbbre © valor da obrap mas como wna objetioagto do projeto eriador tal como parle ser coped da. olen mesma, Gyenguindo-se, essencialmente, pot jsso, da obra enquanto expresso pré-reflexiva do projeto cri 18 G. Grverse, op. city pigs. 69-71 120 na LEAS DO ESTHLTUNARIEMO dor ¢ mesmo do discurso tedric 7 discurso teérico que o criador ie sua obra. Conclui-se que a relagéo que une ¢ po Ears Ale 36 se descobre a0 sb ovultar s 10 3 20s olhos do proprio cri bor) no poderia ser deserta ee teloslo do oder ‘leit, se bem que a evolugtio concomitante do discuss do Gin sempenhar um papel particular na do projeto exiador. Mak é 10 interior © agentes que constituem 0 cam "8 campo intelectual mum dado mo. ti ange ee al, ce ne o aitista © © piblico, como as editdres, os ‘compradores dito), etc. — que so realiza a obj ito), realiza a objetivagio progrossiva da in, lencdo crindora, que se. const tine toned pe ae & jutos, pelo qual o antor é definido e em'relagio ao spat HG,2e¥e einic. Interrogarse sobre a ginese déste senco tt como dena slegto que no a oe omar, sre ue, no eaas indiferenciado e indefi, Ui das obras produzidas e mesmo publica, aie gue so dignas de serem amadas e abmircion opera consagendas. E necessirio admitir a opinito comum segunds 1,8 te & wp ts ee enti a conversio do. projeto crisdor, que aparece 0 disease ap, dit dean shay Zee Bech ache eet Sn ae Stage & expresso mais completa e male stomata da, is qa CeaMe0 INEELECTUAL B PROETO GMADOR a qual esta tarefa cabe a alguns “homens de gdsto”, predis- ppostos por sua andécia ou sua antoridade a formar 0 gOsto de seus contemporineos? & freqiientemente em nome de uma representago carismética de sua tarefa que o editor de van- guarda, agindo como um “dono do saber’, se propde como missio descobrir, na obra e na pessoa dos que o procuram, os sinais imperceptiveis da graga ¢ de revelar a éles mesmos aquéles que, entre os que 0 reconheceram, foram reconheci- dos. a mesma representagio que, muitas vézes, inspira a critica eselarecida, 0 comprador de quadros audacioso © 0 amador inspirado. O que se passa na realidade? Observa-se, inicialmente, que os manuscritos recebidos pelo editor sito afe- tados por diversas detorminagées: na maioria das vézes, jé trazem a marca do intermediario (éle préprio {4 situado no campo intelectual como diretor de cologao, leitor, “autor da casa", eritico conhecido por seus julgamentos seguros ow au- daciosos, etc.) através do qual chegam até o editor;® em se- nuida, sto 0 resultado de uma espécie de sclecio prévia que (05 proprios autores fizeram com zeferéncia & idéia que fazem do editor, da tendéneia Titeréria que representa — por exem- plo, “nouveau roman” — 0 que plkle ovientar seu projeto Griador! Quais sio os critérios da selegio realizada pelo edi- Peer ice, see esac es Be eee ode as pep er eee yes, sacs for em ren Dos ate perms cee Yn aa a ace Be see, satin ene a oes Sa ot pee negra mee ae na een aes ee eae Beri cha mete rte eee eae an i Pe Se ne eo oa Soe ee a eee cee ee oe a a ee eae Bsa renens ete sonata pee an OS eer re ae, re ee ie ees oe re ee ok iene On, es ee ppm te a Ne bok see eae pt te meres os re 2 es a Ee de Na — Core ome ce papi cme ol a oe oe ee Eas 122 tor no interior désse dado pré-sclecionado? Consetente de néo ossuir 0 crivo que revelavia, infalivelmente, quais as obras gins ce serum reid, pode proessar, ao mesmo tempo, 0 rolativismo estético mais radical e a £6 mais completa mens specie de “faro” absoluto. De fato, a representagio que tom de sua vocagio especificn de editor de vanguards, conseiente niio possuir outro principio estétioo, participa, necesshria, mente, da imagem que 0 piiblico, os exlticos 6 os criadores tém de sua fungi na divisio do trabalho intelectual. Esta imagem, que é precisada por oposi¢io i imagem dos outves eaitéres, € confirmada a seus olhos pela eseotha dos autores ue se seleeionam em relagio a ela. A representagio que 0 editor tem de sua propria prética (por exemplo, como condo Stoo enn tes opr et, con Sa é sua exprossio, a “postura” intelectual Gue_se pode caracte- Hizar muito grossetramento como “de vanguarde” ¢ que & sem diivida, o principio dltimo e, muitas vézes, indefinfvel de suas escolhas, se constituem e se confirmam em referencia A representagio que éle tem das representagies © das postures Aiferentes das suas ¢ da representagio social de sua propria estura A situagio do exitico no é de forma alguma, dic frente; ns obras ja selecionadas que recebe trazem uma ‘mur. c2 suplementar, a do editor (e, as vézes, a do prefaciador, crise dor om outro critica), de sorte que a leitura’ que pode fazer de uma obra particular deve contar com a representagio s0- cial das caracteristicas tipicas das obras que o referido editor publica (por exemplo, “nouveau roman’, “literatura objetil”, etc.), representacio de que éle mesmo e seus pares podem set em parte responsiveis TE, algumas vézes, nao so\vé 0 ert ico agir como principiante, remetendo a revelagio descoberla Aquele de quem a reveben 'e que, por sua ver, 0 confirma em sua vocagéo de intérprete privilegiado, confirmindo a exa- 42 Exists, posse sistema, de relagdes simbolics que constitat 0 exm intelectual, 6"ter conhecido eeodhecilo por siniy de ditinggo (ioe rae, im sto, mn, apeiidad, et}, afatmentoy dfn = podem ser expressamette.procuradas @ que’ Umar do ‘anon ¢, oa teint : See a & “Com excecto ‘desas primeias piginas, que parccem, como uma fnitacfo mais ou menos voantira. do nouseds rohan, E-Aubenge ae ‘pegnol narra wna histra voeambolse, mas perfetamente ela cajo Alesenrolar obedece aligiea do sonho e ‘nfo ta ealiade.” (Eten ‘ouniro nvrELecrUsL, ¥ PROyETO ERADON 123 tidio da descoberta? A literatura e a pintura conheceram, mui- tas vézes, ¢ talvez mais do que nunea conhecam, atualmente, essas duplas perfeitas. O editor, agindo como comerciante (0 Sue, também" 2), pode utilizar tenieamente. a representagio piblica de suas. publicagées — por exemplo, a vulgata do “nouceat roman” — para Tangar uma obra: 0 discurso que ale deve ao eritico, selecionade nfo s6 em fungio de sua in- fluéncia, mas também em, funcio das afinidades que pode ter com a obra e que podem chegar 3 suaviagio decarads, 6 um misto extremamente sutil onde a idéia que tem da obra se junta 4 idéia que tem da idéia que o eritico poderd tor da obra, a partir da representagio que tem de suas publi- cagies 0 editor nao € um bom sociélogo, quando observa que 0 “noureau roman” nio é outza coisa senio © conjunto dos ro- manees publicadas sob os auspicios das Editions de Minuit? E significative que aquilo que se tomou nome de uma escola Iterlria, retomaslo pelos prbprios autores, tenha sido, Snicial- ‘mente, como aconteceu com os “impressionistas”, uma etiquéta pejorativa atribuida por uma critica tradicionalista aos roman- es publicados pelas Editions de Minuit, Mas os autores nio se contentaram em assumir essa defini¢éo publica de sua obra foram definidos por cla na medida em que tentaram defi nir-se em relagio a ela: da mesma forma que 0 piblico foi in- duzido a procurar ¢ a inventar os vineulos que pudessem reu- nir obras publicadas sob a mesma capa, os autores niio foram encorajades a se pensarem como constituindo uma escola e no um simples grupamento temporério, pela necessidade de se confrontarem ¢ se conformarem & imagem que o piblico ti- ha déles? E, de fato, retomaram, por sua conta niio sé a de- nominagéo, mas também a vulgata que definia sua imagem piblica, identificando-se a uma identidade social imposta de fora e nascida, inicialmente, da simples aproximagio, para fa- zor dela um projeto coletivo. Incitados a se situarem uns em relacio aos outros, a verem em cada um dos outros uma ex- Larou, EEspresr, 26 de outubro de 1996). Assim, 0 ertco que, des- Conde fem romancith po ter cao, coment consents ‘Mente, no Jogo dor esplbos ‘cal por sua ver dle ao deserever 0 qe ttle por tin reflec do nonce roman h tax de tm rellexo come A nowoeou rome, 124 PROBLEMAS no XsrmTURALISMO pressiio de sua prépria verdade, a se reconhecerem naqueles {Be ste Feeonhecides como membros auténticos da escola, nio foram éles levados a constituir, explicitamente, 0 principio die quilo que devia uné-los, j que eram vistos como ‘constituindo uma unidade? E, paralelamente, & medida que o grupo se mostra ¢ se afirma mais nitidamente como uma escola, nao leva sempre mais adiante 05 etiticos ¢ 0 piblico na procura dos sinais daquilo que une os membros da escola e quo os se- pura das outras escolas, a distinguir o que poderia ser con- frontado e a confrontar 9 que poderia ser soparado? O pi- blico também € convidado a entrar no jégo das imagens ‘i Aefinidamente refletidas, que acabam pot parecerem reais, num universo onde nao existe outro real que nao seja o dos rellexos. A posigio de vanguarda preestabelecida (que nfo € neeossiriamente redutivel a um esnobismo) se permite for- jar, receber ¢ espalhar as “teorias” capazes de fundamentar uma adesio que nio deve nada as suas razdes. E preciso citar Proust mais uma yez: “Por se achar “avancada” e (sdmente om arte) “nunca bastante & esquerda”, dizia ela, (Madame de Cambremer) acreditava néo sdmente que a miisiea progredis- se, mas que o fizesse numa $6 linha, ¢ que Debussy fésse de alguma forma um super-Wagner. Nio percebia que se De- bussy nfo era tio independente de Wagner quanto chegaria « acreditar dali a alguns anos, porque mos podemos servir das ammas conquistadas para acabarmos de nos libertar daquele que vencemos momentinemente, éle, no entanto, procurava, depois da fartura que se comegava a ter das obras muito com: pletas, em que se exprime tudo, a satisfazer uma necessidade contratia, F claro que teorias parecidas com aquelas que, em politica, vem em apoio das leis contra as congregacoes, das guerras no Oriente (ensinamento contra a natureza, perigo amarelo, etc.) sustentavam, momentineamente, essa’ reacio, Dizia-se que a uma época do pressa convinha wma arte ri. ida, absolutamente 0 mesmo que se teria dito para a guerra jo futuro quo nao poderia durar mais de quinze dias, ou que com as estradas de ferro os pequenos caminhos apreciados pe- has diligéncias seria abandonados” 2 2M, Puouer, A le reherche de tomps perdu; Sodome ot Gomorte, Paris NPR, 1927, V, TE 2 pigs. 95-06. as excollae se sastazem sts vézes Com jstfiativas Sila male sumésasy 0 mnecanism de wi canto IwrELECTUAL 2 PROETO CMADON 125 Assim, 0 sentido péiblico da obra, enquanto julgamento \ objetivamente instituido sObre o valor e @ verdade da obra (em relagio ao qual todo julgamento de gosto individual & obri- / gado a se definir), & nocessiriamente coletivo. E 0, mesmo! que dizer que 0 sijeito do julgamento estético & um “se” que jode ser tomado por um “eu”: a objetivacio da intengao cria- Nora que se podria chamar “publicagio” (entendendo-se com {sso 0 fato de “tormar-se piblico”) so realiza através de uma infinidade de relagGes sociais particulates, relagies entre o edt tor © 0 autor, entre o editor e 0 critico, entre 0 autor e 0 cxitco, entro oF autores, etc, Em cada uma dessas relagies cada um dos agentes empenha nfo so a representacio social: ae aor top do outa themo/da relagl. (ao. presentagio de sua posigio ¢ de sua Fungo no campo inte- lectual, de sua imagem publica como autor consagrado ou des- prezado, como editor do yangusrda ou tradicional, et.), mas Também a representagio da representagio que 0 outro témo| da relagio tem déle, isto é, da definigo social de sua verdade fe de seu valor que se constitui no interior ¢ a partir do con- junto do relagBes entre todos os membros do universo inte- Joctual.. Conclui-se que 2 relagio que 0 criador mantém com! sua obra & sempre mediatizada pela relagio que mantém © sentido pablico dela, sentido que The volta concretamente 4 meméria por ocasiio de enda relacio que éle estabelece com os outros membros do universo intelectual © que 6 0 produto das interagGes infinitamente complexas entre atos: {clectuais, enquanto julgamentos go mesmo tempo determina- dos e determinantes sdbre a verdade, e 0 valor das obras © ddos autores. Assim, o julgamento estético mais singular © mais pessoal se refere a uma signifieagio comum jé constituida: a Tolagio com uma obra, seja cla a sua prépria, & sempre uma relagdo com uma obra julgada, cuja verdade e valor tiltimos eselgio pelo qual cada geruglo tende a rojetar os postulados ioe Tamra o cnn dp get anti ode wan a {tesa eicgeta no reese social de ‘parecer como gad a una ¢poea psitda‘e de, por iso, se schar sivad numa posiele desvalorizad 20 impo sateen: fers tects, mexno nat tens acy cam Iitvas, sto thm outro fundameato ("tetas de pré-guers, “socologia da tercetea repibien” ot “arte caduca"), 126 ‘PROMLEBIAS pO ESTUTURAEIBAO fio sfio outra coisa seniio 0 conjunto das julgamentos poten- ciais sébre a obra que o conjunto dos membros do universo intelectual poderdo ou poderiam formula, referindo-se em to- dos os casos. representagio social da obra enquanto inte- gracio dos julgamentos singulares a seu respeito. Pelo fato de ter que se definir sempre em relagio ao senso comut, 0 sentido singular contribui, necessiriamente, para definir 0 que sera nova realizagio désse senso comum. O julgumento da, historia, que seré o tiltimo julgamento da obra © do autor, jé esté comprometido no julgamento do primeiro leitor, e a posteridade deveré contar com o sentido piblico que os con- temporincos The terio legado. Psaphon, jovem pastor lidio, hhavia ensinado aos pissaros repetir: “Psaphon é um dens”. Ou- yindo os péssaros filarem, e compreendendo 0 que diziam, os concidadiios de Psaphon 0 aclamaram como um deus, Profetas, Sacerdotes, Feiticeiras Se cada uma das partes do campo intelectual depende de tdas as outras, nem tédas dependem no mesmo grau: como num jégo de xadrez, onde a sorte da rainha pode depender do menor dos pedes, sem que por isso a rainha deixe de ter jum poder infinitamente maior que qualquer outra peca, as partes constitutivas do campo intelectual, colocadas numa re- lagiio de interdependéncia funcional, sio, no entanto, separa- das por diferoncas de péso funcional e contribuem de mancira muito desigual para dar ao campo intelectual sua estrutura particular. De fato, a estrutura dindimica do campo intelectual nifo é outra coisa sendo 0 sistema de interagies entre uma plu- ralidade de instincias, agentes isolados, como 0 criador inte- Jectual, ow sistema de agentes, como o sistema de ensino, as academias ov cfrculos eros, que slo definidos, ao menos no essencial, no seu ser ¢ na sua fungio, por sua posicdo nesta estrutura e, pela autoridade, mais ou menos reconhecida, isto &, mais ow menos forte e mais ou menos extensa, e sempre me- diatizada por sua interagio, que elas exercem ou pretendem exercer sdbre 0 piblico, ao mesmo tempo capital e, em certa medida, frbitro da competigio pela consagragio e legitimida- ‘canto INTELECTOAL. = FROJETO. cRIADON . 27 de intelectuais*¥ Quer se trate das classes altas que sancio- nam, por sua posigao social, a posicdo das obras que conso- mem na hiorarguin das obras Tegitinas, quer se trate de ins tituigbes especificas come o sistema ¢ as academias que con- sagram, por sua antoridade e seus ensinamentos, um género de obras ¢ um tipo de homem cultivado, quer se trate ainda de grupos literérios ow artisticos, tais como mesas redondas, circulos de eriticos, “saldes” ou “cafés” aos quais & reconhecido tum papel de guia cultural ou de “taste-makers’, existe quase sempre, em téda sociedade, uma phuralidade de férgas sociais, as vézes concorrentes, as véves coordenadas, que, em razio de seu poder politico’ on econdmico ou das garantias institu- cionals Ge que dispem, esto aptas para impor suas normas cculturais a uma fraglo mais ou menos extensa do campo in- telectual,¢ que revindicam, ipso fact, uma legtimidade. ul tural, seja_pira_os_produtos culturais por elas fabricados, seja vara os julgamentos que fazem sobre os produtos culturais fa- Pricads pelos outros, seja para as obras e atitudes cultura que elas transmitem.’ Quando clas se defrontam, & ainda em/ nome da pretensio a deter a ortodoxia, e quando’ sio reconhe- cidas, é sua pretenstio A ortodoxia quo é reconhecida, Qual quer ato cultural, eriagio ou consumo, encerra afirmacio implicita do direito de se exprimir legitimamente e com isso compromete a posicio do sujeito no campo intelectual 0 tipo de legitimidade que éle exige. Assim 6 que o criador estabelece com sua obra uma relagtio completamente dife- rente, da qual ela leva necessiriamente a marea, segundo éle focupe uma posigio marginal (em relagao & Universidade por exemplo) ou oficial. A um amigo que 0 aconselha a Tutar por uma citedra universitéria Feuerbach respondeu: “S6 sou ‘ilguma coisa enquanto nfo son nada’, traindo, ao mesmo tem- po, sua nostalgia do integragdo numa instituicio oficial e a verdade objetiva de um projeto criador obrigado a se definir ‘em oposigio a Filosofia oficial que o havia rejeitado. Banido a Universidade logo apés a publicagio de Pensées sur la mort ft Vinmortalité, no escapava is pressdes do Estado a no ser 8 "A vide da arte consist, como a polities, em uma Tuta para gmber Nop A aaa neo ange poli Tle n'Serrvcmve (ap. itz pag. 197) neponss sre wa Halgfo paelal- Fooate fuss, mae sinplieadora 128 PROBLEMAS D0 ESTRUTURALISMO para assumir 0 papel de filésofo livre ¢ de pensador revolu- Gionsrio que, por sua recusa, a filosofia oficial The havia ainda designado. “A estrutura do campo intelectual mantém uma relagio de interdependéncia com uma das estruturas fundamentais do ‘campo cultural, a das obras culturais hierarquizadas segundo seu grau de legitimidade, Observa-se, na verdade, cue numa sociedade dada, num dado momento do tempo, tidas as signi ficacées culturais, representagées teatrais, espeticulos esporti- vwos, recitais de cang6es, de poesia ou de musica de cimera, Speras ou operetas no equivalem em dignidade e valor e nfo texigem com a mesma urgencia a mesma abordagem. Ou seja, os diferentes_sistemas de expressio, desde 0 teatro até a te levisio, se organizam objetivamente segundo uma hierarquia independente de opini6es individuais, que define a legitimi- dado cultural ¢ seus grans Diante das significagSes situadas fora da esfera da cultura legitima, os consamidores se sentem autorizados a continuar puros consumidores ¢ a julgar livre- mente; a0 contritio, no dominio da cultura consagrada, sen- tem-se medidos por normas objetivas ¢ levados a adotar uma atitude devota, cerimonial ¢ ritualizada, Assim é que, por exemplo, oj 0 cinema ou a folograia io suscitam (por que nao a exigem com a mesma urgéncia) a atitnde de dévo- Gio que 6 habitual quando so trata de obras de cultura eru- dita. B verdade que alguns virtuosos transferem para essas artes, em vias de logitimagio, os modelos de comportamento 56 Leptinidade fo & lgalidade: se ot indvidnos das casos mai efartodas con waka’ decals, reconbeoen quae sempre, 20 tts da Deas for a fopade eu ope esti popu pet calor crit, imo qu les pons paar Oc an Mik doa cope Sapo deste mat som de ele iso pertin sum legiimiiade, ino & sun pretenia sent ner a eg garg re pega th je cmluts quo pe sluan ch aon Sten do udlatncie ea pode mesmo i ter excess, nem por fo define a modalidade da eportnla que teompatin exis cndutas eo pode deur de or_petada rast ipbes slbetaio undo & mumbodida, amo’ a seg das ooniuns Colts quando se"petenden logos” fom somn,*x extn dae Giulo qus'chumo lnguinidade cult const en que 1000 indy, feta Uo Bia ca, sh ead ag de pgs ptm. stone do repre que pooniiom quiere Rerrgebar” fou Ys comporamems’do poste de vista de cultura. sob a rolosdo ds (ou estore do 2 gS ag g FSFERA DE Lean Gurr exainos Couméticos Titeratora “Teatro fcaxepo INnELEeTEAT. = PHOJHTO CHADOR 131 130 [PRODLEINAS DO ESTRUTUNALISO existentes no dominio da cultura tradicional. Mas, na falta na hierarquia das obras e das priticas legitimas, a meio ca- de uma instituig&o encarregada de cnsind-los metédica e sis- minho das priticas “vulgares”, aparentemente abandonadas & temiticamente e, com isso, consagré-los como partes consti- anarquia dos gostos e das céres, e das priticas culturais no- tutivas da cultura legitima, a maioria das pessoas os vivencia bres, submetidas a regras estritas, explica a ambigiiidade de de um modo totalmente diferente. Se 0 conhecimento eru- atitudes suscitadas por ela, principalmente entre os membros ito da histéria dessas artes e @ familiaridade com as regras a classe culta. Ao contririo da pritica legftima, a pritica em Uéenicas ¢ 08 primeiros tedricos que as caracterizam s6 se en- via de legitimidade coloca aos que a ela so entregam 0 contram excepcionalmente, é pelo fato de nio se sentir mais, blema de sua propria legitimidade. Aquéles que pretendem ‘como anteriormente, participagio no esfdrco de aquisigfo, con- romper com as regras da pritiea comum e recusam dar & servagio e transmissio désse corpo de conhecimentos que f3- sun atividade e a sew produto a significagio e a fungio costu- Zam parte dos preimbulos obrigatérios © dos acompankamen- meiras so obrigados a criar integralmente 0 substitato (que tos ritualizados da degustaczo erudita niio pode deixar de aparecer como tal) do que ¢ dado, com ‘Passa-se entilo, gradativamente, das artes plenamente con- f preocupagdo da certeza imediata, para os fiéis da cultura sagradas, como o teatro, @ pintura, a escultura, a literatura, ow Hgiin, a saber, o sentimento da legitimidade cultural da seen eldssicn (entre as quais tambéan se estabelocem hie- Dpto © tédas as seguranges que The sio solidétias, desde os arquias, que podem variar no corer do tempo), a sistemas Modelos téenicos até. as teorias estéticas. Vése que a forma de significagdes abandonados (pelo menos & primeira vista) a0 da relago de participagio que cada sujeito mantém com 0 arbitrério individual, quer se trate da decorago, da cosmeti- Gaipo das obras cuturas e, paticularmente, 9 conteido de cologia ou da culindria, A existéncia de obras consagradas e ua inteneio artistica ou intelectual e a forma de seu projeto de todo um sistema de regras quo define « abordagem sacra- friador (por exemplo, o grau em que éle é pensado ¢ expli- ental supde uma instituigio euja Fungo ndo seja apenas de fitado) dependem estreitamente de sua posigiio no campo in- transmissao e de difusio mas também de legitimagdo. De fato, telectual. O mesmo acontece com a temitica e a problemé- o jazz ou 0 cinema sio servides por meios de expressio tio tion que definem a especificidade do pensamento de um inte- poderosos quanto as obras de cultura mais tradicionais, exis- Tectual e que uma anilise lexicolégica, entre outras técnicas, tem cfrculos de criticos profissionais que possuem revistas ileria retomar; segundo a paige: soe ma sb aeons Catkitar e programas de radio ¢ televisio © que, sinal de su Biel cada intelectual 6 fovado a orlootar’ sma atividade pretensio & legitimidade cultural, tentam, muitas vézes, imi fossa ou aquela regio do campo cultural, que & em tar o tom douto e macante da critica universitiria ¢ Ihe to- ila elas geragées passadas, em parte recriade, rein- mar de empréstimo o culto da erudicio pela erndigio, como tacla e transformada pelos contemporineos, o a estabe- se, obeecado pela rapidez de sua legitimagito, s6 pudessem ado- Jum certo tipo de relacio, mais ou menos {cil ow traba- tar, exagerando-os, 0s sinais exteriores pelos quais se reconhe- natural ou dramatica, com as significages mais ou me- ce a autoridade dos detentores do monopélio da legitimagio ‘nobres, mais ou menos marginais, mais ou menos originais {nstitucional, a saber, os professbres. Impelidos, muitas vézes, que formam essa regifo do campo cultural. Bastaria ppara as artes “marginais” por uma posicio marginal no campo 8 uma anilise metédica as referéncias a autores, sua Jntelectual, ésses individuos, isolados e desprovides de qual Ja, sun homogeneidade ou sua disparidade (préprias quer garantia institucional, que, colocados numa situagio de royellr 0 grau de autodidatismo), a extensio e a diver- concorréncia, so levados a emitir julgamentos muito divergen- dias regioes do campo sesigondas por elas, a posicfo na tes 6, se & possivel dizer, insubstitufveis, nfo vio munca além ula dos valores legitimos das autoridades ou das cau- das capelas restritas de amadores, tais como efreulos de jaz= as notas Facitas on no (suprema elegincia ou fou cine-clubes. Assim, por exemplo, a situagio da fotografia jidade), estando especialmente atento & mo- 4 132 ‘Pnosuintas 20 usrnUTURALISMO dalidade particular da citagio, impecivelmente universitéria ‘ou negligente, humilde ou soberana, ostentatéria ou necessi- ria, para fazer surgir “familias de pensamento”, que na real dade sie familias We cultura ¢ que se deixariam ligar facil- mente a posigGes tipicas, atuais ou potenciais, adquiridas on professadis no campo intelectual ¢, mais precisamente, a reve- lagdes tipicas passadas © presentes, com a instituigao univer- sitiria?™ Se bem que a estrutura do campo intelectual possa ser mais ou menos complexa e mais ou menos diversificada, se- gundo as sociedades ¢ as épocas, 0 péso funcional das dife- \ Fentes instineias legitimas on pretendendo a legitimidade cule tural se ache modifieado em cada caso, nao hé divida de que certas relagdes sociais fundamentais se reencontram desde que exista uma sociedade intelectual dotada de uma_autonomia relatiya diante dos podéres, politico, econdmico e religioso: relacées entre os eriadores, contemporineos ou de épocas di- ferentes, igual ov desigualmente consagrados por piblicos ferentes ¢ por inst&ncias desigualmente legitimadas ¢ legit imantes, relages entre os criadores e as diferentes instincias de legitimagio legitimas ou pretendendo a legitimidade, ac demias, sociedades de sibios, coniculos, cireulos ou grupe- Thos mais ow menos reconhecidos ou desprezados, instineias de simples transmissio como os jornalistas especializados, com todos os tipos mistos e as duplas dependéncias possiveis. Con- chuisse que as relagies que cada intelectual pode manter com cada um dos outros membros da sociedade intelectual ou com © piblico e, @ fortiori, com tida a realidade social exterior ‘0 campo intelectual (como sua classe social de origem ou de Tato, ow podéres ccondmices enquanto vendedores ou com pradores) S10 mediatizadas pela estruture do campo inte- actual ou, mais exatamente, por sua posi¢io em relacio as autoridades propriamente culturais eujos podéres organizam 0 campo intelectual; os atos ou os julgamentos culturais encer- ram sempre a referencia & ortodoxia. Porém, mais profunda- ‘mente, no interior do campo intelectual enquanto sistema es- 27 evdente que a apreensdo do campo Intlectwal enquanto. tl © 4 dase tviolgien dese campo sio fans ow menos acess, s+ gio « posigo ae cape. CAMPO ISTELECIUAL # FROJETO cMADON 133 truturado, todos os individuos © todos os grupos sociais que silo especifica e duradouramente destinados & manipulagio dos hens de cultura (para transpor uma férmula weberiana) man- tém nio smente relagies de concorréncia mas também rela- ‘eGes de complementaridade fimcional, de sorte que cada um dos agentes ou dos sistemas de agentes que fazem parte do ‘campo intelectual deve uma parte maior ou menor de suas ciracteristicas & posigio por éle ocupada nesse sistema de po- sigdes e de oposigdes ‘Assim, encarregada de perpetuar e de transmitir um ex Biel de, sgnificages consagrades, Sto 6 a_cultura que Ihe'\ ii Iegada pelos criadores intelectuais do passado, e de sub- meter a uma pritica formada segundo 0s modelos dessa cul- ura um péblico solicitado por mensagens concorrentes, elsmé- ticas ou heréticas — por exemplo, os meios de, comunieagio ‘moclemos em nossas sociedades —, obrigada a fundar e deli miter, de maneira sistemStica, a esfera da cultura ortodoxa ¢ 4 esfera da cultura herética, ao mesmo tempo defender a fullura consagrada contra os desafios incessantes que The Jan- fim, §6 por sua existéncia ou por suas agressbes diretas, os hovos criadores capazes de suscitar no piblieo (© sobretado ‘ins camadas intelectuais) novas exigencias e inquietagdes con- estadoras, a Escola se acha investida de uma fungio perfel- fumonte andloga & da Tereja que, segundo Max Weber, deve Mfundar c delimitar sistematicamente a nova doutrina vitori ‘ou defender a antiga contra os ataques proféticas, estabe- ‘6 que tem ¢ © que nfo tom valor sagrado ¢ fazé-lo pe- ini {6 dos lefgos”. Conclui-se que 0 sistema de ensino lo instituigo, especialmente prepara fin We. con- ; transmitir © inculcar « cultura candnica de uma socio- | devo muitas de suas caracteristicas de estrutura e de yento a0 fato de que deve desempenhar essas fun: wticulares. Conclui-se também que muitos dos tragos jsticos do ensino e dos mestres, que as descrigées mais fnllo percebem senfo para denunciar, pertencem a de- it fungio de ensino. Assim, por exemplo, seria facil fue a rotina © a aso rotinizante da Escola e dos {iio bem estigmatizadas pelas grandes profecias cul- “Gjuanto pelas pequenas heresias Grmitas vézes despro- ‘quitlquer outro contetido que no seja esta denigncia), 134 PROBLEMAS D0 ESTRUTURALISNO pertencem sem diivida, inevitivelmente, & Iégiea de uma ins- titwigio investida fimdamentalmente da fungao de conseroagdo, cultural. ‘© que muitas vézes 6 descrito como competicto pelo su- cesso é na realidade uma competicio pela consagracio, que tem como terreno um universo intelectual dominado pela con- corrénca Gas instincias que_pretendem ter o menopélio da legitimidade cultural e o direito de deter e conceder esta con- grag cm nome de principio profundamente ope, auto ridade pessoal reivindicada pelo criador, autoridade institu- Cional exigida pelo professor. Conclui-se que 2 oposicao ea complementaridade entre 0s criadores ¢ 08 professbres consti- tuem sem diivida a estrutura fundamental do campo inte- lectual, da mesma forma que a oposigio entre o sacerdote © profeta (com a oposigio secundaria entre o sacerdote o o fei- ticeiro) domina, segundo Max Weber, 0 campo religiosé. Os conseroadores da cultura, responsaveis pela pregacto cultural fe pela organizagso da aprendizagem capaz. de produzit a de- vogio cultural, se opéem aos criadores de cultura, auctores capazes de impor sua auctoritas em matéria artistica ou cien- tifica (como outros om matéria ética, religiosa ou politica), da mesma maneira que a permanéneia'¢ a onipresenga da ins- titnigao legitima © organizada se opoem & fulguragio tinica, descontinua e pontual de uma criagito que nio tem outro prin- cfpio de legitimacio senio ela mesma. Esses dois tipos de pro- jetos culturais si tio manifestamente opostos que @ deniincia da rotina professoral, consubstancial de algumna maneita & am- ico prolética, faz, quase sempre, as vézes de diploma de qualificagéo profética. Conflito entre 0 sacerdote © o feiti- ceiro que quer passar por conflito entre sacerdote e profeta ‘ou — quem sabe? — entre os dois profetas concorrentes, 0 debate sébre a “nouvelle critique” que opés Raymond Picard e Roland Barthes den o melhor exemplo dessis anilises. O projeto intelectual de cada um dos contestantes tem outro con- teido que mio set « oposio ao projeto do outro! O sacar dote demuncia “as revelagies oraculares” e 0 “espirito siste- mitico”, em suma, 0 espirito profético e “vaticinatério” do fei- ticeiro:2* o feiticeiro, 0 arcaismo e 0 conservadorismo, a rotina 38 Cf. R. Picann, Nowpelle critique ou nouvelle imposture, Parl, Jean-Jacques Pasert, eal. "Liberts”, pags. 24, 95,58, 76. castro INTELECTUAL FROYETO. CRIADOR 135 ¢ a rotinizagéo, a ignorancia pedante © a prudéncia mesqui- nha do sacerdote2” Cada qual esti no seu papel: de um Jado a ordem, do outro a desordem.°° Cada intelectual empenha em suas relagSes com 0s outros uma pretensio & consagracio cultural (ou 2 legitimidade) que lepende, na sua forma, e nos tftulos que invoca, da posicio que éle ocupa no campo intelectual e em particular em rela- io 4 Universidade, detentora, em iiltima instincia, dos sinais fnfaliveis da consagragéo: enquanto que a Academia, que tem pretenses a0 monopdlio da consagracio dos criadores con- Komporineos, contribu para organizar 0 cumpo intelectual numa elagao com a ortodoxia por uma jurisprudéneia que combina ft tradigao ¢ a inovagio, a Universidade tem pretensGes ao monopolio da transmisstio das obras consagradas do, passado que cla consagra como “elissicas” ¢ ao monopélio da legit hugo © da consagracio (entre outras coisas pelo diploma) {los consumidores culturais os mais conformados. Comproen- dle-se com iss0 a agressividade ambivalente dos eriadores que, Biitios aos siais de sun coungracio universitria, nfo podem ignoras que a confirmagio sé Thes pode ser, daday em. “iltima {nstincia, por uma instituigao cuja legitimidade & contestada ior toda uma atividade crindora, apesar de estar submetida a bhi. Do mesmo modo, mais do que uma agressio contra a or- odoxin universitiria ¢ 0 fato de haver intelectuais situados as Inurgens do sistema univorsitario e levados a contestar sua le- imidade, provando com isso que reconhecer suficientemente ‘yoredicto para reprovar-The nfo té-los reconhecido.** Cada um tem, na verdade, a intuigtio de que muitos dos flitos que se travam, aparentemente no céu limpido dos H, Bares, op. cit: “O citeo protesamente verdana ae inten. pouco de dos 0 que 6 anal na vida nio deve ido, que nf 1, bra deve ser pelo contina tanalzado” iio): quel sabe dle de Freud senso 0 que leu na colegio Saber? 24 ameple esis tarefas difceix e medestas permancoem_abso- Wr Indlopensiveis mas a desordem de Barthes © seus amigns Tumbian, para todo mundo, ocasifo de um exame muito so" Op elt, pig. 79) fo tipo lo atitule ambivalente 6 particlarmente defendido nas Infesiones da intelligent, ente os jomalistas, oy vulgare 136 [PROBLEMAS 0 xSTROTURALIEMO prinefpios e das teorias, devem sempre a parte mais escusa de suas razées de exist e, as vézes, toda a sua existéncia as ten- sées Iatentes ou patentes do campo intelectual. Como com- preender de outro modo que tantas querelas idoolégicas do pasado continuem ineompreensiveis para nds? A dnica par- cipagio real em conflitos antigos é talvez aquela autorizada pelas homologias de posicio entre campos intelectuais de épo- cas diferentes: quando Proust se ergue contra Sainte-Beuve, nic é Balzac denunciando aquéle que chamava de “Sainte Bévue"? A razio dltima dos conflitos, ficticios ou fundados, que dividem 0 campo intelectual de acdrdo com suas linhas de forca e que constituem sem diivida alguma 0 fator mais de- cisive da mudanga cultural, deve ser beseada tanto nos deter- minantes objetivos daqueles que nela se empenham quanto nas razées que éles dio © se dio para se empenbarem. © Inconsciente Cultural Enfim, é na medida em quo faz parte de um campo in- telectual em referencia ao qual se define ¢ se constitu: seu projeto criador, na medida em que, se quisermos, éle & 0 ‘eontemporiineo daqueles com quem se comunica e aos quais se ditige através de sua obra, recorrendo implicitemente a tnd un efigo que pos em comum com des — temas o problemas na ordem do dia, maneira de pensar, formas de Percepcio, ete. — que o intelectual 6 situado histétiea ¢ social- mente.” Suas escolhas intolectuais ou artistieas as mais cons. cientes sto sempre orientadas por sua cultura e seu gésto, in- teriorizagdes da cultura objetiva de uma sociedade, de uma €poca ou de uma classe. A cultura quo éle compromete em suss criagdes néo é alguma coisa que, vindo de alguma forma se.qgrescentar a uma intengio preexistente, permaneceria por isgo ieredutivel a sua realizacio, mas constitui ao contrério a dongs ets conto, on padres do «lv, ee ‘pues ‘comportamentos © opines thm seu fundamento na relagio. qua {ses ineleckias mantém om seu pasado exeular ¢ 20" mesmo topo om a nstuigo escolar CAMPO INTELECTUAL E FROJETO cHIABOR : 137 condicio de possibilidade da constmgio conereta de uma in- tengo artistiea numa obra, do mesmo modo que a lingua como “tesouro comum” & a condigio da formulagio da palavra mais simples. Portanto, a obra é sempre uma elipse, elipse do cssencial: ela suhentende aquilo que & sustenta, isto é, 0s pos- tulados ¢ 05 axiomas que ela assume implicitamente e dos quais a cieneia da cultura deve fazer a axiomitica. O que trail 0 silencio clogiiente da obra € precisamente a cultura (no sen- tido subjetivo) pela qual o crigdor partion de sun clase, del sua sociedade e de sna época, e que 0 engaja sem sen conhe- cimento em suas criagdes aparentemente as mais insubstituic vveis; sob os credos to evidentes que so theitamente.pressu- postos, mais do que explicitamente postulados, sfio as manei- as de pensar, as formas de logica, as expressées de estilo © iis palavras magicas, existéncia, situagdo ¢ autenticidade, on- fem, estrutura, inconsciente e praxis, hoje, que parecem tio Nolurais ¢ inevitéveis que nfo constituem, por assim dizer, 0 bjeto de uma escolha consciente, ¢ 0 “pathos metafisico” se- fundo a expressio do O. Lovejoy ou, Se qusermos, a tdnica jumoristica que cobre t0das as expresses de uma époea, mes- mo as mais afastadas no campo cultural, por exemplo a ulura © arte dos jardins. O acérdo sobre esta axiomética im- licita do entendimento e da afetividade ¢ que fundamenta a Inlegracao Iégica de uma sociedade e de uma época. Se a "filosofia do sujeito” que volta hoje com grande alarido 20 ce- Initio intelectual, sob a forma de estruturalismo lingiiistico ou fintropolizico, parece exercer uma verdadeira fascinagio sé- hiro aquéles que, ainda oniem, se achavam no extremo oposto ilo horizonte ideolégico e que a combatiam em nome dos die Jpltos imprescritiveis da consciéncia e da subjetividade, é que, do durkheimismo que ela ressuseita sob uma jova aparéncia, destaca menos metddicamente © menos brutal- ie tdas as conseqiiéncias antropolégicas de suas desco- s, de sorte que se pode esquecer que tudo o que ¢ verda- io pensamento selvagem é verdadeiro de todo 0 pensa- Wo culto. “Para que os julgamentos © os raciocinios da sojam vélides”, escrevia Mauss, “é preciso que tenham A, 0. Lovmjox, The Great Choin of Being, A Study of the His. of a Idea, Harvard University Press 1961, pig. LL. 138 PROBLEMAS D0 ESTRUTURALISNO um principio preservado de exame. Discute-se sobre a pre- sengt aqui ou lé, mas nio sobre a existéncia do mana, Ora, ésses_prinefpios de julgamento e de raciocinio, sem os quais no cremos que sejam vidveis, sio 0 que chamamos em Filo- sofia categorias. Constantemente presentes na linguagem, sem que estejam necessdriamente explicitas, elas existem comu- mente sob a forma de hibitos diretores da consciéncia, les préprios ineonscientes”.!® Sio também principios isentos de exaine ¢ categorias de pensamento inconscientes que funda- mentam nossa apreensio comum do mundo, ¢ que ameagam sempre penetrar na visio cientifica. Bachelard fala a mesina linguagem de Mauss, quando observa que “os, habitos naci ais’, quer se trate da "mentalidade euclidiana”, “inconsciente geométrico” ligado & aprendizagem da Geometria euclidiana, ‘ou ainda da “dialética da forma e da matéria’, “sio outras tan- tas angullosos quo, 6 precio veneer, para voter «encontrar ‘0 movimento espiritual da descoberta’** Mas, pelo fato de ae 0 prjcto clentifico c 0 préprio progreso ai eign su- poem retémo reflexivo sObre os fundamentos da cigncia © a explicitagio dos postulados © das operagies que a tornam possivel, é ceramente nas obras de arte que as formas ciais do pensamento de uma época se exprimem mais ingé- nua completamente. Também, como observa Whitchead, “6 na literatura que a visio do mundo concreto se exprime. F, portanto, a literatura que devemos considerar, principal- mente suas formas mais concretss, se quisermos descobrir os pensamentos profundos de uma geracto’?* Assim, para tomar apenas um exemplo, a relagao que o criador mantém com o pii- blico e, que esth estreitamente ligada, como foi visto, a situa- io do campo intelectual na sociedade e & situagio do artista | nesse campo, obedece a modelos profundamento inconscien- tes, enquanto relagio de comunicacio naturalmente: subm da is regras que Fegem as relagdes interpessoais no universo social do artista ow daqueles aos quais éle se dirige. Como © observa Amold Hauser, a arte do antigo Oriente, com a 5) M, Mavss, “Introduction & Vanalyse de quelques phenoménes re- Iigiour’, em Mélonges dhistotwe des religions, XXIX. 3G." Baoan, Le Noucel esprit scientifique, Paris, ror, 1949, pigs. 31 ¢ 37-38, Ss" Warreiman, Science and the Modem World, 1926, pig. 100. (900 INTELECTEAL R FROJETO CRIADOR 139 representagio frontal da figura humana, uma “arte que ma- nifesta ¢ exige respeito’; eli oferece ao espectadar uma prova de deferéneia e cortesia, conforme a uma etiquéta. Téda arte de corte € uma arte cortés, que manifesta na submissio 20 principio de frontalidade a recusa das trapacas de um ilusio- hismo fécil, “Esta atitude enconira uma exprossio tardia mas ainda bem nitida nas convengées do teatro eléssico de edrte, onde o ator, sem nada conceder as exigéncias da ilustio eé- nica, dirigese diretamente 20 piblico, interpela-o, de certo modo, com cada um de seus gestos e de suas palavras ¢ nao se contenta em evitar virar as costas ao piblico, mas manifesta. por todos os meios que téda ago 6 uma pura ficgao, um di- Vertimento dirigido segundo regras combinadas. O teatro na- furalista é uma transigio para o posto absoluto désse ato “frontal”, isto 6, 0 filme, que, mobilizando 0 piblico, levando-o luos acontecimentos em’ vez de levar os acontecimentos a éle © de representi-tos para éle ¢ esforcando-se para representar ago de maneira a sugerir que os atéres tenham sido tomadoe iho vivo, redux a ficgéo a seu minimo"** Risses dois tipos de fntengio estética, traidos pela obra em sua mancira de se irigir 20 espectador, tem uma afinidade eletiva com a es- Inutura das sociedades nas quais elas se constituem ¢ com a foitrutura das relagdes sociais, aristocriticas on democriticas, luo esas sociedades favorecem. Quando Scaliger acha com- es ine teen. Guu Sri aha ee Wi @ que aquéles que esto em siléncio sejam considerados se estivessemn presentes”, quando considera como absmr- Beomportarso em cena coma se pudesto ouvir © que waa ma diz de outra’,’ & que éle deixou de compreender as mngGes teatrais que os homens da Idade Média conside- como evidentes porque cram solidirias a um sistema ‘escolhas implicitas, aquelas mesmas que, segundo Pa- 4 Se exprimiam no espaco “agregado™* da figuracio pictu- Biplistca da Tdade Neda, justeposigio no expego de ce } Maven, The Social History of Art, trad. S. Godman, Nova Vintage Books, 1957, tomo I, pigs, 41-42. ido por A, Hausen, op. eit, tomo Tl, pigs. 11-12, Paxoracy, “Die penpeltive als Symbolische Form”, Vorteage der Warbuig, Vortrage, 1924.25, Leiprig—Berkim, 1627, pigs. 257 140 [PRORLEMAS DO ESTRUTURALISND, nas sucessivas, completamente opostas 2s convengoes plisticas c teatrais do Renascimento e da época clissica, & representa io sistematica do espago e do tempo que se exprime tio bem na perspectiva quanto na regra das trés unidades, Se arriscamos surpreender, inscrevendo no inconsciente cultural as altitudes, aptidées, conhecimentos, temas ¢ proble- mas, em suima todo o sistema de categorias de percepeio ¢ de pensamento adquirido pela aprendizagem metddica, que a escola organiza ou permite organiizar, 6 que o criador mi tém com sua cultura érudita, como com sua cultura inicial, uma relagio que pode ser definida, segundo a expressio de Nicolai Hartmann, como a do “levar” e do “ser levado" e que nfo tem conseiéneia de que a cultura posuida por éle tam- bém 0 possui. Assim, como 0 observa Lonis Althusser, “Seria muito impradente zeduzir a presenca de Feuerbach nos tex- tos de Marx, entre 41 e 44 apenas a sua mencao explicita, pois vvdrias passagens reproduzem e demarcam desenvolvimentos feuerbachianos sem que Feuerbach seja citado (...). Mas por que Marx deverit citar Feuerbach quando todos 0 co- nhesiam, ¢ sobretdo quando éle se tinha apropriado de seu pensamento, e pensava nesses pensamentos como nos seus prd- prios?™? Os empréstimos e as imitagdes inconscientes sio, sem diivida, a manifestacio mais evidente do inconsciente cultu- ral de uma époce, désse senso comm que torna possiveis sen- sos particulares nos quais ela se exprime, E ainda por isso que a relacio que o intelectual mantém nocessiiriamente com a escola e com seu passado escolar tem im peso determinante no sistema de suas escolhas intelectuais } mais inconscientes. Os homens formados numa certa escola tém | cma comum um certo “espirito”. Formados segundo 0 mesmo mo- délo, estio predispostos a estabelecer com seus semelhantes ‘uma cumplicidade imediata” O que os individuos devem escola & inicialmente téda uma heranga de lugares-comuns 2. Ammons, Pour Mars, Masper, 1065, pig. 62, (N. do Tradhurico para o portugués, sob o titulo Andlse Grtice da Teoria Mat sista, Zahar Editéres, Mio, 1967.) {0° evidente, que numa sociedade do intolectuais formades, pola ‘cola, 0 autodidata ¢ ‘neoessdrkamente Investide de. propricdades, t0das hegitivas, om as quals deve contar e das quals sou projeto eriada) raz a marea. (casino INrELEcTUAL x PROETO CRLADOR 141 que nio sio sdmente discurso ¢ linguagem comuns, mas tam- bém terrenos de encontro ¢ terenos de acdrdo, problemas comuns ¢ maneiras comuns de abordar ésses problemas co- ‘muns: os homens cultos de uma época determinada podem estar em desacdrdo quanto aos objetos que disputam, mas es- tiio pelo menos de eedrdo em disputar certos objetos. O que faz | ‘con que um pensador pertenca a sua época, 0 quo faz com que scja situado e datado so antes de mais nada as problemé- | ticas © as temiticas obrigatérias nas quais e pelas quais pensad Sibe-se que @ anilise histérica tem muitas vézes dificuldade em distinguit o que prdpriamente resulta da maneira_ parti ‘cular de uma individualidade eriadora e © que se deve As con- vvengbes e as regras de um género ou de uma forma artistica f, mais ainda, a0 gésto, a ideologia e ao estilo de uma época ou de uma sociedade. A temética e a maneira proprias de lum criador participam sempre da tépica e da retérica, como Herangs comtum de temas e-do formas que definom train, waltiral de wna sociedade e de una Gpocn. E por isso que f obra é sempre orientada objetivamente em relagio 20 meio Woririo, a suas exigéncias estéticas, a suas esperancas inte- Toctuais, a suas categorias de percepgio e de pensamento: por @xemplo, as distingdes entre os géneros literdtios, com as no- es de

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