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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE PSICOLOGIA

MARCOS GATTI

Um estudo sobre as práticas de Orientação Profissional em diferentes contextos

SÃO PAULO
2006
Livros Grátis
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MARCOS GATTI

Um estudo sobre as práticas de Orientação Profissional em diferentes contextos

Dissertação apresentada ao Instituto de Psicologia da


Universidade de São Paulo para obtenção do título de
Mestre em Psicologia.

Área de concentração: Psicologia Social


Orientadora: Profa. Associada Yvette Piha Lehman

SÃO PAULO
2006
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Catalogação na publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo

Gatti, Marcos.
Um estudo sobre as práticas de Orientação Profissional em
diferentes contextos/ Marcos Gatti; orientadora Yvette Piha Lehman. --
São Paulo, 2006.
124 p.
Dissertação (Mestrado – Programa de Pós-Graduação em
Psicologia. Área de Concentração: Psicologia Social) – Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo.

1. Orientação vocacional I. Título.

LB1027.5
FOLHA DE APROVAÇÃO

Marcos Gatti
Um estudo sobre as práticas de Orientação Profissional em diferentes contextos

Dissertação apresentada ao Instituto de Psicologia da


Universidade de São Paulo para obtenção do título de
mestre em Psicologia.

Área de concentração: Psicologia Social


Orientadora: Profa. Associada Yvette Piha Lehman

Aprovado em:

Banca Examinadora

Profa. Associada: ______________________________________________________

Instituição:_______________________ Assinatura:___________________________

Prof. Dr.:_____________________________________________________________

Instituição:_______________________ Assinatura:___________________________

Prof. Dr.:_____________________________________________________________

Instituição:_______________________ Assinatura:___________________________
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho àqueles que me dedicaram suas vidas.


AGRADECIMENTOS

À Profa. Associada Yvette Piha Lehman, por ter- me recebido no programa de pós-

graduação, acompanhando-me durante todo percurso deste trabalho com muita paciência.

Aos professores que tanto me ensinaram nas disciplinas de pós-graduação: Prof. Dr. Ruy

Braga, Profa. Titular Myriam Krasilchik, Profa. Dra. Eda Tassara, Profa. Dra. Vera Paiva,

Profa. Dra. Nádia Araújo e Profa. Dra. Leny Sato.

Aos professores que compuseram minha banca de qualificação, pelas sugestões e

contribuições tão relevantes para a melhora deste trabalho.

À Conceição e Fabiano, por sua presença constante, pelas conversas e pelo apoio nos

momentos mais difíceis.

Ao Magoo, amigo de todos os momentos e companheiro de jornada, pelas interlocuções,

palpites, churrascos e cervejas.

Ao João, amigo que agora está distante, pelas críticas, pelo suporte, mas, acima de tudo,

pela amizade.

Aos amigos do Serviço de Orientação Profissional da USP por todo apoio.

À Patty, minha irmã do coração, por sua amizade e por tudo que as palavras não podem

expressar.
À Lilian, pelo seu carinho, companhia, paciência e apoio incondicional, pelas sugestões e

por toda ajuda com a revisão do texto e confecção do abstract.

À Sônia, Fátima e Rô, por sempre estarem dispostas a resolver todos os problemas que

surgiram.

A todos que de alguma forma torceram e colaboraram com este trabalho e que o espaço

não permitiu serem citados.


EPÍGRAFE

“As duas definições mais comuns [para a palavra

carreira] eram os caracteres chineses significando

“desenvolvimento da vida” ou “assessoramento da

vida”. Os caracteres chineses para desenvolvimento da

vida são comparados à grama que cresce no chão, à

beira da água. À beira da água significa a fronteira ou

o limite de algo da mesma forma que o

desenvolvimento ao longo da vida implica a fronteira

entre vida e mort e. Os caracteres para assessoramento

da vida significam calcular cuidadosamente, da mesma

forma que “life accounting” significa checar como os

indivíduos passam o dia, ou mesmo como eles passam

sua vida”.

(Chang, 2002, p.220)


RESUMO

Gatti, M. Um estudo sobre as práticas de Orientação Profissional em


diferentes contextos. 2006, 124 f. Dissertação (Mestrado) – Instituto de
Psicologia, São Paulo, 2006.

Cientes da velocidade em que ocorrem as mudanças na estrutura dos distintos contextos


sócio-econômicos das últimas décadas, a fim de podermos lidar com as novas questões que
emergem dessa realidade cada vez mais complexa, somos obrigados a nos questionar a
respeito da forma pela qual Orientação Profissional tem acompanhado este processo de
mudança. A reformulação de práticas, bem como o desenvolvimento de teorias, se
direciona pela tentativa de atuar sobre este contexto, em função das imposições
determinadas por esse. Ao considerarmos quais são estas imposições, deparamo-nos com o
fato de que as mudanças advindas delas apontam para os limites da visão de ciência que
permeia grande número dos trabalhos desenvolvidos pela orientação na segunda metade do
século XX. Ao ter seus fundamentos epistemológicos questionados por essas imposições,
vê-se que, a fim de sustentar-se como uma prática válida, é necessário à orientação superar
modelos ultrapassados, construídos sobre paradigmas superados e incapazes de atuar sobre
a atual realidade, rumo a um novo pensamento científico e uma nova visão de mundo.

Palavras-chave: Orientação Vocacional.


ABSTRACT

Gatti, M. A study about the practices in Professional Guidance in different


contexts. 2006, 124 f. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Psicologia, São
Paulo, 2006.

Aware of the speed in which the changes in the structure of the distinct social economic
contexts of the last decades have happened, in order to deal with the new matters that
emerge from this reality – more complex each day, we are forced to wonder about the way
that the Vocational Guidance has followed the changing process. The reformulation of the
practices, as well as the development of theories, are guided by the attempt of acting in this
context, due to the impositions determined by it. When considering which these
impositions are, we come upon the fact that the changes as a consequence of such
impositions point at the limits of the Science vision that is present at a great number of
works developed by the Guidance in the second part of the 20th century. It’s observed that,
having its epistemological fundaments questioned by these impositions, in order to
maintain itself as a valid practice, there is the necessity for the Guidance to overcome old-
fashioned models, built on surpassed paradigms that are unable to act in the present reality,
in the direction of a new scientific thought and a new world vision.

Key-words: Vocational Guidance.


SUMÁRIO

1 - Introdução 12
2 - Revisão bibliográfica: contextos 17
2.1 - Contexto Global 19
2.1.1 - Transformações no mundo do trabalho 19
2.1.2 - Desafios à orientação 27
2.2 - Contextos locais 28
2.2.1 - Austrália 28
2.2.2 - China 31
2.2.3 - Cingapura 38
2.2.4 - Estados Unidos 42
2.2.5 - Filipinas 48
2.2.6 - Hong Kong 52
2.2.7 - Japão 57
2.2.8 - Malásia 60
2.2.9 - Portugal 65
2.2.10 - Taiwan 68
2.3 - Brasil: passado e presente 73
2.4 - Síntese 80
2.4.1 - Características comuns 81
2.4.2 - Características específicas 82
3 - Questionamentos em orientação 84
3.1 - Definição clássica 88
3.2 - Por um novo conceito 91
3.2.1 - Por um conceito de trabalho 93
3.2.1.1 - Labor 94
3.2.1.2 - Work 95
3.2.1.3 - Ação 96
3.2.1.3.1 - A técnica e o trabalho 98
3.2.2 - Comportamento vocacional 100
3.2.3 - Objetivos 101
3.2.4 - Sujeitos da orientação 102
4 - Em busca de respostas 104
4.1 - Questões epistemológicas 104
4.1.1 - A dicotomia teoria x prática 104
4.1.2 - Psicologia Vocacional x Psicologia 106
4.1.3 - Aconselhamento e psicoterapia 107
4.1.4 - A pesquisa em Psicologia Vocacional 108
4.1.5 - Convergência e divergência 110
4.2 - Enfrentando desafios 112
4.3 - Questão central 114
5 - Considerações finais 116
5.1 - Limitações da proposta 117
5.2 - Perspectivas 117
6 – Referências bibliográficas 119
1 - Introdução

“La fabrica hecha y llevada ao «estilo

americano» ha transtocado el antiguo orden de las

cosas y de los hombres. El «oficio» pacientemente

adquirido, el vaiven de la palma de la mano, el

movimiento de los dedos, esa «sensacion de la lima»,

por los que, todavia a principio de siglo un obrero

reconoce a uno de los suyos, son ya una especie de

arcaísmo”.

(Coriat, 1988, pp.1-2).

É comum nos dias de hoje, encontrarmos muitos jovens que nunca passaram pelo

"longo" processo de escrever e enviar uma carta e depois aguardar por uma resposta que,

por vezes, graças a inúmeros fatores, poderia não chegar. Quase todos não conseguem se

imaginar num mundo sem emails e internet. Mais interessante, não conseguem imaginar o

mundo sem TV a cabo, internet e tecnologias a fim.

De modo análogo, costureiras, alfaiates, sapateiros, carpinteiros e tantas outros

profissionais do trabalho artesanal, outrora tão prolíferos, sobrevivem marginalmente, por

meio de formas híbridas, dentro de um modelo de sociedade que não lhes prevê espaço

algum. Substitui- se um grande rol de profissões por contratos de prestação de serviços.

Não se contrata um artesão, chama-se uma empresa ou empreiteiro que se encarrega

de tudo por meio de seus funcionários. O padeiro moderno aperta os botões de sua

máquina, sem saber ao certo o que e como a mesma está fazendo o pão: as profissões
perdem as características pelas quais forneciam apoio na estruturação da identidade dos

profissionais (Sennett, 1999).

Nos anos que antecedem a segunda Revolução Industrial, encontramos uma

sociedade 1 na qual o trabalho ocupa, na vida das pessoas, um lugar muito distinto do

conhecido hoje. O trabalho, a ocupação, o ofício são tanto, senão mais, um reflexo e uma

reafirmação dos papéis sociais das pessoas quanto um meio de sustentação financeira. Na

época, busca-se reafirmar os papéis de provedor do sustento (masculino) e de responsável

pela família e pelo lar (feminino), valores de influência nitidamente religiosa. Há poucas

exceções, e quase nenhuma é aceita pela sociedade.

“No começo da década de 1840, para tomar apenas um exemplo, o receio da

burguesia quanto ao emprego de mulheres em ofícios incompatíveis com sua natureza

manifestou-se com relação ao trabalho feminino nas minas.” (Hall, 1992, p.81).

O trabalho socialmente aceito para a mulher (basicamente, para as mulheres

proletárias, para quem algumas formas de trabalho ainda seriam aceitáveis, ao contrário

das mulheres pertencentes à burguesia, para as quais não há forma de trabalho bem visto

pela sociedade) é aquele que se revelaria como prolongamento de seu papel feminino.

Com o desenvolvimento das indústrias, opera-se uma alteração nos valores da

sociedade. Abandonam-se as preocupações acima mencionadas sobre quem pode ou não

trabalhar, inicia-se a fragmentação dos antigos processos de trabalho e a classe média

começa a emergir, ainda que de forma tímida, em conjunto com os grandes capitalistas

industriais.

Dessa forma, o trabalho como elemento socializador e de reafirmação de papéis

sociais começa um longo processo de transformação. Aos poucos perde seus elementos

tradicionais e começa a ser absorvido como apenas mais uma peça dentro de uma

1
Considera-se, neste ponto, a sociedade européia do séc. XIX como sinônimo de sociedade.
organização social que começa a redesenhar-se a fim de atender as novas demandas do

capital, mais agressivas e mais comprometidas com o lucro em detrimento de quaisquer

outros fatores.

A respeito desta transição para um modelo capitalista mais agressivo, Campos Silva

(2001, p.85-86) afirma:

O capitalismo mercantilista, na medida em que propõe uma


produção voltada essencialmente para a troca, traz consigo a necessidade
de especialização no trabalho, que faz com que doravante cada um deva
ser capaz de identificar sua especialidade, identificar-se com ela e
aprimorar-se nela.
Com a passagem do capitalismo mercantilista para o capitalismo
industrial, esse processo de individuação e de especialização será
brutalmente acentuado, de modo que nas fábricas que aparecem no final
do século XVIII, é preciso distribuir os indivíduos num espaço onde se
possa isola -los e localiza-los, mas também articular essa distribuição
sobre um aparelho de produção que tem suas exigências próprias. É
preciso ligar a distribuição dos corpos, a arrumação espacial do aparelho
de produção e as diversas formas de atividade na distribuição dos postos
de trabalho.

Ou seja, já no final do século XVIII, início do século XIX, começam a criar-se as

estruturas que mais tarde possibilitarão ao capital desenvolver formas mais eficientes de se

apropriar do trabalho. O modelo de trabalho como instrumento de reafirmação de papéis

sociais consegue perdurar por mais algumas décadas, até o final do século XIX, apenas

pela força do conhecimento dos ofícios por parte dos operários 2 , finalmente sucumbindo

quando os capitalistas conseguem driblar este recurso 3 e impor o domínio do capital sobre

o saber. O sujeito passa a ser apenas mais um fator dentro do processo produtivo e deve

única e exclusivamente o melhor desempenho possível em sua função específica a fim de

proporcionar ao empregador e ao capital a maior margem de lucro possível.

2
O que lhes proporcionava algum poder de barganha com o capitalista e controle do processo de produção
industrial.
3
Através de recursos como a terceirização e a organização científica do trabalho.
Este modo pelo qual se regula o trabalho persiste, de forma relativamente estáve l,

até meados da década de 1970. As crises desta década (em nível mundial), as grandes

mudanças dos sistemas econômicos e o surgimento e desenvolvimento de tecnologias de

informação comercialmente viáveis e economicamente vantajosas são apontados como

marcos de senão um novo estágio sócio-econômico, certamente de um período de

transição. Como conseqüência, a forma pela qual o trabalho é visto e interpretado pela

sociedade sofre mudanças.

O grande problema é que, ao contrário de outros momentos históricos, embora

tenhamos uma descrição consistente do modelo sócio-econômico vigente 4 , por mais que o

papel econômico do trabalho seja bem conhecido, aparentemente o lugar e o sentido que o

trabalho ocupa na vida das pessoas ainda permanecem, de alguma forma, obscuros. Pode-

se dizer que, enquanto anteriormente o emprego fora institucionalizado e transformado em

engrenagem do capital, a partir deste momento, é o próprio trabalho que passa a ser

absorvido pelo modo de produção.

Tais questões, de acordo com Méda (1998), são pertencentes exclusivamente ao

período histórico moderno/contemporâneo, nos quais as sociedades contam com uma

ciência econômica que “dita um comportamento racional de acumulação de bens” (Méda,

1998, p.XX), sem a existência de momentos semelhantes em nossa história sobre os quais

possamos nos debruçar a fim de buscar informações ou mesmo respostas.

Dados que, segundo esta autora, apontam para os limites do atual modo de

regulação e distribuição das riquezas, pois seria inadmissível considerar que o ser humano

pretendesse manter em vigor por tempo indeterminado um modo de organização sócio-

econômico que é endemicamente gerador de sofrimento e conflito e que, segundo Méda,

apenas está em vigor pelo medo que desperta a inexistência de saídas que preservem
4
A Sociologia Econômica fornece vários estudos, de diferentes escolas, sobre o assunto, como podemos
conferir em Amin (1994).
aspectos fundamentais do paradigma atual, e ao mesmo tempo que solucionem as grandes

questões da nossa realidade.

Contudo, qual a importância destes dados para a Psicologia, em especial para a

Orientação Profissional ?

De acordo com Campos Silva (2001, p.87), quando a autora se remete à situação

vigente no início do século XX,

Assim, é no terreno fértil de uma economia centrada na aptidão e


na destreza do corpo, que uma psicologia apta a medir, avaliar e
comparar habilidades e competências tomará como fundamento um
inatismo biológico para a justificação das diferenças individuais, tendo
como lema a máxima: ‘colocar o homem certo no lugar certo’. (...) Essa é
a origem da Orientação Profissional [...]

A raiz da teoria e da prática em Orientação Profissional surge, na primeira década

do século XX, como via de diálogo e contribuição da Psicologia com as questões da

sociedade, em particular, através do estudo entre a relação do sujeito com o emprego e da

busca da melhor adequação do primeiro para com o segundo.

Essa raiz, acima mencionada, ainda permanece presente em muitas pesquisas

atuais. Conforme as palavras de Savickas (1995),

Um grupo de distintos pesquisadores chegou a um acordo sobre


um quinto potencial de unificação ao sugerir que a transação entre
pessoa-meio ambiente é um princípio central para a convergência de
teorias.

Inicialmente de caráter unicamente adaptativo, a Psicologia atende à demanda e à

ideologia de uma época. Apenas aos olhos de alguns pesquisadores contemporâneos as

propostas formuladas por Parsons 5 , de acordo com a idéia de “homem certo no lugar certo”

aparentam simplicidade ou, talvez, ingenuidade, pois em muitas propostas atuais 6 ainda

5
Para muitos, o “pai” da Orientação Profissional. Primeiro a ter trabalhos publicados sobre o tema,
na primeira década do século XX.
6
Fato evidente nas propostas das teorias de traço-fator, como em Swanson & Fouad (1999).
podemos notar o cunho adaptativo presente, mesmo cientes de que o cenário atual

apresenta uma realidade muito distinta daquela analisada pelo autor.

Por mais que se questione ou critique a postura pregada por Parsons e por muitos

outros autores que defendem idéias semelhantes, ou mesma a proposta de dadas teorias, o

verdadeiro questionamento deveria voltar-se para outro fato.

Cientes de que o modelo sócio-econômico mudou drasticamente durante a década

de 1970 e que, de acordo com o modelo de Pope (2000), a Orientação Profissional

acompanha este processo de mudança, a fim de poder lidar com as novas questões que

emergem desta realidade cada vez mais complexa, reformulando tanto sua prática como o

desenvolvimento de suas teorias, em termos gerais, nossa atenção se direciona para a

tentativa de compreender como o contexto influencia o campo da orientação e quais são as

mudanças que os modelos de organização social e econômica (e suas transições)

impuseram (e impõem) à Orientação Profissional.

Para tal, abordaremos o atual contexto social e econômico em nível global e os

desafios que este coloca para a orientação e as práticas desenvolvidas em diversos países

do mundo, como forma de estabelecer uma base comparativa com os dados sobre da

realidade brasileira. Assim, tentaremos efetuar as possíveis ligações entre as atuais

questões derivadas da macro estrutura à qual a sociedade está submetida, com os

questionamentos epistemológicos do campo da orientação, visando as transformações

ocorridas no atual modelo, em busca de um conceito atualizado de orientação.


2 - Revisão bibliográfica: contextos

Pope (2000), traz-nos, após uma profunda pesquisa dos trabalhos de Savickas,

Newcombe, Whiteley, Schwebel, Aubrey, Herr, Borrow, Ginzberg, Stephens, Williamson,

McDaniels, Super, Norris, Brewer e Bloomfield, um modelo teórico segundo o qual o

desenvolvimento da orientação e aconselhamento de carreira está intimamente associado às

grandes transições sociais que ocorrem em um determinado contexto durante sua história e

que, necessariamente, acarretam profundas mudanças políticas e econômicas.

Se a afirmação de Pope (2000) estiver correta, é de se esperar que uma análise das

transformações a que está sujeita uma dada sociedade, tanto por conta de variáveis

macroeconômicas e sociais (mudanças no modo de produção ou guerras mundiais, por

exemplo) como de variáveis microeconômicas e sociais (revoluções locais, golpes de

estado, mudança de moeda), nos traga dados relevantes sobre como as demandas de cada

sociedade constroem-se e qual foi o percurso de evolução das teorias e práticas em

orientação na busca de respostas a essas demandas.

Às colocações de Pope, podemos acrescentar o seguinte comentário de Guichard &

Huteau (2001, pp.13-14):

Estes diferentes desenvolvimentos das práticas em Orientação


parecem determinados pela evolução da situação na qual se verificam.
Compreender as suas transformações, avaliar a pertinência de uma ou
outra num dado momento, interrogar-se sobre as suas evoluções
possíveis exigem, por conseguinte, que as situemos no seio das
sociedades onde elas se desenvolvem.

Desta forma, com o propósito de conseguirmos esboçar as influências a que estão

sujeitas determinadas sociedades, inicialmente faremos uma breve exposição das grandes

mudanças macroeconômicas a que todos os países foram sujeitados durante o século XX.
Assim, poderemos estabelecer qua is as influências de nível global a que as

diferentes correntes de orientação têm de enfrentar. Em seguida, realizaremos uma

exposição pormenorizada da situação específica de dez países distribuídos por diferentes

regiões (com maior influência de relatos provenientes do oriente), considerando como os

fatores específicos de cada cultura e a forma pela qual esta se relaciona com os fatores

externos a ela, se fundem na constituição das demandas de seus sujeitos. Tais dados serão

seguidos de uma exposição, a respeito do panorama sócio-econômico brasileiro e como a

orientação desenvolveu-se no nosso país. Finalmente, teremos uma síntese que busca

agrupar os fatores comuns às diferentes propostas em orientação e analisar brevemente as

diferenças e semelhanças presentes nos dados.

Foram selecionados para esta revisão, artigos de dois periódicos reconhecidos

internacionalmente (Journal of Vocational Behaviour e The Career Development

Quarterly), em particular, artigos que abrangem a orientação a partir de uma perspectiva

histórica, avaliando quais foram as propostas (e os resultados) que a orientação

proporcionou a estes países ao longo dos anos. No caso brasileiro, foi selecionado um

artigo exposto em um congresso de orientação aliado a dados provenientes de estudos da

sociologia industrial.

2.1 - Contexto global

2.1.1- Transformações no mundo do trabalho

Partindo-se do início do séc. XVIII, mais especificamente de 1712, quando a

primeira máquina a vapor é inventada e posteriormente utilizada na produção industrial do


setor têxtil, dá-se início à primeira Revolução Industrial, e decreta-se o final de uma era

dentro do mundo do trabalho. O artesanato – ramo no qual a divisão de trabalho inexistia e

o objetivo maior da relação entre mestre e aprendiz era o ensino de um ofício em vez de

uma relação empregatícia – dá lugar à manufatura, ao salário e à divisão do trabalho. A

partir desse momento, o homem passa a utilizar a palavra trabalho como sinônimo de

emprego remunerado. Com o aperfeiçoamento das tecnologias do vapor em 1765, novas

aplicações vão ocorrendo para além dos teares. Em 1787, inicia-se a utilização das novas

tecnologias nos navios e, em 1805, surgem as locomotivas movidas pela força das

máquinas.

Por volta de 1860, um novo ciclo de revoluções dá um novo e maior impulso às

alterações na organização do trabalho e na forma de produção. A manufatura – tipo de

trabalho no qual ainda persistiam muitos operários que dominavam completamente seus

ofícios e conseguiam impor o seu ritmo ao processo produtivo, mas que se encontravam de

alguma forma sujeitados aos donos das máquinas (e, conseqüentemente, do capital), pois

não poderiam mais sobreviver (economicamente) segundo as formas antigas de

organização e produção – começa rapidamente a ser substituída pela forma industrial de

produção. A divisão do trabalho, incipiente até então, assume papel fundamental no

processo de organização das indústrias e no controle dos operários. Novas tecnologias

como o motor de combustão interna e o telefone, entre outras tecnologias, modificam ainda

mais as relações com o tempo e espaço, não apenas no sentido de expansão ao redor do

mundo, mas também nas formas de regular o modo de produção.

Esse movimento de desapropriação do sujeito de sua íntima relação com o trabalho

ganha um grande aliado a partir das formulações de Taylor, que propôs ganhos

substanciais de produtividade apenas por meio da utilização de uma forma distinta de


gerenciamento: a Divisão Científica do Trabalho. A partir da observação que Braverman

(1981, p.53) mais tarde nos expõe, Taylor percebe que:

[...] o trabalho que ultrapassa a mera atividade instintiva é assim


a força que criou a espécie humana e a força pela qual a humanidade
criou o mundo como o conhecemos (...) Onde a divisão de função no seio
de outras espécies animais foi atribuída pela natureza e impressa no
genótipo sob a forma de instinto, a humanidade é capaz de uma infinita
variedade de funções e divisão de funções com base nas atribuições de
família, do grupo e sociais (...) Assim, nos seres humanos,
diferentemente dos animais, não é inviolável a unidade entre a força
motivadora do trabalho e o trabalho em si mesmo. A unidade de
concepção e execução pode ser dissolvida 7 , a idéia de uma pessoa pode
ser executada por outra.

Com a Divisão Científica do Trabalho, a fragmentação das atividades em unidades

de tempo vem dissolver, cada vez mais, o aspecto humano presente na relação sujeito-

trabalho, tratando o sujeito mais como extensão do maquinário do que como ser humano:

“O que o trabalhador vende e o que o capitalista compra não é uma quantidade contratada

de trabalho, mas a força para trabalhar por um período contratado de tempo 8 ” (Braverman,

1981, p.56).

Isso quer dizer que antes mesmo do advento do Fordismo e suas revoluções no

âmbito do processo produtivo, a fragmentação da subjetividade e o controle do trabalho já

estavam estabelecidos e apenas serviriam de base para a instauração de processos que

pudessem levar mais longe a expropriação do trabalho por parte do capital.

Com as condições estabelecidas, o mundo pode assistir ao surgimento de uma nova

forma produtiva que permite o estabelecimento de uma exploração em larga escala,

comparável àquela dos mineiros observados por Engels (1975). Segundo Coriat (1988, p.

44), o fordismo assegura a aparição e hegemonia de “nuevas normas de productividad y de

produccion”, introduzindo o controle mecânico do tempo e extinguindo um dos últimos

7
Grifo do autor
8
idem
recursos de controle subjetivo do processo em prol da produtividade. Segundo o autor, tais

modificações têm por objetivo o controle da escala de produção (produção em série), da

natureza dos produtos (estandardização) e das condições de formação dos custos de

produção.

Somando-se essas colocações às de Silva (in Hirata, 1993, p.217) e às de Amin,

(1994, pp. 9-10) temos subsídios para esboçar uma definição acerca do que viria a ser o

“fordismo”. De forma simplificada, poderíamos resumir os preceitos fordistas nos

seguintes elementos:

- Racionalização das operações efetuadas;

- Parcelamento das tarefas;

- Introdução da linha de montagem;

- Padronização das peças e dos produtos.

Pode-se dizer que esses preceitos acarretam muito mais do que o simples aumento

da produtividade. Tendo em vista o nível das mudanças que se processaram no meio

industrial, poderíamos afirmar que não só a economia foi reestruturada, mas também

muitos aspectos sócio-políticos foram alvo de profundas reformulações. A respeito dessas

conseqüências para a sociedade podemos citar a colocação de Uvaldo (2002, p.10):

O método de trabalho é, portanto, inseparável do modo específico


de viver, pensar e sentir a vida. Trata-se da regulação dos indivíduos pelo
trabalho para o social e legitimação social desta necessidade, através da
realização do indivíduo (Catão, 2001) 9 . Neste modelo, o trabalhador não
se reconhece como criador do objeto produzido, reduz-se à categoria de
objeto, uma clara separação entre execução e concepção do trabalho.

Durante a década de 1970, o fordismo deparou-se com entraves que pediam

soluções distintas daquelas que o modelo poderia oferecer. Nielsen (apud Amin, 1994,

p.10), cita quatro fatores que julga principais e que, segundo sua análise, apontavam para

9
Grifo nosso.
uma provável mudança no modo de produção. Com graus de importância distintas em

diferentes contextos nacionais foram eles:

- Queda generalizada de produtividade;

- Produção em massa levando à globalização cada vez maior e dificultando muito o

gerenciamento econômico;

- Crescimento dos gastos sociais por conta da lógica fordista;

- Mudanças graduais nos padrões de consumo no para uma maior variedade de

valores de uso, num movimento contrário ao da padronização.

Já Antunes (apud Uvaldo, 2002, pp.10-11) aponta seis fatores como responsáveis

pela entrada no processo de transição de modelos ocorrido na década de 70:

- Queda da taxa de lucro;

- Esgotamento do padrão de acumulação Taylorista/Fordista de produção;

- Hipertrofia da esfera financeira;

- Maior concentração de capitais;

- A crise do ‘welfare state’;

- Incremento acentuado das privatizações.

A resposta encontrada é a crescente diminuição do papel do estado e o aumento da

autonomia do capital, uma retomada da antiga política liberal, devidamente repensada para

um novo contexto produtivo, o neoliberalismo. Junto com a nova política, o ocidente

apropria-se de uma forma de produção e organização do trabalho que se desenvolveu

paralelamente no Japão desde a década de 40, como opção para reconstrução do país após

o término da segunda guerra: a reestruturação produtiva, resumida geralmente pelo termo

“toyotismo/modelo japonês”.

Contudo, Castells (1999) e Trigilia (2002) apontam para um fato muito importante:

o chamado “modelo japonês” é uma ocidentalização desse sistema desenvolvido no Japão,


com mudanças suficientes para que se desse outra denominação ao mesmo; formam-se

dois grandes blocos de funcionamento que se valem de estratégias muito distintas no que

se refere ao destino da população operária industrial, do papel do estado na regulamentação

do capital e do lugar em que diferentes agentes sócio-econômicos ocupam em sua estrutura

(por exemp lo, a forma de regulação do setor de serviços dentro de cada vertente). Grosso

modo, poder-se-ia dizer que o modelo a mais se aproximar da política neoliberal é aquele

praticado pelo bloco ocidental, tendo o modelo oriental mantido algumas características

diferenciais durante a maior parte do processo de reestruturação, de forma a fazer-se

necessário ter em mente que, ao falar em modelo japonês (ou toyotismo), estaremos

referindo-nos ao modo pelo qual o ocidente apropriou-se da forma oriental de organização

do trabalho, segundo uma política distinta.

O fator comum a ambas as linhas, no que diz respeito às mudanças no processo

produtivo, sem dúvida, foram as chamadas Tecnologias da Informação (TI’s) e a

conseqüente forma de organização derivada das mesmas – a globalização da atividade

econômica. No parecer de Gereffi (1994, p. 209):

Além do mais, as tecnologias de manufatura estão passando por


mudanças substanciais e de longo alcance a partir do momento em que a
ênfase está mudando da produção em massa, em larga escala, da linha de
produção para um processo de produção mais flexível, utilizando novas
tecnologias microeletrônicas (...) Esta revolução em tecnologia da
informação está na base da profunda reorganização econômica e social
que está tomando lugar nas maiores cidades, países e blocos regionais da
economia global10 .

Ainda, segundo Castells (1999, p. 272), “Então, a nova tecnologia da informação

está redefinindo os processos de trabalho e os trabalhadores e, portanto, o emprego e a

estrutura ocupacional”.

10
Tradução do autor.
Ou seja, podemos apontar o processo desencadeado na década de 70 como uma

forma de reestruturação do modo de produção capitalista e de suas formas de se regular a

relação entre sujeitos e o mundo do trabalho, ao passo que a globalização ocupa um lugar

de inovação na esfera da organização do trabalho. Obviamente ambos os processos estão

imbricados, como o estiveram o taylorismo e o fordismo no passado, o que não significa

ser um redutível ao outro.

Resgatando a essência dos trabalhos de Burawoy (1994) e Knights & Wilmott

(1989), retoma-se o questionamento sobre as diversas imposições das novas formas de

organização e produção segundo o referencial dos sujeitos. Para melhor compreensão de

tais impactos, recordemo- nos de Sennett (1999) e de suas categorias de análise.

a) Mudança do enfoque do trabalho

Há o advento do trabalho imaterial11 e de um capitalismo cognitivo 12 . A migração

da geração de capital das indústrias, sobretudo para o setor de serviços, aponta para um

modelo no qual a qualificação é cada vez ma is solicitada e, determinados valores passam a

ser pré-requisitos.

Ao mesmo tempo, a força de trabalho submete-se mais e mais a uma maior

precarização do mesmo 13 , sobretudo porque a migração de setores não significa reabsorção

da mão-de-obra dispensada das indústrias pela nova área de serviços, um fato que tende a

agravar-se conforme as mudanças tornam-se mais intensas e as indústrias são em número

11
Ver Lazzarato, M; Negri, A. Trabalho Imaterial. Rio de Janeiro, DP&A, 2001.
12
Ver Galvão, Silva e Cocco (orgs.). Capitalismo Cognitivo. Rio de Janeiro, DP&A, 2003.
13
A precarização é apontada em termos de terceirização, trabalho autônomo e parcial, e não
necessariamente condições de exploração física maiores.
cada vez mais reduzido, o que limita as possibilidades de recolocação desses

trabalhadores 14 .

b) Flexibilização

Para Sennett (1999), o sistema flexível resume-se em três pontos:

- reinvenção descontínua das instituições (mudanças físicas);

- especialização flexível da produção (readequação de produtos à demanda);

- concentração de poder com descentralização (controle administrativo central de

unidades produtivas em regiões distintas).

Fragmenta-se uma mesma categoria por meio da mudança na relação entre empresa

e cada um dos funcionários. Não há mais como coletivizar determinadas lutas, pois a causa

defendida não diz respeito a todos, mas, muitas vezes, os próprios colegas tornam-se

supervisores uns dos outros por conta da organização em células polivalentes e auto-

reguladoras.

c) Regras ilegíveis

O abandono das rotinas altamente previsíveis, anteriormente


vinculadas à atividade profissional, faz com que as pessoas sintam-se
desnorteadas em meio a um período de transformação permanente na
definição das ocupações e dos papéis ocupacionais. (Uvaldo, 2002, p.3)

Certamente esta insegurança favorece o controle do trabalhador


por parte de quem o emprega, o pavor com a questão do emprego deixa a
grande maioria das pessoas em uma situação de risco constante. (Uvaldo,
2002, p.21)

14
Tomemos por exemplo as descricões levantadas por Guimarães (2004) a título

de ilustração.
Como é possível observar, a partir das citações acima, a insegurança é a chave de

um novo modelo de relação com o trabalho. Manter-se a ilegibilidade das regras é uma das

formas de se assegurar o controle e um dos principais fatores de desorientação dos sujeitos

a ser considerado e trabalhado em qualquer proposta de intervenção.

2.1.2 - Desafios à orientação

A partir das transformações descritas, podemos considerar como principais desafios

(e também como principais demandas) à orientação, os seguintes pontos:

? A existência de novos espaços sociais em crise, o que nos leva a buscar novas

modalidades de orientação e intervenção voltadas especificamente para estas

novas populações;

? Necessidade de adequação de teorias e práticas para os diferentes contextos de

aplicação;

? Mudança da organização econômica do modelo industrial para uma organização

informaciona l e de serviços, com forte substituição do ser humano pela

tecnologia sem criação de novos postos em outras áreas, gerando uma massa de

desempregados com qualificação obsoleta;

? Novos paradigmas de trabalho: migração do trabalho físico para trabalhos

cognitivos e não materiais;

? Alteração da estrutura administrativa para um modelo mais flexível, que se

reestrutura conforme as necessidades do mercado. Diminui-se a

hierarqizaçãodas organizações e fragmenta-se o poder e importância de muitos


cargos; o fator humano passa para um estado deinsegurança pela total

impossibilidade de se estabelecer regras de caráter permanente;

? Imprevisibilidade das perspectivas futuras de curto, médio e longo prazo: os

sujeitos têm pouca informação e quase nenhuma referência externa que os ajude

a elaborar seus planos de carreira;

? A própria noção de carreira perde parte de seu sentido clássico, pedindo novas

definições, mais adequadas à realidade presente.

2.2 - Contextos locais

2.2.1 - Austrália15

Os dados a respeito da Austrália são seguramente influenciados pela forma em que

os alunos da grade 12 – o equivalente ao 3o ano do Ensino Médio brasileiro – são

obrigados a fazer suas escolhas para o ingresso no ensino terciário, equivalente ao Ensino

Superior brasileiro.

O foco da pesquisa utilizada reside no processo centralizado de seleção de alunos

para admissão nas faculdades. Os sujeitos das amostras pesquisadas são residentes do

estado de Nova Gales do Sul (New South Wales).

Na Austrália, a seleção para as faculdades é feita através de uma prova de admissão

padronizada e ministrada em todo o território. Tendo em conta esse processo centralizado,

há serviços de orientação para a sociedade em geral e também trabalhos mais específicos

para alunos que estão saindo da escola secundária ou que já estão cursando ensino superior,

cada qual com sua proposta específica.

15
Dados obtidos a partir de Hesketh (1998).
A maioria das escolas utiliza orientadores que têm sua formação voltada para o

ensino, e não para o aconselhamento. O treinamento fornecido pelo Estado varia conforme

a região considerada, não havendo um padrão específico para o mesmo. Os orientadores

que atuam nas escolas ajudam no processo de escolha e no gerenciamento da passagem

para o Ensino Superior junto com ações no sentido de auxiliar o sujeito na transição da

escola para o mundo do trabalho. Poucos profissionais envolvidos nessas ações são

psicólogos, o que significa pouca utilização de testes. Por conta dessa população de

profissionais, a tipologia de Holland acaba sendo um instrumento muito utilizado. Segundo

Smart (1998), a teoria dos estágios proposta por Super (1963), apesar de criticada por

trabalhar com conceitos muito estáticos, é um referencial amplamente adequado ao país ao

se trabalhar com carreiras.

Dentro das instituições de Ensino Superior, os escritórios de orientação agendam

visitas a companhias, auxiliam na preparação de currículos, ministram cursos sobre

desenvolvimento de carreira e providenciam orientação e aconselhamento individual.

Nesses locais, o grupo de profissionais conta com pessoas habilitadas em Ciências Sociais

e alguns psicólogos, dentre os quais se destacam poucos com qualificação relevante

(especialização ou pós- graduação) na área. Há uma grande utilização de serviços via

Internet.

O governo oferece alguns serviços no campo das carreiras em alguns estados,

embora esses tenham sido radicalmente diminuídos e reestruturados nos últimos 10 anos.

Onde existem, limitam-se ao gerenciamento de desemprego e ao desenvolvimento de

políticas e serviços de informação sobre as diferentes carreiras. Quase não há atendimento

em nível individual, principalmente ao compararmos o modelo de atuação atual com o

anterior às reestruturações.
Os serviços oferecidos aos desempregados, sobretudo os programas de treinamento,

passam atualmente por um processo de privatização. É notável o crescimento do número

de consultorias que oferecem serviços de assistência a pessoas em estágio de transição,

junto a processos de recrutamento, recolocações, etc. Há uma predominância da linha

teórica de adequação entre pessoa e meio ambiente (person-environment fi). A qualidade

dos serviços varia muito e não há regulamentação da prática profissional na área de

aconselhamento de carreira por nenhum órgão oficial.

Devido à atuação limitada, nota-se uma concorrência muito forte entre os serviços

desenvolvidos pelos profissionais e os serviços de ofertas de vagas de trabalho via Internet.

Há programas especiais voltados para a população aborígine, numa tentativa de se

remediar os muitos anos de desigualdade, cada vez mais acentuada, a que esta parte da

população fora submetida.

Graças à influência industrial pronunciada, os pesquisadores têm focado sua

atenção no processo de integração entre treinamento e desenvolvimento de carreira,

sobretudo pela existência de leis determinando o estabelecimento de planos de carreira de

acordo com a aquisição de novas habilidades por parte do empregado.

A orientação profissional está ligada decisivamente à tomada de decisão (decision

making). Espera-se que o atual nível de interesse em Psicologia Organizacional e o

crescimento de cursos de pós-graduação, geralmente imbuídos de componentes que

abordam a questão da carreira, produzam profissionais que auxiliem o crescimento do

profissionalismo e da amplitude dos serviços de orientação prestados, sobretudo nas

consultorias.
2.2.2 - China16

Na nova era emergente, há a promoção de uma nova economia que traz uma

revolução na educação, mercado de trabalho e estilo de vida através da Ásia e de países do

pacífico. A China, hoje, passa por uma total reformulação não só em sua abordagem

econômica, mas também na sua organização social, com a nova economia de mercado

criando novas condições, críticas para o desenvolvimento de carreiras da população em

massa. Em resposta, o setor de orientação e aconselhamento evolui rapidamente.

O aconselhamento de carreira na China, por mais visionários que tenham sido seus

mentores, descreve um caminho difícil. Passa, inicialmente, de uma educação vocacional

para um modelo de educação política/ideológica. Deste, para um modelo de orientação via

professores e, finalmente, para sua debandada durante a Revolução Cultural e subseqüente

renascimento na última década.

Atualmente, o Partido Comunista promove o deslocamento de um modelo

econômico planejado para uma economia de mercado, com a proposta de se chegar a um

modelo de economia de mercado socialista, fato que muda substancialmente o sistema de

emprego chinês.

A revolução começa nas escolas, a partir da forma de se alocar profissionalmente

os alunos. No comunismo, o governo providencia empregos para todos os estudantes. A

carreira é definida pelo estado. Atualmente, os estudantes são responsáveis pela busca de

suas vagas de trabalho.

O segundo ponto fundamental é a passagem do sistema de garantia de empregos do

governo para o modelo orientado pelo mercado. Da garantia vitalícia de emprego, passa-se

para a insegurança e indeterminação da nova regulação econômica – o sistema contratual

16
Dados obtidos a partir de Zhang, Hu & Pope (2002).
de empregos. Também há mudança no modelo familiar, de uma situação altamente

hierárquica, em que as ordens eram esperadas e obedecidas, para um modo mais livre e

autônomo de auto-gerenciamento. Por conta disso, o aconselhamento, mais particularmente

o de carreira, está ganhando influência e interesse de psicólogos, educadores e

administradores. A esses fatores, soma-se o impacto advindo das tecnologias - novos

estilos de vida requerem uma necessidade crítica de orientação para que os jovens possam

compreender e se colocar num mundo muito distinto daquele ao qual se acostumaram.

Atualmente, a reforma escolar proporciona a oportunidade necessária para que se

desenvolva um sistema de orientação e aconselhamento mais amplo. Historicamente,

podemos dividir a orientação chinesa em 7 estágios distintos:

Primeiro Estágio (1917-1949): O Início da Orientação.

Nas primeiras décadas do século XX, buscava-se na China uma educação mais

pragmática, que preparasse os estudantes para a vida e os transformasse de consumidores

em produtores. Combina-se educação com vocação e adota-se o modelo de educação

vocacional estadunidense.

Durante esse período, é fundada a Associação de Educação Vocacional Chinesa em

1917. Seu manifesto prevê uma educação que resolveria diretamente os problemas de

provimento do meio de vida. A orientação vocacional ajudaria as pessoas a encontrar

trabalhos adequados enquanto a educação vocacional os treinaria para serem competentes

em seus trabalhos.

De 1917 a 1948 são criadas 5 escolas vocacionais, 12 centros de educação

vocacional e 12 centros de orientação e aconselhamento vocacional.


Segundo Estágio (1950-1965): Reorientação da Educação Vocacional e da

Orientação Vocacional.

Após a fundação da República Popular da China, o sistema educacional passa a ser

uma emulação do soviético. A escola secundária é substituída pela educação politécnica e a

orientação vocacional por uma educação de cunho político e ideológico. Nos anos 50, as

escolas recebem os professores orientadores provenientes da União Soviética.

Terceiro Estágio (1966-1976): Abandono da Orientação Vocacional.

Durante a Revolução Cultural, todos aqueles que deixaram a escola vão para o

campo, mais especificamente, para trabalhar com a agricultura, sem a possibilidade de

escolha. A orientação é considerada desnecessária, pois, segundo o governo de Mao,

apenas através do trabalho pesado em áreas rurais pobres, os jovens poderiam mudar as

ideologias da velha escola e construir sua visão de mundo. Durante esse período, ocorre o

fechamento da Associação de Educação Vocacional Chinesa.

Quarto Estágio (1977-1986): Período de Transição no Aconselhamento e

Orientação de Carreira.

Com o fim da revolução cultural, restauram-se os exames de admissão nas escolas e

universidades. O trabalho rural obrigatório cessa e a demanda por orientação nas cidades

aumenta exponencialmente graças ao aumento de liberdade de escolha. Não é uma

liberdade total, pois, depois de efetuada uma escolha, a mesma deveria ser mantida o resto
da vida, visto que mudanças não seriam permitidas. Assim, pode-se dizer que não há

orientação de carreira na China no período compreendido entre 1949 e 1986.

Quinto Estágio (1987-1989): O Período Experimental de Orientação e

Aconselhamento de Carreira.

Em 1985, a AEVC lança uma coluna em seu periódico a respeito do

aconselhamento e orientação de carreira. Publica-se uma série de artigos ocidentais e, em

1987, workshops e seminários são organizados por professores de universidades. Durante

esse período, há o retorno de intelectuais exilados pela Revolução Cultural.

A primeira conferência nacional sobre carreira dá-se em 1987, patrocinada pelo

estado. As escolas participantes propõem projetos para introdução da orientação de carreira

nas escolas secundárias. A proposta é ajudar os estudantes a aprender sobre o mundo do

trabalho, conhecer a si mesmos, desenvolver a auto-expressão e as metas para a carreira.

As atividades incluem grupos de interesse, competições, conversas sobre carreiras, dias de

carreira, salas temáticas de uma carreira, testes psicológicos e aconselhamento de carreira.

As práticas internacionais passam a ser estudadas e utilizadas na China.

Sexto Estágio (1990-1996): O Período Expansionista da Orientação e

Aconselhamento de Carreira.

Além da expansão prévia – estágio anterior, a orientação e aconselhamento de

carreira são adotados no sistema educacional chinês como um campo profissional.

Durante esse período, ocorre a segunda conferencia nacional sobre o tema.


Em 1992, uma série de programas práticos de orientação para escolas secundárias é

publicada sob forma de livro-texto, adotado como material de referência. A partir de 1993,

as escolas solicitam um curso de orientação profissional em seus currículos devido à

elevada demanda de seus alunos. Forma-se um grupo de pesquisa no Colégio de Educação

da Província Guangdong.

Quatro especialistas estadunidenses vêm à China a convite, visitam o país e

promovem palestras patrocinadas pelo estado. Passam cerca de 2 semanas falando sobre

diferentes teorias e práticas em orientação e aconselhamento de carreiras que estão em

vigor nos Estados Unidos.

Em 29.09.1993 forma-se a Associação de Orientadores de Carreira da China, com a

missão de ajudar o povo a escolher carreiras, auxiliar empregados a obter satisfação em

seus postos de trabalho e a usar totalmente suas habilidades, ajudar empregadores a

contratar empregados qualificados, promover condições para que todos possam ser

contribuintes da sociedade chinesa. Também consta de sua agenda aumentar a pesquisa na

área, promover práticas, treinar profissionais, aumentar o intercâmbio internacional e

promover a colaboração dentro da área.

Sétimo Estágio (1997 - presente): A Colaboração Internacional com Profissionais

da Orientação e Aconselhamento de Carreiras.

É neste estágio que se valoriza o intercâmbio internacional de idéias. Na sexta

conferência internacional da área, há participantes de sete países e de todas as regiões da

China. Os apresentadores introduzem as últimas evoluções no desenvolvimento do

aconselhamento de carreira em seus países e compartilham preocupações com as mudanças

necessárias para o futuro.


Paralelamente, a Tecnologia da Informação passa a ser amplamente usada em

orientação, com informação de carreiras baseadas na world wide web. Em 1998, são

aprovadas as pesquisas com suporte financeiro governamental para essa área.

Acerca dos desafios a serem enfrentados pelos profissionais e pesquisadores da

área, são destacados por Zhang, Hu & Pope (2002):

- o ajustamento de instrumentos e propostas às diferenças culturais existentes entre

os sistemas de valore estadunidense/europeu e chinês;

- a necessidade de se desenvolverem técnicas efetivas e teorias apropriadas à

sociedade chinesa;

- o reforço da necessidade do desenvolvimento do conceito de igualdade entre

gêneros, livre de preconceitos culturalmente estabelecidos.

2.2.3 - Cingapura17

Nos anos 70, dificilmente há práticas de orientação nas escolas e a Psicologia

Vocacional é virtualmente inexistente. O catalisador de uma iniciativa que mudasse esta

situação fora a percepção de que Singapura teria de confiar em recursos humanos se

quisesse sustentar suas pretensões de manter-se competitiva, pois não dispõe de recursos

naturais para tal. Com a crescente preocupação pelo desconhecimento dos dados a respeito

da própria força de trabalho, o Conselho Nacional de Produtividade monta uma “força

tarefa” com o objetivo de voltar sua atenção à orientação de carreira (career guidance) nas

escolas, a fim de desenvolver uma proposta visando a futura força de trabalho, tanto no que

diz respeito a empregos como ao possível aumento de produtividade.

17
Dados obtidos a partir de Tan (1998) e Tan (2002).
O primeiro projeto é o de identificar os problemas e necessidades da área da

orientação de carreiras. A pesquisa aponta que cerca de 95% dos estudantes não recebem

forma alguma de orientação de carreira, com mais de 60% clamando uma necessidade

urgente de recebê- la (Khor, 1987 apud Tan, 1998, p.324).

Essa pesquisa demonstra ao público a importância da orientação, confirma as

preocupações dos educadores sobre a necessidade da orientação nas escolas e gera

interesse pela área de pesquisa em Psicologia Vocacional, preparando as condições para

que pesquisas sobre o desenvolvimento da carreira do adolescente e o ajustamento da

carreira de adultos possam ocorrer.

Um segundo estudo, investiga em três iniciativas distintas a validade de algumas

das teorias mais importantes da Psicologia Vocacional dentro do cenário científico

internacional. Como resultado, tanto a proposta de Super (1963) como Holland e

Gottfredson têm seus pressupostos teóricos verificados e tido como válidos para a

população local.

Outra pesquisa aponta que, quando o sujeito é solicitado a hierarquizar a utilidade

de diferentes fontes de ajuda na exploração de carreiras, o material impresso surge em

primeiro lugar, com os professores em último. Considerando-se o estágio em que a

orientação profissional encontrava-se nos anos 80, esse não fora considerado um dado

surpreendente.

No geral, considera-se a pesquisa e o desenvolvimento da Psicologia Vocacional

ainda em um estágio muito primário em Singapura. De qualquer forma, apesar de ser uma

área cujo início dá-se nos anos 80, progressos consideráveis foram atingidos. A pesquisa

nacional sobre necessidades, é uma ação pioneira e incita pesquisas em duas faculdades.

Também há considerável esforço na última década no treinamento de pessoal e na


instrumentação e desenvolvimento de material nativo. Contudo, os esforços ainda se focam

na população estudantil e são conduzidos dentro dos círculos educacionais.

Faltam informações sobre o comportamento vocacional da força de trabalho e sobre

procedimentos de recrutamento. Em Singapura, ainda coloca-se grande importância nas

entrevistas. Onde testes e medições são necessários, basicamente utiliza-se material

estrangeiro.

A respeito da realidade da orientação dentro do contexto escolar, de 1965 a 1986,

tem-se o primeiro estágio da orientação, com esta basicamente restringindo-se ao

fornecimento de informações vocacionais. Seu desenvolvimento restringe-se a acompanhar

a evolução do próprio sistema escolar. A partir da década de 60, o contexto local está

direcionado à construção de uma bagagem cultural para sua população. A escola encontra-

se voltada para questões vitais. Nesta situação, o treino vocacional é muito mais enfatizado

que o aconselhamento de carreiras. Em escolas, a atuação é basicamente marcada por

informações que visam familiarizar o sujeito com o mundo do trabalho.

Embora haja uma Unidade de Orientação de Carreira (Career Guidance Unit) do

Ministério da Educação, esse pessoal está basicamente preocupado em fornecer livretos de

informação ocupacional como material de referência para as escolas. As escolas

secundárias são chamadas a apontar professores, cuja responsabilidade será visitar a

Unidade e buscar os livretos, que serão dispostos em prateleiras nas escolas como recurso

para os alunos.

A respeito dessa prática, surge o questionamento de três pontos básicos sobre a

forma de utilização desse material pelos jovens:

- há motivação para uso do material?;

- sabe-se que informação procurar?;

- sabe-se como utilizar a informação uma vez que esta fosse encontrada?
O fato é que, sem o incentivo dos professores, não há busca por informações. A

Unidade é desfeita em 1979 por não proporcionar um aconselhamento considerado

adequado e, segundo o Ministério da Educação, por conta do Ministério do trabalho já dar

a devida atenção no que diz respeito ao fornecimento de informação ocupacional

suficiente.

Outros estudos nos anos 80 também confirmam a insuficiência do método utilizado.

O conjunto de dados levantado aponta a falta de e a necessidade de orientação de carreira

nas escolas. Daí a não surpresa com o dado de que os jovens apontam o material impresso

como o grande contribuinte no processo de orientação.

O segundo estágio (1987-1995), é a abordagem via currículo (curriculum

approach). Em 1986, o Ministro da Educação, recém chegado de excursões aos EUA e à

Inglaterra, efetua um discurso em que fica evidenciado que o sistema escolar, nas palavras

do ministro, dá conta da formação dos alunos no aspecto acadêmico, mas que fica em falta

com aspectos como aconselhamento dos estudantes e orientação de carreiras, conteúdos

menos acadêmicos do currículo.

A publicação desse estudo marca a necessidade de criar-se um serviço de

orientação de carreira. Logo após, um ramo do Ministério da Educação dedica seus

esforços ao planejamento e a implementação de programas de orientação nas escolas. De

1988 a 1993, as iniciativas são disseminadas nas escolas secundárias como um programa

de educação pessoal e social completo. Oficialmente, a orientação de carreira chega a todas

as escolas.

Este estágio coincide com a era da "educação voltada para a eficiência"

implementada pelo Ministério da Educação. Com uma economia estável e crescimento

significativo, o modelo educacional passa de uma perspectiva de sobrevivência para uma

de eficiência. Busca-se o necessário para atingir a excelência e os melhores caminhos para


se chegar a tais objetivos. Agrupam-se sujeitos com habilidades semelhantes para evitar

desperdícios com treinamento e educação e dá-se ênfase à coesão social.

Embora instalados em meados dos anos 90, os serviços são mais direcionados à

educação para carreiras do que à orientação de carreiras, com bases sociais, políticas e

culturais para tal direcionamento. Em Singapura, há uma valorização dos feitos acadêmicos

como em muitos locais da Ásia. Politicamente, isso deve-se à obrigatoriedade dos homens

servirem o serviço militar por dois anos e meio ao completar 18 anos, o que complica o

processo de transição para o ensino terciário. Culturalmente, porque o professor é visto

como transmissor de conhecimentos - o fornecimento de permanecem em último lugar na

lista de fontes relevantes sobre o trabalho com carreiras.

Para suportar a iniciativa, o governo distribui material de referência para todas as

escolas. Esse programa não foca apenas o desenvolvimento acadêmico, mas também o

pessoal, social, moral e da carreira. Em Singapura, há um misto de profissionais

especializados ou externos à escola que trabalham de forma paralela a uma proposta

dispersa pelo currículo dos alunos (operacionalizada via professores).

O Affective Career Educations é um desenvolvimento do programa anterior

proposto pela Pastoral Care and Career Guidance. O ACE propõe-se a desenvolver

"indivíduos bem equilibrados que são capazes de encarar os desafios, gerenciar mudanças,

trabalhar produtivamente, viver com compaixão e contribuir para a sociedade". Esse

programa cobre cinco áreas do desenvolvimento de competências e habilidades para a vida

(life skill competencies):

- eficiência pessoal;

- eficiência interpessoal;

- aprendizagem efetiva;

- transição para o trabalho;


- construção de uma comunidade comprometida.

As escolas são encorajadas a separar pelo menos 35 minutos ou um período do

currículo por semana para desenvolvimento de life skills através de atividades de

orientação de grupos. Sessões que visam ajudar o estudante a desenvolver a

autoconsciência e a engajar-se em exploração de carreiras, geralmente, são conduzidas por

professores. Em algumas escolas, há professores especializados desenvolvendo orientação

através de sessões em grupo com temas pré-planejados, atividades de assessoria à carreira

e aconselhamento individual, todas fora do currículo normal.

O terceiro estágio, que permanece de 1996 até o presente é chamado de estágio da

integração. A partir do meio dos anos 90, a orientação passa a ser dividida entre os

professores responsáveis pela orientação de carreira, professores de classe, conselheiros,

pais e membros da comunidade (como os empregadores em potencial). O orientador passa

a ser visto não como expert com todas as respostas, mas como facilitador de um processo

coordenando de várias atividades correlatas. São elas:

- pesquisas ocupacionais e assessoria das necessidades advindas da orientação;

- sessões grupais visando o desenvolvimento de habilidades para solução de

problemas e tomada de decisões;

- orientação individual e em grupo sobre assuntos determinados (construção de

currículos, postura em entrevistas, etc.);

- semana da carreira e seminários sobre o tema;

- visitas a indústrias;

- experiências de trabalho durante as férias.

Finalmente, há o advento do uso da tecnologia, com grande ênfase na orientação

individual para desenvolvimento e planejamento pré-emprego e uma constante atenção às

diferenças individuais para providenciar a intervenção necessária.


Sobre os desafios atuais e para o futuro, destacam-se:

- preparação dos professores especializados (programa de 8 módulos no Instituto

Nacional de Educação, desenvolvido durante o horário de serviço. Criou-se o Diploma

Avançado em Orientação e Aconselhamento, com 7 módulos e atividades práticas. Há pós-

graduação em nível de mestrado para treino de psicólogos educacionais);

- diminuição da distância entre a escola e o mundo do trabalho;

- desenvolvimento de material local, em particular software para computadores;

- promoção de novos conceitos sobre a orientação.

Trabalhar o esclarecimento dos novos significados associados ao termo “carreira”,

tanto para empregados como para empregadores e manter sempre em foco a necessidade de

uma constante revisão dos conceitos utilizados, numa tentativa de manter-se em sintonia

com o cenário sócio-econômico são os pontos principais da orientação de hoje e para o

futuro. O século XXI pede a capacidade para lidar-se com constantes mudanças; a

orientação de carreira tem papel fundamental na preparação dos sujeitos para tal tarefa.

2.2.4 - Estados Unidos18

Conforme proposto por Pope (2000), e mencionado anteriormente, o nascimento e

desenvolvimento do aconselhamento de carreira, não apenas nos Estados Unidos, mas em

diferentes países, está intimamente ligado a um período de grandes mudanças no contexto

social destes países. No quadro estadunidense, durante seu processo de evolução das

primeiras formas de orientação, no final do século XIX, para os modelos atuais, opta-se

inclusive por uma mudança nos termos que designam a área, substituindo-se o termo

“orientação vocacional” (vocational guidance) por “orientação/aconselhamento de

18
Dados obtidos a partir de Pope (2000).
carreira” (career guidance / career counseling). Esse longo processo pode ser dividido em

seis estágios.

Primeiro Estágio (1890-1919): Serviços de Alocação de Trabalhadores.

O aconselhamento nos Estados Unidos é desenvolvido na última parte do século

XIX, durante o período de transição para o século XX. A época em questão é marcada pela

perda de postos de trabalho no setor agrícola, com forte aumento da demanda por

trabalhadores na indústria pesada, perda dos empregos permanentes em fazendas familiares

pelo advento de novas tecnologias, como os tratores e máquinas afins, e crescente

urbanização do país. Para agravar a situação, ainda conta-se com o retorno de veteranos da

primeira guerra, o que vem a aumentar a demanda por aconselhamento de carreira.

O foco da atuação neste estágio é a alocação profissional (colocação de pessoas em

vagas de trabalho disponíveis). Marca-se o modelo proposto por Parsons, baseado na

simples lógica e no bom-senso, sem maiores fundamentações teóricas, que se vale da

observação e coleta de dados sobre habilidades de cada sujeito e pareamento destas com as

solicitações dos diferentes postos de trabalho.

Nesse estágio, é relevante citar a crescente participação dos testes psicológicos, que

acabam por tornar-se parte importante e necessária da abordagem proposta, revestindo a

mesma com um caráter de ciência e, de certa forma, aumentando a confiabilidade da

mesma junto ao público em geral.

Em 1913 ocorre a fundação da Associação Nacional de Orientação Vocacional

(National Vocational Guidance Association).


Segundo Estágio (1920-1939): Orientação Educacional nas Escolas.

Com a depressão econômica e as mudanças políticas, é trazido para a sociedade o

aconselhamento educacional como uma das soluções necessárias para se reverter a situação

de crise e assim, solidifica-se com ela o papel da orientação profissional nas escolas. O

aconselhamento educacional emerge como fruto do trabalho de reformistas sociais junto às

escolas.

Em 1921, a NVGA publica a primeira versão de "Princípios e Práticas da

Orientação Vocacional".

Terceiro Estágio (1940-1959): Faculdades e Universidades Treinando Orientadores.

Esse estágio é caracterizado pelo foco dos recursos sociais em faculdades e

universidades e no treinamento de orientadores profissionais em sua prática, como resposta

e resultado de uma nova transição social engendrada pelo fim da Segunda Guerra e pelo

lançamento de foguetes soviéticos na órbita terrestre e lunar.

Os dois fatores são relevantes porque, primeiramente, a falta de trabalho para os

veteranos é tida como um importante problema social. Em segundo lugar, o programa

espacial soviético vem a ser um duro golpe na crença generalizada da população

estadunidense de que os Estados Unidos estariam muito à frente de todos os outros países

em termos tecnológicos. Esse golpe gera uma corrida interna em ciências e matemática,

fato que traz um novo perfil de estudantes para o ensino superior.


Quarto Estágio (1960-1979): Trabalho Significativo e Desenvolvimento de Carreira

Organizacional.

O idealismo generalizado, a eleição de J. F. Kennedy, direitos civis, guerra do

Vietnã e o sucesso econômico acabam por criar uma geração com novas visões sobre as

relações sociais, pessoais e culturais.

Os jovens querem trabalhos significativos e que permitam mudar o mundo para

melhor. Em termos de legislação, um dos primeiros atos de Kennedy é apontar consultores

em educação vocacional para avaliar a situação corrente. Esses trazem um relatório citando

a necessidade dos orientadores escolares de "terem compreensão excepcional do mundo do

trabalho e suas complexidades. O que obviamente é necessário é um orientador que (...) ao

mesmo tempo seja um especialista em informação ocupacional, orientação vocacional e

aconselhamento" (US Department of Health, Education and Welfare, 1963, p.213). Suas

recomendações transformam-se no ato de Educação Vocacional de 1963. Este ato propõe:

- atrair novas fontes de trabalho para áreas que estejam em crise;

- desenvolvimento e treinamento de recursos humanos para valorização do sujeito;

- escritório de alocação de trabalhadores;

- reabilitação vocacional para aqueles que tivessem uma disparidade na sua vida

vocacional graças a fatores educacionais, culturais, sociais ou ambientais;

- criação de carreiras subprofissionais (sem requerimento de nível superior);

Por conta das legislações, o modelo organizacional de orientação ganha destaque. O

crescimento do aconselhamento em agências do governo e agências sem fins lucrativos,

nos negócios e nas indústrias é a marca deste estágio.


Quinto Estágio (1980-1989): Prática Independente do Aconselhamento e da

Recolocação.

Com o declínio econômico dos anos 70, começa o quinto estágio de transição para

o campo da orientação, acompanhando a mudança que se operava na forma de organização

social. De uma sociedade industrial opera-se a passagem para uma sociedade

informacional.

Há perda de postos de trabalho industrial, aumento da demanda por habilidades

tecnológicas, perda de contratos de trabalho permanentes, perda da seguridade no trabalho,

marginalização do trabalho organizado e reorganização da economia.

Nesse estágio, emerge a prática particular de aconselhamento, resultado da

aceitação nacional do aconselhamento como serviço relevante à população na transição

ocupacional. A NVGA promove a padronização das práticas para os orientadores

(materiais, procedimentos, treinamentos e agências) e o credenciamento de profissionais.

Concorrentemente à prática privada de aconselhamento, surge uma nova

modalidade, chamada recolocação (outplacement). Esse é o termo usado para a prática que

visa intervir sobre o fenômeno decorrente da diminuição do quadro de funcionários que

uma companhia promove no sentido de obter ganhos econômicos (downsizing). Essa nova

proposta promove as seguintes estratégias:

- treino de habilidade tecnológica;

- treino de habilidades pré-emprego;

- assistência para que os sujeitos possam entrar e avançar no mundo da alta

tecnologia;

- transição da escola para o mundo do trabalho (school- to-work-transition);

- extensão dos programas de educação vocacional até 1989;


- reforço dos programas de intervenção para populações menos privilegiadas.

Sexto Estágio (1990-presente): Foco na Transição Escola-Trabalho,

Internacionalização do Aconselhamento e Aumento da Sofisticação e Uso de Tecnologia.

No final dos anos 80 e início dos anos 90, o aconselhamento está em expansão em

várias direções: de outplacement para executivos seniores de grandes empresas a serviços

para pobres e desabrigados. Da prestação de serviços em escolas ao desenvolvimento de

novas especialidades na própria área de orientação e aconselhamento.

A proposta é que os profissionais possam ajudar no processo de inclusão no

trabalho da forma que for possível, o que varia muito de acordo com cada situação. Cria-se

uma política de alocação rápida, o trabalho em primeiro lugar (work first action), ao qual

se segue uma renovação do interesse e suporte ao desenvolvimento das carreiras através de

políticas federais. Há um interesse em carreiras para toda vida (life span). Desenvolvem-se

especialidades dentro do próprio aconselhamento propostas pelos orientadores particulares,

incluindo populações multi-culturais, gays, de profissionais específicos, recolocação

internacional etc., uma prova do amadurecimento da própria profissão como um todo.

Finalmente, o aumento da sofisticação tecnológica permite contatar pessoas em

qualquer lugar, permite aos orientadores prover serviços via Internet e telefone como

também abrir mercados em outros paises. Com a dissolução da URSS, a abertura da China

e o crescimento do sudeste asiático, há um grande investimento na expansão de suas

práticas para outros países. Da mesma forma, inicia-se de forma substancial a colaboração

internacional entre orientadores.


2.2.5 - Filipinas19

Como ocorre em muitos aspectos da vida filipina, o desenvolvimento da Psicologia

e orientação carrega vários traços da influência estadunidense. Da mesma forma que nos

EUA, o desenvolvimento da orientação está entrelaçado com o crescimento da Psicologia

nas escolas. Pode-se dividir a evolução da orientação filipina em 5 estágios:

Primeiro Período (1913-1934): Informação Ocupacional.

A primeira referência em orientação nas Filipinas remonta ao relatório de 1913 do

Bureau de Escolas Públicas, que reforça a necessidade de coletarem-se dados sobre as

oportunidades de emprego nas diferentes indústrias.

De 1926 a 1930, professores disponibilizam a seus alunos materiais de orientação

ocupacional e educacional. Em 1933, o Rotary Club de Manila financia parte da publicação

de material de referência para utilização em trabalhos de orientação. Próximo ao final deste

período, a Universidade das Filipinas estabelece uma clínica psicológica, a primeira do

país. Sua prática foca-se em informação ocupacional, dentro de um contexto em que há

várias possibilidades de emprego geradas por um período em que o país vive como colônia

dos EUA.

19
Dados obtidos a partir de Salazar-Clemeña (2002).
Segundo Período (1935-1945): Serviço de Orientação e Aconselhamento nas

Escolas.

Neste período, há o crescimento dos serviços nas escolas secundárias públicas e

privadas. Um crescimento que, infelizmente, não é acompanhado de um treino apropriado

dos orientadores apontados pelo sistema. Apenas em 1945, um ano antes da independência,

o primeiro Instituto de Orientação é conduzido por psicólogos do exército dos Estados

Unidos. Durante o período de 1941 a 1945, o país fica sujeito à ocupação japonesa, de

forma que tais serviços são suspensos.

Terceiro Período (1946-1969): Treinamento de Orientadores e Organizações

Profissionais.

No pós-guerra, a ênfase é o treinamento dos orientadores e o nascimento das

associações profissionais organizadas. São conduzidos seminários para os professores

apontados para as tarefas de orientação sem a devida preparação. Começa o envio de

profissionais para os Estados Unidos a fim de fazerem cursos e observarem o sistema de

orientação escolar estadunidense.

Cria-se a formação em nível de graduação nos anos 50 e, após, também uma

formação de níve l intermediário.

Em 1951, o comitê de educação afirma ser a orientação e o aconselhamento,

programas que deveriam auxiliar os estudantes em suas escolhas de carreira, no

enfrentamento de suas dificuldades, nas tarefas da escola e em casa, na alocação de

empregos e ajustamento inicial ao trabalho. Em 1965, funda-se a Associação de

Orientadores das Filipinas, elevando os padrões da orientação e dos profissionais


envolvidos. Os orientadores são desafiados a "preparar estudantes nas carreiras que dariam

a eles satisfação, segurança financeira e emprego depois de completar seus estudos"

(Bernardino apud Salazar-Clemena, 2002, p.248).

Quarto Período (1970-1986): Intensificação dos Esforços em Orientação de

Carreira.

Este período é marcado pelo aumento da atenção à orientação de carreira em geral e

à informação para carreiras e uso de testes, em particular.

O governo estimula o crescimento da orientação no país através dos seguintes

passos iniciais:

- introdução de 1 hora de orientação semanal, com ênfase no desenvolvimento de

carreira em todas as escolas fundamentais e secundárias;

- instituição do Exame de Admissão do Colégio Nacional como base para admissão

estudantil nos programas de grau profissionalizante nas escolas;

- desenvolvimento e manutenção de orientação vocacional e sistema de testes que

ajudem a alocação de recursos humanos;

- delineamento do treino de habilidades e orientação vocacional para a juventude

que estava fora das escolas.

O setor privado também responde ao chamado. Em parcerias, participam do

lançamento de material audiovisual e monográfico e do desenvolvimento de uma bateria de

testes de avaliação de várias aptidões.

São usados métodos e conceitos locais na construção dos testes. Muito do material

utilizado é derivado de teses e dissertações locais, aprimoram-se normas, traduzem-se

textos e fazem-se adaptações.


Alguns testes são normatizados segundo padrões internacionais enquanto os testes

de personalidade mantêm uma operacionalização de construto e de teorias que estão de

acordo com o contexto cultural local.

O movimento conta com o aumento de treino especializado para orientadores. O

treino formal em cursos de graduação tem início baseando-se no modelo dos Estados

Unidos.

Em 1977 estabelece-se a Associação de Orientação Vocacional das Filipinas,

visando profissionalizar as práticas de orientação e de aconselhamento no país. Iniciam-se

os contatos internacionais e, em 1982, estabelece-se um Centro para Treinamento de

Orientadores em Aconselhamento de Carreiras. Tudo sob a ditadura Marcos. O fim do

período ditatorial deixa como legado, uma moeda supervalorizada, o que acarreta

problemas econômicos, e gera pouco crescimento e queda do emprego.

Quinto Período (1987 - presente): Expansão dos Serviços de Orientação de

Carreira.

A restauração da democracia resgata as esperanças de desenvolvimento econômico.

Contudo, há graves problemas de pobreza, desemprego, subemprego e rápido crescimento

populacional.

A reestruturação via globalização e era da informação gera muitas demissões por

conta da reengenharia solicitada. Muitos se aposentaram precocemente frente ao novo

cenário que começa a desenhar-se.

Nessas condições, expande-se a orientação de carreira fora do contexto escolar. A

orientação passa a ser mais uma parte do desenvolvimento organizacional e de recursos

humanos, com crescente número de empresas proporcionando seus próprios programas. Há


uma ênfase nos testes e na colocação profissional. Os centros governamentais de treino de

habilidades também providenciam atendimentos através da disseminação de informação,

assessoria ao cliente, aconselhamento, colocação profissional / assistência ao auto-

emprego. As escolas continuam com a orientação (aconselhamento, informação e

testagem), basicamente através de fontes on- line.

2.2.6 - Hong Kong20

Colônia britânica até 1997, passa para o domínio Chinês após esta data. Tem um

lento desenvolvimento de seus programas sociais e dos serviços de educação após o

levante de 1967. Os conflitos são influenciados pela Revolução Cultural chinesa e o

governo colonial sente a necessidade de manter a coesão social e a estabilidade a fim de

garantir o desenvolvimento de Hong Kong. A partir desse momento, mais esforços são

realizados no sentido de se melhorar os serviços sociais e de educação. Dentre estes, o

aconselha mento e a orientação de carreira.

O sistema educacional, com nível primário, secundário e universitário, é modelado

de forma semelhante ao sistema escolar britânico, necessitando-se de uma série de provas

públicas e escolares para que se garanta uma vaga na universidade. São 9 anos de ensino

obrigatório (6 anos de ensino primário mais 3 anos de ensino secundário) e 2 de ensino

secundário optativo (com 80% de continuidade dos alunos do ensino obrigatório). Apenas

20% seguem no pré- universitário, dos quais apenas a metade realmente ingressa no curso

regular. Aos não aceitos, há pocuas alternativas: podem tentar novamente os exames ou

partir para programas baseados em orientação vocacional.

O ensino superior é de 3 anos, da mesma forma que no modelo britânico.

20
Dados obtidos a partir de Leung (2002).
Com o advento em massa de chineses fugindo do regime comunista em 1949,

criam-se problemas graves de educação e falta de empregos. Em 1958, é aprovado o

estabelecimento da posição de professor orientador de carreira (career guidance teacher), a

quem era dada a responsabilidade adicional de coordenar os esforços para ajudar os

estudantes a encontrar trabalho ou educação posterior. Esses serviços vivenciam um

processo de expansão durante os anos 70 e 80. Hoje, a maioria das escolas secundárias

conta com um time de 3 ou 4 professores orientadores, liderados por um sênior, que leva o

título de career master/mistress. O departamento de educação de Hong Kong providencia

serviços de suporte e de treinamento para esses profissionais.

As atividades nas escolas são fragmentadas e superficiais. De acordo com pesquisas

(Leung, 1999), a maioria das escolas apóia-se em programas de larga escala, como

palestras de convidados (representando carreiras específicas) e visitas a universidades

locais ou escritórios específicos, o que advém do fato do currículo escolar não permitir que

se integrem muitas atividades ao programa de carreiras pela falta de horários para tal.

Intervenções individualizadas, como atendimentos a pequenos grupos e

aconselhamento individual são raros. Os programas são (Leung, 1999) basicamente

focados em disseminação de informações e muito pouca auto-exploração.

O treinamento dos professores é limitado, tanto em termos de teoria quanto prática,

tanto para a orientação quanto para o aconselhamento.

Os serviços oferecidos aos estudantes de faculdades começam a desenvolver-se na

década de 1970, incluindo serviços de orientação e aconselhamento. Os serviços de

orientação de carreira não são prioridade, basicamente pelo período em questão manter

uma alta demanda de universitários devido à aceleração econômica. Os serviços são

coordenados por unidades chamadas “serviços de apontamentos” (appointment-services),

que deveriam ajudar os estudantes a obter empregos pela disseminação de informações


sobre abertura de vagas e agendamento de entrevistas com os potenciais empregadores. O

aconselhamento, em especial o atendimento individualizado, é oferecido por unidades

separadas.

Na década de 1990, o governo aumenta de 2 para 8 o número de universidades

subsidiadas, prevendo a crise que adviria da migração de profissionais para fora do país

devido à reintegração com a China em 1997. O aumento de universitários junto com a

diminuição da economia altera profundamente o cenário dos serviços de carreira nas

universidades. Não há mais empregos à espera. Os serviços de carreira passam a ter uma

ligação muito mais importante com os alunos.

Tais serviços, dentro desse contexto, abraçam uma perspectiva desenvolvimentista.

Discutem-se as características do novo paradigma, em que a alocação de pessoas aos

empregos (job placement) e o centro de informação para carreiras (career information

center) passam a ser centros de educação para carreiras e de treino de habilidades para a

vida (career education e lifeskills training), com a proposta de se equipar os alunos para o

intervalo de uma vida e não apenas para um período dela. Os programas de carreira passam

a ser encarados como uma necessidade, como se fossem um aspecto compulsório e não

mais algo opcional. Os serviços passam a ter o papel de agentes de mudança através de seu

trabalho com estudantes e pessoal das faculdades.

Duas grandes questões enfrentadas são: o problema da diversidade cultural dos

clientes e a questão da perspectiva desenvolvimentista demandar profissionais altamente

treinados e capacitados. Considera-se que muitos profissionais talvez não tenham estrutura

para adequar-se a essas demandas.

O Departamento de Trabalho de Hong Kong (Hong Kong Labour Department) é o

órgão central encarregado das questões ligadas ao emprego e ao trabalho. Durante as

décadas de 1970 e 80, devido ao contexto sócio-cultural desse período, sua atuação é mais
voltada ao amparo àqueles que buscam empregos, por meio de informação ocupacional e

assistência no sentido de adquirir um emprego. Não há muito no sentido de um

aconselhamento formal.

Com as mudanças ocorridas durante a década de 90, a demanda pelos serviços

aumenta muito. Inicialmente, com operários sem colocação devido ao declínio das

indústrias de manufatura, aos quais, é oferecido um re-treina mento por intermédio das

agências de serviço social, expandindo seus repertórios de habilidades vocacionais para

possibilitar a busca de novos empregos. A depressão econômica vem a aumentar o

desemprego, o que traz a criação de programas de treinamento pré-emprego, sobretudo

para os sujeitos que não buscam educação superior, focando no desenvolvimento de

habilidades para a carreira, para a busca de trabalho e para a vida (career skills, life skills e

job search skills).

Fora tais serviços, não há muita variedade quanto às intervenções na carreira.

Muitos sujeitos buscam aconselhamento em agências não-governamentais e em serviços

particulares de orientação. Com as mudanças acentuando-se dentro do atual cenário de

constantes transformações, espera-se que a demanda por tais serviços aumente ainda mais.

Não há qualquer oferta de especialização em níveis universitários ou de pós-

graduação em aconselhamento de carreiras (career counseling).

As teorias estadunidenses e ocidentais têm grande influência no país e, por conta

disso, faz-se necessário um grande trabalho de adequação e adaptação das mesmas à

cultura local a fim de torná-las realmente aplicáveis e úteis. Os pontos principais que

requerem adaptações são:

- a liberdade de escolha e o compromisso: há liberdade de escolha em Hong Kong

hoje, porém, o sujeito demonstra um grande compromisso, uma perspectiva de

relacionamento de longo prazo com tais escolhas que não existe na cultura ocidental;
- coletivismo x individualismo: a cultura oriental é mais voltada para a postura

coletivista e de grupo, enquanto o ocidente privilegia e valoriza o individualismo;

- School-to-Work Transition: há uma grande influência do movimento nos estudos

estadunidenses da última década, e um processo de parceria governo-setor da educação

para valorizar o papel da educação na carreira futura. Em Hong Kong, o trabalho e a

educação têm andado por caminhos diferentes devido ao sistema educacional em vigor,

que enfatiza provas finais. Não há um movimento que busque preencher o vazio entre

escola e trabalho. Cria-se uma necessidade de preencher tal falha na orientação, fato que os

profissionais não estão necessariamente conseguindo suprir;

- o uso de testes: há vários problemas relacionados a esse assunto: idioma, preço,

validade dos resultados para a população local e diferença da estrutura ocupacional local da

estadunidense. Há uma grande necessidade de desenvolver os próprios instrumentos.

De acordo com Spokane (1997), as principais intervenções que podem ser

promovidas por atividades de orientação poderiam ser resumidas nos seguintes tópicos:

- informação;

- atividade auto direcionada;

- workshops ou aulas;

- aconselhamento em grupo;

- aconselhamento individual.

No caso de Hong Kong, verifica-se um foco no provimento de informações e de

atividades auto dirigidas, sobretudo por conta da limitação na formação dos profissionais.

Há dados de psicoterapia em casos específicos devido ao grau de mudanças que esses

casos necessitam.

Atualmente, nota-se um investimento na pesquisa intercultural, uma atenção

particular ao desenvolvimento de ferramentas de assessoria e iniciativas de envio de


profissionais para treinamento com colegas estadunidenses como forma de suprirem-se

algumas das deficiências atuais dos serviços prestados no país.

2.2.7 - Japão21

O número de jovens que postergam a decisão sobre sua carreira


está aumentando no Japão, da mesma forma que as altas taxas de
desemprego. Nas companhias por outro lado, o sistema tradicional de
senioridade e emprego para toda vida, os quais outrora providenciavam
segurança no emprego para os empregados corporativos, entraram em
colapso. (Tatsuno, 2002, p.211)

Nota-se o fenômeno de um crescente desemprego voluntário no Japão. Algumas

das razões podem ser atribuídas ao atual sistema de colocação profissional das escolas,

bem como aos sistemas de orientação de carreira das empresas. Cerca de 30% dos

graduados entrevistados afirmam ter escolhido determinado trabalho porque "o orientador

recomendou" (Tatsuno, 2002, p.211).

Nas escolas, a orientação é desenvolvida por professores que se encarregam dos

problemas acadêmicos, vocacionais e escolares de seus alunos através do gerenciamento

do cotidiano em classe. No Japão, não há orientadores bem treinados e qualificados nas

escolas (ao contrário dos EUA).

Graças ao conhecimento limitado, tais professores apenas apontam o que os

estudantes deveriam fazer, e os estudantes os ouvem.

Embora conte com uma estrutura de serviços limitada, o Japão apresenta números

preocupantes, pois aumenta a cada ano o número de pessoas que se demitem de seus

empregos antes de completar 3 anos no serviço. Os escritórios de colocação profissional

estão lutando contra esse fenômeno, embora sem resultados práticos.

21
Dados obtidos a partir de Tatsuno (2002).
Nas universidades, a orientação começa no terceiro ano. Numa aula, os

encarregados da alocação de vagas fornecem aos jovens uma visão geral do mundo do

trabalho, da situação do emprego e como planejar suas atividades de job-hunting. No ano

seguinte, outra sessão de atividades é desenvolvida. No final dela, os estudantes entregam

cartões de registro para alocação de vagas e fazem testes de aptidão e auto-reconhecimento.

De janeiro a abril, comparecem a seminários sobre indústria e negócios, aprendem a

escrever um bom currículo e simulam entrevistas de emprego.

Não há uma definição clara de educação para carreira. A separação entre

vocacional e acadêmico é um grande empecilho para que o aconselhamento de carreiras

desenvolva-se dentro do sistema universitário.

Os testes objetivos são comumente aplicados nos centros de emprego. São

padronizados para o Japão com dados coletados junto a populações japonesas. Há testes de

aptidão e medição de valor/interesse no trabalho. Devido à utilização de instrumentos

semelhantes pelas companhias, o uso de tais ferramentas em orientação acaba visto como

uma forma de adiantar os resultados do processo (aptidão). No caso de interesse/valor do

trabalho, reúnem-se informações que ajudam o estudante a escolher profissões adequadas a

ele.

Hoje há no Japão um crescente número de escritórios de colocação. Há um grande

vazio entre as noções de círculo acadêmico e de círculo de negócios, em grande parte

porque

No Japão (...) a posição de 'job placement officer' nada mais é do


que uma posição transitória que eles [profissionais] experimentam no
serviço à organização. Eles são transferidos para outra posição de 2 a 5
anos depois. Poucos JPO's experimentam o aconselhamento por mais de
10 anos. (Tatsuno, 2002, p.213)

A orientação, por meio da alocação, coloca os estudantes numa vaga de trabalho

com base em sua ficha acadêmica em vez de considerar seu interesse ocupacional. Tal
sistema leva o jovem a uma escolha com base em melhores salários, prestígio ou mesmo

conveniência (transporte), fatores que contribuem para o aumento da desistência voluntária

dos jovens.

Atualmente, tem-se em andamento uma mudança do sistema tradicional de

organização para um novo sistema gerencial, que visa a inclusão de todos no processo de

tomada de decisões estratégicas. Propõe-se uma avaliação dos funcionários por um sistema

de mérito e desenvolvimento de recursos humanos e educação do staff que pretende

quebrar com a relação tradicional de submissão do empregado devido à necessidade de

superarem-se os limites abaixo mencionados que se encontram presentes na estrutura

tradicional:

- ir de encontro às novas necessidades, diversificadas e dependentes das condições

de cada empresa;

- Empregar pessoas diferenciadas;

- Responder à mobilidade do mercado de trabalho devido às mudanças estruturais

da indústria.

Com essas mudanças, "os empregados começam a valorizar o conteúdo do trabalho

e as companhias colocam uma ênfase nas competências dos empregados" (Tatsuno, 2002,

p.215).

As mudanças nas empresas afetam o sistema de orientação das escolas e acelera o

processo de mudanças na orientação de carreira, mudando seu foco de "qual companhia

escolher" para "como os estudantes desenvolverão suas próprias carreiras".

No Japão, o governo optou por atuar na criação de empregos e na facilitação da

mudança de área de trabalho do seu bloco industrial em vez de investir em políticas de

desenvolvimento da orientação de carreira.


Devido a pouca formação e certificação, os orientadores japoneses não estão

maduros o suficiente para responderem às demandas de mobilidade do mercado de hoje.

Tão vaga quanto sua definição de aconselhamento de carreira, são as exigências dos

requisitos para ser orientador.

Não há cursos ou programas de formação, embora haja iniciativas isoladas em

algumas faculdades. Isso é estranho porque esse é o profissional que promove atividades

de orientação: orientação de cursos, teste vocacional e aconselhamento de carreira a

adultos e jovens.

Em resumo, apesar da influência estadunidense, a diferença cultural impede a

aplicação de determinadas teorias e técnicas sem a devida adequação ao contexto japonês.

O aconselhamento de carreiras fica restrito ao espaço acadêmico/escolar.

"Conforme a sociedade amadurece, a função da orientação de carreira irá mudar. É

importante identificar o que a sociedade espera da orientação. As teorias e técnicas devem

ser aplicadas com base nesta expectativa” (Tatsuno, 2002, p.217).

2.2.8 - Malásia22

Ao contrário da Psicologia e da Psiquiatria, a orientação tem suas raízes no sistema

escolar, e não no sistema de saúde mental e, atualmente, encontra-se ligada também aos

negócios e à indústria. A fim de entender-se o contexto sócio-econômico de uma nação e a

forma pela qual a orientação construiu sua contribuição nesse contexto, é necessário

conhecer seu passado e os processos que o levaram a desenvolver-se no presente.

A Malásia encontra-se, geograficamente, num ponto estratégico para as antigas

rotas comerciais via mar entre Europa e Ásia. Por conta disso, vem a passar por várias

22
Dados obtidos a partir de Pope et al.(2002).
ocupações tendo os ingleses nela se estabelecido por último. A partir do controle

estabelecido por esses, os estados, outrora independentes, são reunidos sob o governo

britânico. A Segunda Guerra é o início do fim das relações coloniais entre os dois países,

culminando na independência da Malásia em 1957. O legado inglês inclui instituições

educaciona is modeladas ao estilo britânico, excelente infra-estrutura de transportes e uma

monarquia constitucional com eleições a cada quatro anos, sendo escolhido um entre nove

sultões.

O país é marcado por grande diversidade cultural, religiosa e étnica. A língua atual

é um resgate do malaio padrão, permanecendo um misto da língua local com o inglês

apenas no nível superior de ensino. Esse resgate dá-se com o advento do governo

fundamentalista islâmico que tem as idéias ocidentais declaradas como sendo más e vale-se

da linguagem como um instrumento de manutenção e fortalecimento da identidade étnica

dos malaios. O único revés dessa postura é o crescente afastamento do meio internacional,

cuja língua padrão é o inglês.

O aconselhamento de carreira surge nas escolas. Os sistemas primário e secundário

têm influência britânica, enquanto o ensino superior apresenta uma nota estadunidense. São

seis anos de ensino fundamental seguidos de seis anos de ensino secundário, com seu sexto

ano considerado uma preparação para aque les interessados em dar seqüência ao nível

superior. Os melhores estudantes ganham todo suporte e incentivo (com base em notas

padronizadas). Os outros acabam servindo-se de universidade particulares.

A educação superior é percebida pelo povo como um dos pilares da construção da

nação, pois há uma forte tradição de valorizar-se o ensino superior, não só na Malásia,

como também nas diversas culturas orientais. Atualmente, há grandes projetos de

desenvolvimento e de expansão das universidades locais a fim de se diminuir o volume de

alunos que estudam no estrangeiro, sobretudo, por conta de fatores econômicos.


A terapia familiar ou o aconselhamento de carreira, a terapia cognitiva, a ciência do

gerenciamento e outras práticas comuns no ocidente, podem existir no país apenas após

receberem as devidas adequações culturais.

Embora a orientação na Malásia tenha uma história de forte influência

estadunidense – como já fora mencionado –, esta vem a ser redesenhada a fim de levar em

conta os aspectos da cultura malaia. Pope (1999) identifica diferenças entre as culturas

individualistas (US) e coletivistas (Malásia) e aponta uma série de aspectos a serem

trabalhados que podem ser mais proveitosos para culturas coletivistas. Uma das propostas é

estender o trabalho de orie ntação à família e não o manter circunscrito à esfera do sujeito

devido a grande ênfase dada à instituição família. Outro fator importante é remeter-se de

forma adequada aos valores religiosos e filosóficos por conta do grande peso que carregam

na cultura local.

O aconselhamento nas escolas é diferente daquele praticado nos EUA, embora

tenha raízes semelhantes. O aconselhamento é providenciado por alguns professores junto

às suas salas. Esses professores desenvolvem estudos adicionais na faculdade para além do

bacharelado da disciplina que ministram normalmente. Esses professores desenvolvem

ambas as funções nas escolas: orientador e professor. Esses professores-orientadores

auxiliam os estudantes na exploração e escolha de carreiras, encarregando-se de um papel

que outrora era desenvolvido apenas pela família. Atualmente, existe o grau específico em

aconselhamento, oferecido por pelo menos uma universidade. (A repetição é proposital?)

A história da orientação malaia pode ser dividida em 3 estágios bem distintos. São

eles:
Primeiro Estágio (1957-1969): Início da Orientação Vocacional.

Após um longo período de investimento na agricultura e na mineração, com a

partida dos ingleses em 1957, o país começa a espelhar as mudanças que se desenham no

cenário internacional. As indústrias crescem e a orientação vocacional desenvolve-se junto

com a política econômica pós-colonial.

Assim, o aconselhamento de carreiras surge na transição de uma era

agrícola/mineradora para um período baseado na produção industrial. O período se encerra

com os grandes conflitos entre Malaios e Chineses em 1969, sobre quem deveria controlar

o país. Contudo, a transição citada, em que os malaios finalmente passam a ter controle

sobre seus sistemas educacional, econômico e político, permanece como característica

principal do período.

Nesse estágio, o modelo de orientação através de professores das escolas elementar

e secundária chega ao seu pico, com os malaios apegando-se ao sistema britânico de

testagem educacional e de orientação de carreira. É o que sabem fazer melhor no momento.

Segundo Estágio (1970-1994): Reorientação da Orientação Vocacional.

Completadas as transições da migração do estado colonial para país livre, inicia-se

um processo de resgate da identidade nacional e implantação e desenvolvimento da

economia de base industrial.

Um novo projeto de orientação vocacional para operar dentro do sistema escolar

está em desenvolvimento, com suas influências mudando de britânicas para

estadunidenses. Nas escolas, os professores orientadores tornam-se conselheiros escolares.


Terceiro Estágio (1994 - presente): Emergência da Orientação de Carreira nas

Empresas, Indústria e Prática Privada.

Com o advento dos avanços tecnológicos que atingiram o mundo, de uma primeira

transição ainda não completamente elaborada, a Malásia é arremessada, contra sua

vontade, num segundo processo de transição que culmina na fusão entre orientação de

carreira e o meio das empresas e indústrias.

Buscam-se referências no mundo todo visando a formação de literatura de base

para sua mão-de-obra, desenvolvimento de programas de assistência ao emprego e

programas de desenvolvimento de carreiras para os trabalhadores. Mesmo assim, a Malásia

se vê em uma nova recessão em 1998, o que acaba por derrubar o ânimo do grande número

de formandos, tanto internos quanto àqueles que retornam do exterior. O cenário é de

mudanças negativas que pressagiam um novo momento de grande crescimento para a área

da orientação de carreira, pois essa é chamada para auxiliar esses estudantes a atingir seus

sonhos.

Em resumo, as grandes mudanças sociais, marcando um período de transição

ininterrupta de quase 30 anos leva ao desenvolvimento e ao uso de sistemas formais e

informais de orientação de carreiras, respondendo a queixas como aumento dos problemas

nos postos de trabalho e insatisfação no trabalho. Por conta disso, o setor está frente a uma

crescente popularidade entre clientes tanto nas escolas como nas empresas.
2.2.9 - Portugal23

Na opinião dos autores, a teoria e a prática em orient ação não devem ser vistas

apenas como empreendimentos científicos, mas sim, como uma prática arraigada em uma

rede cultural que deve ser entendida dentro do contexto de evolução histórica de uma

sociedade, numa abordagem muito próxima à proposta por Pope (2000), o que

necessariamente envolve uma perspectiva política.

Nesse caso, a perspectiva utilizada é o conceito de educação e treinamento durante

a vida toda (lifelong education and training). Na sua opinião (opinião de quem?), o

objetivo primário da orientação de carreira deveria ser capacitar os sujeitos a serem

cidadãos capazes de decidir a respeito de seu futuro. A orientação deveria encorajar a

cidadania ou responsabilidade social, valores que deveriam ser passados pela educação,

família e pelos orientadores em conjunto. Dada a possível cisão entre valores da família e

da sociedade, os orientadores poderiam ter esforços adicionais no sentido de diminuir essa

distância. Assim, a recomendação é no sentido de uma orientação que reconheça a

importância da política.

A educação para toda vida (lifelong education) é uma extensão da noção de

aprendizagem durante toda vida (lifelong learning), adotada pelo conselho de ministros da

União Européia em 1995. É um conceito que se refere ao processo pelo qual a contínua

aquisição de conhecimento e habilidades irá aumentar o desenvolvimento pessoal dos

indivíduos e da sociedade. O objetivo é propiciar, por meio de aprendizado contínuo,

educação e treinamento, as condições para máximo desenvolvimento; a aprendizagem, a

educação e o treinamento são vistos como ferramentas para a política de desenvolvimento.

Mais do que conceitos, são vias concretas de realização de aspirações pessoais.

23
Dados obtidos a partir de Santos & Ferreira (1998).
Dessa forma, as práticas em orientação não são concebidas apenas para os

ambientes escolares. Pelo contrário, na ótica apresentada, deve-se procurar

necessariamente expandir os espaços de atuação.

A fim de se entender tal perspectiva, é necessário compreender o contexto sócio

econômico de Portugal. O país está num processo de migração de uma situação em que

havia uma estrutura basicamente rural (agricultura e economia de produtos feitos à mão)

para uma estrutura economicamente diversificada. Nesse contexto, a família é a maior

instituição educacional em parceria com as pequenas comunidades e com a escola.

Embora as sociedades agrícolas estejam desaparecendo, esse cenário ainda é

representativo em Portugal. Contudo, sua estabilidade sócio-econômica está ameaçada pelo

surgimento de novos perfis vocacionais, contrários a esse contexto. A colisão entre valores

e estilos de vida dos jovens com o chamado estilo ‘clássico’ apresenta-se como verdadeiro

desafio à orientação.

No momento, o quadro encontra-se mais complexo por conta das mudanças nos

quadros político, social e cultural, o que pede um novo desenho dos serviços de

aconselhamento vocacional. A revolução de 1974 foi o marco das mudanças no país, ao

passarem do modelo fascista para um modelo livre, onde a complexidade das decisões teve

aumento significativo. A isso, seguiu-se o desenvolvimento de um sistema ocupacional

cada vez mais complexo.

Com o advento da economia industrial e urbana, outras mudanças tomam lugar.

Diminuição da população rural, extinção de profissões e ocupações, surgimento de chefes

onde outrora havia apenas a família são alguns dos fatores a contribuir para a

complexidade do sistema antes mencionado. A noção de carreira passa a designar sucesso

como valor ligado a um trabalho impessoal e não a um meio tradicional.


Num segundo movimento, o ciclo de mudanças do rural para o urbano está sendo

substituído pelo ciclo de mudanças do meio industrial, resultando em mais alterações para

novas formas de organização social, política e cultural: downsizing, menos profissões

vitalícias (lifetime professions), aumento do trabalho temporário, aumento do trabalho em

equipe, aumento da distância para o emprego e do trabalho orientado por metas. Estão em

extinção os modelos hierárquicos de estrutura organizacional. No lugar daqueles, emergem

sistemas que permitem mudanças e reengenharia, menos previsibilidade no conjunto e

mais flexibilidade organizacional.

Isso exige pessoas capazes de gerenciar suas carreiras com adaptabilidade e

habilidade para negociar mudanças, juntamente com uma capacidade para transferir

competências de uma configuração para a outra. Esse é o cenário que coloca os atuais

desafios para o aconselhamento, para a educação e para o treinamento.

Santos & Ferreira (1998) colocam perguntas como “Será que damos conta da atual

e complexa realidade?” e “Nosso sistema tem condições de encarar tais mudanças?” No

caso de Portugal, os problemas específicos a serem encarados são o desemprego crônico, a

escolha do primeiro trabalho e o desenvolvimento de pequenos negócios particulares,

pontos relevantes para a orientação.

Essas questões, tomadas em conjunto, representam claramente as linhas de pesquisa

para o futuro. Com elas, vem o questionamento sobre o que a orientação pode oferecer a

essas pessoas, principalmente nesse mar de mudanças.

Parece necessário preocupar-se com a socialização ocupacional, com o

aconselhamento ajudando as pessoas a desenvolver sua identidade (com destaque para a

identidade profissional) e, assim, construir um significado em suas vidas num mundo do

trabalho onde o ajustamento lógico é menos prevalecente e impera uma lógica que não é a

do sujeito.
A Orientação Vocacional no ensino médio (e posterior) precisa focar-se em

habilidades como a flexibilidade e a ética geral do trabalho aplicada ao conceito de

lifetime. Assim, propõe-se um movimento de readaptação da orientação ao novo contexto

sócio-cultural no qual a noção de lifelong education and training representa o paradigma.

Apenas com essa perspectiva, aliada a uma visão desenvolvimentista em orientação

profissional, pode-se encarar a situação atual do país.

Para providenciar intervenções na cultura pós- industrial atual, é necessário entender

a relação de cada sujeito com a natureza do trabalho, considerando cada um em seu

contexto de diversidade. Deve-se interpretar e focar o significado do trabalho na vida de

cada um, aprender sobre o mundo do trabalho, sobre o ego que procura afirmar o si -

mesmo dentro de um processo de desenvolvimento social e cultural e ajudar as pessoas a

construir seus significados pessoais de trabalho. Uma atuação que, em muitos casos, soa

muito semelhante à terapia.

Em educação, são necessárias novas estratégias. É necessário preparar os jovens

nas competências básicas demandadas pelo processo de produção e pelo setor de serviços,

demandas estas crescentemente desafiadoras. Tem-se que acompanhar adultos em sua

jornada ao longo da vida (lifelong journey).

a cultura do país providencia os meios para indivíduos definirem


suas interações e tarefas com as experiências relacionadas ao trabalho.
(...) precisamos de uma política de vocações direcionada à prática de
orientação de carreiras focada nos objetivos do “personal
empowerment”. (Santos & Ferreira, 1998, p.320)

2.2.10 - Taiwan24

Indivíduos não podem ser separados de sua sociedade e do


contexto cultural no qual nasceram. O eu-mesmo é definido num
relacionamento de atividades e papéis em interação, que formam cada

24
Dados obtidos a partir de Chang (2002).
contexto social. Isto é especialmente verdadeiro nas culturas chinesas.
(Chang, 2002, p.218)

Taiwan experimenta uma situação em que se verificam grandes e rápidas mudanças

sociais nos últimos 40 anos. Até o momento, não há uma associação oficial de orientadores

nem uma publicação oficial sobre o tema. De qualquer forma, a orientação é uma prática

importante em Taiwan.

Hoje, em Taiwan, o desenvolvimento industrial é a chave da construção econômica

e, o comércio, a via principal das atividades econômicas. Em comparação com a

prosperidade dos últimos anos da década de 90, a forma de gerenciamento de negócios

sofre mudanças. Hoje, Taiwan encara uma diminuição nas vagas de trabalho, alto custo da

mão-de-obra e de infra-estrutura e demandas para se proteger o meio ambiente. Aguarda-se

para um futuro próximo uma sociedade muito mais orientada pelo modelo informacional,

com o crescimento da indústria de serviços, com mais ênfase em questões humanitárias e

culturais e mais demanda por mudanças na educação. Os taiwaneses sempre trabalharam

para fugir da fome. Agora, trabalham para sustentar dietas mais caras.

A respeito do desenvolvimento da orientação, podemos separá- lo em três períodos

distintos:

Primeiro Estágio: O Início do Desenvolvimento da Orientação em Taiwan (1960-

1980).

No final dos anos 50, a iniciativa privada cria escritórios onde as pessoas poderiam

achar vagas de trabalho. Como o tratamento não é igualitário, o governo cria o primeiro

centro vocacional em Taipei em 1956, para regular as agências de emprego. A proposta era

ajudar as pessoas a encontrarem trabalho e ajudar os empregadores a encontrar pessoal


qualificado. Este primeiro centro desenvolve-se para 7 centros vocacionais e 38 estações de

serviço (work stations) para organizar a rede de serviços existente em Taiwan.

Em 1982, a Administração do Treinamento Vocacional e para o Emprego é criada

sob o auspício do Ministério do Interior. A Comissão Nacional da Juventude é criada em

1966 para oferecer serviços vocacionais focando sua atuação (ajuda com currículos,

orientação vocacional e facilitação da relação entre as partes) nas faculdades e

universidades Dessa forma, o governo tradicionalmente conduz o mercado de trabalho na

direção do crescimento econômico e de uma sociedade estável. Contudo, com um turnover

de cerca de 40%, essa abordagem em orientação não é considerada totalmente satisfatória.

Segundo Estágio: Novo Conceito de Desenvolvimento de Carreira (1980-1990).

O conceito ocidentalizado de encarar a vida enfatizando a mudança, o planejamento

e as diferenças individuais encaixam-se com as modernas oportunidades de rápido

crescimento econômico e mudança social em Taiwan. Os primeiros estudiosos a definir

carreira são educados nos Estados Unidos. Após seu retorno, tornam-se professores de

faculdade ou empregados do governo.

Há semelhanças consideráveis nas definições de carreira entre diferentes culturas

nos dias de hoje. Nas escolas, a orientação vocacional torna-se orientação de carreira e

enfatiza a ciência de si mesmo (self-awareness), conhecimento do mundo do trabalho,

estabelecimento de sistemas de auto- informação, gerenciamento efetivo do tempo,

melhoria das habilidades sociais, desenvolvimento de planos de carreira e implementação

de planos de carreira. Os educadores utilizam tais métodos através de atividades que

exploram diferentes carreiras, incluindo testes de aptidão e interesse e explorando

caminhos alternativos e providenciando workshops, orientação em grupo e individual.


Terceiro Estágio; Programas Contemporâneos de Carreira em Organização (1990-

presente)

De acordo com as demandas do país, a maior parte das pesquisas em

aconselhamento enfatiza o contexto escolar. O foco e as estratégias, desta forma, visam à

universidade e a escola e o objetivo principal, a escolha vocacional, demanda de mão-de-

obra ou ajustamento ao trabalho.

Essa agenda não tem sido efetiva na orientação dos estudantes. A avaliação da

relação do campo de estudo com uma comunidade em que há rápidas transformações

levanta críticas Mais solicitação de ajuda em problemas de ajustamento ao trabalho,

qualidade de vida, problemas de meio de carreira, atividades de lazer, entre outros, indicam

que os orientadores precisam envolver-se com outros campos fora da escola.

O empregador corporativo enfatiza o gerenciamento de carreira e funda centros de

carreira visando o recurso humano. Surgem vários programas internos em diferentes

companhias. Entre eles, há novo treinamento e orientação para empregados, orientação

individual, testagem psicológica e outros serviços similares. Não há avaliação sobre seus

resultados ainda.

As multinacionais têm seus programas desenvolvidos nas matrizes. Embora este

procedimento traga um forte desvio ocidentalizado aos programas destas companhias, o

conceito trabalhado é o de desenvolvimento de gerenciamento efetivo e o foco de seus

trabalhos permanece nos seguintes tópicos:

- satisfação e sensação de sucesso;

- mudança para um plano de multi-carreira;

- lifelong learning;
- providencia de auxílio à mulher e família;

- ênfase no gerenciamento do lazer.

Ao trazer teorias elaboradas de fora do contexto de uma cultura, tem-se de ter o

cuidado de levar este fator relevante em conta. O foco individualista e auto-centrado das

abordagens ocidentais tornam tais teorias possíveis geradoras de conflitos entre os sujeitos

taiwaneses e seus valores tradicionais. Essa possível crise de valores é um dos pontos

considerados passíveis de intervenção no trabalho de aconselhamento. A abordagem de

Super (1963), as propostas de Holland (1981) e Krumboltz (1979) são todas consideradas

passíveis de gerar conflitos com os valores orientais.

Os testes, muitos de origem estadunidense, são meramente traduzidos várias vezes,

sem uma validação adequada, normas locais ou ambos. Ser sujeito de testes é algo

tradicional à cultura local, onde os sujeitos passam por séries de testes durante toda sua

vida. Dessa forma, os taiwaneses aguardam pelos resultados com grande expectativa; o

profissional deve ter instrumentos adequados à mão para proporcionar um teste adequado

sem comprometer a satisfação do cliente com o processo.

Os testes eletrônicos estão sob avaliação por receio de superexposição, por algumas

questões de segurança e falta de condições adequadas para testagem. Espera-se que no

século XXI, os testes passem do papel e caneta para o computador.

O atual momento de crise generalizada traz complicadas mudanças sociais e uma

situação financeira imprevisível e descontrolada. Há fatores imprevisíveis que trazem

muita indecisão ao processo de construção de planos de carreira. Os orientadores têm de

lidar com essas questões e encarar o desafio de auxiliar o sujeito a planejar para a

mudança. "Quanto mais balanceada for nossa abordagem de mundo do trabalho ao longo

de culturas e sociedades, tanto melhor será para a profissão de aconselhamento e para

várias sociedades, seja no ocidente ou nos países asiáticos" (Chang, 2002, p.223). Esse é
apenas o ponto de partida para que os orientadores "pensem sobre o que é realmente

necessário para o povo da ilha de Taiwan" (idem).

2.3 - Brasil: passado e presente

Sobre o desenvolvimento da situação sócio-econômica brasileira, recordemos os

trabalhos de Lopes (1964) e Rodrigues (1966) onde temos uma bela ilustração dos

complexos processos colocados em movimento pela ocasião da construção da primeira

geração operária do país. Esta se dá a partir dos migrantes da zona rural em conjunto com

habitantes da região urbana provenientes de outras áreas que não apenas o setor primário.

Ambos os autores apontam, com riqueza de exemplos, a dificuldade dos sujeitos em

simplesmente incorporar-se ao sistema industrial (de forma muito semelhante, Touraine e

Mottez (1973) fazem outra bela descrição de uma experiência muito semelhante sobre o

relacionamento do sujeito com o meio industrial em diversas partes da França). Em todos

os casos, é apontado o fenômeno de que grande número de trabalhadores permanece junto

às empresas apenas enquanto mantém a esperança de juntar capital suficiente para fundar o

próprio negócio ou para poder partir em busca de outros objetivos, sem interesse ou

projetos no sentido de permanecer e desenvolver uma carreira de operário industrial.

Embora a situação seja mais complexa e abranja mais variáveis, o mais importante nesse

caso e notar-se que este fenômeno é um dado exclusivamente brasileiro.

No caso daqueles que conseguem juntar pequenas quantias através de demissões

forçadas ou pela força do trabalho, é recorrente o relato de fracassos e do retorno ao meio

industrial como forma de recomeçar o processo; um processo que não o de incorporar-se à

indústria, mas sim de buscar uma condição que possibilite um suposto lastro financeiro e

profissional através do qual se torna possível partir para outros projetos pessoais.
É apenas a partir da segunda geração de trabalhadores, já perto do final dos anos

60, os “filhos” daquela primeira geração de operários, que se forma algum sentimento de

identidade entre a classe trabalhadora e o meio industrial. Essa mudança pode ser

verificada ao se comparar os relatos apresentados por Lopes (1964) com as descrições

trazidas por Maroni (1982) acerca das greves de maio de 1978. Em todos os relatos

abrangidos, o que se nota é uma cumplicidade entre os atores da classe operária, mesmo

que seus esforços se resumam, em todos os casos, a questionamentos e solicitações de

ordem financeira. Ou seja, o maior laço de união da classe ainda é o aspecto econômico.

Mas, mesmo que de forma incipiente, cria-se a base das carreiras operárias industriais.

O período da ditadura militar e os desequilíbrios herdados da década de 70

acabaram por agravar as questões sociais brasileiras e apontaram as amplas limitações

sócio-econômicas às quais o país se sujeita pela utilização do modelo de substituição das

importações. Mesmo ciente de sua fragilidade, o país pratica a abertura das importações

logo no início dos anos 90, promovendo uma completa desestruturação do mercado

nacional como um todo e impondo um processo de reestruturação que permanece de

alguma forma indefinido ainda nos dias de hoje. Mordenizam-se as multinacionais, gera-se

o processo de falência de grande número de indústrias pequenas e médias que não podem

sustentar o custo financeiro da adequação às demandas do novo cenário econômico e

assisti-se o grande núme ro de privatizações como forma de corte de gastos e geração de

capital por parte do governo tanto em nível federal como estadual.

Um contexto que, a priori, não sugere nenhuma diferença daquele experimentado

por outras sociedades ao redor do mundo. Contudo, o fundamental em toda essa construção

é o resgate do que é citado já pelos primeiros autores da área: tanto Lopes (1964) como

Martins (1966), e mesmo Touraine e Mottez (1973), frisam constantemente que não há

uma linearidade obrigatória nos caminhos impostos pelo capital, portanto, também não
podemos esperar que a vivência das transformações seja semelhante nos diferentes

contextos nacionais ou que tais transformações desencadeiem processos semelhantes em

resposta a elas; como se trata de uma situação determinada por cada contexto nacional (ou

regional) de acordo com a forma pela qual o mesmo situa-se dentro do cenário global, isso

acaba gerando características específicas para os processos desenvolvidos em diferentes

lugares e também uma demanda de estudos e modelos de intervenção específicos para cada

um deles. Como mencionam Leung (2002) e Chang (2002), não é suficiente, nem

adequado, efetuar apenas uma mera transposição de resultados de autores estrangeiros

como forma de compreensão de dadas situações ou como instrumento de previsão de

caminhos a serem percorridos. É necessário criar-se todo um conjunto de dados próprio ao

contexto para, a partir dele, inferirem-se hipóteses e traçarem-se planos de pesquisa

adequados.

Assim, resgatando-se a proposta de Pope (2000) e analisando a situação da

orientação profissional no Brasil, valer-nos-emos inicialmente do diagnóstico realizado por

Pimenta & Kawashita (1986), cujos dados obtidos mostram a situação da orientação em 34

instituições em dez estados brasileiros.

Observa-se que os objetivos dos programas são imprecisos, difusos e pouco

operacionalizados; no geral, eles representam uma situação idealizada. A clientela é

diversificada em relação a diversas variáveis: às condições socioeconômicas, ao nível de

escolaridade e de interesses, evidenciando-se a necessidade de programas com atuação e

proposta diversificadas e flexíveis. Quanto ao conteúdo dos programas, as autoras

destacam a concepção fragmentada da relação homem e trabalho. Em geral, ao lidar com as

questões da opção, os determinantes sócio-econômicos e políticos são abordados de forma

genérica e distorcida.
O corpo técnico destes programas é comporto por profissionais de diversas

formações, como pedagogos com habilitação em orientação educacional, pedagogos,

professores, instrutores, monitores, psicólogos, assistentes sociais, sociólogos,

administradores de empresa, economistas e estagiários.

A diversidade aparente não se reverte numa atuação mais abrangente, como seria

desejável. São adotados modelos tradicionais de intervenção advindos da concepção dita

“psicologizante” (Pimenta, 1984; Bock, 1995), que valoriza as características subjetivas e

tenta, com base nestas características, alocar o sujeito num posto de trabalho suposto ideal

para o mesmo.

Com o intuito de promover o campo como um todo, as autoras julgam ser

fundamentais alterações de natureza política e organizacional, nos diversos âmbitos da

sociedade. Também fazem recomendações de natureza teórica e técnica, tais como

estimular as experiências iniciadas, implementar grupos de estudos, promover a avaliação

de programas e a ampliação da intervenção, no sentido de atingir o maior número possível

de pessoas.

Partindo deste levantamento inicial e buscando compreender melhor como as

práticas em Orientação Profissional são realizadas no Brasil, Melo-Silva (2000) seleciona

12 serviços de orientação com base em artigos de referência na literatura especializada 25 , a

partir da qual observa que, entre os serviços analisados, oito deles atuam conforme um

referencial teórico psicanalítico, dois a partir do referencial sócio-histórico, um no

referencial psicopedagógico e outro no psicodramático. As teorias psicológicas, portanto,

ainda são o principal sustentáculo da prática da orientação profissional no Brasil, como

mostra o estudo de Pimenta e Kawashita (1986). O referencial teórico de Bohoslavsky,

autor que desfruta de grande prestígio no campo da orientação profissional no Brasil,


25
Zaslavsky (1979), Carvalho (1995), Bock et al. (1995), Levenfus, (1997), Zimerman et al. (1997), os Anais
da ABOP (1997) e a Revista da ABOP: edição especial (1999).
Argentina e demais países do cone sul (apontado em sete serviços), evidencia a influência

da Psicanálise Argentina, reforçada por Müller e Pichon-Rivière.

As teorias desenvolvimentistas, através do referencial de Pelletier e Super, exercem

muita influência embora não apareçam como referencial exclusivo em nenhum dos

serviços, servindo como referencial de apoio teórico, enquanto Bohoslavsky surge como

referência principal na estruturação da prática. De acordo com Melo-Silva (2000), a

abordagem psicopedagógica de Zaslavsky et al. (1979) constitui-se em base de apoio para

algumas práticas.

Mesmo com essa variação no referencial teórico, os eixos temáticos predominantes

são muito próximos, restringindo-se ao auto-conhecimento ou percepção de si mesmo, a

escolha, a informação sobre as profissões ou a percepção da realidade e do mundo do

trabalho.

A fim de analisar-se como as práticas estão estruturadas hoje, Melo-Silva (2000)

convida os 300 participantes de um simpósio em orientação profissional a participar de

uma pesquisa, na forma de questionário, dos quais 84 fazem parte da amostra do estudo. 78

sujeitos são do sexo feminino e 6 do sexo masculino; 66 são psicólogos e 18, pedagogos.

Este estudo alcança pessoas de 9 estados, sendo necessárias mais pesquisas a fim de se

reunir dados suficientes que permitam generalizar conclusões sobre a realidade do país

como um todo.

Os dados evidenciam que a atuação do psicólogo na área da orientação profissional

tem aumentado progressivamente nas últimas três décadas, enquanto a atuação dos

pedagogos apresenta oscilações. Entre os pedagogos 39% são orientadores educacionais e

11% são psicopedagogos. Os demais possuem formação ou especialização em outras áreas

do conhecimento, na maioria das vezes sem o reconhecimento do MEC. Entre os

psicólogos, 21% não têm qualquer tipo de curso de formação ou especialização, portanto,
atuam com o conhecimento adquirido na graduação; 12% possuem formação ou

especialização específica nesta área do conhecimento, através de cursos oferecidos por

instituições privadas. Os demais profissionais registram uma ampla gama de

especializações, como em: recursos humanos e administração (9%), psicopedagogia

(7,5%), psicologia clínica e da educação (4,5% em cada), psicodrama, organizacional,

terapia familiar sistêmica, educação-clínica (3% em cada).

Estes dados mostram a disparidade na qualificação dos orientadores, evidenciando a

necessidade de organização dos profissionais e da definição de competências necessárias

para a atuação, além da falta de cursos regulamentados de pós- graduação em orientação

profissional.

O referencial teórico que fundamenta as práticas é diverso e variado. A maioria dos

respondentes utiliza mais de um referencial. Os pedagogos citam, em primeiro lugar, os

referenciais social e psicodramático, seguindo-se o referencial psicodinâmico. A

abordagem psicodinâmica, majoritariamente, subsidia as intervenções dos psicólogos. O

referencial psiocodramático ocupa a segunda posição, enquanto as abordagens social e

desenvolvimentista ocupam o terceiro lugar. São citadas ainda, em menor proporção, as

seguintes abordagens: traço e fator, comportamental, gestalt e filosófica, além de autores

específicos.

Acerca das estratégias usadas, temos:

Os respondentes utilizam-se de estratégias de intervenção em


grupo e individual. As atividades grupais têm sido as preferidas pela
maioria dos psicólogos (91%) e por 50% dos pedagogos. São utilizados
recursos como: jogos, atividades plásticas, vivências e dramatizações.
Ambos os grupos realizam entrevistas e testes. Os testes mencionados
pelos pedagogos foram de interesses, visual, de personalidade e o LIP
(Levantamento de Interesses Profissionais). Os psicólogos citaram testes
como Ômega, Teste de Fotos de Profissões (BBT), Warteg, de Aptidão,
de Nível mental, de Personalidade (16 PF: Questionário de 16 fatores de
personalidade), de foto-linguagem, testes projetivos, situacionais e
investigativos; e inventários como: Angelini e LIP. (Melo-Silva, 2000) 26 .

Os pedagogos utilizam-se de relatos de profissionais e informações sobre o

mercado de trabalho. Os psicólogos mencionam materiais impressos, visitas às

universidades, entrevistas com profissionais, debates, pesquisas e palestras.

Os temas mais abordados, segundo os pedagogos são: auto-conhecimento, seguido

de informação profissional e escolha profissional. Os psicólogos apontam o tema

informação profissional em primeiro lugar; em segundo lugar é mencionado o tema

autoconhecimento, seguido de influências familiares e escolha profissional. É importante

observar-se que nenhum dos dois grupos destaca a questão das mudanças no mundo do

trabalho, ressaltando a predominância dos aspectos internos comuns às abordagens

psicodinâmicas, além de certo descaso com os fatores de ordem social.

Os temas abordados nos dois grupos sinalizam também as dificuldades na

delimitação do exercício das atividades dos pedagogos e dos psicólogos no processo de

orientação profissional.

A classe média é atendida predominantemente pelos dois grupos de profissionais.

A clientela atendida pelos pedagogos é, em sua maioria, oriunda de escola pública,

enquanto que, a clientela atendida pelos psicólogos procede tanto da escola pública quanto

da particular.

Apontou-se como principal demanda a necessidade de um processo de formação

para esses profissionais, juntamente com uma carência elevada de eventos que permitam a

atualização e a troca de experiência. Da mesma forma, frisa-se a necessidade de realização

de pesquisas, sobretudo longitudinais, e da divulgação dos resultados e experiências

26
Informação fornecida por Melo -Silva durante congresso em 2000.
desenvolvidas a fim de que o campo da orientação profissional possa vir a ser mais

valorizado por profissionais afins e pelo público em geral.

A elaboração de políticas públicas que viabilizem um maior acesso de populações

específicas a programas e serviços é mais uma necessidade. No âmbito da intervenção

sugere-se, além da atenção aos estudantes do Ensino Médio, a reorientação em empresas e

o atendimento a estudantes universitários e a populações de desempregados, visando uma

perspectiva preventiva de atuação.

2.4 - Síntese

Inicialmente, separa-se toda a informação obtida sobre os países pesquisados em 12

categorias: quanto à existência de forte vínculo com a educação, à existência da figura do

professor-orientador, à qualidade do processo de formação dos orientadores, relevância do

processo de orientação para o ingresso no Ensino Superior, à presença de profissionais de

várias áreas nos serviços de atendimento 27 , à forma de atuação dos serviços, à existência de

apoio governamental, à difusão de consultorias e serviços de atendimento particulares, à

existência de regulação da profissão por um órgão ou organização central, à utilização de

serviços via Internet, ao trabalho com populações específicas e à presença de iniciativas

objetivando a transição escola-trabalho. Não se inclui a categoria sobre utilização de teste,

mesmo havendo várias referências aos mesmos, por conta da falta de clareza sobre o grau

de utilização e o papel que desempenham dentro de cada abordagem.

Considerando-se os dados reunidos e categorizados, temos dois grupos distintos de

dados: um grupo de características comuns a todos, ou pelo menos à maioria 28 dos países

27
Não são considerados profissionais de outra área os professores-orientadores.
28
Foi considerado maioria a incidência de 6 ou mais países dentro de determinada categoria.
estudados, e um segundo grupo, formado por características específicas de um determinado

país ou, em alguns casos, restritas a um pequeno grupo de países.

2.4.1 - Características comuns

O forte vínculo entre as atividades de orientação e educação encontra-se presente

em quase todos os países, com exceção do Brasil e de Taiwan. De forma semelhante, a

figura do professor-orientador é uma realidade na grande maioria destes países, não

havendo menção aos mesmos apenas nos Estados Unidos, em Portugal, no Brasil e em

Taiwan. A ausência de Taiwan nessas categorias pode ser atribuída a certa falta de clareza

nas informações obtidas sobre os pontos mencionados neste parágrafo. Os Estados Unidos

e Portugal apresentam, em suas estruturas, profissionais devidamente especializados em

orientação, o que dispensa a utilização de professores no desempenho da função. A única

exceção é o Brasil. Não só faltam profissionais que desempenhem adequadamente o papel

de orientador como as poucas iniciativas ligadas à educação estão geralmente associadas às

escolas particulares destinadas à parcela mais privilegiada.

Em todos os países pesquisados há um forte vínculo entre a orientação e a transição

dos estudantes do ensino secundário/intermediário para o Ensino Superior, papel

tradicionalmente atribuído ao campo. Da mesma forma, à exceção do Brasil, todos os

países pesquisados desenvolvem linhas de ação muito semelhantes, com diversas frentes de

atuação, diversificando ao máximo os espaços sociais atendidos, trabalhando com

fornecimento de informações, alocação de postos de trabalho, assessorando o

desenvolvimento de carreiras e, em muitos casos, fornecendo o atendimento em nível

individual, de pequenos grupos e trabalhos para grandes grupos. No caso brasileiro, são

prevalecentes as formas de intervenção que visam o trabalho com sujeitos nos chamados
“momentos de crise”29 , tanto em nível de atendimento individual quanto grupal. A

divulgação de informações e as demais formas de atuação nem sempre estão associadas a

serviços ou a profissionais da orientação.

O apoio governamental, seja através de financiamentos, ou com a participação ativa

no desenvolvimento do campo, está presente na grande maioria dos casos analisados. Os

únicos países que carecem de uma parceria com seus governos são Brasil, Japão e Hong

Kong. Importante ressaltar que os países que apontam problemas no processo de formação

e capacitação de seus orientadores são os mesmos, o que nos leva a formular a hipótese de

que há uma possível correlação entre os dois fatores.

Finalmente, dentro do grupo de características comuns, inclui-se a utilização da

Internet e demais tecnologias de informação nos trabalhos de orientação. Neste caso,

contudo, há grande número de países que não têm projetos nesse sentido: Brasil, Hong

Kong, Japão, Malásia e Portugal. Taiwan30 esboça algumas ações, mas ainda de forma

tímida.

2.4.2 - Características específicas

No que diz respeito às características menos presentes no grupo de países analisado,

a presença de consultorias e serviços particulares de orientação é a categoria que se mostra

mais difundida: Estados Unidos, Austrália, Hong Kong, Filipinas e Taiwan têm uma rede

de serviços particulares de orientação e atendimento com atuação junto a diferentes nichos

da população. O Brasil não se encontra incluído nessa categoria por conta de suas

29
Entendidas como situações em que a tomada de uma ação crucial dentro de um projeto profissional ou de
carreira se faz necessária.
30
Taiwan foi contabilizada como um dos países que compartilham esta característica.
consultorias considerarem-se ligadas a outras áreas, mais especificamente à Administração

de Empresas.

A ausência de regulamentação da área e de seus profissionais foi anotada nos casos

da Austrália, do Brasil e do Japão. Embora o Brasil conte com a Associação Brasileira dos

Orientadores Profissionais, a mesma não estabelece diretrizes sobre a prática ou formação

dos profissionais, desempenhando muito mais um papel de divulgação de pesquisas.

Austrália, Brasil, Hong Kong e Japão apresentam dados sobre um processo inadequado ou

insuficiente na formação de seus profissionais em orientação. Mais uma vez, supõe-se que

a ausência de apoio governamental possa estar relacionada a esse fenômeno. Podemos

formular uma hipótese semelhante no que diz respeito à falta de regulação da profissão por

seus pares. Provavelmente por conta desses fatos, tanto a Austrália quanto o Brasil sejam

os únicos países a apresentarem mais de uma categoria de profissionais desenvolvendo

trabalhos de orientação. Nesses casos, não nos referimos a equipes multidisciplinares

atuando em conjunto, mas sim, a profissionais de diferentes formações desenvolvendo

atividades de orientação.

A respeito das atividades com populações específicas, apenas a Austrália e os

Estados Unidos têm programas de orientação com propostas direcionadas a populações

comumente excluídas das iniciativas de intervenção de seus países. Por fim, apenas os

Estados Unidos têm uma proposta clara de atuação junto à questão da transição da escola

para o trabalho, não havendo referências a ações concretas neste sentido nos outros países.
3 - Questionamentos em orientação

Durante o século XX as grandes mudanças nas relações entre suj eito e mundo do

trabalho geram impasses nas mais diversas esferas da sociedade ao quebrar formas e

conceitos estabelecidos – como a noção de carreira, a idéia de projeto em longo prazo, o

conceito de estabilidade e de emprego para todos – por vezes, conceitos que estão na base

não só do processo de inserção das pessoas no mercado de trabalho, mas também em

outras formas de socialização e ocupação de espaços sociais coletivos, transportando o

sujeito para posições cada vez mais frágeis e impotentes frente às exigências do capital.

Parece estar ocorrendo um esfacelamento do modelo da classe


média, para quem o caminho previsto era ter uma boa educação formal
(segundo grau/ensino médio ou faculdade), fazer estágio em uma boa
empresa, ser efetivado, sendo que o desenvolvimento profissional e da
carreira se dava de forma quase automática, fruto de dedicação de tempo
e de serviço, de estagiário a aposentado. (Uvaldo, 2002, p.1)

Por mais que a noção atual de mercado de trabalho seja uma construção da cultura

moderna e contemporânea (Méda, 1998), a inserção do sujeito nele tem sido, não apenas

um dos principais meios de socialização, mas também a via principal de reconhecimento

social.

Sennett (1999) ilustra muito bem a crise gerada por tais mudanças na organização

do mundo do trabalho e suas conseqüências na esfera da subjetividade. Ao comparar de

forma longitudinal a trajetória de sujeitos pertencentes a diferentes épocas, seja no caso de

trabalhadores desqualificados, ou no caso de executivos altamente capacitados, o autor traz

relatos sobre a sensação de perda de identidade vivida pelas pessoas por conta da

instabilidade e da “impessoalidade” em que vivem os diferentes profissionais.

Negri & Hardt (2001, p.348) apontam como “O capital tende a reduzir todas as

formas previamente estabelecidas de status, título e privilégio ao nível do nexo monetário,


isto é, a termos quantitativos e econômicos mensuráveis”, e Malvezzi (1999), toca na

questão da subjetividade, da identidade profissional e tocam na mediação das profissões

pelo meio informatizado, ressaltando os prejuízos que essas relações, conforme estão

estruturadas hoje, impõem ao sujeito:

[...] nessa forma de carreira os sinais de progresso são ambíguos e


equívocos, por isso, os indivíduos dependem de constantes avaliações
advindas dos resultados, da rede social e profissional nas quais se
inserem e do balizamento de sua própria identidade profissional que é o
capital através do qual os indivíduos negociam sua inserção em novos
projetos ou cargos. (Malvezzi, 1999, p.67)

Esta mudança de uma realidade relativamente estável para um estado em que as

instituições econômicas e as regras de mercado mudam rapidamente, sobretudo em um

contexto em que tais regras ditam as normas da sociedade, acaba por trazer conseqüências

profundas, sobretudo na relação entre o ser humano e o mundo do trabalho.

Nas palavras de Campos Silva (2001, p.88), “Essa nova modulação do capitalismo

implica níveis relativamente altos de desemprego estrutural, rápida destruição e

reconstrução de habilidades, salários modestos (quando existem) e retrocesso do poder

sindical”.

Geram-se milhões de sujeitos sem condição econômica e sem inserção social, mas

que não podem ser considerados excluídos porque estão ocupando um papel importante

dentro do sistema econômico vigente e das regras da política econômica atual: formam a

massa de desempregados que exerce pressão constante sobre aqueles que contam com um

emprego (ao contrário dos excluídos do antigo wellfare state). A seguinte colocação ilustra

muito bem a dimensão, tanto em termos pessoais como sociais, do papel imposto a esses

sujeitos;

O impacto sobre a subjetividade é o esfacelamento da auto-


estima, a desvalorização. A angústia, a não compreensão toma conta dos
trabalhadores. As empresas têm neste medo o seu grande poder de
controle. Não são mais necessários supervisores, gerentes, relógios de
ponto, o desemprego é hoje o grande feitor. (Uvaldo, 2002, p. 4)

Ainda com Uvaldo (2002, p.25), pode-se complementar que “Temos, portanto, um

estado de tensão (...), os excluídos do mundo do trabalho, que lutam para sobreviver, e os

que trabalham, que o tempo todo temem tornar-se descartáveis”.

A posição do sujeito dentro da atual rede produtiva industrial, informativa ou de

serviços, pode ser delineada claramente nas palavras de Castells (1999, pp. 298-299):

A sociedade ficou dividida, como na maior parte da história


humana, entre vencedores e perdedores do contínuo processo de
negociação desigual e individualizada. Mas, desta vez, havia poucas
regras sobre como vencer e como perder. Qualificações especializadas
não eram suficientes, visto que o processo de transformação tecnológica
acelerava o ritmo, sempre superando a definição de qualificações
apropriadas. A associação a empresas ou até a países já não tinha seus
privilégios, porque o aumento da concorrência global continuava
redesenhando a geometria variável do trabalho e dos mercados. O
trabalho nunca foi tão central para o processo de realização do valor. Mas
os trabalhadores (independentemente de suas qualificações) nunca foram
tão vulneráveis à empresa, uma vez que haviam se tornado indivíduos
pouco dispendiosos, contratados em uma rede flexível cujos paradeiros
eram desconhecidos da própria rede.

É nesse paradigma que a orientação profissional é chamada a atuar nos dias de hoje.

Segundo Maroni (1982, p.28):

A organização capitalista do processo de trabalho implica uma


organização específica do espaço e do tempo. A reorganização destes
dois campos específicos, longe de ser “neutra” e ditada pelas
“necessidades objetivas”, torna-se elemento estratégico de dominação.

As atuais estratégias que regem o cenário econômico reduzem o que Arendt (2000)

enuncia como work e action ao mesmo nível do labor, apropriando-se indistintamente de

todos como se lhe pertencessem. Simplificam a complexidade do trabalho numa tentativa


de naturalizá- lo e de tornar a exploração do sujeito um fenômeno natural, incontestável e

inevitável; através de tais estratégias, o trabalho é institucionalizado pelo capital.

Quando se entende por trabalho algo mais do que emprego e de todas as noções

pré-concebidas apontadas por Méda (1998), determina-se que o trabalho tido como central

e indispensável à vida humana, não é o trabalho que desconsidera a saúde e a integridade

física e psíquica do ser humano, existindo apenas em função da reprodução do capital.

Assume-se que o mesmo existe para além do modo de produção, embora seja delineado

pelo mesmo, mas sem esquecer que é um fenômeno ligado ao ser humano e à sua relação

com a natureza, independente do modo de produção vigente.

A partir deste resgate do humano na relação entre sujeito e mundo do trabalho, sem

desconsiderarem-se as demais variáveis que se encontram envolvidas, cria-se o espaço que

torna possível uma intervenção efetiva através da orientação.

Para além destas questões e desafios, Savickas (1995) acrescenta uma discussão

sobre diversos temas epistemológicos que julga extremamente relevantes para o

desenvolvimento da área da Psicologia Vocacional como um todo e que, se não forem

discutidos, provavelmente tornar-se-ão os limites de uma possível atuação da orientação

junto à sociedade.

O autor identifica duas grandes questões centrais dentro do campo da Psicologia

Vocacional, que julga serem merecedoras da atenção e mesmo de um posicionamento de

cada orientador: a convergência, entendida como a tentativa de alguns profissionais em

buscar fontes comuns entre as diversas abordagens para reuni- las sob uma mesma agenda,

numa única grande teoria, e a divergência, que marca os esforços de outra série de

profissionais, que buscam utilizar os conceitos pós- modernos como filosofia de ciência a

ser seguida pela teoria e prática em Psicologia Vocacional, no que seria, segundo estes

autores, um passo para além dos ideais clássicos do modelo positivista de ciência, que
julgam ser limitado, e que supostamente marca a pesquisa desenvolvida pelos acadêmicos

da área.

Por conta dessas duas questões, Savickas (1995) aponta para quatro grandes cisões

centrais no campo da Psicologia Vocacional e derivadas desta dicotomia: a separação entre

teoria e prática, entre a Psicologia Vocacional e as outras disciplinas básicas da Psicologia,

entre o aconselhamento de carreiras e a psicoterapia e a distância entre a agenda de

pesquisa do campo vocacional das outras áreas da Psicologia.

A fim de que possamos buscar as respostas a estas questões e tomar um

posicionamento dentro desta discussão, faz-se necessário, em primeiro lugar, definir-se

claramente o que vêm a ser a Psicologia Vocacional e a orientação, seus sujeitos, objetos e

seus objetivos no entender desta pesquisa, comparando-os com as propostas de uma

definição que denominaremos “clássica”.

3.1 - Definição Clássica

No Brasil, tem-se a tradição de designar todas as atividades ligadas à Psicologia

Vocacional (orientação vocacional e de carreira, educação vocacional e afins) pelo termo

Orientação Profissional. Assim para o caso brasileiro, considerar-se-á os dois termos como

sinônimos.

Segundo Celso Ferretti, o pressuposto ideológico que normalmente é apontado

como base para a Orientação Profissional na nossa sociedade são os preceitos básicos do

liberalismo (como igualdade e liberdade), onde nenhum aspecto social, econômico ou

mesmo cultural seriam variáveis que limitassem as possibilidades de escolha de um sujeito.

Em suas palavras,
existem possibilidades variadas de escolha aberta ao indivíduo
que pretende se encaminhar para determinadas atividades profissionais.
Em suma, ele é livre para escolher um entre diversos cursos de ação.
(Ferretti, 1988, p.38)

Sobre os objetivos a que se propõe a Orientação Profissional, temos a seguinte

colocação de Ferretti (1997, pp.18-19),

O objetivo fundamental e específico que a Orientação


Profissional tem historicamente se proposto é o de auxiliar o indivíduo
no processo de escolha de modo que este realize opções ocupacionais
adequadas. Em muitos casos o termo adequado é substituído ou traduzido
para consciente e/ou crítica e/ou racional.

Na análise de Rivas (1993, p.36), a Psicologia Vocacional é a área da Psicologia

que

[...] centra seu trabalho no que as pessoas pensam sobre as


carreiras, a preparação para as ocupações, a entrada no mundo do
trabalho, a promoção ou troca de profissões e o abandono do trabalho
para investigar quais conhecimentos e energia devem possuir e mobilizar
o mais adequadamente possível aos conteúdos ocupacionais ou ser
assimilados a diferentes tipos de conhecimentos e destrezas (...) Em
síntese, expressaria a ênfase no desenvolvimento pessoal e sua
implicação numa área vocacional, presente ou futura.

Já na definição de Savickas (2001a, pp 167-168), a Psicologia Vocacional poderia

ser tradicionalmente definida como:

[...] o estudo do comportamento vocacional e seu desenvolvimento


em carreiras, particularmente enfatizando questões de escolha
ocupacional e ajustamento ao trabalho. A disciplina foca-se na
perspectiva dos trabalhadores como indivíduos e não na perspectiva da
organização ou da ocupação. O foco nos indivíduos diferencia a
Psicologia Vocacional dos campos da Psicologia
Industrial/Organizacional, Comportamento Organizacional e Sociologia
Ocupacional.

O comportamento/conduta vocacional, conforme apresentado por Rivas (1993,

p.13) pode ser descrito “como expoente da relação dialética entre a pessoa e o meio sócio-

profissional que assinala a culminação do processo evolutivo de socialização do ser

humano em seu meio produtivo".


O autor acrescenta ainda que

Esta relação dialética entre indivíduo (dotado de liberdade e


consciência) e a sociedade (que organiza os valores culturais, as
oportunidades educativas, a divisão do trabalho, etc.) nunca está
resolvida de forma definitiva e satisfatória para ambas partes. Pelo
contrário, é fonte de tensões, de inseguranças e desajustes [...]. (Rivas,
1993, p.18)

Finalmente, conclui que "a conduta vocacional se realiza no indivíduo que reúne

suas motivações, capacidades, interesses, expectativas e se apóia ou dirige a um espaço

social no qual deseja participar ativamente através de suas atuações produtivas e laborais"

(Rivas, 1993, p19).

Ou seja, a função da orientação deveria ser a análise desta dialética entre sujeito e

sociedade, atentando-se basicamente para as escolhas e formas de ajustamento do sujeitos a

estas escolhas, construindo-se um panorama a respeito do desenvolvimento de sua carreira.

Seja através de intervenções preventivas (longo prazo, geralmente associadas à educação)

ou naquelas desenhadas para momentos de crise 31 , fica evidente a limitação do campo de

atuação do profissional dentro desta perspectiva, restringindo-se não só a prática, mas o

próprio desenvolvimento do campo à orientação de estudantes em trânsito para

universidades ou para o mercado de trabalho e, em alguns casos, profissionais em busca de

novas carreiras.

Lehman (1995, p.239), em sua análise das propostas clássicas, aponta um dilema na

área: a) tem-se pouca possibilidade de inovação ou; b) tem-se uma urgência por novas

abordagens, teorias e campos de atuação. Embora Ballerini (2001) afirme que talvez

pudéssemos colocar um e no lugar de ou, o presente trabalho alinha-se com a colocação da

autora. Especialmente no que diz respeito à necessidade, advinda deste dilema, de uma

reflexão extensa e cuidadosa sobre as questões que permeiam o campo de atuação da

31
Entendido como “momento de eleição-discrimação” (Rivas, 1993, p.26), momento da escolha.
orientação antes de se partir em busca de novos enfoques, modelos e intervenções,

repetindo uma crítica já levantada por Bock (2002). Ou seja, faz-se necessário uma clara

delimitação das necessidades do campo de atuação da orientação pois, ainda com Lehman

(1995, p.239), "observamos que as abordagens atuais não abarcam toda a gama da

problemática vocacional, pois é muito restrita frente aos novos problemas e situações

sociais".

3.2 - Por um novo Conceito

Com as limitações apontadas anteriormente e as novas demandas que surgiram com

a evolução das formas de organização do mundo do trabalho, novos conceitos e novas

formas de atuação surgem na Psicologia Vocacional.

Guichard & Huteau (2001), apresentam uma série de argumentos que comprovam o

quanto a orientação praticada hoje já se distanciou de conceitos tão estreitos quanto aqueles

mencionados na revisão de Ferretti (1997) e nas colocações de Savickas (2001a) e Rivas

(1993). Muda-se da simples conciliação sujeito-profissão 32 para uma perspectiva muito

mais ampla. Segundo os autores, podemos apontar sete diferenças fundamentais entre a

visão clássica e a realidade atual da orientação:

- a orientação nos dias atuais não se limita mais à simples mediação da transição da

escola para o mundo do trabalho;

- a perspectiva atual é muito mais ampla que a antiga proposta de inserção em vagas

disponíveis ou transição entre profissões;

32
Entende-se por esta conciliação não só a idéia de pessoa certa para o trabalho certo como também a noção
de que a orientação dirá ao sujeito quais as decisões certas a serem tomadas (vestibular, carreira, etc.).
- as práticas atuais visam um espectro populacional mais amplo;

- as práticas atuais adotam referenciais teóricos menos diretivos;

- o sujeito é compreendido como alguém passível de desenvolvimento durante todo o

espaço de sua vida;

- existe uma referência mais tênue à Psicologia como um todo. Busca-se elementos de

apoio em outras áreas do conhecimento como a Economia, a Sociologia e as Ciências

Políticas;

- há fronteiras menos claras entre o processo de formação do sujeito e o processo de

orientação do mesmo.

Dentro desta nova proposta, o campo da Psicologia Vocacional, na ótica de Savickas

(2001b, p286), poderia ser descrita da seguinte forma:

“A Psicologia Vocacional, uma especialidade da Psicologia


Aplicada, conduz pesquisas sobre o comportamento vocacional entre
todos os grupos de trabalhadores, em cada estágio da vida, com o intuito
de avançar o conhecimento, melhorar a intervenção nas carreiras e
informar a política social. É caracterizada por uma teorização inovadora
para entender a diversidade da experiência humana e as mudanças no
mundo do trabalho; o uso de diversas epistemologias e estratégias de
pesquisa; uma ênfase nos estudos programático e longitudinal; e a
transformação dos achados das pesquisas em modelos, métodos e
materiais para a intervenção e educação de carreiras”.

A fim de definir-se claramente qual o conceito orientação este trabalho pretende

estabelecer, é necessário também, apresentar o que se compreende como seu objeto de

estudo, seus sujeitos e seu objetivo.


3.2.1 - Por um conceito de trabalho

“Trabalho ou Emprego – Grupo de postos afins que têm características de

desempenho similares. Justificam-se pelo rendimento e utilidade social que produzem e

estão orientados sobre o produto final esperável ou exigível” (Rivas, 1993, p.14)33 .

A partir do momento em que o termo trabalho encontra-se intimamente ligado ao

que esta pesquisa entende como objeto da orientação e, ao mesmo tempo, é normalmente

associado ao conceito de emprego, inclusive em produções da área da Psicologia

Vocacional (conforme citado), julga-se necessário estabelecer qual a definição de trabalho

da qual esta pesquisa se vale.

Segundo Arendt (2000), com a idade moderna surge a valorização do trabalho, a

glorificação do labor e a inversão do que é uma pirâmide de valores solidamente

estabelecidos, sobretudo por conta do novo modo de produção 34 que se instaura a partir

deste momento histórico. Ao dar-se adeus ao feudalismo e aos modos escravistas de

produção, automaticamente o estado de contemplação, antigo auge a ser atingido dentro da

estrutura social – a “vida dos filósofos”, deixa de ser o objetivo de vida da casta

privilegiada como fora até então dando lugar à acumulação de capital. A impossibilidade

de se manter os modos de produção anteriores obriga a uma revisão dos valores atuais;

para o capitalismo nascente (ou crescente...), o valor está no trabalho, na ação, não na

contemplação.

Como todos os conceitos associados à vita activa podem ser tomados como

generalizações da noção de trabalho, com a finalidade de se entender melhor as

33
Tal definição encontra-se sob o título de “Precisiones terminológicas”.
34
Noção que converge com as colocações de Ferretti (1988) ao colocar o modo de produção como ponto
fundamental para uma adequada compreensão de qualquer fenômeno ligado ao mundo do trabalho
contemporâneo.
componentes desta vita activa35 , que passa ao primeiro plano, Arendt (2000) opta por

descreve- las em três tópicos distintos, numa seqüência que pode ser considerada crescente

em termos do grau de socialização e complexidade dentro da nova hierarquia que se

estabelece.

3.2.1.1 - Labor

Para Arendt (2000), “labor” tem uma conotação inequívoca de experiência

corporal, remete à idéia de carga e de problema. Considerando apenas o sentido

etimológico da palavra, temos que esta é

[...] uma atividade que corresponde aos processos biológicos do


corpo, isto é, como o jovem Marx disse, o metabolismo entre o homem e
a natureza ou o modo humano de metabolismo que compartilhamos com
todos os organismos vivos.

É o meio pelo qual o homem produz aquilo que é vital para o processo de vida do

corpo humano.

O trabalho, como criador de valores-de-uso, como trabalho útil, é


indispensável à existência do homem, - quaisquer que sejam as formas de
sociedade – é necessidade natural e eterna de efetivar o intercâmbio
material entre o homem e a natureza, e, portanto, de manter a vida
humana. (Marx, 1982, p.50)

Ou seja, o “labor” nunca termina. É parte do ciclo de vida do ser humano e a forma

de interação entre este e a natureza. Está ligado à esfera das necessidades e encarrega-se de

produzir bens de consumo que visam satisfazer essas necessidades, bens estes que são

consumidos ou rapidamente sofrem um processo de decomposição e reabsorção pelo meio.

35
Conceito proposto por Arendt (2000) como oposto à vita contemplativa (contemplação), um estágio que é
comparado ao que se supunha ser a vida dos filósofos gregos.
3.2.1.2 - Work

É a forma de trabalho que não aquela inerente ao processo biológico do ser

humano, presente em todas as nossas atividades. Em vez da produção para o consumo, de

uma gratificação que segue o esforço, o trabalho de nossas mãos pode ser direcionado para

a confecção de bens para uso, que em si não causa sua destruição ou desaparecimento, pelo

menos, não no curto prazo de uma vida, a não ser por um acidente. Bens que dão a

estabilidade e a solidez sem as quais seria impossível estruturar a criatura instável que é o

homem (Arendt, 2000).

É essa durabilidade dos bens que lhes garante uma certa independência do homem

que as produziu e confere ao mundo um certo status de estável, e aos quais o homem pode

sempre se remeter a fim de recuperar sua identidade. “Contra a subjetividade do homem,

está à objetividade dos “man- made artifice”, não a indiferença da natureza” (Arendt, 2000,

p.174).

Ao contrário do “labor” (embora o mesmo esteja obrigatoriamente presente ao

longo de toda atividade), há um processo de feitura e um fim a ser atingido através do

mesmo, não apenas um ciclo que ao completar-se, automaticamente se reinicia; fabricação

(com começos definidos e fins previsíveis – enquanto a ação tem inícios definidos, mas

nunca fins previsíveis.) e uso são dois processos completamente diferentes. O impulso à

repetição advém da necessidade do artesão ganhar os meios para sustentar-se através do

seu trabalho.

O que domina o “labor” nesses processos, não é o fim perseguido nem o propósito

do esforço, mas sim o ritmo e o movimento que o processo impõe aos trabalhadores,

chegando-se ao ponto em que os instrumentos deixam de ser adaptados aos trabalhadores

para que os trabalhadores passem a adaptar-se aos instrumentos. O produto final organiza o
processo imposto. Contudo, este objeto que é o objetivo, ou um fim, dentro do processo de

produção, não é um fim em si. Assim que completado, assume seu papel de objeto de uso e

automaticamente passa a ser o meio para a obtenção de outros fins, em particular, aqueles

para o qual foi fabricado o que, em última instânc ia, leva a uma cadeia interminável de fins

e meios, a menos que se coloque o homem como fim inquestionável o que, por sua vez

significa que

[...] a mais mundana de todas as atividades perde seu significado


objetivo final, torna-se um meio para preencher necessidades subjetivas;
em si e por si, não tem mais sentido, por mais útil que possa ser. (Arendt,
2000, p.177)

3.2.1.3 - Ação

Agir, de maneira geral significa tomar uma iniciativa, começar,


como indica a palavra grega arkhein, ou colocar algo em movimento, que
é o significado original do latim agere. (Arendt, 2000, p.179)

É através da palavra e dos feitos que o homem se insere no mundo. Mundo este que

não habita sozinho, mas no qual só existe como coletividade e no qual a ação e a palavra

estão intrinsecamente ligadas ao fato de que sempre se está entre iguais.

Ação e palavra, que se ligam na resposta à pergunta mais comum feita por um

desconhecido: “quem é você ?”, que implica dizer que não há ação sem palavra que a

acompanhe, do contrário, a mesma não existe. Enquanto uma obra de arte retém seu valor,

independentemente do nome do autor, uma ação sem um nome, um quem, não tem sentido.

Em todo lugar em que o ser humano habita, há uma teia composta por relações,

feitos e palavras, todos entrelaçados e ligando seus autores de forma que, qualquer novo

começo acaba por se ligar a essa teia e inicia um processo que envolve todos aqueles

ligados de alguma forma a este ponto. É por conta da imprevisibilidade do alcance desses

eventos que, ao contrário do processo de fabricação, tem-se na ação um começo


controlado, mas não um fim determinado. Esses cursos por suas características inerentes de

imprevisibilidade e relação com o todo, produzem histórias, que podem então ser

guardadas e trabalhadas e nos contam muito mais sobre seus sujeitos do que os objetos

reificados nos quais são gravadas.

Que cada vida humana entre nascimento e morte possa


eventualmente ser contada como uma história com começo e fim é a
condição pré-política e pré-histórica da história (...) A verdadeira história
na qual na qual estamos engajados enquanto vivemos não tem marcas
visíveis ou invisíveis, porque ela não é feita 36 . (Arendt, 2000, p.180)

Essa falta de marcas aponta para a fragilidade e falta de confiabilidade das questões

estritamente humanas. É a prova de que na ação (acting), ao contrário do trabalho

(working), podemos não saber o que estamos fazendo. Mais ainda, ao contrário do

processo de fabricação, o agir não permite que o processo seja desfeito: uma vez tomado

um curso de ação, seus resultados são imutáveis, irreversíveis.

A redenção possível para uma ação cujas conseqüências são indesejadas, é o

perdão. A única forma possível de se lidar com a imprevisibilidade das ações é a faculdade

de fazer e cumprir promessas, “ilhas de segurança sem as quais nem mesmo a

continuidade, quanto mais qualquer forma de durabilidade, seria possível nas relações entre

os homens” (Arendt, 2000, p.181).

Sem o vínculo com o cumprimento de uma promessa, não seríamos capazes de

atingir a quantidade de identidade e continuidade necessárias para produzir a “pessoa”,

sujeito das histórias. Embora os objetos dêem a referência para que o agente humano se

situe num mar de transformações (conforme discutido no processo de fabricação), sem a

ação (ou o agir), o correr da vida no sentido da morte carregaria junto consigo tudo que é

36
No original, a palavra utilizada para feita é “made”.
humano para a destruição, pois é o que dá ao homem a capacidade de produzir o novo, de

começar algo novo que, de certa forma, dá forma ao princípio da liberdade.

3.2.1.3.1 - A técnica e o Trabalho

A ação em si, na condição de nível de trabalho mais complexo na interação entre

sujeito e mundo 37 , torna-se uma noção demasiadamente ampla para ser considerada como

um aspecto ligado exclusivamente ao objeto da orientação. Dessa forma, faz-se necessário

delimitar qual das possíveis ações do sujeito está intimamente ligada à orientação e aos

seus estudos.

Para tanto, consideremos a estrutura formulada por Dejours (2002) em que as

relações do sujeito com o mundo não podem ser reduzidas a um simples sistema eu-

outro 38 . Seja o outro uma entidade personificada, a cultura ou o mundo, sempre se fará

presente um terceiro nesta relação. Dejours (2002) esquematiza esta proposta como um

triângulo em cujos vértices estão o eu (Ego), o outro (autrui) e o Real (reél). A relação

entre o eu e o real é denominada de ato. Entre o eu e o outro temos a tradição e, entre o

outro e o real, a eficácia.

Da proposta genérica de ação (Arendt, 2000), temos em Dejours (2002) um

conceito semelhante, porém mais refinado e específico, concebido dentro das relações

deste triângulo formado por eu-outro-real: a técnica. Segundo o autor, essa proposta seria

um ato específico, que envolve as três relações ao mesmo tempo, e que pode ser definida

como um "ato tradicional eficaz".

37
Dentro dos níveis propostos por Arendt (2000) e considerados por este trabalho.
38
Ego-autrui, no original.
Por ato, entende-se a relação entre ego e real, na qual o primeiro tem por objetivo

promover uma transformação no segundo, por intermédio de alguma forma de

instrumentação, independentemente desta ser física ou simbólica.

A tradição é uma forma de sedimentação das rotinas práticas. Sem referência à

tradição, o ato não pode ser consciente. É constituída a partir da relação entre o outro

(social, intersubjetivo, cultural) e o eu.

Já a eficácia, está ligada à relação entre o outro e o real acerca de um ato executado

pelo eu, onde o outro emite um julgamento (baseado na tradição), a respeito de tal ato.

Nas palavras de Dejours (2002, p.36), o conceito pode ser resumido da seguinte

forma: "a técnica é um ato sobre o real, iniciado a partir de uma cultura e sanc ionado pelo

julgamento do outro".

Mais refinada ainda é a noção de trabalho proposta pelo mesmo autor.

Considerando-se as três relações que determinam a técnica (ato, tradição e eficácia), o

trabalho pode ser definido como uma atividade muito mais precis a e específica, baseado

numa tradição em que a relação do eu com o outro é marcada pela coordenação de

atividades, pois o trabalho não existe como atividade isolada, e com sua eficácia julgada

sempre dentro de um contexto econômico, em termos utilitários. Seja técnica, social ou

econômica, a noção de utilidade é inexpugnável do conceito de trabalho. “Em relação à

técnica, o trabalho se caracteriza pela cadeia social de obrigações e contratos que o

precedem” (Dejours, 2002, p38).


3.2.2 - Comportamento Vocacional

Rivas (1993), dentro do que classificamos de abordagem clássica, definiu

comportamento vocacional como expoente da relação dialética entre sujeito e meio sócio-

profissional.

Ao conceituarmos trabalho como uma ação específica39 , que se situa no cerne de

um triângulo definido pelo eu, pelo outro e pelo real e mediado pelas relações existentes

entre estes (em vez de defini- lo como sinônimo de emprego), faz-se necessária uma

redefinição do termo “comportamento vocacional”, na medida em que o mesmo representa

o objeto de estudo da Psicologia Vocacional.

A partir do momento que a noção de trabalho desvincula-se de uma ligação

obrigatória com o emprego formal, o comportamento vocacional também deixa de estar

necessariamente ligado apenas ao meio sócio-profissional. Transportando-se esses

conceitos para o novo paradigma, podemos definir esse comportamento como a síntese

dialética entre a técnica ou o trabalho 40 (físicos ou simbólicos) e o mundo do trabalho,

inclusive nos casos em que haja uma aparente ausência de técnica/trabalho (onde os

mesmos são unicamente simbólicos) ou em que esta síntese desta relação seja uma

estagnação.

Em alguns casos, esta síntese resulta em uma nova técnica ou em um trabalho 41 , em

outros, em uma ação ou mesmo na extinção da técnica. Enquanto tivermos uma situação

em que o mundo do trabalho esteja situado como antítese de uma técnica ou de um

trabalho, teremos em mãos uma relação que é objeto de estudo e intervenção da orientação.

39
Definição advinda da reunião de conceitos de Arendt (2000) e Dejours (2002).
40
Entendido como uma atividade técnica específica e precisa, coordenada e julgada segundo sua utilidade
social, técnica ou econômica.
41
Entendido segundo a definição construída por esta pesquisa.
Nos casos em que haja uma questão a ser trabalhada, mas constate-se ausência total

de técnica/trabalho e haja a presença da variável mundo do trabalho no contexto analisado,

o fenômeno deixará de ser um objeto da orientação, passando a ser um objeto de estudo das

Ciências Sociais. Caso haja técnica, mas não haja relação dialética com o mundo do

trabalho, também deixará de haver um objeto de estudo da orientação para constituir-se um

objeto do campo da Psicologia Clínica.

3.2.3 - Objetivos

A estrutura ternária proposta por Dejours (2002) forma os vértices de uma relação

triangular que marca a atuação do sujeito no mundo. O papel desempenhado pelo Real e,

conseqüentemente, pelas variáveis psicossociais, durante o período que antecede as

mudanças sócio-econômicas da década de 1970 poderia ser considerado quase constante.

Na época, as mudanças que se processam neste campo são lentas (em termos relativos) e,

desta forma, de fácil assimilação pelo mundo interno dos sujeitos. A esta forma de relação,

com fatores externos mais estáveis, corresponde uma orientação em que os fatores internos

são o foco da intervenção.

A partir das mudanças citadas, percebe-se que a realidade (Réel para Dejours) passa

a ter uma dimensão variável (e de certa forma muito mais presente), em que as mudanças

se operam rapidamente. As variáveis psicossociais redesenham-se e reorganizam-se com

velocidade cada vez maior e, como conseqüência, temos cada vez mais sujeitos que não

conseguem assimilar essas mudanças, gerando-se conflitos entre o sujeito e sua relação

com o espaço social. Os fatores externos antes passíveis de serem tidos como uma

constante dentro da intervenção em orientação, agora precisam ser devidamente


considerados e elaborados, a fim de que se criem condições nas quais as questões internas

do sujeito possam ser trabalhadas.

Dessa forma, cabe à orientação e à Psicologia Social trabalhar nas referências que

permitam ao sujeito uma ação que tenha sentido na definição de sua relação com a

sociedade, economia e suas instituições, cientes de que uma determinada ação escapa à

orientação a partir do momento em que deixa de estar ligada á dialética técnica- mundo do

trabalho.

Assim, ressalta-se que a necessidade de se efetuar um diagnóstico sobre a

problemática dos sujeitos que procuram por auxílio psicológico é de suma importância, e

apresenta-se como procedimento fundamental a fim de que seja possível estabelecer-se a

estratégia de orientação mais adequada à questão considerada.

3.2.4 - Sujeitos da orientação

O sujeito da Orientação hoje, não se restringe ao adolescente em transição de um

ciclo educacional para outro, conforme aponta Amaral (2001). Segundo pesquisas feitas

por Lehman & Silva (2001), apresentando dados sobre a população atendida pelo SOP-

USP42 , os autores apontam que, a partir da última metade da década de 90, cerca de 70%

dos sujeitos do serviço são pessoas com idades de até 18 anos, com uma porcentagem

crescente de pessoas de outras faixas etárias, proveniente, em especial, da população de

estudantes universitários que estão num processo de reconsideração da primeira escolha.

Em Uvaldo (1995), temos a descrição de várias novas possibilidades de

atendimento não só em termos de faixa etária dos sujeitos como também de espaços

42
Serviço de Orientação Profissional da Universidade de São Paulo.
passíveis de ocupação pela Orientação Profissional, dados congruentes com os expostos

por Lehman (2004).

De forma semelhante a outros conceitos, a noção de sujeito em orientação deve ser

revista, buscando apoiar-se em critérios mais amplos. Segundo a concepção construída

acerca do que vem a ser a orientação na atualidade, podemos definir como sujeito da

orientação todo e qualquer indivíduo que apresente uma demanda a respeito de sua relação

com o mundo do trabalho. Desde a crise pela insatisfação com o posto de trabalho,

passando pela clássica escolha de cursos de nível superior até os casos extremos, em que se

tem uma grande quantidade de angústia gerada pela impossibilidade de alguns sujeitos

pensarem a respeito das barreiras impostas pelos limites do atual sistema sócio-econômico.
4 - Em busca de respostas

4.1 - Questões epistemológicas

Inicialmente, faz-se necessário responder às questões epistemológicas propostas por

Savickas (1995), buscando-se definir a postura que este trabalho adota frente às discussões

que permeiam o campo da orientação, e respondendo ao chamado do autor quando o

mesmo afirma:

Eu convido o leitor a reunir-se ao questionamento no sentido de


entrar na discussão e apoiar um dos credos conflitantes sobre cada tópico
ou mesmo tomar partido no questionamento das opiniões existentes e
apontar outra convicção sobre o assunto. Eventualmente, todo psicólogo
vocacional irá participar em cursos de ação fortemente influenciados por
seu ponto de vista sobre as duas questões teóricas examinadas aqui
[convergência e divergência]. (Savickas, 1995, p.1)

4.1.1 - A dicotomia teoria x prática

No entender desta pesquisa, a cisão entre os teóricos e aqueles que operacionalizam

tais teorias em uma determinada prática advém, fundamentalmente, da flexibilidade que a

prática requer e que nem sempre pode ser proporcionada pela utilização de um único

referencial teórico. Tomando como exemplo a realidade brasileira, temos como lugar

comum a utilização de um conjunto de referenciais na estruturação das propostas de

intervenção, prática que proporciona uma atuação de larga amplitude e uma maior

condição de adaptabilidade a diferentes demandas e espaços sociais.

Esta situação estende-se a outros contextos da América do Sul43 , e pode ser

atribuída, em grande parte, a uma história de constante instabilidade econômica, social e

política, anterior ao período tradicionalmente citado como foco de mudanças (década de

43
Conforme dados apresentados por autores de vários países no Congreso Iberoamericano de Orientacion em
2003.
1970) – embora tal período tenha agravado uma situação já precária em muitas destas

realidades.

No Brasil, é comum a intervenção na situação de crise, ou seja, no momento em

que a dialétic a entre técnica e mundo do trabalho gera um nível de angústia acima daquele

normalmente tolerado pelo sujeito e constituindo assim uma demanda manifesta por

orientação. Rivas (1993) define o momento de crise como aquele em que é necessário

tomar-se uma decisão, fazer uma escolha. Certamente, estas podem ser as características

manifestas da angústia, mas isso não significa que estes sejam seus únicos determinantes.

A fim de acolher demandas variadas, a prática muitas vezes precisa de referenciais

diversos. Negar esta necessidade é negar o contexto da complexidade, atual paradigma da

ciência 44 em que há o reconhecimento da impossibilidade de se atribuir a uma única teoria

a tarefa de abarcar todas as possibilidades de análise de um dado fenômeno. É desta

negação por parte de muitos pesquisadores e teóricos que surge a cisão teoria/prática, pois

aqueles que desenvolvem atividades em orientação acabam lançando mão de todos

recursos dos quais dispõem a fim de serem capazes de atender à demanda de seus sujeitos,

enquanto alguns teóricos ligados a uma filosofia positivista ortodoxa consideram tal atitude

contrária ao princípio fundamental de ciência.

Ao trabalhar-se com construtos elaborados a partir deste paradigma, a compreensão

acerca da necessidade de receber-se contribuições não só de diversas teorias como também

de diferentes áreas de conhecimento faz-se presente e, desta forma, diminui- se a distância

que normalmente separa os teóricos da orientação e os especialistas em operacionalização

de intervenções, ou seja, podemos afirmar que muitas divergências existentes hoje, devem

menos a diferenças entre conceitos teóricos e mais a diferentes visões de pensamento

científico.

44
Conforme dados apresentador por Eda Tassara em aulas do programa de pós-graduação no ano de 2004.
4.1.2 - Psicologia Vocacional x Psicologia

Nas palavras de Savickas (1995, p.2) “A Psicologia Vocacional permanece

extremamente isolada de disciplinas como a Psicologia do Desenvolvimento, Psicologia

Social, Psicologia Inter-Cultural, Psicologia da Personalidade e estudos sobre gênero”.

O que se vê, na verdade, são orientadores questionando o pouco uso que se faz das

teorias propostas pela Psicologia Vocacional, ao mesmo tempo em que estes mesmos

pesquisadores abrem mão de aprofundar-se nas pesquisas desenvolvidas por outras áreas e

que deixam de se empenhar na busca por derivações de noções fornecidas por pesquisas de

base já efetuadas pela Psicologia e que possam ser utilizadas em seus estudos.

De forma semelhante, a relativa ineficácia da Psicologia Vocacional em elaborar

suas propostas em modelos que permitam intervenções eficientes nas questões sociais mais

amplas, contribui para que a área acabe fechando-se dentro de um círculo vicioso onde não

se agregam novos conhecimentos e, por conta disso, não se envereda por novos espaços de

atuação.

Pode-se afirmar que a principal causa desta cisão é a forte tendência dos

pesquisadores colocarem seus trabalhos em orientação como referências (Savickas, 1999;

Krumboltz & Worthington 1999; Lent, Hackett & Brown 1999), e não como mais uma

frente de estudo de um fenômeno complexo. Através desta postura, ao negar-se a

contribuição e importância de outros estudos, promove-se o isolamento do campo e,

conseqüentemente, seu gradual empobrecimento.

Apenas com a adoção de uma noção de ciência em que a orientação trabalhe em conjunto e

não contra outros campos da Psicologia e de ciências afins, pode-se promover a lenta

diminuição dos espaços que separam a Psicologia Vocacional das demais áreas da
Psicologia. A descrição das muitas formas de atuação junto a espaços sociais tão diversos,

que se encontra presente no relato sobre o atual contexto da orientação estadunidense

(Pope, 2000), é a constatação de um movimento neste sentido, em que o amadurecimento

da orientação se faz através do intercâmbio com outras linhas de pesquisa (Educação,

Sociologia), o pela busca de conceitos mais adequados e válidos à realidade estudada,

independentemente de qual seja a fonte que o proporcione.

4.1.3 - Aconselhamento e Psicoterapia

Basicamente, numa perspectiva tradicional, o aconselhamento (principalmente na

sua modalidade individual) é associado à prevenção, enquanto a psicoterapia é colocada

como prática vinculada a uma tentativa de se remediar uma situação ou crise adaptativa

(Savickas, 1995). Há um grande debate entre diversos pesquisadores a respeito da

complexidade de cada modalidade de atendimento, ou mesmo redutibilidade de uma

prática à outra. Na busca pela validação de cada uma das práticas, tenta-se promover a

noção de qual seria a “melhor” forma de atuação.

No atual contexto em que vivemos, o aconselhamento, tanto em grupos quanto em

nível individual, a fim de bastar-se no contato com as diversas demandas de seus sujeitos,

tem grande necessidade de valer-se de aspectos presentes nas teorias de atendimento

psicoterapêutico 45 pois, como cita Bohoslavsky (1995), a orientação pode ter uma

dimensão clínica46 . Ou seja, mesmo que não busque resultados propriamente

terapêuticos 47 , o orientador não perde a possibilidade do estabelecimento de uma relação

45
De acordo com Roudinesco (1998, p.624), por psicoterapia entende-se “Método de tratamento psicológico
de doenças psíquicas que utiliza como meio terapêutico a relação entre médico e paciente”.
46
O termo “clínica” está ligado à qualidade de relação que se estabelece entre orientador e sujeito.
47
Segundo Roudinesco (1998), “terapia” pode ser entendido como uma busca pelo tratamento de uma
patologia psíquica do sujeito.
clínica entre as partes e o desenvolvimento de uma intervenção mais significativa para o

sujeito a partir desta.

Destarte, ao invés de se discutir qual é a melhor forma de atuação, o que se faz

necessário é a execução de um processo diagnóstico eficiente, a fim de encaminhar-se o

sujeito ao atendimento mais adequado à sua demanda.

Um exemplo claro deste tipo de prática pode ser verificado no modelo de

intervenção desenvolvida pelo Serviço de Orientação Profissional do Instituto de

Psicologia da Universidade de São Paulo, no Brasil. Dentro de uma abordagem

fundamentada na teoria de Bohoslavsky (1995), promove-se uma prática em que o

procedimento diagnóstico é a fase inicial do processo de atendimento. A partir dos

resultados provenientes de uma entrevista inicial entre sujeito e um psicólogo do Serviço,

encaminha-se o primeiro à modalidade de atendimento mais adequado (orientação

individual ou em grupo) ou mesmo ao atendimento psicoterápico, quando a demanda

identificada pelo entrevistador escapa à proposta da orientação.

4.1.4 - A Pesquisa em Psicologia Vocacional

Muitas vezes, valendo-se de termos cujos conceitos sofreram profundas mudanças

nos seus respectivos campos de estudo, pesquisadores desenvolvem seus trabalhos sobre

pressupostos inadequados, obtendo assim resultados incompatíveis com a realidade e com

aqueles de outras áreas.

Conforme exposto no capítulo II, conceitos tidos como imutáveis durante certo

período (por exemplo, a idéia de estabilidade), sobretudo pela impossibilidade de se

perceber as fragilidades das estruturas que lhes conferem significado, podem sofrer
profundas alterações, chegando a perder seu sentido original dentro de um novo contexto

no qual tais estruturas reconfiguram-se e passam a atribuir outros valores a dado termo.

Por exemplo, enquanto o emprego pleno era fundamental à estrutura de

organização sócio-econômica, havia uma determinada concepção sobre carreira. Com a

mudança para um paradigma em que o desemprego tem papel funcional, a noção de

carreira passa a representar idéias totalmente diferentes daquelas de outrora. Apropriar-se

de quaisquer termos sem ter-se a consciência a respeito dos significados do qual o mesmo

está investido é o grande risco ao se manter uma agenda de pesquisa fechada, que não

promove intercâmbios e a atualização de suas bases teóricas.

A Psicologia Vocacional tem um histórico de relação muito próxima com o real,

geralmente promovendo intervenções de efeito imediato na realidade de seu sujeito, ao

passo que outros campos da Psicologia promovem ações cujos resultados, por diversas

vezes, não apenas demoram a surgir, como são muito mais sutis. Por conta desta diferença,

é corriqueiro tomar-se as pesquisas na área de orientação como pertencentes a um nível

distinto, mais tecnicista e, assim, incomunicável com outras linhas de trabalho.

A tecnicidade aparente da orientação apenas torna-se possível se baseada em

amplos estudos teóricos, que contam com a colaboração de resultados advindos de

pesquisas desenvolvidas em diversas áreas. Por mais que o aparente distanciamento entre

linhas de pesquisa se faça presente, é fundamental que os profissionais envolvidos

consigam resgatar a amplitude do contexto considerado e a importância da contribuição

individual de cada perspectiva presente, construindo uma abordagem coletiva que dê conta

de legitimar construtos a respeito deste contexto.


4.1.5 - Convergência e Divergência

Na análise de Savickas (1995), os termos convergência e divergência estão

sucessivamente associados às idéias de busca por fontes comuns entre as diversas

abordagens para reuni- las sob uma mesma agenda, numa única grande teoria, e os esforços

em busca da utilização dos conceitos pós- modernos como filosofia de ciência a ser seguida

pela teoria e prática em Psicologia Vocacional.

No entender deste trabalho, normalmente acaba-se associando a busca pela

convergência a uma noção de totalitarismo positivista, ao passo que o chamado

“perspectivismo” recebe como principal crítica de seus opositores uma suposta tendência

de relativizar demasiadamente os conceitos estudados.

Trabalhos como a proposta de Vondracek, Lerner e Schulenberg (1986) são uma

forte evidência de que, no atual estágio da orientação, grande parte desta discussão perde

sentido na medida em que a busca por respostas se constrói dentro do paradigma da

complexidade, onde nenhuma das duas posições científicas pode, a priori, ser considerada

como inválida. Podemos conferir esta hipótese ao analisarmos como a orientação enfrenta

os desafios que se apresentaram a ela após o início do processo de transformação sócio-

econômica da década de 1970.

Enquanto há situações que se valem de práticas semelhantes às primeiras propostas

de orientação formuladas no princípio do século XX, com resultados muito satisfatórios,

outras, submetidas à análises fundamentadas nas noções de ciência pós- moderna

permanecem sem uma intervenção adequada por incompatibilidade entre os modelos

disponíveis e as demandas apresentadas. Para ilustrar esta hipótese, consideremos o


movimento norte-americano dedicado ao estudo da chamada “school-to-work-transition”48 ,

(re)impulsionado pelo STWOA49 e outras iniciativas (Lent & Worthington 1999).

Neste caso, podemos conferir as contribuições de diversas teorias ligadas à

orientação a respeito de formas de ampliar a compreensão do sujeito sobre o processo de

transição da escola para o mundo do trabalho, principalmente no caso daqueles que estão

para sair das High Schools50 , juntamente com algumas sugestões sobre as melhores formas

de se trabalhar com tais sujeitos. Esta iniciativa é o resultado claro de uma forma

estruturada de análise de um dado fenômeno e construção de pressupostos que estejam de

acordo com uma visão comum sobre o mesmo.

Dentre as contribuições estudadas, Lent, Hackett & Brown (1999), da abordagem

sócio-cognitiva, apontam para a necessidade de se desenvolver esforços para maximizar a

obtenção de habilidades (skills) em três áreas (interesse na exploração de novas áreas,

aprimoramento de habilidades e aprendizagem sobre gerenciamento de transições) como

forma de se preparar o sujeito para este estágio. Krumboltz & Worhington (1999)

entendem que a teoria da aprendizagem vem preencher um vazio deixado pela teoria do

capital humano (que norteia o STWOA no entender dos autores). Propõem que habilidades

(skills), valores e hábitos de trabalho devem ser produto de experiências de aprendizagem,

acreditando que promove-la é papel dos mentores, técnicos e educadores, que devem

deixar claro ao sujeito que estas definições estão sujeitas a contínuas mudanças.

Savickas (1999), sob a perspectiva da teoria do desenvolvimento, marca a

importância de se orientar, ensinar, gerenciar e de preparar os estudantes para a transição,

enquanto Swanson & Fouad (1999) apontam para uma abordagem baseada na teoria de

48
Movimento encarregado de estudar a transição dos jovens da escola para o mundo do trabalho.
Jovens que, a priori, não ingressam em faculdades, ou que não chegam a terminar as mesmas.
49
School-to-work Opportunities Act – programa federal norte-americano de incentivo a políticas
públicas para o setor, em nível estadual.
50
Equivalente ao Ensino Médio brasileiro.
traço- fator, onde a importância está em um bom relacionamento entre as exigências do

ambiente e os traços de personalidade do sujeito.

Num contexto em que há várias iniciativas no sentido de se promover inovações

tanto nas teorias quanto nas práticas em orientação (Pope, 2000), verifica-se propostas que

remontam aos conceitos do modelo clássico de intervenção. Estas propostas, em particular,

foram alvo de críticas sob diversos aspectos, por exemplo, segundo Lent & Worthington

(1999), o STWOA busca apenas inspirar a aprendizagem de habilidades e valores

relacionados à escola e ao trabalho como solução para a questão; Blunstein (1999),

considera que o movimento assume posturas que não têm necessariamente relação com

aquilo que se observa na atualidade; Hansen (1999) afirma não ser suficiente trabalharmos

apenas com informação e treino se temos a intenção de colaborar efetivamente com a

inserção do jovem no mundo do trabalho.

Tais dados apontam para o fato que, a discussão em si sobre convergência ou

divergência, toma significados (e valores) distintos quando analisada segundo prismas

diferentes. Numa visão clássica de ciência, os fatos apresentados por Savickas (1995) são

pertinentes e delineiam a discussão. Por outro lado, quando se analisa a questão segundo

uma visão de ciência que o autor denomina “perspectivista”, vê-se que as discussões acerca

do fenômeno podem ser consideradas insuficientes, pois estão formuladas de forma linear e

taxativa, de acordo com o próprio modelo criticado.

4.2 - Enfrentando desafios

Voltando aos desafios apontados no capítulo II.1.2, com base nos conceitos

desenvolvidos a respeito do que se entende por orientação na atualidade, faz-se necessária


uma avaliação a respeito da eficiência das formas de atuação desta em relação aos desafios

colocados pelo contexto socio-econômico no qual esta se desenvolveu.

A partir do surgimento de novos espaços sociais em crise, viu-se que o cenário de

novas demandas é generalizado, não se restringindo a um ou outro contexto nacional

específico. Vimos no caso dos EUA (Pope, 2000) e da Malásia (Pope et al, 2002),

propostas em que o principal elemento é a busca pela intervenção em espaços normalmente

relegados a segundo plano por políticas sociais, criando-se novas formas de atuação junto a

populações geralmente minoritárias ou discriminadas. O mesmo raciocínio aplica-se à

construção de modelos de orientação para executivos senior (Pope, 2000), ao outplacement

e outras práticas desenvolvidas nos últimos anos – dentro e fora do meio educacional –, nas

quais a orientação busca desempenhar um papel de destaque junto à sociedade.

Devido ao surgimento de novos paradigmas de trabalho, novas demandas pedem

um modelo de orientação que seja capaz de lidar com o indefinido e inesperado, onde há

uma grande impossibilidade de se traçar perspectivas futuras de curto, médio e longo prazo

pois os sujeitos têm pouca informação e quase nenhuma referência externa que os ajude a

elaborar seus planos de carreira – situações em que há um fator humano que passa por um

estado de insegurança pela total impossibilidade de se estabelecer regras de caráter

permanente.

No que diz respeito à necessidade de adequação de teorias e práticas para os

diferentes contextos de aplicação, Salazar-Clemeña (2002), Leong (2002), Tan (2002) e

outros autores, apontam para a crescente importância do processo de adaptação das

formulações ocidentais ao contexto específico dos países orientais sobretudo pela grande

diferença cultural entre ambos (afirmação que vale para qualquer tentativa de importação

de estudos elaborados em contextos diferentes daquele de sua aplicação). O mesmo se

aplica a contextos meno res, havendo a necessidade de se desenhar pesquisas que consigam
mapear as necessidades de diferentes regiões, a fim de que se possa promover a validação

de diferentes técnicas para tais locais. Ou seja, não se percebe dentro da ótica atual, a

tentativa de promoção de uma orientação universal, capaz de atender a todos os sujeitos em

todos os contextos, mas sim, de ações locais, que buscam uma prática apropriada ao

ambiente em que se desenvolvem.

4.3 - Questão central

A proposta dessa pesquisa resume-se à tentativa de compreender como o contexto

social, econômico, político e cultural influencia o campo da orientação e quais são as

mudanças que os modelos de organização social e econômica (e suas transições)

impuseram (e impõem) à Orientação Profissional.

A partir dos dados obtidos e das formulações apresentadas, acredita-se haver

evidência suficiente para embasar as seguintes afirmações:

1) A cada contexto específico verifica-se uma determinada forma de atuação

teórico/prática correspondente, composta por contribuições de diferentes campos da

Psicologia e de diversas áreas de produção científica, que proporciona uma leitura ótima a

respeito de sua organização social, cultural e econômica, reproduzindo, inevitavelmente,

parte dos valores de sua realidade nas práticas que propõe para atender às demandas de seu

contexto. Tomando os Estados Unidos como exemplo, embora tenha-se a crítica de Lent &

Worthington (1999), Blustein (1999) e Lent (1999), o modelo de atuação que os autores de

orientação propõem para o STWOA está permeado pelos valores diretivos da cultura

estadunidense e de sua tradição 51 .

51
Afirmação baseada na repetida afirmação pelas várias linhas teóricas de que o treino de habilidades é uma
das soluções principais para a questão da transição da escola para o mundo do trabalho.
2) A alteração fundamental que a constante transformação do meio sócio-

econômico impõe à orientação, é a mudança do modelo de ciência no qual esta se baseia.

Não necessariamente no sentido do modelo “perspectivista” ou de negação absoluta da

visão positivista, mas certamente para uma forma híbrida de pensamento, concebida a

partir de uma visão de mundo que prega a ponderação sobre as particularidades dos

diferentes contextos em que se pretende atuar.

De acordo com Koyré (1991, p.10),

A influência do pensamento científico e a visão do mundo por


ele determinada não se acha presente apenas nos sistemas que - como os
de Descartes e Leibniz -, abertamente, se apoiam na ciência, mas também
nas doutrinas - como é o caso das doutrinas místicas -, aparentemente
estranhas a qualquer preocupação desta natureza. O pensamento quando
formulado em sistema, implica uma imagem, ou melhor, uma concepção
de mundo, e se situa em relação a ela.

Ou seja, o pensamento científico do qual uma visão de mundo se vale está

intimamente associado ao contexto no qual o mesmo se desenvolve, posicionando-se frente

a ele e, por vezes, reproduzindo parte de seus valores através das práticas que delineia.

A partir do momento em que o modelo ortodoxo de positivismo, que correspondia

de maneira irrepreensível ao contexto da primeira metade do século XX, representa uma

visão de mundo que não mais se adequa à realidade vivenciada a partir das transformações

que se operam nos últimos 50 anos, um novo modelo de pensamento científico se faz

necessário para representar o novo contexto da complexidade. Novamente com Koyré

(1991, p.13), “É igualmente essencial integrar, na história de um pensamento científico, a

maneira como ele se compreendia a si mesmo e como se situava em relação ao que o

precedia e ao que o acompanhava”.


5 - Considerações finais

“Why does this magnificient applied science,

which saves work and makes life easier, bring us little

happiness ? The simple answer runs, because we have

not yet learned to make sensible use of it”.

(Albert Einstein, Address, 1931)

A partir do momento em que há uma concorrência entre diversos fatores na

determinação de cada contexto e um reconhecimento da necessidade de estudos

particulares para cada sociedade, a primeira constatação que se pode fazer é a de que não

há como simplesmente apontar uma prática em orientação como universalmente correta e

tentar aplica-la a diferentes contextos de forma direta.

O questionamento do valor de verdade de nossas próprias práticas é o cerne de um

trabalho dentro do atual contexto da complexidade, pois, a partir desta reflexão, sente-se a

necessidade de rediscutir-se e rever-se constantemente muitos dos conceitos e idéias dos

quais nos valemos como verdades, sobretudo pelo fato de, muitas vezes, lançarmos mão de

idéias imersas em pressupostos em relação aos quais supúnhamos propor uma crítica.

A necessidade (ou por vezes, a mera vontade) de encontrar respostas acaba por

gerar um posic ionamento ideológico dentro da questão estudada, qualquer que seja, como

se o caminho pensado pelo pesquisador fosse a verdade a ser atingida, levando o mesmo a

desconsiderar a hipótese de que os modelos propostos possam ser inadequados ao real ou,

mais ainda, apenas a tentativa de divulgação de crenças subjetivas como se fossem a

verdade; em outras palavras, ao propormos estudos, considerações teóricas ou mesmo


modelos de intervenção, devemos ter o cuidado de verificar se não estamos tratando apenas

de uma forma de fazer propaganda de uma determinada idéia ou mesmo buscando a

doutrinação dos sujeitos segundo nossa concepção do que venha a ser sua demanda.

5.1 - Limitações da proposta

Dentro do processo desenvolvido por esta pesquisa, podemos apontar duas grandes

limitações nos dados teóricos obtidos que merecem ser destacadas:

- a utilização de um número de países muito pequeno na composição da amostra;

- a utilização de países de uma mesma região na composição da amostra.

Os dois limites devem-se a um mesmo motivo: uma grande escassez de artigos a

respeito do desenvolvimento histórico da orientação em diferentes contextos nacionais.

Obteve-se um grande número de artigos sobre a como se encontra a orientação em

diferentes áreas (Oriente Médio, África, Ásia e América do Sul), contudo, referentes

apenas à avaliação de práticas em momentos específicos ou relativos a práticas

desenvolvidas em contextos específicos dentro de dado país.

5.2 - Perspectivas

Hoje é necessário entender a orientação como algo maior do que uma teoria da

escolha ou decisão e seu objetivo como mais amplo que a simples elucidação de escolhas.

Faz-se necessário repensar constantemente nossa interpretação das questões que permeiam

a relação entre a técnica e o mundo do trabalho e nossa atuação frente estas questões, com

bases sólidas sobre as quais possa pautar-se modelos de análise.

Assim, ao invés de se propor a discussão de diversas abordagens teóricas a fim de

apontarmos uma como melhor ou mais adequada, levanta-se com este trabalho a
necessidade de se discutir o pensamento científico que norteia nossa visão de orientação

enquanto um campo do conhecimento.

No entender deste trabalho, é esta busca pelo estabelecimento de um pensamento

científico que proporcione uma visão de mundo adequada à nossa realidade que permitirá a

compreensão do papel que se espera da orientação em cada sociedade e o papel que esta se

atribui. Apenas a partir do momento em que estes pontos ficam claros é que se julga

possível efetuar o passo seguinte, no sentido de promover o diálogo entre os resultados

obtidos em diferentes contextos a fim de se promover novos desenvolvimentos na área da

orientação como um todo.


6 - Referências bibliográficas

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