INSTITUTO DE PSICOLOGIA
MARCOS GATTI
SÃO PAULO
2006
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MARCOS GATTI
SÃO PAULO
2006
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Catalogação na publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
Gatti, Marcos.
Um estudo sobre as práticas de Orientação Profissional em
diferentes contextos/ Marcos Gatti; orientadora Yvette Piha Lehman. --
São Paulo, 2006.
124 p.
Dissertação (Mestrado – Programa de Pós-Graduação em
Psicologia. Área de Concentração: Psicologia Social) – Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo.
LB1027.5
FOLHA DE APROVAÇÃO
Marcos Gatti
Um estudo sobre as práticas de Orientação Profissional em diferentes contextos
Aprovado em:
Banca Examinadora
Instituição:_______________________ Assinatura:___________________________
Prof. Dr.:_____________________________________________________________
Instituição:_______________________ Assinatura:___________________________
Prof. Dr.:_____________________________________________________________
Instituição:_______________________ Assinatura:___________________________
DEDICATÓRIA
À Profa. Associada Yvette Piha Lehman, por ter- me recebido no programa de pós-
graduação, acompanhando-me durante todo percurso deste trabalho com muita paciência.
Aos professores que tanto me ensinaram nas disciplinas de pós-graduação: Prof. Dr. Ruy
Braga, Profa. Titular Myriam Krasilchik, Profa. Dra. Eda Tassara, Profa. Dra. Vera Paiva,
À Conceição e Fabiano, por sua presença constante, pelas conversas e pelo apoio nos
Ao João, amigo que agora está distante, pelas críticas, pelo suporte, mas, acima de tudo,
pela amizade.
À Patty, minha irmã do coração, por sua amizade e por tudo que as palavras não podem
expressar.
À Lilian, pelo seu carinho, companhia, paciência e apoio incondicional, pelas sugestões e
À Sônia, Fátima e Rô, por sempre estarem dispostas a resolver todos os problemas que
surgiram.
A todos que de alguma forma torceram e colaboraram com este trabalho e que o espaço
sua vida”.
Aware of the speed in which the changes in the structure of the distinct social economic
contexts of the last decades have happened, in order to deal with the new matters that
emerge from this reality – more complex each day, we are forced to wonder about the way
that the Vocational Guidance has followed the changing process. The reformulation of the
practices, as well as the development of theories, are guided by the attempt of acting in this
context, due to the impositions determined by it. When considering which these
impositions are, we come upon the fact that the changes as a consequence of such
impositions point at the limits of the Science vision that is present at a great number of
works developed by the Guidance in the second part of the 20th century. It’s observed that,
having its epistemological fundaments questioned by these impositions, in order to
maintain itself as a valid practice, there is the necessity for the Guidance to overcome old-
fashioned models, built on surpassed paradigms that are unable to act in the present reality,
in the direction of a new scientific thought and a new world vision.
1 - Introdução 12
2 - Revisão bibliográfica: contextos 17
2.1 - Contexto Global 19
2.1.1 - Transformações no mundo do trabalho 19
2.1.2 - Desafios à orientação 27
2.2 - Contextos locais 28
2.2.1 - Austrália 28
2.2.2 - China 31
2.2.3 - Cingapura 38
2.2.4 - Estados Unidos 42
2.2.5 - Filipinas 48
2.2.6 - Hong Kong 52
2.2.7 - Japão 57
2.2.8 - Malásia 60
2.2.9 - Portugal 65
2.2.10 - Taiwan 68
2.3 - Brasil: passado e presente 73
2.4 - Síntese 80
2.4.1 - Características comuns 81
2.4.2 - Características específicas 82
3 - Questionamentos em orientação 84
3.1 - Definição clássica 88
3.2 - Por um novo conceito 91
3.2.1 - Por um conceito de trabalho 93
3.2.1.1 - Labor 94
3.2.1.2 - Work 95
3.2.1.3 - Ação 96
3.2.1.3.1 - A técnica e o trabalho 98
3.2.2 - Comportamento vocacional 100
3.2.3 - Objetivos 101
3.2.4 - Sujeitos da orientação 102
4 - Em busca de respostas 104
4.1 - Questões epistemológicas 104
4.1.1 - A dicotomia teoria x prática 104
4.1.2 - Psicologia Vocacional x Psicologia 106
4.1.3 - Aconselhamento e psicoterapia 107
4.1.4 - A pesquisa em Psicologia Vocacional 108
4.1.5 - Convergência e divergência 110
4.2 - Enfrentando desafios 112
4.3 - Questão central 114
5 - Considerações finais 116
5.1 - Limitações da proposta 117
5.2 - Perspectivas 117
6 – Referências bibliográficas 119
1 - Introdução
arcaísmo”.
É comum nos dias de hoje, encontrarmos muitos jovens que nunca passaram pelo
"longo" processo de escrever e enviar uma carta e depois aguardar por uma resposta que,
por vezes, graças a inúmeros fatores, poderia não chegar. Quase todos não conseguem se
imaginar num mundo sem emails e internet. Mais interessante, não conseguem imaginar o
meio de formas híbridas, dentro de um modelo de sociedade que não lhes prevê espaço
de tudo por meio de seus funcionários. O padeiro moderno aperta os botões de sua
máquina, sem saber ao certo o que e como a mesma está fazendo o pão: as profissões
perdem as características pelas quais forneciam apoio na estruturação da identidade dos
sociedade 1 na qual o trabalho ocupa, na vida das pessoas, um lugar muito distinto do
conhecido hoje. O trabalho, a ocupação, o ofício são tanto, senão mais, um reflexo e uma
reafirmação dos papéis sociais das pessoas quanto um meio de sustentação financeira. Na
pela família e pelo lar (feminino), valores de influência nitidamente religiosa. Há poucas
manifestou-se com relação ao trabalho feminino nas minas.” (Hall, 1992, p.81).
proletárias, para quem algumas formas de trabalho ainda seriam aceitáveis, ao contrário
das mulheres pertencentes à burguesia, para as quais não há forma de trabalho bem visto
pela sociedade) é aquele que se revelaria como prolongamento de seu papel feminino.
começa a emergir, ainda que de forma tímida, em conjunto com os grandes capitalistas
industriais.
sociais começa um longo processo de transformação. Aos poucos perde seus elementos
tradicionais e começa a ser absorvido como apenas mais uma peça dentro de uma
1
Considera-se, neste ponto, a sociedade européia do séc. XIX como sinônimo de sociedade.
organização social que começa a redesenhar-se a fim de atender as novas demandas do
outros fatores.
A respeito desta transição para um modelo capitalista mais agressivo, Campos Silva
estruturas que mais tarde possibilitarão ao capital desenvolver formas mais eficientes de se
sociais consegue perdurar por mais algumas décadas, até o final do século XIX, apenas
pela força do conhecimento dos ofícios por parte dos operários 2 , finalmente sucumbindo
quando os capitalistas conseguem driblar este recurso 3 e impor o domínio do capital sobre
o saber. O sujeito passa a ser apenas mais um fator dentro do processo produtivo e deve
2
O que lhes proporcionava algum poder de barganha com o capitalista e controle do processo de produção
industrial.
3
Através de recursos como a terceirização e a organização científica do trabalho.
Este modo pelo qual se regula o trabalho persiste, de forma relativamente estáve l,
até meados da década de 1970. As crises desta década (em nível mundial), as grandes
transição. Como conseqüência, a forma pela qual o trabalho é visto e interpretado pela
tenhamos uma descrição consistente do modelo sócio-econômico vigente 4 , por mais que o
papel econômico do trabalho seja bem conhecido, aparentemente o lugar e o sentido que o
trabalho ocupa na vida das pessoas ainda permanecem, de alguma forma, obscuros. Pode-
engrenagem do capital, a partir deste momento, é o próprio trabalho que passa a ser
1998, p.XX), sem a existência de momentos semelhantes em nossa história sobre os quais
Dados que, segundo esta autora, apontam para os limites do atual modo de
regulação e distribuição das riquezas, pois seria inadmissível considerar que o ser humano
apenas está em vigor pelo medo que desperta a inexistência de saídas que preservem
4
A Sociologia Econômica fornece vários estudos, de diferentes escolas, sobre o assunto, como podemos
conferir em Amin (1994).
aspectos fundamentais do paradigma atual, e ao mesmo tempo que solucionem as grandes
Orientação Profissional ?
De acordo com Campos Silva (2001, p.87), quando a autora se remete à situação
propostas formuladas por Parsons 5 , de acordo com a idéia de “homem certo no lugar certo”
aparentam simplicidade ou, talvez, ingenuidade, pois em muitas propostas atuais 6 ainda
5
Para muitos, o “pai” da Orientação Profissional. Primeiro a ter trabalhos publicados sobre o tema,
na primeira década do século XX.
6
Fato evidente nas propostas das teorias de traço-fator, como em Swanson & Fouad (1999).
podemos notar o cunho adaptativo presente, mesmo cientes de que o cenário atual
Por mais que se questione ou critique a postura pregada por Parsons e por muitos
outros autores que defendem idéias semelhantes, ou mesma a proposta de dadas teorias, o
acompanha este processo de mudança, a fim de poder lidar com as novas questões que
emergem desta realidade cada vez mais complexa, reformulando tanto sua prática como o
desafios que este coloca para a orientação e as práticas desenvolvidas em diversos países
do mundo, como forma de estabelecer uma base comparativa com os dados sobre da
Pope (2000), traz-nos, após uma profunda pesquisa dos trabalhos de Savickas,
grandes transições sociais que ocorrem em um determinado contexto durante sua história e
Se a afirmação de Pope (2000) estiver correta, é de se esperar que uma análise das
transformações a que está sujeita uma dada sociedade, tanto por conta de variáveis
estado, mudança de moeda), nos traga dados relevantes sobre como as demandas de cada
sujeitas determinadas sociedades, inicialmente faremos uma breve exposição das grandes
mudanças macroeconômicas a que todos os países foram sujeitados durante o século XX.
Assim, poderemos estabelecer qua is as influências de nível global a que as
fatores específicos de cada cultura e a forma pela qual esta se relaciona com os fatores
externos a ela, se fundem na constituição das demandas de seus sujeitos. Tais dados serão
orientação desenvolveu-se no nosso país. Finalmente, teremos uma síntese que busca
proporcionou a estes países ao longo dos anos. No caso brasileiro, foi selecionado um
sociologia industrial.
o objetivo maior da relação entre mestre e aprendiz era o ensino de um ofício em vez de
partir desse momento, o homem passa a utilizar a palavra trabalho como sinônimo de
aplicações vão ocorrendo para além dos teares. Em 1787, inicia-se a utilização das novas
tecnologias nos navios e, em 1805, surgem as locomotivas movidas pela força das
máquinas.
trabalho no qual ainda persistiam muitos operários que dominavam completamente seus
ofícios e conseguiam impor o seu ritmo ao processo produtivo, mas que se encontravam de
alguma forma sujeitados aos donos das máquinas (e, conseqüentemente, do capital), pois
como o motor de combustão interna e o telefone, entre outras tecnologias, modificam ainda
mais as relações com o tempo e espaço, não apenas no sentido de expansão ao redor do
ganha um grande aliado a partir das formulações de Taylor, que propôs ganhos
de tempo vem dissolver, cada vez mais, o aspecto humano presente na relação sujeito-
trabalho, tratando o sujeito mais como extensão do maquinário do que como ser humano:
“O que o trabalhador vende e o que o capitalista compra não é uma quantidade contratada
de trabalho, mas a força para trabalhar por um período contratado de tempo 8 ” (Braverman,
1981, p.56).
Isso quer dizer que antes mesmo do advento do Fordismo e suas revoluções no
comparável àquela dos mineiros observados por Engels (1975). Segundo Coriat (1988, p.
7
Grifo do autor
8
idem
recursos de controle subjetivo do processo em prol da produtividade. Segundo o autor, tais
produção.
(1994, pp. 9-10) temos subsídios para esboçar uma definição acerca do que viria a ser o
seguintes elementos:
Pode-se dizer que esses preceitos acarretam muito mais do que o simples aumento
industrial, poderíamos afirmar que não só a economia foi reestruturada, mas também
soluções distintas daquelas que o modelo poderia oferecer. Nielsen (apud Amin, 1994,
p.10), cita quatro fatores que julga principais e que, segundo sua análise, apontavam para
9
Grifo nosso.
uma provável mudança no modo de produção. Com graus de importância distintas em
gerenciamento econômico;
Já Antunes (apud Uvaldo, 2002, pp.10-11) aponta seis fatores como responsáveis
autonomia do capital, uma retomada da antiga política liberal, devidamente repensada para
paralelamente no Japão desde a década de 40, como opção para reconstrução do país após
“toyotismo/modelo japonês”.
Contudo, Castells (1999) e Trigilia (2002) apontam para um fato muito importante:
dois grandes blocos de funcionamento que se valem de estratégias muito distintas no que
(por exemp lo, a forma de regulação do setor de serviços dentro de cada vertente). Grosso
modo, poder-se-ia dizer que o modelo a mais se aproximar da política neoliberal é aquele
praticado pelo bloco ocidental, tendo o modelo oriental mantido algumas características
necessário ter em mente que, ao falar em modelo japonês (ou toyotismo), estaremos
estrutura ocupacional”.
10
Tradução do autor.
Ou seja, podemos apontar o processo desencadeado na década de 70 como uma
relação entre sujeitos e o mundo do trabalho, ao passo que a globalização ocupa um lugar
da geração de capital das indústrias, sobretudo para o setor de serviços, aponta para um
ser pré-requisitos.
da mão-de-obra dispensada das indústrias pela nova área de serviços, um fato que tende a
11
Ver Lazzarato, M; Negri, A. Trabalho Imaterial. Rio de Janeiro, DP&A, 2001.
12
Ver Galvão, Silva e Cocco (orgs.). Capitalismo Cognitivo. Rio de Janeiro, DP&A, 2003.
13
A precarização é apontada em termos de terceirização, trabalho autônomo e parcial, e não
necessariamente condições de exploração física maiores.
cada vez mais reduzido, o que limita as possibilidades de recolocação desses
trabalhadores 14 .
b) Flexibilização
Fragmenta-se uma mesma categoria por meio da mudança na relação entre empresa
e cada um dos funcionários. Não há mais como coletivizar determinadas lutas, pois a causa
defendida não diz respeito a todos, mas, muitas vezes, os próprios colegas tornam-se
supervisores uns dos outros por conta da organização em células polivalentes e auto-
reguladoras.
c) Regras ilegíveis
14
Tomemos por exemplo as descricões levantadas por Guimarães (2004) a título
de ilustração.
Como é possível observar, a partir das citações acima, a insegurança é a chave de
um novo modelo de relação com o trabalho. Manter-se a ilegibilidade das regras é uma das
? A existência de novos espaços sociais em crise, o que nos leva a buscar novas
novas populações;
aplicação;
tecnologia sem criação de novos postos em outras áreas, gerando uma massa de
sujeitos têm pouca informação e quase nenhuma referência externa que os ajude
? A própria noção de carreira perde parte de seu sentido clássico, pedindo novas
2.2.1 - Austrália15
obrigados a fazer suas escolhas para o ingresso no ensino terciário, equivalente ao Ensino
Superior brasileiro.
para admissão nas faculdades. Os sujeitos das amostras pesquisadas são residentes do
para alunos que estão saindo da escola secundária ou que já estão cursando ensino superior,
15
Dados obtidos a partir de Hesketh (1998).
A maioria das escolas utiliza orientadores que têm sua formação voltada para o
ensino, e não para o aconselhamento. O treinamento fornecido pelo Estado varia conforme
para o Ensino Superior junto com ações no sentido de auxiliar o sujeito na transição da
escola para o mundo do trabalho. Poucos profissionais envolvidos nessas ações são
psicólogos, o que significa pouca utilização de testes. Por conta dessa população de
Smart (1998), a teoria dos estágios proposta por Super (1963), apesar de criticada por
Nesses locais, o grupo de profissionais conta com pessoas habilitadas em Ciências Sociais
Internet.
embora esses tenham sido radicalmente diminuídos e reestruturados nos últimos 10 anos.
anterior às reestruturações.
Os serviços oferecidos aos desempregados, sobretudo os programas de treinamento,
Devido à atuação limitada, nota-se uma concorrência muito forte entre os serviços
remediar os muitos anos de desigualdade, cada vez mais acentuada, a que esta parte da
consultorias.
2.2.2 - China16
Na nova era emergente, há a promoção de uma nova economia que traz uma
pacífico. A China, hoje, passa por uma total reformulação não só em sua abordagem
econômica, mas também na sua organização social, com a nova economia de mercado
O aconselhamento de carreira na China, por mais visionários que tenham sido seus
emprego chinês.
carreira é definida pelo estado. Atualmente, os estudantes são responsáveis pela busca de
governo para o modelo orientado pelo mercado. Da garantia vitalícia de emprego, passa-se
16
Dados obtidos a partir de Zhang, Hu & Pope (2002).
de empregos. Também há mudança no modelo familiar, de uma situação altamente
hierárquica, em que as ordens eram esperadas e obedecidas, para um modo mais livre e
estilos de vida requerem uma necessidade crítica de orientação para que os jovens possam
Nas primeiras décadas do século XX, buscava-se na China uma educação mais
vocacional estadunidense.
1917. Seu manifesto prevê uma educação que resolveria diretamente os problemas de
em seus trabalhos.
Orientação Vocacional.
orientação vocacional por uma educação de cunho político e ideológico. Nos anos 50, as
Durante a Revolução Cultural, todos aqueles que deixaram a escola vão para o
apenas através do trabalho pesado em áreas rurais pobres, os jovens poderiam mudar as
ideologias da velha escola e construir sua visão de mundo. Durante esse período, ocorre o
Orientação de Carreira.
universidades. O trabalho rural obrigatório cessa e a demanda por orientação nas cidades
liberdade total, pois, depois de efetuada uma escolha, a mesma deveria ser mantida o resto
da vida, visto que mudanças não seriam permitidas. Assim, pode-se dizer que não há
Aconselhamento de Carreira.
Aconselhamento de Carreira.
publicada sob forma de livro-texto, adotado como material de referência. A partir de 1993,
da Província Guangdong.
promovem palestras patrocinadas pelo estado. Passam cerca de 2 semanas falando sobre
contratar empregados qualificados, promover condições para que todos possam ser
orientação, com informação de carreiras baseadas na world wide web. Em 1998, são
sociedade chinesa;
2.2.3 - Cingapura17
quisesse sustentar suas pretensões de manter-se competitiva, pois não dispõe de recursos
naturais para tal. Com a crescente preocupação pelo desconhecimento dos dados a respeito
tarefa” com o objetivo de voltar sua atenção à orientação de carreira (career guidance) nas
escolas, a fim de desenvolver uma proposta visando a futura força de trabalho, tanto no que
17
Dados obtidos a partir de Tan (1998) e Tan (2002).
O primeiro projeto é o de identificar os problemas e necessidades da área da
orientação de carreiras. A pesquisa aponta que cerca de 95% dos estudantes não recebem
forma alguma de orientação de carreira, com mais de 60% clamando uma necessidade
Gottfredson têm seus pressupostos teóricos verificados e tido como válidos para a
população local.
orientação profissional encontrava-se nos anos 80, esse não fora considerado um dado
surpreendente.
ainda em um estágio muito primário em Singapura. De qualquer forma, apesar de ser uma
área cujo início dá-se nos anos 80, progressos consideráveis foram atingidos. A pesquisa
nacional sobre necessidades, é uma ação pioneira e incita pesquisas em duas faculdades.
estrangeiro.
a evolução do próprio sistema escolar. A partir da década de 60, o contexto local está
direcionado à construção de uma bagagem cultural para sua população. A escola encontra-
se voltada para questões vitais. Nesta situação, o treino vocacional é muito mais enfatizado
Unidade e buscar os livretos, que serão dispostos em prateleiras nas escolas como recurso
para os alunos.
- sabe-se como utilizar a informação uma vez que esta fosse encontrada?
O fato é que, sem o incentivo dos professores, não há busca por informações. A
suficiente.
nas escolas. Daí a não surpresa com o dado de que os jovens apontam o material impresso
Inglaterra, efetua um discurso em que fica evidenciado que o sistema escolar, nas palavras
do ministro, dá conta da formação dos alunos no aspecto acadêmico, mas que fica em falta
1988 a 1993, as iniciativas são disseminadas nas escolas secundárias como um programa
as escolas.
Embora instalados em meados dos anos 90, os serviços são mais direcionados à
educação para carreiras do que à orientação de carreiras, com bases sociais, políticas e
culturais para tal direcionamento. Em Singapura, há uma valorização dos feitos acadêmicos
como em muitos locais da Ásia. Politicamente, isso deve-se à obrigatoriedade dos homens
servirem o serviço militar por dois anos e meio ao completar 18 anos, o que complica o
escolas. Esse programa não foca apenas o desenvolvimento acadêmico, mas também o
proposto pela Pastoral Care and Career Guidance. O ACE propõe-se a desenvolver
"indivíduos bem equilibrados que são capazes de encarar os desafios, gerenciar mudanças,
- eficiência pessoal;
- eficiência interpessoal;
- aprendizagem efetiva;
integração. A partir do meio dos anos 90, a orientação passa a ser dividida entre os
a ser visto não como expert com todas as respostas, mas como facilitador de um processo
- visitas a indústrias;
tanto para empregados como para empregadores e manter sempre em foco a necessidade de
uma constante revisão dos conceitos utilizados, numa tentativa de manter-se em sintonia
futuro. O século XXI pede a capacidade para lidar-se com constantes mudanças; a
orientação de carreira tem papel fundamental na preparação dos sujeitos para tal tarefa.
social destes países. No quadro estadunidense, durante seu processo de evolução das
primeiras formas de orientação, no final do século XIX, para os modelos atuais, opta-se
inclusive por uma mudança nos termos que designam a área, substituindo-se o termo
18
Dados obtidos a partir de Pope (2000).
carreira” (career guidance / career counseling). Esse longo processo pode ser dividido em
seis estágios.
XIX, durante o período de transição para o século XX. A época em questão é marcada pela
perda de postos de trabalho no setor agrícola, com forte aumento da demanda por
urbanização do país. Para agravar a situação, ainda conta-se com o retorno de veteranos da
observação e coleta de dados sobre habilidades de cada sujeito e pareamento destas com as
Nesse estágio, é relevante citar a crescente participação dos testes psicológicos, que
aconselhamento educacional como uma das soluções necessárias para se reverter a situação
de crise e assim, solidifica-se com ela o papel da orientação profissional nas escolas. O
escolas.
Orientação Vocacional".
e resultado de uma nova transição social engendrada pelo fim da Segunda Guerra e pelo
estadunidense de que os Estados Unidos estariam muito à frente de todos os outros países
em termos tecnológicos. Esse golpe gera uma corrida interna em ciências e matemática,
Organizacional.
Vietnã e o sucesso econômico acabam por criar uma geração com novas visões sobre as
em educação vocacional para avaliar a situação corrente. Esses trazem um relatório citando
aconselhamento" (US Department of Health, Education and Welfare, 1963, p.213). Suas
- reabilitação vocacional para aqueles que tivessem uma disparidade na sua vida
Recolocação.
Com o declínio econômico dos anos 70, começa o quinto estágio de transição para
informacional.
modalidade, chamada recolocação (outplacement). Esse é o termo usado para a prática que
uma companhia promove no sentido de obter ganhos econômicos (downsizing). Essa nova
tecnologia;
No final dos anos 80 e início dos anos 90, o aconselhamento está em expansão em
trabalho da forma que for possível, o que varia muito de acordo com cada situação. Cria-se
uma política de alocação rápida, o trabalho em primeiro lugar (work first action), ao qual
políticas federais. Há um interesse em carreiras para toda vida (life span). Desenvolvem-se
qualquer lugar, permite aos orientadores prover serviços via Internet e telefone como
também abrir mercados em outros paises. Com a dissolução da URSS, a abertura da China
práticas para outros países. Da mesma forma, inicia-se de forma substancial a colaboração
e orientação carrega vários traços da influência estadunidense. Da mesma forma que nos
várias possibilidades de emprego geradas por um período em que o país vive como colônia
dos EUA.
19
Dados obtidos a partir de Salazar-Clemeña (2002).
Segundo Período (1935-1945): Serviço de Orientação e Aconselhamento nas
Escolas.
dos orientadores apontados pelo sistema. Apenas em 1945, um ano antes da independência,
Unidos. Durante o período de 1941 a 1945, o país fica sujeito à ocupação japonesa, de
Profissionais.
Carreira.
passos iniciais:
São usados métodos e conceitos locais na construção dos testes. Muito do material
treino formal em cursos de graduação tem início baseando-se no modelo dos Estados
Unidos.
período ditatorial deixa como legado, uma moeda supervalorizada, o que acarreta
Carreira.
populacional.
Colônia britânica até 1997, passa para o domínio Chinês após esta data. Tem um
garantir o desenvolvimento de Hong Kong. A partir desse momento, mais esforços são
públicas e escolares para que se garanta uma vaga na universidade. São 9 anos de ensino
secundário optativo (com 80% de continuidade dos alunos do ensino obrigatório). Apenas
20% seguem no pré- universitário, dos quais apenas a metade realmente ingressa no curso
regular. Aos não aceitos, há pocuas alternativas: podem tentar novamente os exames ou
20
Dados obtidos a partir de Leung (2002).
Com o advento em massa de chineses fugindo do regime comunista em 1949,
processo de expansão durante os anos 70 e 80. Hoje, a maioria das escolas secundárias
conta com um time de 3 ou 4 professores orientadores, liderados por um sênior, que leva o
(Leung, 1999), a maioria das escolas apóia-se em programas de larga escala, como
locais ou escritórios específicos, o que advém do fato do currículo escolar não permitir que
se integrem muitas atividades ao programa de carreiras pela falta de horários para tal.
orientação de carreira não são prioridade, basicamente pelo período em questão manter
separadas.
subsidiadas, prevendo a crise que adviria da migração de profissionais para fora do país
universidades. Não há mais empregos à espera. Os serviços de carreira passam a ter uma
center) passam a ser centros de educação para carreiras e de treino de habilidades para a
vida (career education e lifeskills training), com a proposta de se equipar os alunos para o
intervalo de uma vida e não apenas para um período dela. Os programas de carreira passam
a ser encarados como uma necessidade, como se fossem um aspecto compulsório e não
mais algo opcional. Os serviços passam a ter o papel de agentes de mudança através de seu
treinados e capacitados. Considera-se que muitos profissionais talvez não tenham estrutura
décadas de 1970 e 80, devido ao contexto sócio-cultural desse período, sua atuação é mais
voltada ao amparo àqueles que buscam empregos, por meio de informação ocupacional e
aconselhamento formal.
aumenta muito. Inicialmente, com operários sem colocação devido ao declínio das
indústrias de manufatura, aos quais, é oferecido um re-treina mento por intermédio das
habilidades para a carreira, para a busca de trabalho e para a vida (career skills, life skills e
constantes transformações, espera-se que a demanda por tais serviços aumente ainda mais.
cultura local a fim de torná-las realmente aplicáveis e úteis. Os pontos principais que
relacionamento de longo prazo com tais escolhas que não existe na cultura ocidental;
- coletivismo x individualismo: a cultura oriental é mais voltada para a postura
educação têm andado por caminhos diferentes devido ao sistema educacional em vigor,
que enfatiza provas finais. Não há um movimento que busque preencher o vazio entre
escola e trabalho. Cria-se uma necessidade de preencher tal falha na orientação, fato que os
validade dos resultados para a população local e diferença da estrutura ocupacional local da
promovidas por atividades de orientação poderiam ser resumidas nos seguintes tópicos:
- informação;
- workshops ou aulas;
- aconselhamento em grupo;
- aconselhamento individual.
atividades auto dirigidas, sobretudo por conta da limitação na formação dos profissionais.
casos necessitam.
2.2.7 - Japão21
das razões podem ser atribuídas ao atual sistema de colocação profissional das escolas,
bem como aos sistemas de orientação de carreira das empresas. Cerca de 30% dos
graduados entrevistados afirmam ter escolhido determinado trabalho porque "o orientador
Embora conte com uma estrutura de serviços limitada, o Japão apresenta números
preocupantes, pois aumenta a cada ano o número de pessoas que se demitem de seus
21
Dados obtidos a partir de Tatsuno (2002).
Nas universidades, a orientação começa no terceiro ano. Numa aula, os
encarregados da alocação de vagas fornecem aos jovens uma visão geral do mundo do
padronizados para o Japão com dados coletados junto a populações japonesas. Há testes de
semelhantes pelas companhias, o uso de tais ferramentas em orientação acaba visto como
ele.
porque
com base em sua ficha acadêmica em vez de considerar seu interesse ocupacional. Tal
sistema leva o jovem a uma escolha com base em melhores salários, prestígio ou mesmo
dos jovens.
organização para um novo sistema gerencial, que visa a inclusão de todos no processo de
tomada de decisões estratégicas. Propõe-se uma avaliação dos funcionários por um sistema
tradicional:
de cada empresa;
da indústria.
e as companhias colocam uma ênfase nas competências dos empregados" (Tatsuno, 2002,
p.215).
Tão vaga quanto sua definição de aconselhamento de carreira, são as exigências dos
algumas faculdades. Isso é estranho porque esse é o profissional que promove atividades
adultos e jovens.
2.2.8 - Malásia22
escolar, e não no sistema de saúde mental e, atualmente, encontra-se ligada também aos
forma pela qual a orientação construiu sua contribuição nesse contexto, é necessário
rotas comerciais via mar entre Europa e Ásia. Por conta disso, vem a passar por várias
22
Dados obtidos a partir de Pope et al.(2002).
ocupações tendo os ingleses nela se estabelecido por último. A partir do controle
estabelecido por esses, os estados, outrora independentes, são reunidos sob o governo
britânico. A Segunda Guerra é o início do fim das relações coloniais entre os dois países,
monarquia constitucional com eleições a cada quatro anos, sendo escolhido um entre nove
sultões.
O país é marcado por grande diversidade cultural, religiosa e étnica. A língua atual
apenas no nível superior de ensino. Esse resgate dá-se com o advento do governo
fundamentalista islâmico que tem as idéias ocidentais declaradas como sendo más e vale-se
dos malaios. O único revés dessa postura é o crescente afastamento do meio internacional,
têm influência britânica, enquanto o ensino superior apresenta uma nota estadunidense. São
seis anos de ensino fundamental seguidos de seis anos de ensino secundário, com seu sexto
ano considerado uma preparação para aque les interessados em dar seqüência ao nível
superior. Os melhores estudantes ganham todo suporte e incentivo (com base em notas
nação, pois há uma forte tradição de valorizar-se o ensino superior, não só na Malásia,
gerenciamento e outras práticas comuns no ocidente, podem existir no país apenas após
estadunidense – como já fora mencionado –, esta vem a ser redesenhada a fim de levar em
conta os aspectos da cultura malaia. Pope (1999) identifica diferenças entre as culturas
trabalhados que podem ser mais proveitosos para culturas coletivistas. Uma das propostas é
estender o trabalho de orie ntação à família e não o manter circunscrito à esfera do sujeito
devido a grande ênfase dada à instituição família. Outro fator importante é remeter-se de
forma adequada aos valores religiosos e filosóficos por conta do grande peso que carregam
na cultura local.
às suas salas. Esses professores desenvolvem estudos adicionais na faculdade para além do
que outrora era desenvolvido apenas pela família. Atualmente, existe o grau específico em
A história da orientação malaia pode ser dividida em 3 estágios bem distintos. São
eles:
Primeiro Estágio (1957-1969): Início da Orientação Vocacional.
partida dos ingleses em 1957, o país começa a espelhar as mudanças que se desenham no
com os grandes conflitos entre Malaios e Chineses em 1969, sobre quem deveria controlar
o país. Contudo, a transição citada, em que os malaios finalmente passam a ter controle
principal do período.
Com o advento dos avanços tecnológicos que atingiram o mundo, de uma primeira
vontade, num segundo processo de transição que culmina na fusão entre orientação de
se vê em uma nova recessão em 1998, o que acaba por derrubar o ânimo do grande número
mudanças negativas que pressagiam um novo momento de grande crescimento para a área
da orientação de carreira, pois essa é chamada para auxiliar esses estudantes a atingir seus
sonhos.
nos postos de trabalho e insatisfação no trabalho. Por conta disso, o setor está frente a uma
crescente popularidade entre clientes tanto nas escolas como nas empresas.
2.2.9 - Portugal23
Na opinião dos autores, a teoria e a prática em orient ação não devem ser vistas
apenas como empreendimentos científicos, mas sim, como uma prática arraigada em uma
rede cultural que deve ser entendida dentro do contexto de evolução histórica de uma
sociedade, numa abordagem muito próxima à proposta por Pope (2000), o que
a vida toda (lifelong education and training). Na sua opinião (opinião de quem?), o
cidadania ou responsabilidade social, valores que deveriam ser passados pela educação,
família e pelos orientadores em conjunto. Dada a possível cisão entre valores da família e
importância da política.
aprendizagem durante toda vida (lifelong learning), adotada pelo conselho de ministros da
União Européia em 1995. É um conceito que se refere ao processo pelo qual a contínua
23
Dados obtidos a partir de Santos & Ferreira (1998).
Dessa forma, as práticas em orientação não são concebidas apenas para os
econômico de Portugal. O país está num processo de migração de uma situação em que
havia uma estrutura basicamente rural (agricultura e economia de produtos feitos à mão)
surgimento de novos perfis vocacionais, contrários a esse contexto. A colisão entre valores
e estilos de vida dos jovens com o chamado estilo ‘clássico’ apresenta-se como verdadeiro
desafio à orientação.
No momento, o quadro encontra-se mais complexo por conta das mudanças nos
quadros político, social e cultural, o que pede um novo desenho dos serviços de
passarem do modelo fascista para um modelo livre, onde a complexidade das decisões teve
onde outrora havia apenas a família são alguns dos fatores a contribuir para a
substituído pelo ciclo de mudanças do meio industrial, resultando em mais alterações para
equipe, aumento da distância para o emprego e do trabalho orientado por metas. Estão em
habilidade para negociar mudanças, juntamente com uma capacidade para transferir
competências de uma configuração para a outra. Esse é o cenário que coloca os atuais
Santos & Ferreira (1998) colocam perguntas como “Será que damos conta da atual
para o futuro. Com elas, vem o questionamento sobre o que a orientação pode oferecer a
trabalho onde o ajustamento lógico é menos prevalecente e impera uma lógica que não é a
do sujeito.
A Orientação Vocacional no ensino médio (e posterior) precisa focar-se em
cada um, aprender sobre o mundo do trabalho, sobre o ego que procura afirmar o si -
construir seus significados pessoais de trabalho. Uma atuação que, em muitos casos, soa
nas competências básicas demandadas pelo processo de produção e pelo setor de serviços,
2.2.10 - Taiwan24
24
Dados obtidos a partir de Chang (2002).
contexto social. Isto é especialmente verdadeiro nas culturas chinesas.
(Chang, 2002, p.218)
sociais nos últimos 40 anos. Até o momento, não há uma associação oficial de orientadores
nem uma publicação oficial sobre o tema. De qualquer forma, a orientação é uma prática
importante em Taiwan.
sofre mudanças. Hoje, Taiwan encara uma diminuição nas vagas de trabalho, alto custo da
para um futuro próximo uma sociedade muito mais orientada pelo modelo informacional,
para fugir da fome. Agora, trabalham para sustentar dietas mais caras.
distintos:
1980).
No final dos anos 50, a iniciativa privada cria escritórios onde as pessoas poderiam
achar vagas de trabalho. Como o tratamento não é igualitário, o governo cria o primeiro
centro vocacional em Taipei em 1956, para regular as agências de emprego. A proposta era
1966 para oferecer serviços vocacionais focando sua atuação (ajuda com currículos,
carreira são educados nos Estados Unidos. Após seu retorno, tornam-se professores de
nos dias de hoje. Nas escolas, a orientação vocacional torna-se orientação de carreira e
presente)
Essa agenda não tem sido efetiva na orientação dos estudantes. A avaliação da
qualidade de vida, problemas de meio de carreira, atividades de lazer, entre outros, indicam
individual, testagem psicológica e outros serviços similares. Não há avaliação sobre seus
resultados ainda.
- lifelong learning;
- providencia de auxílio à mulher e família;
cuidado de levar este fator relevante em conta. O foco individualista e auto-centrado das
abordagens ocidentais tornam tais teorias possíveis geradoras de conflitos entre os sujeitos
taiwaneses e seus valores tradicionais. Essa possível crise de valores é um dos pontos
Super (1963), as propostas de Holland (1981) e Krumboltz (1979) são todas consideradas
sem uma validação adequada, normas locais ou ambos. Ser sujeito de testes é algo
tradicional à cultura local, onde os sujeitos passam por séries de testes durante toda sua
vida. Dessa forma, os taiwaneses aguardam pelos resultados com grande expectativa; o
profissional deve ter instrumentos adequados à mão para proporcionar um teste adequado
Os testes eletrônicos estão sob avaliação por receio de superexposição, por algumas
lidar com essas questões e encarar o desafio de auxiliar o sujeito a planejar para a
mudança. "Quanto mais balanceada for nossa abordagem de mundo do trabalho ao longo
várias sociedades, seja no ocidente ou nos países asiáticos" (Chang, 2002, p.223). Esse é
apenas o ponto de partida para que os orientadores "pensem sobre o que é realmente
trabalhos de Lopes (1964) e Rodrigues (1966) onde temos uma bela ilustração dos
geração operária do país. Esta se dá a partir dos migrantes da zona rural em conjunto com
habitantes da região urbana provenientes de outras áreas que não apenas o setor primário.
Mottez (1973) fazem outra bela descrição de uma experiência muito semelhante sobre o
às empresas apenas enquanto mantém a esperança de juntar capital suficiente para fundar o
próprio negócio ou para poder partir em busca de outros objetivos, sem interesse ou
Embora a situação seja mais complexa e abranja mais variáveis, o mais importante nesse
indústria, mas sim de buscar uma condição que possibilite um suposto lastro financeiro e
profissional através do qual se torna possível partir para outros projetos pessoais.
É apenas a partir da segunda geração de trabalhadores, já perto do final dos anos
60, os “filhos” daquela primeira geração de operários, que se forma algum sentimento de
identidade entre a classe trabalhadora e o meio industrial. Essa mudança pode ser
trazidas por Maroni (1982) acerca das greves de maio de 1978. Em todos os relatos
abrangidos, o que se nota é uma cumplicidade entre os atores da classe operária, mesmo
ordem financeira. Ou seja, o maior laço de união da classe ainda é o aspecto econômico.
Mas, mesmo que de forma incipiente, cria-se a base das carreiras operárias industriais.
importações. Mesmo ciente de sua fragilidade, o país pratica a abertura das importações
logo no início dos anos 90, promovendo uma completa desestruturação do mercado
alguma forma indefinido ainda nos dias de hoje. Mordenizam-se as multinacionais, gera-se
o processo de falência de grande número de indústrias pequenas e médias que não podem
por outras sociedades ao redor do mundo. Contudo, o fundamental em toda essa construção
é o resgate do que é citado já pelos primeiros autores da área: tanto Lopes (1964) como
Martins (1966), e mesmo Touraine e Mottez (1973), frisam constantemente que não há
uma linearidade obrigatória nos caminhos impostos pelo capital, portanto, também não
podemos esperar que a vivência das transformações seja semelhante nos diferentes
resposta a elas; como se trata de uma situação determinada por cada contexto nacional (ou
regional) de acordo com a forma pela qual o mesmo situa-se dentro do cenário global, isso
lugares e também uma demanda de estudos e modelos de intervenção específicos para cada
um deles. Como mencionam Leung (2002) e Chang (2002), não é suficiente, nem
adequados.
Pimenta & Kawashita (1986), cujos dados obtidos mostram a situação da orientação em 34
genérica e distorcida.
O corpo técnico destes programas é comporto por profissionais de diversas
A diversidade aparente não se reverte numa atuação mais abrangente, como seria
tenta, com base nestas características, alocar o sujeito num posto de trabalho suposto ideal
para o mesmo.
de pessoas.
partir da qual observa que, entre os serviços analisados, oito deles atuam conforme um
muita influência embora não apareçam como referencial exclusivo em nenhum dos
serviços, servindo como referencial de apoio teórico, enquanto Bohoslavsky surge como
algumas práticas.
trabalho.
uma pesquisa, na forma de questionário, dos quais 84 fazem parte da amostra do estudo. 78
sujeitos são do sexo feminino e 6 do sexo masculino; 66 são psicólogos e 18, pedagogos.
Este estudo alcança pessoas de 9 estados, sendo necessárias mais pesquisas a fim de se
reunir dados suficientes que permitam generalizar conclusões sobre a realidade do país
como um todo.
tem aumentado progressivamente nas últimas três décadas, enquanto a atuação dos
psicólogos, 21% não têm qualquer tipo de curso de formação ou especialização, portanto,
atuam com o conhecimento adquirido na graduação; 12% possuem formação ou
profissional.
específicos.
observar-se que nenhum dos dois grupos destaca a questão das mudanças no mundo do
orientação profissional.
enquanto que, a clientela atendida pelos psicólogos procede tanto da escola pública quanto
da particular.
para esses profissionais, juntamente com uma carência elevada de eventos que permitam a
26
Informação fornecida por Melo -Silva durante congresso em 2000.
desenvolvidas a fim de que o campo da orientação profissional possa vir a ser mais
2.4 - Síntese
várias áreas nos serviços de atendimento 27 , à forma de atuação dos serviços, à existência de
mesmo havendo várias referências aos mesmos, por conta da falta de clareza sobre o grau
dados: um grupo de características comuns a todos, ou pelo menos à maioria 28 dos países
27
Não são considerados profissionais de outra área os professores-orientadores.
28
Foi considerado maioria a incidência de 6 ou mais países dentro de determinada categoria.
estudados, e um segundo grupo, formado por características específicas de um determinado
havendo menção aos mesmos apenas nos Estados Unidos, em Portugal, no Brasil e em
Taiwan. A ausência de Taiwan nessas categorias pode ser atribuída a certa falta de clareza
nas informações obtidas sobre os pontos mencionados neste parágrafo. Os Estados Unidos
países pesquisados desenvolvem linhas de ação muito semelhantes, com diversas frentes de
individual, de pequenos grupos e trabalhos para grandes grupos. No caso brasileiro, são
prevalecentes as formas de intervenção que visam o trabalho com sujeitos nos chamados
“momentos de crise”29 , tanto em nível de atendimento individual quanto grupal. A
únicos países que carecem de uma parceria com seus governos são Brasil, Japão e Hong
Kong. Importante ressaltar que os países que apontam problemas no processo de formação
e capacitação de seus orientadores são os mesmos, o que nos leva a formular a hipótese de
contudo, há grande número de países que não têm projetos nesse sentido: Brasil, Hong
Kong, Japão, Malásia e Portugal. Taiwan30 esboça algumas ações, mas ainda de forma
tímida.
mais difundida: Estados Unidos, Austrália, Hong Kong, Filipinas e Taiwan têm uma rede
da população. O Brasil não se encontra incluído nessa categoria por conta de suas
29
Entendidas como situações em que a tomada de uma ação crucial dentro de um projeto profissional ou de
carreira se faz necessária.
30
Taiwan foi contabilizada como um dos países que compartilham esta característica.
consultorias considerarem-se ligadas a outras áreas, mais especificamente à Administração
de Empresas.
da Austrália, do Brasil e do Japão. Embora o Brasil conte com a Associação Brasileira dos
Austrália, Brasil, Hong Kong e Japão apresentam dados sobre um processo inadequado ou
insuficiente na formação de seus profissionais em orientação. Mais uma vez, supõe-se que
formular uma hipótese semelhante no que diz respeito à falta de regulação da profissão por
seus pares. Provavelmente por conta desses fatos, tanto a Austrália quanto o Brasil sejam
atividades de orientação.
comumente excluídas das iniciativas de intervenção de seus países. Por fim, apenas os
Estados Unidos têm uma proposta clara de atuação junto à questão da transição da escola
para o trabalho, não havendo referências a ações concretas neste sentido nos outros países.
3 - Questionamentos em orientação
Durante o século XX as grandes mudanças nas relações entre suj eito e mundo do
trabalho geram impasses nas mais diversas esferas da sociedade ao quebrar formas e
conceito de estabilidade e de emprego para todos – por vezes, conceitos que estão na base
sujeito para posições cada vez mais frágeis e impotentes frente às exigências do capital.
Por mais que a noção atual de mercado de trabalho seja uma construção da cultura
moderna e contemporânea (Méda, 1998), a inserção do sujeito nele tem sido, não apenas
social.
Sennett (1999) ilustra muito bem a crise gerada por tais mudanças na organização
relatos sobre a sensação de perda de identidade vivida pelas pessoas por conta da
Negri & Hardt (2001, p.348) apontam como “O capital tende a reduzir todas as
pelo meio informatizado, ressaltando os prejuízos que essas relações, conforme estão
contexto em que tais regras ditam as normas da sociedade, acaba por trazer conseqüências
Nas palavras de Campos Silva (2001, p.88), “Essa nova modulação do capitalismo
sindical”.
Geram-se milhões de sujeitos sem condição econômica e sem inserção social, mas
que não podem ser considerados excluídos porque estão ocupando um papel importante
dentro do sistema econômico vigente e das regras da política econômica atual: formam a
massa de desempregados que exerce pressão constante sobre aqueles que contam com um
emprego (ao contrário dos excluídos do antigo wellfare state). A seguinte colocação ilustra
muito bem a dimensão, tanto em termos pessoais como sociais, do papel imposto a esses
sujeitos;
Ainda com Uvaldo (2002, p.25), pode-se complementar que “Temos, portanto, um
estado de tensão (...), os excluídos do mundo do trabalho, que lutam para sobreviver, e os
serviços, pode ser delineada claramente nas palavras de Castells (1999, pp. 298-299):
É nesse paradigma que a orientação profissional é chamada a atuar nos dias de hoje.
As atuais estratégias que regem o cenário econômico reduzem o que Arendt (2000)
Quando se entende por trabalho algo mais do que emprego e de todas as noções
pré-concebidas apontadas por Méda (1998), determina-se que o trabalho tido como central
Assume-se que o mesmo existe para além do modo de produção, embora seja delineado
pelo mesmo, mas sem esquecer que é um fenômeno ligado ao ser humano e à sua relação
A partir deste resgate do humano na relação entre sujeito e mundo do trabalho, sem
Para além destas questões e desafios, Savickas (1995) acrescenta uma discussão
junto à sociedade.
buscar fontes comuns entre as diversas abordagens para reuni- las sob uma mesma agenda,
numa única grande teoria, e a divergência, que marca os esforços de outra série de
profissionais, que buscam utilizar os conceitos pós- modernos como filosofia de ciência a
ser seguida pela teoria e prática em Psicologia Vocacional, no que seria, segundo estes
autores, um passo para além dos ideais clássicos do modelo positivista de ciência, que
julgam ser limitado, e que supostamente marca a pesquisa desenvolvida pelos acadêmicos
da área.
Por conta dessas duas questões, Savickas (1995) aponta para quatro grandes cisões
claramente o que vêm a ser a Psicologia Vocacional e a orientação, seus sujeitos, objetos e
Orientação Profissional. Assim para o caso brasileiro, considerar-se-á os dois termos como
sinônimos.
como base para a Orientação Profissional na nossa sociedade são os preceitos básicos do
Em suas palavras,
existem possibilidades variadas de escolha aberta ao indivíduo
que pretende se encaminhar para determinadas atividades profissionais.
Em suma, ele é livre para escolher um entre diversos cursos de ação.
(Ferretti, 1988, p.38)
que
p.13) pode ser descrito “como expoente da relação dialética entre a pessoa e o meio sócio-
Finalmente, conclui que "a conduta vocacional se realiza no indivíduo que reúne
social no qual deseja participar ativamente através de suas atuações produtivas e laborais"
Ou seja, a função da orientação deveria ser a análise desta dialética entre sujeito e
novas carreiras.
Lehman (1995, p.239), em sua análise das propostas clássicas, aponta um dilema na
área: a) tem-se pouca possibilidade de inovação ou; b) tem-se uma urgência por novas
abordagens, teorias e campos de atuação. Embora Ballerini (2001) afirme que talvez
autora. Especialmente no que diz respeito à necessidade, advinda deste dilema, de uma
31
Entendido como “momento de eleição-discrimação” (Rivas, 1993, p.26), momento da escolha.
orientação antes de se partir em busca de novos enfoques, modelos e intervenções,
repetindo uma crítica já levantada por Bock (2002). Ou seja, faz-se necessário uma clara
delimitação das necessidades do campo de atuação da orientação pois, ainda com Lehman
(1995, p.239), "observamos que as abordagens atuais não abarcam toda a gama da
problemática vocacional, pois é muito restrita frente aos novos problemas e situações
sociais".
Guichard & Huteau (2001), apresentam uma série de argumentos que comprovam o
quanto a orientação praticada hoje já se distanciou de conceitos tão estreitos quanto aqueles
mais ampla. Segundo os autores, podemos apontar sete diferenças fundamentais entre a
- a orientação nos dias atuais não se limita mais à simples mediação da transição da
- a perspectiva atual é muito mais ampla que a antiga proposta de inserção em vagas
32
Entende-se por esta conciliação não só a idéia de pessoa certa para o trabalho certo como também a noção
de que a orientação dirá ao sujeito quais as decisões certas a serem tomadas (vestibular, carreira, etc.).
- as práticas atuais visam um espectro populacional mais amplo;
- existe uma referência mais tênue à Psicologia como um todo. Busca-se elementos de
Políticas;
orientação do mesmo.
estão orientados sobre o produto final esperável ou exigível” (Rivas, 1993, p.14)33 .
que esta pesquisa entende como objeto da orientação e, ao mesmo tempo, é normalmente
estabelecidos, sobretudo por conta do novo modo de produção 34 que se instaura a partir
estrutura social – a “vida dos filósofos”, deixa de ser o objetivo de vida da casta
privilegiada como fora até então dando lugar à acumulação de capital. A impossibilidade
de se manter os modos de produção anteriores obriga a uma revisão dos valores atuais;
para o capitalismo nascente (ou crescente...), o valor está no trabalho, na ação, não na
contemplação.
Como todos os conceitos associados à vita activa podem ser tomados como
33
Tal definição encontra-se sob o título de “Precisiones terminológicas”.
34
Noção que converge com as colocações de Ferretti (1988) ao colocar o modo de produção como ponto
fundamental para uma adequada compreensão de qualquer fenômeno ligado ao mundo do trabalho
contemporâneo.
componentes desta vita activa35 , que passa ao primeiro plano, Arendt (2000) opta por
descreve- las em três tópicos distintos, numa seqüência que pode ser considerada crescente
estabelece.
3.2.1.1 - Labor
É o meio pelo qual o homem produz aquilo que é vital para o processo de vida do
corpo humano.
Ou seja, o “labor” nunca termina. É parte do ciclo de vida do ser humano e a forma
de interação entre este e a natureza. Está ligado à esfera das necessidades e encarrega-se de
produzir bens de consumo que visam satisfazer essas necessidades, bens estes que são
35
Conceito proposto por Arendt (2000) como oposto à vita contemplativa (contemplação), um estágio que é
comparado ao que se supunha ser a vida dos filósofos gregos.
3.2.1.2 - Work
uma gratificação que segue o esforço, o trabalho de nossas mãos pode ser direcionado para
a confecção de bens para uso, que em si não causa sua destruição ou desaparecimento, pelo
menos, não no curto prazo de uma vida, a não ser por um acidente. Bens que dão a
estabilidade e a solidez sem as quais seria impossível estruturar a criatura instável que é o
É essa durabilidade dos bens que lhes garante uma certa independência do homem
que as produziu e confere ao mundo um certo status de estável, e aos quais o homem pode
está à objetividade dos “man- made artifice”, não a indiferença da natureza” (Arendt, 2000,
p.174).
(com começos definidos e fins previsíveis – enquanto a ação tem inícios definidos, mas
nunca fins previsíveis.) e uso são dois processos completamente diferentes. O impulso à
seu trabalho.
O que domina o “labor” nesses processos, não é o fim perseguido nem o propósito
do esforço, mas sim o ritmo e o movimento que o processo impõe aos trabalhadores,
para que os trabalhadores passem a adaptar-se aos instrumentos. O produto final organiza o
processo imposto. Contudo, este objeto que é o objetivo, ou um fim, dentro do processo de
produção, não é um fim em si. Assim que completado, assume seu papel de objeto de uso e
automaticamente passa a ser o meio para a obtenção de outros fins, em particular, aqueles
para o qual foi fabricado o que, em última instânc ia, leva a uma cadeia interminável de fins
e meios, a menos que se coloque o homem como fim inquestionável o que, por sua vez
significa que
3.2.1.3 - Ação
É através da palavra e dos feitos que o homem se insere no mundo. Mundo este que
não habita sozinho, mas no qual só existe como coletividade e no qual a ação e a palavra
Ação e palavra, que se ligam na resposta à pergunta mais comum feita por um
desconhecido: “quem é você ?”, que implica dizer que não há ação sem palavra que a
acompanhe, do contrário, a mesma não existe. Enquanto uma obra de arte retém seu valor,
independentemente do nome do autor, uma ação sem um nome, um quem, não tem sentido.
Em todo lugar em que o ser humano habita, há uma teia composta por relações,
feitos e palavras, todos entrelaçados e ligando seus autores de forma que, qualquer novo
começo acaba por se ligar a essa teia e inicia um processo que envolve todos aqueles
ligados de alguma forma a este ponto. É por conta da imprevisibilidade do alcance desses
imprevisibilidade e relação com o todo, produzem histórias, que podem então ser
guardadas e trabalhadas e nos contam muito mais sobre seus sujeitos do que os objetos
Essa falta de marcas aponta para a fragilidade e falta de confiabilidade das questões
(working), podemos não saber o que estamos fazendo. Mais ainda, ao contrário do
processo de fabricação, o agir não permite que o processo seja desfeito: uma vez tomado
perdão. A única forma possível de se lidar com a imprevisibilidade das ações é a faculdade
continuidade, quanto mais qualquer forma de durabilidade, seria possível nas relações entre
sujeito das histórias. Embora os objetos dêem a referência para que o agente humano se
ação (ou o agir), o correr da vida no sentido da morte carregaria junto consigo tudo que é
36
No original, a palavra utilizada para feita é “made”.
humano para a destruição, pois é o que dá ao homem a capacidade de produzir o novo, de
sujeito e mundo 37 , torna-se uma noção demasiadamente ampla para ser considerada como
delimitar qual das possíveis ações do sujeito está intimamente ligada à orientação e aos
seus estudos.
relações do sujeito com o mundo não podem ser reduzidas a um simples sistema eu-
outro 38 . Seja o outro uma entidade personificada, a cultura ou o mundo, sempre se fará
presente um terceiro nesta relação. Dejours (2002) esquematiza esta proposta como um
triângulo em cujos vértices estão o eu (Ego), o outro (autrui) e o Real (reél). A relação
conceito semelhante, porém mais refinado e específico, concebido dentro das relações
deste triângulo formado por eu-outro-real: a técnica. Segundo o autor, essa proposta seria
um ato específico, que envolve as três relações ao mesmo tempo, e que pode ser definida
37
Dentro dos níveis propostos por Arendt (2000) e considerados por este trabalho.
38
Ego-autrui, no original.
Por ato, entende-se a relação entre ego e real, na qual o primeiro tem por objetivo
tradição, o ato não pode ser consciente. É constituída a partir da relação entre o outro
Já a eficácia, está ligada à relação entre o outro e o real acerca de um ato executado
pelo eu, onde o outro emite um julgamento (baseado na tradição), a respeito de tal ato.
Nas palavras de Dejours (2002, p.36), o conceito pode ser resumido da seguinte
forma: "a técnica é um ato sobre o real, iniciado a partir de uma cultura e sanc ionado pelo
julgamento do outro".
trabalho pode ser definido como uma atividade muito mais precis a e específica, baseado
atividades, pois o trabalho não existe como atividade isolada, e com sua eficácia julgada
comportamento vocacional como expoente da relação dialética entre sujeito e meio sócio-
profissional.
um triângulo definido pelo eu, pelo outro e pelo real e mediado pelas relações existentes
entre estes (em vez de defini- lo como sinônimo de emprego), faz-se necessária uma
conceitos para o novo paradigma, podemos definir esse comportamento como a síntese
inclusive nos casos em que haja uma aparente ausência de técnica/trabalho (onde os
mesmos são unicamente simbólicos) ou em que esta síntese desta relação seja uma
estagnação.
outros, em uma ação ou mesmo na extinção da técnica. Enquanto tivermos uma situação
trabalho, teremos em mãos uma relação que é objeto de estudo e intervenção da orientação.
39
Definição advinda da reunião de conceitos de Arendt (2000) e Dejours (2002).
40
Entendido como uma atividade técnica específica e precisa, coordenada e julgada segundo sua utilidade
social, técnica ou econômica.
41
Entendido segundo a definição construída por esta pesquisa.
Nos casos em que haja uma questão a ser trabalhada, mas constate-se ausência total
o fenômeno deixará de ser um objeto da orientação, passando a ser um objeto de estudo das
Ciências Sociais. Caso haja técnica, mas não haja relação dialética com o mundo do
3.2.3 - Objetivos
A estrutura ternária proposta por Dejours (2002) forma os vértices de uma relação
triangular que marca a atuação do sujeito no mundo. O papel desempenhado pelo Real e,
Na época, as mudanças que se processam neste campo são lentas (em termos relativos) e,
desta forma, de fácil assimilação pelo mundo interno dos sujeitos. A esta forma de relação,
com fatores externos mais estáveis, corresponde uma orientação em que os fatores internos
A partir das mudanças citadas, percebe-se que a realidade (Réel para Dejours) passa
a ter uma dimensão variável (e de certa forma muito mais presente), em que as mudanças
velocidade cada vez maior e, como conseqüência, temos cada vez mais sujeitos que não
conseguem assimilar essas mudanças, gerando-se conflitos entre o sujeito e sua relação
com o espaço social. Os fatores externos antes passíveis de serem tidos como uma
Dessa forma, cabe à orientação e à Psicologia Social trabalhar nas referências que
permitam ao sujeito uma ação que tenha sentido na definição de sua relação com a
sociedade, economia e suas instituições, cientes de que uma determinada ação escapa à
orientação a partir do momento em que deixa de estar ligada á dialética técnica- mundo do
trabalho.
problemática dos sujeitos que procuram por auxílio psicológico é de suma importância, e
ciclo educacional para outro, conforme aponta Amaral (2001). Segundo pesquisas feitas
por Lehman & Silva (2001), apresentando dados sobre a população atendida pelo SOP-
USP42 , os autores apontam que, a partir da última metade da década de 90, cerca de 70%
dos sujeitos do serviço são pessoas com idades de até 18 anos, com uma porcentagem
atendimento não só em termos de faixa etária dos sujeitos como também de espaços
42
Serviço de Orientação Profissional da Universidade de São Paulo.
passíveis de ocupação pela Orientação Profissional, dados congruentes com os expostos
acerca do que vem a ser a orientação na atualidade, podemos definir como sujeito da
orientação todo e qualquer indivíduo que apresente uma demanda a respeito de sua relação
com o mundo do trabalho. Desde a crise pela insatisfação com o posto de trabalho,
passando pela clássica escolha de cursos de nível superior até os casos extremos, em que se
tem uma grande quantidade de angústia gerada pela impossibilidade de alguns sujeitos
pensarem a respeito das barreiras impostas pelos limites do atual sistema sócio-econômico.
4 - Em busca de respostas
Savickas (1995), buscando-se definir a postura que este trabalho adota frente às discussões
mesmo afirma:
prática requer e que nem sempre pode ser proporcionada pela utilização de um único
referencial teórico. Tomando como exemplo a realidade brasileira, temos como lugar
intervenção, prática que proporciona uma atuação de larga amplitude e uma maior
43
Conforme dados apresentados por autores de vários países no Congreso Iberoamericano de Orientacion em
2003.
1970) – embora tal período tenha agravado uma situação já precária em muitas destas
realidades.
que a dialétic a entre técnica e mundo do trabalho gera um nível de angústia acima daquele
normalmente tolerado pelo sujeito e constituindo assim uma demanda manifesta por
orientação. Rivas (1993) define o momento de crise como aquele em que é necessário
tomar-se uma decisão, fazer uma escolha. Certamente, estas podem ser as características
manifestas da angústia, mas isso não significa que estes sejam seus únicos determinantes.
negação por parte de muitos pesquisadores e teóricos que surge a cisão teoria/prática, pois
recursos dos quais dispõem a fim de serem capazes de atender à demanda de seus sujeitos,
enquanto alguns teóricos ligados a uma filosofia positivista ortodoxa consideram tal atitude
de intervenções, ou seja, podemos afirmar que muitas divergências existentes hoje, devem
científico.
44
Conforme dados apresentador por Eda Tassara em aulas do programa de pós-graduação no ano de 2004.
4.1.2 - Psicologia Vocacional x Psicologia
O que se vê, na verdade, são orientadores questionando o pouco uso que se faz das
teorias propostas pela Psicologia Vocacional, ao mesmo tempo em que estes mesmos
pesquisadores abrem mão de aprofundar-se nas pesquisas desenvolvidas por outras áreas e
que deixam de se empenhar na busca por derivações de noções fornecidas por pesquisas de
base já efetuadas pela Psicologia e que possam ser utilizadas em seus estudos.
suas propostas em modelos que permitam intervenções eficientes nas questões sociais mais
amplas, contribui para que a área acabe fechando-se dentro de um círculo vicioso onde não
se agregam novos conhecimentos e, por conta disso, não se envereda por novos espaços de
atuação.
Pode-se afirmar que a principal causa desta cisão é a forte tendência dos
Krumboltz & Worthington 1999; Lent, Hackett & Brown 1999), e não como mais uma
Apenas com a adoção de uma noção de ciência em que a orientação trabalhe em conjunto e
não contra outros campos da Psicologia e de ciências afins, pode-se promover a lenta
diminuição dos espaços que separam a Psicologia Vocacional das demais áreas da
Psicologia. A descrição das muitas formas de atuação junto a espaços sociais tão diversos,
como prática vinculada a uma tentativa de se remediar uma situação ou crise adaptativa
prática à outra. Na busca pela validação de cada uma das práticas, tenta-se promover a
nível individual, a fim de bastar-se no contato com as diversas demandas de seus sujeitos,
psicoterapêutico 45 pois, como cita Bohoslavsky (1995), a orientação pode ter uma
45
De acordo com Roudinesco (1998, p.624), por psicoterapia entende-se “Método de tratamento psicológico
de doenças psíquicas que utiliza como meio terapêutico a relação entre médico e paciente”.
46
O termo “clínica” está ligado à qualidade de relação que se estabelece entre orientador e sujeito.
47
Segundo Roudinesco (1998), “terapia” pode ser entendido como uma busca pelo tratamento de uma
patologia psíquica do sujeito.
clínica entre as partes e o desenvolvimento de uma intervenção mais significativa para o
nos seus respectivos campos de estudo, pesquisadores desenvolvem seus trabalhos sobre
Conforme exposto no capítulo II, conceitos tidos como imutáveis durante certo
perceber as fragilidades das estruturas que lhes conferem significado, podem sofrer
profundas alterações, chegando a perder seu sentido original dentro de um novo contexto
no qual tais estruturas reconfiguram-se e passam a atribuir outros valores a dado termo.
de quaisquer termos sem ter-se a consciência a respeito dos significados do qual o mesmo
está investido é o grande risco ao se manter uma agenda de pesquisa fechada, que não
passo que outros campos da Psicologia promovem ações cujos resultados, por diversas
vezes, não apenas demoram a surgir, como são muito mais sutis. Por conta desta diferença,
pesquisas desenvolvidas em diversas áreas. Por mais que o aparente distanciamento entre
individual de cada perspectiva presente, construindo uma abordagem coletiva que dê conta
abordagens para reuni- las sob uma mesma agenda, numa única grande teoria, e os esforços
em busca da utilização dos conceitos pós- modernos como filosofia de ciência a ser seguida
“perspectivismo” recebe como principal crítica de seus opositores uma suposta tendência
forte evidência de que, no atual estágio da orientação, grande parte desta discussão perde
complexidade, onde nenhuma das duas posições científicas pode, a priori, ser considerada
como inválida. Podemos conferir esta hipótese ao analisarmos como a orientação enfrenta
transição da escola para o mundo do trabalho, principalmente no caso daqueles que estão
para sair das High Schools50 , juntamente com algumas sugestões sobre as melhores formas
de se trabalhar com tais sujeitos. Esta iniciativa é o resultado claro de uma forma
forma de se preparar o sujeito para este estágio. Krumboltz & Worhington (1999)
entendem que a teoria da aprendizagem vem preencher um vazio deixado pela teoria do
capital humano (que norteia o STWOA no entender dos autores). Propõem que habilidades
acreditando que promove-la é papel dos mentores, técnicos e educadores, que devem
deixar claro ao sujeito que estas definições estão sujeitas a contínuas mudanças.
enquanto Swanson & Fouad (1999) apontam para uma abordagem baseada na teoria de
48
Movimento encarregado de estudar a transição dos jovens da escola para o mundo do trabalho.
Jovens que, a priori, não ingressam em faculdades, ou que não chegam a terminar as mesmas.
49
School-to-work Opportunities Act – programa federal norte-americano de incentivo a políticas
públicas para o setor, em nível estadual.
50
Equivalente ao Ensino Médio brasileiro.
traço- fator, onde a importância está em um bom relacionamento entre as exigências do
tanto nas teorias quanto nas práticas em orientação (Pope, 2000), verifica-se propostas que
foram alvo de críticas sob diversos aspectos, por exemplo, segundo Lent & Worthington
considera que o movimento assume posturas que não têm necessariamente relação com
aquilo que se observa na atualidade; Hansen (1999) afirma não ser suficiente trabalharmos
diferentes. Numa visão clássica de ciência, os fatos apresentados por Savickas (1995) são
pertinentes e delineiam a discussão. Por outro lado, quando se analisa a questão segundo
uma visão de ciência que o autor denomina “perspectivista”, vê-se que as discussões acerca
do fenômeno podem ser consideradas insuficientes, pois estão formuladas de forma linear e
Voltando aos desafios apontados no capítulo II.1.2, com base nos conceitos
específico. Vimos no caso dos EUA (Pope, 2000) e da Malásia (Pope et al, 2002),
relegados a segundo plano por políticas sociais, criando-se novas formas de atuação junto a
e outras práticas desenvolvidas nos últimos anos – dentro e fora do meio educacional –, nas
um modelo de orientação que seja capaz de lidar com o indefinido e inesperado, onde há
uma grande impossibilidade de se traçar perspectivas futuras de curto, médio e longo prazo
pois os sujeitos têm pouca informação e quase nenhuma referência externa que os ajude a
elaborar seus planos de carreira – situações em que há um fator humano que passa por um
permanente.
formulações ocidentais ao contexto específico dos países orientais sobretudo pela grande
diferença cultural entre ambos (afirmação que vale para qualquer tentativa de importação
aplica a contextos meno res, havendo a necessidade de se desenhar pesquisas que consigam
mapear as necessidades de diferentes regiões, a fim de que se possa promover a validação
de diferentes técnicas para tais locais. Ou seja, não se percebe dentro da ótica atual, a
todos os contextos, mas sim, de ações locais, que buscam uma prática apropriada ao
Psicologia e de diversas áreas de produção científica, que proporciona uma leitura ótima a
parte dos valores de sua realidade nas práticas que propõe para atender às demandas de seu
contexto. Tomando os Estados Unidos como exemplo, embora tenha-se a crítica de Lent &
Worthington (1999), Blustein (1999) e Lent (1999), o modelo de atuação que os autores de
orientação propõem para o STWOA está permeado pelos valores diretivos da cultura
51
Afirmação baseada na repetida afirmação pelas várias linhas teóricas de que o treino de habilidades é uma
das soluções principais para a questão da transição da escola para o mundo do trabalho.
2) A alteração fundamental que a constante transformação do meio sócio-
visão positivista, mas certamente para uma forma híbrida de pensamento, concebida a
partir de uma visão de mundo que prega a ponderação sobre as particularidades dos
a ele e, por vezes, reproduzindo parte de seus valores através das práticas que delineia.
visão de mundo que não mais se adequa à realidade vivenciada a partir das transformações
que se operam nos últimos 50 anos, um novo modelo de pensamento científico se faz
particulares para cada sociedade, a primeira constatação que se pode fazer é a de que não
trabalho dentro do atual contexto da complexidade, pois, a partir desta reflexão, sente-se a
quais nos valemos como verdades, sobretudo pelo fato de, muitas vezes, lançarmos mão de
idéias imersas em pressupostos em relação aos quais supúnhamos propor uma crítica.
A necessidade (ou por vezes, a mera vontade) de encontrar respostas acaba por
gerar um posic ionamento ideológico dentro da questão estudada, qualquer que seja, como
se o caminho pensado pelo pesquisador fosse a verdade a ser atingida, levando o mesmo a
desconsiderar a hipótese de que os modelos propostos possam ser inadequados ao real ou,
doutrinação dos sujeitos segundo nossa concepção do que venha a ser sua demanda.
Dentro do processo desenvolvido por esta pesquisa, podemos apontar duas grandes
diferentes áreas (Oriente Médio, África, Ásia e América do Sul), contudo, referentes
5.2 - Perspectivas
Hoje é necessário entender a orientação como algo maior do que uma teoria da
escolha ou decisão e seu objetivo como mais amplo que a simples elucidação de escolhas.
Faz-se necessário repensar constantemente nossa interpretação das questões que permeiam
a relação entre a técnica e o mundo do trabalho e nossa atuação frente estas questões, com
apontarmos uma como melhor ou mais adequada, levanta-se com este trabalho a
necessidade de se discutir o pensamento científico que norteia nossa visão de orientação
científico que proporcione uma visão de mundo adequada à nossa realidade que permitirá a
compreensão do papel que se espera da orientação em cada sociedade e o papel que esta se
atribui. Apenas a partir do momento em que estes pontos ficam claros é que se julga
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