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MARINHA

DO BRASIL COMANDO DO 1O DISTRITO NAVAL

Oficial de 2a Classe da Reserva da Marinha


(RM2)
AVISO DE CONVOCAÇÃO NO 05/2017

LÍNGUA PORTUGUESA
Sistema ortográfico em vigor; emprego das letras, acentuação gráfica e uso do sinal indicador de crase; Morfossintase;
estrutura e formação de palavras; Classes de palavras e valores sintáticos; Flexão (nominal e verbal); Frase, oração,
período; Estrutura da frase; A ordem de colocação dos termos na frase; Pontuação; Relações de sentido na construção do
período; Concordância (nominal e verbal); Regência (nominal e verbal); Colocação pronominal; As relações de sentido
na construção do texto: denotação e conotação; ambiguidade e polissemia ...................................................................... 01

COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO – Leitura e análise de texto; Os propósitos do autor e suas


implicações na organização do texto; informações implícitas e explicitas; Tipologia textual e gêneros discursivos; Os fatores
determinantes da textualidade: coesão, coerência, intencionalidade; aceitabilidade; situacinalidade; informatividade e
intertextualidade; Variação linguística: as várias normas e a variedade padrão; Processos argumentativos ................. 49

ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA


Forças Armadas (Ffaa) – Missão Constitucional; Hierarquia E Disciplina; E Comandante Supremo Das Forças
Armadas; E .......................................................................................................................................................................... 01

Estratégia Nacional De Defesa – Estratégia Nacional De Defesa E Estratégia Nacional De Desenvolvimento; Natureza
E Âmbito Da Estratégia Nacional De Defesa; Diretrizes Da Estratégia Nacional De Defesa; Marinha Do Brasil: A
Hierarquia Dos Objetivos Estratégicos E Táticos ............................................................................................................... 03
Índice
LEGISLAÇÃO MILITAR - NAVAL

Legislação Militar Naval Brasil. Lei Nº 6.880, De 9 De Dezembro Do 1980. Estatuto Dos Militares, Títulos I E
Ii. Vade Mecum Naval. Diretoria Do Patrimonio Histórico E Documentação Da Marinha . Ed. Ver. Rio De Janeiro,
2009. Estatuto Dos Militares - Hierarquia Militar E Disciplina; Cargos E Funções Militares; Valor E Ética Militar;
Compromisso, Comando E Subordinação; Violação Das Obrigações E Deveres Militares; Crims Militares; Contravenção
Ou Transgessões Disciplinares ............................................................................................................................................ 01

RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇA

Relações Humanas E Liderança Brasil. Marinha Do Brasil. Escola-Maior Da Armada. Ema-137 – Doutrina De
Liderança Da Marinha. Capítulo I, Ver 1. Brasília, Df, 2013. Doutrina De Liderança Da Marinha - Chefia E Liderança;
Aspectos Fundamentais Da Lliderança; Estilosde Liderança; Seleção De Estilos De Liderança; Fatores Da Liderança;
Atribuição De Um Líder; Níveis De Liderança................................................................................................................... 01

HISTÓRIA NAVAL

A História Da Navegação: Os Navios De Madeira: Construindo Embarcações E Navios; O Desenvolvimento Dos


Navios Portugueses. O Desenvolvimento Da Navegação Oceânica : Instrumentos E As Cartas De Marear; A Vida A Bordo
Dos Navios Veleiros .............................................................................................................................................................. 01

A Expansão Marítima Europeia E O Descobrimento Do Brasil: Fundamentos Da Organização Do Estado Português


E A Expansão Ultramarina: Lusitânia; Ordens Militares E Religiosas; O Papel Da Nobreza; A Importância Do Mar Na
Formação De Portugal; Desenvolvimento Econômico E Social; A Descoberta Do Brasil................................................. 02

O Reconhecimento Da Costa Brasileira A Expedição De 1501/1502 ........................................................................... 06


A Expedição De 1502/1503 ............................................................................................................................................ 06
A Expedição De 1503/1504 ............................................................................................................................................ 06
As Expedições Guarda-Costas ...................................................................................................................................... 06
A Expedição Colonizadora De Martim Afonso De Sousa ............................................................................................ 06

Invasões Estrangeiras No Brasil: Invasões Francesas No Rio De Janeiro E No Maranhao: Rio De Janeiro; Maranhao;
Invasores Na Foz Do Amazonas: Invasões Holandesas Na Bahia E Em Pernambuco; Holandeses Na Bahia; A Ocupação
Do Nordeste Brasileiro, A Insurreição Em Pernambuco; A Derrota Dos Holandeses Em Recife; Corsarios.................. 07

Formação Da Marinha Imperial Brasileira: A Vinda Da Familia Real; Politica Externa De D.joão E A Atuação Da
Marinha: A Conquista De Caiena E A Ocupação Da Bahia Oriental: A Banda Oriental; A Revolta Nativista De 1817 E
A Atuação Da Marinha; Guerra De Independencia; Elevação Do Brasil A Reino Unido; O Retorno De D. João Vi Para
Portugal; A Independencia ; A Formação De Uma Esquadra Brasileira; Operações Navais; Condeferação d Equador
.......................................................................................................................................................................................................13

A Atuação Da Marinha Nos Conlfitos Da Regencia E Do Inicio Do Segundo Reinado .............................................. 17


Conflitos Internos Cabanagem ..................................................................................................................................... 19
Guerra Dos Farrapos .................................................................................................................................................... 19
Sabinada ........................................................................................................................................................................ 19
Balaiada ......................................................................................................................................................................... 19
Revolta Praieira ............................................................................................................................................................. 19
Conflitos Externos Guerra Cisplatina .......................................................................................................................... 20
Guerra Contra Oribe E Rosas ...................................................................................................................................... 23

A Atuação Da Marinha Na Guerra Da Triplice Aliança Contra O Governo Do Paraguai: O Bloqueio Do Rio Parana E
A Batalha Naval Do Riachuelo; Navios Encouraçados E A Invasão Do Paraguai; Cuzuzu E Curupaiti; Caxias E Inhaúma;
Passagem De Curupaiti; Passagem De Humaitá; O Recuo Das Forças Paraguaias; O Avanço Aliado E A Dezembrada;
Ocupação De Assunção E Afase Final Da Guerra .............................................................................................................. 23
A Marinha Na Republica:primeira Guerra Mundial: Antecedentes ; O Preparo Do Brasil; A Divisão Naval
Em Operações De Guerra; O Periodo Entre Guerras; A Situação Em 1940; Segunda Guerra Mundial:
Antecedentes ; Inicio Das Hostilidades E Ataques Aos Nosso A Navios Mercantes; A Lei De Emprestimo E
Arrendamento E Modernizações De Nossos Meios E Defesa Ativa Da Costa Brasileira; Defesas Locais; Defesa
Ativa; A Força Naval Do Nordeste; E O Que Ficou? .............................................29

O Emprego Permanete Do Poder Naval: O Poder Naval Na Guerra E Na Paz : Classificação ; A Percepção
Do Poder Naval; O Emprego Permanente Do Poder Naval ........................................................39
PORTUGUÊS
PORTUGUÊS

GRAMÁTICA – SISTEMA ORTOGRÁFICO EM VIGOR;


EMPREGO DAS LETRAS, ACENTUAÇÃO GRÁFICA E USO DO SINAL INDICADOR DE CRASE;
MORFOSSINTASE; ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE PALAVRAS; CLASSES DE PALAVRAS E VALORES
SINTÁTICOS; FLEXÃO (NOMINAL E VERBAL); FRASE, ORAÇÃO, PERÍODO; ESTRUTURA DA FRASE; A
ORDEM DE COLOCAÇÃO DOS TERMOS NA FRASE; PONTUAÇÃO; RELAÇÕES DE SENTIDO NA
CONSTRUÇÃO DO PERÍODO; CONCORDÂNCIA (NOMINAL E VERBAL); REGÊNCIA (NOMINAL E
VERBAL); COLOCAÇÃO PRONOMINAL; AS RELAÇÕES DE SENTIDO NA CONSTRUÇÃO DO TEXTO:
DENOTAÇÃO E CONOTAÇÃO; AMBIGUIDADE E POLISSEMIA.

ORTOGRAFIA

A ortografia é a parte da língua responsável pela grafia correta das palavras. Essa grafia baseia-se no padrão culto da língua.
As palavras podem apresentar igualdade total ou parcial no que se refere a sua grafia e pronúncia, mesmo tendo significados diferen-
tes. Essas palavras são chamadas de homônimas (canto, do grego, significa ângulo / canto, do latim, significa música vocal). As palavras
homônimas dividem-se em homógrafas, quando têm a mesma grafia (gosto, substantivo e gosto, 1ª pessoa do singular do verbo gostar) e
homófonas, quando têm o mesmo som (paço, palácio ou passo, movimento durante o andar).
Quanto à grafia correta em língua portuguesa, devem-se observar as seguintes regras:

O fonema s:

Escreve-se com S e não com C/Ç as palavras substantivadas derivadas de verbos com radicais em nd, rg, rt, pel, corr e sent: pretender
- pretensão / expandir - expansão / ascender - ascensão / inverter - inversão / aspergir aspersão / submergir - submersão / divertir - diver-
são / impelir - impulsivo / compelir - compulsório / repelir - repulsa / recorrer - recurso / discorrer - discurso / sentir - sensível / consentir
- consensual

Escreve-se com SS e não com C e Ç os nomes derivados dos verbos cujos radicais terminem em gred, ced, prim ou com verbos termina-
dos por tir ou meter: agredir - agressivo / imprimir - impressão / admitir - admissão / ceder - cessão / exceder - excesso / percutir - percussão
/ regredir - regressão / oprimir - opressão / comprometer - compromisso / submeter - submissão
*quando o prefixo termina com vogal que se junta com a palavra iniciada por “s”. Exemplos: a + simétrico - assimétrico / re + surgir -
ressurgir
*no pretérito imperfeito simples do subjuntivo. Exemplos: ficasse, falasse

Escreve-se com C ou Ç e não com S e SS os vocábulos de origem árabe: cetim, açucena, açúcar
*os vocábulos de origem tupi, africana ou exótica: cipó, Juçara, caçula, cachaça, cacique
*os sufixos aça, aço, ação, çar, ecer, iça, nça, uça, uçu, uço: barcaça, ricaço, aguçar, empalidecer, carniça, caniço, esperança, carapuça,
dentuço
*nomes derivados do verbo ter: abster - abstenção / deter - detenção / ater - atenção / reter - retenção
*após ditongos: foice, coice, traição
*palavras derivadas de outras terminadas em te, to(r): marte - marciano / infrator - infração / absorto - absorção

O fonema z:

Escreve-se com S e não com Z:


*os sufixos: ês, esa, esia, e isa, quando o radical é substantivo, ou em gentílicos e títulos nobiliárquicos: freguês, freguesa, freguesia,
poetisa, baronesa, princesa, etc.
*os sufixos gregos: ase, ese, ise e ose: catequese, metamorfose.
*as formas verbais pôr e querer: pôs, pus, quisera, quis, quiseste.
*nomes derivados de verbos com radicais terminados em “d”: aludir - alusão / decidir - decisão / empreender - empresa / difundir -
difusão

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PORTUGUÊS
*os diminutivos cujos radicais terminam com “s”: Luís - - atenção para as palavras que mudam de sentido quando subs-
Luisi-nho / Rosa - Rosinha / lápis - lapisinho tituímos a grafia “e” pela grafia “i”: área (superfície), ária (me-
*após ditongos: coisa, pausa, pouso lodia) / delatar (denunciar), dilatar (expandir) / emergir (vir à
*em verbos derivados de nomes cujo radical termina com “s”: tona), imergir (mergulhar) / peão (de estância, que anda a pé),
anális(e) + ar - analisar / pesquis(a) + ar - pesquisar pião (brinquedo).

Escreve-se com Z e não com S: Fonte: http://www.pciconcursos.com.br/aulas/portugues/orto-


*os sufixos “ez” e “eza” das palavras derivadas de adjetivo: grafia
macio - maciez / rico - riqueza
*os sufixos “izar” (desde que o radical da palavra de origem
não termine com s): final - finalizar / concreto - concretizar Questões sobre Ortografia
*como consoante de ligação se o radical não terminar com s:
pé + inho - pezinho / café + al - cafezal ≠ lápis + inho - lapisinho 1. (TRE/AP - TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2011) Entre
as frases que seguem, a única correta é:
O fonema j: a) Ele se esqueceu de que?
b) Era tão ruím aquele texto, que não deu para distribui-lo
Escreve-se com G e não com J: entre os presentes.
*as palavras de origem grega ou árabe: tigela, girafa, gesso. c) Embora devessemos, não fomos excessivos nas críticas. d)
*estrangeirismo, cuja letra G é originária: sargento, gim. O juíz nunca negou-se a atender às reivindicações dos fun-
*as terminações: agem, igem, ugem, ege, oge (com poucas ex- cionários.
ceções): imagem, vertigem, penugem, bege, foge. e) Não sei por que ele mereceria minha consideração.

Observação: Exceção: pajem 2. (Escrevente TJ SP – Vunesp/2013). Assinale a alternativa


*as terminações: ágio, égio, ígio, ógio, ugio: sortilégio, cujas palavras se apresentam flexionadas de acordo com a norma-
litígio, relógio, refúgio. -padrão.
*os verbos terminados em ger e gir: eleger, mugir. *depois da (A) Os tabeliãos devem preparar o documento.
letra “r” com poucas exceções: emergir, surgir. *depois da (B) Esses cidadões tinham autorização para portar fuzis.
letra “a”, desde que não seja radical terminado com (C) Para autenticar as certidãos, procure o cartório local.
j: ágil, agente. (D) Ao descer e subir escadas, segure-se nos corrimãos.
Escreve-se com J e não com G: (E) Cuidado com os degrais, que são perigosos!
*as palavras de origem latinas: jeito, majestade, hoje.
*as palavras de origem árabe, africana ou exótica: jiboia, man- 3. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – 2013).
jerona. Suponha-se que o cartaz a seguir seja utilizado para informar os
*as palavras terminada com aje: aje, ultraje. usuários sobre o festival Sounderground.
Prezado Usuário
O fonema ch: ________ de oferecer lazer e cultura aos passageiros do me-
trô, ________ desta segunda-feira (25/02), ________ 17h30,
Escreve-se com X e não com CH: começa o Sounderground, festival internacional que prestigia os
*as palavras de origem tupi, africana ou exótica: abacaxi, mu- músicos que tocam em estações do metrô.
xoxo, xucro. Confira o dia e a estação em que os artistas se apresentarão e
*as palavras de origem inglesa (sh) e espanhola (J): xampu, divirta-se!
lagartixa. Para que o texto atenda à norma-padrão, devem-se preencher
*depois de ditongo: frouxo, feixe. as lacunas, correta e respectivamente, com as expressões
*depois de “en”: enxurrada, enxoval. A) A fim ...a partir ... as
B) A fim ...à partir ... às
Observação: Exceção: quando a palavra de origem não derive C) A fim ...a partir ... às
de outra iniciada com ch - Cheio - (enchente) D) Afim ...a partir ... às
E) Afim ...à partir ... as
Escreve-se com CH e não com X:
*as palavras de origem estrangeira: chave, chumbo, chassi, 4. (TRF - 1ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO -
mochila, espadachim, chope, sanduíche, salsicha. FCC/2011) As palavras estão corretamente grafadas na seguinte
frase:
As letras e e i: (A) Que eles viajem sempre é muito bom, mas não é boa a
*os ditongos nasais são escritos com “e”: mãe, põem. Com “i”, ansiedade com que enfrentam o excesso de passageiros nos aero-
só o ditongo interno cãibra. portos.
*os verbos que apresentam infinitivo em -oar, -uar são escritos (B) Comete muitos deslises, talvez por sua espontaneidade,
com “e”: caçoe, tumultue. Escrevemos com “i”, os verbos com mas nada que ponha em cheque sua reputação de pessoa cortês.
infinitivo em -air, -oer e -uir: trai, dói, possui. (C) Ele era rabugento e tinha ojeriza ao hábito do sócio de
des-cançar após o almoço sob a frondoza árvore do pátio.

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PORTUGUÊS
(D) Não sei se isso influe, mas a persistência dessa mágoa pode GABARITO
estar sendo o grande impecilho na superação dessa sua crise. 01.E 02. D 03. C 04. A 05. B
(E) O diretor exitou ao aprovar a retenção dessa alta quantia, 06. E 07. C 08. E 09. A 10. C
mas não quiz ser taxado de conivente na concessão de privilégios
ilegítimos. RESOLUÇÃO

05.Em qual das alternativas a frase está corretamente escrita? 1-)


A) O mindingo não depositou na cardeneta de poupansa. (A) Ele se esqueceu de que? = quê?
B) O mendigo não depositou na caderneta de poupança. (B) Era tão ruím (ruim) aquele texto, que não deu para distri-
C) O mindigo não depozitou na cardeneta de poupanssa. bui-lo (distribuí-lo) entre os presentes.
D) O mendingo não depozitou na carderneta de poupansa. (C) Embora devêssemos (devêssemos) , não fomos
excessivos nas críticas.
06.(IAMSPE/SP – ATENDENTE – [PAJEM] - CCI) – VU- (D) O juíz (juiz) nunca (se) negou a atender às reivindicações
NESP/2011) Assinale a alternativa em que o trecho – Mas ela dos funcionários.
cresceu ... – está corretamente reescrito no plural, com o verbo no (E) Não sei por que ele mereceria minha consideração.
tempo futuro.
(A) Mas elas cresceram... 2-)
(B) Mas elas cresciam... (A) Os tabeliãos devem preparar o documento. = tabeliães
(C) Mas elas cresçam... (B) Esses cidadões tinham autorização para portar fuzis. = ci-
(D) Mas elas crescem... dadãos
(E) Mas elas crescerão... (C) Para autenticar as certidãos, procure o cartório local. =
certidões
7. (IAMSPE/SP – ATENDENTE – [PAJEM – CCI] – VU-
(E) Cuidado com os degrais, que são perigosos = degraus
NESP/2011 - ADAPTADA) Assinale a alternativa em que o trecho
– O teste decisivo e derradeiro para ele, cidadão ansioso e sofre-
3-) Prezado Usuário
dor...– está escrito corretamente no plural.
A fim de oferecer lazer e cultura aos passageiros do metrô, a
(A) Os testes decisivo e derradeiros para eles, cidadãos
ansioso e sofredores... partir desta segunda-feira (25/02), às 17h30, começa o Sounder-
(B) Os testes decisivos e derradeiros para eles, cidadães ground, festival internacional que prestigia os músicos que tocam
ansio-so e sofredores... em estações do metrô.
(C) Os testes decisivos e derradeiros para eles, cidadãos Confira o dia e a estação em que os artistas se apresentarão e
ansio-sos e sofredores... divirta-se!
(D) Os testes decisivo e derradeiros para eles, cidadões A fim = indica finalidade; a partir: sempre separado; antes de
ansioso e sofredores... horas: há crase
(E) Os testes decisivos e derradeiros para eles, cidadães
ansio-sos e sofredores... 4-) Fiz a correção entre parênteses:
8. (MPE/RJ – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – FUJB/2011) (A) Que eles viajem sempre é muito bom, mas não é boa a
Assinale a alternativa em que a frase NÃO contraria a norma culta: ansiedade com que enfrentam o excesso de passageiros nos aero-
A) Entre eu e a vida sempre houve muitos infortúnios, por portos.
isso posso me queixar com razão. (B) Comete muitos deslises (deslizes), talvez por sua esponta-
B) Sempre houveram várias formas eficazes para ultrapas- neidade, mas nada que ponha em cheque (xeque) sua reputação de
sarmos os infortúnios da vida. pessoa cortês.
C) Devemos controlar nossas emoções todas as vezes que (C) Ele era rabugento e tinha ojeriza ao hábito do sócio de
ver-mos a pobreza e a miséria fazerem parte de nossa vida. descançar (descansar) após o almoço sob a frondoza (frondosa)
D) É difícil entender o por quê de tanto sofrimento, principal- árvore do pátio.
mente daqueles que procuram viver com dignidade e simplicidade. (D) Não sei se isso influe (influi), mas a persistência dessa má-
E) As dificuldades por que passamos certamente nos fazem goa pode estar sendo o grande impecilho (empecilho) na superação
mais fortes e preparados para os infortúnios da vida. dessa sua crise.
(E) O diretor exitou (hesitou) ao aprovar a retenção dessa alta
09.Assinale a alternativa cuja frase esteja incorreta: quantia, mas não quiz (quis) ser taxado de conivente na concessão
A) Porque essa cara? de privilégios ilegítimos.
B) Não vou porque não quero.
C) Mas por quê? 5-)
D) Você saiu por quê? A) O mindingo não depositou na cardeneta de poupansa. =
mendigo/caderneta/poupança
10-) (GOVERNO DO ESTADO DE ALAGOAS – TÉCNICO C) O mindigo não depozitou na cardeneta de poupanssa. =
FORENSE - CESPE/2013 - adaptada) Uma variante igualmente mendigo/caderneta/poupança
correta do termo “autópsia” é autopsia. D) O mendingo não depozitou na carderneta de poupansa.
( ) Certo =mendigo/depositou/caderneta/poupança
( ) Errado

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PORTUGUÊS
6-) Futuro do verbo “crescer”: crescerão. Teremos: mas elas 6. Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e super- quan-
crescerão... do associados com outro termo que é iniciado por r: hiper-resisten-
te, inter-racial, super-racional, etc.
7-) Como os itens apresentam o mesmo texto, a alternativa
cor-reta já indica onde estão as inadequações nos demais itens. 7. Nas formações com os prefixos ex-, vice-: ex-diretor, ex--
presidente, vice-governador, vice-prefeito.
8-) Fiz as correções entre parênteses:
A) Entre eu (mim) e a vida sempre houve muitos infortúnios, 8. Nas formações com os prefixos pós-, pré- e pró-: pré-natal,
por isso posso me queixar com razão. pré-escolar, pró-europeu, pós-graduação, etc.
B) Sempre houveram (houve) várias formas eficazes para ul-
trapassarmos os infortúnios da vida. 9. Na ênclise e mesóclise: amá-lo, deixá-lo, dá-se, abraça-o,
C) Devemos controlar nossas emoções todas as vezes que ver-
lança-o e amá-lo-ei, falar-lhe-ei, etc.
mos (virmos) a pobreza e a miséria fazerem parte de nossa vida.
D) É difícil entender o por quê (o porquê) de tanto sofrimen- 10. Nas formações em que o prefixo tem como segundo ter-mo
to, principalmente daqueles que procuram viver com dignidade e uma palavra iniciada por “h”: sub-hepático, eletro-higrómetro,
simplicidade.
geo-história, neo-helênico, extra-humano, semi-hospitalar, super-
E) As dificuldades por que (= pelas quais; correto) passamos
-homem.
certamente nos fazem mais fortes e preparados para os infortúnios
da vida. 11. Nas formações em que o prefixo ou pseudo prefixo termina
na mesma vogal do segundo elemento: micro-ondas, eletro-ótica,
9-) Por que essa cara? = é uma pergunta e o pronome está longe semi-interno, auto-observação, etc.
do ponto de interrogação. Obs: O hífen é suprimido quando para formar outros termos:
10-) autopsia s.f., autópsia s.f.; cf. autopsia reaver, inábil, desumano, lobisomem, reabilitar.
(fonte: http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/
- Lembre-se: ao separar palavras na translineação (mudança de
start.htm?sid=23)
RESPOSTA: “CERTO”. linha), caso a última palavra a ser escrita seja formada por hífen,
repita-o na próxima linha. Exemplo: escreverei anti-inflamatório
HÍFEN e, ao final, coube apenas “anti-”. Na linha debaixo escreverei: “-
in-flamatório” (hífen em ambas as linhas).
O hífen é um sinal diacrítico (que distingue) usado para ligar
os elementos de palavras compostas (couve-flor, ex-presidente) e Não se emprega o hífen:
para unir pronomes átonos a verbos (ofereceram-me; vê-lo-ei).
Serve igualmente para fazer a translineação de palavras, isto é, 1. Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo termina
no fim de uma linha, separar uma palavra em duas partes (ca-/sa; em vogal e o segundo termo inicia-se em “r” ou “s”. Nesse caso,
compa-/nheiro). passa-se a duplicar estas consoantes: antirreligioso, contrarregra,
Uso do hífen que continua depois da Reforma Ortográfica: infrassom, microssistema, minissaia, microrradiografia, etc.
2. Nas constituições em que o prefixo ou pseudoprefixo ter-mina
1. Em palavras compostas por justaposição que formam uma em vogal e o segundo termo inicia-se com vogal diferente: antiaéreo,
unidade semântica, ou seja, nos termos que se unem para formar extraescolar, coeducação, autoestrada, autoaprendiza-gem,
um novo significado: tio-avô, porto-alegrense, luso-brasileiro, hidroelétrico, plurianual, autoescola, infraestrutura, etc.
tenente-coronel, segunda-feira, conta-gotas, guarda-chuva, arco-
-íris, primeiro-ministro, azul-escuro. 3. Nas formações, em geral, que contêm os prefixos “dês” e
“in” e o segundo elemento perdeu o h inicial: desumano, inábil,
2. Em palavras compostas por espécies botânicas e zoológicas: desabilitar, etc.
couve-flor, bem-te-vi, bem-me-quer, abóbora-menina, erva-doce,
feijão-verde. 4. Nas formações com o prefixo “co”, mesmo quando o segun-
do elemento começar com “o”: cooperação, coobrigação, coorde-
3. Nos compostos com elementos além, aquém, recém e sem: nar, coocupante, coautor, coedição, coexistir, etc.
além-mar, recém-nascido, sem-número, recém-casado, aquém-
-fiar, etc. 5. Em certas palavras que, com o uso, adquiriram noção de
composição: pontapé, girassol, paraquedas, paraquedista, etc.
4. No geral, as locuções não possuem hífen, mas algumas exce-
ções continuam por já estarem consagradas pelo uso: cor- -de-ro- 6. Em alguns compostos com o advérbio “bem”: benfeito,
sa, arco-da-velha, mais-que-perfeito, pé-de-meia, água-de- -co- ben-querer, benquerido, etc.
lônia, queima-roupa, deus-dará.
Questões sobre Hífen
5. Nos encadeamentos de vocábulos, como: ponte Rio-Niterói,
percurso Lisboa-Coimbra-Porto e nas combinações históricas ou 01.Assinale a alternativa em que o hífen, conforme o novo
ocasionais: Áustria-Hungria, Angola-Brasil, Alsácia-Lorena, etc. Acordo, está sendo usado corretamente:

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PORTUGUÊS
A) Ele fez sua auto-crítica ontem. C) contramestre / infravermelho / autoescola
B) Ela é muito mal-educada. D) neoescolástico / ultrassom / pseudo-herói
C) Ele tomou um belo ponta-pé. E) extraoficial / infra-hepático /semirreta
D) Fui ao super-mercado, mas não entrei.
E) Os raios infra-vermelhos ajudam em lesões. 09.Uma das alternativas abaixo apresenta incorreção quanto
ao emprego do hífen.
02.Assinale a alternativa errada quanto ao emprego do hífen: A) O pseudo-hermafrodita não tinha infraestrutura para rela-
A) Pelo interfone ele comunicou bem-humorado que faria cionamento extraconjugal.
uma superalimentação. B) Era extraoficial a notícia da vinda de um extraterreno.
B) Nas circunvizinhanças há uma casa malassombrada. C) Ele estudou línguas neolatinas nas colônias ultramarinas.
C) Depois de comer a sobrecoxa, tomou um antiácido. D) O anti-semita tomou um anti-biótico e vacina antirrábica.
D) Nossos antepassados realizaram vários anteprojetos. E) Era um suboficial de uma superpotência.
E) O autodidata fez uma autoanálise.
10.Assinale a alternativa em que ocorre erro quanto ao
03.Assinale a alternativa incorreta quanto ao emprego do hí- empre-go do hífen.
fen, respeitando-se o novo Acordo. A) Foi iniciada a campanha pró-leite.
A) O semi-analfabeto desenhou um semicírculo. B) O ex-aluno fez a sua autodefesa.
B) O meia-direita fez um gol de sem-pulo na semifinal do C) O contrarregra comeu um contra-filé.
cam-peonato. D) Sua vida é um verdadeiro contrassenso.
C) Era um sem-vergonha, pois andava seminu. E) O meia-direita deu início ao contra-ataque.
D) O recém-chegado veio de além-mar.
E) O vice-reitor está em estado pós-operatório. GABARITO
04.Segundo o novo Acordo, entre as palavras pão duro (ava- 01. B 02. B 03. A 04. E 05. C
rento), copo de leite (planta) e pé de moleque (doce) o hífen é 06. D 07. D 08. B 09. D 10. C
obrigatório:
A) em nenhuma delas. RESOLUÇÃO
B) na segunda palavra.
C) na terceira palavra. 1-)
D) em todas as palavras. A) autocrítica
E) na primeira e na segunda palavra. C) pontapé
D) supermercado
05.Fez um esforço __ para vencer o campeonato __. Qual al- E) infravermelhos
ternativa completa corretamente as lacunas?
A) sobreumano/interregional 2-)B) Nas circunvizinhanças há uma casa mal-assombrada.
B) sobrehumano-interregional
C) sobre-humano / inter-regional 3-) A) O semianalfabeto desenhou um semicírculo.
D) sobrehumano/ inter-regional 4-)
E) sobre-humano /interegional a) pão-duro / b) copo-de-leite (planta) / c) pé de moleque (doce)
6. Suponha que você tenha que agregar o prefixo sub- às pa- a) Usa-se o hífen nas palavras compostas que não apresentam
lavras que aparecem nas alternativas a seguir. Assinale aquela que elementos de ligação.
tem de ser escrita com hífen: b) Usa-se o hífen nos compostos que designam espécies ani-
A) (sub) chefe B) mais e botânicas (nomes de plantas, flores, frutos, raízes, semen-
(sub) entender C) tes), tenham ou não elementos de ligação.
(sub) solo D) c) Não se usa o hífen em compostos que apresentam
(sub) reptício E) elementos de ligação.
(sub) liminar
5-) Fez um esforço sobre-humano para vencer o campeonato
07.Assinale a alternativa em que todas as palavras estão inter-regional.
grafa-das corretamente: - Usa-se o hífen diante de palavra iniciada por h.
A) autocrítica, contramestre, extra-oficial - Usa-se o hífen se o prefixo terminar com a mesma letra com
B) infra-assinado, infra-vermelho, infra-som que se inicia a outra palavra
C) semi-círculo, semi-humano, semi-internato
D) supervida, superelegante, supermoda 6-) Com os prefixos sub e sob, usa-se o hífen também diante
E) sobre-saia, mini-saia, superssaia de palavra iniciada por r. : subchefe, subentender, subsolo, sub--
reptício (sem o hífen até a leitura da palavra será alterada; /subre/,
08.Assinale o item em que o uso do hífen está incorreto. ao invés de /sub re/), subliminar
A) infraestrutura / super-homem / autoeducação
B) bem-vindo / antessala /contra-regra

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PORTUGUÊS
7-) Os acentos
A) autocrítica, contramestre, extraoficial
B) infra-assinado, infravermelho, infrassom acento agudo (´) – Colocado sobre as letras «a», «i», «u» e
C) semicírculo, semi-humano, semi-internato sobre o «e» do grupo “em” - indica que estas letras representam as
D) supervida, superelegante, supermoda = corretas vogais tônicas de palavras como Amapá, caí, público, parabéns.
E) sobressaia, minissaia, supersaia Sobre as letras “e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre aberto.
8-) B) bem-vindo / antessala / contrarregra Ex.: herói – médico – céu (ditongos abertos)

9-) D) O antissemita tomou um antibiótico e vacina antirrábica. acento circunflexo (^) – colocado sobre as letras “a”, “e” e “o”
indica, além da tonicidade, timbre fechado: Ex.: tâmara – Atlân-
10-) C) O contrarregra comeu um contrafilé. tico – pêssego – supôs
acento grave (`) – indica a fusão da preposição “a” com artigos
ACENTUAÇÃO GRÁFICA e pronomes. Ex.: à – às – àquelas – àqueles
trema ( ¨ ) – De acordo com a nova regra, foi totalmente abo-lido
A acentuação é um dos requisitos que perfazem as regras esta- das palavras. Há uma exceção: é utilizado em palavras deri-vadas de
belecidas pela Gramática Normativa. Esta se compõe de algumas nomes próprios estrangeiros. Ex.: mülleriano (de Müller)
particularidades, às quais devemos estar atentos, procurando esta-
belecer uma relação de familiaridade e, consequentemente, colo- til (~) – indica que as letras “a” e “o” representam vogais na-
cando-as em prática na linguagem escrita. sais. Ex.: coração – melão – órgão – ímã
À medida que desenvolvemos o hábito da leitura e a prática de
redigir, automaticamente aprimoramos essas competências, e logo Regras fundamentais:
nos adequamos à forma padrão.
Palavras oxítonas:
Regras básicas – Acentuação tônica Acentuam-se todas as oxítonas terminadas em: “a”, “e”, “o”,
“em”, seguidas ou não do plural(s): Pará – café(s) – cipó(s) – ar-
A acentuação tônica implica na intensidade com que são pro- mazém(s)
nunciadas as sílabas das palavras. Aquela que se dá de forma mais Essa regra também é aplicada aos seguintes casos:
acentuada, conceitua-se como sílaba tônica. As demais, como são Monossílabos tônicos terminados em “a”, “e”, “o”, seguidos
pronunciadas com menos intensidade, são denominadas de átonas. ou não de “s”. Ex.: pá – pé – dó – há
Formas verbais terminadas em “a”, “e”, “o” tônicos, seguidas
De acordo com a tonicidade, as palavras são classificadas de lo, la, los, las. Ex. respeitá-lo – percebê-lo – compô-lo
como:
Paroxítonas:
Oxítonas – São aquelas cuja sílaba tônica recai sobre a última Acentuam-se as palavras paroxítonas terminadas em:
sílaba. Ex.: café – coração – cajá – atum – caju – papel - i, is : táxi – lápis – júri
Paroxítonas – São aquelas em que a sílaba tônica recai na pe- - us, um, uns : vírus – álbuns – fórum
núltima sílaba. Ex.: útil – tórax – táxi – leque – retrato – passível - l, n, r, x, ps : automóvel – elétron - cadáver – tórax – fórceps
- ã, ãs, ão, ãos : ímã – ímãs – órfão – órgãos
Proparoxítonas - São aquelas em que a sílaba tônica está na -- Dica da Zê!: Memorize a palavra LINURXÃO. Para quê?
antepenúltima sílaba. Ex.: lâmpada – câmara – tímpano – médi-co Repare que essa palavra apresenta as terminações das paroxítonas
– ônibus que são acentuadas: L, I N, U (aqui inclua UM = fórum), R, X, Ã,
ÃO. Assim ficará mais fácil a memorização!
Como podemos observar, os vocábulos possuem mais de uma
sílaba, mas em nossa língua existem aqueles com uma sílaba so-mente: -ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido ou não de “s”:
são os chamados monossílabos que, quando pronunciados, água – pônei – mágoa – jóquei
apresentam certa diferenciação quanto à intensidade.
Tal diferenciação só é percebida quando os pronunciamos em Regras especiais:
uma dada sequência de palavras. Assim como podemos observar
no exemplo a seguir: Os ditongos de pronúncia aberta “ei”, “oi” (ditongos abertos),
que antes eram acentuados, perderam o acento de acordo com a
“Sei que não vai dar em nada, nova regra, mas desde que estejam em palavras paroxítonas.
Seus segredos sei de cor”.
* Cuidado: Se os ditongos abertos estiverem em uma palavra
Os monossílabos classificam-se como tônicos; os demais, oxítona (herói) ou monossílaba (céu) ainda são acentuados. Ex.:
como átonos (que, em, de). herói, céu, dói, escarcéu.

Antes Agora
assembléia assembleia
idéia ideia

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PORTUGUÊS
geléia geleia Acentuam-se os verbos pertencentes à terceira pessoa do
jibóia jiboia plural de: ele tem – eles têm / ele vem – eles vêm (verbo vir)
apóia (verbo apoiar) apoia
paranóico paranoico A regra prevalece também para os verbos conter, obter, reter,
deter, abster.
Quando a vogal do hiato for “i” ou “u” tônicos, acompanhados ele contém – eles contêm
ou não de “s”, haverá acento. Ex.: saída – faísca – baú – país – ele obtém – eles obtêm
Luís ele retém – eles retêm
ele convém – eles convêm
Observação importante:
Não serão mais acentuados “i” e “u” tônicos, formando hiato Não se acentuam mais as palavras homógrafas que antes eram
quando vierem depois de ditongo: Ex.: acentuadas para diferenciá-las de outras semelhantes (regra do
Antes Agora acento diferencial). Apenas em algumas exceções, como:
bocaiúva bocaiuva A forma verbal pôde (terceira pessoa do singular do pretérito
feiúra feiura perfeito do modo indicativo) ainda continua sendo acentuada para
Sauípe Sauipe diferenciar-se de pode (terceira pessoa do singular do presente do
indicativo). Ex:
O acento pertencente aos encontros “oo” e “ee” foi abolido.
Ela pode fazer isso agora.
Ex.:
Antes Agora Elvis não pôde participar porque sua mão não deixou...
crêem creem
lêem leem O mesmo ocorreu com o verbo pôr para diferenciar da prepo-
vôo voo sição por.
enjôo enjoo - Quando, na frase, der para substituir o “por” por “colocar”,
estaremos trabalhando com um verbo, portanto: “pôr”; nos outros
- Agora memorize a palavra CREDELEVÊ. São os verbos que, casos, “por” preposição. Ex:
no plural, dobram o “e”, mas que não recebem mais acento como Faço isso por você.
antes: CRER, DAR, LER e VER. Posso pôr (colocar) meus livros aqui?

Repare: Questões sobre Acentuação Gráfica


1-) O menino crê em você
Os meninos creem em você. 1. (TJ/SP – AGENTE DE FISCALIZAÇÃO JUDICIÁRIA
2-) Elza lê bem! – VUNESP/2010) Assinale a alternativa em que as palavras são
Todas leem bem! acentuadas graficamente pelos mesmos motivos que justificam,
3-) Espero que ele dê o recado à sala. respectivamente, as acentuações de: década, relógios, suíços.
Esperamos que os garotos deem o recado! (A) flexíveis, cartório, tênis.
4-) Rubens vê tudo! (B) inferência, provável, saída.
Eles veem tudo! (C) óbvio, após, países.
(D) islâmico, cenário, propôs.
* Cuidado! Há o verbo vir: (E) república, empresária, graúda.
Ele vem à tarde!
Eles vêm à tarde! 2. (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO
PAULO - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VU-
Não se acentuam o “i” e o “u” que formam hiato quando segui- NESP/2013) Assinale a alternativa com as palavras acentuadas
dos, na mesma sílaba, de l, m, n, r ou z. Ra-ul, ru-im, con-tri-bu- segundo as regras de acentuação, respectivamente, de intercâmbio
in-te, sa-ir, ju-iz e antropológico.
(A) Distúrbio e acórdão.
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se estiverem
(B) Máquina e jiló.
seguidas do dígrafo nh. Ex: ra-i-nha, ven-to-i-nha. (C) Alvará e Vândalo.
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se vierem prece- (D) Consciência e características.
(E) Órgão e órfãs.
didas de vogal idêntica: xi-i-ta, pa-ra-cu-u-ba

As formas verbais que possuíam o acento tônico na raiz, com 3. (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ACRE –
“u” tônico precedido de “g” ou “q” e seguido de “e” ou “i” não TÉCNICO EM MICROINFORMÁTICA - CESPE/2012) As pa-
serão mais acentuadas. Ex.: lavras “conteúdo”, “calúnia” e “injúria” são acentuadas de acordo
com a mesma regra de acentuação gráfica.
Antes Depois ( ) CERTO
apazigúe (apaziguar) apazigue ( ) ERRADO
averigúe (averiguar) averigue
argúi (arguir) argui

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PORTUGUÊS
4. (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS (D) islâmico = proparoxítona / cenário = paroxítona
GERAIS – OFICIAL JUDICIÁRIO – FUNDEP/2010) Assinale a terminada em ditongo / propôs = oxítona terminada em “o” + “s”
afirmativa em que se aplica a mesma regra de acentuação. (E) república = proparoxítona / empresária = paroxítona
A) tevê – pôde – vê termi-nada em ditongo / graúda = regra do hiato
B) únicas – histórias – saudáveis
C) indivíduo – séria – noticiários 2-) Para que saibamos qual alternativa assinalar, primeiro te-
D) diário – máximo – satélite mos que classificar as palavras do enunciado quanto à posição de
sua sílaba tônica:
5. (ANATEL – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CES- Intercâmbio = paroxítona terminada em ditongo; Antropológi-
PE/2012) Nas palavras “análise” e “mínimos”, o emprego do acen- co = proparoxítona (todas são acentuadas). Agora, vamos à análise
to gráfico tem justificativas gramaticais diferentes. dos itens apresentados:
( ) CERTO (A) Distúrbio = paroxítona terminada em ditongo; acórdão =
( ) ERRADO paroxítona terminada em “ão”
(B) Máquina = proparoxítona; jiló = oxítona terminada em “o”
6. (ANCINE – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CES- (C) Alvará = oxítona terminada em “a”; Vândalo = proparo-
PE/2012) Os vocábulos “indivíduo”, “diária” e “paciência” rece- xítona
bem acento gráfico com base na mesma regra de acentuação grá- (D) Consciência = paroxítona terminada em ditongo; caracte-
fica. rísticas = proparoxítona
( ) CERTO (E) Órgão e órfãs = ambas: paroxítona terminada em “ão” e
( ) ERRADO “ã”, respectivamente.
7. (BACEN – TÉCNICO DO BANCO CENTRAL – CES- 3-) “Conteúdo” é acentuada seguindo a regra do hiato; calúnia
GRANRIO/2010) As palavras que se acentuam pelas mesmas = paroxítona terminada em ditongo; injúria = paroxítona termina-
regras de “conferência”, “razoável”, “países” e “será”, respecti- da em ditongo.
vamente, são RESPOSTA: “ERRADO”.
a) trajetória, inútil, café e baú.
b) exercício, balaústre, níveis e sofá. 4-)
c) necessário, túnel, infindáveis e só. A) tevê – pôde – vê
d) médio, nível, raízes e você. Tevê = oxítona terminada em “e”; pôde (pretérito perfeito do
e) éter, hífen, propôs e saída. Indicativo) = acento diferencial (que ainda prevalece após o Novo
Acordo Ortográfico) para diferenciar de “pode” – presente do In-
8. (CORREIOS – CARTEIRO – CESPE/2011) São acentua- dicativo; vê = monossílaba terminada em “e”
dos graficamente de acordo com a mesma regra de acentuação grá- B) únicas – histórias – saudáveis
fica os vocábulos Únicas = proparoxítona; história = paroxítona terminada em
A) também e coincidência. ditongo; saudáveis = paroxítona terminada em ditongo.
B) quilômetros e tivéssemos. C) indivíduo – séria – noticiários
C) jogá-la e incrível. Indivíduo = paroxítona terminada em ditongo; séria = paro-
D) Escócia e nós. xítona terminada em ditongo; noticiários = paroxítona terminada
E) correspondência e três. em ditongo.
9. (IBAMA – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CES- D) diário – máximo – satélite
PE/2012) As palavras “pó”, “só” e “céu” são acentuadas de acordo Diário = paroxítona terminada em ditongo; máximo = proparo-
com a mesma regra de acentuação gráfica. xítona; satélite = proparoxítona.
( ) CERTO 5-) Análise = proparoxítona / mínimos = proparoxítona. Am-
( ) ERRADO bas são acentuadas pela mesma regra (antepenúltima sílaba é tôni-
ca, “mais forte”).
GABARITO RESPOSTA: “ERRADO”.
01. E 02. D 03. E 04. C 05. E
06. C 07. D 08. B 09. E 6-) Indivíduo = paroxítona terminada em ditongo; diária = pa-
roxítona terminada em ditongo; paciência = paroxítona terminada
RESOLUÇÃO em ditongo. Os três vocábulos são acentuados devido à mesma
regra.
1-) Década = proparoxítona / relógios = paroxítona terminada RESPOSTA: “CERTO”.
em ditongo / suíços = regra do hiato
(A) flexíveis e cartório = paroxítonas terminadas em ditongo / 7-) Vamos classificar as palavras do enunciado:
tênis = paroxítona terminada em “i” (seguida de “s”) 1-) Conferência = paroxítona terminada em ditongo
(B) inferência = paroxítona terminada em ditongo / provável 2-) razoável = paroxítona terminada em “l’
= paroxítona terminada em “l” / saída = regra do hiato 3-) países = regra do hiato
(C) óbvio = paroxítona terminada em ditongo / após = oxítona 4-) será = oxítona terminada em “a”
terminada em “o” + “s” / países = regra do hiato

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PORTUGUÊS
a) trajetória, inútil, café e baú. No exemplo acima, temos a ocorrência da preposição “a”, exigida
Trajetória = paroxítona terminada em ditongo; inútil = paroxí- pelo verbo ir (ir a algum lugar) e a ocorrência do artigo “a” que está
tona terminada em “l’; café = oxítona terminada em “e” determinando o substantivo feminino igreja. Quando ocorre esse
b) exercício, balaústre, níveis e sofá. encontro das duas vogais e elas se unem, a união delas
Exercício = paroxítona terminada em ditongo; balaústre = re- é indicada pelo acento grave. Observe os outros exemplos:
gra do hiato; níveis = paroxítona terminada em “i + s”; sofá = Conheço a aluna.
oxítona terminada em “a”. Refiro-me à aluna.
c) necessário, túnel, infindáveis e só.
Necessário = paroxítona terminada em ditongo; túnel = paro- No primeiro exemplo, o verbo é transitivo direto (conhecer algo
xítona terminada em “l’; infindáveis = paroxítona terminada em “i ou alguém), logo não exige preposição e a crase não pode ocorrer. No
+ s”; só = monossílaba terminada em “o”. segundo exemplo, o verbo é transitivo indireto (referir--se a algo ou a
d) médio, nível, raízes e você. alguém) e exige a preposição “a”. Portanto, a crase
Médio = paroxítona terminada em ditongo; nível = paroxítona é possível, desde que o termo seguinte seja feminino e admita o
terminada em “l’; raízes = regra do hiato; será = oxítona terminada artigo feminino “a” ou um dos pronomes já especificados.
em “a”. Casos em que a crase NÃO ocorre:
e) éter, hífen, propôs e saída.
Éter = paroxítona terminada em “r”; hífen = paroxítona ter- - diante de substantivos
minada em “n”; propôs = oxítona terminada em “o + s”; saída = masculinos: Andamos a cavalo.
Fomos a pé.
regra do hiato.
Passou a camisa a ferro. Fazer
8-) o exercício a lápis. Compramos
A) também e coincidência. os móveis a prazo.
Também = oxítona terminada em “e + m”; coincidência = pa-
roxítona terminada em ditongo - diante de verbos no infinitivo:
B) quilômetros e tivéssemos. A criança começou a falar.
Ela não tem nada a dizer.
Quilômetros = proparoxítona; tivéssemos = proparoxítona
C) jogá-la e incrível.
Obs.: como os verbos não admitem artigos, o “a” dos exemplos
Oxítona terminada em “a”; incrível = paroxítona terminada em
“l’ acima é apenas preposição, logo não ocorrerá crase.
D) Escócia e nós.
- diante da maioria dos pronomes e das expressões de tra-
Escócia = paroxítona terminada em ditongo; nós = monossíla-
tamento, com exceção das formas senhora, senhorita e dona:
ba terminada em “o + s” Diga a ela que não estarei em casa amanhã.
E) correspondência e três. Entreguei a todos os documentos necessários.
Correspondência = paroxítona terminada em ditongo; três = Ele fez referência a Vossa Excelência no discurso de ontem.
monossílaba terminada em “e + s” Peço a Vossa Senhoria que aguarde alguns minutos.
9-) Pó = monossílaba terminada em “o”; só = monossílaba ter- Os poucos casos em que ocorre crase diante dos pronomes po-
minada em “o”; céu = monossílaba terminada em ditongo aberto dem ser identificados pelo método: troque a palavra feminina por
“éu”. uma masculina, caso na nova construção surgir a forma ao, ocor-
RESPOSTA: “ERRADO”. rerá crase. Por exemplo:
Refiro-me à mesma pessoa. (Refiro-me ao mesmo indivíduo.)
Informei o ocorrido à senhora. (Informei o ocorrido ao se-
CRASE nhor.)
Peça à própria Cláudia para sair mais cedo. (Peça ao próprio
A palavra crase é de origem grega e significa “fusão”, “mistu-ra”. Cláudio para sair mais cedo.)
Na língua portuguesa, é o nome que se dá à “junção” de duas vogais
idênticas. É de grande importância a crase da preposição “a” com o - diante de numerais cardinais: Chegou a
artigo feminino “a” (s), com o “a” inicial dos pronomes aquele(s), duzentos o número de feridos. Daqui a uma
aquela (s), aquilo e com o “a” do relativo a qual (as quais). Na escrita, semana começa o campeonato.
utilizamos o acento grave ( ` ) para indicar a crase. O uso apropriado
do acento grave depende da compreensão da fusão das duas vogais. É Casos em que a crase SEMPRE ocorre:
fundamental também, para o entendi-mento da crase, dominar a
regência dos verbos e nomes que exi-gem a preposição “a”. Aprender - diante de palavras femininas:
a usar a crase, portanto, consiste em aprender a verificar a ocorrência Amanhã iremos à festa de aniversário de minha colega.
simultânea de uma preposição e um artigo ou pronome. Observe: Sempre vamos à praia no verão.
Vou a + a igreja. Ela disse à irmã o que havia escutado pelos corredores.
Vou à igreja. Sou grata à população.
Fumar é prejudicial à saúde.
Este aparelho é posterior à invenção do telefone.

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PORTUGUÊS
- diante da palavra “moda”, com o sentido de “à moda de” Refiro-me àquele atentado.
(mesmo que a expressão moda de fique subentendida):
O jogador fez um gol à (moda de) Pelé. O termo regente do exemplo acima é o verbo transitivo indire-
Usava sapatos à (moda de) Luís XV. to referir (referir-se a algo ou alguém) e exige preposição, portan-
Estava com vontade de comer frango à (moda de) passarinho. to, ocorre a crase. Observe este outro exemplo:
O menino resolveu vestir-se à (moda de) Fidel Castro. Aluguei aquela casa.

- na indicação de horas: O verbo “alugar” é transitivo direto (alugar algo) e não exi-ge
Acordei às sete horas da manhã. preposição. Logo, a crase não ocorre nesse caso. Veja outros
Elas chegaram às dez horas. exemplos:
Foram dormir à meia-noite. Dediquei àquela senhora todo o meu trabalho.
- em locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas de Quero agradecer àqueles que me socorreram.
que participam palavras femininas. Por exemplo: Refiro-me àquilo que aconteceu com seu pai.
à tarde às ocultas às pressas à medida Não obedecerei àquele sujeito.
que Assisti àquele filme três vezes.
à noite às claras às escondidas à força Espero aquele rapaz.
à vontade à beça à larga à escuta Fiz aquilo que você disse.
às avessas à revelia à exceção de à imitação de Comprei aquela caneta.
à esquerda às turras às vezes à chave
à direita à procura à deriva à toa Crase com os Pronomes Relativos A Qual, As Quais
à luz à sombra de à frente de à proporção que
à semelhança de às ordens à beira de A ocorrência da crase com os pronomes relativos a qual e as quais
Crase diante de Nomes de Lugar depende do verbo. Se o verbo que rege esses pronomes exi-gir a
preposição “a”, haverá crase. É possível detectar a ocorrência da crase
Alguns nomes de lugar não admitem a anteposição do artigo nesses casos utilizando a substituição do termo regido feminino por
“a”. Outros, entretanto, admitem o artigo, de modo que diante de- um termo regido masculino. Por exemplo:
les haverá crase, desde que o termo regente exija a preposição “a”.
Para saber se um nome de lugar admite ou não a anteposição do A igreja à qual me refiro fica no centro da cidade.
artigo feminino “a”, deve-se substituir o termo regente por um ver- O monumento ao qual me refiro fica no centro da cidade.
bo que peça a preposição “de” ou “em”. A ocorrência da contração
“da” ou “na” prova que esse nome de lugar aceita o artigo e, por Caso surja a forma ao com a troca do termo, ocorrerá a crase.
isso, haverá crase. Por exemplo: Veja outros exemplos:
São normas às quais todos os alunos devem obedecer.
Vou à França. (Vim da [de+a] França. Estou na [em+a] Fran- Esta foi a conclusão à qual ele chegou.
ça.) Várias alunas às quais ele fez perguntas não souberam respon-
Cheguei à Grécia. (Vim da Grécia. Estou na Grécia.) der nenhuma das questões.
Retornarei à Itália. (Vim da Itália. Estou na Itália) A sessão à qual assisti estava vazia. Crase
Vou a Porto Alegre. (Vim de Porto Alegre. Estou em Porto
Ale-gre.) com o Pronome Demonstrativo “a”

*- Dica da Zê! : use a regrinha “Vou A volto DA, crase HÁ; A ocorrência da crase com o pronome demonstrativo “a” tam-
vou A volto DE, crase PRA QUÊ?” bém pode ser detectada através da substituição do termo regente
Ex: Vou a Campinas. = Volto de Campinas. feminino por um termo regido masculino. Veja:
Vou à praia. = Volto da praia. Minha revolta é ligada à do meu país.
Meu luto é ligado ao do meu país.
- ATENÇÃO: quando o nome de lugar estiver especificado, As orações são semelhantes às de antes.
ocorrerá crase. Veja: Os exemplos são semelhantes aos de antes.
Retornarei à São Paulo dos bandeirantes. = mesmo que, pela Suas perguntas são superiores às dele.
regrinha acima, seja a do “VOLTO DE” Seus argumentos são superiores aos dele.
Irei à Salvador de Jorge Amado. Sua blusa é idêntica à de minha colega.
Seu casaco é idêntico ao de minha colega.
Crase diante dos Pronomes Demonstrativos Aquele (s),
Aquela (s), Aquilo A Palavra Distância

Haverá crase diante desses pronomes sempre que o termo re- Se a palavra distância estiver especificada, determinada, a cra-
gente exigir a preposição “a”. Por exemplo: se deve ocorrer. Por exemplo: Sua casa fica à distância de 100km
daqui. (A palavra está determinada)
Refiro-me a + aquele atentado. Todos devem ficar à distância de 50 metros do palco. (A pala-
Preposição Pronome vra está especificada.)

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PORTUGUÊS
Se a palavra distância não estiver especificada, a crase não As lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e respec-
pode ocorrer. Por exemplo: tivamente, com:
Os militares ficaram a distância. (A) aos … à … a … a
Gostava de fotografar a distância. (B) aos … a … à … a
Ensinou a distância. (C) a … a … à … à
Dizem que aquele médico cura a distância. (D) à … à … à … à
Reconheci o menino a distância. (E) a … a … a … a

Observação: por motivo de clareza, para evitar ambiguidade, 2. (Agente de Apoio Administrativo – FCC – 2013).Leia o
pode-se usar a crase. Veja: texto a seguir.
Gostava de fotografar à distância. Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu
Ensinou à distância. ______ cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do
Dizem que aquele médico cura à distância. procedimento de Camilo. Vimos que ______ cartomante restituiu-
Casos em que a ocorrência da crase é FACULTATIVA - -lhe ______ confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o
diante de nomes próprios femininos: que fez.
Observação: é facultativo o uso da crase diante de nomes pró- (Machado de Assis. A cartomante. In: Várias histórias. Rio de
prios femininos porque é facultativo o uso do artigo. Observe: Janeiro: Globo, 1997, p. 6)
Paula é muito bonita. Laura é minha amiga. Preenchem corretamente as lacunas da frase acima, na ordem
A Paula é muito bonita. A Laura é minha amiga. dada:
A) à – a – a
Como podemos constatar, é facultativo o uso do artigo femini- B) a – a – à
no diante de nomes próprios femininos, então podemos escrever as C) à – a – à
frases abaixo das seguintes formas: D) à – à – a
Entreguei o cartão a Paula. Entreguei o cartão a Roberto. E) a – à – à
Entreguei o cartão à Paula. Entreguei o cartão ao Roberto.
03 (POLÍCIA CIVIL/SP – AGENTE POLICIAL - VU-
- diante de pronome possessivo feminino: NESP/2013) De acordo com a norma-padrão da língua portugue-
Observação: é facultativo o uso da crase diante de pronomes sa, o acento indicativo de crase está corretamente empregado em:
possessivos femininos porque é facultativo o uso do artigo. Ob- (A) A população, de um modo geral, está à espera de que,
serve: com o novo texto, a lei seca possa coibir os acidentes.
Minha avó tem setenta anos. Minha irmã está esperando por (B) A nova lei chega para obrigar os motoristas à repensarem
você. a sua postura.
A minha avó tem setenta anos. A minha irmã está esperando (C) A partir de agora os motoristas estarão sujeitos à punições
por você. muito mais severas.
Sendo facultativo o uso do artigo feminino diante de pronomes (D) À ninguém é dado o direito de colocar em risco a vida
possessivos femininos, então podemos escrever as frases abaixo dos demais motoristas e de pedestres.
das seguintes formas: (E) Cabe à todos na sociedade zelar pelo cumprimento da
Cedi o lugar a minha avó. Cedi o lugar a meu avô. nova lei para que ela possa funcionar.
Cedi o lugar à minha avó. Cedi o lugar ao meu avô.
4. (Agente Técnico – FCC – 2013-adap.) Claro que não me estou
- depois da preposição até: referindo a essa vulgar comunicação festiva e efervescente.
Fui até a praia. ou Fui até à praia. O vocábulo a deverá receber o sinal indicativo de crase se o
Acompanhe-o até a porta. ou Acompanhe-o até à porta. segmento grifado for substituído por:
A palestra vai até as cinco horas da tarde. ou A palestra vai A) leitura apressada e sem profundidade.
até às cinco horas da tarde. B) cada um de nós neste formigueiro.
C) exemplo de obras publicadas recentemente.
Questões sobre Crase D) uma comunicação festiva e virtual.
E) respeito de autores reconhecidos pelo público.
01.( Escrevente TJ SP – Vunesp/2012) No Brasil, as discussões
sobre drogas parecem limitar-se ______aspectos jurídicos ou po- 5. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VUNESP
liciais. É como se suas únicas consequências estivessem em lega- – 2013).
lismos, tecnicalidades e estatísticas criminais. Raro ler ____res-peito O Instituto Nacional de Administração Prisional (INAP) tam-
envolvendo questões de saúde pública como programas de bém desenvolve atividades lúdicas de apoio______ ressociali-
esclarecimento e prevenção, de tratamento para dependentes e de zação do indivíduo preso, com o objetivo de prepará--lo para o
reintegração desses____ vida. Quantos de nós sabemos o nome de um retorno______ sociedade. Dessa forma, quando em liberdade, ele
médico ou clínica ____quem tentar encaminhar um drogado da nossa estará capacitado______ ter uma profissão e uma vida digna.
própria família? (Disponível em: www.metropolitana.com.br/blog/qual_e_a_
(Ruy Castro, Da nossa própria família. Folha de importancia_da_ressocializacao_de_presos. Acesso em:
S.Paulo, 17.09.2012. Adaptado) 18.08.2012. Adaptado)

11
PORTUGUÊS
Assinale a alternativa que preenche, correta e respectivamen- (A) à - à - a
te, as lacunas do texto, de acordo com a norma-padrão da língua (B) a - à - a
portuguesa. (C) à - a - à
A) à … à … à (D) a - à - à
B) a … a … à (E) à - a – a
C) a … à … à
D) à … à ... a 10. (POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO ACRE – ALUNO
E) a … à … a SOLDADO COMBATENTE – FUNCAB/2012) Em qual das op-
ções abaixo o acento indicativo de crase foi corretamente indica-
6. (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAU- do?
LO - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VUNESP/2013) A) O dia fora quente, mas à noite estava fria e escura.
B) Ninguém se referira à essa ideia antes.
Assinale a alternativa que completa as lacunas do trecho a seguir,
C) Esta era à medida certa do quarto. D)
empregando o sinal indicativo de crase de acordo com a norma -
Ela fechou a porta e saiu às pressas.
padrão.
E) Os rapazes sempre gostaram de andar à cavalo.
Não nos sujeitamos ____ corrupção; tampouco cederemos es-
paço ____ nenhuma ação que se proponha ____ prejudicar nossas GABARITO
instituições. 01. B 02. A 03. A 04. A 05. D
(A) à … à … à 06.C 07. E 08. B 09.B 10. D
(B) a … à … à
(C) à … a … a RESOLUÇÃO
(D) à … à … a
(E) a … a … à 1-) limitar-se _aos _aspectos jurídicos ou policiais.
Raro ler __a__respeito (antes de palavra masculina não
7. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VUNESP há crase)
– 2013-adap) O acento indicativo de crase está corretamente em- de reintegração desses_à_ vida. (reintegrar a + a vida = à)
pregado em: o nome de um médico ou clínica __a_quem tentar encaminhar
A) Tendências agressivas começam à ser relacionadas com as um drogado da nossa própria família? (antes de pronome indefini-
dificuldades para lidar com as frustrações de seus desejos. do/relativo)
B) A agressividade impulsiva deve-se à perturbações nos me-
canismos biológicos de controle emocional. 2-) correu _à (= para a ) cartomante para consultá-la sobre a
C) A violência urbana é comparada à uma enfermidade. verdadeira causa do procedimento de Camilo. Vimos que _a__car-
D) Condições de risco aliadas à exemplo de impunidade ali- tomante (objeto direto)restituiu-lhe ___a___ confiança (objeto di-
mentam a violência crescente nas cidades. reto), e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez.
E) Um ambiente desfavorável à formação da personalidade 3-)
(A) A população, de um modo geral, está à espera (dá para
atinge os mais vulneráveis.
substituir por “esperando”) de que
8. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – 2013). O (B) A nova lei chega para obrigar os motoristas à repensarem
sinal indicativo de crase está correto em: (antes de verbo)
A) Este cientista tem se dedicado à uma pesquisa na área de (C) A partir de agora os motoristas estarão sujeitos à punições
(generalizando, palavra no plural)
biotecnologia.
(D) À ninguém (pronome indefinido)
B) Os pais não podem ser omissos e devem se dedicar à edu-
(E) Cabe à todos (pronome indefinido)
cação dos filhos. 4-) Claro que não me estou referindo à leitura apressada e sem
C) Nossa síndica dedica-se integralmente à conservar as profundidade.
insta-lações do prédio. a cada um de nós neste formigueiro. (antes de pronome inde-
D) O bombeiro deve dedicar sua atenção à qualquer detalhe finido)
que envolva a segurança das pessoas. a exemplo de obras publicadas recentemente. (palavra mascu-
E) É função da política é dedicar-se à todo problema que lina)
com-prometa o bem-estar do cidadão. a uma comunicação festiva e virtual. (artigo indefinido)
a respeito de autores reconhecidos pelo público. (palavra
masculina)
9. (TRF - 5ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - FCC/2012)
O detetive Gervase Fen, que apareceu em 1944, é um homem de 5-) O Instituto Nacional de Administração Prisional (INAP)
face corada, muito afeito ...... frases inteligentes e citações dos também desenvolve atividades lúdicas de apoio___à__ ressocia-
clássicos; sua esposa, Dolly, uma dama meiga e sossegada, fica lização do indivíduo preso, com o objetivo de prepará--lo para o
sentada tricotando tranquilamente, impassível ...... propensão de retorno___à__ sociedade. Dessa forma, quando em liberdade, ele
seu marido ...... investigar assassinatos. estará capacitado__a___ ter uma profissão e uma vida digna.
(Adaptado de P.D.James, op.cit.) Preenchem corretamente as - Apoio a ? Regência nominal pede preposição;
lacunas da frase acima, na ordem - retorno a? regência nominal pede preposição;
dada: - antes de verbo no infinitivo não há crase.

12
PORTUGUÊS
6-) Vamos por partes! D) Ela fechou a porta e saiu às pressas. = correta (advérbio de
- Quem se sujeita, sujeita-se A algo ou A alguém, portanto: modo = apressadamente)
pede preposição; E) Os rapazes sempre gostaram de andar à cavalo. = palavra
- quem cede, cede algo A alguém, então teremos objeto direto masculina
e indireto;
- quem se propõe, propõe-se A alguma coisa. ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE PALAVRAS
Vejamos:
Não nos sujeitamos À corrupção; tampouco cederemos espaço A Estudar a estrutura é conhecer os elementos formadores das
nenhuma ação que se proponha A prejudicar nossas instituições. palavras. Assim, compreendemos melhor o significado de cada uma
* Sujeitar A + A corrupção; delas. As palavras podem ser divididas em unidades menores, a que
* ceder espaço (objeto direto) A nenhuma ação (objeto indire- damos o nome de elementos mórficos ou morfemas.
to. Não há acento indicativo de crase, pois “nenhuma” é pronome Vamos analisar a palavra “cachorrinhas”. Nessa palavra ob-
indefinido); servamos facilmente a existência de quatro elementos. São eles:
* que se proponha A prejudicar (objeto indireto, no caso, ora- cachorr - este é o elemento base da palavra, ou seja, aquele
ção subordinada com função de objeto indireto. Não há acento que contém o significado.
indicativo de crase porque temos um verbo no infinitivo – “pre- inh - indica que a palavra é um diminutivo a
judicar”). - indica que a palavra é feminina s - indica
que a palavra se encontra no plural
7-)
A) Tendências agressivas começam à ser relacionadas com as Morfemas: unidades mínimas de caráter significativo. Exis-
dificuldades para lidar com as frustrações de seus desejos. (antes tem palavras que não comportam divisão em unidades menores,
de verbo no infinitivo não há crase) tais como: mar, sol, lua, etc. São elementos mórficos:
B) A agressividade impulsiva deve-se à perturbações nos me- - Raiz, Radical, Tema: elementos básicos e significativos
canismos biológicos de controle emocional. (se o “a” está no - Afixos (Prefixos, Sufixos), Desinência, Vogal Temática:
singular e antecede palavra no plural, não há crase) elementos modificadores da significação dos primeiros
C) A violência urbana é comparada à uma enfermidade. (arti- - Vogal de Ligação, Consoante de Ligação: elementos de li-
go indefinido)
gação ou eufônicos.
D) Condições de risco aliadas à exemplo de impunidade ali-
mentam a violência crescente nas cidades. (palavra masculina) Raiz: É o elemento originário e irredutível em que se concen-tra
E) Um ambiente desfavorável à formação da personalidade a significação das palavras, consideradas do ângulo histórico.
atinge os mais vulneráveis. = correta (regência nominal: desfa- É a raiz que encerra o sentido geral, comum às palavras da mesma
vorável a?) família etimológica. Exemplo: Raiz noc [Latim nocere = prejudi-
car] tem a significação geral de causar dano, e a ela se prendem,
8-)
A) Este cientista tem se dedicado à uma pesquisa na área de pela origem comum, as palavras nocivo, nocividade, inocente, ino-
biotecnologia. (artigo indefinido) centar, inócuo, etc.
B) Os pais não podem ser omissos e devem se dedicar à
Uma raiz pode sofrer alterações: at-o; at-or; at-ivo; aç-ão; ac -
educa-ção dos filhos. = correta (regência verbal: dedicar a )
C) Nossa síndica dedica-se integralmente à conservar as ionar;
insta-lações do prédio. (verbo no infinitivo)
D) O bombeiro deve dedicar sua atenção à qualquer detalhe Radical:
que envolva a segurança das pessoas. (pronome indefinido)
E) É função da política é dedicar-se à todo problema que Observe o seguinte grupo de palavras: livr-o; livr-inho; livr -
eiro; livr-eco. Você reparou que há um elemento comum nesse
com-prometa o bem-estar do cidadão. (pronome indefinido)
grupo? Você reparou que o elemento livr serve de base para o sig-
9-) Afeito a frases (generalizando, já que o “a” está no sin- nificado? Esse elemento é chamado de radical (ou semantema).
gular e “frases”, no plural) Elemento básico e significativo das palavras, consideradas sob o
Impassível à propensão (regência nominal: pede preposição) aspecto gramatical e prático. É encontrado através do despojo dos
A investigar (antes de verbo no infinitivo não há acento in- elementos secundários (quando houver) da palavra. Exemplo: cer-
dicativo de crase) t-o; cert-eza; in-cert-eza.
Sequência: a / à / a.
Afixos: são elementos secundários (geralmente sem vida autô-
10-) noma) que se agregam a um radical ou tema para formar palavras
A) O dia fora quente, mas à noite = mas a noite (artigo e subs- derivadas. Sabemos que o acréscimo do morfema “-mente”, por
tantivo. Diferente de: Estudo à noite = período do dia) exemplo, cria uma nova palavra a partir de “certo”: certamente,
B) Ninguém se referira à essa ideia antes.= a essa (antes de advérbio de modo. De maneira semelhante, o acréscimo dos mor-
pronome demonstrativo) femas “a-” e “-ar” à forma “cert-” cria o verbo acertar. Observe que
C) Esta era à medida certa do quarto. = a medida (artigo e subs- a- e -ar são morfemas capazes de operar mudança de classe gramatical
tantivo, no caso. Diferente da conjunção proporcional: À medida na palavra a que são anexados.
que lia, mais aprendia)

13
PORTUGUÊS
Quando são colocados antes do radical, como acontece com - Derivação Sufixal ou Sufixação: resulta de acréscimo de
“a-”, os afixos recebem o nome de prefixos. Quando, como “-ar”, sufixo à palavra primitiva, que pode sofrer alteração de significado
surgem depois do radical, os afixos são chamados de sufixos. ou mudança de classe gramatical: alfabetização. No exemplo, o
Exemplo: in-at-ivo; em-pobr-ecer; inter-nacion-al. sufixo -ção transforma em substantivo o verbo alfabetizar. Este,
por sua vez, já é derivado do substantivo alfabeto pelo acréscimo
Desinências: são os elementos terminais indicativos das fle- do sufixo -izar.
xões das palavras. Existem dois tipos:
- Desinências Nominais: indicam as flexões de gênero (mas- A derivação sufixal pode ser:
culino e feminino) e de número (singular e plural) dos nomes. Nominal, formando substantivos e adjetivos: papel – papela-
Exemplos: aluno-o / aluno-s; alun-a / aluna-s. Só podemos falar ria; riso – risonho.
em desinências nominais de gêneros e de números em palavras Verbal, formando verbos: atual - atualizar.
que admitem tais flexões, como nos exemplos acima. Em palavras Adverbial, formando advérbios de modo: feliz – felizmente.
como mesa, tribo, telefonema, por exemplo, não temos desinência
nominal de gênero. Já em pires, lápis, ônibus não temos desinên- - Derivação Parassintética ou Parassíntese: Ocorre quando a
cia nominal de número. palavra derivada resulta do acréscimo simultâneo de prefixo e sufi-
xo à palavra primitiva. Por meio da parassíntese formam-se nomes
- Desinências Verbais: indicam as flexões de número e pes- (substantivos e adjetivos) e verbos. Considere o adjetivo “triste”.
soa e de modo e tempo dos verbos. A desinência “-o”, presente Do radical “trist-” formamos o verbo entristecer através da junção
em “am-o”, é uma desinência número pessoal, pois indica que o simultânea do prefixo “en-” e do sufixo “-ecer”. A presença de
verbo está na primeira pessoa do singular; “-va”, de “ama-va”, é apenas um desses afixos não é suficiente para formar uma nova
desinência modo-temporal: caracteriza uma forma verbal do pre- palavra, pois em nossa língua não existem as palavras “entriste”,
térito imperfeito do indicativo, na 1ª conjugação. nem “tristecer”. Exemplos:
emudecer
Vogal Temática: é a vogal que se junta ao radical, preparan- mudo – palavra inicial
do-o para receber as desinências. Nos verbos, distinguem-se três e – prefixo
vogais temáticas: mud – radical
- Caracteriza os verbos da 1ª conjugação: buscar, buscavas,
ecer – sufixo
etc.
- Caracteriza os verbos da 2ª conjugação: romper, rompemos, desalmado
etc. alma – palavra inicial
- Caracteriza os verbos da 3ª conjugação: proibir, proibirá, etc. des – prefixo
alm – radical
Tema: é o grupo formado pelo radical mais vogal temática. ado – sufixo
Nos verbos citados acima, os temas são: busca-, rompe-, proibi-
Não devemos confundir derivação parassintética, em que o
Vogais e Consoantes de Ligação: As vogais e consoantes de
acréscimo de sufixo e de prefixo é obrigatoriamente simultâneo,
ligação são morfemas que surgem por motivos eufônicos, ou seja, para
com casos como os das palavras desvalorização e desigualdade.
facilitar ou mesmo possibilitar a pronúncia de uma determi-nada
Nessas palavras, os afixos são acoplados em sequência: desvalo-
palavra. Exemplos: parisiense (paris= radical, ense=sufixo, vogal de rização provém de desvalorizar, que provém de valorizar, que por
ligação=i); gas-ô-metro, alv-i-negro, tecn-o-cracia, pau-l -ada, cafe-t- sua vez provém de valor.
eira, cha-l-eira, inset-i-cida, pe-z-inho, pobr-e-tão, etc. É impossível fazer o mesmo com palavras formadas por pa-
Formação das Palavras: existem dois processos básicos pe- rassíntese: não se pode dizer que expropriar provém de “propriar”
los quais se formam as palavras: a Derivação e a Composição. A ou de “expróprio”, pois tais palavras não existem. Logo, expro-
priar provém diretamente de próprio, pelo acréscimo concomitante
diferença entre ambos consiste basicamente em que, no processo
de prefixo e sufixo.
de derivação, partimos sempre de um único radical, enquanto no
- Derivação Regressiva: ocorre derivação regressiva quando
processo de composição sempre haverá mais de um radical.
uma palavra é formada não por acréscimo, mas por redução: com-
Derivação: é o processo pelo qual se obtém uma palavra nova, prar (verbo), compra (substantivo); beijar (verbo), beijo (substan-
chamada derivada, a partir de outra já existente, chamada primiti-va. tivo).
Exemplo: Mar (marítimo, marinheiro, marujo); terra (enterrar,
terreiro, aterrar). Observamos que «mar» e «terra» não se formam de Para descobrirmos se um substantivo deriva de um verbo ou
nenhuma outra palavra, mas, ao contrário, possibilitam a for-mação de se ocorre o contrário, podemos seguir a seguinte orientação:
outras, por meio do acréscimo de um sufixo ou prefixo. Logo, mar e - Se o substantivo denota ação, será palavra derivada, e o
terra são palavras primitivas, e as demais, derivadas. ver-bo palavra primitiva.
- Se o nome denota algum objeto ou substância, verifica-se o
Tipos de Derivação contrário.
Vamos observar os exemplos acima: compra e beijo indicam
- Derivação Prefixal ou Prefixação: resulta do acréscimo de ações, logo, são palavras derivadas. O mesmo não ocorre, porém,
prefixo à palavra primitiva, que tem o seu significado alterado: com a palavra âncora, que é um objeto. Neste caso, um substanti-
crer- descrer; ler- reler; capaz- incapaz. vo primitivo que dá origem ao verbo ancorar.

14
PORTUGUÊS
Por derivação regressiva, formam-se basicamente substanti-vos a - Hibridismo: ocorre hibridismo na palavra em cuja forma-
partir de verbos. Por isso, recebem o nome de substanti-vos ção entram elementos de línguas diferentes: auto (grego) + móvel
deverbais. Note que na linguagem popular, são frequentes os (latim).
exemplos de palavras formadas por derivação regressiva. o portu-ga
(de português); o boteco (de botequim); o comuna (de comu-nista); - Onomatopeia: numerosas palavras devem sua origem a uma
agito (de agitar); amasso (de amassar); chego (de chegar) tendência constante da fala humana para imitar as vozes e os ruí-
dos da natureza. As onomatopeias são vocábulos que reproduzem
O processo normal é criar um verbo a partir de um substanti- aproximadamente os sons e as vozes dos seres: miau, zumzum,
vo. Na derivação regressiva, a língua procede em sentido inverso: piar, tinir, urrar, chocalhar, cocoricar, etc.
forma o substantivo a partir do verbo.
Prefixos: os prefixos são morfemas que se colocam antes dos
- Derivação Imprópria: A derivação imprópria ocorre quando radicais basicamente a fim de modificar-lhes o sentido; raramen-te
determinada palavra, sem sofrer qualquer acréscimo ou supressão em esses morfemas produzem mudança de classe gramatical. Os prefixos
sua forma, muda de classe gramatical. Neste processo: ocorrentes em palavras portuguesas se originam do latim e do grego,
Os adjetivos passam a substantivos: Os bons serão contem- línguas em que funcionavam como preposições ou ad-vérbios, logo,
plados. como vocábulos autônomos. Alguns prefixos foram pouco ou nada
Os particípios passam a substantivos ou adjetivos: Aquele produtivos em português. Outros, por sua vez, tive - ram grande
ga-roto alcançou um feito passando no concurso. vitalidade na formação de novas palavras: a- , contra- , des- , em- (ou
Os infinitivos passam a substantivos: O andar de Roberta era en-) , es- , entre- re- , sub- , super- , anti-.
fascinante; O badalar dos sinos soou na cidadezinha.
Os substantivos passam a adjetivos: O funcionário fantasma Prefixos de Origem Grega
foi despedido; O menino prodígio resolveu o problema.
Os adjetivos passam a advérbios: Falei baixo para que nin- a-, an-: afastamento, privação, negação, insuficiência, carên-
guém escutasse. cia: anônimo, amoral, ateu, afônico.
Palavras invariáveis passam a substantivos: Não entendo o ana-: inversão, mudança, repetição: analogia, análise, anagra-
porquê disso tudo. ma, anacrônico.
Substantivos próprios tornam-se comuns: Aquele coordena- anfi-: em redor, em torno, de um e outro lado, duplicidade:
dor é um caxias! (chefe severo e exigente) anfiteatro, anfíbio, anfibologia.
anti-: oposição, ação contrária: antídoto, antipatia, antagonis-
Os processos de derivação vistos anteriormente fazem parte ta, antítese.
da Morfologia porque implicam alterações na forma das palavras. apo-: afastamento, separação: apoteose, apóstolo, apocalipse,
No entanto, a derivação imprópria lida basicamente com seu sig- apologia.
nificado, o que acaba caracterizando um processo semântico. Por arqui-, arce-: superioridade hierárquica, primazia, excesso:
essa razão, entendemos o motivo pelo qual é denominada “impró- arquiduque, arquétipo, arcebispo, arquimilionário.
pria”. cata-: movimento de cima para baixo: cataplasma, catálogo,
catarata.
Composição: é o processo que forma palavras compostas, a di-: duplicidade: dissílabo, ditongo, dilema.
partir da junção de dois ou mais radicais. Existem dois tipos: dia-: movimento através de, afastamento: diálogo, diagonal,
diafragma, diagrama.
- Composição por Justaposição: ao juntarmos duas ou mais dis-: dificuldade, privação: dispneia, disenteria, dispepsia,
palavras ou radicais, não ocorre alteração fonética: passatempo, disfasia.
quinta-feira, girassol, couve-flor. Em «girassol» houve uma altera- ec-, ex-, exo-, ecto-: movimento para fora: eclipse, êxodo, ec-
ção na grafia (acréscimo de um «s») justamente para manter inal- toderma, exorcismo.
terada a sonoridade da palavra. en-, em-, e-: posição interior, movimento para dentro: encé-
falo, embrião, elipse, entusiasmo.
- Composição por Aglutinação: ao unirmos dois ou mais endo-: movimento para dentro: endovenoso, endocarpo, en-
vocábulos ou radicais, ocorre supressão de um ou mais de seus dosmose.
elementos fonéticos: embora (em boa hora); fidalgo (filho de algo epi-: posição superior, movimento para: epiderme, epílogo,
- referindo-se a família nobre); hidrelétrico (hidro + elétrico); pla- epidemia, epitáfio.
nalto (plano alto). Ao aglutinarem-se, os componentes subordi- eu-: excelência, perfeição, bondade: eufemismo, euforia, eu-
nam-se a um só acento tônico, o do último componente. caristia, eufonia.
hemi-: metade, meio: hemisfério, hemistíquio, hemiplégico.
- Redução: algumas palavras apresentam, ao lado de sua for- hiper-: posição superior, excesso: hipertensão, hipérbole, hi-
ma plena, uma forma reduzida. Observe: auto - por automóvel; pertrofia.
cine - por cinema; micro - por microcomputador; Zé - por José. hipo-: posição inferior, escassez: hipocrisia, hipótese, hipo-
Como exemplo de redução ou simplificação de palavras, podem dérmico.
ser citadas também as siglas, muito frequentes na comunicação meta-: mudança, sucessão: metamorfose, metáfora, metacar-
atual. po.

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PORTUGUÊS
para-: proximidade, semelhança, intensidade: paralelo, para- pre-: anterioridade: prefácio, prever, prefixo, preliminar.
sita, paradoxo, paradigma. pro-: movimento para frente: progresso, promover, prosse-
peri-: movimento ou posição em torno de: periferia, peripé- guir, projeção.
cia, período, periscópio. re-: repetição, reciprocidade: rever, reduzir, rebater, reatar.
pro-: posição em frente, anterioridade: prólogo, prognóstico, retro-: movimento para trás: retrospectiva, retrocesso, retroa-
profeta, programa. gir, retrógrado.
pros-: adjunção, em adição a: prosélito, prosódia. so-, sob-, sub-, su-: movimento de baixo para cima, inferiori-
proto-: início, começo, anterioridade: proto-história, protóti- dade: soterrar, sobpor, subestimar.
po, protomártir. super-, supra-, sobre-: posição superior, excesso: supercílio,
poli-: multiplicidade: polissílabo, polissíndeto, politeísmo. supérfluo.
sin-, sim-: simultaneidade, companhia: síntese, sinfonia, sim- soto-, sota-: posição inferior: soto-mestre, sota-voga, soto -
patia, sinopse. pôr.
tele-: distância, afastamento: televisão, telepatia, trans-, tras-, tres-, tra-: movimento para além, movimento
através: transatlântico, tresnoitar, tradição.
telégrafo. Prefixos de Origem Latina ultra-: posição além do limite, excesso: ultrapassar, ultrarro-
mantismo, ultrassom, ultraleve, ultravioleta.
a-, ab-, abs-: afastamento, separação: aversão, abuso, absti- vice-, vis-: em lugar de: vice-presidente, visconde, vice-almi-
nência, abstração. rante.
a-, ad-: aproximação, movimento para junto: adjunto,advoga-
do, advir, aposto. Sufixos: são elementos (isoladamente insignificativos) que,
ante-: anterioridade, procedência: antebraço, antessala, an- acrescentados a um radical, formam nova palavra. Sua principal
teontem, antever. característica é a mudança de classe gramatical que geralmente
ambi-: duplicidade: ambidestro, ambiente, ambiguidade, am- opera. Dessa forma, podemos utilizar o significado de um verbo
bivalente. num contexto em que se deve usar um substantivo, por exemplo.
ben(e)-, bem-: bem, excelência de fato ou ação: benefício, Como o sufixo é colocado depois do radical, a ele são incorpora-
bendito. das as desinências que indicam as flexões das palavras variáveis.
bis-, bi-: repetição, duas vezes: bisneto, bimestral, bisavô, Existem dois grupos de sufixos formadores de substantivos extre-
biscoito. mamente importantes para o funcionamento da língua. São os que
circu(m)-: movimento em torno: circunferência, circunscrito, formam nomes de ação e os que formam nomes de agente.
circulação.
cis-: posição aquém: cisalpino, cisplatino, cisandino. Sufixos que formam nomes de ação: -ada – caminhada; -ança –
co-, con-, com-: companhia, concomitância: colégio, coope- mudança; -ância – abundância; -ção – emoção; -dão – so-lidão; -ença
rativa, condutor. – presença; -ez(a) – sensatez, beleza; -ismo – civismo; -mento –
contra-: oposição: contrapeso, contrapor, contradizer. casamento; -são – compreensão; -tude – amplitude; -ura
de-: movimento de cima para baixo, separação, negação: de- – formatura.
capitar, decair, depor.
de(s)-, di(s)-: negação, ação contrária, separação: desventura, Sufixos que formam nomes de agente: -ário(a) – secretário;
discórdia, discussão. -eiro(a) – ferreiro; -ista – manobrista; -or – lutador; -nte – fei-
e-, es-, ex-: movimento para fora: excêntrico, evasão, expor- rante.
tação, expelir.
en-, em-, in-: movimento para dentro, passagem para um es- Sufixos que formam nomes de lugar, depositório: -aria –
tado ou forma, revestimento: imergir, enterrar, embeber, injetar, churrascaria; -ário – herbanário; -eiro – açucareiro; -or – corre-
importar. dor; -tério – cemitério; -tório – dormitório.
extra-: posição exterior, excesso: extradição, extraordinário,
extraviar. Sufixos que formam nomes indicadores de abundância,
i-, in-, im-: sentido contrário, privação, negação: ilegal, im- aglomeração, coleção: -aço – ricaço; -ada – papelada; -agem –
possível, improdutivo. folhagem; -al – capinzal; -ame – gentame; -ario(a) - casario, in-
inter-, entre-: posição intermediária: internacional, interpla- fantaria; -edo – arvoredo; -eria – correria; -io – mulherio; -ume
netário. – negrume.
intra-: posição interior: intramuscular, intravenoso, intraver-
bal. Sufixos que formam nomes técnicos usados na ciência:
intro-: movimento para dentro: introduzir, introvertido, in- -ite - bronquite, hepatite (inflamação), amotite (fósseis). -
trospectivo. oma - mioma, epitelioma, carcinoma (tumores).
justa-: posição ao lado: justapor, justalinear. -ato, eto, Ito - sulfato, cloreto, sulfito (sais), granito (pedra).
ob-, o-: posição em frente, oposição: obstruir, ofuscar, ocupar, -ina - cafeína, codeína (alcaloides, álcalis artificiais).
obstáculo. -ol - fenol, naftol (derivado de hidrocarboneto).
per-: movimento através: percorrer, perplexo, perfurar, per- -ema - morfema, fonema, semema, semantema (ciência lin-
verter. guística).
pos-: posterioridade: pospor, posterior, pós-graduado. -io - sódio, potássio, selênio (corpos simples)

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PORTUGUÊS
Sufixo que forma nomes de religião, doutrinas filosóficas, a) ajoelhar / antebraço / assinatura
sistemas políticos: - ismo: budismo, kantismo, comunismo. b) atraso / embarque / pesca
c) o jota / o sim / o tropeço
Sufixos Formadores de Adjetivos d) entrega / estupidez / sobreviver
e) antepor / exportação / sanguessuga
- de substantivos: -aco – maníaco; -ado – barbado; -áceo(a)
- herbáceo, liláceas; -aico – prosaico; -al – anual; -ar – escolar; 2. A palavra “aguardente” formou-se
-ário - diário, ordinário; -ático – problemático; -az – mordaz; - por: a) hibridismo
engo – mulherengo; -ento – cruento; -eo – róseo; -esco – pito- b) aglutinação
resco; -este – agreste; -estre – terrestre; -enho – ferrenho; -eno c) justaposição
– terreno; -ício – alimentício; -ico – geométrico; -il – febril; -ino d) parassíntese
– cristalino; -ivo – lucrativo; -onho – tristonho; -oso – e) derivação regressiva
bondoso; -udo – barrigudo.
3. Que item contém somente palavras formadas por justa-
- de verbos: posição?
-(a)(e)(i)nte: ação, qualidade, estado – semelhante, doente, a) desagradável – complemente
seguinte. b) vaga-lume - pé-de-cabra
-(á)(í)vel: possibilidade de praticar ou sofrer uma ação – lou- c) encruzilhada – estremeceu
vável, perecível, punível. d) supersticiosa – valiosas e)
-io, -(t)ivo: ação referência, modo de ser – tardio, afirmativo, desatarraxou – estremeceu
pensativo.
-(d)iço, -(t)ício: possibilidade de praticar ou sofrer uma ação, 4. “Sarampo” é:
referência – movediço, quebradiço, factício. a) forma primitiva
-(d)ouro,-(t)ório: ação, pertinência – casadouro, preparatório. b) formado por derivação parassintética
c) formado por derivação regressiva d)
Sufixos Adverbiais: Na Língua Portuguesa, existe apenas um formado por derivação imprópria e)
único sufixo adverbial: É o sufixo “-mente”, derivado do substan-tivo formado por onomatopéia
feminino latino mens, mentis que pode significar “a mente, o espírito,
o intento”.Este sufixo juntou-se a adjetivos, na forma feminina, para 5. Numere as palavras da primeira coluna conforme os pro-
indicar circunstâncias, especialmente a de modo. Exemplos: altiva- cessos de formação numerados à direita. Em seguida, marque a
mente, brava-mente, bondosa-mente, nervo-sa-mente, fraca-mente, alternativa que corresponde à sequência numérica encontrada:
pia-mente. Já os advérbios que se derivam de adjetivos terminados em ( ) aguardente 1) justaposição
–ês (burgues-mente, portugues-men-te, etc.) não seguem esta regra, ( ) casamento 2) aglutinação
pois esses adjetivos eram outrora uniformes. Exemplos: cabrito ( ) portuário 3) parassíntese
montês / cabrita montês. ( ) pontapé 4) derivação sufixal
( ) os contras 5) derivação imprópria
Sufixos Verbais: Os sufixos verbais agregam-se, via de regra, ( ) submarino 6) derivação prefixal
ao radical de substantivos e adjetivos para formar novos verbos. ( ) hipótese
Em geral, os verbos novos da língua formam-se pelo acréscimo da
terminação-ar. Exemplos: esqui-ar; radiograf-ar; (a)doç-ar; a) 1, 4, 3, 2, 5, 6, 1
nivel-ar; (a)fin-ar; telefon-ar; (a)portugues-ar. b) 4, 1, 4, 1, 5, 3, 6
c) 1, 4, 4, 1, 5, 6, 6
Os verbos exprimem, entre outras ideias, a prática de ação. d) 2, 3, 4, 1, 5, 3, 6
-ar: cruzar, analisar, limpar e) 2, 4, 4, 1, 5, 3, 6
-ear: guerrear, golear
-entar: afugentar, amamentar 6. Indique a palavra que foge ao processo de formação de
-ficar: dignificar, liquidificar chapechape:
-izar: finalizar, organizar a) zunzum b)
reco-reco c)
Verbo Frequentativo: é aquele que traduz ação repetida. toque-toque d)
Verbo Factitivo: é aquele que envolve ideia de fazer ou cau- tlim-tlim e)
sar. vivido
Verbo Diminutivo: é aquele que exprime ação pouco in-
tensa. 7. Em que alternativa a palavra sublinhada resulta de
deriva-ção imprópria?
Exercícios a) Às sete horas da manhã começou o trabalho principal: a
votação.
1. Assinale a opção em que todas as palavras se formam b) Pereirinha estava mesmo com a razão. Sigilo... Voto
pelo mesmo processo: secre-to... Bobagens, bobagens!

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PORTUGUÊS
c) Sem radical reforma da lei eleitoral, as eleições continua- - Há palavras cuja sílaba tônica avança: júnior − juniores; ca-
riam sendo uma farsa! ráter – caracteres. A palavra
d) Não chegaram a trocar um isto de prosa, e se entenderam. Caracteres é plural tanto de caractere quanto de caráter.
e) Dr. Osmírio andaria desorientado, senão bufando de raiva.
- Palavras terminadas em ão fazem o plural em ãos, ães e
8. Assinale a série de palavras em que todas são formadas ões.
por parassíntese: Em ões: balões, corações, grilhões, melões, gaviões.
a) acorrentar, esburacar, despedaçar, amanhecer Em ãos: pagãos, cristãos, cidadãos, bênçãos, órgãos. Os pa-
b) solução, passional, corrupção, visionário roxítonos, como os dois últimos, sempre fazem o plural em ãos.
c) enrijecer, deslealdade, tortura, vidente Em ães: escrivães, tabeliães, capelães, capitães, alemães.
d) biografia, macróbio, bibliografia, asteróide Em ões ou ãos: corrimões/corrimãos, verões/verãos, anões/
e) acromatismo, hidrogênio, litografar, idiotismo anãos.
Em ões ou ães: charlatões/charlatães, guardiões/guardiães,
9. As palavras couve-flor, planalto e aguardente são forma- cirugiões/cirurgiães.
das por: Em ões, ãos ou ães: anciões/anciãos/anciães, ermitões/ermi-
a) derivação b) tãos/ermitães
onomatopeia c)
hibridismo d) - Plural dos diminutivos com a letra z. Coloca-se a palavra no
composição e) plural, corta-se o s e acrescenta-se zinhos (ou zinhas): coraçãozi-
prefixação nho – corações – coraçõe – coraçõezinhos.

10. Assinale a alternativa em que uma das palavras não é for- - Plural com metafonia (ô - ó). Algumas palavras, quando
mada por prefixação: vão ao plural, abrem o timbre da vogal “o”, outras não. Com me-
a) readquirir, predestinado, propor tafonia singular (ô) plural (ó): coro-coros; corvo-corvos; destroço-
b) irregular, amoral, demover destroços. Sem metafonia singular (ô) plural (ô): adorno-adornos;
c) remeter, conter, antegozar bolso-bolsos; transtorno-transtornos.
d) irrestrito, antípoda, prever
e) dever, deter, antever - Casos especiais: aval, avales e avaiscal − cales e caiscós −
coses e cós – fel, feles e féis – mal e males – cônsul e cônsules.
Respostas: 1-B / 2-B / 3-B / 4-C / 5-E / 6-E / 7-D / 8-A / 9-D
- Os dois elementos variam. Quando os compostos são forma-dos
/ 10-E /
por substantivo mais palavra variável (adjetivo, substantivo, numeral,
CLASSES DE PALAVRAS pronome): amor-perfeito − amores-perfeitos; couve-flor
− couves-flores; segunda-feira − segundas-feiras.
Flexão Nominal
- Só o primeiro elemento varia. Quando há preposição no
Flexão de número: Os nomes (substantivo, adjetivo etc.), de composto, mesmo que oculta: pé-de-moleque − pés-de-moleque;
modo geral, admitem a flexão de número: singular e plural: animal cavalo-vapor − cavalos-vapor (de ou a vapor). Quando o segundo
substantivo determina o primeiro (fim ou semelhança): banana-
– animais.
maçã − bananas-maçã (semelhante a maçã); navio-escola − navios
- Na maioria das vezes, acrescenta-se S: ponte – pontes; bo-
-escola (a finalidade é a escola).
nito – bonitos.
Alguns autores admitem a flexão dos dois elementos. É uma
- Palavras terminadas em R ou Z: acrescenta-se ES: éter –
situação polêmica: mangas-espada (preferível) ou mangas-espa-
éteres; avestruz – avestruzes. O pronome qualquer faz o plural no
das. Quando dizemos (e isso vai ocorrer outras vezes) que é uma
meio: quaisquer
- Palavras oxítonas terminadas em S: acrescenta-se ES: ana- situação polêmica, discutível, convém ter em mente que a questão
do concurso deve ser resolvida por eliminação, ou seja, analisando
nás – ananases. As paroxítonas e as proparoxítonas são invariá-
bem as outras opções.
veis: o pires − os pires, o ônibus − os ônibus
- Apenas o último elemento varia. Quando os elementos são
- Palavras terminadas em IL: adjetivos: hispano-americano − hispano-americanos. A exceção é
átono: trocam IL por EIS: fóssil – fósseis. surdo-mudo, em que os dois adjetivos se flexionam: surdos-mu-
tônico: trocam L por S: funil – funis. dos. Nos compostos em que aparecem os adjetivos grão, grã e bel:
grão-duque − grão-duques; grã-cruz − grã-cruzes; bel-pra-zer −
- Palavras terminadas em EL: bel-prazeres. Quando o composto é formado por verbo ou qualquer
átono: plural em EIS: nível – níveis. elemento invariável (advérbio, interjeição, prefixo etc.) mais
tônico: plural em ÉIS: carretel – carretéis. substantivo ou adjetivo: arranha-céu − arranha-céus; sempre-viva
− sempre-vivas; super-homem − super-homens. Quando os
- Palavras terminadas em X são invariáveis: o clímax − os elementos são repetidos ou onomatopaicos (representam sons):
clímax. reco-reco − reco-recos; pingue-pongue − pingue-pongues; bem-te-
vi − bem-te-vis.

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PORTUGUÊS
Como se vê pelo segundo exemplo, pode haver alguma alte- - Diminutivo: Sintético: chapeuzinho. Analítico: chapéu pe-
ração nos elementos, ou seja, não serem iguais. Se forem verbos queno, chapéu reduzido etc. Um grau é sintético quando formado
repetidos, admite-se também pôr os dois no plural: pisca-pisca − por sufixo; analítico, por meio de outras palavras.
pisca-piscas ou piscas-piscas
Grau do adjetivo
- Nenhum elemento varia. Quando há verbo mais palavra in- - Normal ou Positivo: João é forte.
variável: O cola-tudo – os cola-tudo. Quando há dois verbos de - Comparativo: de superioridade: João é mais forte que An-
sentido oposto: o perde-ganha – os perde-ganha. Nas frases subs- dré. (ou do que); de inferioridade: João é menos forte que An-dré.
tantivas (frases que se transformam em substantivos): O maria-vai- (ou do que); de igualdade: João é tão forte quanto André. (ou
com-as-outras − os maria-vai-com-as-outras. como)
- Superlativo: Absoluto: sintético: João é fortíssimo; analíti-
- São invariáveis arco-íris, louva-a-deus, sem-vergonha, sem-
co: João é muito forte (bastante forte, forte demais etc.); Relativo:
teto e sem-terra: Os sem-terra apreciavam os arco-íris. Admitem
de superioridade: João é o mais forte da turma; de inferioridade:
mais de um plural: pai-nosso − pais-nossos ou pai-nossos; padre-
nosso − padres-nossos ou padre-nossos; terra-nova − terras-novas João é o menos forte da turma.
ou terra-novas; salvo-conduto − salvos-condutos ou salvo-con- O grau superlativo absoluto corresponde a um aumento do ad-
dutos; xeque-mate − xeques-mates ou xeques-mate; fruta-pão − jetivo. Pode ser expresso por um sufixo (íssimo, érrimo ou imo) ou
frutas-pães ou frutas-pão; guarda-marinha − guardas-marinhas ou uma palavra de apoio, como muito, bastante, demasiadamente, enorme
guardas-marinha. Casos especiais: palavras que não se encaixam etc. As palavras maior, menor, melhor, e pior constituem sempre graus
nas regras: o bem-me-quer − os bem-me-queres; o joão-ninguém de superioridade: O carro é menor que o ônibus; me-nor (mais
− os joões-ninguém; o lugar-tenente − os lugar-tenentes; o mapa- pequeno): comparativo de superioridade. Ele é o pior do grupo; pior
(mais mau): superlativo relativo de superioridade.
múndi − os mapas-múndi.
Alguns superlativos absolutos sintéticos que podem apresen-
Flexão de Gênero: Os substantivos e as palavras que o acom- tar dúvidas. acre – acérrimo, amargo – amaríssimo; amigo – ami-
panham na frase admitem a flexão de gênero: masculino e femi- císsimo; antigo – antiqüíssimo; cruel – crudelíssimo; doce – dul-
nino: Meu amigo diretor recebeu o primeiro salário. Minha amiga císsimo; fácil – facílimo; feroz – ferocíssimo; fiel – fidelíssimo;
diretora recebeu a primeira prestação. A flexão de feminino pode geral – generalíssimo; humilde – humílimo; magro – macérrimo;
ocorrer de duas maneiras. negro – nigérrimo; pobre – paupérrimo; sagrado – sacratíssimo;
- Com a troca de o ou e por a: lobo – loba; mestre – mestra. sério – seriíssimo; soberbo – superbíssimo.
- Por meio de diferentes sufixos nominais de gênero, muitas
vezes com alterações do radical: ateu – atéia; bispo – episcopisa; Flexão Verbal
conde – condessa; duque – duquesa; frade – freira; ilhéu – ilhoa;
judeu – judia; marajá – marani; monje – monja; pigmeu – pigmeia; As flexões verbais são expressas por meio dos tempos, modo e
píton – pitonisa; sandeu – sandia; sultão – sultana. pessoa da seguinte forma: O tempo indica o momento em que ocorre
o processo verbal; O modo indica a atitude do falante (dú-vida, certeza,
Alguns substantivos são uniformes quanto ao gênero, ou seja, impossibilidade, pedido, imposição, etc.); A pessoa marca na forma
possuem uma única forma para masculino e feminino. Podem ser: do verbo a pessoa gramatical do sujeito.
Sobrecomuns: admitem apenas um artigo, podendo designar Tempos: Há tempos do presente, do passado (pretérito) e do
os dois sexos: a pessoa, o cônjuge, a testemunha.
Comuns de dois gêneros: admitem os dois artigos, podendo futuro.
então ser masculinos ou femininos: o estudante − a estudante, o
cientista − a cientista, o patriota − a patriota. Modo
Epicenos: admitem apenas um artigo, designando os ani-
mais: O jacaré, a cobra, o polvo Modo Indicativo: Indica uma certeza relativa do falante com
referência ao que o verbo exprime; pode ocorrer no tempo presen-
O feminino de elefante é elefanta , e não elefoa. Aliá é correto, te, passado ou futuro:
mas designa apenas uma espécie de elefanta. Mamão, para alguns
gramáticos, deve ser considerado epiceno. É algo discutível. Presente: Processo simultâneo ao ato da fala, fato corriqueiro,
Há substantivos de gênero duvidoso, que as pessoas costu- habitual: Compro livros nesta livraria. Usa-se também o presente com
mam trocar: champanha aguardente, dó, alface, eclipse, calfor- o valor de passado, passado histórico (nos contos, narrativas)
micida, cataplasma, grama (peso), grafite, milhar libido, plasma,
soprano, musse, suéter, preá, telefonema. Tempos do Pretérito (passado): Exprimem processos ante-
Existem substantivos que admitem os dois gêneros: diabetes riores ao ato da fala. São eles:
(ou diabete), laringe, usucapião etc. - Pretérito Imperfeito: Exprime um processo habitual, ou
com duração no tempo: Naquela época eu cantava como um pás-
Flexão de Grau: saro.
- Pretérito Perfeito: Exprime uma ação acabada: Paulo que-
Grau do substantivo brou meu violão de estimação.
- Normal ou Positivo: sem nenhuma alteração. - Pretérito Mais-que-Perfeito: Exprime um processo ante-
- Aumentativo: Sintético: chapelão. Analítico: chapéu gran- rior a um processo acabado: Embora tivera deixado a escola, ele
de, chapéu enorme etc. nunca deixou de estudar.

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PORTUGUÊS
Tempos do Futuro: Indicam processos que irão acontecer: 5. Mesma pronúncia de “bolos”:
- Futuro do Presente: Exprime um processo que ainda não a) tijolos
aconteceu: Farei essa viagem no fim do ano. b) caroços
- Futuro do Pretérito: Exprime um processo posterior a um c) olhos
processo que já passou: Eu faria essa viagem se não tivesse com- d) fornos
prado o carro. e) rostos

Modo Subjuntivo: Expressa incerteza, possibilidade ou dúvi- 6. Não varia no plural:


da em relação ao processo verbal e não está ligado com a noção de a) tique-taque
tempo. Há três tempos: presente, imperfeito e futuro. Quero que b) guarda-comida
voltes para mim; Não pise na grama; É possível que ele seja c) beija-flor
honesto; Espero que ele fique contente; Duvido que ele seja o cul- d) para-lama
pado; Procuro alguém que seja meu companheiro para sempre; e) cola-tudo
Ainda que ele queira, não lhe será concedida a vaga; Se eu fosse
bailarina, estaria na Rússia; Quando eu tiver dinheiro, irei para as 7. Está mal flexionado o adjetivo na alternativa:
praias do nordeste. a) Tecidos verde-olivas
b) Festas cívico-religiosas
Modo Imperativo: Exprime atitude de ordem, pedido ou soli- c) Guardas noturnos luso-brasileiros
citação: Vai e não voltes mais. d) Ternos azul-marinho
e) Vários porta-estandartes
Pessoa: A norma da língua portuguesa estabelece três pes-
soas: Singular: eu , tu , ele, ela. Plural: nós, vós, eles, elas. No 8. Na sentença “Há frases que contêm mais beleza do que
português brasileiro é comum o uso do pronome de tratamento verdade”, temos grau:
você (s) em lugar do tu e vós. a) comparativo de superioridade
b) superlativo absoluto sintético
c) comparativo de igualdade d)
Exercícios superlativo relativo
e) superlativo por meio de acréscimo de sufixo
1. Assinale o par de vocábulos que formam o plural como
órfão e mata-burro, respectivamente: 9. Assinale a alternativa em que a flexão do substantivo
a) cristão / guarda-roupa com-posto está errada:
b) questão / abaixo-assinado a) os pés-de-chumbo
c) alemão / beija-flor b) os corre-corre
d) tabelião / sexta-feira c) as públicas-formas
e) cidadão / salário-família d) os cavalos-vapor
e) os vaivéns
2. Relativamente à concordância dos adjetivos compostos
in-dicativos de cor, uma, dentre as seguintes, está errada. Qual? 10. Aponte a alternativa em que haja erro quanto à flexão do
a) saia amarelo-ouro b) nome composto:
papel amarelo-ouro c) a) vice-presidentes, amores-perfeitos, os bota-fora
caixa vermelho-sangue d) b) tico-ticos, salários-família, obras-primas
caixa vermelha-sangue e) c) reco-recos, sextas-feiras, sempre-vivas
caixas vermelho-sangue d) pseudo-esferas, chefes-de-seção, pães-de-ló
e) pisca-piscas, cartões-postais, mulas-sem-cabeças
03. Indique a frase correta:
a) Mariazinha e Rita são duas leva-e-trazes. Respostas: 1-A / 2-D / 3-C / 4-D / 5-E / 6-E / 7-A / 8-A / 9-B
b) Os filhos de Clotilde são dois espalhas-brasas. / 10-E /
c) O ladrão forçou a porta com dois pés-de-cabra.
d) Godofredo almoçou duas couves-flor.
e) Alfredo e Radagásio são dois gentilhomens. Frase, período e oração:
Frase é todo enunciado suficiente por si mesmo para estabele-
4. Flexão incorreta: cer comunicação. Expressa juízo, indica ação, estado ou fenôme-
a) os cidadãos no, transmite um apelo, ordem ou exterioriza emoções.
b) os açúcares Normalmente a frase é composta por dois termos – o sujeito e
c) os cônsules o predicado – mas não obrigatoriamente, pois em Português há
d) os tóraxes orações ou frases sem sujeito: Há muito tempo que não chove.
e) os fósseis
Enquanto na língua falada a frase é caracterizada pela entoa-ção,
na língua escrita, a entoação é reduzida a sinais de pontuação.

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PORTUGUÊS
Quanto aos tipos de frases, além da classificação em verbais e Termos essenciais da oração:
nominais, feita a partir de seus elementos constituintes, elas podem
ser classificadas a partir de seu sentido global: O sujeito e o predicado são considerados termos essenciais
- frases interrogativas: o emissor da mensagem formula uma da oração, ou seja, sujeito e predicado são termos indispensáveis
pergunta: Que queres fazer? para a formação das orações. No entanto, existem orações forma-
- frases imperativas: o emissor da mensagem dá uma ordem das exclusivamente pelo predicado. O que define, pois, a oração, é
ou faz um pedido: Dê-me uma mãozinha! Faça-o sair! a presença do verbo.
- frases exclamativas: o emissor exterioriza um estado afetivo: O sujeito é o termo que estabelece concordância com o verbo.
Que dia difícil! “Minha primeira lágrima caiu dentro dos teus olhos.”
- frases declarativas: o emissor constata um fato: Ele já chegou. “Minhas primeiras lágrimas caíram dentro dos teus olhos”.
Na primeira frase, o sujeito é minha primeira lágrima. Minha e
Quanto à estrutura da frase, as frases que possuem verbo (ora- primeira referem-se ao conceito básico expresso em lágrima. Lá-
ção) são estruturadas por dois elementos essenciais: sujeito e pre- grima é, pois, a principal palavra do sujeito, sendo, por isso, deno-
dicado. O sujeito é o termo da frase que concorda com o verbo em minada núcleo do sujeito. O núcleo do sujeito relaciona-se com o
número e pessoa. É o “ser de quem se declara algo”, “o tema do
verbo, estabelecendo a concordância.
que se vai comunicar”. O predicado é a parte da frase que contém
A função do sujeito é basicamente desempenhada por substan-
“a informação nova para o ouvinte”. Ele se refere ao tema,
tivos, o que a torna uma função substantiva da oração. Pronomes,
constituindo a declaração do que se atribui ao sujeito.
substantivos, numerais e quaisquer outras palavras substantivadas
Quando o núcleo da declaração está no verbo, temos o
predicado verbal. Mas, se o núcleo estiver num nome, teremos um (derivação imprópria) também podem exercer a função de sujeito.
predicado nominal: Ele já partiu;
Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres de opi- Os dois sumiram;
nião. Um sim é suave e sugestivo.
A existência é frágil.
Os sujeitos são classificados a partir de dois elementos: o de
A oração, às vezes, é sinônimo de frase ou período (simples) determinação ou indeterminação e o de núcleo do sujeito.
quando encerra um pensamento completo e vem limitada por ponto- Um sujeito é determinado quando é facilmente identificável
final, ponto de interrogação, ponto de exclamação e por reticências. pela concordância verbal. O sujeito determinado pode ser simples
Um vulto cresce na escuridão. Clarissa encolhe-se. É Vasco. ou composto.
A indeterminação do sujeito ocorre quando não é possível
Acima temos três orações correspondentes a três períodos sim-ples identificar claramente a que se refere a concordância verbal. Isso
ou a três frases. Mas, nem sempre oração é frase: “convém que te ocorre quando não se pode ou não interessa indicar precisamente
apresses” apresenta duas orações, mas uma só frase, pois somente o o sujeito de uma oração.
conjunto das duas é que traduz um pensamento completo. Estão gritando seu nome lá fora;
Outra definição para oração é a frase ou membro de frase que Trabalha-se demais neste lugar.
se organiza ao redor de um verbo. A oração possui sempre um
verbo (ou locução verbal), que implica na existência de um O sujeito simples é o sujeito determinado que possui um único
predicado, ao qual pode ou não estar ligado um sujeito. núcleo. Esse vocábulo pode estar no singular ou no plural; pode
Assim, a oração é caracterizada pela presença de um verbo. também ser um pronome indefinido.
Des-sa forma: Nós nos respeitamos mutuamente;
Rua! = é uma frase, não é uma oração. A existência é frágil;
Já em: “Quero a rosa mais linda que houver, para enfeitar a Ninguém se move;
noite do meu bem.” Temos uma frase e três orações: As duas
O amar faz bem.
últimas orações não são frases, pois em si mesmas não satisfazem
um pro-pósito comunicativo; são, portanto, membros de frase. O sujeito composto é o sujeito determinado que possui mais de
Quanto ao período, ele denomina a frase constituída por um núcleo.
Alimentos e roupas andam caríssimos;
uma ou mais orações, formando um todo, com sentido
Ela e eu nos respeitamos mutuamente;
completo. O período pode ser simples ou composto.
O amar e o odiar são tidos como duas faces da mesma moeda.
Período simples é aquele constituído por apenas uma oração,
que recebe o nome de oração absoluta. Além desses dois sujeitos determinados, é comum a referência
Chove. ao sujeito oculto ( ou elíptico), isto é, ao núcleo do sujeito que está
A existência é frágil. implícito e que pode ser reconhecido pela desinência verbal ou
Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres de opi- pelo contexto.
nião. Abolimos todas as regras. = (nós)

Período composto é aquele constituído por duas ou mais ora- O sujeito indeterminado surge quando não se quer ou não se
ções: pode identificar claramente a que o predicado da oração refere--se.
“Quando você foi embora, fez-se noite em meu Existe uma referência imprecisa ao sujeito, caso contrário, tería-
viver.” Cantei, dancei e depois dormi. mos uma oração sem sujeito.

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PORTUGUÊS
Na língua portuguesa o sujeito pode ser indeterminado de O nome frágil, por intermédio do verbo, refere-se ao sujeito da
duas maneiras: oração. O verbo atua como elemento de ligação entre o sujeito e a
- com verbo na terceira pessoa do plural, desde que o sujeito palavra a ele relacionada.
não tenha sido identificado anteriormente:
Bateram à porta; O predicado verbal é aquele que tem como núcleo significati-
Andam espalhando boatos a respeito da queda do ministro. vo um verbo:
Chove muito nesta época do
- com o verbo na terceira pessoa do singular, acrescido do pro- ano; Senti seu toque suave;
nome se. Esta é uma construção típica dos verbos que não apresen- O velho prédio foi demolido.
tam complemento direto: Os verbos acima são significativos, isto é, não servem apenas
Precisa-se de mentes criativas; para indicar o estado do sujeito, mas indicam processos.
Vivia-se bem naqueles tempos;
Trata-se de casos delicados; O predicado nominal é aquele que tem como núcleo signifi-
Sempre se está sujeito a erros. cativo um nome; esse nome atribui uma qualidade ou estado ao
O pronome se funciona como índice de indeterminação do su- sujeito, por isso é chamado de predicativo do sujeito. O predica-
jeito. tivo é um nome que se liga a outro nome da oração por meio de
um verbo.
As orações sem sujeito, formadas apenas pelo predicado, arti- Nos predicados nominais, o verbo não é significativo, isto é,
culam-se a partir de um verbo impessoal. A mensagem está centra- não indica um processo. O verbo une o sujeito ao predicativo, in-
da no processo verbal. Os principais casos de orações sem sujeito dicando circunstâncias referentes ao estado do sujeito:
com: “Ele é senhor das suas mãos e das ferramentas.”
- os verbos que indicam fenômenos da natureza:
Amanheceu repentinamente; Na frase acima o verbo ser poderia ser substituído por estar,
Está chuviscando. andar, ficar, parecer, permanecer ou continuar, atuando como ele-
mento de ligação entre o sujeito e as palavras a ele relacionadas.
- os verbos estar, fazer, haver e ser, quando indicam A função de predicativo é exercida normalmente por um adje-
fenômenos meteorológicos ou se relacionam ao tempo em geral: tivo ou substantivo.
Está tarde.
Ainda é cedo. O predicado verbo-nominal é aquele que apresenta dois nú-
Já são três horas, preciso ir; cleos significativos: um verbo e um nome. No predicado verbo-no-
Faz frio nesta época do ano; minal, o predicativo pode referir-se ao sujeito ou ao complemento
Há muitos anos aguardamos mudanças significativas; verbal.
Faz anos que esperamos melhores condições de vida; O verbo do predicado verbo-nominal é sempre significativo,
indicando processos. É também sempre por intermédio do verbo
O predicado é o conjunto de enunciados que numa dada oração que o predicativo se relaciona com o termo a que se refere.
contém a informação nova para o ouvinte. Nas orações sem sujei-to, o O dia amanheceu ensolarado;
predicado simplesmente enuncia um fato qualquer: As mulheres julgam os homens inconstantes
Chove muito nesta época do ano;
Houve problemas na reunião. No primeiro exemplo, o verbo amanheceu apresenta duas fun-
ções: a de verbo significativo e a de verbo de ligação. Esse predi-
Nas orações que surge o sujeito, o predicado é aquilo que se cado poderia ser desdobrado em dois, um verbal e outro nominal:
declara a respeito desse sujeito. O dia amanheceu;
Com exceção do vocativo, que é um termo à parte, tudo o que O dia estava ensolarado.
difere do sujeito numa oração é o seu predicado.
Os homens (sujeito) pedem amor às mulheres (predicado); No segundo exemplo, é o verbo julgar que relaciona o comple-
Passou-me (predicado) uma ideia estranha (sujeito) pelo pen- mento homens como o predicativo inconstantes.
samento (predicado).
Termos integrantes da oração:
Para o estudo do predicado, é necessário verificar se seu núcleo
está num nome ou num verbo. Deve-se considerar também se as Os complementos verbais (objeto direto e indireto) e o comple-
palavras que formam o predicado referem-se apenas ao verbo ou mento nominal são chamados termos integrantes da oração.
também ao sujeito da oração. Os complementos verbais integram o sentido dos verbos tran-
Os homens sensíveis (sujeito) pedem amor sincero às mulheres sitivos, com eles formando unidades significativas. Esses verbos
de opinião. podem se relacionar com seus complementos diretamente, sem a
presença de preposição ou indiretamente, por intermédio de pre-
O predicado acima apresenta apenas uma palavra que se refere posição.
ao sujeito: pedem. As demais palavras ligam-se direta ou indireta- O objeto direto é o complemento que se liga diretamente ao
mente ao verbo. verbo.
A existência (sujeito) é frágil (predicado). Os homens sensíveis pedem amor às mulheres de opinião;

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PORTUGUÊS
Os homens sinceros pedem-no às mulheres de - intensidade: Corria bastante.
opinião; Dou-lhes três. - limite: Andava atabalhoado do quarto à sala.
Houve muita confusão na partida final. - lugar: Vou à cidade.
- matéria: Compunha-se de substâncias estranhas.
O objeto direto preposicionado ocorre principalmente: - meio: Viajarei de trem.
- com nomes próprios de pessoas ou nomes comuns referentes - modo: Foram recrutados a dedo.
a pessoas: - negação: Não há ninguém que mereça.
Amar a Deus; - preço: As casas estão sendo vendidas a preços exorbitantes.
Adorar a Xangô; - substituição ou troca: Abandonou suas convicções por privi-
Estimar aos pais. légios econômicos.
- tempo: Ontem à tarde encontrou o velho amigo.
- com pronomes indefinidos de pessoa e pronomes de trata-
mento: O adjunto adnominal é o termo acessório que determina, es-
Não excluo a ninguém; pecifica ou explica um substantivo. É uma função adjetiva, pois
Não quero cansar a Vossa Senhoria. são os adjetivos e as locuções adjetivas que exercem o papel de
adjunto adnominal na oração. Também atuam como adjuntos ad-
- para evitar ambiguidade: nominais os artigos, os numerais e os pronomes adjetivos.
Ao povo prejudica a crise. (sem preposição, a situação seria O poeta inovador enviou dois longos trabalhos ao seu amigo
outra) de infância.

O objeto indireto é o complemento que se liga indiretamente O adjunto adnominal liga-se diretamente ao substantivo a que
ao verbo, ou seja, através de uma preposição. se refere, sem participação do verbo. Já o predicativo do objeto
Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres; liga-se ao objeto por meio de um verbo.
Os homens pedem-lhes amor sincero; O poeta português deixou uma obra
Gosto de música popular brasileira. originalíssima. O poeta deixou-a.
(originalíssima não precisou ser repetida, portanto: adjunto
O termo que integra o sentido de um nome chama-se com- ad-nominal)
plemento nominal. O complemento nominal liga-se ao nome que O poeta português deixou uma obra
completa por intermédio de preposição: inacabada. O poeta deixou-a inacabada.
Desenvolvemos profundo respeito à arte; (inacabada precisou ser repetida, então: predicativo do objeto)
A arte é necessária à vida;
Tenho-lhe profundo respeito. Enquanto o complemento nominal relaciona-se a um substan-
tivo, adjetivo ou advérbio; o adjunto nominal relaciona-se apenas
Termos acessórios da oração e vocativo: ao substantivo.

Os termos acessórios recebem esse nome por serem acidentais, O aposto é um termo acessório que permite ampliar, explicar,
explicativos, circunstanciais. São termos acessórios o adjunto ad- desenvolver ou resumir a ideia contida num termo que exerça
verbial, adjunto adnominal, o aposto e o vocativo. qualquer função sintática.

O adjunto adverbial é o termo da oração que indica uma cir- Ontem, segunda-feira, passei o dia mal-humorado.
cunstância do processo verbal, ou intensifica o sentido de um ad-
jetivo, verbo ou advérbio. É uma função adverbial, pois cabe ao Segunda-feira é aposto do adjunto adverbial de tempo ontem.
advérbio e às locuções adverbiais exercerem o papel de adjunto Dizemos que o aposto é sintaticamente equivalente ao termo que
adverbial. se relaciona porque poderia substituí-lo: Segunda-feira passei o
Amanhã voltarei de bicicleta àquela velha praça. dia mal-humorado.
O aposto pode ser classificado, de acordo com seu valor na
As circunstâncias comumente expressas pelo adjunto adver- oração, em:
bial são: a) explicativo: A linguística, ciência das línguas humanas,
- acréscimo: Além de tristeza, sentia profundo cansaço. per-mite-nos interpretar melhor nossa relação com o mundo.
- afirmação: Sim, realmente irei partir. b) enumerativo: A vida humana compõe-se de muitas coisas:
- assunto: Falavam sobre futebol. amor, arte, ação.
- causa: Morrer ou matar de fome, de raiva e de sede… c) resumidor ou recapitulativo: Fantasias, suor e sonho, tudo
- companhia: Sempre contigo bailando sob as estrelas. isso forma o carnaval.
- concessão: Apesar de você, amanhã há de ser outro dia. d) comparativo: Seus olhos, indagadores holofotes, fixaram-
- conformidade: Fez tudo conforme o combinado. se por muito tempo na baía anoitecida.
- dúvida: Talvez nos deixem entrar.
- fim: Estudou para o exame. O vocativo é um termo que serve para chamar, invocar ou in-
- frequência: Sempre aparecia por lá. terpelar um ouvinte real ou hipotético.
- instrumento: Fez o corte com a faca.

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PORTUGUÊS
A função de vocativo é substantiva, cabendo a substantivos, Fiquei muito cansada, contudo me diverti bastante.
pronomes substantivos, numerais e palavras substantivadas esse Ainda que a noite acabasse, nós continuaríamos dançando.
papel na linguagem. Não comprei o protetor solar, mas mesmo assim fui à praia.

João, venha comigo! Orações Coordenadas Sindéticas Alternativas: suas princi-


Traga-me doces, minha menina! pais conjunções são: ou... ou; ora...ora; quer...quer; seja...seja.
PERÍODO COMPOSTO POR COORDENAÇÃO Ou uso o protetor solar, ou uso o óleo bronzeador.
Ora sei que carreira seguir, ora penso em várias carreiras di-
O período composto caracteriza-se por possuir mais de uma ferentes.
oração em sua composição. Sendo assim: Quer eu durma quer eu fique acordado, ficarei no quarto.
- Eu irei à praia. (Período Simples = um verbo, uma oração)
- Estou comprando um protetor solar, depois irei à praia. Orações Coordenadas Sindéticas Conclusivas: suas prin-
(Pe-ríodo Composto =locução verbal, verbo, duas orações) cipais conjunções são: logo, portanto, por fim, por conseguinte,
- Já me decidi: só irei à praia, se antes eu comprar um consequentemente, pois (posposto ao verbo)
protetor solar. (Período Composto = três verbos, três orações). Passei no concurso, portanto irei comemorar.
Conclui o meu projeto, logo posso descansar.
Cada verbo ou locução verbal corresponde a uma oração. Isso Tomou muito sol, consequentemente ficou adoentada.
implica que o primeiro exemplo é um período simples, pois tem A situação é delicada; devemos, pois, agir
apenas uma oração, os dois outros exemplos são períodos compos-
tos, pois têm mais de uma oração. Orações Coordenadas Sindéticas Explicativas: suas princi-
Há dois tipos de relações que podem se estabelecer entre as pais conjunções são: isto é, ou seja, a saber, na verdade, pois (an-
orações de um período composto: uma relação de coordenação ou teposto ao verbo).
uma relação de subordinação. Só passei na prova porque me esforcei por muito tempo.
Duas orações são coordenadas quando estão juntas em um Só fiquei triste por você não ter viajado comigo.
Não fui à praia, pois queria descansar durante o Domingo.
mesmo período, (ou seja, em um mesmo bloco de informações,
marcado pela pontuação final), mas têm, ambas, estruturas indivi- PERÍODO COMPOSTO POR SUBORDINAÇÃO
duais, como é o exemplo de:
Observe o exemplo abaixo de Vinícius de Moraes:
Estou comprando um protetor solar, depois irei à praia. (Pe-
“Eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto.”
ríodo Composto)
Oração Principal Oração Subordinada
Podemos dizer:
1. Estou comprando um protetor solar.
Observe que na oração subordinada temos o verbo “existe”,
2. Irei à praia.
que está conjugado na terceira pessoa do singular do presente do
Separando as duas, vemos que elas são independentes.
indicativo. As orações subordinadas que apresentam verbo em
É esse tipo de período que veremos agora: o Período qualquer dos tempos finitos (tempos do modo do indicativo, sub-
Composto por Coordenação. juntivo e imperativo), são chamadas de orações desenvolvidas ou
Quanto à classificação das orações coordenadas, temos dois explícitas.
tipos: Coordenadas Assindéticas e Coordenadas Sindéticas. Podemos modificar o período acima. Veja:
Eu sinto existir em meu gesto o teu gesto.
Coordenadas Assindéticas Oração Principal Oração Subordinada
São orações coordenadas entre si e que não são ligadas através
de nenhum conectivo. Estão apenas justapostas. A análise das orações continua sendo a mesma: “Eu sinto” é a
oração principal, cujo objeto direto é a oração subordinada “existir em
Coordenadas Sindéticas meu gesto o teu gesto”. Note que a oração subordinada apre-senta
Ao contrário da anterior, são orações coordenadas entre si, mas agora verbo no infinitivo. Além disso, a conjunção “que”, conectivo
que são ligadas através de uma conjunção coordenativa. Esse que unia as duas orações, desapareceu. As orações su-bordinadas cujo
caráter vai trazer para esse tipo de oração uma classificação. As verbo surge numa das formas nominais (infinitivo
orações coordenadas sindéticas são classificadas em cinco tipos: - flexionado ou não -, gerúndio ou particípio) chamamos orações
aditivas, adversativas, alternativas, conclusivas e explicativas. reduzidas ou implícitas.
Orações Coordenadas Sindéticas Aditivas: suas principais Obs.: as orações reduzidas não são introduzidas por conjun-
conjunções são: e, nem, não só... mas também, não só... como, ções nem pronomes relativos. Podem ser, eventualmente, introdu-
assim... como. zidas por preposição.
Não só cantei como também dancei.
Nem comprei o protetor solar, nem fui à praia. 1) ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS
Comprei o protetor solar e fui à praia.
A oração subordinada substantiva tem valor de substantivo e
Orações Coordenadas Sindéticas Adversativas: suas princi- vem introduzida, geralmente, por conjunção integrante (que, se).
pais conjunções são: mas, contudo, todavia, entretanto, porém, no Suponho que você foi à biblioteca hoje.
entanto, ainda, assim, senão. Oração Subordinada Substantiva

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PORTUGUÊS
Você sabe se o presidente já chegou? Todos querem que você seja aprovado. (Todos querem
Oração Subordinada Substantiva isso)
Oração Principal oração Subordinada Substantiva Objetiva
Os pronomes interrogativos (que, quem, qual) também introdu- Direta
zem as orações subordinadas substantivas, bem como os advérbios
interrogativos (por que, quando, onde, como). Veja os exemplos: As orações subordinadas substantivas objetivas diretas desen-
O garoto perguntou qual seu nome. volvidas são iniciadas por:
Oração Subordinada Substantiva - Conjunções integrantes “que” (às vezes elíptica) e “se”: A
professora verificou se todos alunos estavam presentes.
Não sabemos por que a vizinha se mudou.
Oração Subordinada Substantiva - Pronomes indefinidos que, quem, qual, quanto (às vezes re-
gidos de preposição), nas interrogações indiretas: O pessoal queria
Classificação das Orações Subordinadas Substantivas saber quem era o dono do carro importado.

De acordo com a função que exerce no período, a oração su- - Advérbios como, quando, onde, por que, quão (às vezes re-
bordinada substantiva pode ser: gidos de preposição), nas interrogações indiretas: Eu não sei por
a) Subjetiva que ela fez isso.
É subjetiva quando exerce a função sintática de sujeito do
ver-bo da oração principal. Observe: c) Objetiva Indireta
É fundamental o seu comparecimento à reunião. A oração subordinada substantiva objetiva indireta atua como
Sujeito objeto indireto do verbo da oração principal. Vem precedida de
preposição.
É fundamental que você compareça à reunião. Meu pai insiste em meu estudo.
Oração Principal Oração Subordinada Substantiva Subje- Objeto Indireto
tiva
Atenção: Meu pai insiste em que eu estude. (Meu pai insiste nisso)
Observe que a oração subordinada substantiva pode ser subs- Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta
tituída pelo pronome “ isso”. Assim, temos um período simples:
É fundamental isso. ou Isso é fundamental. Obs.: em alguns casos, a preposição pode estar elíptica na ora-
ção.
Dessa forma, a oração correspondente a “isso” exercerá a fun- Marta não gosta (de) que a chamem de senhora. Oração
ção de sujeito Subordinada Substantiva Objetiva Indireta
Veja algumas estruturas típicas que ocorrem na oração prin-
cipal: d) Completiva Nominal
A oração subordinada substantiva completiva nominal com-
- Verbos de ligação + predicativo, em construções do tipo: pleta um nome que pertence à oração principal e também vem
É bom - É útil - É conveniente - É certo - Parece certo - É claro - marcada por preposição.
Está evidente - Está comprovado Sentimos orgulho de seu comportamento.
É bom que você compareça à minha festa. Complemento Nominal
- Expressões na voz passiva, como: Sabe-se - Soube-se - Con-
ta-se - Diz-se - Comenta-se - É sabido - Foi anunciado - Ficou Sentimos orgulho de que você se comportou. (Sentimos
provado orgulho disso.)
Sabe-se que Aline não gosta de Pedro. Oração Subordinada Substantiva Completiva No-
minal
- Verbos como: convir - cumprir - constar - admirar - importar
- ocorrer - acontecer Lembre-se: as orações subordinadas substantivas objetivas
Convém que não se atrase na entrevista. indiretas integram o sentido de um verbo, enquanto que orações
subordinadas substantivas completivas nominais integram o sen-
Obs.: quando a oração subordinada substantiva é subjetiva, o tido de um nome. Para distinguir uma da outra, é necessário levar
verbo da oração principal está sempre na 3ª. pessoa do singular. em conta o termo complementado. Essa é, aliás, a diferença entre
o objeto indireto e o complemento nominal: o primeiro
b) Objetiva Direta complemen-ta um verbo, o segundo, um nome.

A oração subordinada substantiva objetiva direta exerce fun- e) Predicativa


ção de objeto direto do verbo da oração principal. A oração subordinada substantiva predicativa exerce papel de
predicativo do sujeito do verbo da oração principal e vem sempre
Todos querem sua aprovação no concurso. depois do verbo ser.
Objeto Direto Nosso desejo era sua desistência.
Predicativo do Sujeito

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PORTUGUÊS
Nosso desejo era que ele desistisse. (Nosso desejo era isso) No primeiro período, há uma oração subordinada adjetiva
Oração Subordinada Substantiva Predicativa desen-volvida, já que é introduzida pelo pronome relativo “que” e
Obs.: em certos casos, usa-se a preposição expletiva “de” para apresenta verbo conjugado no pretérito perfeito do indicativo. No
realce. Veja o exemplo: A impressão é de que não fui bem na pro- segundo, há uma oração subordinada adjetiva reduzida de
va. infinitivo: não há pro-nome relativo e seu verbo está no infinitivo.
Classificação das Orações Subordinadas Adjetivas
f) Apositiva
A oração subordinada substantiva apositiva exerce função de Na relação que estabelecem com o termo que caracterizam, as
aposto de algum termo da oração principal. orações subordinadas adjetivas podem atuar de duas maneiras dife-
Fernanda tinha um grande sonho: a felicidade! rentes. Há aquelas que restringem ou especificam o sentido do termo
Aposto a que se referem, individualizando-o. Nessas orações não há mar-
(Fernanda tinha um grande sonho: isso.) cação de pausa, sendo chamadas subordinadas adjetivas restritivas.
Existem também orações que realçam um detalhe ou amplificam da-
Fernanda tinha um grande sonho: ser feliz! dos sobre o antecedente, que já se encontra suficientemente definido,
Oração Subordinada Substantiva Apositiva as quais denominam-se subordinadas adjetivas explicativas.
reduzida de infinitivo Exemplo 1:
Jamais teria chegado aqui, não fosse a gentileza de um homem
* Dica: geralmente há a presença dos dois pontos! ( : ) que passava naquele momento.
Oração Subordinada Adjetiva Restritiva
2) ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS
Nesse período, observe que a oração em destaque restringe e
Uma oração subordinada adjetiva é aquela que possui valor e particulariza o sentido da palavra “homem”: trata-se de um homem
função de adjetivo, ou seja, que a ele equivale. As orações vêm específico, único. A oração limita o universo de homens, isto é,
introduzidas por pronome relativo e exercem a função de adjunto não se refere a todos os homens, mas sim àquele que estava
adnominal do antecedente. Observe o exemplo: passando naquele momento.
Esta foi uma redação bem-sucedida.
Substantivo Adjetivo (Adjunto Adnominal) Exemplo 2:
O homem, que se considera racional, muitas vezes age anima-
Note que o substantivo redação foi caracterizado pelo adjetivo lescamente.
bem-sucedida. Nesse caso, é possível formarmos outra construção, Oração Subordinada Adjetiva Explicativa
a qual exerce exatamente o mesmo papel. Veja:
Esta foi uma redação que fez sucesso. Nesse período, a oração em destaque não tem sentido restritivo em
Oração Principal Oração Subordinada Adjetiva relação à palavra “homem”; na verdade, essa oração apenas expli-cita uma
ideia que já sabemos estar contida no conceito de “homem”.
Perceba que a conexão entre a oração subordinada adjetiva e o Saiba que: A oração subordinada adjetiva explicativa é separada
termo da oração principal que ela modifica é feita pelo prono-me da oração principal por uma pausa que, na escrita, é representada pela
relativo “que”. Além de conectar (ou relacionar) duas orações, o vírgula. É comum, por isso, que a pontuação seja indicada como forma
pronome relativo desempenha uma função sintática na oração de diferenciar as orações explicativas das restritivas; de fato, as
subordinada: ocupa o papel que seria exercido pelo termo que o explicativas vêm sempre isoladas por vírgulas; as restritivas, não.
antecede.
Obs.: para que dois períodos se unam num período composto, 3) ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS
altera-se o modo verbal da segunda oração.
Atenção: Vale lembrar um recurso didático para reconhecer o Uma oração subordinada adverbial é aquela que exerce a função
pronome relativo que: ele sempre pode ser substituído por: o qual de adjunto adverbial do verbo da oração principal. Dessa forma, pode
- a qual - os quais - as quais exprimir circunstância de tempo, modo, fim, causa, condição, hipóte-
Refiro-me ao aluno que é estudioso. se, etc. Quando desenvolvida, vem introduzida por uma das conjun-
Essa oração é equivalente a: ções subordinativas (com exclusão das integrantes). Classifica-se de
Refiro-me ao aluno o qual estuda. acordo com a conjunção ou locução conjuntiva que a introduz.

Forma das Orações Subordinadas Adjetivas Durante a madrugada, eu olhei você dormindo.
Oração Subordinada Adverbial
Quando são introduzidas por um pronome relativo e apresen-
tam verbo no modo indicativo ou subjuntivo, as orações subordi- Observe que a oração em destaque agrega uma circunstância de
nadas adjetivas são chamadas desenvolvidas. Além delas, existem tempo. É, portanto, chamada de oração subordinada adverbial tem-
as orações subordinadas adjetivas reduzidas, que não são introdu- poral. Os adjuntos adverbiais são termos acessórios que indicam uma
zidas por pronome relativo (podem ser introduzidas por preposi- circunstância referente, via de regra, a um verbo. A classifi-cação do
ção) e apresentam o verbo numa das formas nominais (infinitivo, adjunto adverbial depende da exata compreensão da cir-cunstância que
gerúndio ou particípio). exprime. Observe os exemplos abaixo:
Ele foi o primeiro aluno que se apresentou. Naquele momento, senti uma das maiores emoções de minha
Ele foi o primeiro aluno a se apresentar. vida.

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PORTUGUÊS
Quando vi a estátua, senti uma das maiores emoções de minha Se o regulamento do campeonato for bem elaborado, certa-
vida. mente o melhor time será campeão.
Uma vez que todos aceitem a proposta, assinaremos o con-
No primeiro período, “naquele momento” é um adjunto adver- trato.
bial de tempo, que modifica a forma verbal “senti”. No segundo Caso você se case, convide-me para a festa.
período, esse papel é exercido pela oração “Quando vi a estátua”, d) Concessão
que é, portanto, uma oração subordinada adverbial temporal. Essa As orações subordinadas adverbiais concessivas indicam con-
oração é desenvolvida, pois é introduzida por uma conjunção su- cessão às ações do verbo da oração principal, isto é, admitem uma
bordinativa (quando) e apresenta uma forma verbal do modo in- contradição ou um fato inesperado. A ideia de concessão está dire-
dicativo (“vi”, do pretérito perfeito do indicativo). Seria possível tamente ligada ao contraste, à quebra de expectativa.
reduzi-la, obtendo-se: Principal conjunção subordinativa concessiva: EMBORA
Utiliza-se também a conjunção: conquanto e as locuções ainda
Ao ver a estátua, senti uma das maiores emoções de minha
que, ainda quando, mesmo que, se bem que, posto que, apesar de
vida. que.
A oração em destaque é reduzida, pois apresenta uma das for- Só irei se ele for.
mas nominais do verbo (“ver” no infinitivo) e não é introduzida A oração acima expressa uma condição: o fato de “eu” ir só se
por conjunção subordinativa, mas sim por uma preposição (“a”, realizará caso essa condição seja satisfeita.
combinada com o artigo “o”). Compare agora com:
Obs.: a classificação das orações subordinadas adverbiais é Irei mesmo que ele não vá.
feita do mesmo modo que a classificação dos adjuntos adverbiais. A distinção fica nítida; temos agora uma concessão: irei de
Baseia-se na circunstância expressa pela oração. qualquer maneira, independentemente de sua ida. A oração desta-
cada é, portanto, subordinada adverbial concessiva.
Circunstâncias Expressas pelas Orações Subordinadas Ad- Observe outros exemplos:
verbiais Embora fizesse calor, levei agasalho.
a) Causa Conquanto a economia tenha crescido, pelo menos metade da
A ideia de causa está diretamente ligada àquilo que provoca população continua à margem do mercado de consumo.
um determinado fato, ao motivo do que se declara na oração prin- Foi aprovado sem estudar (= sem que estudasse / embora não
cipal. “É aquilo ou aquele que determina um acontecimento”. estudasse). (reduzida de infinitivo)
Principal conjunção subordinativa causal: PORQUE
Outras conjunções e locuções causais: como (sempre introdu- e) Comparação
zido na oração anteposta à oração principal), pois, pois que, já As orações subordinadas adverbiais comparativas estabelecem
que, uma vez que, visto que. uma comparação com a ação indicada pelo verbo da oração prin-
As ruas ficaram alagadas porque a chuva foi muito forte. cipal.
Como ninguém se interessou pelo projeto, não houve alterna- Principal conjunção subordinativa comparativa:
tiva a não ser cancelá-lo. COMO Ele dorme como um urso.
Já que você não vai, eu também não vou. Saiba que: É comum a omissão do verbo nas orações subordi-
nadas adverbiais comparativas. Por exemplo:
b) Consequência Agem como crianças. (agem)
As orações subordinadas adverbiais consecutivas exprimem
Oração Subordinada Adverbial Comparativa
um fato que é consequência, que é efeito do que se declara na ora-
ção principal. São introduzidas pelas conjunções e locuções: que,
de forma que, de sorte que, tanto que, etc., e pelas estruturas tão... No entanto, quando se comparam ações diferentes, isso não
que, tanto...que, tamanho...que. ocorre. Por exemplo: Ela fala mais do que faz. (comparação do
Principal conjunção subordinativa consecutiva: QUE (precedi- verbo falar e do verbo fazer).
do de tal, tanto, tão, tamanho)
É feio que dói. (É tão feio que, em consequência, causa dor.) f) Conformidade
Nunca abandonou seus ideais, de sorte que acabou concreti-
zando-os. As orações subordinadas adverbiais conformativas indicam
Não consigo ver televisão sem bocejar. (Oração Reduzida de ideia de conformidade, ou seja, exprimem uma regra, um modelo
Infinitivo) adotado para a execução do que se declara na oração principal.
Principal conjunção subordinativa conformativa: CONFOR-
c) Condição ME
Condição é aquilo que se impõe como necessário para a reali- Outras conjunções conformativas: como, consoante e segundo
zação ou não de um fato. As orações subordinadas adverbiais con- (todas com o mesmo valor de conforme).
dicionais exprimem o que deve ou não ocorrer para que se realize Fiz o bolo conforme ensina a receita.
ou deixe de se realizar o fato expresso na oração principal. Consoante reza a Constituição, todos os cidadãos têm direitos
Principal conjunção subordinativa condicional: SE iguais.
Outras conjunções condicionais: caso, contanto que, desde
que, salvo se, exceto se, a não ser que, a menos que, sem que, uma
vez que (seguida de verbo no subjuntivo).

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PORTUGUÊS
g) Finalidade Sem que haja alteração de sentido, e de acordo com a nor-ma-
As orações subordinadas adverbiais finais indicam a intenção, -padrão da língua portuguesa, ao se substituir o termo em destaque,
a finalidade daquilo que se declara na oração principal. o trecho estará corretamente reescrito em:
Principal conjunção subordinativa final: A FIM DE QUE A) Joyce e Mozart são ótimos, portanto eles, como quase toda
Outras conjunções finais: que, porque (= para que) e a locução a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prá-
conjuntiva para que. tica.
Aproximei-me dela a fim de que ficássemos amigos. B) Joyce e Mozart são ótimos, conforme eles, como quase toda
Felipe abriu a porta do carro para que sua namorada entras- a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prá-
se. tica.
h) Proporção C) Joyce e Mozart são ótimos, assim eles, como quase toda a
As orações subordinadas adverbiais proporcionais exprimem cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prática.
ideia de proporção, ou seja, um fato simultâneo ao expresso na D) Joyce e Mozart são ótimos, todavia eles, como quase toda a
oração principal. cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prática.
Principal locução conjuntiva subordinativa proporcional: À E) Joyce e Mozart são ótimos, pois eles, como quase toda a cultura
PROPORÇÃO QUE humanística, têm pouca relevância para nossa vida prática.
Outras locuções conjuntivas proporcionais: à medida que, ao 04. (Analista Administrativo – VUNESP – 2013-adap.) Em –
passo que. Há ainda as estruturas: quanto maior...(maior), quanto ...fruto não só do novo acesso da população ao automóvel mas
também da necessidade de maior número de viagens... –, os termos
maior...(menor), quanto menor...(maior), quanto menor...(menor),
em destaque estabelecem relação de
quanto mais...(mais), quanto mais...(menos), quanto menos...
A) explicação.
(mais), quanto menos...(menos). B) oposição.
À proporção que estudávamos, acertávamos mais questões. C) alternância.
Visito meus amigos à medida que eles me convidam. D) conclusão.
Quanto maior for a altura, maior será o tombo. E) adição.
i) Tempo 5. Analise a oração destacada: Não se desespere, que estare-
As orações subordinadas adverbiais temporais acrescentam mos a seu lado sempre.
uma ideia de tempo ao fato expresso na oração principal, podendo Marque a opção correta quanto à sua
exprimir noções de simultaneidade, anterioridade ou posteriorida- classificação: A) Coordenada sindética aditiva.
de. B) Coordenada sindética alternativa.
Principal conjunção subordinativa temporal: QUANDO C) Coordenada sindética conclusiva.
Outras conjunções subordinativas temporais: enquanto, mal e D) Coordenada sindética explicativa.
locuções conjuntivas: assim que, logo que, todas as vezes que, an-
tes que, depois que, sempre que, desde que, etc. 6. A frase abaixo em que o conectivo E tem valor adversa-
Quando você foi embora, chegaram outros convidados. tivo é:
Sempre que ele vem, ocorrem problemas. A) “O gesto é fácil E não ajuda em nada”.
Mal você saiu, ela chegou. B )“O que vemos na esquina E nos sinais de trânsito...”.
Terminada a festa, todos se retiraram. (= Quando terminou a C) “..adultos submetem crianças E adolescentes à tarefa de
festa) (Oração Reduzida de Particípio) pe-dir esmola”.
D) “Quem dá esmola nas ruas contribui para a manutenção da
Questões sobre Orações Coordenadas miséria E prejudica o desenvolvimento da sociedade”.
E) “A vida dessas pessoas é marcada pela falta de dinheiro, de
1. A oração “Não se verificou, todavia, uma transplantação moradia digna, emprego, segurança, lazer, cultura, acesso à saúde
integral de gosto e de estilo” tem valor: E à educação”.
A) conclusivo
7. Assinale a alternativa em que o sentido da conjunção
B) adversativo subli-nhada está corretamente indicado entre parênteses.
C) concessivo A) Meu primo formou-se em Direito, porém não pretende tra-
D) explicativo balhar como advogado. (explicação)
E) alternativo B) Não fui ao cinema nem assisti ao jogo. (adição)
C) Você está preparado para a prova; por isso, não se
2. “Estudamos, logo deveremos passar nos exames”. A ora- preocupe. (oposição)
ção em destaque é: D) Vá dormir mais cedo, pois o vestibular será amanhã. (al-
a) coordenada explicativa b) coordenada adversativa ternância)
c) coordenada aditiva d) coordenada conclusiva E) Os meninos deviam correr para casa ou apanhariam toda a
e) coordenada assindética chuva. (conclusão)
3. (Agente Educacional – VUNESP – 2013-adap.) Releia o 8. Analise sintaticamente as duas orações destacadas no texto
seguinte trecho: “O assaltante pulou o muro, mas não penetrou na casa, nem as-
Joyce e Mozart são ótimos, mas eles, como quase toda a cul- sustou seus habitantes.” A seguir, classifique-as, respectivamente,
tura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prática. como coordenadas:

28
PORTUGUÊS
A) adversativa e aditiva. C) “..adultos submetem crianças E adolescentes à tarefa de
B) explicativa e aditiva. pe-dir esmola”. = adição
C) adversativa e alternativa. D) “Quem dá esmola nas ruas contribui para a manutenção da
D) aditiva e alternativa. miséria E prejudica o desenvolvimento da sociedade”. = adição
E) “A vida dessas pessoas é marcada pela falta de dinheiro, de
9. Um livro de receita é um bom presente porque ajuda as moradia digna, emprego, segurança, lazer, cultura, acesso à saúde
pessoas que não sabem cozinhar. A palavra “porque” pode ser E à educação”. = adição
substituída, sem alteração de sentido, por
A) entretanto. B) então. C) assim. D) pois. E) porém. 7-)
A) Meu primo formou-se em Direito, porém não pretende tra-
10- Na oração “Pedro não joga E NEM ASSISTE”, temos a balhar como advogado. = adversativa
presença de uma oração coordenada que pode ser classificada em: C) Você está preparado para a prova; por isso, não se preocupe.
A) Coordenada assindética; = conclusão
B) Coordenada assindética aditiva; D) Vá dormir mais cedo, pois o vestibular será amanhã.
C) Coordenada sindética alternativa; = explicativa
D) Coordenada sindética aditiva. E) Os meninos deviam correr para casa ou apanhariam toda a
chuva. = alternativa
GABARITO
01. B 02. E 03. D 04. E 05. D 8-) - mas não penetrou na casa = conjunção adversativa -
06. A 07. B 08. A 09. D 10. D nem assustou seus habitantes = conjunção aditiva
RESOLUÇÃO 9-) Um livro de receita é um bom presente porque ajuda as
pessoas que não sabem cozinhar.
1-) “Não se verificou, todavia, uma transplantação integral de = conjunção explicativa: pois
gosto e de estilo” = conjunção adversativa, portanto: oração coor-
denada sindética adversativa 10-) E NEM ASSISTE= conjunção aditiva (ideia de adição,
2-) Estudamos, logo deveremos passar nos exames = a oração soma de fatos) = Coordenada sindética aditiva.
em destaque não é introduzida por conjunção, então: coordenada Questões sobre Orações Subordinadas
assindética
(Papiloscopista Policial – Vunesp/2013).
3-) Joyce e Mozart são ótimos, mas eles... = conjunção (e ideia)
adversativa Mais denso, menos trânsito
A) Joyce e Mozart são ótimos, portanto eles, como quase toda
As grandes cidades brasileiras estão congestionadas e em pro-
a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida práti-
cesso de deterioração agudizado pelo crescimento econômico da
ca. = conclusiva
B) Joyce e Mozart são ótimos, conforme eles, como quase toda última década. Existem deficiências evidentes em infraestrutura, mas
a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida práti- é importante também considerar o planejamento urbano.
ca. = conformativa Muitas grandes cidades adotaram uma abordagem de descon-
C) Joyce e Mozart são ótimos, assim eles, como quase toda a centração, incentivando a criação de diversos centros urbanos, na
cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prática. visão de que isso levaria a uma maior facilidade de deslocamento.
= conclusiva Mas o efeito tem sido o inverso. A criação de diversos centros
E) Joyce e Mozart são ótimos, pois eles, como quase toda a cultura e o aumento das distâncias multiplicam o número de viagens, di-
humanística, têm pouca relevância para nossa vida prática. ficultando o investimento em transporte coletivo e aumentando a
= explicativa necessidade do transporte individual.
Dica: conjunção pois como explicativa = dá para eu substituir Se olharmos Los Angeles como a região que levou a des-
por porque; como conclusiva: substituo por portanto. concentração ao extremo, ficam claras as consequências. Numa
região rica como a Califórnia, com enorme investimento viário,
4-) fruto não só do novo acesso da população ao automóvel temos engarrafamentos gigantescos que viraram característica da
mas também da necessidade de maior número de viagens... estabe- cidade.
lecem relação de adição de ideias, de fatos Os modelos urbanos bem-sucedidos são aqueles com elevado
adensamento e predominância do transporte coletivo, como mos-
5-) Não se desespere, que estaremos a seu lado sempre. tram Manhattan e Tóquio.
= conjunção explicativa (= porque) - coordenada sindética ex- O centro histórico de São Paulo é a região da cidade mais bem
plicativa servida de transporte coletivo, com infraestrutura de telecomuni-
cação, água, eletricidade etc. Como em outras grandes cidades, essa
6-) deveria ser a região mais adensada da metrópole. Mas não
A) “O gesto é fácil E não ajuda em nada”. = mas não ajuda é o caso. Temos, hoje, um esvaziamento gradual do centro, com
(ideia contrária) deslocamento das atividades para diversas regiões da cidade.
B )“O que vemos na esquina E nos sinais de trânsito...”. =
adição

29
PORTUGUÊS
A visão de adensamento com uso abundante de transporte co- A) causa, pois Honi quer ter filhos e não deseja trabalhar de-
letivo precisa ser recuperada. Desse modo, será possível reverter pois de casada.
esse processo de uso cada vez mais intenso do transporte indivi- B) comparação, pois o namorado espera ter sucesso como
dual, fruto não só do novo acesso da população ao automóvel, mas can-tor romântico.
também da necessidade de maior número de viagens em fun-ção C) tempo, pois ambos ainda são adolescentes, mas já pensam
da distância cada vez maior entre os destinos da população. em casamento.
(Henrique Meirelles, Folha de S.Paulo, 13.01.2013. Adaptado) D) condição, pois Lute sabe que exercendo a profissão de mú-
sico provavelmente ganhará pouco.
As expressões mais denso e menos trânsito, no título, estabele- E) finalidade, pois Honi espera que seu futuro marido torne-
cem entre si uma relação de se um artista famoso.
(A) comparação e adição. (B) causa e consequência.
(C) conformidade e negação. (D) hipótese e concessão. 5. (Analista Administrativo – VUNESP – 2013). Em – Ape-
(E) alternância e explicação sar da desconcentração e do aumento da extensão urbana veri-
ficados no Brasil, é importante desenvolver e adensar ainda mais
2. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VUNESP os diversos centros já existentes... –, sem que tenha seu sentido
– 2013). No trecho – Tem surtido um efeito positivo por eles se alterado, o trecho em destaque está corretamente reescrito em:
tor-narem uma referência positiva dentro da unidade, já que A) Mesmo com a desconcentração e o aumento da Extensão
cumprem melhor as regras, respeitam o próximo e pensam melhor urbana verificados no Brasil, é importante desenvolver e adensar
nas suas ações, refletem antes de tomar uma atitude. – o termo em ainda mais os diversos centros já existentes...
destaque estabelece entre as orações uma relação de B) Uma vez que se verifica a desconcentração e o aumento da
extensão urbana no Brasil, é importante desenvolver e adensar
A) condição. B) causa. C) comparação. D) tempo.
ainda mais os diversos centros já existentes...
E) concessão. C) Assim como são verificados a desconcentração e o aumento
3. (UFV-MG) As orações subordinadas substantivas que da extensão urbana no Brasil, é importante desenvolver e adensar
apa-recem nos períodos abaixo são todas subjetivas, exceto: ainda mais os diversos centros já existentes...
A) Decidiu-se que o petróleo subiria de preço. D) Visto que com a desconcentração e o aumento da extensão
B) É muito bom que o homem, vez por outra, reflita sobre sua urbana verificados no Brasil, é importante desenvolver e adensar
vida. ainda mais os diversos centros já existentes...
C) Ignoras quanto custou meu relógio? E) De maneira que, com a desconcentração e o aumento da
D) Perguntou-se ao diretor quando seríamos recebidos. E)
extensão urbana verificados no Brasil, é importante desenvolver e
Convinha-nos que você estivesse presente à reunião adensar ainda mais os diversos centros já existentes...
4. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – 2013). 6. (Analista Administrativo – VUNESP – 2013). Em – É fun-
Considere a tirinha em que se vê Honi conversando com seu Na- damental que essa visão de adensamento com uso abundante de
morado Lute. transporte coletivo seja recuperada para que possamos reverter
esse processo de uso… –, a expressão em destaque estabelece en-
tre as orações relação de
A) consequência.
B) condição.
C) finalidade.
D) causa.
E) concessão.

7. (Analista de Sistemas – VUNESP – 2013 – adap.). Consi-


dere o trecho: “Como as músicas eram de protesto, naquele mes-
mo ano foi enquadrado na lei de segurança nacional pela ditadura
militar e exilado.” O termo Como, em destaque na primeira parte
do enunciado, expressa ideia de
A) contraste e tem sentido equivalente a porém.
B) concessão e tem sentido equivalente a mesmo que. C)
conformidade e tem sentido equivalente a conforme. D)
causa e tem sentido equivalente a visto que.
E) finalidade e tem sentido equivalente a para que.

8. (Analista em Planejamento, Orçamento e Finanças Públi-


cas – VUNESP – 2013-adap.) No trecho – “Fio, disjuntor, toma-
(Dik Browne, Folha de S. Paulo, 26.01.2013) da, tudo!”, insiste o motorista, com tanto orgulho que chega a
contaminar-me. –, a construção tanto ... que estabelece entre as
É correto afirmar que a expressão contanto que estabelece construções [com tanto orgulho] e [que chega a contaminar-me]
en-tre as orações relação de uma relação de

30
PORTUGUÊS
A) condição e finalidade. 6-) para que possamos = conjunção final (finalidade)
B) conformidade e proporção.
C) finalidade e concessão. 7-) “Como as músicas eram de protesto = expressa ideia de
D) proporção e comparação. causa da consequência “foi enquadrado” = causa e tem sentido
E) causa e consequência. equivalente a visto que.

9. “Os Estados Unidos são considerados hoje um país bem 8-) com tanto orgulho que chega a contaminar-me. – a constru-
mais fechado – embora em doze dias recebam o mesmo número ção estabelece uma relação de causa e consequência. (a causa da
de imigrantes que o Brasil em um ano.” A alternativa que substitui “contaminação” – consequência)
a expressão em negrito, sem prejuízo ao conteúdo, é:
A) já que. B) 9-) Os Estados Unidos são considerados hoje um país bem
todavia. C) mais fechado – embora em doze dias recebam o mesmo número de
ainda que. D) imigrantes que o Brasil em um ano.” = conjunção concessiva:
entretanto. E) ainda que
talvez. 10-) contanto que garantam sua autenticidade. = conjunção
10. (Escrevente TJ SP – Vunesp – 2013) Assinale a alternativa condicional = desde que
que substitui o trecho em destaque na frase – Assinarei o docu- Questões sobre Análise Sintática
mento, contanto que garantam sua autenticidade. – sem que haja
prejuízo de sentido. 1. (Agente de Apoio Administrativo – FCC – 2013). Os tra-
(A) desde que garantam sua autenticidade. balhadores passaram mais tempo na escola...
(B) no entanto garantam sua autenticidade. O segmento grifado acima possui a mesma função sintática
(C) embora garantam sua autenticidade. que o destacado em:
(D) portanto garantam sua autenticidade. A) ...o que reduz a média de ganho da categoria.
(E) a menos que garantam sua autenticidade. B) ...houve mais ofertas de trabalhadores dessa classe.
C) O crescimento da escolaridade também foi impulsionado...
GABARITO D) ...elevando a fatia dos brasileiros com ensino médio...
01. B 02. B 03. C 04. D 05. A E) ...impulsionado pelo aumento do número de universida-
06. C 07. D 08. E 09. C 10. A des...
RESOLUÇÃO 02.(Agente de Defensoria Pública – FCC – 2013). Donos de
uma capacidade de orientação nas brenhas selvagens [...], sabiam
1-) mais denso e menos trânsito = mais denso, consequente- os paulistas como...
mente, menos trânsito, então: causa e consequência O segmento em destaque na frase acima exerce a mesma fun-
ção sintática que o elemento grifado em:
2-) já que cumprem melhor as regras = estabelece entre as A) Nas expedições breves serviam de balizas ou mostradores
para a volta.
orações uma relação de causa com a consequência de “tem um
B) Às estreitas veredas e atalhos [...], nada acrescentariam
efeito positivo”. aqueles de considerável...
C) Só a um olhar muito exercitado seria perceptível o sinal. D)
3-) Ignoras quanto custou meu relógio? = oração subordinada
Uma sequência de tais galhos, em qualquer floresta, podia
substantiva objetiva direta
significar uma pista.
A oração não atende aos requisitos de tais orações, ou seja, não
E) Alguns mapas e textos do século XVII apresentam-nos a
se inicia com verbo de ligação, tampouco pelos verbos “convir”,
vila de São Paulo como centro...
“parecer”, “importar”, “constar” etc., e também não inicia com as
conjunções integrantes “que” e “se”. 3. Há complemento nominal em:
A)Você devia vir cá fora receber o beijo da madrugada.
4-) a expressão contanto que estabelece uma relação de con- B)... embora fosse quase certa a sua possibilidade de ganhar a
dição (condicional) vida.
C)Ela estava na janela do edifício.
5-) Apesar da desconcentração e do aumento da extensão urba- D)... sem saber ao certo se gostávamos dele.
na verificados no Brasil = conjunção concessiva E)Pouco depois começaram a brincar de bandido e mocinho
B) Uma vez que se verifica a desconcentração e o aumento da de cinema.
extensão urbana no Brasil, = causal
C) Assim como são verificados a desconcentração e o aumento 4. (ESPM-SP) Em “esta lhe deu cem mil contos”, o termo
da extensão urbana no Brasil = comparativa destacado é:
D) Visto que com a desconcentração e o aumento da extensão A) pronome possessivo B)
urbana verificados no Brasil = causal complemento nominal C)
E) De maneira que, com a desconcentração e o aumento da objeto indireto
extensão urbana verificados no Brasil = consecutivas D) adjunto adnominal
E) objeto direto

31
PORTUGUÊS
5. Assinale a alternativa correta e identifique o sujeito das C)na janela do edifício. = adjunto adnominal
se-guintes orações em relação aos verbos destacados: D)... sem saber ao certo se gostávamos dele. = objeto indireto E)
- Amanhã teremos uma palestra sobre qualidade de a brincar de bandido e mocinho de cinema = objeto indireto
vida. - Neste ano, quero prestar serviço voluntário.
A)Tu – vós 4-) esta lhe deu cem mil contos = o verbo DAR é bitransitivo,
B)Nós – eu ou seja, transitivo direto e indireto, portanto precisa de dois com-
C)Vós – nós plementos – dois objetos: direto e indireto.
D) Ele - tu Deu o quê? = cem mil contos (direto) Deu
a quem? lhe (=a ele, a ela) = indireto
6. Classifique o sujeito das orações destacadas no texto se-
guinte e, a seguir, assinale a sequência correta. 5-) - Amanhã ( nós ) teremos uma palestra sobre qualidade de
É notável, nos textos épicos, a participação do sobrenatural. vida.
É frequente a mistura de assuntos relativos ao nacionalismo com - Neste ano, ( eu ) quero prestar serviço voluntário.
o caráter maravilhoso. Nas epopeias, os deuses tomam partido e
interferem nas aventuras dos heróis, ajudando-os ou atrapalhan- 6-) É notável, nos textos épicos, a participação do sobrenatural.
do- -os. É frequente a mistura de assuntos relativos ao nacionalismo com o
A)simples, composto caráter maravilhoso. Nas epopeias, os deuses tomam partido e
B)indeterminado, composto interferem nas aventuras dos heróis, ajudando-os ou atrapalhan-
C)simples, simples do-os.
D) oculto, indeterminado Ambos os termos apresentam sujeito simples

7. (ESPM-SP) “Surgiram fotógrafos e repórteres”. Identi- 7-) Surgiram fotógrafos e repórteres.


fique a alternativa que classifica corretamente a função sintática e O sujeito está deslocado, colocado na ordem indireta (final da
a classe morfológica dos termos destacados: oração). Portanto: função sintática: sujeito (composto); classe
A) objeto indireto – substantivo morfológica (classe de palavras): substantivos.
B) objeto direto - substantivo
C) sujeito – adjetivo PONTUAÇÃO
D) objeto direto – adjetivo
Os sinais de pontuação são marcações gráficas que servem
E) sujeito - substantivo para compor a coesão e a coerência textual, além de ressaltar es-
GABARITO pecificidades semânticas e pragmáticas. Vejamos as principais
1. C 02. D 03. B 04. C 05. B 06. C 07. E funções dos sinais de pontuação conhecidos pelo uso da língua
portuguesa.
RESOLUÇÃO
Ponto
1-) Os trabalhadores passaram mais tempo na 1- Indica o término do discurso ou de parte dele.
escola = SUJEITO - Façamos o que for preciso para tirá-la da situação em que
A) ...o que reduz a média de ganho da categoria. = objeto direto se encontra.
B) ...houve mais ofertas de trabalhadores dessa classe. = objeto - Gostaria de comprar pão, queijo, manteiga e leite.
direto - Acordei. Olhei em volta. Não reconheci onde estava.
C) O crescimento da escolaridade também foi impulsionado...
= sujeito paciente 2- Usa-se nas abreviações - V. Exª. - Sr.
D) ...elevando a fatia dos brasileiros com ensino médio... =
objeto direto Ponto e Vírgula ( ; )
E) ...impulsionado pelo aumento do número de universida- 1- Separa várias partes do discurso, que têm a mesma impor-
des... = agente da passiva tância.
- “Os pobres dão pelo pão o trabalho; os ricos dão pelo pão a
2-) Donos de uma capacidade de orientação nas brenhas fazenda; os de espíritos generosos dão pelo pão a vida; os de
selva-gens [...], sabiam os paulistas como... = SUJEITO nenhum espírito dão pelo pão a alma...” (VIEIRA)
A) Nas expedições breves = ADJUNTO ADVERBIAL
B) nada acrescentariam aqueles de considerável...= adjunto 2- Separa partes de frases que já estão separadas por vírgulas.
adverbial - Alguns quiseram verão, praia e calor; outros, montanhas,
C) seria perceptível o sinal. = predicativo frio e cobertor.
D) Uma sequência de tais galhos = sujeito
E) apresentam-nos a vila de São Paulo como = objeto direto 3- Separa itens de uma enumeração, exposição de motivos,
de-creto de lei, etc.
3-) - Ir ao supermercado;
A) o beijo da madrugada. = adjunto adnominal - Pegar as crianças na escola;
B)a sua possibilidade de ganhar a vida. = complemento nomi- - Caminhada na praia;
nal (possibilidade de quê?) - Reunião com amigos.

32
PORTUGUÊS
Dois pontos c) das expressões explicativas ou corretivas: As indústrias não
1- Antes de uma citação querem abrir mão de suas vantagens, isto é, não querem abrir mão
- Vejamos como Afrânio Coutinho trata este assunto: dos lucros altos.

2- Antes de um aposto - Para marcar inversão:


- Três coisas não me agradam: chuva pela manhã, frio à a) do adjunto adverbial (colocado no início da oração):
tarde e calor à noite. Depois das sete horas, todo o comércio está de portas fechadas.
b) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos
3- Antes de uma explicação ou esclarecimento pesquisa-dores, não lhes destinaram verba alguma.
- Lá estava a deplorável família: triste, cabisbaixa, vivendo a c) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15 de maio de
rotina de sempre. 1982.

4- Em frases de estilo direto - Para separar entre si elementos coordenados (dispostos em


Maria perguntou: enumeração):
- Por que você não toma uma decisão? Era um garoto de 15 anos, alto, magro.
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e animais.
Ponto de Exclamação
1- Usa-se para indicar entonação de surpresa, cólera, susto, - Para marcar elipse (omissão) do verbo:
súplica, etc. Nós queremos comer pizza; e vocês, churrasco.
- Sim! Claro que eu quero me casar com você! - Para isolar:
2- Depois de interjeições ou vocativos - o aposto: São Paulo, considerada a metrópole brasileira,
- Ai! Que susto! possui um trânsito caótico.
- João! Há quanto tempo! - o vocativo: Ora, Thiago, não diga bobagem.
Ponto de Interrogação
Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres. Fontes: http://www.infoescola.com/portugues/pontuacao/
“- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Azevedo) http://www.brasilescola.com/gramatica/uso-da-virgula.htm

Reticências Questões sobre Pontuação


1- Indica que palavras foram suprimidas.
- Comprei lápis, canetas, cadernos... 1. (Agente Policial – Vunesp – 2013). Assinale a alternativa
em que a pontuação está corretamente empregada, de acordo com
2- Indica interrupção violenta da frase. a norma-padrão da língua portuguesa.
“- Não... quero dizer... é verdad... Ah!” (A) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora,
experimentasse, a sensação de violar uma intimidade, procurou a
3- Indica interrupções de hesitação ou dúvida esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que pudesse aju-
- Este mal... pega doutor? dar a revelar quem era a sua dona.
(B) Diante, da testemunha o homem abriu a bolsa e, embora
4- Indica que o sentido vai além do que foi dito experimentasse a sensação, de violar uma intimidade, procurou a
- Deixa, depois, o coração falar... esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que pudesse aju-
dar a revelar quem era a sua dona.
Vírgula (C) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora
experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procurou a
Não se usa vírgula esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que pudesse aju-
*separando termos que, do ponto de vista sintático, ligam-se dar a revelar quem era a sua dona.
diretamente entre si: (D) Diante da testemunha, o homem, abriu a bolsa e, embora
- entre sujeito e predicado. experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procurou a
Todos os alunos da sala foram advertidos. esmo entre as coisinhas, tentando, encontrar algo que pudesse aju-
Sujeito predicado dar a revelar quem era a sua dona.
(E) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora,
- entre o verbo e seus objetos. experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procurou a
O trabalho custou sacrifício aos realizadores. esmo entre as coisinhas, tentando, encontrar algo que pudesse aju-
V.T.D.I. O.D. O.I. dar a revelar quem era a sua dona.

Usa-se a vírgula: 2. (CNJ – TÉCNICO JUDICIÁRIO – CESPE/2013 - ADAP-


- Para marcar intercalação: TADA) Jogadores de futebol de diversos times entraram em cam-
a) do adjunto adverbial: O café, em razão da sua abundância, po em prol do programa “Pai Presente”, nos jogos do Campeo-
vem caindo de preço. nato Nacional em apoio à campanha que visa 4 reduzir o número
b) da conjunção: Os cerrados são secos e áridos. Estão de pessoas que não possuem o nome do pai em sua certidão de
produ-zindo, todavia, altas quantidades de alimentos. nascimento. (...)

33
PORTUGUÊS
A oração subordinada “que não possuem o nome do pai em sua a) A
certidão de nascimento” não é antecedida por vírgula porque tem b) B
natureza restritiva. c) C
( ) Certo d) D
( ) Errado e) E

03.(BNDES – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – BN- 7. (DETRAN - OFICIAL ESTADUAL DE TRÂNSITO –


DES/2012) Em que período a vírgula pode ser retirada, mantendo- VUNESP/2013) Assinale a alternativa correta quanto ao uso da
se o sentido e a obediência à norma-padrão? pontuação.
(A) Quando o técnico chegou, a equipe começou o treino. (A) Segundo alguns psicólogos, é possível, em certas circuns-
(B) Antônio, quer saber as últimas novidades dos esportes? tâncias, ceder à frustração para que a raiva seja aliviada.
(C) As Olimpíadas de 2016 ocorrerão no Rio, que se prepara (B) Dirigir pode aumentar, nosso nível de estresse, porque você
para o evento. está junto; com os outros motoristas cujos comportamentos, são
(D) Atualmente, várias áreas contribuem para o aprimoramen- desconhecidos.
to do desportista. (C) Os motoristas, devem saber, que os carros podem ser uma
(E) Eis alguns esportes que a Ciência do Esporte ajuda: judô, extensão de nossa personalidade.
natação e canoagem. (D) A ira de trânsito pode ocasionar, acidentes e; aumentar os
níveis de estresse em alguns motoristas.
4. (BANPARÁ/PA – TÉCNICO BANCÁRIO – ESPP/2012) (E) Os congestionamentos e o número de motoristas na rua,
Assinale a alternativa em que a pontuação está correta. são as principais causas da ira de trânsito.
a) Meu grande amigo Pedro, esteve aqui ontem!
b) Foi solicitado, pelo diretor o comprovante da 8. (ACADEMIA DE POLÍCIA DO ESTADO DE MINAS
transação. c) Maria, você trouxe os documentos? GERAIS – TÉCNICO ASSISTENTE DA POLÍCIA CIVIL - FU-
d) O garoto de óculos leu, em voz alta o poema. MARC/2013) “Paciência, minha filha, este é apenas um ciclo eco-
e) Na noite de ontem o vigia percebeu, uma movimentação nômico e a nossa geração foi escolhida para este vexame, você aí
estranha. desse tamanho pedindo esmola e eu aqui sem nada para te dizer,
agora afasta que abriu o sinal.”
5. (Papiloscopista Policial – Vunesp – 2013 – adap.). Assinale No período acima, as vírgulas foram empregadas em “Paciên-
a alternativa em que a frase mantém-se correta após o acréscimo cia, minha filha, este é [...]”, para separar
das vírgulas. (A) aposto.
(A) Se a criança se perder, quem encontrá-la, verá na pulseira (B) vocativo.
instruções para que envie, uma mensagem eletrônica ao grupo ou (C) adjunto adverbial.
acione o código na internet.
(D) expressão explicativa.
(B) Um geolocalizador também, avisará, os pais de onde o
có-digo foi acionado.
9. (INFRAERO – CADASTRO RESERVA
(C) Assim que o código é digitado, familiares cadastrados, re-
OPERACIONAL PROFISSIONAL DE TRÁFEGO AÉREO –
cebem automaticamente, uma mensagem dizendo que a criança foi
FCC/2011) O período corretamente pontuado é:
encontrada.
(A) Os filmes que, mostram a luta pela sobrevivência em con-
(D) De fabricação chinesa, a nova pulseirinha, chega primeiro
às, areias do Guarujá. dições hostis nem sempre conseguem agradar, aos espectadores.
(B) Várias experiências de prisioneiros, semelhantes entre si,
(E) O sistema permite, ainda, cadastrar o nome e o telefone de
podem ser reunidas e fazer parte de uma mesma história ficcional.
quem a encontrou e informar um ponto de referência (C) A história de heroísmo e de determinação que nem sempre,
6. (DNIT – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – ESAF/2013) é convincente, se passa em um cenário marcado, pelo frio.
Para que o fragmento abaixo seja coerente e gramaticalmente cor- (D) Caminhar por um extenso território gelado, é correr riscos
reto, é necessário inserir sinais de pontuação. Assinale a posição iminentes que comprometem, a sobrevivência.
em que não deve ser usado o sinal de ponto, e sim a vírgula, para (E) Para os fugitivos que se propunham, a alcançar a
que sejam respeitadas as regras gramaticais. Desconsidere os ajus- liberdade, nada poderia parecer, realmente intransponível.
tes nas letras iniciais minúsculas.
O projeto Escola de Bicicleta está distribuindo bicicletas de GABARITO
bambu para 4600 alunos da rede pública de São Paulo(A) o pro- 01. C 02. C 03. D 04. C 05. E
grama desenvolve ainda oficinas e cursos para as crianças utili- 06. D 07. A 08. B 09.B
zarem a bicicleta de forma segura e correta(B) os alunos ajudam
a traçar ciclorrotas e participam de atividades sobre cidadania e RESOLUÇÃO
reciclagem(C) as escolas participantes se tornam também cen-tros
de descarte de garrafas PET(D) destinadas depois para reci- 1- Assinalei com um (X) as pontuações inadequadas
clagem(E) o programa possibilitará o retorno das bicicletas pela (A) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embo-ra,
saúde das crianças e transformação das comunidades em lugares (X) experimentasse , (X) a sensação de violar uma intimidade,
melhores para se viver. procurou a esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que
(Adaptado de Vida Simples, abril de 2012, edição 117) pudesse ajudar a revelar quem era a sua dona.

34
PORTUGUÊS
(B) Diante , (X) da testemunha o homem abriu a bolsa e, em- a traçar ciclorrotas e participam de atividades sobre cidadania e
bora experimentasse a sensação , (X) de violar uma intimidade, reciclagem(C). As escolas participantes se tornam também centros
procurou a esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que de descarte de garrafas PET(D), destinadas depois para recicla-
pudesse ajudar a revelar quem era a sua dona. gem(E). O programa possibilitará o retorno das bicicletas pela
(D) Diante da testemunha, o homem , (X) abriu a bolsa e, em- saúde das crianças e transformação das comunidades em lugares
bora experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procu- melhores para se viver.
rou a esmo entre as coisinhas, tentando , (X) encontrar algo que A vírgula deve ser colocada após a palavra “PET”, posição (D),
pudesse ajudar a revelar quem era a sua dona. pois antecipa um termo explicativo.
(E) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora ,
(X) experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procu- 7-) Fiz as indicações (X) das pontuações inadequadas:
rou a esmo entre as coisinhas, tentando , (X) encontrar algo que (A) Segundo alguns psicólogos, é possível, em certas circuns-
pudesse ajudar a revelar quem era a sua dona. tâncias, ceder à frustração para que a raiva seja aliviada.
(B) Dirigir pode aumentar, (X) nosso nível de estresse, porque
2-) A oração restringe o grupo que participará da campanha você está junto; (X) com os outros motoristas cujos comportamen-
(apenas os que não têm o nome do pai na certidão de nascimen-to). tos, (X) são desconhecidos.
Se colocarmos uma vírgula, a oração tornar-se-á “explicativa”, (C) Os motoristas, (X) devem saber, (X) que os carros podem
generalizando a informação, o que dará a entender que TODAS as ser uma extensão de nossa personalidade.
pessoa não têm o nome do pai na certidão. (D) A ira de trânsito pode ocasionar, (X) acidentes e; (X) au-
RESPOSTA: “CERTO”. mentar os níveis de estresse em alguns motoristas.
(E) Os congestionamentos e o número de motoristas na rua,
3-) (X) são as principais causas da ira de trânsito.
(A) Quando o técnico chegou, a equipe começou o treino. =
mantê-la (termo deslocado) 8-) Paciência, minha filha, este é... = é o termo usado para se
(B) Antônio, quer saber as últimas novidades dos esportes? = dirigir ao interlocutor, ou seja, é um vocativo.
mantê-la (vocativo)
(C) As Olimpíadas de 2016 ocorrerão no Rio, que se prepara 9-) Fiz as marcações (X) onde as pontuações estão inadequa-
para o evento. das ou faltantes:
= mantê-la (explicação) (A) Os filmes que,(X) mostram a luta pela sobrevivência em
(D) Atualmente, várias áreas contribuem para o aprimoramen- condições hostis nem sempre conseguem agradar, (X) aos espec-
to do desportista. tadores.
= pode retirá-la (advérbio de tempo) (B) Várias experiências de prisioneiros, semelhantes entre si,
(E) Eis alguns esportes que a Ciência do Esporte ajuda: judô, podem ser reunidas e fazer parte de uma mesma história ficcional.
natação e canoagem. (C) A história de heroísmo e de determinação (X) que nem
= mantê-la (enumeração) sempre, (X) é convincente, se passa em um cenário marcado, (X)
4-) Assinalei com (X) a pontuação inadequada ou faltante: a) pelo frio.
Meu grande amigo Pedro, (X) esteve aqui ontem! (D) Caminhar por um extenso território gelado, (X) é correr
b) Foi solicitado, (X) pelo diretor o comprovante da riscos iminentes (X) que comprometem, (X) a sobrevivência.
transação. c) Maria, você trouxe os documentos? (E) Para os fugitivos que se propunham, (X) a alcançar a
d) O garoto de óculos leu, em voz alta (X) o poema. liber-dade, nada poderia parecer, (X) realmente intransponível.
e) Na noite de ontem (X) o vigia percebeu, (X) uma
movimen-tação estranha. CONCORDÂNCIA

5-) Assinalei com (X) onde estão as pontuações inadequadas Ao falarmos sobre a concordância verbal, estamos nos re-
(A) Se a criança se perder, quem encontrá-la , (X) verá na ferindo à relação de dependência estabelecida entre um termo e
pulseira instruções para que envie , (X) uma mensagem eletrônica outro mediante um contexto oracional. Desta feita, os agentes
ao grupo ou acione o código na internet. principais desse processo são representados pelo sujeito, que no
(B) Um geolocalizador também , (X) avisará , (X) os pais de caso funciona como subordinante; e o verbo, o qual desempenha a
onde o código foi acionado. função de subordinado.
(C) Assim que o código é digitado, familiares cadastrados , Dessa forma, temos que a concordância verbal caracteriza-se
(X) recebem ( , ) automaticamente, uma mensagem dizendo que pela adaptação do verbo, tendo em vista os quesitos “número e
a criança foi encontrada. pessoa” em relação ao sujeito. Exemplificando, temos: O aluno
(D) De fabricação chinesa, a nova pulseirinha , (X) chega pri- chegou atrasado. Temos que o verbo apresenta-se na terceira pes-
meiro às , (X) areias do Guarujá. soa do singular, pois faz referência a um sujeito, assim também
expresso (ele). Como poderíamos também dizer: os alunos chega-
6-) ram atrasados.
O projeto Escola de Bicicleta está distribuindo bicicletas de
bambu para 4600 alunos da rede pública de São Paulo(A). O pro-
grama desenvolve ainda oficinas e cursos para as crianças utili-zarem
a bicicleta de forma segura e correta(B). Os alunos ajudam

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PORTUGUÊS
Casos referentes a sujeito simples 9) Em casos nos quais o sujeito aparece realçado pela palavra
“que”, o verbo deverá concordar com o termo que antecede essa
1) Em caso de sujeito simples, o verbo concorda com o palavra: Nesta empresa somos nós que tomamos as decisões. / Em
núcleo em número e pessoa: O aluno chegou atrasado. casa sou eu que decido tudo.
2) Nos casos referentes a sujeito representado por substantivo 10) No caso de o sujeito aparecer representado por expressões
coletivo, o verbo permanece na terceira pessoa do singular: A que indicam porcentagens, o verbo concordará com o numeral ou
multidão, apavorada, saiu aos gritos. com o substantivo a que se refere essa porcentagem: 50% dos
Observação: funcionários aprovaram a decisão da diretoria. / 50% do eleitora-
- No caso de o coletivo aparecer seguido de adjunto adnominal do apoiou a decisão.
no plural, o verbo permanecerá no singular ou poderá ir para o
plural: Observações:
Uma multidão de pessoas saiu aos gritos. - Caso o verbo apareça anteposto à expressão de porcentagem,
Uma multidão de pessoas saíram aos gritos. esse deverá concordar com o numeral: Aprovaram a decisão da
diretoria 50% dos funcionários.
3) Quando o sujeito é representado por expressões partitivas, - Em casos relativos a 1%, o verbo permanecerá no singular:
representadas por “a maioria de, a maior parte de, a metade de, 1% dos funcionários não aprovou a decisão da diretoria.
uma porção de” entre outras, o verbo tanto pode concordar com o - Em casos em que o numeral estiver acompanhado de deter-
núcleo dessas expressões quanto com o substantivo que a segue: A minantes no plural, o verbo permanecerá no plural: Os 50% dos
maioria dos alunos resolveu ficar. A maioria dos alunos resol-
funcionários apoiaram a decisão da diretoria.
veram ficar.
11) Nos casos em que o sujeito estiver representado por pro-
4) No caso de o sujeito ser representado por expressões aproxi-
nomes de tratamento, o verbo deverá ser empregado na terceira
mativas, representadas por “cerca de, perto de”, o verbo concorda
com o substantivo determinado por elas: Cerca de mil candidatos pessoa do singular ou do plural: Vossas Majestades gostaram das
se inscreveram no concurso. homenagens. Vossa Majestade agradeceu o convite.

5) Em casos em que o sujeito é representado pela expressão 12) Casos relativos a sujeito representado por substantivo pró-
“mais de um”, o verbo permanece no singular: Mais de um candi- prio no plural se encontram relacionados a alguns aspectos que os
dato se inscreveu no concurso de piadas. determinam:
Observação: - Diante de nomes de obras no plural, seguidos do verbo ser,
- No caso da referida expressão aparecer repetida ou associada este permanece no singular, contanto que o predicativo também
a um verbo que exprime reciprocidade, o verbo, necessariamente, esteja no singular: Memórias póstumas de Brás Cubas é uma cria-
deverá permanecer no plural: ção de Machado de Assis.
Mais de um aluno, mais de um professor contribuíram na - Nos casos de artigo expresso no plural, o verbo também per-
cam-panha de doação de alimentos. manece no plural: Os Estados Unidos são uma potência mundial.
Mais de um formando se abraçaram durante as solenidades - Casos em que o artigo figura no singular ou em que ele nem
de formatura. aparece, o verbo permanece no singular: Estados Unidos é uma
potência mundial.
6) Quando o sujeito for composto da expressão “um dos que”,
o verbo permanecerá no plural: Esse jogador foi um dos que atua- Casos referentes a sujeito composto
ram na Copa América.
1) Nos casos relativos a sujeito composto de pessoas gramati-
7) Em casos relativos à concordância com locuções pronomi- cais diferentes, o verbo deverá ir para o plural, estando relacionado
nais, representadas por “algum de nós, qual de vós, quais de vós, a dois pressupostos básicos:
alguns de nós”, entre outras, faz-se necessário nos atermos a duas - Quando houver a 1ª pessoa, esta prevalecerá sobre as demais:
questões básicas: Eu, tu e ele faremos um lindo passeio.
- No caso de o primeiro pronome estar expresso no plural, o - Quando houver a 2ª pessoa, o verbo poderá flexionar na 2ª
verbo poderá com ele concordar, como poderá também concordar ou na 3ª pessoa: Tu e ele sois primos. Tu e ele são primos.
com o pronome pessoal: Alguns de nós o receberemos. / Alguns de
nós o receberão. 2) Nos casos em que o sujeito composto aparecer anteposto ao
- Quando o primeiro pronome da locução estiver expresso no verbo, este permanecerá no plural: O pai e seus dois filhos compa-
singular, o verbo permanecerá, também, no singular: Algum de nós receram ao evento.
o receberá.
3) No caso em que o sujeito aparecer posposto ao verbo, este
8) No caso de o sujeito aparecer representado pelo pronome poderá concordar com o núcleo mais próximo ou permanecer no
“quem”, o verbo permanecerá na terceira pessoa do singular ou plural: Compareceram ao evento o pai e seus dois filhos. Compa-
poderá concordar com o antecedente desse pronome: Fomos nós receu ao evento o pai e seus dois filhos.
quem contou toda a verdade para ela. / Fomos nós quem contamos
toda a verdade para ela.

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PORTUGUÊS
4) Nos casos relacionados a sujeito simples, porém com mais de e) Anexo, incluso, próprio, obrigado
um núcleo, o verbo deverá permanecer no singular: Meu esposo e - Concordam com o substantivo a que se referem.
grande companheiro merece toda a felicidade do mundo. As cartas estão anexas. A bebida
está inclusa. Precisamos de
5) Casos relativos a sujeito composto de palavras sinônimas ou nomes próprios. Obrigado, disse
ordenado por elementos em gradação, o verbo poderá permanecer no o rapaz.
singular ou ir para o plural: Minha vitória, minha conquista, mi-nha
premiação são frutos de meu esforço. / Minha vitória, minha f) Um(a) e outro(a), num(a) e noutro(a)
conquista, minha premiação é fruto de meu esforço. - Após essas expressões o substantivo fica sempre no singular
e o adjetivo no plural.
Renato advogou um e outro caso fáceis. Pusemos
Concordância nominal é o ajuste que fazemos aos demais ter- numa e noutra bandeja rasas o peixe.
mos da oração para que concordem em gênero e número com o
substantivo. Teremos que alterar, portanto, o artigo, o adjetivo, o g) É bom, é necessário, é proibido
numeral e o pronome. Além disso, temos também o verbo, que se - Essas expressões não variam se o sujeito não vier precedido
flexionará à sua maneira. de artigo ou outro determinante.
Regra geral: O artigo, o adjetivo, o numeral e o pronome con- Canja é bom. / A canja é boa.
cordam em gênero e número com o substantivo. É necessário sua presença. / É necessária a sua presença.
- A pequena criança é uma gracinha. É proibido entrada de pessoas não autorizadas. / A entrada é
- O garoto que encontrei era muito gentil e simpático. proibida.

Casos especiais: Veremos alguns casos que fogem à regra ge- h) Muito, pouco, caro
ral mostrada acima. - Como adjetivos: seguem a regra geral.
a) Um adjetivo após vários substantivos Comi muitas frutas durante a viagem.
- Substantivos de mesmo gênero: adjetivo vai para o plural ou Pouco arroz é suficiente para mim.
concorda com o substantivo mais próximo. Os sapatos estavam caros.
- Irmão e primo recém-chegado estiveram aqui.
- Irmão e primo recém-chegados estiveram aqui. - Como advérbios: são invariáveis.
Comi muito durante a viagem.
- Substantivos de gêneros diferentes: vai para o plural Pouco lutei, por isso perdi a
masculi-no ou concorda com o substantivo mais próximo. batalha. Comprei caro os sapatos.
- Ela tem pai e mãe louros. i) Mesmo, bastante
- Ela tem pai e mãe loura. - Como advérbios: invariáveis
- Adjetivo funciona como predicativo: vai obrigatoriamente Preciso mesmo da sua ajuda.
para o plural. Fiquei bastante contente com a proposta de emprego.
- O homem e o menino estavam perdidos.
- O homem e sua esposa estiveram hospedados aqui. - Como pronomes: seguem a regra geral.
Seus argumentos foram bastantes para me convencer.
b) Um adjetivo anteposto a vários substantivos Os mesmos argumentos que eu usei, você copiou.
- Adjetivo anteposto normalmente concorda com o mais pró-
ximo. j) Menos, alerta
Comi delicioso almoço e sobremesa. - Em todas as ocasiões são invariáveis.
Provei deliciosa fruta e suco. Preciso de menos comida para perder peso.
Estamos alerta para com suas chamadas.
- Adjetivo anteposto funcionando como predicativo: concorda
com o mais próximo ou vai para o plural. k) Tal Qual
Estavam feridos o pai e os filhos. - “Tal” concorda com o antecedente, “qual” concorda com o
Estava ferido o pai e os filhos. consequente.
As garotas são vaidosas tais qual a tia.
c) Um substantivo e mais de um adjetivo Os pais vieram fantasiados tais quais os filhos.
- antecede todos os adjetivos com um artigo. Falava
fluentemente a língua inglesa e a espanhola. l) Possível
- Quando vem acompanhado de “mais”, “menos”, “melhor”
- coloca o substantivo no plural. ou “pior”, acompanha o artigo que precede as expressões.
Falava fluentemente as línguas inglesa e espanhola. A mais possível das alternativas é a que você expôs.
Os melhores cargos possíveis estão neste setor da empresa.
d) Pronomes de tratamento As piores situações possíveis são encontradas nas favelas da
- sempre concordam com a 3ª pessoa. cidade.
Vossa Santidade esteve no Brasil.

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PORTUGUÊS
m) Meio 3. (Escrevente TJ-SP – Vunesp/2012) Leia o texto para res-
- Como advérbio: invariável. ponder à questão.
Estou meio (um pouco) insegura. _________dúvidas sobre o crescimento verde. Primeiro, não
está claro até onde pode realmente chegar uma política baseada
- Como numeral: segue a regra geral. em melhorar a eficiência sem preços adequados para o carbo-no,
Comi meia (metade) laranja pela manhã. a água e (na maioria dos países pobres) a terra. É verdade que
mesmo que a ameaça dos preços do carbono e da água em si
n) Só ___________diferença, as companhias não podem suportar ter de
- apenas, somente (advérbio): invariável. pagar, de repente, digamos, 40 dólares por tonelada de carbono, sem
Só consegui comprar uma passagem. qualquer preparação. Portanto, elas começam a usar preços--
sombra. Ainda assim, ninguém encontrou até agora uma maneira de
- sozinho (adjetivo): variável. quantificar adequadamente os insumos básicos. E sem eles a maioria
Estiveram sós durante horas. das políticas de crescimento verde sempre ___________
a segunda opção.
Fonte: (Carta Capital, 27.06.2012.
http://www.brasilescola.com/gramatica/concordancia-verbal. Adaptado)
htm
De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, as la-
cunas do texto devem ser preenchidas, correta e respectivamente,
Questões sobre Concordância Nominal e Verbal
com:
(A) Restam… faça… será
01.(TRE/AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2010) A con-
(B) Resta… faz… será
cordância verbal e nominal está inteiramente correta na frase:
(C) Restam… faz... serão
(A) A sociedade deve reconhecer os princípios e valores que
(D) Restam… façam… serão
determinam as escolhas dos governantes, para conferir legitimida-
(E) Resta… fazem… será
de a suas decisões.
(B) A confiança dos cidadãos em seus dirigentes devem ser 04 (Escrevente TJ SP – Vunesp/2012) Assinale a alternativa
embasados na percepção dos valores e princípios que regem a prá- em que o trecho
tica política. – Ainda assim, ninguém encontrou até agora uma maneira de
(C) Eleições livres e diretas é garantia de um verdadeiro regi- quantificar adequadamente os insumos básicos.– está corretamen-te
me democrático, em que se respeita tanto as liberdades individuais reescrito, de acordo com a norma-padrão da língua portuguesa.
quanto as coletivas. (A) Ainda assim, temos certeza que ninguém encontrou até agora
(D) As instituições fundamentais de um regime democrático uma maneira adequada de se quantificar os insumos básicos.
não pode estar subordinado às ordens indiscriminadas de um único (B) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até
poder central. agora uma maneira adequada de os insumos básicos ser quantifi-
(E) O interesse de todos os cidadãos estão voltados para o cados.
momento eleitoral, que expõem as diferentes opiniões existentes (C) Ainda assim, temos certeza que ninguém encontrou até
na sociedade. agora uma maneira adequada para que os insumos básicos sejam
quantificado.
2. (Agente Técnico – FCC – 2013). As normas de concordân- (D) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até
cia verbal e nominal estão inteiramente respeitadas em: agora uma maneira adequada para que os insumos básicos seja
A) Alguns dos aspectos mais desejáveis de uma boa leitura, quantificado.
que satisfaça aos leitores e seja veículo de aprimoramento intelec- (E) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até
tual, estão na capacidade de criação do autor, mediante palavras, agora uma maneira adequada de se quantificarem os insumos bá-
sua matéria-prima. sicos.
B) Obras que se considera clássicas na literatura sempre de-
lineia novos caminhos, pois é capaz de encantar o leitor ao ultra- 5. (FUNDAÇÃO CASA/SP - AGENTE ADMINISTRATI-
passar os limites da época em que vivem seus autores, gênios no VO - VUNESP/2011 - ADAPTADA) Observe as frases do texto:
domínio das palavras, sua matéria-prima. I. Cerca de 75 por cento dos países obtêm nota negativa...
C) A palavra, matéria-prima de poetas e romancistas, lhe per- II. ... à Venezuela, de Chávez, que obtém a pior classifica-
mitem criar todo um mundo de ficção, em que personagens se ção do continente americano (2,0)...
transformam em seres vivos a acompanhar os leitores, numa ver- Assim como ocorre com o verbo “obter” nas frases I e II, a
dadeira interação com a realidade. concordância segue as mesmas regras, na ordem dos exemplos,
D) As possibilidades de comunicação entre autor e leitor so- em:
mente se realiza plenamente caso haja afinidade de ideias entre (A) Todas as pessoas têm boas perspectivas para o próximo
ambos, o que permite, ao mesmo tempo, o crescimento intelectual ano. Será que alguém tem opinião diferente da maioria?
deste último e o prazer da leitura. (B) Vem muita gente prestigiar as nossas festas juninas. Vêm
E) Consta, na literatura mundial, obras-primas que constitui pessoas de muito longe para brincar de quadrilha.
leitura obrigatória e se tornam referências por seu conteúdo que (C) Pouca gente quis voltar mais cedo para casa. Quase todos
ultrapassa os limites de tempo e de época. quiseram ficar até o nascer do sol na praia.

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PORTUGUÊS
(D) Existem pessoas bem intencionadas por aqui, mas (C) O consumo mundial não dá sinal de trégua... (O consumo
também existem umas que não merecem nossa atenção. mundial de barris de petróleo)
(E) Aqueles que não atrapalham muito ajudam. (D) Um aumento elevado no preço do óleo reflete-se no custo
da matéria-prima... (Constantes aumentos)
6. (TRF - 5ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - FCC/2012) (E) o tema das mudanças climáticas pressiona os esforços
Os folheteiros vivem em feiras, mercados, praças e locais de pe- mundiais... (a preocupação em torno das mudanças climáticas)
regrinação.
O verbo da frase acima NÃO pode ser mantido no plural caso 10. (CETESB/SP – ESCRITURÁRIO - VUNESP/2013) Assi-
o segmento grifado seja substituído por: nale a alternativa em que a concordância das formas verbais desta-
(A) Há folheteiros que cadas está de acordo com a norma-padrão da língua.
(B) A maior parte dos folheteiros (A) Fazem dez anos que deixei de trabalhar em higienização
(C) O folheteiro e sua família subterrânea.
(D) O grosso dos folheteiros (B) Ainda existe muitas pessoas que discriminam os trabalha-
(E) Cada um dos folheteiros dores da área de limpeza.
(C) No trabalho em meio a tanta sujeira, havia altos riscos de
7. (TRF - 5ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - FCC/2012) se contrair alguma doença.
Todas as formas verbais estão corretamente flexionadas em: (D) Eu passava a manhã no subterrâneo: quando era sete da
(A) Enquanto não se disporem a considerar o cordel sem pre- manhã, eu já estava fazendo meu serviço.
conceitos, as pessoas não serão capazes de fruir dessas criações (E) As companhias de limpeza, apenas recentemente, começou
poéticas tão originais. a adotar medidas mais rigorosas para a proteção de seus funcio-
(B) Ainda que nem sempre detenha o mesmo status atribuído à nários.
arte erudita, o cordel vem sendo estudado hoje nas melhores uni-
versidades do país. GABARITO
(C) Rodolfo Coelho Cavalcante deve ter percebido que a situa-
ção dos cordelistas não mudaria a não ser que eles mesmos requi- 01. A 02. A 03. A 04. E 05. A
zessem o respeito que faziam por merecer. 06. E 07. |B 08. D 09. D 10. C
(D) Se não proveem do preconceito, a desvalorização e a pouca
visibilidade dessa arte popular tão rica só pode ser resultado do
puro e simples desconhecimento. RESOLUÇÃO
(E) Rodolfo Coelho Cavalcante entreveu que os problemas dos
cordelistas estavam diretamente ligados à falta de representativi- 1-) Fiz os acertos entre parênteses:
dade. (A) A sociedade deve reconhecer os princípios e valores que
determinam as escolhas dos governantes, para conferir legitimida-
8. (TRF - 4ª REGIÃO – TÉCNICO JUDICIÁRIO – de a suas decisões.
FCC/2010) Observam-se corretamente as regras de concordância (B) A confiança dos cidadãos em seus dirigentes devem (deve)
verbal e nominal em: ser embasados (embasada) na percepção dos valores e princípios
a) O desenraizamento, não só entre intelectuais como entre os que regem a prática política.
mais diversos tipos de pessoas, das mais sofisticadas às mais hu- (C) Eleições livres e diretas é (são) garantia de um verdadeiro
mildes, são cada vez mais comuns nos dias de hoje. regime democrático, em que se respeita (respeitam) tanto as liber-
b) A importância de intelectuais como Edward Said e Tony dades individuais quanto as coletivas.
Judt, que não se furtaram ao debate sobre questões polêmicas de (D) As instituições fundamentais de um regime democrático
seu tempo, não estão apenas nos livros que escreveram. não pode (podem) estar subordinado (subordinadas) às ordens in-
c) Nada indica que o conflito no Oriente Médio entre árabes e discriminadas de um único poder central.
judeus, responsável por tantas mortes e tanto sofrimento, estejam (E) O interesse de todos os cidadãos estão (está) voltados (vol-
próximos de serem resolvidos ou pelo menos de terem alguma tré- tado) para o momento eleitoral, que expõem (expõe) as diferentes
gua. opiniões existentes na sociedade.
d) Intelectuais que têm compromisso apenas com a verdade, 2-)
ainda que conscientes de que esta é até certo ponto relativa, costu- A) Alguns dos aspectos mais desejáveis de uma boa leitura,
mam encontrar muito mais detratores que admiradores. que satisfaça aos leitores e seja veículo de aprimoramento intelec-
e) No final do século XX já não se via muitos intelectuais e tual, estão na capacidade de criação do autor, mediante palavras,
escritores como Edward Said, que não apenas era notícia pelos sua matéria-prima. = correta
livros que publicavam como pelas posições que corajosamente as- B) Obras que se consideram clássicas na literatura sempre de-
sumiam. lineiam novos caminhos, pois são capazes de encantar o leitor ao
ultrapassarem os limites da época em que vivem seus autores, gê-
9. (TRF - 2ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - FCC/2012) O nios no domínio das palavras, sua matéria-prima.
verbo que, dadas as alterações entre parênteses propostas para o C) A palavra, matéria-prima de poetas e romancistas, lhes per-
segmento grifado, deverá ser colocado no plural, está em: mite criar todo um mundo de ficção, em que personagens se trans-
(A) Não há dúvida de que o estilo de vida... (dúvidas) formam em seres vivos a acompanhar os leitores, numa verdadeira
(B) O que não se sabe... (ninguém nas regiões do planeta) interação com a realidade.

39
PORTUGUÊS
D) As possibilidades de comunicação entre autor e leitor so- (C) Rodolfo Coelho Cavalcante deve ter percebido que a situa-
mente se realizam plenamente caso haja afinidade de ideias entre ção dos cordelistas não mudaria a não ser que eles mesmos requi-
ambos, o que permite, ao mesmo tempo, o crescimento intelectual zessem (requeressem) o respeito que faziam por merecer.
deste último e o prazer da leitura. (D) Se não proveem (provêm) do preconceito, a desvaloriza-
E) Constam, na literatura mundial, obras-primas que consti- ção e a pouca visibilidade dessa arte popular tão rica só pode (po-
tuem leitura obrigatória e se tornam referências por seu conteúdo dem) ser resultado do puro e simples desconhecimento.
que ultrapassa os limites de tempo e de época. (E) Rodolfo Coelho Cavalcante entreveu (entreviu) que os
problemas dos cordelistas estavam diretamente ligados à falta de
3-) _Restam___dúvidas representatividade.
mesmo que a ameaça dos preços do carbono e da água em si
__faça __diferença 8-) Fiz as correções entre parênteses:
a maioria das políticas de crescimento verde sempre ____ a) O desenraizamento, não só entre intelectuais como entre os
será_____ a segunda opção. mais diversos tipos de pessoas, das mais sofisticadas às mais hu-
Em “a maioria de”, a concordância pode ser dupla: tanto no mildes, são (é) cada vez mais comuns (comum) nos dias de hoje.
plural quanto no singular. Nas alternativas não há “restam/faça/ b) A importância de intelectuais como Edward Said e Tony
serão”, portanto a A é que apresenta as opções adequadas. Judt, que não se furtaram ao debate sobre questões polêmicas de
seu tempo, não estão (está) apenas nos livros que escreveram.
4-) c) Nada indica que o conflito no Oriente Médio entre árabes e
(A) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até judeus, responsável por tantas mortes e tanto sofrimento, estejam
agora uma maneira adequada de se quantificar os insumos básicos. (esteja) próximos (próximo) de serem (ser) resolvidos (resolvido)
(B) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até ou pelo menos de terem (ter) alguma trégua.
agora uma maneira adequada de os insumos básicos serem quan- d) Intelectuais que têm compromisso apenas com a verdade,
tificados. ainda que conscientes de que esta é até certo ponto relativa, costu-
(C) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até mam encontrar muito mais detratores que admiradores.
agora uma maneira adequada para que os insumos básicos sejam e) No final do século XX já não se via (viam) muitos intelec-
quantificados. tuais e escritores como Edward Said, que não apenas era (eram)
(D) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até notícia pelos livros que publicavam como pelas posições que co-
agora uma maneira adequada para que os insumos básicos sejam rajosamente assumiam.
quantificados.
(E) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou até 9-)
agora uma maneira adequada de se quantificarem os insumos bá- (A) Não há dúvida de que o estilo de vida... (dúvidas) = “há”
sicos. = correta permaneceria no singular
(B) O que não se sabe ... (ninguém nas regiões do planeta) =
5-) Em I, obtêm está no plural; em II, no singular. Vamos aos “sabe” permaneceria no singular
itens: (C) O consumo mundial não dá sinal de trégua ... (O consumo
(A) Todas as pessoas têm (plural) ... Será que alguém tem (sin- mundial de barris de petróleo) = “dá” permaneceria no singular
gular) (D) Um aumento elevado no preço do óleo reflete-se no custo
(B) Vem (singular) muita gente... Vêm pessoas (plural) da matéria-prima... Constantes aumentos) = “reflete” passaria para
(C) Pouca gente quis (singular)... Quase todos quiseram (plu- “refletem-se”
ral) (E) o tema das mudanças climáticas pressiona os esforços
(D) Existem (plural) pessoas ... mas também existem umas mundiais... (a preocupação em torno das mudanças climáticas) =
(plural) “pressiona” permaneceria no singular
(E) Aqueles que não atrapalham muito ajudam (ambas as for-
mas estão no plural) 10-) Fiz as correções:
(A) Fazem dez anos = faz (sentido de tempo = singular)
6-) (B) Ainda existe muitas pessoas = existem
A - Há folheteiros que vivem (concorda com o objeto “folhe- (C) No trabalho em meio a tanta sujeira, havia altos riscos
terios”) (D) Eu passava a manhã no subterrâneo: quando era sete da
B – A maior parte dos folheteiros vivem/vive (opcional) manhã = eram
C – O folheteiro e sua família vivem (sujeito composto) (E) As companhias de limpeza, apenas recentemente, começou
D – O grosso dos folheteiros vive/vivem (opcional) = começaram
E – Cada um dos folheteiros vive = somente no singular
7-) Coloquei entre parênteses a forma verbal correta: REGÊNCIA
(A) Enquanto não se disporem (dispuserem) a considerar o
cordel sem preconceitos, as pessoas não serão capazes de fruir Dá-se o nome de regência à relação de subordinação que ocor-
dessas criações poéticas tão originais. re entre um verbo (ou um nome) e seus complementos. Ocupa-se
(B) Ainda que nem sempre detenha o mesmo status atribuído à em estabelecer relações entre as palavras, criando frases não am-
arte erudita, o cordel vem sendo estudado hoje nas melhores uni- bíguas, que expressem efetivamente o sentido desejado, que sejam
versidades do país. corretas e claras.

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PORTUGUÊS
Regência Verbal Verbos Transitivos Diretos

Termo Regente: VERBO Os verbos transitivos diretos são complementados por objetos
diretos. Isso significa que não exigem preposição para o estabele-
A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre os cimento da relação de regência. Ao empregar esses verbos, deve-mos
verbos e os termos que os complementam (objetos diretos e obje- lembrar que os pronomes oblíquos o, a, os, as atuam como objetos
tos indiretos) ou caracterizam (adjuntos adverbiais). diretos. Esses pronomes podem assumir as formas lo, los, la, las (após
O estudo da regência verbal permite-nos ampliar nossa capa- formas verbais terminadas em -r, -s ou -z) ou no, na, nos, nas (após
cidade expressiva, pois oferece oportunidade de conhecermos as formas verbais terminadas em sons nasais), enquan-to lhe e lhes são,
diversas significações que um verbo pode assumir com a simples quando complementos verbais, objetos indiretos.
mudança ou retirada de uma preposição. Observe: São verbos transitivos diretos, dentre outros: abandonar, aben-
A mãe agrada o filho. -> agradar significa acariciar, contentar. A çoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar, admirar, adorar,
mãe agrada ao filho. -> agradar significa “causar agrado ou alegrar, ameaçar, amolar, amparar, auxiliar, castigar, condenar,
prazer”, satisfazer. conhecer, conservar,convidar, defender, eleger, estimar,
Logo, conclui-se que “agradar alguém” é diferente de “agradar humilhar, namorar, ouvir, prejudicar, prezar, proteger, respeitar,
a alguém”. socorrer, su-portar, ver, visitar.
Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente como o
Saiba que: verbo amar:
O conhecimento do uso adequado das preposições é um dos Amo aquele rapaz. / Amo-o.
aspectos fundamentais do estudo da regência verbal (e também Amo aquela moça. / Amo-a.
nominal). As preposições são capazes de modificar completamente o Amam aquele rapaz. / Amam-no.
sentido do que se está sendo dito. Veja os exemplos: Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la.

Cheguei ao metrô. Obs.: os pronomes lhe, lhes só acompanham esses verbos para
Cheguei no metrô. indicar posse (caso em que atuam como adjuntos adnominais).
Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto)
No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no segundo Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua carreira)
caso, é o meio de transporte por mim utilizado. A oração “Cheguei Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau humor)
no metrô”, popularmente usada a fim de indicar o lugar a que se
vai, possui, no padrão culto da língua, sentido diferente. Aliás, é Verbos Transitivos Indiretos
muito comum existirem divergências entre a regência coloquial,
cotidiana de alguns verbos, e a regência culta. Os verbos transitivos indiretos são complementados por obje-tos
Para estudar a regência verbal, agruparemos os verbos de acor- indiretos. Isso significa que esses verbos exigem uma preposi-ção para
do com sua transitividade. A transitividade, porém, não é um fato o estabelecimento da relação de regência. Os pronomes pessoais do
absoluto: um mesmo verbo pode atuar de diferentes formas em caso oblíquo de terceira pessoa que podem atuar como objetos
frases distintas. indiretos são o “lhe”, o “lhes”, para substituir pessoas. Não se utilizam
os pronomes o, os, a, as como complementos de verbos transitivos
Verbos Intransitivos indiretos. Com os objetos indiretos que não represen-tam pessoas,
usam-se pronomes oblíquos tônicos de terceira pes-soa (ele, ela) em
Os verbos intransitivos não possuem complemento. É impor- lugar dos pronomes átonos lhe, lhes.
tante, no entanto, destacar alguns detalhes relativos aos adjuntos Os verbos transitivos indiretos são os seguintes:
adverbiais que costumam acompanhá-los. - Consistir - Tem complemento introduzido pela preposição
- Chegar, Ir “em”: A modernidade verdadeira consiste em direitos iguais para
Normalmente vêm acompanhados de adjuntos adverbiais de todos.
lugar. Na língua culta, as preposições usadas para indicar destino
ou direção são: a, para. - Obedecer e Desobedecer - Possuem seus complementos in-
Fui ao teatro. troduzidos pela preposição “a”:
Adjunto Adverbial de Lugar Devemos obedecer aos nossos princípios e
ideais. Eles desobedeceram às leis do trânsito.
Ricardo foi para a Espanha. - Responder - Tem complemento introduzido pela preposição
Adjunto Adverbial de Lugar “a”. Esse verbo pede objeto indireto para indicar “a quem” ou “ao
que” se responde.
- Comparecer Respondi ao meu patrão.
O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido por em ou a. Respondemos às perguntas.
Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o último Respondeu-lhe à altura.
jogo.
Obs.: o verbo responder, apesar de transitivo indireto quando
exprime aquilo a que se responde, admite voz passiva analítica.
Veja:

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PORTUGUÊS
O questionário foi respondido corretamente. Saiba que:
Todas as perguntas foram respondidas satisfatoriamente. - A construção “pedir para”, muito comum na linguagem co-
tidiana, deve ter emprego muito limitado na língua culta. No en-
- Simpatizar e Antipatizar - Possuem seus complementos intro- tanto, é considerada correta quando a palavra licença estiver su-
duzidos pela preposição “com”. bentendida.
Antipatizo com aquela apresentadora. Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em casa.
Simpatizo com os que condenam os políticos que governam Observe que, nesse caso, a preposição “para” introduz uma
para uma minoria privilegiada. oração subordinada adverbial final reduzida de infinitivo (para ir
entregar-lhe os catálogos em casa).
Verbos Transitivos Diretos e Indiretos
- A construção “dizer para”, também muito usada popularmen-
Os verbos transitivos diretos e indiretos são acompanhados de te, é igualmente considerada incorreta.
um objeto direto e um indireto. Merecem destaque, nesse grupo:
Agradecer, Perdoar e Pagar. São verbos que apresentam objeto Preferir
direto relacionado a coisas e objeto indireto relacionado a pessoas. Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto indireto in-
Veja os exemplos: troduzido pela preposição “a”. Por Exemplo:
Agradeço aos ouvintes a audiência. Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais.
Objeto Indireto Objeto Direto Prefiro trem a ônibus.

Paguei o débito ao cobrador. Obs.: na língua culta, o verbo “preferir” deve ser usado sem
Objeto Direto Objeto Indireto termos intensificadores, tais como: muito, antes, mil vezes, um mi-
lhão de vezes, mais. A ênfase já é dada pelo prefixo existente no
- O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito com par- próprio verbo (pre).
ticular cuidado. Observe:
Agradeci o presente. / Agradeci-o. Mudança de Transitividade X Mudança de Significado
Agradeço a você. / Agradeço-lhe.
Perdoei a ofensa. / Perdoei-a. Há verbos que, de acordo com a mudança de transitividade,
Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe. apresentam mudança de significado. O conhecimento das diferen-
Paguei minhas contas. / Paguei-as. tes regências desses verbos é um recurso linguístico muito impor-
Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes. tante, pois além de permitir a correta interpretação de passagens
escritas, oferece possibilidades expressivas a quem fala ou escre-
Informar ve. Dentre os principais, estão:
- Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto
indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa. AGRADAR
Informe os novos preços aos clientes. - Agradar é transitivo direto no sentido de fazer carinhos, aca-
Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os novos pre- riciar.
ços) Sempre agrada o filho quando o revê. / Sempre o agrada quan-
do o revê.
- Na utilização de pronomes como complementos, veja as Cláudia não perde oportunidade de agradar o gato. / Cláudia
construções: não perde oportunidade de agradá-lo.
Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos preços.
Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou sobre - Agradar é transitivo indireto no sentido de causar agrado a,
eles) satisfazer, ser agradável a. Rege complemento introduzido pela
preposição “a”.
Obs.: a mesma regência do verbo informar é usada para os O cantor não agradou aos presentes.
seguintes: avisar, certificar, notificar, cientificar, prevenir. O cantor não lhes agradou.
Comparar
Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite as preposi- ASPIRAR
ções “a” ou “com” para introduzir o complemento indireto. - Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, inspirar (o
Comparei seu comportamento ao (ou com o) de uma criança. ar), inalar: Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o)
Pedir - Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar, ter como
Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente na forma de ambição: Aspirávamos a melhores condições de vida. (Aspiráva-
oração subordinada substantiva) e indireto de pessoa. mos a elas)
Pedi-lhe favores.
Objeto Indireto Objeto Direto Obs.: como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pessoa, mas
coisa, não se usam as formas pronominais átonas “lhe” e “lhes” e sim
Pedi-lhe que se mantivesse em silêncio. as formas tônicas “a ele (s)”, “ a ela (s)”. Veja o exem-plo: Aspiravam
Objeto Indireto Oração Subordinada Substantiva a uma existência melhor. (= Aspiravam a ela)
Objetiva Direta

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PORTUGUÊS
ASSISTIR - Como transitivo direto e indireto, significa comprometer, en-
- Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar, prestar volver: Implicaram aquele jornalista em questões econômicas.
assis-tência a, auxiliar. Por exemplo:
As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos. Obs.: no sentido de antipatizar, ter implicância, é transitivo
As empresas de saúde negam-se a assisti-los. indireto e rege com preposição “com”: Implicava com quem não
trabalhasse arduamente.
- Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, presenciar,
es-tar presente, caber, pertencer. Exemplos: PROCEDER
Assistimos ao documentário. - Proceder é intransitivo no sentido de ser decisivo, ter cabi-
Não assisti às últimas sessões. mento, ter fundamento ou portar-se, comportar-se, agir. Nessa se-
Essa lei assiste ao inquilino. gunda acepção, vem sempre acompanhado de adjunto adverbial de
modo.
Obs.: no sentido de morar, residir, o verbo “assistir” é intran- As afirmações da testemunha procediam, não havia como re-
sitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de lugar introdu- futá-las.
Você procede muito mal.
zido pela preposição “em”: Assistimos numa conturbada cidade.

CHAMAR - Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a preposição”


- Chamar é transitivo direto no sentido de convocar, solicitar de”) e fazer, executar (rege complemento introduzido pela prepo-
a atenção ou a presença de. sição “a”) é transitivo indireto.
O avião procede de Maceió.
Por gentileza, vá chamar sua prima. / Por favor, vá chamá-
Procedeu-se aos exames.
la. Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes. O delegado procederá ao inquérito.
- Chamar no sentido de denominar, apelidar pode apresentar
QUERER
objeto direto e indireto, ao qual se refere predicativo preposicio-
- Querer é transitivo direto no sentido de desejar, ter vontade
nado ou não.
de, cobiçar.
A torcida chamou o jogador mercenário. A
Querem melhor atendimento.
torcida chamou ao jogador mercenário. A
Queremos um país melhor.
torcida chamou o jogador de mercenário. A
torcida chamou ao jogador de mercenário. - Querer é transitivo indireto no sentido de ter afeição,
estimar, amar.
CUSTAR Quero muito aos meus amigos.
- Custar é intransitivo no sentido de ter determinado valor ou Ele quer bem à linda menina.
preço, sendo acompanhado de adjunto adverbial: Frutas e verdu- Despede-se o filho que muito lhe quer.
ras não deveriam custar muito.
VISAR
- No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransitivo ou - Como transitivo direto, apresenta os sentidos de mirar, fazer
transitivo indireto. pontaria e de pôr visto, rubricar.
O homem visou o alvo.
Muito custa viver tão longe da família. O gerente não quis visar o cheque.
Verbo Oração Subordinada Substantiva Subjetiva
Intransitivo Reduzida de Infinitivo - No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como objetivo,
é transitivo indireto e rege a preposição “a”.
Custa-me (a mim) crer que tomou realmente aquela ati- O ensino deve sempre visar ao progresso social.
tude. Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-estar públi-
Objeto Oração Subordinada Substantiva Subjetiva co.
Indireto Reduzida de Infinitivo
ESQUECER – LEMBRAR
Obs.: a Gramática Normativa condena as construções que - Lembrar algo – esquecer algo
atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por pessoa. - Lembrar-se de algo – esquecer-se de algo (pronominal)
Observe:
Custei para entender o problema. No 1º caso, os verbos são transitivos diretos, ou seja, exigem
Forma correta: Custou-me entender o problema. complemento sem preposição: Ele esqueceu o livro.
IMPLICAR No 2º caso, os verbos são pronominais (-se, -me, etc) e exigem
- Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos: complemento com a preposição “de”. São, portanto, transitivos
a) dar a entender, fazer supor, pressupor: Suas atitudes impli- indiretos:
cavam um firme propósito. - Ele se esqueceu do caderno.
b) Ter como consequência, trazer como consequência, acarre- - Eu me esqueci da chave.
tar, provocar: Liberdade de escolha implica amadurecimento po- - Eles se esqueceram da prova.
lítico de um povo. - Nós nos lembramos de tudo o que aconteceu.

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PORTUGUÊS
Há uma construção em que a coisa esquecida ou lembrada passa a funcionar como sujeito e o verbo sofre leve alteração de sentido. É
uma construção muito rara na língua contemporânea, porém, é fácil encontrá-la em textos clássicos tanto brasileiros como portugueses.
Machado de Assis, por exemplo, fez uso dessa construção várias vezes.
- Esqueceu-me a tragédia. (cair no esquecimento)
- Lembrou-me a festa. (vir à lembrança)

O verbo lembrar também pode ser transitivo direto e indireto (lembrar alguma coisa a alguém ou alguém de alguma coisa).
SIMPATIZAR
Transitivo indireto e exige a preposição “com”: Não simpatizei com os jurados.

NAMORAR
É transitivo direto, ou seja, não admite preposição: Maria namora João.

Obs: Não é correto dizer: “Maria namora com João”.

OBEDECER
É transitivo indireto, ou seja, exige complemento com a preposição “a” (obedecer a): Devemos obedecer aos pais.
Obs: embora seja transitivo indireto, esse verbo pode ser usado na voz passiva: A fila não foi obedecida.
VER
É transitivo direto, ou seja, não exige preposição: Ele viu o filme.

Regência Nominal
É o nome da relação existente entre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse nome. Essa relação é sem-pre
intermediada por uma preposição. No estudo da regência nominal, é preciso levar em conta que vários nomes apresentam exatamente o mesmo
regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de um verbo significa, nesses casos, conhecer o regime dos nomes cognatos. Observe o
exemplo: Verbo obedecer e os nomes correspondentes: todos regem complementos introduzidos pela preposição a. Veja:
Obedecer a algo/ a alguém.
Obediente a algo/ a alguém.
Apresentamos a seguir vários nomes acompanhados da preposição ou preposições que os regem. Observe-os atentamente e procure,
sempre que possível, associar esses nomes entre si ou a algum verbo cuja regência você conhece.
Substantivos
Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de
Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por

Adjetivos
Acessível a Diferente de Necessário a
Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
Afável com, para com Equivalente a Paralelo a
Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
Ávido de Generoso com Propício a
Benéfico a Grato a, por Próximo a
Capaz de, para Hábil em Relacionado com
Compatível com Habituado a Relativo a
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
Contíguo a Impróprio para Semelhante a
Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
Desejoso de Natural de Vazio de

Advérbios
Longe de Perto de

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PORTUGUÊS
Obs.: os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são formados: paralela a; paralelamente a;
relativa a; relativamente a.

Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php

Questões sobre Regência Nominal e Verbal

01. (Administrador – FCC – 2013-adap.).


... a que ponto a astronomia facilitou a obra das outras ciências ...
O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que o grifado acima está empregado em:
A) ...astros que ficam tão distantes ...
B) ...que a astronomia é uma das ciências ...
C) ...que nos proporcionou um espírito ...
D) ...cuja importância ninguém ignora ...
E) ...onde seu corpo não passa de um ponto obscuro ...

02.(Agente de Apoio Administrativo – FCC – 2013-adap.).


... pediu ao delegado do bairro que desse um jeito nos filhos do sueco.
O verbo que exige, no contexto, o mesmo tipo de complementos que o grifado acima está empregado em:
A) ...que existe uma coisa chamada exército...
B) ...como se isso aqui fosse casa da sogra?
C) ...compareceu em companhia da mulher à delegacia...
D) Eu ensino o senhor a cumprir a lei, ali no duro...
E) O delegado apenas olhou-a espantado com o atrevimento.
03.(Agente de Defensoria Pública – FCC – 2013-adap.).
... constava simplesmente de uma vareta quebrada em partes desiguais...
O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que o grifado acima está empregado em:
A) Em campos extensos, chegavam em alguns casos a extremos de sutileza.
B) ...eram comumente assinalados a golpes de machado nos troncos mais robustos.
C) Os toscos desenhos e os nomes estropiados desorientam, não raro, quem...
D) Koch-Grünberg viu uma dessas marcas de caminho na serra de Tunuí...
E) ...em que tão bem se revelam suas afinidades com o gentio, mestre e colaborador...

04. (Agente Técnico – FCC – 2013-adap.).


... para lidar com as múltiplas vertentes da justiça...
O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que o da frase acima se encontra em:
A) A palavra direito, em português, vem de directum, do verbo latino dirigere...
B) ...o Direito tem uma complexa função de gestão das sociedades...
C) ...o de que o Direito [...] esteja permeado e regulado pela justiça.
D) Essa problematicidade não afasta a força das aspirações da justiça...
E) Na dinâmica dessa tensão tem papel relevante o sentimento de justiça.

5. (Escrevente TJ SP – Vunesp 2012) Assinale a alternativa em que o período, adaptado da revista Pesquisa Fapesp de junho de 2012,
está correto quanto à regência nominal e à pontuação.
(A) Não há dúvida que as mulheres ampliam, rapidamente, seu espaço na carreira científica ainda que o avanço seja mais notável em
alguns países, o Brasil é um exemplo, do que em outros.
(B) Não há dúvida de que, as mulheres, ampliam rapidamente seu espaço na carreira científica; ainda que o avanço seja mais notável,
em alguns países, o Brasil é um exemplo!, do que em outros.
(C) Não há dúvida de que as mulheres, ampliam rapidamente seu espaço, na carreira científica, ainda que o avanço seja mais notável,
em alguns países: o Brasil é um exemplo, do que em outros.
(D) Não há dúvida de que as mulheres ampliam rapidamente seu espaço na carreira científica, ainda que o avanço seja mais notável
em alguns países – o Brasil é um exemplo – do que em outros.
(E) Não há dúvida que as mulheres ampliam rapidamente, seu espaço na carreira científica, ainda que, o avanço seja mais notável em
alguns países (o Brasil é um exemplo) do que em outros.
6. (Papiloscopista Policial – VUNESP – 2013). Assinale a alternativa correta quanto à regência dos termos em destaque.
(A) Ele tentava convencer duas senhoras a assumir a responsabilidade pelo problema.
(B) A menina tinha o receio a levar uma bronca por ter se perdido.
(C) A garota tinha apenas a lembrança pelo desenho de um índio na porta do prédio.
(D) A menina não tinha orgulho sob o fato de ter se perdido de sua família.
(E) A família toda se organizou para realizar a procura à garotinha.

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PORTUGUÊS
7. (Analista de Sistemas – VUNESP – 2013). Assinale a al- Pedir = verbo transitivo direto e indireto
ternativa que completa, correta e respectivamente, as lacunas do A) ...que existe uma coisa chamada EXÉRCITO... = transitivo
texto, de acordo com as regras de regência. direto
Os estudos _______ quais a pesquisadora se reportou já assi- B) ...como se isso aqui fosse casa da sogra? =verbo de ligação
nalavam uma relação entre os distúrbios da imagem corporal e a C) ...compareceu em companhia da mulher à delegacia...
exposição a imagens idealizadas pela mídia. =verbo intransitivo
A pesquisa faz um alerta ______ influência negativa que a E) O delegado apenas olhou-a espantado com o atrevimento.
mí-dia pode exercer sobre os jovens. =transitivo direto
A) dos … na B) nos … entre a
C) aos … para a D) sobre os … pela 3-) ... constava simplesmente de uma vareta quebrada em par-
E) pelos … sob a tes desiguais...
Constar = verbo intransitivo
8. (Analista em Planejamento, Orçamento e Finanças Públi- B) ...eram comumente assinalados a golpes de machado nos
cas – VUNESP – 2013). Considerando a norma-padrão da língua, troncos mais robustos. =ligação
assinale a alternativa em que os trechos destacados estão corretos C) Os toscos desenhos e os nomes estropiados desorientam,
quanto à regência, verbal ou nominal. não raro, quem... =transitivo direto
A) O prédio que o taxista mostrou dispunha de mais de dez D) Koch-Grünberg viu uma dessas marcas de caminho na
mil tomadas. serra de Tunuí... = transitivo direto
B) O autor fez conjecturas sob a possibilidade de haver um E) ...em que tão bem se revelam suas afinidades com o gentio,
homem que estaria ouvindo as notas de um oboé. mestre e colaborador...=transitivo direto
C) Centenas de trabalhadores estão empenhados de criar
logo-tipos e negociar. 4-) ... para lidar com as múltiplas vertentes da justiça...
D) O taxista levou o autor a indagar no número de tomadas Lidar = transitivo indireto
do edifício. B) ...o Direito tem uma complexa função de gestão das socie-
E) A corrida com o taxista possibilitou que o autor reparasse dades... =transitivo direto
a um prédio na marginal. C) ...o de que o Direito [...] esteja permeado e regulado pela
justiça. =ligação
D) Essa problematicidade não afasta a força das aspirações da
9. (Assistente de Informática II – VUNESP – 2013). Assinale justiça... =transitivo direto e indireto
a alternativa que substitui a expressão destacada na frase, confor- E) Na dinâmica dessa tensão tem papel relevante o
me as regras de regência da norma-padrão da língua e sem altera- sentimento de justiça. =transitivo direto
ção de sentido. 5-) A correção do item deve respeitar as regras de pontuação
Muitas organizações lutaram a favor da igualdade de direitos também. Assinalei apenas os desvios quanto à regência (pontua-
dos trabalhadores domésticos. ção encontra-se em tópico específico)
A) da B) (A) Não há dúvida de que as mulheres ampliam,
na C) (B) Não há dúvida de que (erros quanto à pontuação)
pela D) (C) Não há dúvida de que as mulheres, (erros quanto à
sob a E) pontuação)
sobre a (E) Não há dúvida de que as mulheres ampliam rapidamente, seu
espaço na carreira científica, ainda que, o avanço seja mais no-tável
GABARITO em alguns países (o Brasil é um exemplo) do que em outros.
01. D 02. D 03. A 04. A 05. D
06. A 07. C 08. A 09. C 6-)
(B) A menina tinha o receio de levar uma bronca por ter se
RESOLUÇÃO perdido.
(C) A garota tinha apenas a lembrança do desenho de um
1-) ... a que ponto a astronomia facilitou a obra das outras índio na porta do prédio.
ciên-cias ... (D) A menina não tinha orgulho do fato de ter se perdido de
Facilitar – verbo transitivo direto sua família.
A) ...astros que ficam tão distantes ... = verbo de ligação (E) A família toda se organizou para realizar a procura pela
B) ...que a astronomia é uma das ciências ... = verbo de liga- garotinha.
ção
C) ...que nos proporcionou um espírito ... = verbo transitivo 7-) Os estudos aos quais a pesquisadora se reportou já
direto e indireto assinalavam uma relação entre os distúrbios da imagem corporal e
E) ...onde seu corpo não passa de um ponto obscuro = verbo a exposição a imagens idealizadas pela mídia.
transitivo indireto A pesquisa faz um alerta para a influência negativa que a mídia
pode exercer sobre os jovens.
2-) ... pediu ao delegado do bairro que desse um jeito nos
filhos do sueco.

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PORTUGUÊS
8-) Homônimos: são palavras que têm a mesma pronúncia, e às
B) O autor fez conjecturas sobre a possibilidade de haver um vezes a mesma grafia, mas significação diferente. Exemplos:
homem que estaria ouvindo as notas de um oboé. - São (sadio), são (forma do verbo ser) e são (santo).
C) Centenas de trabalhadores estão empenhados em criar lo- - Aço (substantivo) e asso (verbo).
gotipos e negociar.
D) O taxista levou o autor a indagar sobre o número de toma- Só o contexto é que determina a significação dos homônimos.
das do edifício. A homonímia pode ser causa de ambiguidade, por isso é conside-
E) A corrida com o taxista possibilitou que o autor reparasse rada uma deficiência dos idiomas.
em um prédio na marginal. O que chama a atenção nos homônimos é o seu aspecto fônico
(som) e o gráfico (grafia). Daí serem divididos em:
9-) Muitas organizações lutaram pela igualdade de direitos
dos trabalhadores domésticos. Homógrafos Heterofônicos: iguais na escrita e diferentes no
timbre ou na intensidade das vogais.
SIGNIFICAÇÃO DAS PALAVRAS - Rego (substantivo) e rego (verbo).
- Colher (verbo) e colher (substantivo).
Quanto à significação, as palavras são divididas nas seguin- - Jogo (substantivo) e jogo (verbo).
tes categorias: - Apoio (verbo) e apoio (substantivo).
- Para (verbo parar) e para (preposição).
Sinônimos: são palavras de sentido igual ou - Providência (substantivo) e providencia (verbo).
aproxi-mado. Exemplo: - Às (substantivo), às (contração) e as (artigo).
- Alfabeto, abecedário. - Pelo (substantivo), pelo (verbo) e pelo (contração de per+o).
- Brado, grito, clamor.
- Extinguir, apagar, abolir, suprimir. Homófonos Heterográficos: iguais na pronúncia e diferentes
- Justo, certo, exato, reto, íntegro, imparcial. na escrita.
- Acender (atear, pôr fogo) e ascender (subir).
Na maioria das vezes não é indiferente usar um sinônimo pelo - Concertar (harmonizar) e consertar (reparar, emendar).
outro. Embora irmanados pelo sentido comum, os sinônimos dife- - Concerto (harmonia, sessão musical) e conserto (ato de
renciam-se, entretanto, uns dos outros, por matizes de significação con-sertar).
e certas propriedades que o escritor não pode desconhecer. Com - Cegar (tornar cego) e segar (cortar, ceifar).
efeito, estes têm sentido mais amplo, aqueles, mais restrito (ani- - Apreçar (determinar o preço, avaliar) e apressar (acelerar).
mal e quadrúpede); uns são próprios da fala corrente, desataviada, - Cela (pequeno quarto), sela (arreio) e sela (verbo selar).
vulgar, outros, ao invés, pertencem à esfera da linguagem culta, - Censo (recenseamento) e senso (juízo).
literária, científica ou poética (orador e tribuno, oculista e oftalmo- - Cerrar (fechar) e serrar (cortar).
logista, cinzento e cinéreo). - Paço (palácio) e passo (andar).
A contribuição Greco-latina é responsável pela existência, em - Hera (trepadeira) e era (época), era (verbo).
nossa língua, de numerosos pares de sinônimos. Exemplos: - Caça (ato de caçar), cassa (tecido) e cassa (verbo cassar =
- Adversário e antagonista. anular).
- Translúcido e diáfano. - Cessão (ato de ceder), seção (divisão, repartição) e sessão
- Semicírculo e hemiciclo. (tempo de uma reunião ou espetáculo).
- Contraveneno e antídoto.
- Moral e ética. Homófonos Homográficos: iguais na escrita e na pronúncia.
- Colóquio e diálogo. - Caminhada (substantivo), caminhada (verbo).
- Transformação e metamorfose. - Cedo (verbo), cedo (advérbio).
- Oposição e antítese. - Somem (verbo somar), somem (verbo sumir).
- Livre (adjetivo), livre (verbo livrar).
O fato linguístico de existirem sinônimos chama-se sinoní- - Pomos (substantivo), pomos (verbo pôr).
mia, palavra que também designa o emprego de sinônimos. - Alude (avalancha), alude (verbo aludir).

Antônimos: são palavras de significação oposta. Exemplos: Parônimos: são palavras parecidas na escrita e na pronúncia:
- Ordem e anarquia. Coro e couro, cesta e sesta, eminente e iminente, tetânico e titâni-co,
- Soberba e humildade. atoar e atuar, degradar e degredar, cético e séptico, prescrever e
- Louvar e censurar. proscrever, descrição e discrição, infligir (aplicar) e infringir
- Mal e bem. (transgredir), osso e ouço, sede (vontade de beber) e cede (verbo
ceder), comprimento e cumprimento, deferir (conceder, dar defe-
A antonímia pode originar-se de um prefixo de sentido oposto ou rimento) e diferir (ser diferente, divergir, adiar), ratificar (confir-mar)
negativo. Exemplos: Bendizer/maldizer, simpático/antipático, e retificar (tornar reto, corrigir), vultoso (volumoso, muito grande:
progredir/regredir, concórdia/discórdia, explícito/implícito, ativo/ soma vultosa) e vultuoso (congestionado: rosto vultuoso).
inativo, esperar/desesperar, comunista/anticomunista, simétrico/
assimétrico, pré-nupcial/pós-nupcial.

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PORTUGUÊS
Polissemia: Uma palavra pode ter mais de uma significação. 04. Há uma alternativa errada. Assinale-a:
A esse fato linguístico dá-se o nome de polissemia. Exemplos: a) A eminente autoridade acaba de concluir uma viagem po-
- Mangueira: tubo de borracha ou plástico para regar as plan- lítica.
tas ou apagar incêndios; árvore frutífera; grande curral de gado. b) A catástrofe torna-se iminente.
- Pena: pluma, peça de metal para escrever; punição; dó. c) Sua ascensão foi rápida.
- Velar: cobrir com véu, ocultar, vigiar, cuidar, relativo ao d) Ascenderam o fogo rapidamente.
véu do palato. e) Reacendeu o fogo do entusiasmo.
Podemos citar ainda, como exemplos de palavras polissêmi-
cas, o verbo dar e os substantivos linha e ponto, que têm dezenas 5. Há uma alternativa errada. Assinale-
de acepções. a: a) cozer = cozinhar; coser = costurar
b) imigrar = sair do país; emigrar = entrar no país c)
Sentido Próprio e Sentido Figurado: as palavras podem ser comprimento = medida; cumprimento = saudação
empregadas no sentido próprio ou no sentido figurado. Exemplos: d) consertar = arrumar; concertar = harmonizar
- Construí um muro de pedra. (sentido próprio). e) chácara = sítio; xácara = verso
- Ênio tem um coração de pedra. (sentido figurado).
- As águas pingavam da torneira, (sentido próprio). 6. Assinale o item em que a palavra destacada está incorre-
- As horas iam pingando lentamente, (sentido figurado). tamente aplicada:
a) Trouxeram-me um ramalhete de flores fragrantes.
Denotação e Conotação: Observe as palavras em destaque b) A justiça infligiu a pena merecida aos desordeiros.
nos seguintes exemplos: c) Promoveram uma festa beneficiente para a creche.
- Comprei uma correntinha de ouro. d) Devemos ser fiéis ao cumprimento do dever.
- Fulano nadava em ouro. e) A cessão de terras compete ao Estado.
No primeiro exemplo, a palavra ouro denota ou designa sim-
plesmente o conhecido metal precioso, tem sentido próprio, real, 7. O ...... do prefeito foi ..... ontem.
denotativo. a) mandado - caçado
No segundo exemplo, ouro sugere ou evoca riquezas, poder, b) mandato - cassado
glória, luxo, ostentação; tem o sentido conotativo, possui várias c) mandato - caçado d)
conotações (ideias associadas, sentimentos, evocações que irra- mandado - casçado e)
diam da palavra). mandado - cassado

8. Marque a alternativa cujas palavras preenchem correta-mente


Exercícios as respectivas lacunas, na frase seguinte: “Necessitando ......
o número do cartão do PIS, ...... a data de meu nascimento.”
1. Estava ....... a ....... da guerra, pois os homens ....... nos a) ratificar, proscrevi
erros do passado. b) prescrever, discriminei
a) eminente, deflagração, incidiram b) c) descriminar, retifiquei
iminente, deflagração, reincidiram c) d) proscrever, prescrevi
eminente, conflagração, reincidiram e) retificar, ratifiquei
d) preste, conflaglação, incidiram
e) prestes, flagração, recindiram 9. “A ......... científica do povo levou-o a .... de feiticeiros os
..... em astronomia.”
2. “Durante a ........ solene era ........ o desinteresse do mestre a) insipiência tachar expertos
diante da ....... demonstrada pelo político”. b) insipiência taxar expertos
a) seção - fragrante - incipiência b) c) incipiência taxar espertos
sessão - flagrante - insipiência c) d) incipiência tachar espertos
sessão - fragrante - incipiência d) e) insipiência taxar espertos
cessão - flagrante - incipiência e)
seção - flagrante - insipiência 10. Na oração: Em sua vida, nunca teve muito ......, apresen-
tava-se sempre ...... no ..... de tarefas ...... . As palavras adequadas
03. Na ..... plenária estudou-se a ..... de direitos territoriais a para preenchimento das lacunas são:
..... . a) censo - lasso - cumprimento - eminentes
a) sessão - cessão - estrangeiros b) senso - lasso - cumprimento - iminentes
b) seção - cessão - estrangeiros c) senso - laço - comprimento - iminentes
c) secção - sessão - extrangeiros d) senso - laço - cumprimento - eminentes
d) sessão - seção - estrangeiros e) censo - lasso - comprimento - iminentes
e) seção - sessão - estrangeiros
Respostas: (01.B)(02.B)(03.A)(04.D)(05.B)(06.C)(07.B)
(08.E)(09.A)(10.B)

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PORTUGUÊS

COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO – LEITURA E ANÁLISE DE TEXTO; OS PROPÓSITOS


DO AUTOR E SUAS IMPLICAÇÕES NA ORGANIZAÇÃO DO TEXTO; INFORMAÇÕES IMPLÍCITAS E
EXPLICITAS; TIPOLOGIA TEXTUAL E GÊNEROS DISCURSIVOS; OS FATORES DETERMINANTES DA
TEXTUALIDADE: COESÃO, COERÊNCIA, INTENCIONALIDADE; ACEITABILIDADE;
SITUACINALIDADE; INFORMATIVIDADE E INTERTEXTUALIDADE; VARIAÇÃO LINGUÍSTICA:
AS VÁRIAS NORMAS E A VARIEDADE PADRÃO;
PROCESSOS ARGUMENTATIVOS.

COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

É muito comum, entre os candidatos a um cargo público, a preocupação com a interpretação de textos. Por isso, vão aqui alguns
detalhes que poderão ajudar no momento de responder às questões relacionadas a textos.

Texto – é um conjunto de ideias organizadas e relacionadas entre si, formando um todo significativo capaz de produzir interação comu-
nicativa (capacidade de codificar e decodificar ).

Contexto – um texto é constituído por diversas frases. Em cada uma delas, há uma certa informação que a faz ligar-se com a anterior
e/ou com a posterior, criando condições para a estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa interligação dá-se o nome de contexto.
Nota-se que o relacionamento entre as frases é tão grande que, se uma frase for retirada de seu contexto original e analisada separadamente,
poderá ter um significado diferente daquele inicial.

Intertexto - comumente, os textos apresentam referências diretas ou indiretas a outros autores através de citações. Esse tipo de recurso
denomina-se intertexto.

Interpretação de texto - o primeiro objetivo de uma interpretação de um texto é a identificação de sua ideia principal. A partir daí,
localizam-se as ideias secundárias, ou fundamentações, as argumentações, ou explicações, que levem ao esclarecimento das questões apre-
sentadas na prova.

Normalmente, numa prova, o candidato é convidado a:

- Identificar – é reconhecer os elementos fundamentais de uma argumentação, de um processo, de uma época (neste caso, procuram-
se os verbos e os advérbios, os quais definem o tempo).
- Comparar – é descobrir as relações de semelhança ou de diferenças entre as situações do texto.
- Comentar - é relacionar o conteúdo apresentado com uma realidade, opinando a respeito.
- Resumir – é concentrar as ideias centrais e/ou secundárias em um só parágrafo.
- Parafrasear – é reescrever o texto com outras palavras.

Condições básicas para interpretar

Fazem-se necessários:
- Conhecimento histórico–literário (escolas e gêneros literários, estrutura do texto), leitura e prática;
- Conhecimento gramatical, estilístico (qualidades do texto) e semântico;
Observação – na semântica (significado das palavras) incluem--se: homônimos e parônimos, denotação e conotação, sinonímia e
anto-nímia, polissemia, figuras de linguagem, entre outros.
- Capacidade de observação e de síntese e
- Capacidade de raciocínio.

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PORTUGUÊS
Interpretar X compreender - cujo (posse) - antes dele aparece o possuidor e depois o
objeto possuído.
Interpretar significa - como (modo)
- Explicar, comentar, julgar, tirar conclusões, deduzir. - onde (lugar)
- Através do texto, infere-se que... quando (tempo)
- É possível deduzir que... quanto (montante)
- O autor permite concluir que...
- Qual é a intenção do autor ao afirmar que... Exemplo:
Falou tudo QUANTO queria (correto)
Compreender significa Falou tudo QUE queria (errado - antes do QUE, deveria
- intelecção, entendimento, atenção ao que realmente está es- apa-recer o demonstrativo O ).
crito.
- o texto diz que... Dicas para melhorar a interpretação de textos
- é sugerido pelo autor que...
- de acordo com o texto, é correta ou errada a afirmação... - Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do assunto;
- o narrador afirma... - Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa a lei-
tura;
Erros de interpretação - Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto pelo
me-nos duas vezes;
É muito comum, mais do que se imagina, a ocorrência de - Inferir;
erros de interpretação. Os mais frequentes são: - Voltar ao texto quantas vezes precisar;
- Extrapolação (viagem): Ocorre quando se sai do contexto, - Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do autor;
acrescentado ideias que não estão no texto, quer por conhecimento - Fragmentar o texto (parágrafos, partes) para melhor com-
prévio do tema quer pela imaginação. preensão;
- Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada ques-
- Redução: É o oposto da extrapolação. Dá-se atenção apenas tão;
a um aspecto, esquecendo que um texto é um conjunto de ideias, o - O autor defende ideias e você deve percebê-las.
que pode ser insuficiente para o total do entendimento do tema
desenvolvido. Fonte:
http://www.tudosobreconcursos.com/materiais/portugues/co-
- Contradição: Não raro, o texto apresenta ideias contrárias às mo-interpretar-textos
do candidato, fazendo-o tirar conclusões equivocadas e, conse-
quentemente, errando a questão. QUESTÕES

Observação - Muitos pensam que há a ótica do escritor e a 1-) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAU-
ótica do leitor. Pode ser que existam, mas numa prova de concurso, LO - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VUNESP/2013)
o que deve ser levado em consideração é o que o autor diz e nada O contexto em que se encontra a passagem – Se deixou de bajular
mais. os príncipes e princesas do século 19, passou a servir reis e ra-
inhas do 20 (2.º parágrafo) – leva a concluir, corretamente, que a
Coesão - é o emprego de mecanismo de sintaxe que relaciona menção a
palavras, orações, frases e/ou parágrafos entre si. Em outras pa- (A) príncipes e princesas constitui uma referência em sentido
lavras, a coesão dá-se quando, através de um pronome relativo, não literal.
uma conjunção (NEXOS), ou um pronome oblíquo átono, há uma (B) reis e rainhas constitui uma referência em sentido não li-
relação correta entre o que se vai dizer e o que já foi dito. teral.
(C) príncipes, princesas, reis e rainhas constitui uma
OBSERVAÇÃO – São muitos os erros de coesão no dia-a-dia referência em sentido não literal.
e, entre eles, está o mau uso do pronome relativo e do pronome (D) príncipes, princesas, reis e rainhas constitui uma
oblíquo átono. Este depende da regência do verbo; aquele do seu referência em sentido literal.
antecedente. Não se pode esquecer também de que os pronomes (E) reis e rainhas constitui uma referência em sentido literal.
relativos têm, cada um, valor semântico, por isso a necessidade de
adequação ao antecedente. Texto para a questão 2:
Os pronomes relativos são muito importantes na interpretação
de texto, pois seu uso incorreto traz erros de coesão. Assim sen-do, DA DISCRIÇÃO
deve-se levar em consideração que existe um pronome relativo Mário Quintana
adequado a cada circunstância, a saber: Não te abras com teu amigo
- que (neutro) - relaciona-se com qualquer antecedente, mas Que ele um outro amigo tem.
depende das condições da frase. E o amigo do teu amigo
- qual (neutro) idem ao anterior. Possui amigos também...
- quem (pessoa) (http://pensador.uol.com.br/poemas_de_amizade)

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PORTUGUÊS
2-) (PREFEITURA DE SERTÃOZINHO – AGENTE COMU- Observa as ranhuras entre uma pedra e outra. Há, dentro de
NITÁRIO DE SAÚDE – VUNESP/2012) De acordo com o poe- cada uma delas, um diminuto caminho de terra, com pedrinhas e
ma, é correto afirmar que tufos minúsculos de musgos, formando pequenas plantas, ínfimos
(A) não se deve ter amigos, pois criar laços de amizade é algo bonsais só visíveis aos olhos de quem é capaz de parar de viver
ruim. para, apenas, ver. Quando se tem a marca da solidão na alma, o
(B) amigo que não guarda segredos não merece respeito. mundo cabe numa fresta.
(C) o melhor amigo é aquele que não possui outros amigos.
(D) revelar segredos para o amigo pode ser arriscado. (SEIXAS, Heloísa. Contos mais que mínimos. Rio de
(E) entre amigos, não devem existir segredos. Janeiro: Tinta negra bazar, 2010. p. 47)
No texto, o substantivo usado para ressaltar o universo
3-) (GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO – SE- reduzi-do no qual o menino detém sua atenção é
CRETARIA DE ESTADO DA JUSTIÇA – AGENTE PENITEN- (A) fresta.
CIÁRIO – VUNESP/2013) Leia o poema para responder à ques- (B) marca.
tão. (C) alma.
(D) solidão.
Casamento (E) penumbra.

Há mulheres que dizem: 5-) (ANCINE – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CES-


Meu marido, se quiser pescar, PE/2012)
pesque, mas que limpe os peixes. O riso é tão universal como a seriedade; ele abarca a tota-
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, lidade do universo, toda a sociedade, a história, a concepção de
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. mundo. É uma verdade que se diz sobre o mundo, que se estende
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, a todas as coisas e à qual nada escapa. É, de alguma maneira, o
de vez em quando os cotovelos se esbarram, aspecto festivo do mundo inteiro, em todos os seus níveis, uma
ele fala coisas como “este foi difícil” espécie de segunda revelação do mundo.
“prateou no ar dando rabanadas”
e faz o gesto com a mão. Mikhail Bakhtin. A cultura popular na Idade Média e o Re-
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez nascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo: Hucitec,
atravessa a cozinha como um rio profundo. 1987, p. 73 (com adaptações).
Por fim, os peixes na
travessa, vamos dormir. Na linha 1, o elemento “ele” tem como referente textual “O
Coisas prateadas espocam: riso”.
somos noivo e noiva. (...) CERTO
(Adélia Prado, Poesia Reunida) ( ) ERRADO

A ideia central do poema de Adélia Prado é mostrar que 6-) (ANEEL – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CES-
(A) as mulheres que amam valorizam o cotidiano e não gostam PE/2010)
que os maridos frequentem pescarias, pois acham difícil limpar os Só agora, quase cinco meses depois do apagão que atingiu
peixes. pelo menos 1.800 cidades em 18 estados do país, surge uma expli-
(B) o eu lírico do poema pertence ao grupo de mulheres que cação oficial satisfatória para o corte abrupto e generalizado de
não gostam de limpar os peixes, embora valorizem os esbarrões de energia no final de 2009.
cotovelos na cozinha. Segundo relatório da Agência Nacional de Energia Elétrica
(C) há mulheres casadas que não gostam de ficar sozinhas (ANEEL), a responsabilidade recai sobre a empresa estatal Fur-
com seus maridos na cozinha, enquanto limpam os peixes. nas, cujas linhas de transmissão cruzam os mais de 900 km que
(D) as mulheres que amam valorizam os momentos mais sim- separam Itaipu de São Paulo.
ples do cotidiano vividos com a pessoa amada. Equipamentos obsoletos, falta de manutenção e de investi-
(E) o casamento exige levantar a qualquer hora da noite, para mentos e também erros operacionais conspiraram para produzir
limpar, abrir e salgar o peixe. a mais séria falha do sistema de geração e distribuição de energia
do país desde o traumático racionamento de 2001.
4-) (SABESP/SP – ATENDENTE A CLIENTES 01 – Folha de S.Paulo, Editorial, 30/3/2010 (com adaptações).
FCC/2014 - ADAPTADA) Atenção: Para responder à questão,
considere o texto abaixo. Considerando os sentidos e as estruturas linguísticas do texto
acima apresentado, julgue os próximos itens.
A marca da solidão A oração “que atingiu pelo menos 1.800 cidades em 18 esta-
Deitado de bruços, sobre as pedras quentes do chão de pa- dos do país” tem, nesse contexto, valor restritivo.
ralelepípedos, o menino espia. Tem os braços dobrados e a testa (...) CERTO
pousada sobre eles, seu rosto formando uma tenda de penumbra ( ) ERRADO
na tarde quente.

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PORTUGUÊS
7-) (COLÉGIO PEDRO II/RJ – ASSISTENTE EM ADMI- Liderança é uma palavra frequentemente associada a feitos e
NISTRAÇÃO – AOCP/2010) “A carga foi desviada e a viatura, realizações de grandes personagens da história e da vida social ou, então,
com os vigilantes, abandonada em Pirituba, na zona norte de São a uma dimensão mágica, em que algumas poucas pessoas teriam
Paulo.” habilidades inatas ou o dom de transformar-se em grandes líderes,
Pela leitura do fragmento acima, é correto afirmar que, em sua capazes de influenciar outras e, assim, obter e manter o poder.
estrutura sintática, houve supressão da expressão Os estudos sobre o tema, no entanto, mostram que a maioria
a) vigilantes. das pessoas pode tornar-se líder, ou pelo menos desenvolver
b) carga. considera-velmente as suas capacidades de liderança.
c) viatura. Paulo Roberto Motta diz: “líderes são pessoas comuns que
d) foi. aprendem habilidades comuns, mas que, no seu conjunto, formam uma
e) desviada. pessoa incomum”. De fato, são necessárias algumas habilida-des,
mas elas podem ser aprendidas tanto através das experiências da
8-) (CORREIOS – CARTEIRO – CESPE/2011) vida, quanto da formação voltada para essa finalidade.
Um carteiro chega ao portão do hospício e grita: O fenômeno da liderança só ocorre na inter-relação; envolve
— Carta para o 9.326!!! duas ou mais pessoas e a existência de necessidades para serem
Um louco pega o envelope, abre-o e vê que a carta está aten-didas ou objetivos para serem alcançados, que requerem a
interação cooperativa dos membros envolvidos. Não pressupõe
em branco, e um outro pergunta:
proximidade fí-sica ou temporal: pode-se ter a mente e/ou o
— Quem te mandou essa carta?
comportamento influen-ciado por um escritor ou por um líder
— Minha irmã.
religioso que nunca se viu ou que viveu noutra época. [...]
— Mas por que não está escrito nada?
Se a legitimidade da liderança se baseia na aceitação do poder
— Ah, porque nós brigamos e não estamos nos falando!
de influência do líder, implica dizer que parte desse poder encontra-
Internet: <www.humortadela.com.br/piada> (com adapta-
se no próprio grupo. É nessa premissa que se fundamenta a maioria
ções). das teorias contemporâneas sobre liderança.
O efeito surpresa e de humor que se extrai do texto acima Daí definirem liderança como a arte de usar o poder que existe
decorre nas pessoas ou a arte de liderar as pessoas para fazerem o que se
A) da identificação numérica atribuída ao louco. requer delas, da maneira mais efetiva e humana possível. [...]
B) da expressão utilizada pelo carteiro ao entregar a carta no (Augusta E.E.H. Barbosa do Amaral e Sandra Souza Pinto. Ges-
hospício.
tão de pessoas, in Desenvolvimento gerencial na Administração
C) do fato de outro louco querer saber quem enviou a carta. pú-blica do Estado de São Paulo, org. Lais Macedo de Oliveira e
D) da explicação dada pelo louco para a carta em branco.
Maria Cristina Pinto Galvão, Secretaria de Gestão pública, São
E) do fato de a irmã do louco ter brigado com ele.
Paulo: Fun-dap, 2. ed., 2009, p. 290 e 292, com adaptações)
9-) (CORREIOS – CARTEIRO – CESPE/2011) 10-) (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO –
Um homem se dirige à recepcionista de uma clínica: TÉCNICO DA FAZENDA ESTADUAL – FCC/2010) De acordo
— Por favor, quero falar com o dr. Pedro. com o texto, liderança
— O senhor tem hora? (A) é a habilidade de chefiar outras pessoas que não pode ser
O sujeito olha para o relógio e diz: desenvolvida por aqueles que somente executam tarefas em seu
— Sim. São duas e meia. am-biente de trabalho.
— Não, não... Eu quero saber se o senhor é paciente. (B) é típica de épocas passadas, como qualidades de heróis da
— O que a senhora acha? Faz seis meses que ele não me história da humanidade, que realizaram grandes feitos e se
paga o aluguel do consultório... tornaram poderosos através deles.
Internet: <www.humortadela.com.br/piada> (com adapta- (C) vem a ser a capacidade, que pode ser inata ou até mesmo
ções). ad-quirida, de conseguir resultados desejáveis daqueles que
constituem a equipe de trabalho.
No texto acima, a recepcionista dirige-se duas vezes ao ho- (D) torna-se legítima se houver consenso em todos os grupos
mem para saber se ele quanto à escolha do líder e ao modo como ele irá mobilizar esses
A) verificou o horário de chegada e está sob os cuidados do gru-pos em torno de seus objetivos pessoais.
dr. Pedro.
B) pode indicar-lhe as horas e decidiu esperar o pagamento 11-) (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO – TÉCNICO
do aluguel. DA FAZENDA ESTADUAL – FCC/2010) O texto deixa claro que
C) tem relógio e sabe esperar. (A) a importância do líder baseia-se na valorização de todo o
D) marcou consulta e está calmo. gru-po em torno da realização de um objetivo comum.
E) marcou consulta para aquele dia e está sob os cuidados do (B) o líder é o elemento essencial dentro de uma organização,
dr. Pedro. pois sem ele não se poderá atingir qualquer meta ou objetivo.
(C) pode não haver condições de liderança em algumas
(GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO – TÉCNICO equipes, caso não se estabeleçam atividades específicas para cada
DA FAZENDA ESTADUAL – FCC/2010 - ADAPTADA) Aten- um de seus membros.
ção: As questões de números 10 a 13 referem-se ao texto abaixo. (D) a liderança é um dom que independe da participação dos
componentes de uma equipe em um ambiente de trabalho.

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PORTUGUÊS
12-) (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO – TÉCNI-CO (DCTA – TÉCNICO 1 – SEGURANÇA DO TRABALHO
DA FAZENDA ESTADUAL – FCC/2010) O fenômeno da lide-rança – VUNESP/2013 - ADAPTADA) Leia o texto para responder às
só ocorre na inter-relação ... (4º parágrafo) questões de números 15 a 17.
No contexto, inter-relação significa
(A) o respeito que os membros de uma equipe devem demons- Férias na Ilha do Nanja
trar ao acatar as decisões tomadas pelo líder, por resultarem em be- Meus amigos estão fazendo as malas, arrumando as malas
nefício de todo o grupo. nos seus carros, olhando o céu para verem que tempo faz, pensan-
(B) a igualdade entre os valores dos integrantes de um grupo do nas suas estradas – barreiras, pedras soltas, fissuras* – sem
devidamente orientado pelo líder e aqueles propostos pela fa-lar em bandidos, milhões de bandidos entre as fissuras, as
organiza-ção a que prestam serviço. pedras soltas e as barreiras...
(C) o trabalho que deverá sempre ser realizado em equipe, de Meus amigos partem para as suas férias, cansados de tanto
modo que os mais capacitados colaborem com os de menor capa- trabalho; de tanta luta com os motoristas da contramão; enfim,
cidade. cansados, cansados de serem obrigados a viver numa grande ci-
(D) a criação de interesses mútuos entre membros de uma equi-
dade, isto que já está sendo a negação da própria vida.
pe e de respeito às metas que devem ser alcançadas por todos. E eu vou para a Ilha do Nanja.
13-) (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO – TÉCNI- Eu vou para a Ilha do Nanja para sair daqui. Passarei as
CO DA FAZENDA ESTADUAL – FCC/2010) Não pressupõe férias lá, onde, à beira das lagoas verdes e azuis, o silêncio cresce
pro-ximidade física ou temporal ... (4º parágrafo) como um bosque. Nem preciso fechar os olhos: já estou vendo os
A afirmativa acima quer dizer, com outras palavras, que pescadores com suas barcas de sardinha, e a moça à janela a
(A) a presença física de um líder natural é fundamental para namorar um moço na outra janela de outra ilha.
que seus ensinamentos possam ser divulgados e aceitos. (Cecília Meireles, O que se diz e o que se entende.
(B) um líder verdadeiramente capaz é aquele que sempre se
atualiza, adquirindo conhecimentos de fontes e de autores diversos. Adaptado) *fissuras: fendas, rachaduras
(C) o aprendizado da liderança pode ser produtivo, mesmo se
houver distância no tempo e no espaço entre aquele que influencia 15-) (DCTA – TÉCNICO 1 – SEGURANÇA DO TRABA-
e aquele que é influenciado. LHO – VUNESP/2013) No primeiro parágrafo, ao descrever a
(D) as influências recebidas devem ser bem analisadas e postas maneira como se preparam para suas férias, a autora mostra que
em prática em seu devido tempo e na ocasião mais propícia. seus amigos estão
(A) serenos.
14-) (DETRAN/RN – VISTORIADOR/EMPLACADOR – (B) descuidados.
FGV PROJETOS/2010) (C) apreensivos.
(D) indiferentes.
Painel do leitor (Carta do leitor) (E) relaxados.
Resgate no Chile
16-) (DCTA – TÉCNICO 1 – SEGURANÇA DO TRABA-
Assisti ao maior espetáculo da Terra numa operação de salva- LHO – VUNESP/2013) De acordo com o texto, pode-se afirmar
mento de vidas, após 69 dias de permanência no fundo de uma que, assim como seus amigos, a autora viaja para
mina de cobre e ouro no Chile. (A) visitar um lugar totalmente desconhecido.
Um a um os mineiros soterrados foram içados com sucesso, (B) escapar do lugar em que está.
mostrando muita calma, saúde, sorrindo e cumprimentando seus (C) reencontrar familiares queridos.
companheiros de trabalho. Não se pode esquecer a ajuda técnica
(D) praticar esportes radicais.
e material que os Estados Unidos, Canadá e China ofereceram à
(E) dedicar-se ao trabalho.
equipe chilena de salvamento, num gesto humanitário que só eno-
brece esses países. E, também, dos dois médicos e dois “socorris-
17-) Ao descrever a Ilha do Nanja como um lugar onde, “à beira
tas” que, demonstrando coragem e desprendimento, desceram na
mina para ajudar no salvamento. das lagoas verdes e azuis, o silêncio cresce como um bosque” (último
(Douglas Jorge; São Paulo, SP; www.folha.com.br – painel parágrafo), a autora sugere que viajará para um lugar
(A) repulsivo e populoso.
do leitor – 17/10/2010)
(B) sombrio e desabitado.
Considerando o tipo textual apresentado, algumas expressões (C) comercial e movimentado.
demonstram o posicionamento pessoal do leitor diante do fato por (D) bucólico e sossegado.
ele narrado. Tais marcas textuais podem ser encontradas nos (E) opressivo e agitado.
trechos a seguir, EXCETO:
A) “Assisti ao maior espetáculo da Terra...”
B) “... após 69 dias de permanência no fundo de uma mina
de cobre e ouro no Chile.”
C) “Não se pode esquecer a ajuda técnica e material...”
D) “... gesto humanitário que só enobrece esses países.”
E) “... demonstrando coragem e desprendimento, desceram
na mina...”

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PORTUGUÊS
18-) (POLÍCIA MILITAR/TO – SOLDADO – CONSUL- 6-)
PLAN/2013 - ADAPTADA) Texto para responder à questão. Voltemos ao texto: “depois do apagão que atingiu pelo menos
1.800 cidades”. O “que” pode ser substituído por “o qual”, portan-to,
trata-se de um pronome relativo (oração subordinada adjetiva).
Quando há presença de vírgula, temos uma adjetiva explicativa
(generaliza a informação da oração principal. A construção seria: “do
apagão, que atingiu pelo menos 1800 cidades em 18 estados do país”);
quando não há, temos uma adjetiva restritiva (restringe, delimita a
informação – como no caso do exercício).

RESPOSTA: “CERTO’.

7-)
(Adail et al II. Antologia brasileira de humor. Volume 1. “A carga foi desviada e a viatura, com os vigilantes, abando-
Porto Alegre: L&PM, 1976. p. 95.) nada em Pirituba, na zona norte de São Paulo.” Trata-se da figura
de linguagem (de construção ou sintaxe) “zeugma”, que consis-te
A charge anterior é de Luiz Carlos Coutinho, cartunista mi- na omissão de um termo já citado anteriormente (diferente da
neiro mais conhecido como Caulos. É correto afirmar que o tema elipse, que o termo não é citado, mas facilmente identificado). No
apresentado é enunciado temos a narração de que a carga foi desviada e de que a
(A) a oposição entre o modo de pensar e agir. viatura foi abandonada.
(B) a rapidez da comunicação na Era da Informática.
(C) a comunicação e sua importância na vida das pessoas. RESPOSTA: “D”.
(D) a massificação do pensamento na sociedade moderna. 8-)
Geralmente o efeito de humor desses gêneros textuais aparece
Resolução no desfecho da história, ao final, como nesse: “Ah, porque nós
brigamos e não estamos nos falando”.
1-)
Pela leitura do texto infere-se que os “reis e rainhas” do sécu- RESPOSTA: “D”.
lo 20 são as personalidades da mídia, os “famosos” e “famosas”.
Quanto a príncipes e princesas do século 19, esses eram da corte, 9-)
literalmente. “O senhor tem hora? (...) Não, não... Eu quero saber se o se-
nhor é paciente” = a recepcionista quer saber se ele marcou horário
RESPOSTA: “B”. e se é paciente do Dr. Pedro.

2-) RESPOSTA: “E”.


Pela leitura do poema identifica-se, apenas, a informação con-
tida na alternativa: revelar segredos para o amigo pode ser arris- 10-)
cado. Utilizando trechos do próprio texto, podemos chegar à con-
clusão: O fenômeno da liderança só ocorre na inter-relação; en-volve
RESPOSTA: “D”. duas ou mais pessoas e a existência de necessidades para serem
atendidas ou objetivos para serem alcançados, que requerem a
3-) interação cooperativa dos membros envolvidos = equipe
Pela leitura do texto percebe-se, claramente, que a autora narra
um momento simples, mas que é prazeroso ao casal. RESPOSTA: “C”.

RESPOSTA: “D”. 11-)


4-) O texto deixa claro que a importância do líder baseia-se na
Com palavras do próprio texto responderemos: o mundo cabe valorização de todo o grupo em torno da realização de um objetivo
numa fresta. comum.

RESPOSTA: “A”. RESPOSTA: “A”.

5-) 12-)
Vamos ao texto: O riso é tão universal como a seriedade; ele Pela leitura do texto, dentre as alternativas apresentadas, a que
abarca a totalidade do universo (...). Os termos relacionam-se. O está coerente com o sentido dado à palavra “inter-relação” é: “a
pronome “ele” retoma o sujeito “riso”. criação de interesses mútuos entre membros de uma equipe e de
respeito às metas que devem ser alcançadas por todos”.
RESPOSTA: “CERTO”.
RESPOSTA: “D”.

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PORTUGUÊS
13-) Texto Descritivo - um texto em que se faz um retrato por es-
Não pressupõe proximidade física ou temporal = o aprendi- crito de um lugar, uma pessoa, um animal ou um objeto. A classe
zado da liderança pode ser produtivo, mesmo se houver distância de palavras mais utilizada nessa produção é o adjetivo, pela sua
no tempo e no espaço entre aquele que influencia e aquele que é função caracterizadora. Numa abordagem mais abstrata, pode-se
influenciado. até descrever sensações ou sentimentos. Não há relação de anterio-
ridade e posterioridade. É fazer uma descrição minuciosa do obje-
RESPOSTA: “C”. to ou da personagem a que o texto refere. Nessa espécie textual as
coisas acontecem ao mesmo tempo.
14-) - expõe características dos seres ou das coisas, apresenta uma
Em todas as alternativas há expressões que representam a opi- visão;
nião do autor: Assisti ao maior espetáculo da Terra / Não se pode - é um tipo de texto figurativo;
esquecer / gesto humanitário que só enobrece / demonstrando co- - retrato de pessoas, ambientes, objetos;
ragem e desprendimento. - predomínio de atributos;
- uso de verbos de ligação;
RESPOSTA: “B”. - frequente emprego de metáforas, comparações e outras
figuras de linguagem;
15-)
“pensando nas suas estradas – barreiras, pedras soltas, fissuras - tem como resultado a imagem física ou psicológica.
– sem falar em bandidos, milhões de bandidos entre as fissuras, as
Texto Dissertativo - a dissertação é um texto que analisa, in-
pedras soltas e as barreiras...” = pensar nessas coisas, certamente,
terpreta, explica e avalia dados da realidade. Esse tipo textual re-quer
deixa-os apreensivos.
reflexão, pois as opiniões sobre os fatos e a postura crítica em relação
RESPOSTA: “C”. ao que se discute têm grande importância. O texto disserta-tivo é
16-) temático, pois trata de análises e interpretações; o tempo ex-plorado é
Eu vou para a Ilha do Nanja para sair daqui = resposta da o presente no seu valor atemporal; é constituído por uma introdução
própria autora! onde o assunto a ser discutido é apresentado, seguido por uma
argumentação que caracteriza o ponto de vista do autor sobre o assunto
RESPOSTA: “B”. em evidência. Nesse tipo de texto a expressão das ideias, valores,
crenças são claras, evidentes, pois é um tipo de texto que propõe a
17-) reflexão, o debate de ideias. A linguagem ex-plorada é a denotativa,
Pela descrição realizada, o lugar não tem nada de ruim. embora o uso da conotação possa marcar um estilo pessoal. A
objetividade é um fator importante, pois dá ao texto um valor
RESPOSTA: “D”. universal, por isso geralmente o enunciador não aparece porque o mais
importante é o assunto em questão e não quem fala dele. A ausência
18-) do emissor é importante para que a ideia defendida torne algo
Questão que envolve interpretação “visual”! Fácil. Basta ob- partilhado entre muitas pessoas, sendo admitido o emprego da 1ª
servar o que as personagens “dizem” e o que “pensam”. pessoa do plural - nós, pois esse não descaracteriza o discurso
dissertativo.
RESPOSTA: “A”. - expõe um tema, explica, avalia, classifica, analisa;
- é um tipo de texto argumentativo.
TIPOLOGIA TEXTUAL - defesa de um argumento: apresentação de uma tese que será
defendida; desenvolvimento ou argumentação; fechamento;
Tipo textual é a forma como um texto se apresenta. As únicas
- predomínio da linguagem objetiva;
tipologias existentes são: narração, descrição, dissertação ou ex- - prevalece a denotação.
posição, informação e injunção. É importante que não se confun-
da tipo textual com gênero textual. Texto Argumentativo - esse texto tem a função de persuadir o
Texto Narrativo - tipo textual em que se conta fatos que ocor- leitor, convencendo-o de aceitar uma ideia imposta pelo texto. É o
reram num determinado tempo e lugar, envolvendo personagens e tipo textual mais presente em manifestos e cartas abertas, e quando
um narrador. Refere-se a objeto do mundo real ou fictício. Possui também mostra fatos para embasar a argumentação, se torna um
uma relação de anterioridade e posterioridade. O tempo verbal pre- texto dissertativo-argumentativo.
dominante é o passado.
- expõe um fato, relaciona mudanças de situação, aponta an- Texto Injuntivo/Instrucional - indica como realizar uma
tes, durante e depois dos acontecimentos (geralmente); ação. Também é utilizado para predizer acontecimentos e com-
- é um tipo de texto sequencial; portamentos. Utiliza linguagem objetiva e simples. Os verbos são,
- relato de fatos; na sua maioria, empregados no modo imperativo, porém nota-se
- presença de narrador, personagens, enredo, cenário, tempo; também o uso do infinitivo e o uso do futuro do presente do modo
- apresentação de um conflito; indicativo. Ex: Previsões do tempo, receitas culinárias, manuais,
- uso de verbos de ação; leis, bula de remédio, convenções, regras e eventos.
- geralmente, é mesclada de descrições;
- o diálogo direto é frequente.

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PORTUGUÊS
Narração - Espaço: local da ação. Pode ser físico ou psicológico.
- Tempo: época em que se passa a ação. Cronológico: o tem-
A Narração é um tipo de texto que relata uma história real, po convencional (horas, dias, meses); Psicológico: o tempo inte-
fictícia ou mescla dados reais e imaginários. O texto narrativo rior, subjetivo.
apresenta personagens que atuam em um tempo e em um espaço,
organizados por uma narração feita por um narrador. É uma série Elementos Estruturais (II):
de fatos situados em um espaço e no tempo, tendo mudança de um
estado para outro, segundo relações de sequencialidade e causali- Personagens - Quem? Protagonista/Antagonista
dade, e não simultâneos como na descrição. Expressa as relações Acontecimento - O quê? Fato Tempo - Quando?
entre os indivíduos, os conflitos e as ligações afetivas entre esses Época em que ocorreu o fato Espaço - Onde?
indivíduos e o mundo, utilizando situações que contêm essa vi- Lugar onde ocorreu o fato Modo - Como? De
vência. que forma ocorreu o fato Causa - Por quê?
Todas as vezes que uma história é contada (é narrada), o narra- Motivo pelo qual ocorreu o fato Resultado -
dor acaba sempre contando onde, quando, como e com quem ocor-reu previsível ou imprevisível. Final - Fechado ou
o episódio. É por isso que numa narração predomina a ação: o texto Aberto.
narrativo é um conjunto de ações; assim sendo, a maioria dos verbos
que compõem esse tipo de texto são os verbos de ação. O conjunto de Esses elementos estruturais combinam-se e articulam-se de tal
ações que compõem o texto narrativo, ou seja, a his-tória que é contada forma, que não é possível compreendê-los isoladamente, como
nesse tipo de texto recebe o nome de enredo. simples exemplos de uma narração. Há uma relação de implica-
As ações contidas no texto narrativo são praticadas pelas per- ção mútua entre eles, para garantir coerência e verossimilhança
sonagens, que são justamente as pessoas envolvidas no episódio que à história narrada. Quanto aos elementos da narrativa, esses não
está sendo contado. As personagens são identificadas (nomea-das) no estão, obrigatoriamente sempre presentes no discurso, exceto as
texto narrativo pelos substantivos próprios. personagens ou o fato a ser narrado.
Quando o narrador conta um episódio, às vezes (mesmo sem
querer) ele acaba contando “onde” (em que lugar) as ações do Exemplo:
enredo foram realizadas pelas personagens. O lugar onde ocorre
uma ação ou ações é chamado de espaço, representado no texto Porquinho-da-índia
pelos advérbios de lugar.
Além de contar onde, o narrador também pode esclarecer Quando eu tinha seis anos
“quando” ocorreram as ações da história. Esse elemento da narra- Ganhei um porquinho-da-índía.
tiva é o tempo, representado no texto narrativo através dos tempos Que dor de coração me dava
verbais, mas principalmente pelos advérbios de tempo. É o tempo Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
que ordena as ações no texto narrativo: é ele que indica ao leitor Levava ele pra sala
“como” o fato narrado aconteceu. Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
A história contada, por isso, passa por uma introdução (parte Ele não gostava:
inicial da história, também chamada de prólogo), pelo desenvolvi- Queria era estar debaixo do fogão.
mento do enredo (é a história propriamente dita, o meio, o “miolo” da Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...
narrativa, também chamada de trama) e termina com a conclu-são da - O meu porquinho-da-índia foi a minha primeira namorada.
história (é o final ou epílogo). Aquele que conta a história
é o narrador, que pode ser pessoal (narra em 1ª pessoa: Eu...) ou Manuel Bandeira. Estrela da vida inteira. 4ª ed.
impessoal (narra em 3ª pessoa: Ele...). Rio de Janeiro, José Olympio, 1973, pág. 110.
Assim, o texto narrativo é sempre estruturado por verbos de
ação, por advérbios de tempo, por advérbios de lugar e pelos subs- Observe que, no texto acima, há um conjunto de transforma-
tantivos que nomeiam as personagens, que são os agentes do texto, ções de situação: ganhar um porquinho-da-índia é passar da situa-
ou seja, aquelas pessoas que fazem as ações expressas pelos ver- ção de não ter o animalzinho para a de tê-lo; levá-lo para a sala ou
bos, formando uma rede: a própria história contada. para outros lugares é passar da situação de ele estar debaixo do
Tudo na narrativa depende do narrador, da voz que conta a fogão para a de estar em outros lugares; ele não gostava: “queria
história. era estar debaixo do fogão” implica a volta à situação anterior;
“não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas” dá a entender
Elementos Estruturais (I): que o menino passava de uma situação de não ser terno com o
animalzinho para uma situação de ser; no último verso tem-se a
- Enredo: desenrolar dos acontecimentos. passagem da situação de não ter namorada para a de ter.
- Personagens: são seres que se movimentam, se relacionam e Verifica-se, pois, que nesse texto há um grande conjunto de
dão lugar à trama que se estabelece na ação. Revelam-se por meio de mudanças de situação. É isso que define o que se chama o compo-
características físicas ou psicológicas. Os personagens podem ser nente narrativo do texto, ou seja, narrativa é uma mudança de es-tado
lineares (previsíveis), complexos, tipos sociais (trabalhador, pela ação de alguma personagem, é uma transformação de si-tuação.
estudante, burguês etc.) ou tipos humanos (o medroso, o tímido, o Mesmo que essa personagem não apareça no texto, ela está
avarento etc.), heróis ou anti-heróis, protagonistas ou antagonistas. logicamente implícita. Assim, por exemplo, se o menino ganhou um
- Narrador: é quem conta a história. porquinho-da-índia, é porque alguém lhe deu o animalzinho.

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PORTUGUÊS
Assim, há basicamente, dois tipos de mudança: aquele em que al- “Batia nos noventa anos o corpo magro, mas sempre teso do
guém recebe alguma coisa (o menino passou a ter o porquinho-da Jango Jorge, um que foi capitão duma maloca de contrabandista
índia) e aquele alguém perde alguma coisa (o porquinho perdia, a que fez cancha nos banhados do Ibirocaí.
cada vez que o menino o levava para outro lugar, o espaço confor- Esse gaúcho desabotinado levou a existência inteira a cruzar
tável de debaixo do fogão). Assim, temos dois tipos de narrativas: os campos da fronteira; à luz do Sol, no desmaiado da Lua, na
de aquisição e de privação. escuridão das noites, na cerração das madrugadas...; ainda que
chovesse reiúnos acolherados ou que ventasse como por alma de
Existem três tipos de foco narrativo: padre, nunca errou vau, nunca perdeu atalho, nunca desandou cru-
zada!...
- Narrador-personagem: é aquele que conta a história na (...)
qual é participante. Nesse caso ele é narrador e personagem ao Aqui há poucos – coitado! – pousei no arranchamento dele.
mesmo tempo, a história é contada em 1ª pessoa. Casado ou doutro jeito, afamilhado. Não no víamos desde muito
- Narrador-observador: é aquele que conta a história como tempo. (...)
alguém que observa tudo que acontece e transmite ao leitor, a his- Fiquei verdeando, à espera, e fui dando um ajutório na matan-
tória é contada em 3ª pessoa. ça dos leitões e no tiramento dos assados com couro.
- Narrador-onisciente: é o que sabe tudo sobre o enredo e as (J. Simões Lopes Neto – Contrabandista)
personagens, revelando seus pensamentos e sentimentos íntimos.
Narra em 3ª pessoa e sua voz, muitas vezes, aparece misturada com - Em 3ª pessoa:
pensamentos dos personagens (discurso indireto livre).
Onisciente: não há um eu que conta; é uma terceira pessoa.
Estrutura: Exemplo:

- Apresentação: é a parte do texto em que são apresentados “Devia andar lá pelos cinco anos e meio quando a fantasiaram
alguns personagens e expostas algumas circunstâncias da história, de borboleta. Por isso não pôde defender-se. E saiu à rua com ar
como o momento e o lugar onde a ação se desenvolverá. menos carnavalesco deste mundo, morrendo de vergonha da malha
- Complicação: é a parte do texto em que se inicia propria- de cetim, das asas e das antenas e, mais ainda, da cara à mostra,
mente a ação. Encadeados, os episódios se sucedem, conduzindo sem máscara piedosa para disfarçar o sentimento impreciso de ri-
ao clímax. dículo.”
- Clímax: é o ponto da narrativa em que a ação atinge seu (Ilka Laurito. Sal do Lírico)
momento crítico, tornando o desfecho inevitável.
- Desfecho: é a solução do conflito produzido pelas ações Narrador Objetivo: não se envolve, conta a história como
dos personagens. sendo vista por uma câmara ou filmadora. Exemplo:

Tipos de Personagens: Festa

Os personagens têm muita importância na construção de um Atrás do balcão, o rapaz de cabeça pelada e avental olha o
texto narrativo, são elementos vitais. Podem ser principais ou se- crioulão de roupa limpa e remendada, acompanhado de dois meni-
cundários, conforme o papel que desempenham no enredo, po- nos de tênis branco, um mais velho e outro mais novo, mas ambos
dem ser apresentados direta ou indiretamente. com menos de dez anos.
A apresentação direta acontece quando o personagem aparece Os três atravessam o salão, cuidadosamente, mas resoluta-
de forma clara no texto, retratando suas características físicas e/ou mente, e se dirigem para o cômodo dos fundos, onde há seis mesas
psicológicas, já a apresentação indireta se dá quando os persona- desertas.
gens aparecem aos poucos e o leitor vai construindo a sua imagem O rapaz de cabeça pelada vai ver o que eles querem. O ho-
com o desenrolar do enredo, ou seja, a partir de suas ações, do que mem pergunta em quanto fica uma cerveja, dois guaranás e dois
ela vai fazendo e do modo como vai fazendo. pãezinhos.
__ Duzentos e vinte.
- Em 1ª pessoa: O preto concentra-se, aritmético, e confirma o pedido.
__Que tal o pão com molho? – sugere o rapaz.
Personagem Principal: há um “eu” participante que conta a __ Como?
história e é o protagonista. Exemplo: __ Passar o pão no molho da almôndega. Fica muito mais gos-
toso.
“Parei na varanda, ia tonto, atordoado, as pernas bambas, o O homem olha para os meninos.
coração parecendo querer sair-me pela boca fora. Não me atrevia __ O preço é o mesmo – informa o rapaz.
a descer à chácara, e passar ao quintal vizinho. Comecei a andar de __ Está certo.
um lado para outro, estacando para amparar-me, e andava outra Os três sentam-se numa das mesas, de forma canhestra, como
vez e estacava.” se o estivessem fazendo pela primeira vez na vida.
(Machado de Assis. Dom Casmurro) O rapaz de cabeça pelada traz as bebidas e os copos e, em se-
guida, num pratinho, os dois pães com meia almôndega cada um.
Observador: é como se dissesse: É verdade, pode acreditar, O homem e (mais do que ele) os meninos olham para dentro dos
eu estava lá e vi. Exemplo: pães, enquanto o rapaz cúmplice se retira.

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PORTUGUÊS
Os meninos aguardam que a mão adulta leve solene o copo de Andando. Paraná mandara-lhe não ficar observando as vitri-
cerveja até a boca, depois cada um prova o seu guaraná e morde o nes, os prédios, as coisas. Como fazia nos dias comuns. Ia firme e
primeiro bocado do pão. esforçando-se para não pensar em nada, nem olhar muito para
O homem toma a cerveja em pequenos goles, observando cri- nada.
teriosamente o menino mais velho e o menino mais novo absorvi- __ Olho vivo – como dizia Paraná.
dos com o sanduíche e a bebida. Devagar, muita atenção nos autos, na travessia das ruas. Ele ia
Eles não têm pressa. O grande homem e seus dois meninos. E pelas beiradas. Quando em quando, assomava um guarda nas
permanecem para sempre, humanos e indestrutíveis, sentados esquinas. O seu coraçãozinho se apertava.
naquela mesa. Na estação da Sorocabana perguntou as horas a uma mulher.
(Wander Piroli) Sempre ficam mulheres vagabundeando por ali, à noite. Pelo jar-
dim, pelos escuros da Alameda Cleveland. Ela lhe deu, ele seguiu.
Tipos de Discurso: Ignorava a exatidão de seus cálculos, mas provavelmente faltava
mais ou menos uma hora para chegar em casa. Os bondes passa-
Discurso Direto: o narrador passa a palavra diretamente para vam.
o personagem, sem a sua interferência. Exemplo: (João Antônio – Malagueta, Perus e Bacanaço) Discurso
Indireto-Livre: ocorre uma fusão entre a fala do per-sonagem e a
Caso de Desquite fala do narrador. É um recurso relativamente recente.
Surgiu com romancistas inovadores do século XX. Exemplo:
__ Vexame de incomodar o doutor (a mão trêmula na boca).
Veja, doutor, este velho caducando. Bisavô, um neto casado. A Morte da Porta-Estandarte
Agora com mania de mulher. Todo velho é sem-vergonha.
__ Dobre a língua, mulher. O hominho é muito bom. Só não Que ninguém o incomode agora. Larguem os seus braços.
me pise, fico uma jararaca. Rosinha está dormindo. Não acordem Rosinha. Não é preciso se-
__ Se quer sair de casa, doutor, pague uma pensão. gurá-lo, que ele não está bêbado... O céu baixou, se abriu... Esse
__ Essa aí tem filho emancipado. Criei um por um, está bom? temporal assim é bom, porque Rosinha não sai. Tenham paciên-
Ela não contribuiu com nada, doutor. Só deu de mamar no primei- cia... Largar Rosinha ali, ele não larga não... Não! E esses tambo-
ro mês. res? Ui! Que venham... É guerra... ele vai se espalhar... Por que não
__Você desempregado, quem é que fazia roça? está malhando em sua cabeça?... (...) Ele vai tirar Rosinha da
__ Isso naquele tempo. O hominho aqui se espalhava. Fui jo- cama... Ele está dormindo, Rosinha... Fugir com ela, para o fundo
gado na estrada, doutor. Desde onze anos estou no mundo sem do País... Abraçá-la no alto de uma colina...
ninguém por mim. O céu lá em cima, noite e dia o hominho aqui (Aníbal Machado)
na carroça. Sempre o mais sacrificado, está bom?
__ Se ficar doente, Severino, quem é que o atende?
Sequência Narrativa:
__ O doutor já viu urubu comer defunto? Ninguém morre só.
Sempre tem um cristão que enterra o pobre.
Uma narrativa não tem uma única mudança, mas várias: uma
__ Na sua idade, sem os cuidados de uma mulher...
coordena-se a outra, uma implica a outra, uma subordina-se a ou-
__ Eu arranjo.
tra.
__ Só a troco de dinheiro elas querem você. Agora tem dois
cavalos. A carroça e os dois cavalos, o que há de melhor. Vai me A narrativa típica tem quatro mudanças de situação:
deixar sem nada? - uma em que uma personagem passa a ter um querer ou um
__ Você tinha amula e a potranca. A mula vendeu e a potranca, dever (um desejo ou uma necessidade de fazer algo);
deixou morrer. Tenho culpa? Só quero paz, um prato de comida e - uma em que ela adquire um saber ou um poder (uma
roupa lavada. compe-tência para fazer algo);
__ Para onde foi a lavadeira? - uma em que a personagem executa aquilo que queria ou de-
__ Quem? via fazer (é a mudança principal da narrativa);
__ A mulata. - uma em que se constata que uma transformação se deu e em que
(...) se podem atribuir prêmios ou castigos às personagens (geral-mente os
(Dalton Trevisan – A guerra Conjugal) prêmios são para os bons, e os castigos, para os maus).

Discurso Indireto: o narrador conta o que o personagem diz, Toda narrativa tem essas quatro mudanças, pois elas se pres-
sem lhe passar diretamente a palavra. Exemplo: supõem logicamente. Com efeito, quando se constata a realização
de uma mudança é porque ela se verificou, e ela efetua-se porque
Frio quem a realiza pode, sabe, quer ou deve fazê-la. Tomemos, por
exemplo, o ato de comprar um apartamento: quando se assina a
O menino tinha só dez anos. escritura, realiza-se o ato de compra; para isso, é necessário poder
Quase meia hora andando. No começo pensou num bonde. (ter dinheiro) e querer ou dever comprar (respectivamente, querer
Mas lembrou-se do embrulhinho branco e bem feito que trazia, deixar de pagar aluguel ou ter necessidade de mudar, por ter sido
afastou a idéia como se estivesse fazendo uma coisa errada. (Nos despejado, por exemplo).
bondes, àquela hora da noite, poderiam roubá-lo, sem que perce-
besse; e depois?... Que é que diria a Paraná?)

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PORTUGUÊS
Algumas mudanças são necessárias para que outras se deem. Quanto à temporalidade, não há rigor na ordenação dos acon-
Assim, para apanhar uma fruta, é necessário apanhar um bambu ou tecimentos: esses podem oscilar no tempo, transgredindo o aspecto
outro instrumento para derrubá-la. Para ter um carro, é preciso linear e constituindo o que se denomina “flashback”. O narrador
antes conseguir o dinheiro. que usa essa técnica (característica comum no cinema moderno)
demonstra maior criatividade e originalidade, podendo observar as
Narrativa e Narração ações ziguezagueando no tempo e no espaço.
Existe alguma diferença entre as duas? Sim. A narratividade é um Exemplo - Personagens
componente narrativo que pode existir em textos que não são
narrações. A narrativa é a transformação de situações. Por exemplo, “Aboletado na varanda, lendo Graciliano Ramos, O Dr.
quando se diz “Depois da abolição, incentivou-se a imigração de
Amâncio não viu a mulher chegar.
europeus”, temos um texto dissertativo, que, no entanto, apresenta um
- Não quer que se carpa o quintal, moço?
componente narrativo, pois contém uma mudança de situação: do não
Estava um caco: mal vestida, cheirando a fumaça, a face es-
incentivo ao incentivo da imigração européia.
Se a narrativa está presente em quase todos os tipos de texto, calavrada. Mas os olhos... (sempre guardam alguma coisa do pas-
o que é narração? sado, os olhos).”
A narração é um tipo de narrativa. Tem ela três características: - é
um conjunto de transformações de situação (o texto de Ma-nuel (Kiefer, Charles. A dentadura postiça. Porto Alegre:
Bandeira – “Porquinho-da-índia”, como vimos, preenche essa Mer-cado Aberto, p. 5O)
condição);
- é um texto figurativo, isto é, opera com personagens e fatos Exemplo - Espaço
concretos (o texto “Porquinho-da-índia” preenche também esse re- Considerarei longamente meu pequeno deserto, a redondeza
quisito); escura e uniforme dos seixos. Seria o leito seco de algum rio. Não
- as mudanças relatadas estão organizadas de maneira tal que, havia, em todo o caso, como negar-lhe a insipidez.”
entre elas, existe sempre uma relação de anterioridade e posterio- (Linda, Ieda. As amazonas segundo tio Hermann.
ridade (no texto “Porquinho-da-índia” o fato de ganhar o animal é Porto Alegre: Movimento, 1981, p. 51)
anterior ao de ele estar debaixo do fogão, que por sua vez é anterior
ao de o menino levá-lo para a sala, que por seu turno é anterior ao Exemplo - Tempo
de o porquinho-da-índia voltar ao fogão).
“Sete da manhã. Honorato Madeira acorda e lembra-se: a
Essa relação de anterioridade e posterioridade é sempre per- mu-lher lhe pediu que a chamasse cedo.”
tinente num texto narrativo, mesmo que a sequência linear da (Veríssimo, Érico. Caminhos Cruzados. p.4)
temporalidade apareça alterada. Assim, por exemplo, no romance
machadiano Memórias póstumas de Brás Cubas, quando o narra-dor Tipologia da Narrativa Ficcional:
começa contando sua morte para em seguida relatar sua vida, a
sequência temporal foi modificada. No entanto, o leitor reconstitui, ao - Romance
longo da leitura, as relações de anterioridade e de posterioridade. - Conto
Resumindo: na narração, as três características explicadas aci- - Crônica
ma (transformação de situações, figuratividade e relações de ante- - Fábula
rioridade e posterioridade entre os episódios relatados) devem - Lenda
estar presentes conjuntamente. Um texto que tenha só uma ou duas - Parábola
des-sas características não é uma narração. - Anedota
Esquema que pode facilitar a elaboração de seu texto narrativo: - Poema Épico

- Introdução: citar o fato, o tempo e o lugar, ou seja, o que Tipologia da Narrativa Não-Ficcional:
aconteceu, quando e onde.
- Desenvolvimento: causa do fato e apresentação dos perso- - Memorialismo
nagens. - Notícias
- Desenvolvimento: detalhes do fato. - Relatos
- Conclusão: consequências do fato. - História da Civilização

Caracterização Formal: Apresentação da Narrativa:


Em geral, a narrativa se desenvolve na prosa. O aspecto nar-rativo
apresenta, até certo ponto, alguma subjetividade, porquanto a criação - visual: texto escrito; legendas + desenhos (história em qua-
e o colorido do contexto estão em função da individuali-dade e do drinhos) e desenhos.
estilo do narrador. Dependendo do enfoque do redator, a - auditiva: narrativas radiofonizadas; fitas gravadas e discos.
narração terá diversas abordagens. Assim é de grande importância - audiovisual: cinema; teatro e narrativas televisionadas.
saber se o relato é feito em primeira pessoa ou terceira pessoa. No
primeiro caso, há a participação do narrador; segundo, há uma in-
ferência do último através da onipresença e onisciência.

59
PORTUGUÊS
Descrição Evidentemente, quando se diz que a ordem dos enunciados
pode ser invertida, está-se pensando apenas na ordem cronológica,
É a representação com palavras de um objeto, lugar, situa-ção ou pois, como veremos adiante, a ordem em que os elementos são
coisa, onde procuramos mostrar os traços mais particulares ou descritos produz determinados efeitos de sentido.
individuais do que se descreve. É qualquer elemento que seja Quando alteramos a ordem dos enunciados, precisamos fazer
apreendido pelos sentidos e transformado, com palavras, em ima-gens. certas modificações no texto, pois este contém anafóricos (pala-
Sempre que se expõe com detalhes um objeto, uma pessoa ou uma vras que retomam o que foi dito antes, como ele, os, aquele, etc.
paisagem a alguém, está fazendo uso da descrição. Não é necessário ou catafóricos (palavras que anunciam o que vai ser dito, como
que seja perfeita, uma vez que o ponto de vista do ob-servador varia este, etc.), que podem perder sua função e assim não ser
de acordo com seu grau de percepção. Dessa forma, o que será compreendi-dos. Se tomarmos uma descrição como As flores
importante ser analisado para um, não será para outro. A vivência de manifestavam todo o seu esplendor. O Sol fazia-as brilhar, ao
quem descreve também influencia na hora de trans-mitir a impressão invertermos a ordem das frases, precisamos fazer algumas
alcançada sobre determinado objeto, pessoa, ani-mal, cena, ambiente, alterações, para que o texto possa ser compreendido: O Sol fazia
emoção vivida ou sentimento. as flores brilhar. Elas manifestavam todo o seu esplendor. Como,
na versão original, o pronome oblíquo as é um anafórico que
Exemplos: retoma flores, se alterar-mos a ordem das frases ele perderá o
sentido. Por isso, precisamos mudar a palavra flores para a
(I) “De longe via a aleia onde a tarde era clara e redonda. primeira frase e retomá-la com o anafórico elas na segunda.
Mas a penumbra dos ramos cobria o atalho. Por todas essas características, diz-se que o fragmento do
Ao seu redor havia ruídos serenos, cheiro de árvores, peque- conto de Machado é descritivo. Descrição é o tipo de texto em que
nas surpresas entre os cipós. Todo o jardim triturado pelos instan- se expõem características de seres concretos (pessoas, objetos,
tes já mais apressados da tarde. De onde vinha o meio sonho pelo situações, etc.) consideradas fora da relação de anterioridade e de
qual estava rodeada? Como por um zunido de abelhas e aves. Tudo posterioridade.
era estranho, suave demais, grande demais.”
(extraído de “Amor”, Laços de Família, Clarice Lispector) Características:

(II) Chamava-se Raimundo este pequeno, e era mole, aplica-do, - Ao fazer a descrição enumeramos características, compara-
inteligência tarda. Raimundo gastava duas horas em reter aqui-lo que ções e inúmeros elementos sensoriais;
a outros levava apenas trinta ou cinquenta minutos; vencia com o - As personagens podem ser caracterizadas física e psicologi-
tempo o que não podia fazer logo com o cérebro. Reunia a isso grande camente, ou pelas ações;
medo ao pai. Era uma criança fina, pálida, cara doente; raramente - A descrição pode ser considerada um dos elementos consti-
estava alegre. Entrava na escola depois do pai e retirava-se antes. O tutivos da dissertação e da argumentação;
mestre era mais severo com ele do que conosco. - É impossível separar narração de descrição;
(Machado de Assis. “Conto de escola”. Contos. 3ed. - O que se espera não é tanto a riqueza de detalhes, mas sim a
São Paulo, Ática, 1974, págs. 31-32.) capacidade de observação que deve revelar aquele que a realiza.
- Utilizam, preferencialmente, verbos de ligação. Exemplo:
Esse texto traça o perfil de Raimundo, o filho do professor da “(...) Ângela tinha cerca de vinte anos; parecia mais velha pelo
escola que o escritor frequentava. Deve-se notar: desenvolvimento das proporções. Grande, carnuda, sanguínea e
- que todas as frases expõem ocorrências simultâneas (ao fogosa, era um desses exemplares excessivos do sexo que pare-
mesmo tempo que gastava duas horas para reter aquilo que os ou- cem conformados expressamente para esposas da multidão (...)”
tros levavam trinta ou cinquenta minutos, Raimundo tinha grande (Raul Pompéia – O Ateneu)
medo ao pai); - Como na descrição o que se reproduz é simultâneo, não exis-te
- por isso, não existe uma ocorrência que possa ser conside- relação de anterioridade e posterioridade entre seus enunciados.
rada cronologicamente anterior a outra do ponto de vista do relato - Devem-se evitar os verbos e, se isso não for possível, que se
(no nível dos acontecimentos, entrar na escola é cronologicamente usem então as formas nominais, o presente e o pretério imperfeito
anterior a retirar-se dela; no nível do relato, porém, a ordem dessas do indicativo, dando-se sempre preferência aos verbos que indi-
duas ocorrências é indiferente: o que o escritor quer é explicitar quem estado ou fenômeno.
uma característica do menino, e não traçar a cronologia de suas - Todavia deve predominar o emprego das comparações, dos
ações); adjetivos e dos advérbios, que conferem colorido ao texto.
- ainda que se fale de ações (como entrava, retirava-se), todas
elas estão no pretérito imperfeito, que indica concomitância em A característica fundamental de um texto descritivo é essa
relação a um marco temporal instalado no texto (no caso, o ano de inexistência de progressão temporal. Pode-se apresentar, numa
1840, em que o escritor frequentava a escola da rua da Costa) e, descrição, até mesmo ação ou movimento, desde que eles sejam
portanto, não denota nenhuma transformação de estado; sempre simultâneos, não indicando progressão de uma situação
- se invertêssemos a sequência dos enunciados, não correría- anterior para outra posterior. Tanto é que uma das marcas linguís-
mos o risco de alterar nenhuma relação cronológica - poderíamos ticas da descrição é o predomínio de verbos no presente ou no pre-
mesmo colocar o últímo período em primeiro lugar e ler o texto do térito imperfeito do indicativo: o primeiro expressa concomitância
fim para o começo: O mestre era mais severo com ele do que em relação ao momento da fala; o segundo, em relação a um marco
conosco. Entrava na escola depois do pai e retirava-se antes... temporal pretérito instalado no texto.

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PORTUGUÊS
Para transformar uma descrição numa narração, bastaria in- - As sensações de movimento e cor embelezam o poder da
troduzir um enunciado que indicasse a passagem de um estado natureza e a figura do homem. Ex: Era um verde transparente que
anterior para um posterior. No caso do texto II inicial, para trans- deslumbrava e enlouquecia qualquer um.
formá-lo em narração, bastaria dizer: Reunia a isso grande medo - A frase curta e penetrante dá um sentido de rapidez do texto.
do pai. Mais tarde, Iibertou-se desse medo... Ex: Vida simples. Roupa simples. Tudo simples. O pessoal, muito
crente.
Características Linguísticas:
O enunciado narrativo, por ter a representação de um acon- A descrição pode ser apresentada sob duas formas:
tecimento, fazer-transformador, é marcado pela temporalidade, na
relação situação inicial e situação final, enquanto que o enunciado Descrição Objetiva: quando o objeto, o ser, a cena, a passa-
descritivo, não tendo transformação, é atemporal. gem são apresentadas como realmente são, concretamente. Exem-
Na dimensão linguística, destacam-se marcas sintático-se- plo:
mânticas encontradas no texto que vão facilitar a compreensão:
- Predominância de verbos de estado, situação ou indicadores “Sua altura é 1,85m. Seu peso, 70kg. Aparência atlética, om-
de propriedades, atitudes, qualidades, usados principalmente no bros largos, pele bronzeada. Moreno, olhos negros, cabelos ne-
presente e no imperfeito do indicativo (ser, estar, haver, situar-se, gros e lisos”.
existir, ficar).
- Ênfase na adjetivação para melhor caracterizar o que é des- Não se dá qualquer tipo de opinião ou julgamento. Exemplo:
crito;
“A casa velha era enorme, toda em largura, com porta central
Exemplo: que se alcançava por três degraus de pedra e quatro janelas de gui-
“Era alto, magro, vestido todo de preto, com o pescoço enta- lhotina para cada lado. Era feita de pau-a-pique barreado, dentro
lado num colarinho direito. O rosto aguçado no queixo ia-se alar- de uma estrutura de cantos e apoios de madeira-de-lei. Telhado de
gando até à calva, vasta e polida, um pouco amolgado no alto; quatro águas. Pintada de roxo-claro. Devia ser mais velha que Juiz
tingia os cabelos que de uma orelha à outra lhe faziam colar por de Fora, provavelmente sede de alguma fazenda que tivesse ficado,
trás da nuca - e aquele preto lustroso dava, pelo contraste, mais capricho da sorte, na linha de passagem da variante do Caminho
brilho à calva; mas não tingia o bigode; tinha-o grisalho, farto, Novo que veio a ser a Rua Principal, depois a Rua Direita – sobre
caído aos cantos da boca. Era muito pálido; nunca tirava as lunetas a qual ela se punha um pouco de esguelha e fugindo ligeiramente
escuras. Tinha uma covinha no queixo, e as orelhas grandes muito do alinhamento (...).”
despegadas do crânio.” (Pedro Nava – Baú de Ossos)
(Eça de Queiroz - O Primo Basílio)
Descrição Subjetiva: quando há maior participação da emo-
- Emprego de figuras (metáforas, metonímias, comparações, ção, ou seja, quando o objeto, o ser, a cena, a paisagem são transfi-
sinestesias). Exemplo: gurados pela emoção de quem escreve, podendo opinar ou expres-
sar seus sentimentos. Exemplo:
“Era o Sr. Lemos um velho de pequena estatura, não muito “Nas ocasiões de aparato é que se podia tomar pulso ao ho-
gordo, mas rolho e bojudo como um vaso chinês. Apesar de seu mem. Não só as condecorações gritavam-lhe no peito como uma
corpo rechonchudo, tinha certa vivacidade buliçosa e saltitante que couraça de grilos. Ateneu! Ateneu! Aristarco todo era um anún-
lhe dava petulância de rapaz e casava perfeitamente com os olhi- cio; os gestos, calmos, soberanos, calmos, eram de um rei...”
nhos de azougue.” (“O Ateneu”, Raul Pompéia)
(José de Alencar - Senhora)
“(...) Quando conheceu Joca Ramiro, então achou outra espe-
- Uso de advérbios de localização espacial. Exemplo: rança maior: para ele, Joca Ramiro era único homem, par-de-fran-
“Até os onze anos, eu morei numa casa, uma casa velha, e ça, capaz de tomar conta deste sertão nosso, mandando por lei, de
essa casa era assim: na frente, uma grade de ferro; depois você sobregoverno.”
entrava tinha um jardinzinho; no final tinha uma escadinha que (Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas)
devia ter uns cinco degraus; aí você entrava na sala da frente; dali
tinha um corredor comprido de onde saíam três portas; no final do Os efeitos de sentido criados pela disposição dos elementos
corredor tinha a cozinha, depois tinha uma escadinha que ia dar no descritivos:
quintal e atrás ainda tinha um galpão, que era o lugar da bagunça...”
(Entrevista gravada para o Projeto NURC/RJ) Como se disse anteriormente, do ponto de vista da progressão
temporal, a ordem dos enunciados na descrição é indiferente, uma
Recursos: vez que eles indicam propriedades ou características que ocorrem
- Usar impressões cromáticas (cores) e sensações térmicas. simultaneamente. No entanto, ela não é indiferente do ponto de
Ex: O dia transcorria amarelo, frio, ausente do calor alegre do sol. vista dos efeitos de sentido: descrever de cima para baixo ou vice-
- Usar o vigor e relevo de palavras fortes, próprias, exatas, versa, do detalhe para o todo ou do todo para o detalhe cria efeitos
concretas. Ex: As criaturas humanas transpareciam um céu sereno, de sentido distintos.
uma pureza de cristal. Observe os dois quartetos do soneto “Retrato Próprio”, de Bo-
cage:

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PORTUGUÊS
Magro, de olhos azuis, carão moreno, Descrição de paisagens:
bem servido de pés, meão de altura, - Introdução: comentário sobre sua localização ou qualquer
triste de facha, o mesmo de figura, outra referência de caráter geral.
nariz alto no meio, e não pequeno. - Desenvolvimento: observação do plano de fundo (explica-
ção do que se vê ao longe).
Incapaz de assistir num só terreno, - Desenvolvimento: observação dos elementos mais próximos
mais propenso ao furor do que à ternura; do observador - explicação detalhada dos elementos que compõem
bebendo em níveas mãos por taça escura de a paisagem, de acordo com determinada ordem.
zelos infernais letal veneno. - Conclusão: comentários de caráter geral, concluindo acerca
da impressão que a paisagem causa em quem a contempla.
Obras de Bocage. Porto, Lello & Irmão, 1968, pág. 497.
Descrição de pessoas (I):
O poeta descreve-se das características físicas para as caracte- - Introdução: primeira impressão ou abordagem de qualquer
rísticas morais. Se fizesse o inverso, o sentido não seria o mesmo,
aspecto de caráter geral.
pois as características físicas perderiam qualquer relevo.
- Desenvolvimento: características físicas (altura, peso, cor
O objetivo de um texto descritivo é levar o leitor a visualizar
da pele, idade, cabelos, olhos, nariz, boca, voz, roupas).
uma cena. É como traçar com palavras o retrato de um objeto,
lugar, pessoa etc., apontando suas características exteriores, facil- - Desenvolvimento: características psicológicas (personali-
mente identificáveis (descrição objetiva), ou suas características dade, temperamento, caráter, preferências, inclinações, postura,
psicológicas e até emocionais (descrição subjetiva). objetivos).
Uma descrição deve privilegiar o uso frequente de adjetivos, - Conclusão: retomada de qualquer outro aspecto de caráter
também denominado adjetivação. Para facilitar o aprendizado des- geral.
ta técnica, sugere-se que o concursando, após escrever seu texto,
sublinhe todos os substantivos, acrescentando antes ou depois des- Descrição de pessoas (II):
te um adjetivo ou uma locução adjetiva. - Introdução: primeira impressão ou abordagem de qualquer
aspecto de caráter geral.
Descrição de objetos constituídos de uma só parte: - Desenvolvimento: análise das características físicas, asso-
ciadas às características psicológicas (1ª parte).
- Introdução: observações de caráter geral referentes à proce- - Desenvolvimento: análise das características físicas, asso-
dência ou localização do objeto descrito. ciadas às características psicológicas (2ª parte).
- Desenvolvimento: detalhes (lª parte) - formato (comparação - Conclusão: retomada de qualquer outro aspecto de caráter
com figuras geométricas e com objetos semelhantes); dimensões geral.
(largura, comprimento, altura, diâmetro etc.)
- Desenvolvimento: detalhes (2ª parte) - material, peso, cor/ A descrição, ao contrário da narrativa, não supõe ação. É uma
brilho, textura. estrutura pictórica, em que os aspectos sensoriais predominam. Porque
- Conclusão: observações de caráter geral referentes a sua uti- toda técnica descritiva implica contemplação e apreen-são de algo
lidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto como objetivo ou subjetivo, o redator, ao descrever, precisa possuir certo
um todo. grau de sensibilidade. Assim como o pintor capta o mundo exterior ou
Descrição de objetos constituídos por várias partes:
interior em suas telas, o autor de uma descrição focaliza cenas ou
- Introdução: observações de caráter geral referentes à proce-
dência ou localização do objeto descrito. imagens, conforme o permita sua sensibilidade.
- Desenvolvimento: enumeração e rápidos comentários das
Conforme o objetivo a alcançar, a descrição pode ser não-li-
partes que compõem o objeto, associados à explicação de como as
partes se agrupam para formar o todo. terária ou literária. Na descrição não-literária, há maior preocu-
- Desenvolvimento: detalhes do objeto visto como um todo pação com a exatidão dos detalhes e a precisão vocabular. Por ser
(externamente) - formato, dimensões, material, peso, textura, cor e objetiva, há predominância da denotação.
brilho.
- Conclusão: observações de caráter geral referentes a sua uti- Textos descritivos não-literários: A descrição técnica é um
lidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto em sua tipo de descrição objetiva: ela recria o objeto usando uma lingua-
totalidade. gem científica, precisa. Esse tipo de texto é usado para descrever
aparelhos, o seu funcionamento, as peças que os compõem, para
Descrição de ambientes: descrever experiências, processos, etc. Exemplo:
- Introdução: comentário de caráter geral.
- Desenvolvimento: detalhes referentes à estrutura global do Folheto de propaganda de carro
ambiente: paredes, janelas, portas, chão, teto, luminosidade e aro-
ma (se houver). Conforto interno - É impossível falar de conforto sem incluir
- Desenvolvimento: detalhes específicos em relação a obje- o espaço interno. Os seus interiores são amplos, acomodando tran-
tos lá existentes: móveis, eletrodomésticos, quadros, esculturas ou quilamente passageiros e bagagens. O Passat e o Passat Variant
quaisquer outros objetos. possuem direção hidráulica e ar condicionado de elevada capaci-
- Conclusão: observações sobre a atmosfera que paira no am- dade, proporcionando a climatização perfeita do ambiente.
biente.

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PORTUGUÊS
Porta-malas - O compartimento de bagagens possui capacida- Características:
de de 465 litros, que pode ser ampliada para até 1500 litros, com o
encosto do banco traseiro rebaixado. - ao contrário do texto narrativo e do descritivo, ele é temático;
Tanque - O tanque de combustível é confeccionado em plás- - como o texto narrativo, ele mostra mudanças de situação;
tico reciclável e posicionado entre as rodas traseiras, para evitar a - ao contrário do texto narrativo, nele as relações de anteriori-
deformação em caso de colisão. dade e de posterioridade dos enunciados não têm maior importân-cia
- o que importa são suas relações lógicas: analogia, pertinência,
Textos descritivos literários: Na descrição literária predo- causalidade, coexistência, correspondência, implicação, etc.
mina o aspecto subjetivo, com ênfase no conjunto de associações - a estética e a gramática são comuns a todos os tipos de reda-
conotativas que podem ser exploradas a partir de descrições de ção. Já a estrutura, o conteúdo e a estilística possuem característi-
pessoas; cenários, paisagens, espaço; ambientes; situações e coi- cas próprias a cada tipo de texto.
sas. Vale lembrar que textos descritivos também podem ocorrer
tanto em prosa como em verso. São partes da dissertação: Introdução / Desenvolvimento /
Conclusão.
Dissertação
Introdução: em que se apresenta o assunto; se apresenta a
A dissertação é uma exposição, discussão ou interpretação de ideia principal, sem, no entanto, antecipar seu desenvolvimento.
uma determinada ideia. É, sobretudo, analisar algum tema. Pres- Tipos:
supõe um exame crítico do assunto, lógica, raciocínio, clareza,
coerência, objetividade na exposição, um planejamento de traba- - Divisão: quando há dois ou mais termos a serem discutidos.
lho e uma habilidade de expressão. É em função da capacidade Ex: “Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que
crítica que se questionam pontos da realidade social, histórica e olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro...”
psicológica do mundo e dos semelhantes. Vemos também, que a - Alusão Histórica: um fato passado que se relaciona a um fato
dissertação no seu significado diz respeito a um tipo de texto em presente. Ex: “A crise econômica que teve início no começo dos anos
que a exposição de uma ideia, através de argumentos, é feita com 80, com os conhecidos altos índices de inflação que a dé-cada
a finalidade de desenvolver um conteúdo científico, doutrinário ou colecionou, agravou vários dos históricos problemas sociais do país.
artístico. Exemplo: Entre eles, a violência, principalmente a urbana, cuja es-calada tem
sido facilmente identificada pela população brasileira.”
Há três métodos pelos quais pode um homem chegar a ser pri- - Proposição: o autor explicita seus objetivos.
meiro-ministro. O primeiro é saber, com prudência, como servir-se de - Convite: proposta ao leitor para que participe de alguma coisa
uma pessoa, de uma filha ou de uma irmã; o segundo, como trair ou apresentada no texto. Ex: Você quer estar “na sua”? Quer se sentir
solapar os predecessores; e o terceiro, como clamar, com zelo furioso, seguro, ter o sucesso pretendido? Não entre pelo cano! Faça parte
contra a corrupção da corte. Mas um príncipe discreto prefere nomear desse time de vencedores desde a escolha desse momento!
os que se valem do último desses métodos, pois os tais fanáticos - Contestação: contestar uma idéia ou uma situação. Ex: “É
sempre se revelam os mais obsequiosos e sub-servientes à vontade e importante que o cidadão saiba que portar arma de fogo não é a
às paixões do amo. Tendo à sua disposição todos os cargos, solução no combate à insegurança.”
conservam-se no poder esses ministros subordi-nando a maioria do - Características: caracterização de espaços ou aspectos.
senado, ou grande conselho, e, afinal, por via de um expediente - Estatísticas: apresentação de dados estatísticos. Ex: “Em
chamado anistia (cuja natureza lhe expliquei), garantem-se contra 1982, eram 15,8 milhões os domicílios brasileiros com televisores.
futuras prestações de contas e retiram-se da vida pública carregados Hoje, são 34 milhões (o sexto maior parque de aparelhos recepto-
com os despojos da nação. res instalados do mundo). Ao todo, existem no país 257 emisso-ras
Jonathan Swift. Viagens de Gulliver. (aquelas capazes de gerar programas) e 2.624 repetidoras (que
São Paulo, Abril Cultural, 1979, p. 234-235. apenas retransmitem sinais recebidos). (...)”
- Declaração Inicial: emitir um conceito sobre um fato.
Esse texto explica os três métodos pelos quais um homem - Citação: opinião de alguém de destaque sobre o assunto do
chega a ser primeiro-ministro, aconselha o príncipe discreto a es- texto. Ex: “A principal característica do déspota encontra-se no
colhê-lo entre os que clamam contra a corrupção na corte e justifi- fato de ser ele o autor único e exclusivo das normas e das regras
ca esse conselho. Observe-se que: que definem a vida familiar, isto é, o espaço privado. Seu poder,
- o texto é temático, pois analisa e interpreta a realidade com escreve Aristóteles, é arbitrário, pois decorre exclusivamente de
conceitos abstratos e genéricos (não se fala de um homem par- sua vontade, de seu prazer e de suas necessidades.”
ticular e do que faz para chegar a ser primeiro-ministro, mas do - Definição: desenvolve-se pela explicação dos termos que
homem em geral e de todos os métodos para atingir o poder); compõem o texto.
- existe mudança de situação no texto (por exemplo, a mu- - Interrogação: questionamento. Ex: “Volta e meia se faz a
dança de atitude dos que clamam contra a corrupção da corte no pergunta de praxe: afinal de contas, todo esse entusiasmo pelo fu-
momento em que se tornam primeiros-ministros); tebol não é uma prova de alienação?”
- a progressão temporal dos enunciados não tem importân-cia, - Suspense: alguma informação que faça aumentar a curiosi-
pois o que importa é a relação de implicação (clamar contra a dade do leitor.
corrupção da corte implica ser corrupto depois da nomeação para - Comparação: social e geográfica.
primeiro-ministro).

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PORTUGUÊS
- Enumeração: enumerar as informações. Ex: “Ação à dis- Não é uma utopia?!
tância, velocidade, comunicação, linha de montagem, triunfo das Um exemplo vivo são os bóias-frias que trabalham na colheita da
massas, Holocausto: através das metáforas e das realidades que cana de açúcar que devido ao avanço tecnológico e a lei do go-
marcaram esses 100 últimos anos, aparece a verdadeira doença do vernador Geraldo Alkmin, defendendo o meio ambiente, proibindo a
século...” queima da cana de açúcar para a colheita e substituindo-os então pelas
- Narração: narrar um fato. máquinas, desemprega milhares deles. (D)
Em troca os sindicatos dos trabalhadores rurais dão cursos de
Desenvolvimento: é a argumentação da ideia inicial, de forma cabeleleiro, marcenaria, eletricista, para não perderem o mercado de
organizada e progressiva. É a parte maior e mais importante do trabalho, aumentando, com isso, a classe de trabalhos informais.
texto. Podem ser desenvolvidos de várias formas: Como ficam então aqueles trabalhadores que passaram à vida
estudando, se especializando, para se diferenciarem e ainda estão
- Trajetória Histórica: cultura geral é o que se prova com desempregados?, como vimos no último concurso da prefeitura do Rio
este tipo de abordagem. de Janeiro para “gari”, havia até advogado na fila de inscrição.
- Definição: não basta citar, mas é preciso desdobrar a idéia (E)
principal ao máximo, esclarecendo o conceito ou a definição. Já que a Constituição dita seu valor ao social que todos têm o
- Comparação: estabelecer analogias, confrontar situações direito de trabalho, cabe aos governantes desse país, que almeja
distintas. um futuro brilhante, deter, com urgência esse processo de desní-
- Bilateralidade: quando o tema proposto apresenta pontos veis gritantes e criar soluções eficazes para combater a crise gene-
favoráveis e desfavoráveis. ralizada (F), pois a uma nação doente, miserável e desigual, não
- Ilustração Narrativa ou Descritiva: narrar um fato ou compete a tão sonhada modernidade. (G)
des-crever uma cena.
- Cifras e Dados Estatísticos: citar cifras e dados estatísticos. 1º Parágrafo – Introdução
- Hipótese: antecipa uma previsão, apontando para prováveis
resultados. A. Tema: Desemprego no Brasil.
- Interrogação: Toda sucessão de interrogações deve apre- Contextualização: decorrência de um processo histórico pro-
sentar questionamento e reflexão. blemático.
- Refutação: questiona-se praticamente tudo: conceitos, va-
lores, juízos. 2º ao 6º Parágrafo – Desenvolvimento
- Causa e Consequência: estruturar o texto através dos por-
quês de uma determinada situação. B. Argumento 1: Exploram-se dados da realidade que reme-
- Oposição: abordar um assunto de forma dialética. tem a uma análise do tema em questão.
- Exemplificação: dar exemplos. C. Argumento 2: Considerações a respeito de outro dado da
realidade.
Conclusão: é uma avaliação final do assunto, um fechamento D. Argumento 3: Coloca-se sob suspeita a sinceridade de
integrado de tudo que se argumentou. Para ela convergem todas as quem propõe soluções.
ideias anteriormente desenvolvidas. E. Argumento 4: Uso do raciocínio lógico de oposição.

- Conclusão Fechada: recupera a ideia da tese. 7º Parágrafo: Conclusão


- Conclusão Aberta: levanta uma hipótese, projeta um pen- F. Uma possível solução é apresentada.
samento ou faz uma proposta, incentivando a reflexão de quem lê. G. O texto conclui que desigualdade não se casa com moder-
nidade.
Exemplo:
É bom lembrarmos que é praticamente impossível opinar
Direito de Trabalho sobre o que não se conhece. A leitura de bons textos é um dos
recursos que permite uma segurança maior no momento de dis-
Com a queda do feudalismo no século XV, nasce um novo sertar sobre algum assunto. Debater e pesquisar são atitudes que
modelo econômico: o capitalismo, que até o século XX agia por favorecem o senso crítico, essencial no desenvolvimento de um
meio da inclusão de trabalhadores e hoje passou a agir por meio da texto dissertativo.
exclusão. (A)
A tendência do mundo contemporâneo é tornar todo o traba- Ainda temos:
lho automático, devido à evolução tecnológica e a necessidade de
qualificação cada vez maior, o que provoca o desemprego. Outro Tema: compreende o assunto proposto para discussão, o as-
fator que também leva ao desemprego de um sem número de tra- sunto que vai ser abordado.
balhadores é a contenção de despesas, de gastos. (B) Título: palavra ou expressão que sintetiza o conteúdo discu-
Segundo a Constituição, “preocupada” com essa crise social tido.
que provém dessa automatização e qualificação, obriga que seja Argumentação: é um conjunto de procedimentos linguísticos
feita uma lei, em que será dada absoluta garantia aos trabalhado- com os quais a pessoa que escreve sustenta suas opiniões, de forma a
res, de que, mesmo que as empresas sejam automatizadas, não per- torná-las aceitáveis pelo leitor. É fornecer argumentos, ou seja, razões
derão eles seu mercado de trabalho. (C) a favor ou contra uma determinada tese.

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PORTUGUÊS
Estes assuntos serão vistos com mais afinco posteriormente. 3-
- A Santa Missa em seu lar.
Alguns pontos essenciais desse tipo de texto são: - Terço Bizantino.
- Despertar da Fé.
- toda dissertação é uma demonstração, daí a necessidade de - Palavra de Vida.
pleno domínio do assunto e habilidade de argumentação; - Igreja da Graça no Lar.
- em consequência disso, impõem-se à fidelidade ao tema;
- a coerência é tida como regra de ouro da dissertação; 4-
- impõem-se sempre o raciocínio lógico; - Inúmeras são as dificuldades com que se defronta o governo
- a linguagem deve ser objetiva, denotativa; qualquer ambi- brasileiro diante de tantos desmatamentos, desequilíbrios socioló-
guidade pode ser um ponto vulnerável na demonstração do que se gicos e poluição.
quer expor. Deve ser clara, precisa, natural, original, nobre, correta - Existem várias razões que levam um homem a enveredar
gramaticalmente. O discurso deve ser impessoal (evitar-se o uso pelos caminhos do crime.
da primeira pessoa). - A gravidez na adolescência é um problema seríssimo,
porque pode trazer muitas consequências indesejáveis.
O parágrafo é a unidade mínima do texto e deve apresentar: - O lazer é uma necessidade do cidadão para a sua
uma frase contendo a ideia principal (frase nuclear) e uma ou mais sobrevivên-cia no mundo atual e vários são os tipos de lazer.
frases que explicitem tal ideia. - O Novo Código Nacional de trânsito divide as faltas em vá-
Exemplo: “A televisão mostra uma realidade idealizada (ideia
rias categorias.
central) porque oculta os problemas sociais realmente graves.
(ideia secundária)”. Comparação: A frase nuclear pode-se desenvolver através da
Vejamos: comparação, que confronta ideias, fatos, fenômenos e apresenta-
Ideia central: A poluição atmosférica deve ser combatida ur- lhes a semelhança ou dessemelhança.
gentemente. Exemplo:
Desenvolvimento: A poluição atmosférica deve ser comba-
“A juventude é uma infatigável aspiração de felicidade; a ve-
tida urgentemente, pois a alta concentração de elementos tóxicos lhice, pelo contrário, é dominada por um vago e persistente senti-
põe em risco a vida de milhares de pessoas, sobretudo daquelas mento de dor, porque já estamos nos convencendo de que a felici-
que sofrem de problemas respiratórios: dade é uma ilusão, que só o sofrimento é real”.
(Arthur Schopenhauer)
- A propaganda intensiva de cigarros e bebidas tem levado
muita gente ao vício.
- A televisão é um dos mais eficazes meios de comunicação Causa e Consequência: A frase nuclear, muitas vezes, encon-
criados pelo homem. tra no seu desenvolvimento um segmento causal (fato motivador)
- A violência tem aumentado assustadoramente nas cidades e e, em outras situações, um segmento indicando consequências (fa-
hoje parece claro que esse problema não pode ser resolvido apenas tos decorrentes).
pela polícia. Exemplos:
- O diálogo entre pais e filhos parece estar em crise atualmen-
te. - O homem, dia a dia, perde a dimensão de humanidade que
- O problema dos sem-terra preocupa cada vez mais a socie- abriga em si, porque os seus olhos teimam apenas em ver as coisas
dade brasileira. imediatistas e lucrativas que o rodeiam.

O parágrafo pode processar-se de diferentes maneiras: - O espírito competitivo foi excessivamente exercido entre
nós, de modo que hoje somos obrigados a viver numa sociedade
Enumeração: Caracteriza-se pela exposição de uma série de fria e inamistosa.
coisas, uma a uma. Presta-se bem à indicação de características,
funções, processos, situações, sempre oferecendo o complemente Tempo e Espaço: Muitos parágrafos dissertativos marcam
necessário à afirmação estabelecida na frase nuclear. Pode-se enu- temporal e espacialmente a evolução de ideias, processos.
merar, seguindo-se os critérios de importância, preferência, classi- Exemplos:
ficação ou aleatoriamente.
Exemplo: Tempo - A comunicação de massas é resultado de uma lenta
evolução. Primeiro, o homem aprendeu a grunhir. Depois deu um
1- O adolescente moderno está se tornando obeso por várias significado a cada grunhido. Muito depois, inventou a escrita e só
causas: alimentação inadequada, falta de exercícios sistemáticos e muitos séculos mais tarde é que passou à comunicação de massa.
demasiada permanência diante de computadores e aparelhos de Espaço - O solo é influenciado pelo clima. Nos climas úmidos, os
Televisão. solos são profundos. Existe nessas regiões uma forte decompo-sição
de rochas, isto é, uma forte transformação da rocha em terra pela
2- Devido à expansão das igrejas evangélicas, é grande o nú- umidade e calor. Nas regiões temperadas e ainda nas mais frias, a
mero de emissoras que dedicam parte da sua programação à veicu- camada do solo é pouco profunda. (Melhem Adas)
lação de programas religiosos de crenças variadas.

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PORTUGUÊS
Explicitação: Num parágrafo dissertativo pode-se conceituar, Argumento tem uma origem curiosa: vem do latim Argumen-tum,
exemplificar e aclarar as ideias para torná-las mais compreensí- que tem o tema ARGU, cujo sentido primeiro é “fazer bri-lhar”,
veis. “iluminar”, a mesma raiz de “argênteo”, “argúcia”, “arguto”. Os
Exemplo: “Artéria é um vaso que leva sangue proveniente do argumentos de um texto são facilmente localizados: identifica-da a
coração para irrigar os tecidos. Exceto no cordão umbilical e na tese, faz-se a pergunta por quê? Exemplo: o autor é contra a pena de
ligação entre os pulmões e o coração, todas as artérias contém san- morte (tese). Por que... (argumentos).
gue vermelho-vivo, recém oxigenado. Na artéria pulmonar, porém, Estratégias argumentativas são todos os recursos (verbais e
corre sangue venoso, mais escuro e desoxigenado, que o coração não-verbais) utilizados para envolver o leitor/ouvinte, para im-
remete para os pulmões para receber oxigênio e liberar gás carbô- pressioná-lo, para convencê-lo melhor, para persuadi-lo mais fa-
nico”. cilmente, para gerar credibilidade, etc.
Antes de se iniciar a elaboração de uma dissertação, deve de- A Estrutura de um Texto Argumentativo
limitar-se o tema que será desenvolvido e que poderá ser enfocado sob
diversos aspectos. Se, por exemplo, o tema é a questão indíge-na, ela A argumentação Formal
poderá ser desenvolvida a partir das seguintes ideias:
A nomenclatura é de Othon Garcia, em sua obra “Comunica-ção
- A violência contra os povos indígenas é uma constante na em Prosa Moderna”. O autor, na mencionada obra, apresenta o
história do Brasil.
seguinte plano-padrão para o que chama de argumentação formal:
- O surgimento de várias entidades de defesa das populações
Proposição (tese): afirmativa suficientemente definida e limi-
indígenas.
- A visão idealizada que o europeu ainda tem do índio brasi- tada; não deve conter em si mesma nenhum argumento.
leiro. Análise da proposição ou tese: definição do sentido da propo-
- A invasão da Amazônia e a perda da cultura indígena. sição ou de alguns de seus termos, a fim de evitar mal-entendidos.
Formulação de argumentos: fatos, exemplos, dados estatís-
Depois de delimitar o tema que você vai desenvolver, deve ticos, testemunhos, etc.
fazer a estruturação do texto. Conclusão.

A estrutura do texto dissertativo constitui-se de: Observe o texto a seguir, que contém os elementos referidos
do plano-padrão da argumentação formal.
Introdução: deve conter a ideia principal a ser desenvolvida
(geralmente um ou dois parágrafos). É a abertura do texto, por isso Gramática e desempenho Linguístico
é fundamental. Deve ser clara e chamar a atenção para dois itens
básicos: os objetivos do texto e o plano do desenvolvimento. Pretende-se demonstrar no presente artigo que o estudo in-
Contém a proposição do tema, seus limites, ângulo de análise e a tencional da gramática não traz benefícios significativos para o
hipótese ou a tese a ser defendida. desempenho linguístico dos utentes de uma língua.
Desenvolvimento: exposição de elementos que vão funda- Por “estudo intencional da gramática” entende-se o estudo de
mentar a ideia principal que pode vir especificada através da argu- definições, classificações e nomenclatura; a realização de análises
mentação, de pormenores, da ilustração, da causa e da consequên-cia, (fonológica, morfológica, sintática); a memorização de regras (de
das definições, dos dados estatísticos, da ordenação cronológi-ca, da concordância, regência e colocação) - para citar algumas áreas. O
interrogação e da citação. No desenvolvimento são usados tantos “desempenho linguístico”, por outro lado, é expressão técnica
parágrafos quantos forem necessários para a completa expo-sição da definida como sendo o processo de atualização da competência na
ideia. E esses parágrafos podem ser estruturados das cinco maneiras produção e interpretação de enunciados; dito de maneira mais
expostas acima. simples, é o que se fala, é o que se escreve em condições reais de
Conclusão: é a retomada da ideia principal, que agora deve
comunicação.
aparecer de forma muito mais convincente, uma vez que já foi fun-
A polêmica pró-gramática x contra gramática é bem antiga; na
damentada durante o desenvolvimento da dissertação (um pará-grafo).
verdade, surgiu com os gregos, quando surgiram as primeiras
Deve, pois, conter de forma sintética, o objetivo proposto na instrução,
gramáticas. Definida como “arte”, “arte de escrever”, percebe-se
a confirmação da hipótese ou da tese, acrescida da argumentação que subjaz à definição a ideia da sua importância para a prática da
básica empregada no desenvolvimento. língua. São da mesma época também as primeiras críticas, como
Texto Argumentativo se pode ler em Apolônio de Rodes, poeta Alexandrino do séc. II
a.C.: “Raça de gramáticos, roedores que ratais na musa de outrem,
Texto Argumentativo é o texto em que defendemos uma ideia, estú-pidas lagartas que sujais as grandes obras, ó flagelo dos poetas
opinião ou ponto de vista, uma tese, procurando (por todos os que mergulhais o espírito das crianças na escuridão, ide para o
meios) fazer com que nosso ouvinte/leitor aceite-a, creia nela. diabo, percevejos que devorais os versos belos”.
Num texto argumentativo, distinguem-se três componentes: a tese, Na atualidade, é grande o número de educadores, filólogos e
os argumentos e as estratégias argumentativas. linguistas de reconhecido saber que negam a relação entre o estudo
intencional da gramática e a melhora do desempenho linguístico do
Tese, ou proposição, é a ideia que defendemos, necessaria- usuário. Entre esses especialistas, deve-se mencionar o nome do Prof.
mente polêmica, pois a argumentação implica divergência de opi- Celso Pedro Luft com sus obra “Língua e liberdade: por uma nova
nião. concepção de língua materna e seu ensino” (L&PM,

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1995). Com efeito, o velho pesquisar apaixonado pelos problemas Portanto, não há como salvar o ensino da língua, como re-
da língua, teórico de espírito lúcido e de larga formação linguísti- cuperar linguisticamente os alunos, como promover um melhor
ca, reúne numa mesma obra convincente fundamentação para seu desempenho linguístico mediante o ensino-estudo da teoria gra-
combate veemente contra o ensino da gramática em sala de aula. matical. O caminho é seguramente outro.
Por oportuno, uma citação apenas:
“Quem sabe, lendo este livro muitos professores talvez aban- Gilberto Scarton
donem a superstição da teoria gramatical, desistindo de querer en-sinar
a língua por definições, classificações, análises inconsistentes e Eis o esquema do texto em seus quatro estágios:
precárias hauridas em gramáticas. Já seria um grande benefício”.
Deixando-se de lado a perspectiva teórica do Mestre, acima Primeiro Estágio: primeiro parágrafo, em que se enuncia cla-
referida suponha-se que se deva recuperar linguisticamente um jovem ramente a tese a ser defendida.
estudante universitário cujo texto apresente preocupantes problemas Segundo Estágio: segundo parágrafo, em que se definem as
de concordância, regência, colocação, ortografia, pon-tuação, expressões “estudo intencional da gramática” e “desempenho lin-
adequação vocabular, coesão, coerência, informatividade, entre güístico”, citadas na tese.
outros. E, estimando-lhe melhoras, lhe fosse dada uma gra-mática que Terceiro Estágio: terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo e oi-
ele passaria a estudar: que é fonética? Que é fonolo-gia? Que é tavo parágrafos, em que se apresentam os argumentos.
fonemas? Morfema? Qual é coletivo de borboleta? O feminino de - Terceiro parágrafo: parágrafo introdutório à argumentação.
cupim? Como se chama quem nasce na Província de Entre-Douro-e- - Quarto parágrafo: argumento de autoridade.
Minho? Que é oração subordinada adverbial con-cessiva reduzida de
- Quinto parágrafo: argumento com base em ilustração hipo-
gerúndio? E decorasse regras de ortografia, fizesse lista de
tética.
- Sexto parágrafo: argumento com base em dados estatísticos.
homônimos, parônimos, de verbos irregulares... e estudasse o plural
- Sétimo e oitavo parágrafo: argumento com base em fatos.
de compostos, todas regras de concordância, re-gências... os casos de
Quarto Estágio: último parágrafo, em que se apresenta a con-
próclise, mesóclise e ênclise. E que, ao cabo de todo esse processo, se
clusão.
voltasse a examinar o desempenho do jovem estudante na produção de
um texto. A melhora seria, indubi-tavelmente, pouco significativa;
A Argumentação Informal
uma pequena melhora, talvez, na gramática da frase, mas o problema
de coesão, de coerência, de in-formatividade - quem sabe os mais A nomenclatura também é de Othon Garcia, na obra já referi-
graves - haveriam de continuar. Quanto mais não seja porque a da. A argumentação informal apresenta os seguintes estágios:
gramática tradicional não dá conta dos mecanismos que presidem à - Citação da tese adversária.
construção do texto. - Argumentos da tese adversária.
Poder-se-á objetar que a ilustração de há pouco é apenas hi- - Introdução da tese a ser defendida.
potética e que, por isso, um argumento de pouco valor. Contra - Argumentos da tese a ser defendida.
argumentar-se-ia dizendo que situação como essa ocorre de fato na - Conclusão.
prática. Na verdade, todo o ensino de 1° e 2° graus é grama-
ticalista, descritivista, definitório, classificatório, nomenclaturista, Observe o texto exemplar de Luís Alberto Thompson Flores
prescritivista, teórico. O resultado? Aí estão as estatísticas dos ves- Lenz, Promotor de Justiça.
tibulares. Valendo 40 pontos a prova de redação, os escores foram
estes no vestibular 1996/1, na PUC-RS: nota zero: 10% dos candi- Considerações sobre justiça e equidade
datos, nota 01: 30%; nota 02: 40%; nota 03: 15%; nota 04: 5%. Ou
seja, apenas 20% dos candidatos escreveram um texto que pode ser Hoje, floresce cada vez mais, no mundo jurídico a acadêmico
considerado bom. nacional, a ideia de que o julgador, ao apreciar os caos concretos
Finalmente pode-se invocar mais um argumento, lembran-do que são apresentados perante os tribunais, deve nortear o seu pro-
que são os gramáticos, os linguistas - como especialistas das ceder mais por critérios de justiça e equidade e menos por razões
línguas - as pessoas que conhecem mais a fundo a estrutura e o de estrita legalidade, no intuito de alcançar, sempre, o escopo da
funcionamento dos códigos linguísticos. Que se esperaria, de fato, real pacificação dos conflitos submetidos à sua apreciação.
se houvesse significativa influência do conhecimento teórico da Semelhante entendimento tem sido sistematicamente reitera-
língua sobre o desempenho? A resposta é óbvia: os gramáticos e do, na atualidade, ao ponto de inúmeros magistrados simplesmen-
os linguistas seriam sempre os melhores escritores. Como na te desprezarem ou desconsiderarem determinados preceitos de lei,
prática isso realmente não acontece, fica provada uma vez mais a fulminando ditos dilemas legais sob a pecha de injustiça ou inade-
tese que se vem defendendo. quação à realidade nacional.
Vale também o raciocínio inverso: se a relação fosse signifi- Abstraída qualquer pretensão de crítica ou censura pessoal aos
cativa, deveriam os melhores escritores conhecer - teoricamente insignes juízes que se filiam a esta corrente, alguns dos quais
- a língua em profundidade. Isso, no entanto, não se confirma na reconhecidos como dos mais brilhantes do país, não nos furtamos,
realidade: Monteiro Lobato, quando estudante, foi reprovado em todavia, de tecer breves considerações sobre os perigos da genera-
língua portuguesa (muito provavelmente por desconhecer teoria lização desse entendimento.
gramatical); Machado de Assis, ao folhar uma gramática declarou que Primeiro, porque o mesmo, além de violar os preceitos dos
nada havia entendido; dificilmente um Luis Fernando Verís-simo arts. 126 e 127 do CPC, atenta de forma direta e frontal contra os
saberia o que é um morfema; nem é de se crer que todos os nossos princípios da legalidade e da separação de poderes, esteio no qual
bons escritores seriam aprovados num teste de Português à maneira se assenta toda e qualquer ideia de democracia ou limitação de
tradicional (e, no entanto eles são os senhores da língua!). atribuições dos órgãos do Estado.

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PORTUGUÊS
Isso é o que salientou, e com a costumeira maestria, o insu- Quinto Estágio: os últimos dois parágrafos, em que se conclui
perável José Alberto dos Reis, o maior processualista português, o texto mediante afirmação que salienta o que ficou dito ao longo
ao afirmar que: “O magistrado não pode sobrepor os seus próprios da argumentação.
juízos de valor aos que estão encarnados na lei. Não o pode fazer
quando o caso se acha previsto legalmente, não o pode fazer mes- Texto Injuntivo/Instrucional
mo quando o caso é omisso”.
Aceitar tal aberração seria o mesmo que ferir de morte qual-quer No texto injuntivo-instrucional, o leitor recebe orientações
espécie de legalidade ou garantia de soberania popular prove-niente precisas no sentido de efetuar uma transformação. É marcado pela
dos parlamentos, até porque, na lúcida visão desse mesmo presença de tempos e modos verbais que apresentam um valor di-
processualista, o juiz estaria, nessa situação, se arvorando, de for-ma retivo. Este tipo de texto distingue-se de uma sequencia narrativa
absolutamente espúria, na condição de legislador. pela ausência de um sujeito responsável pelas ações a praticar e
A esta altura, adotando tal entendimento, estaria instituciona- pelo caráter diretivo dos tempos e modos verbais usado e uma se-
lizada a insegurança social, sendo que não haveria mais qualquer quência descritiva pela transformação desejada.
garantia, na medida em que tudo estaria ao sabor dos humores e Nota: Uma frase injuntiva é uma frase que exprime uma or-
amores do juiz de plantão. dem, dada ao locutor, para executar (ou não executar) tal ou tal
De nada adiantariam as eleições, eis que os representantes in- ação. As formas verbais específicas destas frases estão no modo
dicados pelo povo não poderiam se valer de sua maior atribuição, injuntivo e o imperativo é uma das formas do injuntivo.
ou seja, a prerrogativa de editar as leis.
Desapareceriam também os juízes de conveniência e oportu- Textos Injuntivo-Instrucionais: Instruções de montagem, re-
nidade política típicos dessas casas legislativas, na medida em que ceitas, horóscopos, provérbios, slogans... são textos que incitam à
sempre poderiam ser afastados por uma esfera revisora excepcio-
ação, impõem regras; textos que fornecem instruções. São orienta-
nal.
dos para um comportamento futuro do destinatário.
A própria independência do parlamento sucumbiria integral-
mente frente à possibilidade de inobservância e desconsideração Texto Injuntivo - A necessidade de explicar e orientar por es-crito
de suas deliberações. o modo de realizar determinados procedimentos, manipular
Ou seja, nada restaria, de cunho democrático, em nossa civi- instrumentos, desenvolver atividades lúdicas e desempenhar algu-mas
lização. funções profissionais, por exemplo, deu origem aos chamados textos
Já o Poder Judiciário, a quem legitimamente compete fiscali-
injuntivos, nos quais prevalece a função apelativa da lin-guagem,
zar a constitucionalidade e legalidade dos atos dos demais poderes
criando-se uma relação direta com o receptor. É comum aos textos
do Estado, praticamente aniquilaria as atribuições destes, ditando
dessa natureza o uso dos verbos no imperativo (Abra o caderno de
a eles, a todo momento, como proceder.
questões) ou no infinitivo (É preciso abrir o caderno de questões,
Nada mais é preciso dizer para demonstrar o desacerto dessa
verificar o número de alternativas...). Não apresenta caráter coercitivo,
concepção.
haja vista que apenas induz o interlocutor a pro-ceder desta ou daquela
Entretanto, a defesa desse entendimento demonstra, sem som-
forma. Assim, torna-se possível substituir um determinado
bra de dúvidas, o desconhecimento do próprio conceito de justiça,
procedimento em função de outro, como é o caso do que ocorre com
incorrendo inclusive numa contradictio in adjecto.
os ingredientes de uma receita culinária, por exemplo. São exemplos
Isto porque, e como magistralmente o salientou o insuperável
Calamandrei, “a justiça que o juiz administra é, no sistema da lega- dessa modalidade:
lidade, a justiça em sentido jurídico, isto é, no sentido mais aperta-do, - A mensagem revelada pela maioria dos livros de autoajuda;
mas menos incerto, da conformidade com o direito constituído, - O discurso manifestado mediante um manual de instruções;
independentemente da correspondente com a justiça social”. - As instruções materializadas por meio de uma receita culi-
Para encerrar, basta salientar que a eleição dos meios concre- nária.
tos de efetivação da Justiça social compete, fundamentalmente, ao
Legislativo e ao Executivo, eis que seus membros são indicados Texto Instrucional - o texto instrucional é um tipo de texto
diretamente pelo povo. injuntivo, didático, que tem por objetivo justamente apresentar
Ao Judiciário cabe administrar a justiça da legalidade, ade- orientações ao receptor para que ele realize determinada atividade.
quando o proceder daqueles aos ditames da Constituição e da Le- Como as palavras do texto serão transformadas em ações visando a um
gislação. objetivo, ou seja, algo deverá ser concretizado, é de suma im-portância
Luís Alberto Thompson Flores Lenz que nele haja clareza e objetividade. Dependendo do que se trata, é
imprescindível haver explicações ou enumerações em que estejam
Eis o esquema do texto em seus cinco estágios; elencados os materiais a serem utilizados, bem como os itens de
determinados objetos que serão manipulados. Por conta dessas
Primeiro Estágio: primeiro parágrafo, em que se cita a tese características, é necessário um título objetivo. Quanto à pontuação,
adversária. frequentemente empregam-se dois pontos, vírgulas e pontos e
Segundo Estágio: segundo parágrafo, em que se cita um argu- vírgulas. É possível separar as orientações por itens ou de modo coeso,
mento da tese adversária “... fulminando ditos dilemas legais sob a por meio de períodos. Alguns textos instrucionais possuem subtítulos
pecha de injustiça ou inadequação à realidade nacional”. separando em tópicos as instruções, basta re-parar nas bulas de
Terceiro Estágio: terceiro parágrafo, em que se introduz a tese remédios, manuais de instruções e receitas. Pelo fato de o espaço
a ser defendida. destinado aos textos instrucionais geralmente não ser muito extenso,
Quarto Estágio: do quarto ao décimo quinto, em que se apre- recomenda-se o uso de períodos. Leia os exem-plos.
sentam os argumentos.

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PORTUGUÊS
Texto organizado em itens: Textos Ficcionais e Não Ficcionais

Para economizar nas compras Os textos não ficcionais baseiam-se na realidade, e os


ficcionais inventam um mundo, onde os acontecimentos ocorrem
Quem deseja economizar ao comprar deve: coerentemente com o que se passa no enredo da história.
- estabelecer um valor máximo para gastar;
- escolher previamente aquilo que deseja comprar antes de ir Ficcionais: Conto; Crônica; Romance; Poemas; História em
à loja ou entrar em sites de compra; Quadrinhos.
- pesquisar os preços em diferentes lojas e sites, se possível;
- não se deixar levar completamente pelas sugestões dos ven- Não Ficcionais:
dedores nem pelos apelos das propagandas;
- optar pela forma de pagamento mais cômoda, sem se esque- - Jornalísticos: notícia, editorial, artigos, cartas e textos de
cer de que o uso do cartão de crédito exige certa cautela e plane- divulgação científica.
jamento.
Do mais, é só ir às compras e aproveitar! - Instrucionais: didáticos, resumos, receitas, catálogos,
índices, listas, verbetes em geral, bulas e notas explicativas de
Texto organizado em períodos: embalagens.

Para economizar nas compras - Epistolares: bilhetes, cartas familiares e cartas formais.

Para economizar ao comprar, primeiramente estabeleça um - Administrativos: requerimentos, ofícios e etc.


valor máximo para gastar e então escolha previamente aquilo que
deseja comprar antes de ir à loja ou entrar em sites de compra. Se FICCIONAIS
possível, pesquise os preços em diferentes lojas e sites; não se dei-
xe levar completamente pelas sugestões dos vendedores nem pelos CONTO
apelos das propagandas e opte pela forma de pagamento mais cô-
moda: não se esqueça de que o uso do cartão de crédito exige certa É um gênero textual que apresenta um único conflito, tomado já
cautela e planejamento. próximo do seu desfecho. Encerra uma história com poucas
Do mais, aproveite as compras! personagens, e também tempo e espaço reduzido. A linguagem pode
ser formal ou informal. É uma obra de ficção que cria um universo de
Observe que, embora ambos os textos tratem do mesmo assun-to, seres e acontecimentos, de fantasia ou imaginação. Como todos os
o segundo é uma adaptação do primeiro: tanto o modo verbal quanto textos de ficção, o conto apresenta um narrador, personagens, ponto
a pontuação sofreram alterações; além disso, algumas pala-vras foram de vista e enredo. Classicamente, diz-se que o conto se define pela sua
omitidas e outras acrescentadas. Isso ocorreu para que o aspecto pequena extensão. Mais curto que a novela ou o romance, o conto tem
instrucional, conferido pelos itens do primeiro exemplo, não se uma estrutura fechada, desenvolve uma história e tem apenas um
perdesse no segundo texto, o qual, sem essas adaptações, passaria a clímax. Exemplo:
impressão de ser um mero texto expositivo.
Lépida
GÊNEROS TEXTUAIS
Tudo lento, parado, paralisado.
Texto – é um conjunto de ideias organizadas e relacionadas - Maldição! - dizia um homem que tinha sido o melhor
entre si, formando um todo significativo capaz de produzir corredor daquele lugar.
interação comunicativa (capacidade de codificar e decodificar). - Que tristeza a minha - lamentava uma pequena bailarina,
olhando para as suas sapatilhas cor-de-rosa.
Contexto – um texto é constituído por diversas frases. Em Assim estava Lépida, uma cidade muito alegre que no passado
cada uma delas, há uma certa informação que a faz ligar-se com a fora reconhecida pela leveza e agilidade de seus habitantes. Todos
anterior e/ou com a posterior, criando condições para a muito fortes, andavam, corriam e nadavam pelos seus limpos
estruturação do conteúdo a ser transmitido. A essa interligação dá- canais.
se o nome de contexto. Nota-se que o relacionamento entre as Até que chegou um terrível pirata à procura da riqueza do
frases é tão grande, que, se uma frase for retirada de seu contexto lugar. Para dominar Lépida, roubou de um mago um elixir
original e analisada separadamente, poderá ter um significado paralisante e despejou no principal rio. Após beberem a água, os
diferente daquele inicial. habitantes ficaram muito lentos, tão lentos que não conseguiram
impedir a maldade do terrível pirata. Seu povo nunca mais foi o
Intertexto - comumente, os textos apresentam referências mesmo. Lépida foi roubada em seu maior tesouro e permaneceu
diretas ou indiretas a outros autores através de citações. Esse tipo estagnada por muitos anos.
de recurso denomina-se intertexto. Um dia nasceu um menino, que foi chamado de Zim. O único
Interpretação de Texto - o primeiro objetivo de uma entre tantos que ficou livre da maldição que passara de geração em
interpretação de um texto é a identificação de sua ideia principal. A geração. Diferente de todos, era muito ágil e, ao crescer, saiu em
partir daí, localizam-se as ideias secundárias, ou fundamentações, busca de uma solução. Encontrou pelo caminho bruxas de olhar
as argumentações, ou explicações, que levem ao esclarecimento feroz, gigantes de três, cinco e sete cabeças, noites escuras, dias de
das questões apresentadas na prova. chuva, sol intenso. Zim tudo enfrentou.

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PORTUGUÊS
E numa noite morna, ao deitar-se em sua cama de folhas, viu em prosa. Todo Romance se organiza a partir de uma trama, ou
ao seu lado um velho de olhos amarelos e brilhantes. Era o mago seja, em torno dos acontecimentos que são organizados em uma
que havia sido roubado pelo pirata muitos anos antes. Zim ficou sequência temporal. A linguagem utilizada em um Romance é
apreensivo. Mas o velho mago (que tudo sabia) deu-lhe um frasco. muito variável, vai depender de quem escreve, de uma boa
Nele havia um antídoto e Zim compreendeu o que deveria fazer. diferenciação entre linguagem escrita e linguagem oral e
Despejou o líquido no rio de sua cidade. principalmente do tipo de Romance.
Lépida despertou diferente naquela manhã. Um copo de água Quanto ao tipo de abordagem o Romance pode ser: Urbano,
aqui, um banho ali e eram novamente braços que se mexiam, Regionalista, Indianista e Histórico. E quanto à época ou Escola
pernas que corriam, saltos e sorrisos. E a dança das sapatilhas cor- Literária, o Romance pode ser: Romântico, Realista, Naturalista e
de-rosa. Modernista.
(Carla Caruso)
POEMA
CRÔNICA
Um poema é uma obra literária geralmente apresentada em
Em jornais e revistas, há textos normalmente assinados por um versos e estrofes (ainda que possa existir prosa poética, assim
escritor de ficção ou por uma pessoa especializada em determinada designada pelo uso de temas específicos e de figuras de estilo
área (economia, gastronomia, negócios, entre outras) que escreve com próprias da poesia). Efetivamente, existe uma diferença entre
periodicidade para uma seção (por exemplo, todos os domingos para poesia e poema. Segundo vários autores, o poema é um objeto
o Caderno de Economia). Esses textos, conhecidos como crônicas, são literário com existência material concreta, a poesia tem um
curtos e em geral predominantemente narrativos, podendo apresentar carácter imaterial e transcendente. Fortemente relacionado com a
alguns trechos dissertativos. Exemplo: música, beleza e arte, o poema tem as suas raízes históricas nas
A luta e a lição letras de acompanhamento de peças musicais. Até a Idade Média,
os poemas eram cantados. Só depois o texto foi separado do
Um brasileiro de 38 anos, Vítor Negrete, morreu no Tibete acompanhamento musical. Tal como na música, o ritmo tem uma
após escalar pela segunda vez o ponto culminante do planeta, o grande importância. Um poema também faz parte de um sarau
monte Everest. Da primeira, usou o reforço de um cilindro de (reuniões em casas particulares para expressar artes, canções,
oxigênio para suportar a altura. Na segunda (e última), dispensou poemas, poesias etc). Obra em verso em que há poesia. Exemplo:
o cilindro, devido ao seu estado geral, que era considerado ótimo.
As façanhas dele me emocionaram, a bem sucedida e a malograda. Soneto do amigo
Aqui do meu canto, temendo e tremendo toda a vez que viajo no
bondinho do Pão de Açúcar, fico meditando sobre os motivos que Enfim, depois de tanto erro passado
levam alguns heróis a se superarem. Vitor já havia vencido o cume Tantas retaliações, tanto perigo
mais alto do mundo. Quis provar mais, fazendo a escalada sem a Eis que ressurge noutro o velho amigo
ajuda do oxigênio suplementar. O que leva um ser humano bem Nunca perdido, sempre reencontrado.
sucedido a vencer desafios assim?
Ora, dirão os entendidos, é assim que caminha a humanidade. Se É bom sentá-lo novamente ao lado
cada um repetisse meu exemplo, ficando solidamente instalado no Com olhos que contêm o olhar antigo
chão, sem tentar a aventura, ainda estaríamos nas cavernas, lascando Sempre comigo um pouco atribulado
o fogo com pedras, comendo animais crus e puxando nossas mulheres E como sempre singular comigo.
pelos cabelos, como os trogloditas - se é que os trogloditas faziam isso. Um bicho igual a mim, simples e humano
Somos o que somos hoje devido a heróis que trocam a vida pelo risco. Sabendo se mover e comover
Bem verdade que escalar montanhas, em si, não traz nada de prático E a disfarçar com o meu próprio engano.
ao resto da humanidade que prefere ficar na cômoda planície da
segurança. O amigo: um ser que a vida não explica
Mas o que há de louvável (e lamentável) na aventura de Vítor Que só se vai ao ver outro nascer
Negrete é a aspiração de ir mais longe, de superar marcas, de ir mais E o espelho de minha alma multiplica...
alto, desafiando os riscos. Não sei até que ponto ele foi temerário ao
recusar o oxigênio suplementar. Mas seu exemplo - e seu sacrifício - é Vinicius de Moraes
uma lição de luta, mesmo sendo uma luta perdida.
(Autor: Carlos Heitor Cony. HISTÓRIA EM QUADRINHOS
Publicado na Folha Online)
As primeiras manifestações das Histórias em Quadrinhos
ROMANCE surgiram no começo do século XX, na busca de novos meios de
comunicação e expressão gráfica e visual. Entre os primeiros
O termo romance pode referir-se a dois gêneros literários. O autores das histórias em quadrinhos estão o suíço Rudolph Töpffer,
primeiro deles é uma composição poética popular, histórica ou o alemão Wilhelm Bush, o francês Georges, e o brasileiro Ângelo
lírica, transmitida pela tradição oral, sendo geralmente de autor Agostini. A origem dos balões presentes nas histórias em
anônimo; corresponde aproximadamente à balada medieval. E quadrinhos pode ser atribuída a personagens, observadas em
como forma literária moderna, o termo designa uma composição ilustrações europeias desde o século XIV.

70
PORTUGUÊS
As histórias em quadrinhos começaram no Brasil no século XIX, NÃO FICCIONAIS - JORNALÍSTICOS
adotando um estilo satírico conhecido como cartuns, charges ou
caricaturas e que depois se estabeleceria com as populares tiras. A NOTÍCIA
publicação de revistas próprias de histórias em quadrinhos no Brasil
começou no início do século XX também. Atualmente, o estilo O principal objetivo da notícia é levar informação atual a um
cômicos dos super-heróis americanos é o predominante, mas vem público específico. A notícia conta o que ocorreu, quando, onde,
perdendo espaço para uma expansão muito rápida dos quadrinhos como e por quê. Para verificar se ela está bem elaborada, o emissor
japoneses (conhecidos como Mangá). deve responder às perguntas: O quê? (fato ou fatos); Quando?
A leitura interpretativa de Histórias em Quadrinhos, assim como (tempo); Onde? (local); Como? (de que forma) e Por quê? (causas).
de charges, requer uma construção de sentidos que, para que ocorra, é A notícia apresenta três partes:
necessário mobilizar alguns processos de significação, como a
percepção da atualidade, a representação do mundo, a observação dos - Manchete (ou título principal) – resume, com objetividade,
detalhes visuais e/ou linguísticos, a transformação de linguagem o assunto da notícia. Essa frase curta e de impacto, em geral,
conotativa (sentido mais usual) em denotativa (sentido amplificado aparece em letras grandes e destacadas.
pelo contexto, pelos aspetos socioculturais etc). Em suma, usa-se o - Lide (ou lead) – complementa o título principal, fornecendo as
conhecimento da realidade e de processos linguísticos para “inverter” principais informações da notícia. Como a manchete, sua função
ou “subverter” produzindo, assim, sentidos alternativos a partir de é despertar a atenção do leitor para o texto.
situações extremas. Exemplo: - Corpo – contém o desenvolvimento mais amplo e detalhado
dos fatos.
Observe a tirinha em quadrinhos do Calvin:
A notícia usa uma linguagem formal, que segue a norma culta da
língua. A ordem direta, a voz ativa, os verbos de ação e as frases curtas
permitem fluir as ideias. É preferível a linguagem acessível e simples.
Evite gírias, termos coloquiais e frases intercaladas.
Os fatos, em geral, são apresentados de forma impessoal e
escritos em 3ª pessoa, com o predomínio da função referencial, já
que esse texto visa à informação.
A falta de tempo do leitor exige a seleção das informações
mais relevantes, vocabulário preciso e termos específicos que o
ajudem a compreender melhor os fatos. Em jornais ou revistas
impressos ou on-line, e em programas de rádio ou televisão, a
informação transmitida pela notícia precisa ser verídica, atual e
despertar o interesse do leitor.

O objetivo do Calvin era vender ao seu pai um desenho de sua EDITORIAL


autoria pela exorbitante quantia de 500 dólares. Ele optou por valorizar
o desenho, mostrando todas as habilidades conquistadas para Os editoriais são textos de um jornal em que o conteúdo
conseguir produzi-lo. O pai, no último quadrinho, reconhece o expressa a opinião da empresa, da direção ou da equipe de redação,
empenho do filho, utilizando-se de um conector de concessão (“Ainda sem a obrigação de ter alguma imparcialidade ou objetividade.
assim”), valorizando a importância de tudo aquilo. Contudo, afirma Geralmente, grandes jornais reservam um espaço predeterminado
que não pagaria o valor pedido (como se dissesse: “sim, filho, foi um para os editoriais em duas ou mais colunas logo nas primeiras
esforço absurdo, mas não vou pagar por isso!”). páginas internas. Os boxes (quadros) dos editoriais são
A graça está no fato de Calvin elaborar um discurso “maduro” normalmente demarcados com uma borda ou tipografia diferente
em relação ao seu desenvolvimento cognitivo e motor nos dois para marcar claramente que aquele texto é opinativo, e não
primeiros quadrinhos e, somente depois, ficar claro para nós, informativo. Exemplo:
leitores, que toda a força argumentativa foi em prol da cobrança
pelo desenho que ele mesmo fez. Em outras palavras, o Cidade paraibana é exemplo ao País
personagem empenha-se na construção de um raciocínio em prol
de uma finalidade absurda – o que nos faz sorrir no último Em tempos em que estudantes escrevem receita de macarrão
quadrinho, já que é somente nele que conseguimos “completar” o instantâneo e transcrevem hino de clube de futebol na redação do
sentido. Claro, se você conhece os quadrinhos do Calvin, sabe que Exame Nacional do Ensino Médio e ainda obtém nota máxima no
ele tem apenas 6 anos, o que torna tudo ainda mais hilário, mas a teste, uma boa notícia vem de uma pequena cidade no interior da
falta deste conhecimento não prejudica em nada a interpretação Paraíba chamada Paulista, de cerca de 12 mil habitantes. Alunos
textual. da Escola Municipal Cândido de Assis Queiroga obtiveram
destaque nas últimas edições da Olimpíada Brasileira de
Matemática das Escolas Públicas.
O segredo é absolutamente simples, e quem explica é a
professora Jonilda Alves Ferreira: a chave é ensinar Matemática
através de atividades do cotidiano, como fazer compras na feira

71
PORTUGUÊS
ou medir ingredientes para uma receita. Com essas ações práticas, CARTAS
na edição de 2012 da Olimpíada, a escola conquistou nada menos
do que cinco medalhas de ouro, duas de prata, três de bronze e 12 Na maioria dos jornais e revistas, há uma seção destinada a
menções honrosas. Orgulhosa, a professora conta que se sentia cartas do leitor. Ela oferece um espaço para o leitor elogiar ou
triste com a repulsa dos estudantes aos números, e teve a ideia de criticar uma matéria publicada, ou fazer sugestões. Os comentários
pô-los para vivenciar a Matemática em suas vidas, aproximando- podem referir-se às ideias de um texto, com as quais o leitor
os da disciplina. concorda ou não; à maneira como o assunto foi abordado; ou à
O que parecia ser um grande desafio tornou-se realidade e, hoje, qualidade do texto em si. É possível também fazer alusão a outras
a cidade inteira orgulha-se de seus filhos campeões olímpicos. Os cartas de leitores, para concordar ou não com o ponto de vista
estudantes paraibanos devem ser exemplo para todo o País, que anda expresso nelas. A linguagem da carta costuma variar conforme o
precisando, sim, de modelos a se inspirar. O Programa Internacional perfil dos leitores da publicação. Pode ser mais descontraída, se o
de Avaliação de Estudantes (PISA, na sigla em inglês) – o mais sério público é jovem, ou ter um aspecto mais formal. Esse tipo de carta
teste internacional para avaliar o desempenho escolar e coordenado apresenta formato parecido com o das cartas pessoais: data,
pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico vocativo (a quem ela é dirigida), corpo do texto, despedida e
– continua sendo implacável com o Brasil. No exame publicado de assinatura.
2012, o País aparece na incômoda penúltima posição entre 40 países
avaliados. TEXTOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
O teste aponta que o aprendizado de Matemática, Leitura e
Ciências durante o ciclo fundamental é sofrível, e perdemos para Sua finalidade discursiva pauta-se pela divulgação de
países como Colômbia, Tailândia e México. Já passa da hora de as conhecimentos acerca do saber científico, assemelhando-se,
autoridades melhorarem a gestão de nossa Educação Pública e portanto, com os demais gêneros circundantes no meio
seguir o exemplo da pequena Paulista. educacional como um todo, entre eles, textos didáticos e verbetes
Fonte: http://www.oestadoce.com.br/noticia/ de enciclopédias. Mediante tal pressuposto, já temos a ideia do
editorial-cidade-paraibana-e-exemplo-ao-pais caráter condizente à linguagem, uma vez que esta se perfaz de
características marcantes - a objetividade, isentando-se de traços
ARTIGOS pessoais por parte do emissor, como também por obedecer ao
padrão formal da língua. Outro aspecto passível de destaque é o
É comum encontrar circulando no rádio, na TV, nas revistas, fato de que no texto científico, às vezes, temos a oportunidade de
nos jornais, temas polêmicos que exigem uma posição por parte nos deparar com determinadas terminologias e conceitos próprios
dos ouvintes, espectadores e leitores, por isso, o autor geralmente da área científica a que eles se referem.
apresenta seu ponto de vista sobre o tema em questão através do Veiculados por diversos meios de comunicação, seja em
artigo (texto jornalístico). jornais, revistas, livros ou meio eletrônico, compartilham-se com
Nos gêneros argumentativos, o autor geralmente tem a uma gama de interlocutores. Razão esta que incide na forma como
intenção de convencer seus interlocutores e, para isso, precisa se estruturam, não seguindo um padrão rígido, uma vez que este se
apresentar bons argumentos, que consistem em verdades e interliga a vários fatores, tais como: assunto, público-alvo,
opiniões. O artigo de opinião é fundamentado em impressões emissor, momento histórico, dentre outros. Mas, geralmente, no
pessoais do autor do texto e, por isso, são fáceis de contestar. primeiro e segundo parágrafos, o autor expõe a ideia principal,
O artigo deve começar com uma breve introdução, que descreva sendo representada por uma ideia ou conceito. Nos parágrafos que
sucintamente o tema e refira os pontos mais importantes. Um leitor seguem, ocorre o desenvolvimento propriamente dito da ideia,
deve conseguir formar uma ideia clara sobre o assunto e o conteúdo lembrando que tais argumentos são subsidiados em fontes
do artigo ao ler apenas a introdução. Por favor tenha em mente que verdadeiramente passíveis de comprovação - comparações, dados
embora esteja familiarizado com o tema sobre o qual está a escrever, estatísticos, relações de causa e efeito, dentre outras.
outros leitores da podem não o estar. Assim,
é importante clarificar cedo o contexto do artigo. Por exemplo, NÃO FICCIONAIS – INSTRUCIONAIS
em vez de escrever:
Guano é um personagem que faz o papel de mascote do DIDÁTICOS
grupo Lily Mu. Seria mais informativo escrever:
Guano é um personagem da série de desenho animado Na leitura de um texto didático, é preciso apanhar suas ideias
Kappa Mikey que faz o papel de mascote do grupo Lily Mu. fundamentais. Um texto didático é um texto conceitual, ou seja,
Caracterize o assunto, especialmente se existirem opiniões não figurativo. Nele os termos significam exatamente aquilo que
diferentes sobre o tema. Seja objetivo. Evite o uso de eufemismos denotam, sendo descabida a atribuição de segundos sentidos ou
e de calão ou gíria, e explique o jargão. No final do artigo deve valores conotativos aos termos. Num texto didático devem se
listar as referências utilizadas, e ao longo do artigo deve citar a analisar ainda com todo o cuidado os elementos de coesão. Deve-
fonte das afirmações feitas, especialmente se estas forem se observar a expectativa de sentido que eles criam, para que possa
controversas ou suscitarem dúvidas. entender bem o texto.
O entendimento do texto didático de uma determinada
disciplina requer o conhecimento do significado exato dos termos
com que ela opera. Conhecer esses termos significa conhecer um
conjunto de princípios e de conceitos sobre os quais repousa uma

72
PORTUGUÊS
determinada ciência, certa teoria, um campo do saber. O uso da VERBETES EM GERAL
terminologia científica dá maior rigor à exposição, pois evita as
conotações e as imprecisões dos termos da linguagem cotidiana. O verbete é um tipo de texto predominantemente descritivo.
Por outro lado, a definição dos termos depende do nível de público A elaboração reflete o conflito seminal que define a elegância
a que se destina. científica: a negociação constante entre síntese e exaustividade. Os
Um manual de introdução à física, destinado a alunos de padrões do gênero valorizam tanto a brevidade e a abordagem
primeiro grau, expõe um conceito de cada vez e, por conseguinte, direta dos temas quanto o detalhamento e a completude da
vai definindo paulatinamente os termos específicos dessa ciência. informação.
Num livro de física para universitários não cabe a definição de É um texto escrito, de caráter informativo, destinado a
termos que os alunos já deveriam saber, pois senão quem escreve explicar um conceito segundo padrões descritivos sistemáticos,
precisaria escrever sobre tudo o que a ciência em que ele é determinados pela obra de referência da qual faz parte: mais
especialista já estudou. comumente, um dicionário ou uma enciclopédia. O verbete
é essencialmente destinado a consulta, o que lhe impõe uma
RESUMOS construção discursiva sucinta e de acesso imediato, embora isso
não incorra necessariamente em curta extensão. Geralmente, os
Resumo é uma exposição abreviada de um acontecimento. verbetes abordam conceitos bem estabelecidos em algum
Fazer um resumo significa apresentar o conteúdo de forma paradigma acadêmico-científico, ao invés de entrar em polêmicas
sintética, destacando as informações essenciais do conteúdo de um referentes a categorias teóricas discutíveis.
livro, artigo, argumento de filme, peça teatral, etc. A elaboração de Por sua pretensão universalista e pela posição respeitável que
um resumo exige análise e interpretação do conteúdo para que ocupa no sistema de valores da cultura racionalista, espera-se que
sejam transmitidas as ideias mais importantes. todo verbete siga as normas padrão de uso da língua escrita, em
Escrever um texto em poucas linhas ajuda o aluno a desenvolver um nível elevado de formalidade. Por sua natureza sistemática e
a sua capacidade de síntese, objetividade e clareza: três fatores que por ser destinado à consulta, espera-se que a linguagem do verbete
serão muito importantes ao longo da vida escolar. Além de ser um seja também o mais objetiva possível. As consequências
ótimo instrumento de estudo da matéria para fazer um teste. Resumo gramaticais desse princípio são: no nível lexical, precisão na
é sinônimo de “recapitulação”, quando, ao final de cada capítulo de escolha dos termos e ausência de palavras que expressem
um livro é apresentado um breve texto com as ideias chave do assunto subjetividade (opiniões, impressões e sensações); no nível
introduzido. Outros sinônimos de resumo são: sinopse, sumário, sintático, simplificação das construções; e no nível estilístico,
síntese, epítome e compêndio. denotação (ausência de ornamentos e figuras de linguagem).
É comum a presença de terminologia especializada na
RECEITAS construção do verbete, embora sua frequência varie conforme o
público consumidor da obra de referência em que se insere o texto.
A receita tem como objetivo informar a fórmula de um
Elementos de linguagens não verbais (especialmente pictóricos)
produto seja ele industrial ou caseiro, contando detalhadamente
são tradicionalmente agregados ao verbete com função de
sobre seu preparo. É uma sequência de passos para a preparação
de alimentos. As receitas geralmente vêm com seus verbos no esclarecimento.
modo imperativo, para dar ordens de como preparar seu prato seja BULAS
ele qual for. Elas são encontradas em diversas fontes como: livros,
sites, programas (TV/Rádio), revistas ou até mesmo em jornais e Bula pode referir-se a:
panfletos. A receita também ajuda a fazer vários tipos de pratos
típicos e saudáveis e até sobremesas deliciosas. Bula Pontifícia - documento expedido pela Santa Sé. Refere-se
CATÁLOGOS não ao conteúdo e à solenidade de um documento pontifício, como tal,
mas à apresentação, à forma externa do documento, a saber, lacrado
Catálogo é uma relação ordenada de coisas ou pessoas com com pequena bola (em latim, “bulla”) de cera ou metal, em geral,
descrições curtas a respeito de cada uma. Espécie de livro, guia ou chumbo. Assim, existem Litterae Apostolicae (carta apostólica) em
sumário que contém informações sobre lugares, pessoas, produtos e forma ou não de bula e também Constituição Apostólica em forma de
outros. Têm o objetivo de dar opções para uma melhor escolha. bula. Por exemplo, a carta apostólica “Munificentissimus Deus”, bem
como as Constituições Apostólicas de criação de dioceses. A bula mais
ÍNDICES antiga que se conhece é do Papa Agapito I (535), conservada apenas
em desenho. O mais antigo original conservado é do Papa Adeodato I
Enumeração detalhada dos assuntos, nomes de pessoas, (615-618).
nomes geográficos, acontecimentos, etc., com a indicação de sua
localização no texto. Bula (medicamento) - folha com informações sobre
medicamentos. Nome que se dá ao conjunto de informações sobre um
LISTAS medicamento que obrigatoriamente os laboratórios farmacêuticos
devem acrescentar à embalagem de seus produtos vendidos no varejo.
Enumeração de elementos selecionados do texto, tais como As informações podem ser direcionadas aos usuários dos
datas, ilustrações, exemplo, tabelas etc., na ordem de sua medicamentos, aos profissionais de saúde ou a ambos.
ocorrência.

73
PORTUGUÊS
NOTAS EXPLICATIVAS DE EMBALAGENS NÃO FICCIONAIS – ADMINISTRATIVOS

As notas explicativas servem para que o fabricante do produto REQUERIMENTOS


esclareça ou explique aspectos da composição, nutrição,
advertências a respeito do produto. É o instrumento por meio do qual o interessado requer a uma
autoridade administrativa um direito do qual se julga detentor.
NÃO FICCIONAIS – EPISTOLARES Estrutura:
- Vocativo, cargo ou função (e nome do destinatário), ou
BILHETES seja, da autoridade competente.
- Texto incluindo: Preâmbulo, contendo nome do requerente
O bilhete é uma mensagem curta, trocada entre as pessoas, (grafado em letras maiúsculas) e respectiva qualificação:
para pedir, agradecer, oferecer, informar, desculpar ou perguntar. nacionalidade, estado civil, profissão, documento de identidade,
O bilhete é composto normalmente de: data, nome do destinatário idade (se maior de 60 anos, para fins de preferência na tramitação
antecedido de um cumprimento, mensagem, despedida e nome do do processo, segundo a Lei 10.741/03), e domicílio (caso o
remetente. Exemplo: requerente seja servidor da Câmara dos Deputados, precedendo à
qualificação civil deve ser colocado o número do registro funcional
Belinha, e a lotação); Exposição do pedido, de preferência indicando os
Passei na sua casa para contar o que aconteceu comigo ontem fundamentos legais do requerimento e os elementos probatórios de
à noite. natureza fática.
Telefone para mim hoje à tarde, que eu vou contar tudinho - Fecho: “Nestes termos, Pede deferimento”.
para você! - Local e data.
Um beijinho da amiga Juliana. 14/03/2013 - Assinatura e, se for o caso de servidor, função ou cargo.

CARTAS FAMILIARES E CARTAS FORMAIS OFÍCIOS

A carta é um dos instrumentos mais úteis em situações O Ofício deve conter as seguintes partes:
diversas. É um dos mais antigos meios de comunicação. Em uma
carta formal é preciso ter cuidado na coerência do tratamento, por - Tipo e número do expediente, seguido da sigla do órgão
exemplo, se começamos a carta no tratamento em terceira pessoa que o expede. Exemplos:
devemos ir até o fim em terceira pessoa, seguindo também os
pronomes e formas verbais na terceira pessoa. Há vários tipos de Of. 123/2002-MME
cartas, o formato da carta depende do seu conteúdo: Aviso 123/2002-SG
- Carta Pessoal é a carta que escrevemos para amigos, Mem. 123/2002-MF
parentes, namorado(a), o remetente é a própria pessoa que assina a
carta, estas cartas não têm um modelo pronto, são escritas de uma - Local e data. Devem vir por extenso com alinhamento à
maneira particular. direita. Exemplo:
- Carta Comercial se torna o meio mais efetivo e seguro de
comunicação dentro de uma organização. A linguagem deve ser Brasília, 20 de maio de 2013
clara, simples, correta e objetiva. - Assunto. Resumo do teor do documento. Exemplos:

A carta ao ser escrita deve ser primeiramente bem analisada em Assunto: Produtividade do órgão em 2012.
termos de língua portuguesa, ou seja, deve-se observar a concordância, Assunto: Necessidade de aquisição de novos computadores.
a pontuação e a maneira de escrever com início, meio e então o fim,
contendo também um cabeçalho e se for uma carta formal, deve conter - Destinatário. O nome e o cargo da pessoa a quem é dirigida
pronomes de tratamento (Senhor, Senhora, V. Ex.ª etc.) e por fim a a comunicação. No caso do ofício, deve ser incluído também o
finalização da carta que deve conter somente um cumprimento formal endereço.
ou não (grato, beijos, abraços, adeus etc.). Depois de todos esses itens
terem sido colocados na carta, a mesma deverá ser colocada em um - Texto. Nos casos em que não for de mero encaminhamento
envelope para ser enviado ao destinatário. Na parte de trás e superior de documentos, o expediente deve conter a seguinte estrutura:
do envelope deve-se conter alguns dados muito importantes tais como:
nome do destinatário, endereço (rua, bairro e cidade) e por fim o CEP. Introdução: que se confunde com o parágrafo de abertura, na
Já o remetente (quem vai enviar a carta), também deve inserir na carta qual é apresentado o assunto que motiva a comunicação. Evite o
os mesmos dados que o do destinatário, que devem ser escritos na parte uso das formas: “Tenho a honra de”, “Tenho o prazer de”,
da frente do envelope. E por fim deve ser colocado no envelope um “Cumpreme informar que”, empregue a forma direta;
selo que serve para que a carta seja levada à pessoa mencionada. Desenvolvimento: no qual o assunto é detalhado; se o texto
contiver mais de uma ideia sobre o assunto, elas devem ser
tratadas em parágrafos distintos, o que confere maior clareza à
exposição; Conclusão: em que é reafirmada ou simplesmente
reapresentada a posição recomendada sobre o assunto.

74
PORTUGUÊS
Os parágrafos do texto devem ser numerados, exceto nos casos Nesse período, o pronome demonstrativo “estas” retoma o
em que estes estejam organizados em itens ou títulos e subtítulos. termo mulheres, enquanto “aqueles” recupera a palavra homens.
Os termos que servem para retomar outros são denominados
Coesão anafóricos; os que servem para anunciar, para antecipar outros são
chamados catafóricos. No exemplo a seguir, desta antecipa aban-
Uma das propriedades que distinguem um texto de um amon-
donar a faculdade no último ano:
toado de frases é a relação existente entre os elementos que os
constituem. A coesão textual é a ligação, a relação, a conexão entre “Já viu uma loucura desta, abandonar a faculdade no último
palavras, expressões ou frases do texto. Ela manifesta-se por ele- ano?”
mentos gramaticais, que servem para estabelecer vínculos entre os São anafóricos ou catafóricos os pronomes demonstrativos, os
componentes do texto. Observe: pronomes relativos, certos advérbios ou locuções adverbiais (nes-
“O iraquiano leu sua declaração num bloquinho comum de
se momento, então, lá), o verbo fazer, o artigo definido, os prono-
anotações, que segurava na mão.” mes pessoais de 3ª pessoa (ele, o, a, os, as, lhe, lhes), os pronomes
Nesse período, o pronome relativo “que” estabelece conexão indefinidos. Exemplos:
entre as duas orações. O iraquiano leu sua declaração num blo-
“Ele era muito diferente de seu mestre, a quem sucedera na
quinho comum de anotações e segurava na mão , retomando na
cátedra de Sociologia na Universidade de São Paulo.”
segunda um dos termos da primeira: bloquinho. O pronome relati-
vo é um elemento coesivo, e a conexão entre as duas orações, um O pronome relativo “quem” retoma o substantivo mestre.
fenômeno de coesão. Leia o texto que segue:
“As pessoas simplificam Machado de Assis; elas o veem como
Arroz-doce da infância
um pensador cín iço e descrente do amor e da amizade.”
Ingredientes
1 litro de leite desnatado O pronome pessoal “elas” recupera o substantivo pessoas; o
150g de arroz cru lavado pronome pessoal “o” retoma o nome Machado de Assis.
1 pitada de sal
4 colheres (sopa) de açúcar “Os dois homens caminhavam pela calçada, ambos trajando
1 colher (sobremesa) de canela em pó roupa escura.”

Preparo O numeral “ambos” retoma a expressão os dois homens.


Em uma panela ferva o leite, acrescente o arroz, a pitada de
sal e mexa sem parar até cozinhar o arroz. Adicione o açúcar e “Fui ao cinema domingo e, chegando lá, fiquei desanimado
deixe no fogo por mais 2 ou 3 minutos. Despeje em um recipiente, com a fila.”
polvilhe a canela. Sirva.
Cozinha Clássica Baixo Colesterol, nº4. O advérbio “lá” recupera a expressão ao cinema.
São Paulo, InCor, agosto de 1999, p. 42.
“O governador vai pessoalmente inaugurar a creche dos fun-
Toda receita culinária tem duas partes: lista dos ingredientes e cionários do palácio, e o fará para demonstrar seu apreço aos
modo de preparar. As informações apresentadas na primeira são servidores.”
retomadas na segunda. Nesta, os nomes mencionados pela primei-
ra vez na lista de ingredientes vêm precedidos de artigo definido, A forma verbal “fará” retoma a perífrase verbal vai inaugu-
o qual exerce, entre outras funções, a de indicar que o termo deter- rar e seu complemento.
minado por ele se refere ao mesmo ser a que uma palavra idêntica
já fizera menção. - Em princípio, o termo a que o anafórico se refere deve estar
No nosso texto, por exemplo, quando se diz que se adiciona o presente no texto, senão a coesão fica comprometida, como neste
açúcar, o artigo citado na primeira parte. Se dissesse apenas adi- exemplo:
cione açúcar, deveria adicionar, pois se trataria de outro açúcar,
diverso daquele citado no rol dos ingredientes. “André é meu grande amigo. Começou a namorá-la há vários
Há dois tipos principais de mecanismos de coesão: retomada meses.”
ou antecipação de palavras, expressões ou frases e encadeamento
de segmentos. A rigor, não se pode dizer que o pronome “la” seja um anafó-
rico, pois não está retomando nenhuma das palavras citadas antes.
Retomada ou Antecipação por meio de uma palavra grama- Exatamente por isso, o sentido da frase fica totalmente prejudica-
tical do: não há possibilidade de se depreender o sentido desse prono-
(pronome, verbos ou advérbios) me.
Pode ocorrer, no entanto, que o anafórico não se refira a ne-
“No mercado de trabalho brasileiro, ainda hoje não há total nhuma palavra citada anteriormente no interior do texto, mas que
igualdade entre homens e mulheres: estas ainda ganham menos do possa ser inferida por certos pressupostos típicos da cultura em que
que aqueles em cargos equivalentes.” se inscreve o texto. É o caso de um exemplo como este:

75
PORTUGUÊS
“O casamento teria sido às 20 horas. O noivo já estava de- “O rei do futebol (=Pelé) som podia ser um brasileiro.”
sesperado, porque eram 21 horas e ela não havia comparecido.”
“O herói de dois mundos (=Garibaldi) foi lembrado numa
Por dados do contexto cultural, sabe-se que o pronome “ela” recente minissérie de tevê.”
é um anafórico que só pode estar-se referindo à palavra noiva. Num
casamento, estando presente o noivo, o desespero só pode ser pelo Referência ao fato notório de Giuseppe Garibaldi haver lutado
atraso da noiva (representada por “ela” no exemplo citado). pela liberdade na Europa e na América.
- O artigo indefinido serve geralmente para introduzir infor- “Ele é um hércules (=um homem muito forte).
mações novas ao texto. Quando elas forem retomadas, deverão ser
precedidas do artigo definido, pois este é que tem a função de indi- Referência à força física que caracteriza o herói grego Hér-
car que o termo por ele determinado é idêntico, em termos de valor cules.
referencial, a um termo já mencionado.
“Um presidente da República tem uma agenda de trabalho
“O encarregado da limpeza encontrou uma carteira na sala extremamente carregada. Deve receber ministros, embaixadores,
de espetáculos. Curiosamente, a carteira tinha muito dinheiro visitantes estrangeiros, parlamentares; precisa a todo momento
dentro, mas nem um documento sequer.” tomar graves decisões que afetam a vida de muitas pessoas; ne-
cessita acompanhar tudo o que acontece no Brasil e no mundo.
- Quando, em dado contexto, o anafórico pode referir-se a dois Um presidente deve começar a trabalhar ao raiar do dia e termi-
termos distintos, há uma ruptura de coesão, porque ocorre uma nar sua jornada altas horas da noite.”
ambiguidade insolúvel. É preciso que o texto seja escrito de tal
forma que o leitor possa determinar exatamente qual é a palavra A repetição do termo presidente estabelece a coesão entre o
retomada pelo anafórico. último período e o que vem antes dele.

“Durante o ensaio, o ator principal brigou com o diretor por “Observava as estrelas, os planetas, os satélites. Os astros
causa da sua arrogância.” sempre o atraíram.

O anafórico “sua” pode estar-se referindo tanto à palavra ator Os dois períodos estão relacionados pelo hiperônimo astros,
quanto a diretor. que recupera os hipônimos estrelas, planetas, satélites.

“Eles (os alquimistas) acreditavam que o organismo do ho-mem


“André brigou com o ex-namorado de uma amiga, que traba-
era regido por humores (fluidos orgânicos) que percorriam, ou
lha na mesma firma.” apenas existiam, em maior ou menor intensidade em nosso cor-po.
Eram quatro os humores: o sangue, a fleuma (secreção pulmo-nar), a
Não se sabe se o anafórico “que” está se referindo ao termo
bile amarela e a bile negra. E eram também estes quatro fluidos
amiga ou a ex-namorado. Permutando o anafórico “que” por “o ligados aos quatro elementos fundamentais: ao Ar (seco),
qual” ou “a qual”, essa ambiguidade seria desfeita. à Água (úmido), ao Fogo (quente) e à Terra (frio),
respectivamen-te.”
Retomada por palavra lexical Ziraldo. In: Revista Vozes, nº3, abril de 1970, p.18.
(substantivo, adjetivo ou verbo)
Nesse texto, a ligação entre o segundo e o primeiro períodos
Uma palavra pode ser retomada, que por uma repetição, quer se faz pela repetição da palavra humores; entre o terceiro e o se-
por uma substituição por sinônimo, hiperônimo, hipônimo ou an- gundo se faz pela utilização do sinônimo fluidos.
tonomásia. É preciso manejar com muito cuidado a repetição de palavras,
Sinônimo é o nome que se dá a uma palavra que possui o pois, se ela não for usada para criar um efeito de sentido de inten-
mesmo sentido que outra, ou sentido bastante aproximado: injúria sificação, constituirá uma falha de estilo. No trecho transcrito a seguir,
e afronta, alegre e contente. por exemplo, fica claro o uso da repetição da palavra vice e outras
Hiperônimo é um termo que mantém com outro uma relação parecidas (vicissitudes, vicejam, viciem), com a evidente intenção de
do tipo contém/está contido; ridicularizar a condição secundária que um provável flamenguista
Hipônimo é uma palavra que mantém com outra uma relação atribui ao Vasco e ao seu Vice-presidente:
do tipo está contido/contém. O significado do termo rosa está con-
tido no de flor e o de flor contém o de rosa, pois toda rosa é uma “Recebi por esses dias um e-mail com uma série de piadas
flor, mas nem toda flor é uma rosa. Flor é, pois, hiperônimo de sobre o pouco simpático Eurico Miranda. Faltam-me provas, mas
rosa, e esta palavra é hipônimo daquela. tudo leva a crer que o remetente seja um flamenguista.”
Antonomásia é a substituição de um nome próprio por um Segundo o texto, Eurico nasceu para ser vice: é vice-presiden-
nome comum ou de um comum por um próprio. Ela ocorre, prin- te do clube, vice-campeão carioca e bi vice-campeão mundial. E
cipalmente, quando uma pessoa célebre é designada por uma ca- isso sem falar do vice no Carioca de futsal, no Carioca de basquete,
racterística notória ou quando o nome próprio de uma personagem no Brasileiro de basquete e na Taça Guanabara. São vicissitudes
famosa é usada para designar outras pessoas que possuam a mes- que vicejam. Espero que não viciem.
ma característica que a distingue: José Roberto Torero. In: Folha de S. Paulo, 08/03/2000, p.
4-7.

76
PORTUGUÊS
A elipse é o apagamento de um segmento de frase que pode Note-se que eles fazem mais do que ligar partes do texto: es-
ser facilmente recuperado pelo contexto. Também constitui um tabelecem entre elas relações semânticas de diversos tipos, como
expediente de coesão, pois é o apagamento de um termo que seria contrariedade, causa, consequência, condição, conclusão, etc. Es-
repetido, e o preenchimento do vazio deixado pelo termo apagado sas relações exercem função argumentativa no texto, por isso os
(=elíptico) exige, necessariamente, que se faça correlação com ou- operadores discursivos não podem ser usados indiscriminadamen-
tros termos presentes no contexto, ou referidos na situação em que te.
se desenrola a fala. Na frase “O time apresentou um bom futebol, mas não alcan-
Vejamos estes versos do poema “Círculo vicioso”, de Macha- çou a vitória”, por exemplo, o conector “mas” está adequadamen-
do de Assis: te usado, pois ele liga dois segmentos com orientação argumenta-
tiva contrária.
(...) Se fosse utilizado, nesse caso, o conector “portanto”, o resul-tado
Mas a lua, fitando o sol, com azedume: seria um paradoxo semântico, pois esse operador discursivo liga dois
segmentos com a mesma orientação argumentativa, sen-do o segmento
“Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela introduzido por ele a conclusão do anterior.
Claridade imorta, que toda a luz resume!”
Obra completa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1979, - Gradação: há operadores que marcam uma gradação numa
v.III, p. 151. série de argumentos orientados para uma mesma conclusão. Divi-
dem-se eles, em dois subtipos: os que indicam o argumento mais
Nesse caso, o verbo dizer, que seria enunciado antes daquilo forte de uma série: até, mesmo, até mesmo, inclusive, e os que
que disse a lua, isto é, antes das aspas, fica subentendido, é omitido subentendem uma escala com argumentos mais fortes: ao menos,
por ser facilmente presumível. pelo menos, no mínimo, no máximo, quando muito.
Qualquer segmento da frase pode sofrer elipse. Veja que, no
exemplo abaixo, é o sujeito meu pai que vem elidido (ou apagado) “Ele é um bom conferencista: tem uma voz bonita, é bem arti-
antes de sentiu e parou: culado, conhece bem o assunto de que fala e é até sedutor.”

“Meu pai começou a andar novamente, sentiu a pontada no Toda a série de qualidades está orientada no sentido de com-
peito e parou.” provar que ele é bom conferencista; dentro dessa série, ser sedutor
é considerado o argumento mais forte.
Pode ocorrer também elipse por antecipação. No exemplo que
segue, aquela promoção é complemento tanto de querer quanto de “Ele é ambicioso e tem grande capacidade de trabalho. Che-
desejar, no entanto aparece apenas depois do segundo verbo: gará a ser pelo menos diretor da empresa.”

“Ficou muito deprimido com o fato de ter sido preferido. Afi- Pelo menos introduz um argumento orientado no mesmo
nal, queria muito, desejava ardentemente aquela promoção.” sentido de ser ambicioso e ter grande capacidade de trabalho; por
outro lado, subentende que há argumentos mais fortes para com-
Quando se faz essa elipse por antecipação com verbos que têm provar que ele tem as qualidades requeridas dos que vão longe (por
regência diferente, a coesão é rompida. Por exemplo, não se deve exemplo, ser presidente da empresa) e que se está usando o menos
dizer “Conheço e gosto deste livro”, pois o verbo conhecer rege forte; ao menos, pelo menos e no mínimo ligam argumentos de
complemento não introduzido por preposição, e a elipse retoma o valor positivo.
complemento inteiro, portanto teríamos uma preposição inde-vida:
“Conheço (deste livro) e gosto deste livro”. Em “Implico e “Ele não é bom aluno. No máximo vai terminar o segundo
dispenso sem dó os estranhos palpiteiros”, diferentemente, no grau.”
complemento em elipse faltaria a preposição “com” exigida pelo
verbo implicar. No máximo introduz um argumento orientado no mesmo sen-
Nesses casos, para assegurar a coesão, o recomendável é co- tido de ter muita dificuldade de aprender; supõe que há uma escala
locar o complemento junto ao primeiro verbo, respeitando sua argumentativa (por exemplo, fazer uma faculdade) e que se está
regência, e retomá-lo após o segundo por um anafórico, acres- usando o argumento menos forte da escala no sentido de provar a
centando a preposição devida (Conheço este livro e gosto dele) ou afirmação anterior; no máximo e quando muito estabelecem liga-
eliminando a indevida (Implico com estranhos palpiteiros e os ção entre argumentos de valor depreciativo.
dispenso sem dó).
- Conjunção Argumentativa: há operadores que assinalam
Coesão por Conexão uma conjunção argumentativa, ou seja, ligam um conjunto de ar-
gumentos orientados em favor de uma dada conclusão: e, também,
Há na língua uma série de palavras ou locuções que são res- ainda, nem, não só... mas também, tanto... como, além de, a par
ponsáveis pela concatenação ou relação entre segmentos do texto. de.
Esses elementos denominam-se conectores ou operadores discur-
sivos. Por exemplo: visto que, até, ora, no entanto, contudo, ou “Se alguém pode tomar essa decisão é você. Você é o diretor
seja. da escola, é muito respeitado pelos funcionários e também é muito
querido pelos alunos.”

77
PORTUGUÊS
Arrolam-se três argumentos em favor da tese que é o interlo- “__Precisamos promover atletas das divisões de base para
cutor quem pode tomar uma dada decisão. O último deles é intro- reforçar nosso time.
duzido por “e também”, que indica um argumento final na mesma __Qualquer atleta das divisões de base é tão bom quanto os
direção argumentativa dos precedentes. do time principal.”
Esses operadores introduzem novos argumentos; não signifi-cam, Nesse caso, o argumento do técnico é a favor da promoção,
em hipótese nenhuma, a repetição do que já foi dito. Ou seja, só podem pois ele declara que qualquer atleta das divisões de base tem, pelo
ser ligados com conectores de conjunção segmentos que representam menos, o mesmo nível dos do time principal, o que significa que
uma progressão discursiva. É possível dizer “Dis-farçou as lágrimas estes não primam exatamente pela excelência em relação aos ou-
que o assaltaram e continuou seu discurso”, porque o segundo tros.
segmento indica um desenvolvimento da expo-sição. Não teria Suponhamos, agora, que o técnico tivesse invertido os seg-
cabimento usar operadores desse tipo para ligar dois segmentos como
mentos na sua fala:
“Disfarçou as lágrimas que o assaltaram e escondeu o choro que tomou
conta dele”. “__Qualquer atleta do time principal é tão bom quanto os das
- Disjunção Argumentativa: há também operadores que in- divisões de base.”
dicam uma disjunção argumentativa, ou seja, fazem uma conexão Nesse caso, seu argumento seria contra a necessidade da pro-
entre segmentos que levam a conclusões opostas, que têm orienta-
moção, pois ele estaria declarando que os atletas do time principal
ção argumentativa diferente: ou, ou então, quer... quer, seja... seja,
são tão bons quanto os das divisões de base.
caso contrário, ao contrário.
- Explicação ou Justificativa: há operadores que introduzem
“Não agredi esse imbecil. Ao contrário, ajudei a separar a
uma explicação ou uma justificativa em relação ao que foi dito
briga, para que ele não apanhasse.”
anteriormente: porque, já que, que, pois.
O argumento introduzido por ao contrário é diametralmente
“Já que os Estados Unidos invadiram o Iraque sem autori-
oposto àquele de que o falante teria agredido alguém.
zação da ONU, devem arcar sozinhos com os custos da guerra.”
- Conclusão: existem operadores que marcam uma conclusão
em relação ao que foi dito em dois ou mais enunciados anteriores Já que inicia um argumento que dá uma justificativa para a
(geralmente, uma das afirmações de que decorre a conclusão fica tese de que os Estados Unidos devam arcar sozinhos com o custo
implícita, por manifestar uma voz geral, uma verdade universal- da guerra contra o Iraque.
mente aceita): logo, portanto, por conseguinte, pois (o pois é con-
clusivo quando não encabeça a oração). - Contrajunção: os operadores discursivos que assinalam
uma relação de contrajunção, isto é, que ligam enunciados com
“Essa guerra é uma guerra de conquista, pois visa ao contro- orientação argumentativa contrária, são as conjunções adversati-
le dos fluxos mundiais de petróleo. Por conseguinte, não é moral- vas (mas, contudo, todavia, no entanto, entretanto, porém) e as
mente defensável.” concessivas (embora, apesar de, apesar de que, conquanto, ainda
que, posto que, se bem que).
Por conseguinte introduz uma conclusão em relação à afirma- Qual é a diferença entre as adversativas e as concessivas, se
ção exposta no primeiro período. tanto umas como outras ligam enunciados com orientação argu-
mentativa contrária?
- Comparação: outros importantes operadores discursivos são Nas adversativas, prevalece a orientação do segmento intro-
os que estabelecem uma comparação de igualdade, superioridade duzido pela conjunção.
ou inferioridade entre dois elementos, com vistas a uma conclusão
contrária ou favorável a certa ideia: tanto... quanto, tão... como, “O atleta pode cair por causa do impacto, mas se levanta
mais... (do) que. mais decidido a vencer.”

“Os problemas de fuga de presos serão tanto mais graves Nesse caso, a primeira oração conduz a uma conclusão negati-
quanto maior for a corrupção entre os agentes penitenciários.” va sobre um processo ocorrido com o atleta, enquanto a começada
pela conjunção “mas” leva a uma conclusão positiva. Essa segun-
O comparativo de igualdade tem no texto uma função argu- da orientação é a mais forte.
mentativa: mostrar que o problema da fuga de presos cresce à me- Compare-se, por exemplo, “Ela é simpática, mas não é boni-ta”
dida que aumenta a corrupção entre os agentes penitenciários; por com “Ela não é bonita, mas é simpática”. No primeiro caso, o que se
isso, os segmentos podem até ser permutáveis do ponto de vista quer dizer é que a simpatia é suplantada pela falta de beleza; no
sintático, mas não o são do ponto de vista argumentativo, pois não segundo, que a falta de beleza perde relevância diante da sim-patia.
há igualdade argumentativa proposta, “Tanto maior será a cor- Quando se usam as conjunções adversativas, introduz-se um
rupção entre os agentes penitenciários quanto mais grave for o argumento com vistas a determinada conclusão, para, em seguida,
problema da fuga de presos”. apresentar um argumento decisivo para uma conclusão contrária.
Muitas vezes a permutação dos segmentos leva a conclusões Com as conjunções concessivas, a orientação argumentativa
opostas: Imagine-se, por exemplo, o seguinte diálogo entre o dire- que predomina é a do segmento não introduzido pela conjunção.
tor de um clube esportivo e o técnico de futebol:

78
PORTUGUÊS
“Embora haja conexão entre saber escrever e saber gramáti- Por exemplo assinala que o que vem a seguir especifica,
ca, trata-se de capacidades diferentes.” exemplifica a afirmação de que a violência não é um fenômeno
A oração iniciada por “embora” apresenta uma orientação ar- adstrito aos membros das “camadas mais pobres da população”.
gumentativa no sentido de que saber escrever e saber gramática
são duas coisas interligadas; a oração principal conduz à direção - Retificação ou Correção: há ainda os que indicam uma re-
argumentativa contrária. tificação, uma correção do que foi afirmado antes: ou melhor, de
Quando se utilizam conjunções concessivas, a estratégia ar- fato, pelo contrário, ao contrário, isto é, quer dizer, ou seja, em
gumentativa é a de introduzir no texto um argumento que, embo- outras palavras. Exemplo:
ra tido como verdadeiro, será anulado por outro mais forte com
orientação contrária. “Vou-me casar neste final de semana. Ou melhor, vou passar
A diferença entre as adversativas e as concessivas, portanto, é a viver junto com minha namorada.”
de estratégia argumentativa. Compare os seguintes períodos:
O conector inicia um segmento que retifica o que foi dito an-
“Por mais que o exército tivesse planejado a operação (argu- tes.
mento mais fraco), a realidade mostrou-se mais complexa (argu- Esses operadores servem também para marcar um esclareci-
mento mais forte).” mento, um desenvolvimento, uma redefinição do conteúdo enun-
“O exército planejou minuciosamente a operação (argumen- ciado anteriormente. Exemplo:
to mais fraco), mas a realidade mostrou-se mais complexa (argu-
mento mais forte).” “A última tentativa de proibir a propaganda de cigarros nas
corridas de Fórmula 1 não vingou. De fato, os interesses dos fabri-
- Argumento Decisivo: há operadores discursivos que intro- cantes mais uma vez prevaleceram sobre os da saúde.”
duzem um argumento decisivo para derrubar a argumentação con-
trária, mas apresentando-o como se fosse um acréscimo, como se O conector introduz um esclarecimento sobre o que foi dito
fosse apenas algo mais numa série argumentativa: além do mais, antes.
Servem ainda para assinalar uma atenuação ou um reforço do
além de tudo, além disso, ademais.
conteúdo de verdade de um enunciado. Exemplo:
“Ele está num período muito bom da vida: começou a namo-
rar a mulher de seus sonhos, foi promovido na empresa, recebeu “Quando a atual oposição estava no comando do país, não
um prêmio que ambicionava havia muito tempo e, além disso, ga- fez o que exige hoje que o governo faça. Ao contrário, suas políti-
nhou uma bolada na loteria.” cas iam na direção contrária do que prega atualmente.

O operador discursivo introduz o que se considera a prova mais


O conector introduz um argumento que reforça o que foi dito
forte de que “Ele está num período muito bom da vida”; no entanto, antes.
essa prova é apresentada como se fosse apenas mais uma. - Explicação: há operadores que desencadeiam uma explica-
- Generalização ou Amplificação: existem operadores que ção, uma confirmação, uma ilustração do que foi afirmado antes:
assim, desse modo, dessa maneira.
assinalam uma generalização ou uma amplificação do que foi dito
antes: de fato, realmente, como aliás, também, é verdade que. “O exército inimigo não desejava a paz. Assim, enquanto se
“O problema da erradicação da pobreza passa pela geração processavam as negociações, atacou de surpresa.”
de empregos. De fato, só o crescimento econômico leva ao aumen- O operador introduz uma confirmação do que foi afirmado
to de renda da população.” antes.
O conector introduz uma amplificação do que foi dito antes. Coesão por Justaposição
“Ele é um técnico retranqueiro, como aliás o são todos os que É a coesão que se estabelece com base na sequência dos enun-
atualmente militam no nosso futebol. ciados, marcada ou não com sequenciadores. Examinemos os prin-
O conector introduz uma generalização ao que foi afirmado: cipais sequenciadores.
não “ele”, mas todos os técnicos do nosso futebol são retranquei-
ros. - Sequenciadores Temporais: são os indicadores de anterio-
ridade, concomitância ou posterioridade: dois meses depois, uma
- Especificação ou Exemplificação: também há operadores semana antes, um pouco mais tarde, etc. (são utilizados predomi-
que marcam uma especificação ou uma exemplificação do que foi nantemente nas narrações).
afirmado anteriormente: por exemplo, como.
“Uma semana antes de ser internado gravemente doente, ele
“A violência não é um fenômeno que está disseminado apenas esteve conosco. Estava alegre e cheio de planos para o futuro.”
entre as camadas mais pobres da população. Por exemplo, é cres- - Sequenciadores Espaciais: são os indicadores de posição
cente o número de jovens da classe média que estão envolvidos em relativa no espaço: à esquerda, à direita, junto de, etc. (são usados
toda sorte de delitos, dos menos aos mais graves.” principalmente nas descrições).

79
PORTUGUÊS
“A um lado, duas estatuetas de bronze dourado, representando Observe-se que falta o predicado da primeira oração. Quem
o amor e a castidade, sustentam uma cúpula oval de forma ligeira, es-creveu o período começou a encadear orações subordinadas e
donde se desdobram até o pavimento bambolins de cassa finíssima. “es-queceu-se” de terminar a principal.
(...) Do outro lado, há uma lareira, não de fogo, que o dispensa nosso Quebras de coesão desse tipo são mais comuns em períodos
ameno clima fluminense, ainda na maior força do inverno.” longos. No entanto, mesmo quando se elaboram períodos curtos é
José de Alencar. Senhora. preciso cuidar para que sejam sintaticamente completos e para que
São Paulo, FTD, 1992, p. 77. suas partes estejam bem conectadas entre si.
Para que um conjunto de frases constitua um texto, não basta
- Sequenciadores de Ordem: são os que assinalam a ordem que elas estejam coesas: se não tiverem unidade de sentido, mesmo
dos assuntos numa exposição: primeiramente, em segunda, a que aparentemente organizadas, elas não passarão de um
seguir, fi-nalmente, etc. amontoado injustificado. Exemplo:

“Para mostrar os horrores da guerra, falarei, inicialmente, das “Vivo há muitos anos em São Paulo. A cidade tem excelentes
agruras por que passam as populações civis; em seguida, discor-rerei restaurantes. Ela tem bairros muito pobres. Também o Rio de
sobre a vida dos soldados na frente de batalha; finalmente, exporei Janei-ro tem favelas.”
suas consequências para a economia mundial e, portanto, para a vida
cotidiana de todos os habitantes do planeta.” Todas as frases são coesas. O hiperônimo cidade retoma o subs-
tantivo São Paulo, estabelecendo uma relação entre o segundo e o
- Sequenciadores para Introdução: são os que, na primeiro períodos. O pronome “ela” recupera a palavra cidade, vin-
conversação principalmente, servem para introduzir um tema ou culando o terceiro ao segundo período. O operador também realiza
mudar de assun-to: a propósito, por falar nisso, mas voltando ao uma conjunção argumentativa, relacionando o quarto período ao ter-
assunto, fazendo um parêntese, etc. ceiro. No entanto, esse conjunto não é um texto, pois não apresenta
unidade de sentido, isto é, não tem coerência. A coesão, portanto,
“Joaquim viveu sempre cercado do carinho de muitas pessoas. A é condição necessária, mas não suficiente, para produzir um texto.
propósito, era um homem que sabia agradar às mulheres.”
Coerência
- Operadores discursivos não explicitados: se o texto for cons-
truído sem marcadores de sequenciação, o leitor deverá inferir, a partir Infância
da ordem dos enunciados, os operadores discursivos não ex-plicitados
na superfície textual. Nesses casos, os lugares dos diferen-tes O camisolão
conectores estarão indicados, na escrita, pelos sinais de pontua-ção: O jarro
ponto-final, vírgula, ponto-e-vírgula, dois-pontos. O passarinho
O oceano
“A reforma política é indispensável. Sem a existência da fide- A vista na casa que a gente sentava no sofá
lidade partidária, cada parlamentar vota segundo seus interesses
e não de acordo com um programa partidário. Assim, não há bases Adolescência
governamentais sólidas.”
Aquele amor
Esse texto contém três períodos. O segundo indica a causa de Nem me fale
a reforma política ser indispensável. Portanto o ponto-final do
primei-ro período está no lugar de um porque. Maturidade

A língua tem um grande número de conectores e sequenciado-res. O Sr. e a Sra. Amadeu


Apresentamos os principais e explicamos sua função. É preciso ficar Participam a V. Exa.
atento aos fenômenos de coesão. Mostramos que o uso inade-quado O feliz nascimento
dos conectores e a utilização inapropriada dos anafóricos ou De sua filha
catafóricos geram rupturas na coesão, o que leva o texto a não ter Gilberta
sentido ou, pelo menos, a não ter o sentido desejado. Outra falha Velhice
comum no que tange a coesão é a falta de partes indispensáveis da
oração ou do período. Analisemos este exemplo: O netinho jogou os óculos
Na latrina
“As empresas que anunciaram que apoiariam a campanha de Oswaldo de Andrade. Poesias reunidas.
combate à fome que foi lançada pelo governo federal.” 4ª Ed. Rio de Janeiro
O período compõe-se de: Civilização Brasileira, 1974, p. 160-161.
- As empresas
- que anunciaram (oração subordinada adjetiva restritiva da Talvez o que mais chame a atenção nesse poema, ao menos à
primeira oração) primeira vista, seja a ausência de elementos de coesão, quer reto-
- que apoiariam a campanha de combate à fome (oração mando o que foi dito antes, quer encadeando segmentos textuais.
subor-dinada substantiva objetiva direta da segunda oração) No entanto, percebemos nele um sentido unitário, sobretudo se
- que foi lançada pelo governo federal (oração subordinada soubermos que o seu título é “As quatro gares”, ou seja, as quatro
adjetiva restritiva da terceira oração). estações.

80
PORTUGUÊS
Com essa informação, podemos imaginar que se trata de fla-shes Há no texto, vários tipos de relação entre as partes que o com-
de cada uma das quatro grandes fases da vida: a infância, a põem, e, por isso, costuma-se falar em vários níveis de coerência.
adolescência, a maturidade e a velhice. A primeira é caracterizada
pelas descobertas (o oceano), por ações (o jarro, que certamente a Coerência Narrativa
criança quebrara; o passarinho que ela caçara) e por experiências
marcantes (a visita que se percebia na sala apropriada e o cami-solão A coerência narrativa consiste no respeito às implicações ló-
que se usava para dormir); a segunda é caracterizada por amores gicas entre as partes do relato. Por exemplo, para que um sujeito
perdidos, de que não se quer mais falar; a terceira, pela formalidade e realize uma ação, é preciso que ele tenha competência para tanto,
pela responsabilidade indicadas pela participação formal do ou seja, que saiba e possa efetuá-la. Constitui, então, incoerên-cia
nascimento da filha; a última, pela condescendência para com a
narrativa o seguinte exemplo: o narrador conta que foi a uma festa
traquinagem do neto (a quem cabe a vez de assumir a ação). A primeira
onde todos fumavam e, por isso, a espessa fumaça impedia que se
parte é uma sucessão de palavras; a segunda, uma frase em que falta
um nexo sintático; a terceira, a participação do nascimento de uma
visse qualquer coisa; de repente, sem mencionar nenhuma
filha; e a quarta, uma oração completa, po-rém aparentemente mudança dessa situação, ele diz que se encostou a uma coluna e
desgarrada das demais. passou a observar as pessoas, que eram ruivas, loiras, morenas. Se
Como se explica que sejamos capazes de entender esse poema o narrador diz que não podia enxergar nada, é incoerente dizer que
em seus múltiplos sentidos, apesar da falta de marcadores de coe- via as pessoas com tanta nitidez. Em outros termos, se nega a
são entre as partes? competência para a realização de um desempenho qualquer, esse
A explicação está no fato de que ele tem uma qualidade indis- desempenho não pode ocorrer. Isso por respeito às leis da coerên-
pensável para a existência de um texto: a coerência. cia narrativa. Observe outro exemplo:
Que é a unidade de sentido resultante da relação que se esta-
belece entre as partes do texto. Uma ideia ajuda a compreender a “Pior fez o quarto-zagueiro Edinho Baiano, do Paraná Clu-
outra, produzindo um sentido global, à luz do qual cada uma das be, entrevistado por um repórter da Rádio Cidade. O Paraná tinha
partes ganha sentido. No poema acima, os subtítulos “Infância”, tomado um balaio de gols do Guarani de Campinas, alguns dias
“Adolescência”, “Maturidade” e “Velhice” garantem essa unidade. antes. O repórter queria saber o que tinha acontecido. Edinho não
Colocar a participação formal do nascimento da filha, por exem- teve dúvida sobre os motivos:
plo, sob o título “Maturidade” dá a conotação da responsabilida-de __ Como a gente já esperava, fomos surpreendidos pelo ata-
habitualmente associada ao indivíduo adulto e cria um sentido que do Guarani.”
unitário. Ernâni Buchman. In: Folha de Londrina.
Esse texto, como outros do mesmo tipo, comprova que um
conjunto de enunciados pode formar um todo coerente mesmo sem A surpresa implica o inesperado. Não se pode ser surpreendi-
a presença de elementos coesivos, isto é, mesmo sem a presença do com o que já se esperava que acontecesse.
explícita de marcadores de relação entre as diferentes unidades lin-
guísticas. Em outros termos, a coesão funciona apenas como um Coerência Argumentativa
mecanismo auxiliar na produção da unidade de sentido, pois esta
depende, na verdade, das relações subjacentes ao texto, da não- A coerência argumentativa diz respeito às relações de im-
contradição entre as partes, da continuidade semântica, em síntese, plicação ou de adequação entre premissas e conclusões ou entre
da coerência. afirmações e consequências. Não é possível alguém dizer que é a
A coerência é um fator de interpretabilidade do texto, pois favor da pena de morte porque é contra tirar a vida de alguém. Da
possibilita que todas as suas partes sejam englobadas num único mesma forma, é incoerente defender o respeito à lei e à Constitui-
significado que explique cada uma delas. Quando esse sentido não ção Brasileira e ser favorável à execução de assaltantes no interior
pode ser alcançado por faltar relação de sentido entre as partes,
de prisões.
lemos um texto incoerente, como este:
Muitas vezes, as conclusões não são adequadas às premissas.
A todo ser humano foi dado o direito de opção entre a medio-
cridade de uma vida que se acomoda e a grandeza de uma vida Não há coerência, por exemplo, num raciocínio como este:
voltada para o aprimoramento intelectual.
A adolescência é uma fase tão difícil que todos enfrentam. De Há muitos servidores públicos no Brasil que são verdadeiros
repente vejo que não sou mais uma “criancinha” dependente do marajás.
“papai”. Chegou a hora de me decidir! Tenho que escolher uma O candidato a governador é funcionário público.
profissão para me realizar e ser independente financeiramente. Portanto o candidato é um marajá.
No país em que vivemos, que predomina o capitalismo, o mais
rico sempre é quem vence! Segundo uma lei da lógica formal, não se pode concluir nada
Apud: J. A. Durigan, M. B. M. Abaurre e Y. F. com certeza baseado em duas premissas particulares. Dizer que
Vieira (orgs). muitos servidores públicos são marajás não permite concluir que
A magia da mudança. Campinas, Unicamp, 1987, p. 53. qualquer um seja.
A falta de relação entre o que se diz e o que foi dito anterior-
Nesses parágrafos, vemos três temas (direito de opção; adoles- mente também constitui incoerência. É o que se vê neste diálogo:
cência e escolha profissional; relações sociais sob o capitalismo) que
mantêm relações muito tênues entre si. Esse fato, prejudicando “__ Vereador, o senhor é a favor ou contra o pagamento de
a continuidade semântica entre as partes, impede a apreensão do pedágio para circular no centro da cidade?
todo e, portanto, configura um texto incoerente. _

81
PORTUGUÊS
_ É preciso melhorar a vida dos habitantes das grandes cida- Como se vê, o léxico usado no último período do texto destoa
des. A degradação urbana atinge a todos nós e, por conseguinte, completamente do utilizado no período anterior.
é necessário reabilitar as áreas que contam com abundante
oferta de serviços públicos.” Ninguém há de negar a incoerência de um texto como este:
Saltou para a rua, abriu a janela do 5º andar e deixou um bilhe-te
Coerência Figurativa no parapeito explicando a razão de seu suicídio, em que há
evidente violação da lei sucessivamente dos eventos. Entretanto
A coerência figurativa refere-se à compatibilidade das figuras talvez nem todo mundo concorde que seja incoerente incluir guar-
que manifestam determinado tema. Para que o leitor possa per- danapos de papel no jantar do Itamarati descrito no item sobre
ceber o tema que está sendo veiculado por uma série de figuras coerência figurativa, alguém poderia objetivar que é preconceito
encadeadas, estas precisam ser compatíveis umas com as outras. considerá-los inadequados. Então, justifica-se perguntar: o que,
Seria estranho (para dizer o mínimo) que alguém, ao descrever um afinal, determina se um texto é ou não coerente?
jantar oferecido no palácio do Itamarati a um governador estran- A natureza da coerência está relacionada a dois conceitos bá-
geiro, depois de falar de baixela de prata, porcelana finíssima, flo- sicos de verdade: adequação à realidade e conformidade lógica
res, candelabros, toalhas de renda, incluísse no percurso figurativo entre os enunciados.
guardanapos de papel. Vimos que temos diferentes níveis de coerência: narrativa, ar-
gumentativa, figurativa, etc. Em cada nível, temos duas espécies
Coerência Temporal diversas de coerência:
- extratextual: aquela que diz respeito à adequação entre o
Por coerência temporal entende-se aquela que concerne à su- texto e uma “realidade” exterior a ele.
cessão dos eventos e à compatibilidade dos enunciados do ponto - intratextual: aquela que diz respeito à compatibilidade, à
de vista de sua localização no tempo. Não se poderia, por exemplo,
adequação, à não-contradição entre os enunciados do texto.
dizer: “O assassino foi executado na câmara de gás e, depois,
condenado à morte”. A exterioridade a que o conteúdo do texto deve ajustar-se
pode ser:
Coerência Espacial - o conhecimento do mundo: o conjunto de dados referentes
ao mundo físico, à cultura de um povo, ao conteúdo das ciências,
A coerência espacial diz respeito à compatibilidade dos enun-
etc. que constitui o repertório com que se produzem e se entendem
ciados do ponto de vista da localização no espaço. Seria incoeren-
textos. O período “O homem olhou através das paredes e viu onde
te, por exemplo, o seguinte texto: “O filme ‘A Marvada Carne’
os bandidos escondiam a vítima que havia sido sequestrada” é
mostra a mudança sofrida por um homem que vivia lá no interior
incoerente, pois nosso conhecimento do mundo diz que homens
e encanta-se com a agitação e a diversidade da vida na capital,
não vêem através das paredes. Temos, então, uma incoerência fi-
pois aqui já não suportava mais a mesmice e o tédio”. Dizendo lá
no interior, o enunciador dá a entender que seu pronunciamento gurativa extratextual.
- os mecanismos semânticos e gramaticais da língua: o con-
está sendo feito de algum lugar distante do interior; portanto ele
não poderia usar o advérbio “aqui” para localizar “a mesmice” e junto dos conhecimentos sobre o código linguístico necessário à
“o tédio” que caracterizavam a vida interiorana da personagem. codificação de mensagens decodificáveis por outros usuários da
Em síntese, não é coerente usar “lá” e “aqui” para indicar o mesma língua. O texto seguinte, por exemplo, está absolutamente sem
mesmo lugar. sentido por inobservância de mecanismos desse tipo:
Coerência do Nível de Linguagem Utilizado “Conscientizar alunos pré-sólidos ao ingresso de uma carrei-ra
universitária informações críticas a respeito da realidade pro-
A coerência do nível de linguagem utilizado é aquela que con- fissional a ser optada. Deve ser ciado novos métodos criativos nos
cerne à compatibilidade do léxico e das estruturas morfossintáti-cas ensinos de primeiro e segundo grau: estimulando o aluno a forma-ção
com a variante escolhida numa dada situação de comunicação. Ocorre crítica de suas ideias as quais, serão a praticidade cotidiana. Aptidões
incoerência relacionada ao nível de linguagem quando, por exemplo, pessoais serão associadas a testes vocacionais sérios de maneira
o enunciador utiliza um termo chulo ou pertencente à linguagem discursiva a analisar conceituações fundamentais.”
informal num texto caracterizado pela norma culta for-mal. Tanto
sabemos que isso não é permitido que, quando o faze-mos, Apud: J. A. Durigan et alii. Op. cit., p.
acrescentamos uma ressalva: com perdão da palavra, se me permitem
dizer. Observe um exemplo de incoerência nesse nível: 58. Fatores de Coerência

“Tendo recebido a notificação para pagamento da chama-da - O contexto: para uma dada unidade linguística, funcio-na
taxa do lixo, ouso dirigir-me a V. Exª, senhora prefeita, para como contexto a unidade linguística maior que ela: a sílaba é
expor-lhe minha inconformidade diante dessa medida, porque o contexto para o fonema; a palavra, para a sílaba; a oração, para a
IPTU foi aumentado, no governo anterior, de 0,6% para 1% do palavra; o período, para a oração; o texto, para o período, e assim
valor venal do imóvel exatamente para cobrir as despesas da mu- por diante.
nicipalidade com os gastos de coleta e destinação dos resíduos só-
lidos produzidos pelos moradores de nossa cidade. Francamente, “Um chopps, dois pastel, o polpettone do Jardim de Napo-li,
achei uma sacanagem esta armação da Prefeitura: jogar mais um cruzar a Ipiranga com a avenida São João, o “Parmera”, o
gasto nas costas da gente.” “Curíntia”, todo mundo estar usando cinto de segurança.”

82
PORTUGUÊS
À primeira vista, parece não haver nenhuma coerência na enu- - As regras do gênero:
meração desses elementos. Quando ficamos sabendo, no entanto,
que eles fazem parte de um texto intitulado “100 motivos para “O homem olhou através das paredes e viu onde os bandidos
gostar de São Paulo”, o que aparentemente era caótico torna-se escondiam a vítima que havia sido sequestrada.”
coerente:
Essa frase é incoerente no discurso cotidiano, mas é comple-
100 motivos para gostar de São Paulo tamente coerente no mundo criado pelas histórias de super-heróis, em
que o Super-Homem, por exemplo, tem força praticamente ilimitada;
1. Um chopps pode voar no espaço a uma velocidade igual à da luz; quando
2. E dois pastel ultrapassa essa velocidade, vence a barreira do tempo e pode
(...) transferir-se para outras épocas; seus olhos de raios X permi-tem-lhe
5. O polpettone do Jardim de ver através de qualquer corpo, a distâncias infinitas, etc.
Napoli (...) Nosso conhecimento de mundo não é restrito ao que efetiva-
30. Cruzar a Ipiranga com a av. São João
mente existe, ao que se pode ver, tocar, etc.: ele inclui também os
(...)
43. O “Parmera” mundos criados pela linguagem nos diferentes gêneros de texto,
(...) ficção científica, contos maravilhosos, mitos, discurso religioso,
45. O “Curíntia” etc., regidos por outras lógicas. Assim, o que é incoerente num
(..) determinado gênero não o é, necessariamente, em outro.
59. Todo mundo estar usando cinto de segurança
(...) - O sentido não literal:

O texto apresenta os traços culturais da cidade, e todos con- “As verdes ideias incolores dormem, mas poderão explodir a
vergem para um único significado: a celebração da capital do esta-do qualquer momento.”
de São Paulo no seu aniversário. Os dois primeiros itens de nos-so
exemplo referem-se a marcas linguísticas do falar paulistano; o Tomando em seu sentido literal, esse texto é absurdo, pois,
terceiro, a um prato que tornou conhecido o restaurante chamado nessa acepção, o termo ideias não pode ser qualificado por adjeti-
Jardim de Napoli; o quarto, a um verso da música “Sampa”, de vos de cor; não se podem atribuir ao mesmo ser, ao mesmo tempo,
Caetano Veloso; o sexto e o sétimo, à maneira como os dois times mais as qualidades verde e incolor; o verbo dormir deve ter como sujei-
populares da cidade são denominados na variante linguística popular; to um substantivo animado.
o último à obediência a uma lei que na época ainda não vigorava no No entanto, se entendermos ideias verdes em sentido não li-
resto do país. teral, como concepções ambientalistas, o período pode ser lido da
- A situação de comunicação: seguinte maneira: “As idéias ambientalistas sem atrativo estão la-
tentes, mas poderão manifestar-se a qualquer momento.”
__A telefônica.
__Era hoje? - O intertexto:
Esse diálogo não seria compreendido fora da situação de in- Falso diálogo entre Pessoa e Caeiro
terlocução, porque deixa implícitos certos enunciados que, dentro
dela, são perfeitamente compreendidos: __ a chuva me deixa triste...
__ a mim me deixa molhado.
__ O empregado da companhia telefônica que vinha conser-
José Paulo Paes. Op. Cit., p 79.
tar o telefone está aí.
__ Era hoje que ele viria?
Muitos textos retomam outros, constroem-se com base em
- O conhecimento de mundo: outros e, por isso, só ganham coerência nessa relação com o texto
sobre o qual foram construídos, ou seja, na relação de intertextua-
31 de março / 1º de abril lidade. É o caso desse poema. Para compreendê-lo, é preciso saber
Dúvida Revolucionária que Alberto Caeiro é um dos heterônimos do poeta Fernando Pes-
soa; que heterônimo não é pseudônimo, mas uma individualidade
Ontem foi hoje? lírica distinta da do autor (o ortônimo); que para Caeiro o real é a
Ou hoje é que foi ontem? exterioridade e não devemos acrescentar-lhe impressões subjeti-
vas; que sua posição é antimetafísica; que não devemos interpre-
Aparentemente, falta coerência temporal a esse poema: o que tar a realidade pela inteligência, pois essa interpretação conduz a
significa “ontem foi hoje” ou “hoje é que foi ontem?”. No entanto, as simples conceitos vazios, em síntese, é preciso ter lido textos de
duas datas colocadas no início do poema e o título remetem a um Caeiro. Por outro lado, é preciso saber que o ortônimo (Fernando
episódio da História do Brasil, o golpe militar de 1964, chama-do Pessoa ele mesmo) exprime suas emoções, falando da solidão in-
Revolução de 1964. Esse fato deve fazer parte de nosso conhe-cimento terior, do tédio, etc.
de mundo, assim como o detalhe de que ele ocorreu no dia
1º de abril, mas sua comemoração foi mudada para 31 de março, Incoerência Proposital
para evitar relações entre o evento e o “dia da mentira”.

83
PORTUGUÊS
Existem textos em que há uma quebra proposital da coerência, Para percebermos a coerência desse texto, é preciso, no míni-
com vistas a produzir determinado efeito de sentido, assim como mo, que nosso conhecimento de mundo inclua o poema:
existem outros que fazem da não-coerência o próprio princípio
constitutivo da produção de sentido. Poderia alguém perguntar, então, O Adeus de Teresa
se realmente existe texto incoerente. Sem dúvida existe: é aquele em
que a incoerência é produzida involuntariamente, por inabilidade, A primeira vez que fitei Teresa,
descuido ou ignorância do enunciador, e não usada funcionalmente Como as plantas que arrasta a correnteza,
para construir certo sentido. A valsa nos levou nos giros seus...
Quando se trata de incoerência proposital, o enunciador dis-
semina pistas no texto, para que o leitor perceba que ela faz parte de Castro Alves
um programa intencionalmente direcionado para veicular de-
terminado tema. Se, por exemplo, num texto que mostra uma festa Para identificarmos a relação de intertextualidade entre eles;
muito luxuosa, aparecem figuras como pessoas comendo de boca que tenhamos noção da crítica do Modernismo às escolas literárias
aberta, falando em voz muito alta e em linguagem chula, osten-tando precedentes, no caso, ao Romantismo, em que nenhuma musa se-
sua últimas aquisições, o enunciador certamente não está querendo ria tratada com tanta cerimônia e muito menos teria “cara”; que fa-
manifestar o tema do luxo, do requinte, mas o da vulga-ridade dos çamos uma leitura não literal; que percebamos sua lógica interna,
novos-ricos. Para ficar no exemplo da festa: em filmes como “Quero criada pela disseminação proposital de elementos que pareceriam
ser grande” (Big, dirigido por Penny Marshall em 1988, com Tom absurdos em outro contexto.
Hanks) e “Um convidado bem trapalhão” (The party, Blake Edwards,
1968, com Peter Sellers), há cenas em que os respectivos protagonistas VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
exibem comportamento incompatível com a ocasião, mas não há
incoerência nisso, pois todo o enredo converge para que o espectador “Há uma grande diferença se fala um deus ou um herói; se
se solidarize com eles, por sua ingenuidade e falta de traquejo social. um velho amadurecido ou um jovem impetuoso na flor da idade;
Mas, se aparece num texto uma figura incoerente uma única vez, o se uma matrona autoritária ou uma dedicada; se um mercador
leitor não pode ter certeza de que se trata de uma quebra de coerência errante ou um lavrador de pequeno campo fértil (...)”
proposital, com vistas a criar determinado efeito de sentido, vai pensar
Todas as pessoas que falam uma determinada língua conhe-
que se trata de contradição devida a inabilidade, descuido ou
cem as estruturas gerais, básicas, de funcionamento podem sofrer
ignorância do enun-ciador.
variações devido à influência de inúmeros fatores. Tais variações,
que às vezes são pouco perceptíveis e outras vezes bastantes evi-
Dissemos também que há outros textos que fazem da inversão dentes, recebem o nome genérico de variedades ou variações lin-
da realidade seu princípio constitutivo; da incoerência, um fator de guísticas.
coerência. São exemplos as obras de Lewis Carrol “Alice no país Nenhuma língua é usada de maneira uniforme por todos os
das maravilhas” e “Através do espelho”, que pretendem apre- seus falantes em todos os lugares e em qualquer situação. Sabe-se
sentar paradoxos de sentido, subverter o princípio da realidade, que, numa mesma língua, há formas distintas para traduzir o mes-
mostrar as aporias da lógica, confrontar a lógica do senso comum mo significado dentro de um mesmo contexto. Suponham-se, por
com outras. exemplo, os dois enunciados a seguir:
Reproduzimos um poema de Manuel Bandeira que contém Veio me visitar um amigo que eu morei na casa dele faz tem-
mais de um exemplo do que foi abordado: po.
Veio visitar-me um amigo em cuja casa eu morei há anos.
Teresa Qualquer falante do português reconhecerá que os dois enun-
ciados pertencem ao seu idioma e têm o mesmo sentido, mas tam-
A primeira vez que vi Teresa bém que há diferenças. Pode dizer, por exemplo, que o segundo é
Achei que ela tinha pernas estúpidas de gente mais “estudada”.
Achei também que a cara parecia uma perna Isso é prova de que, ainda que intuitivamente e sem saber dar
grandes explicações, as pessoas têm noção de que existem muitas
Quando vi Teresa de novo maneiras de falar a mesma língua. É o que os teóricos chamam de
Achei que seus olhos eram muito mais velhos variações linguísticas.
[que o resto do corpo As variações que distinguem uma variante de outra se mani-
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando festam em quatro planos distintos, a saber: fônico, morfológico,
[que o resto do corpo nascesse) sintático e lexical.

Da terceira vez não vi mais nada Variações Fônicas


Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face São as que ocorrem no modo de pronunciar os sons constituin-
[das águas. tes da palavra. Os exemplos de variação fônica são abundantes e,
Poesias completas e prosa. Rio de ao lado do vocabulário, constituem os domínios em que se percebe
Janeiro, Aguilar, 1986, p. 214. com mais nitidez a diferença entre uma variante e outra. Entre es-
ses casos, podemos citar:

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PORTUGUÊS
- a queda do “r” final dos verbos, muito comum na linguagem - a substituição do pronome relativo “cujo” pelo pronome
oral no português: falá, vendê, curti (em vez de curtir), compô. “que” no início da frase mais a combinação da preposição “de”
- o acréscimo de vogal no início de certas palavras: eu me com o pronome “ele” (=dele): É um amigo que eu já conhecia a
alembro, o pássaro avoa, formas comuns na linguagem clássica, família dele (em vez de ...cuja família eu já conhecia).
hoje frequentes na fala caipira. - a mistura de tratamento entre tu e você, sobretudo quando se
- a queda de sons no início de palavras: ocê, cê, ta, tava, trata de verbos no imperativo: Entra, que eu quero falar com você
marelo (amarelo), margoso (amargoso), características na (em vez de contigo); Fala baixo que a sua (em vez de tua) voz me
linguagem oral coloquial. irrita.
- a redução de proparoxítonas a paroxítonas: Petrópis (Petró- - ausência de concordância do verbo com o sujeito: Eles che-
polis), fórfi (fósforo), porva (pólvora), todas elas formam típicas gou tarde (em grupos de baixa extração social); Faltou naquela
de pessoas de baixa extração social. semana muitos alunos; Comentou-se os episódios.
- A pronúncia do “l” final de sílaba como “u” (na maioria das
regiões do Brasil) ou como “l” (em certas regiões do Rio Grande do Variações Léxicas
Sul e Santa Catarina) ou ainda como “r” (na linguagem caipira):
quintau, quintar, quintal; pastéu, paster, pastel; faróu, farór, farol. É o conjunto de palavras de uma língua. As variantes do
- deslocamento do “r” no interior da sílaba: largato, preguntar, plano do léxico, como as do plano fônico, são muito numerosas e
estrupo, cardeneta, típicos de pessoas de baixa extração social. caracterizam com nitidez uma variante em confronto com outra.
Eis alguns, entre múltiplos exemplos possíveis de citar:
Variações Morfológicas - a escolha do adjetivo maior em vez do advérbio muito para
formar o grau superlativo dos adjetivos, características da lingua-
São as que ocorrem nas formas constituintes da palavra. Nes- gem jovem de alguns centros urbanos: maior legal; maior difícil;
se domínio, as diferenças entre as variantes não são tão numero- Esse amigo é um carinha maior esforçado.
sas quanto as de natureza fônica, mas não são desprezíveis. Como
- as diferenças lexicais entre Brasil e Portugal são tantas e, às
exemplos, podemos citar:
vezes, tão surpreendentes, que têm sido objeto de piada de lado a
- o uso do prefixo hiper- em vez do sufixo -íssimo para criar
lado do Oceano. Em Portugal chamam de cueca aquilo que no
o superlativo de adjetivos, recurso muito característico da
linguagem jovem urbana: um cara hiper-humano (em vez de Brasil chamamos de calcinha; o que chamamos de fila no Brasil,
humaníssimo), uma prova hiper difícil (em vez de dificílima), um em Portugal chamam de bicha; café da manhã em Portugal se diz
carro hiper pos-sante (em vez de possantíssimo). pequeno almoço; camisola em Portugal traduz o mesmo que cha-
- a conjugação de verbos irregulares pelo modelo dos regula- mamos de suéter, malha, camiseta.
res: ele interviu (interveio), se ele manter (mantiver), se ele ver
(vir) o recado, quando ele repor (repuser). Designações das Variantes Lexicais:
- a conjugação de verbos regulares pelo modelo de
irregulares: vareia (varia), negoceia (negocia). - Arcaísmo: diz-se de palavras que já caíram de uso e, por isso,
- uso de substantivos masculinos como femininos ou vice-ver-sa: denunciam uma linguagem já ultrapassada e envelhecida. É o caso de
duzentas gramas de presunto (duzentos), a champanha (o cham- reclame, em vez de anúncio publicitário; na década de 60, o rapaz
panha), tive muita dó dela (muito dó), mistura do cal (da cal). chamava a namorada de broto (hoje se diz gatinha ou forma
- a omissão do “s” como marca de plural de substantivos e semelhante), e um homem bonito era um pão; na linguagem antiga,
adjetivos (típicos do falar paulistano): os amigo e as amiga, os médico era designado pelo nome físico; um bobalhão era chamado de
livro indicado, as noite fria, os caso mais comum. coió ou bocó; em vez de refrigerante usava-se gasosa; algo muito
- o enfraquecimento do uso do modo subjuntivo: Espero que bom, de qualidade excelente, era supimpa.
o Brasil reflete (reflita) sobre o que aconteceu nas últimas eleições;
Se eu estava (estivesse) lá, não deixava acontecer; Não é possível - Neologismo: é o contrário do arcaísmo. Trata-se de palavras
que ele esforçou (tenha se esforçado) mais que eu. recém-criadas, muitas das quais mal ou nem estraram para os di-
cionários. A moderna linguagem da computação tem vários exem-
Variações Sintáticas plos, como escanear, deletar, printar; outros exemplos extraídos
da tecnologia moderna são mixar (fazer a combinação de sons),
Dizem respeito às correlações entre as palavras da frase. No robotizar, robotização.
domínio da sintaxe, como no da morfologia, não são tantas as dife-
renças entre uma variante e outra. Como exemplo, podemos citar: - Estrangeirismo: trata-se do emprego de palavras empresta-
- o uso de pronomes do caso reto com outra função que não a das de outra língua, que ainda não foram aportuguesadas, preser-
de sujeito: encontrei ele (em vez de encontrei-o) na rua; não irão vando a forma de origem. Nesse caso, há muitas expressões lati-
sem você e eu (em vez de mim); nada houve entre tu (em vez de ti) nas, sobretudo da linguagem jurídica, tais como: habeas-corpus
e ele. (literalmente, “tenhas o corpo” ou, mais livremente, “estejas em
- o uso do pronome lhe como objeto direto: não lhe (em vez liberdade”), ipso facto (“pelo próprio fato de”, “por isso mesmo”),
de “o”) convidei; eu lhe (em vez de “o”) vi ontem. ipsis litteris (textualmente, “com as mesmas letras”), grosso modo
- a ausência da preposição adequada antes do pronome relativo (“de modo grosseiro”, “impreciso”), sic (“assim, como está escri-
em função de complemento verbal: são pessoas que (em vez de: de to”), data venia (“com sua permissão”).
que) eu gosto muito; este é o melhor filme que (em vez de a que) eu
assisti; você é a pessoa que (em vez de em que) eu mais confio.

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PORTUGUÊS
As palavras de origem inglesas são inúmeras: insight (com- As variações mais importantes, para o interesse do concurso
preensão repentina de algo, uma percepção súbita), feeling (“sen- público, são os seguintes:
sibilidade”, capacidade de percepção), briefing (conjunto de in-
formações básicas), jingle (mensagem publicitária em forma de - Sócio-Cultural: Esse tipo de variação pode ser percebido
música). com certa facilidade. Por exemplo, alguém diz a seguinte frase:
Do francês, hoje são poucos os estrangeirismos que ainda não
se aportuguesaram, mas há ocorrências: hors-concours (“fora de “Tá na cara que eles não teve peito de encará os ladrão.”
concurso”, sem concorrer a prêmios), tête-à-tête (palestra particu- (frase 1)
lar entre duas pessoas), esprit de corps (“espírito de corpo”, cor-
porativismo), menu (cardápio), à la carte (cardápio “à escolha do Que tipo de pessoa comumente fala dessa maneira? Vamos
freguês”), physique du rôle (aparência adequada à caracterização caracterizá-la, por exemplo, pela sua profissão: um advogado? Um
de um personagem). trabalhador braçal de construção civil? Um médico? Um garimpei-
ro? Um repórter de televisão?
- Jargão: é o lexo típico de um campo profissional como a E quem usaria a frase abaixo?
medicina, a engenharia, a publicidade, o jornalismo. No jar-
gão médico temos uso tópico (para remédios que não devem ser “Obviamente faltou-lhe coragem para enfrentar os ladrões.”
ingeridos), apneia (interrupção da respiração), AVC ou acidente
(frase 2)
vascular cerebral (derrame cerebral). No jargão jornalístico cha-
ma-se de gralha, pastel ou caco o erro tipográfico como a troca ou Sem dúvida, associamos à frase 1 os falantes pertencentes a
inversão de uma letra. A palavra lide é o nome que se dá à abertura grupos sociais economicamente mais pobres. Pessoas que, muitas
de uma notícia ou reportagem, onde se apresenta sucintamente o vezes, não frequentaram nem a escola primária, ou, quando muito,
assunto ou se destaca o fato essencial. Quando o lide é muito pro- fizeram-no em condições não adequadas.
lixo, é chamado de nariz-de-cera. Furo é notícia dada em primeira Por outro lado, a frase 2 é mais comum aos falantes que ti-
mão. Quando o furo se revela falso, foi uma barriga. Entre os jor- veram possibilidades socioeconômicas melhores e puderam, por
nalistas é comum o uso do verbo repercutir como transitivo direto: isso, ter um contato mais duradouro com a escola, com a leitura,
__ Vá lá repercutir a notícia de renúncia! (esse uso é considerado com pessoas de um nível cultural mais elevado e, dessa forma,
errado pela gramática normativa). “aperfeiçoaram” o seu modo de utilização da língua.
Convém ficar claro, no entanto, que a diferenciação feita aci-ma
- Gíria: é o lexo especial de um grupo (originariamente de
está bastante simplificada, uma vez que há diversos outros fa-tores que
marginais) que não deseja ser entendido por outros grupos ou que
interferem na maneira como o falante escolhe as palavras e constrói as
pretende marcar sua identidade por meio da linguagem. Existe a
frases. Por exemplo, a situação de uso da língua: um advogado, num
gíria de grupos marginalizados, de grupos jovens e de segmen-tos
tribunal de júri, jamais usaria a expressão “tá na cara”, mas isso não
sociais de contestação, sobretudo quando falam de atividades
significa que ele não possa usá-la numa situa-ção informal
proibidas. A lista de gírias é numerosíssima em qualquer língua:
(conversando com alguns amigos, por exemplo).
ralado (no sentido de afetado por algum prejuízo ou má sorte), ir
pro brejo (ser malsucedido, fracassar, prejudicar-se irremediavel- Da comparação entre as frases 1 e 2, podemos concluir que as
mente), cara ou cabra (indivíduo, pessoa), bicha (homossexual condições sociais influem no modo de falar dos indivíduos, geran-
masculino), levar um lero (conversar). do, assim, certas variações na maneira de usar uma mesma língua.
A elas damos o nome de variações socioculturais.
- Preciosismo: diz-se que é preciosista um léxico excessiva-
mente erudito, muito raro, afetado: Escoimar (em vez de corrigir); - Geográfica: é, no Brasil, bastante grande e pode ser facil-
procrastinar (em vez de adiar); discrepar (em vez de discordar); mente notada. Ela se caracteriza pelo acento linguístico, que é o
cinesíforo (em vez de motorista); obnubilar (em vez de obscurecer conjunto das qualidades fisiológicas do som (altura, timbre, inten-
ou embaçar); conúbio (em vez de casamento); chufa (em vez de sidade), por isso é uma variante cujas marcas se notam principal-
caçoada, troça). mente na pronúncia. Ao conjunto das características da pronúncia
de uma determinada região dá-se o nome de sotaque: sotaque mi-
- Vulgarismo: é o contrário do preciosismo, ou seja, o uso de um neiro, sotaque nordestino, sotaque gaúcho etc. A variação geográ-
léxico vulgar, rasteiro, obsceno, grosseiro. É o caso de quem diz, por fica, além de ocorrer na pronúncia, pode também ser percebida no
exemplo, de saco cheio (em vez de aborrecido), se ferrou vocabulário, em certas estruturas de frases e nos sentidos diferen-
(em vez de se deu mal, arruinou-se), feder (em vez de cheirar tes que algumas palavras podem assumir em diferentes regiões do
mal), ranho (em vez de muco, secreção do nariz). país.
Leia, como exemplo de variação geográfica, o trecho abaixo,
Tipos de Variação em que Guimarães Rosa, no conto “São Marcos”, recria a fala de
um típico sertanejo do centro-norte de Minas:
Não tem sido fácil para os estudiosos encontrar para as va-riantes
linguísticas um sistema de classificação que seja simples e, ao mesmo “__ Mas você tem medo dele... [de um feiticeiro chamado
tempo, capaz de dar conta de todas as diferenças que caracterizam os Mangolô!].
múltiplos modos de falar dentro de uma comuni-dade linguística. O __ Há-de-o!... Agora, abusar e arrastar mala, não faço. Não faço,
principal problema é que os critérios adotados, muitas vezes, se porque não paga a pena... De primeiro, quando eu era moço, isso
superpõem, em vez de atuarem isoladamente. sim!... Já fui gente. Para ganhar aposta, já fui, de noite, foras

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PORTUGUÊS
d’hora, em cemitério... (...). Quando a gente é novo, gosta de fa- Não esqueça também (seria imperdoável) o Terceiro Mundo,
zer bonito, gosta de se comparecer. Hoje, não, estou percurando a descapitalização, o desenvolvimento, o unissex, o bandeirinha,
é sossego...” o mass media, o Ibope, a renda per capita, a mixagem.
- Histórica: as línguas não são estáticas, fixas, imutáveis. Elas Só? Não. Tem seu lugar ao sol a metalinguagem, o servo-
se alteram com o passar do tempo e com o uso. Muda a forma de mecanismo, as algias, a coca-cola, o superego, a Futurologia, a
falar, mudam as palavras, a grafia e o sentido delas. Essas altera- homeostasia, a Adecif, a Transamazônica, a Sudene, o Incra, a
ções recebem o nome de variações históricas. Unesco, o Isop, a Oea, e a ONU.
Os dois textos a seguir são de Carlos Drummond de Andrade. Estão reclamando, porque não citei a conotação, o conglo-
Neles, o escritor, meio em tom de brincadeira, mostra como a lín- merado, a diagramação, o ideologema, o idioleto, o ICM, a IBM,
gua vai mudando com o tempo. No texto I, ele fala das palavras de o falou, as operações triangulares, o zoom, e a guitarra elétrica.
antigamente e, no texto II, fala das palavras de hoje. Olhe aí na fila – quem? Embreagem, defasagem, barra tenso-
ra, vela de ignição, engarrafamento, Detran, poliéster, filhotes de
Texto I bonificação, letra imobiliária, conservacionismo, carnet da gira-
fa, poluição.
Antigamente Fundos de investimento, e daí? Também os de incentivos fis-
cais. Knon-how. Barbeador elétrico de noventa microrranhuras.
Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram
Fenolite, Baquelite, LP e compacto. Alimentos super congelados.
todas mimosas e prendadas. Não fazia anos; completavam prima-
Viagens pelo crediário, Circuito fechado de TV Rodoviária. Argh!
veras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões,
faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos
Pow! Click!
meses debaixo do balaio. E se levantam tábua, o remédio era tirar o Não havia nada disso no Jornal do tempo de Venceslau Brás,
cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia. (...) Os mais ido-sos, ou mesmo, de Washington Luís. Algumas coisas começam a apa-
depois da janta, faziam o quilo, saindo para tomar a fresca; e também recer sob Getúlio Vargas. Hoje estão ali na esquina, para
tomava cautela de não apanhar sereno. Os mais jovens, esses iam ao consumo geral. A enumeração caótica não é uma invenção crítica
animatógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo, chu-pando balas de de Leo Spitzer. Está aí, na vida de todos os dias. Entre palavras
alteia. Ou sonhavam em andar de aeroplano; os quais, de pouco siso, circula-mos, vivemos, morremos, e palavras somos, finalmente,
se metiam em camisas de onze varas, e até em calças pardas; não mas com que significado?
admira que dessem com os burros n’agua. (Carlos Drummond de Andrade, Poesia e
(...) Embora sem saber da missa a metade, os presunçosos prosa, Rio de Janeiro, Nova Aguiar, 1988)
queriam ensinar padre-nosso ao vigário, e com isso punham a mão
em cumbuca. Era natural que com eles se perdesse a tramon-tana. - De Situação: aquelas que são provocadas pelas alterações
A pessoa cheia de melindres ficava sentida com a desfeita que lhe das circunstâncias em que se desenrola o ato de comunicação. Um
faziam quando, por exemplo, insinuavam que seu filho era artioso. modo de falar compatível com determinada situação é incompatí-
Verdade seja que às vezes os meninos eram mesmo enca-petados; vel com outra:
chegavam a pitar escondido, atrás da igreja. As meninas, não:
verdadeiros cromos, umas teteias. Ô mano, ta difícil de te entendê.
(...) Antigamente, os sobrados tinham assombrações, os me-
ninos, lombrigas; asthma os gatos, os homens portavam ceroulas, Esse modo de dizer, que é adequado a um diálogo em situação
bortinas a capa de goma (...). Não havia fotógrafos, mas retratis- informal, não tem cabimento se o interlocutor é o professor em
tas, e os cristãos não morriam: descansavam. situação de aula.
Mas tudo isso era antigamente, isto é, doutora. Assim, um único indivíduo não fala de maneira uniforme em
todas as circunstâncias, excetuados alguns falantes da linguagem
Texto II culta, que servem invariavelmente de uma linguagem formal, sen-
do, por isso mesmo, considerados excessivamente formais ou afe-
Entre Palavras tados.
São muitos os fatores de situação que interferem na fala de um
Entre coisas e palavras – principalmente entre palavras – cir-
indivíduo, tais como o tema sobre o qual ele discorre (em princípio
culamos. A maioria delas não figura nos dicionários de há trinta anos,
ninguém fala da morte ou de suas crenças religiosas como falaria de
ou figura com outras acepções. A todo momento impõe-se tornar
conhecimento de novas palavras e combinações de. um jogo de futebol ou de uma briga que tenha presenciado), o
Você que me lê, preste atenção. Não deixe passar nenhuma ambiente físico em que se dá um diálogo (num templo não se usa a
palavra ou locução atual, pelo seu ouvido, sem registrá-la. Ama- mesma linguagem que numa sauna), o grau de intimidade entre os
nhã, pode precisar dela. E cuidado ao conversar com seu avô; falantes (com um superior, a linguagem é uma, com um colega de
talvez ele não entenda o que você diz. mesmo nível, é outra), o grau de comprometimento que a fala implica
O malote, o cassete, o spray, o fuscão, o copião, a Vemaguet, para o falante (num depoimento para um juiz no fórum escolhem-se as
a chacrete, o linóleo, o nylon, o nycron, o ditafone, a informática, palavras, num relato de uma conquista amorosa para um colega fala-
a dublagem, o sinteco, o telex... Existiam em 1940? se com menos preocupação).
Ponha aí o computador, os anticoncepcionais, os mísseis, a As variações de acordo com a situação costumam ser chama-
motoneta, a Velo-Solex, o biquíni, o módulo lunar, o antibiótico, o das de níveis de fala ou, simplesmente, variações de estilo e são
enfarte, a acumputura, a biônica, o acrílico, o ta legal, a apar- classificadas em duas grandes divisões:
theid, o som pop, as estruturas e a infraestrutura.

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PORTUGUÊS
- Estilo Formal: aquele em que é alto o grau de reflexão sobre o tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o
que se diz, bem como o estado de atenção e vigilância. É na lin- que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio
guagem escrita, em geral, que o grau de formalidade é mais tenso. da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recursos
- Estilo Informal (ou coloquial): aquele em que se fala com de linguagem.
despreocupação e espontaneidade, em que o grau de reflexão sobre Para compreender claramente o que é um argumento, é bom
o que se diz é mínimo. É na linguagem oral íntima e familiar que voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C.,
esse estilo melhor se manifesta. numa obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se
tem de escolher entre duas ou mais coisas”.
Como exemplo de estilo coloquial vem a seguir um pequeno Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des-
trecho da gravação de uma conversa telefônica entre duas universi- vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar.
tárias paulistanas de classe média, transcrito do livro Tempos Lin- Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas coisas
guísticos, de Fernando Tarallo. AS reticências indicam as pausas. igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre-cisamos
argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu-mento pode
Eu não sei tem dia... depende do meu estado de espírito, tem então ser definido como qualquer recurso que torna uma coisa mais
dia que minha voz... mais ta assim, sabe? taquara rachada? Fica desejável que outra. Isso significa que ele atua no domínio do
assim aquela voz baixa. Outro dia eu fui lê um artigo, lê?! Um preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer que, entre duas
menino lá que faiz pós-graduação na, na GV, ele me, nóis ficamo teses, uma é mais provável que a outra, mais pos-sível que a outra,
até duas hora da manhã ele me explicando toda a matéria de eco- mais desejável que a outra, é preferível à outra.
nomia, das nove da noite. O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de
um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o
Como se pode notar, não há preocupação com a pronúncia enunciador está propondo.
nem com a continuidade das ideias, nem com a escolha das pala- Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumenta-ção.
vras. Para exemplificar o estilo formal, eis um trecho da gravação O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende
de uma aula de português de uma professora universitária do Rio demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre-
de Janeiro, transcrito do livro de Dinah Callou. A linguagem falada missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados
culta na cidade do Rio de Janeiro. As pausas são marcadas com admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de
reticências. crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea-
mento de premissas e conclusões.
...o que está ocorrendo com nossos alunos é uma fragmenta-
ção do ensino... ou seja... ele perde a noção do todo... e fica com Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamen-
uma série... de aspectos teóricos... isolados... que ele não sabe to:
vincular a realidade nenhuma de seu idioma... isto é válido tam-
bém para a faculdade de letras... ou seja... né? há uma série... de A é igual a B.
conceitos teóricos... que têm nomes bonitos e sofisticados... mas A é igual a C.
que... na hora de serem empregados... deixam muito a desejar... Então: C é igual a A.

Nota-se que, por tratar-se de exposição oral, não há o grau de Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamen-
formalidade e planejamento típico do texto escrito, mas trata-se de um te, que C é igual a A.
estilo bem mais formal e vigiado que o da menina ao telefone. Outro exemplo:

Argumentação Todo ruminante é um mamífero.


A vaca é um ruminante.
O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma infor- Logo, a vaca é um mamífero.
mação a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem
positiva de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão
inteligente, ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja ad- também será verdadeira.
mitido como verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele,
ou seja, tem o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se
faça o que ele propõe. mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau-
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais
texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada da
conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um
a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso,
tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de vista confiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de
defendidos. uma instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argu-
As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas uma mentativo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é
prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a provável que se creia que um banco mais antigo seja mais confiá-
veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse vel do que outro fundado há dois ou três anos.
acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu-

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PORTUGUÊS
Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase Argumento do Consenso
impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante enten- É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta-se
der bem como eles funcionam. em afirmações que, numa determinada época, são aceitas como
Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que o
acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o audi-tório, objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia de
que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto mais que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao indiscu-
os argumentos estiverem de acordo com suas cren-ças, suas tível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que não
expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, as
pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomina. afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de que
Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera as condições de vida são piores nos países subdesenvolvidos. Ao
positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência confiar no consenso, porém, corre-se o risco de passar dos argu-
associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos, mentos válidos para os lugares comuns, os preconceitos e as frases
essa associação certamente não surtiria efei-to, porque lá o futebol não carentes de qualquer base científica.
é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo de um
argumento está vinculado ao que Argumento de Existência
é valorizado ou desvalorizado numa dada cultura.
É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar
Tipos de Argumento aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas
provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o
Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado a argumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na
fazer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é um ar- mão do que dois voando”.
gumento. Exemplo: Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documentais
(fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas con-
Argumento de Autoridade cretas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. Duran-
te a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o exér-
É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas cito americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. Essa
pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber, para afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia ser
servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse re- vista como propagandística. No entanto, quando documentada pela
curso produz dois efeitos distintos: revela o conhecimento do pro- comparação do número de canhões, de carros de combate, de
dutor do texto a respeito do assunto de que está tratando; dá ao navios, etc., ganhava credibilidade.
texto a garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do
texto um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e Argumento quase lógico
verdadeira. Exemplo:
É aquele que opera com base nas relações lógicas, como causa
“A imaginação é mais importante do que o conhecimento.” e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses raciocínios
são chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios
Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para lógicos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias en-tre
ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há co- os elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis,
nhecimento. Nunca o inverso. plausíveis. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual
a C”, “então A é igual a C”, estabelece-se uma relação de identi-
Alex José Periscinoto. In: Folha de S. dade lógica. Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é
Paulo, 30/8/1993, p. 5-2 meu amigo” não se institui uma identidade lógica, mas uma iden-
tidade provável.
A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais impor- Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente
tante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir a ela, aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que con-
o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo. Se correm para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir do
um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se
acreditar que é verdade. fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afirmações gerais
com fatos inadequados, narrar um fato e dele extrair generaliza-
Argumento de Quantidade ções indevidas.

É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior nú- Argumento do Atributo
mero de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior
duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fundamento É aquele que considera melhor o que tem propriedades típicas
desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais
largo uso do argumento de quantidade. raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o
que é mais grosseiro, etc.

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PORTUGUÊS
Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequência, ce- - Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, fora do
lebridades recomendando prédios residenciais, produtos de beleza, contexto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-as e
alimentos estéticos, etc., com base no fato de que o consumidor tende atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso, por
a associar o produto anunciado com atributos da celebridade. exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não permite
Uma variante do argumento de atributo é o argumento da que outras crescam”, em que o termo imperialismo é des-cabido, uma
competência linguística. A utilização da variante culta e formal da vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir
língua que o produtor do texto conhece a norma linguística social- outros à sua dependência política e econômica”.
mente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um texto
em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o modo de A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situa-
dizer dá confiabilidade ao que se diz. ção concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvi-
dos na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação,
Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de saúde de
o assunto, etc).
uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das duas manei-ras
Convém ainda alertar que não se convence ninguém com ma-
indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais ade-quada nifestações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo
para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria certa mentir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas feitas
estranheza e não criaria uma imagem de competência do médico: (como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é evi-dente,
afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, em seu texto,
- Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve
em conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas qualidades
houve por bem determinar o internamento do governador pelo pe- não se prometem, manifestam-se na ação.
ríodo de três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001. A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer
- Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa
alguns deles são barrapesada, a gente botou o governador no hos- a que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz.
pital por três dias. Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um
ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui a
Como dissemos antes, todo texto tem uma função argumen- argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. Ar-
tativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério, para ser gumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações para che-
ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de comunicação gar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é um processo
deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro que pretenda ser, um de convencimento, por meio da argumentação, no qual procura-se
texto tem sempre uma orientação argumentativa. convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamento e seu
A orientação argumentativa é uma certa direção que o falante comportamento.
traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao falar de um A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão váli-
homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, de ridicularizá- da, expõem-se com clareza os fundamentos de uma ideia ou pro-
lo ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza. posição, e o interlocutor pode questionar cada passo do raciocínio
O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto empregado na argumentação. A persuasão não válida apoia-se em
argumentos subjetivos, apelos subliminares, chantagens sentimen-
dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos episó-
tais, com o emprego de “apelações”, como a inflexão de voz, a mí-
dios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e não mica e até o choro.
outras, etc. Veja: Alguns autores classificam a dissertação em duas modalidades,
expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a fa-vor
“O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apresen-ta
trocavam abraços afetuosos.” dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha dos dados
O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras e levantados, a maneira de expô-los no texto já revelam uma “tomada
sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse de posição”, a adoção de um ponto de vista na dissertação, ainda que
fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até, sem a apresentação explícita de argumentos. Desse ponto de vista, a
que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada. dissertação pode ser definida como discussão, debate, questionamento,
Além dos defeitos de argumentação mencionados quando tra- o que implica a liberdade de pensamento, a pos-sibilidade de discordar
tamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros: ou concordar parcialmente. A liberdade de questionar é fundamental,
- Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão mas não é suficiente para organizar um texto dissertativo. É necessária
amplo, que serve de argumento para um ponto de vista e seu con- também a exposição dos fundamen-tos, os motivos, os porquês da
trário. São noções confusas, como paz, que, paradoxalmente, pode defesa de um ponto de vista.
ser usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras podem ter Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitude argu-
valor positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) ou vir mentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de dis-
carregadas de valor negativo (autoritarismo, degradação do meio curso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia.
ambiente, injustiça, corrupção). Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posições,
- Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas é necessária a capacidade de conhecer outros pontos de vista e seus
por um único contra exemplo. Quando se diz “Todos os políticos respectivos argumentos. Uma discussão impõe, muitas vezes, a
são ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para análise de argumentos opostos, antagônicos. Como sempre, essa
destruir o argumento. capacidade aprende-se com a prática. Um bom exercício para
aprender a argumentar e contra-argumentar consiste em desenvol-
ver as seguintes habilidades:

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PORTUGUÊS
- argumentação: anotar todos os argumentos a favor de uma A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseia-
ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição total- se em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nes-se
mente contrária; caso, as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja,
- contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate e quais parte de fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desco-
os argumentos que essa pessoa imaginária possivelmente apresen- nhecidos. O percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa.
taria contra a argumentação proposta; Exemplo:
- refutação: argumentos e razões contra a argumentação
oposta. O calor dilata o ferro (particular)
O calor dilata o bronze (particular)
A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto, ar- O calor dilata o cobre (particular)
gumentar consiste em estabelecer relações para tirar conclusões O ferro, o bronze, o cobre são metais
válidas, como se procede no método dialético. O método dialético não Logo, o calor dilata metais (geral, universal)
envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas. Trata-
se de um método de investigação da realidade pelo estudo de sua ação Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido e
recíproca, da contradição inerente ao fenômeno em ques-tão e da verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas tam-
mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade. bém o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos fatos, po-
Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, criou o de-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma conclusão
método de raciocínio silogístico, baseado na dedução, que parte do falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição inexata, uma
simples para o complexo. Para ele, verdade e evidência são a mes-ma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa analogia são al-
coisa, e pelo raciocínio torna-se possível chegar a conclusões gumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe má fé, intenção
verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em partes, come- deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o sofisma não tem
çando-se pelas proposições mais simples até alcançar, por meio de essas intenções propositais, costuma-se chamar esse processo de
deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana, argumentação de paralogismo. Encontra-se um exemplo simples
é fundamental determinar o problema, dividi-lo em partes, ordenar os de sofisma no seguinte diálogo:
conceitos, simplificando-os, enumerar todos os seus elementos e
determinar o lugar de cada um no conjunto da dedução. - Você concorda que possui uma coisa que não perdeu?
A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a - Lógico, concordo.
argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro - Você perdeu um brilhante de 40 quilates?
regras básicas que constituem um conjunto de reflexos vitais, uma - Claro que não!
série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca - Então você possui um brilhante de 40 quilates...
da verdade:
- evidência; Exemplos de sofismas:
- divisão ou análise;
- ordem ou dedução; Dedução
- enumeração. Todo professor tem um diploma (geral, universal)
Fulano tem um diploma (particular)
A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão e a Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa)
incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o
encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo. Indução
A forma de argumentação mais empregada na redação aca- O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor.
dêmica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas, (par-ticular)
que contém três proposições: duas premissas, maior e menor, e a Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particu-
conclusão. As três proposições são encadeadas de tal forma, que a lar)
conclusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A premis- Rio de Janeiro e Taubaté são cidades.
sa maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois alguns Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (ge-
não caracteriza a universalidade. ral – conclusão falsa)
Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedução (si- Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão
logística), que parte do geral para o particular, e a indução, que vai pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são pro-
do particular para o geral. A expressão formal do método de-dutivo fessores; nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Reden-
é o silogismo. A dedução é o caminho das consequências, baseia- tor. Comete-se erro quando se faz generalizações apressadas ou
se em uma conexão descendente (do geral para o particular) que infundadas. A “simples inspeção” é a ausência de análise ou aná-
leva à conclusão. Segundo esse método, partindo-se de teorias lise superficial dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos,
gerais, de verdades universais, pode-se chegar à previsão ou deter- baseados nos sentimentos não ditados pela razão.
minação de fenômenos particulares. O percurso do raciocínio vai Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não funda-
da causa para o efeito. Exemplo: mentais, que contribuem para a descoberta ou comprovação da
verdade: análise, síntese, classificação e definição. Além desses,
Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal) existem outros métodos particulares de algumas ciências, que adaptam
Fulano é homem (premissa menor = particular) os processos de dedução e indução à natureza de uma realidade
Logo, Fulano é mortal (conclusão) particular. Pode-se afirmar que cada ciência tem seu mé-

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PORTUGUÊS
todo próprio demonstrativo, comparativo, histórico etc. A análise, Os elementos desta lista foram classificados por ordem alfabé-
a síntese, a classificação a definição são chamadas métodos siste- tica e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer critérios de
máticos, porque pela organização e ordenação das ideias visam classificação das ideias e argumentos, pela ordem de importância,
sistematizar a pesquisa. é uma habilidade indispensável para elaborar o desenvolvimen-to de
Análise e síntese são dois processos opostos, mas interliga- uma redação. Tanto faz que a ordem seja crescente, do fato mais
dos; a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para importante para o menos importante, ou decrescente, primei-ro o
o todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma menos importante e, no final, o impacto do mais importante;
depende da outra. A análise decompõe o todo em partes, en-quanto é indispensável que haja uma lógica na classificação. A elaboração
a síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém, do plano compreende a classificação das partes e subdivisões, ou
que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém seja, os elementos do plano devem obedecer a uma hierarquização.
reunisse todas as peças de um relógio, não significa que (Garcia, 1973, p. 302304.)
reconstruiu o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na
reconstruiria todo se as partes estivessem organizadas, devida- introdução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para ex-
mente combinadas, seguida uma ordem de relações necessárias, pressar um questionamento, deve-se, de antemão, expor clara e
funcionais, então, o relógio estaria reconstruído. racionalmente as posições assumidas e os argumentos que as jus-
Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo por tificam. É muito importante deixar claro o campo da discussão e a
meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num con- posição adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também
junto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a análise, os pontos de vista sobre ele.
que é a decomposição. A análise, no entanto, exige uma decompo- A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da lin-
sição organizada, é preciso saber como dividir o todo em partes. guagem e consiste na enumeração das qualidades próprias de uma
As operações que se realizam na análise e na síntese podem ser ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento conforme
assim relacionadas: a espécie a que pertence, demonstra: a característica que o diferen-
cia dos outros elementos dessa mesma espécie.
Análise: penetrar, decompor, separar, dividir. Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição
Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir. é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências. A
definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às pa-
A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias lavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou
a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação de metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a ló-
abordagens possíveis. A síntese também é importante na escolha gica tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos:
dos elementos que farão parte do texto. - o termo a ser definido;
Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou - o gênero ou espécie;
informal. A análise formal pode ser científica ou experimental; é - a diferença específica.
característica das ciências matemáticas, físico-naturais e experi-
mentais. A análise informal é racional ou total, consiste em “discer- O que distingue o termo definido de outros elementos da
nir” por vários atos distintos da atenção os elementos constitutivos de mes-ma espécie. Exemplo:
um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou fenômeno.
A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabe- Na frase: O homem é um animal racional classifica-se:
lece as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as
partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se
confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos: Elemento especie diferença
análise é decomposição e classificação é hierarquisação. a ser definido específica
Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenôme-
nos por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, É muito comum formular definições de maneira defeituosa, por
a classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em par-tes. Esse
menos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando é advérbio de
são empregados de modo mais ou menos convencional. A classi- tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é forma coloquial
ficação, no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens, não adequada à redação acadêmica. Tão importan-te é saber formular
gêneros e espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas uma definição, que se recorre a Garcia (1973, p.306), para determinar
características comuns e diferenciadoras. A classificação dos va- os “requisitos da definição denotativa”. Para ser exata, a definição
riados itens integrantes de uma lista mais ou menos caótica é ar- deve apresentar os seguintes requisitos:
tificial. - o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em
Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, cami- que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está
nhão, canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta
relógio, sabiá, torradeira. ou instalação”;
- o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos os
Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá. exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restri-to
Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo. para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade;
Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira. - deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade,
Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus. definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”;

92
PORTUGUÊS
- deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma sequência de
definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem” elementos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração
não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem); de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são
- deve ser breve (contida num só período). Quando a defini- frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes, depois,
ção, ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de perío- ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente, de-pois de,
dos ou de parágrafos), chama-se explicação, e também definição antes de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente,
expandida;d respectivamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de
- deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí,
+ cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no
adjun-tos (as diferenças). interior, nas grandes cidades, no sul, no leste...
Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras de se
As definições dos dicionários de língua são feitas por meio de estabelecer a comparação, com a finalidade de comprovar uma
paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística que ideia ou opinião. Na analogia, são comuns as expressões: da mes-
consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a ma forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente. Para
palavra e seus significados. estabelecer contraste, empregam-se as expressões: mais que, me-
A força do texto dissertativo está em sua fundamentação. nos que, melhor que, pior que.
Sempre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira
e necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar
com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se:
do mundo não tem valor, se não estiver acompanhado de uma fun-
Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade
damentação coerente e adequada.
reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma afir-
Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica clássica,
mação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a credi-
que foram abordados anteriormente, auxiliam o julga-mento da
bilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais no
validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é clara e pode
corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao fazer uma
reconhecer-se facilmente seus elementos e suas relações; outras vezes,
citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos na linha de
as premissas e as conclusões organizam-se de modo livre, misturando-
raciocínio que ele considera mais adequada para explicar ou justificar
se na estrutura do argumento. Por isso, é preci-so aprender a um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento tem mais caráter
reconhecer os elementos que constituem um argu-mento: confirmatório que comprobatório.
premissas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar se tais
elementos são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar se o Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam ex-
argumento está expresso corretamente; se há coerência e adequa-ção plicação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido
entre seus elementos, ou se há contradição. Para isso é que se aprende por consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural.
os processos de raciocínio por dedução e por indução. Ad-mitindo-se Nesse caso, incluem-se
que raciocinar é relacionar, conclui-se que o argumento é um tipo - A declaração que expressa uma verdade universal (o
específico de relação entre as premissas e a conclusão. homem, mortal, aspira à imortalidade);
- A declaração que é evidente por si mesma (caso dos postu-
Procedimentos Argumentativos: Constituem os procedimen-tos lados e axiomas);
argumentativos mais empregados para comprovar uma afirma-ção: - Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de na-
exemplificação, explicitação, enumeração, comparação. tureza subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria
razão desconhece); implica apreciação de ordem estética (gosto
Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio de não se discute); diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ain-
exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões co-muns nesse tipo da que parece absurdo).
de procedimento: mais importante que, superior a, de maior
relevância que. Empregam-se também dados estatís-ticos, Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de
acompanhados de expressões: considerando os dados; con-forme os um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados
dados apresentados. Faz-se a exemplificação, ainda, pela concretos, estatísticos ou documentais.
apresentação de causas e consequências, usando-se comumente as
Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação
expressões: porque, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por
causa de, em virtude de, em vista de, por motivo de.
se realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica:
Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é expli-car causa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência.
ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Pode-se alcançar esse Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As declarações,
objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpretação. Na julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opi-niões
explicitação por definição, empregamse expressões como: quer dizer, pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprova-da, e só os
denomina-se, chama-se, na verdade, isto é, haja vista, ou melhor; nos fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que expresse uma
testemunhos são comuns as expressões: conforme, se-gundo, na opinião pessoal só terá validade se fundamentada na evidência dos
opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no entender de, no fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade dos argumentos,
pensamento de. A explicitação se faz também pela interpretação, em porém, pode ser contestada por meio da contra
que são comuns as seguintes expressões: parece, assim, desse ponto -argumentação ou refutação. São vários os processos de contra-ar-
de vista. gumentação:

93
PORTUGUÊS
Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação demons- Introdução
trando o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a contraar-
gumentação do cordeiro, na conhecida fábula “O lobo e o cordei- - função social da ciência e da tecnologia;
ro”; - definições de ciência e tecnologia;
- indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico.
Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses
para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela que se julga ver- Desenvolvimento
dadeira;
- apresentação de aspectos positivos e negativos do desenvol-
Desqualificação do argumento: atribui-se o argumento à opi- vimento tecnológico;
nião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo-se a universali- - como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou
dade da afirmação; as condições de vida no mundo atual;
- a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecnologica-
Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade: con- mente desenvolvida e a dependência tecnológica dos países sub-
siste em refutar um argumento empregando os testemunhos de au- desenvolvidos;
toridade que contrariam a afirmação apresentada; - enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social;
- comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do
Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em de- passado; apontar semelhanças e diferenças;
sautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador baseou-se em - analisar as condições atuais de vida nos grandes centros ur-
dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou inconsequentes. Por banos;
exemplo, se na argumentação afirmou-se, por meio de dados - como se poderia usar a ciência e a tecnologia para
estatísticos, que “o controle demográfico produz o desenvolvimen- humanizar mais a sociedade.
to”, afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois baseia-se em uma
relação de causa-feito difícil de ser comprovada. Para con- Conclusão
traargumentar, propõese uma relação inversa: “o desenvolvimento é - a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/conse-
que gera o controle demográfico”. quências maléficas;
- síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentos
Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para apresentados.
desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas ao
desenvolvimento de outros temas. Elege-se um tema, e, em segui- Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de
da, sugerem-se os procedimentos que devem ser adotados para a reda-ção: é um dos possíveis.
elaboração de um Plano de Redação.

Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evo-


lução tecnológica

- Questionar o tema, transformá-lo em interrogação, respon-


der a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da
resposta, justificar, criando um argumento básico;
- Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e
construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação
que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la
(rever tipos de argumentação);
- Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias
que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias po-
dem ser listadas livremente ou organizadas como causa e conse-
quência);
- Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o
argumento básico;
- Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que
poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se em
argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do ar-
gumento básico;
- Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma
sequência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo às
partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou
menos a seguinte:

94
ORGANIZAÇÃO
BÁSICA DA MARINHA
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
Seção II
DO ESTADO DE SÍTIO
FORÇAS ARMADAS (FFAA) – MISSÃO
CONSTITUCIONAL; HIERARQUIA E Art. 137. O Presidente da República pode, ouvidos o Conse-
DISCIPLINA; E COMANDANTE SUPREMO DAS lho da República e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao
FORÇAS ARMADAS; E Congresso Nacional autorização para decretar o estado de sítio nos
casos de:
I - comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de
fatos que comprovem a ineficácia de medida tomada durante o es-
TÍTULO V tado de defesa;
Da Defesa do Estado e Das Instituições Democráticas II - declaração de estado de guerra ou resposta a agressão ar-
mada estrangeira.
CAPÍTULO I Parágrafo único. O Presidente da República, ao solicitar auto-
DO ESTADO DE DEFESA E DO ESTADO DE SÍTIO rização para decretar o estado de sítio ou sua prorrogação, relatará
os motivos determinantes do pedido, devendo o Congresso Nacio-
Seção I nal decidir por maioria absoluta.
DO ESTADO DE DEFESA
Art. 138. O decreto do estado de sítio indicará sua duração, as
normas necessárias a sua execução e as garantias constitucio-nais
Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conse-
que ficarão suspensas, e, depois de publicado, o Presidente da
lho da República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado República designará o executor das medidas específicas e as áreas
de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais abrangidas.
restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social ameaça- § 1º - O estado de sítio, no caso do art. 137, I, não poderá ser
das por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas decretado por mais de trinta dias, nem prorrogado, de cada vez, por
por calamidades de grandes proporções na natureza. prazo superior; no do inciso II, poderá ser decretado por todo o
§ 1º O decreto que instituir o estado de defesa determinará o tempo que perdurar a guerra ou a agressão armada estrangeira.
tempo de sua duração, especificará as áreas a serem abrangidas e § 2º - Solicitada autorização para decretar o estado de sítio
indicará, nos termos e limites da lei, as medidas coercitivas a vigo- durante o recesso parlamentar, o Presidente do Senado Federal, de
rarem, dentre as seguintes: imediato, convocará extraordinariamente o Congresso Nacional para
I - restrições aos direitos de: se reunir dentro de cinco dias, a fim de apreciar o ato.
a) reunião, ainda que exercida no seio das § 3º - O Congresso Nacional permanecerá em funcionamento
associações; b) sigilo de correspondência;
até o término das medidas coercitivas.
c) sigilo de comunicação telegráfica e telefônica;
II - ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na Art. 139. Na vigência do estado de sítio decretado com funda-
hipótese de calamidade pública, respondendo a União pelos danos mento no art. 137, I, só poderão ser tomadas contra as pessoas as
e custos decorrentes. seguintes medidas:
§ 2º O tempo de duração do estado de defesa não será superior a I - obrigação de permanência em localidade determinada;
trinta dias, podendo ser prorrogado uma vez, por igual período, se II - detenção em edifício não destinado a acusados ou conde-
persistirem as razões que justificaram a sua decretação. nados por crimes comuns;
§ 3º Na vigência do estado de defesa: III - restrições relativas à inviolabilidade da correspondência,
I - a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo exe- ao sigilo das comunicações, à prestação de informações e à liber-
cutor da medida, será por este comunicada imediatamente ao juiz dade de imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei;
competente, que a relaxará, se não for legal, facultado ao preso IV - suspensão da liberdade de reunião;
requerer exame de corpo de delito à autoridade policial; V - busca e apreensão em domicílio;
II - a comunicação será acompanhada de declaração, pela au- VI - intervenção nas empresas de serviços
toridade, do estado físico e mental do detido no momento de sua públicos; VII - requisição de bens.
autuação; Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso III a
III - a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser difusão de pronunciamentos de parlamentares efetuados em suas
superior a dez dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário; Casas Legislativas, desde que liberada pela respectiva Mesa.
IV - é vedada a incomunicabilidade do preso.
§ 4º Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o Presi- Seção III
dente da República, dentro de vinte e quatro horas, submeterá o ato DISPOSIÇÕES GERAIS
com a respectiva justificação ao Congresso Nacional, que decidirá
por maioria absoluta. Art. 140. A Mesa do Congresso Nacional, ouvidos os líderes
§ 5º Se o Congresso Nacional estiver em recesso, será convo- partidários, designará Comissão composta de cinco de seus mem-
cado, extraordinariamente, no prazo de cinco dias. bros para acompanhar e fiscalizar a execução das medidas referen-
§ 6º O Congresso Nacional apreciará o decreto dentro de dez tes ao estado de defesa e ao estado de sítio.
dias contados de seu recebimento, devendo continuar funcionando
enquanto vigorar o estado de defesa. Art. 141. Cessado o estado de defesa ou o estado de sítio, ces-
§ 7º Rejeitado o decreto, cessa imediatamente o estado de de- sarão também seus efeitos, sem prejuízo da responsabilidade pelos
fesa. ilícitos cometidos por seus executores ou agentes.

1
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
Parágrafo único. Logo que cesse o estado de defesa ou o esta- VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII,
do de sítio, as medidas aplicadas em sua vigência serão relatadas XII, XVII, XVIII, XIX e XXV, e no art. 37, incisos XI, XIII, XIV
pelo Presidente da República, em mensagem ao Congresso Na- e XV, bem como, na forma da lei e com prevalência da ativida-de
cional, com especificação e justificação das providências adota- militar, no art. 37, inciso XVI, alínea “c”; (Redação dada pela
das, com relação nominal dos atingidos e indicação das restrições Emenda Constitucional nº 77, de 2014)
aplicadas. IX - (Revogado pela Emenda Constitucional nº 41, de
19.12.2003)
CAPÍTULO II X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limi-tes
DAS FORÇAS ARMADAS de idade, a estabilidade e outras condições de transferência do militar
para a inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração, as
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo prerrogativas e outras situações especiais dos militares, con-sideradas
Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanen-tes e as peculiaridades de suas atividades, inclusive aquelas cumpridas por
regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a força de compromissos internacionais e de guer-ra. (Incluído pela
autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa
de qualquer destes, da lei e da ordem. Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.
§ 1º Lei complementar estabelecerá as normas gerais a serem § 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir
adotadas na organização, no preparo e no emprego das Forças Ar- serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, ale-
madas. garem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decor-
§ 2º Não caberá habeas corpus em relação a punições disci- rente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para
plinares militares. se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar. (Re-
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados mili- gulamento)
tares, aplicando-se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, § 2º As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do serviço
as seguintes disposições: (Incluído pela Emenda Constitucional nº militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém, a outros en-
18, de 1998) cargos que a lei lhes atribuir. (Regulamento)
I - as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres a elas
inerentes, são conferidas pelo Presidente da República e assegura-das CAPÍTULO III
em plenitude aos oficiais da ativa, da reserva ou reformados, sendo- DA SEGURANÇA PÚBLICA
lhes privativos os títulos e postos militares e, juntamente com os
demais membros, o uso dos uniformes das Forças Arma-das; (Incluído Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e res-
pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998) ponsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem
II - o militar em atividade que tomar posse em cargo ou em- pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos
prego público civil permanente, ressalvada a hipótese prevista no seguintes órgãos:
art. 37, inciso XVI, alínea “c”, será transferido para a reserva, nos I - polícia federal;
termos da lei; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 77, II - polícia rodoviária federal;
de 2014) III - polícia ferroviária federal;
III - o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse IV - polícias civis;
em cargo, emprego ou função pública civil temporária, não eletiva, V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
ainda que da administração indireta, ressalvada a hipótese prevista § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão perma-
no art. 37, inciso XVI, alínea “c”, ficará agregado ao respectivo nente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira,
quadro e somente poderá, enquanto permanecer nessa situação, ser destina-se a:” (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19,
promovido por antiguidade, contando-se-lhe o tempo de serviço de 1998)
apenas para aquela promoção e transferência para a reserva, sendo I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou
depois de dois anos de afastamento, contínuos ou não, transferi-do em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas
para a reserva, nos termos da lei; (Redação dada pela Emenda entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras in-
Constitucional nº 77, de 2014) frações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacio-
IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a greve; (In- nal e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
cluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998) II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e dro-
V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado gas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação
a partidos políticos; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de
de 1998) competência;
VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado in- III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de
digno do oficialato ou com ele incompatível, por decisão de tribu- fronteiras; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
nal militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal 1998)
especial, em tempo de guerra; (Incluído pela Emenda Constitucio- IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judi-
nal nº 18, de 1998) ciária da União.
VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar a pena § 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organi-
privativa de liberdade superior a dois anos, por sentença transitada em zado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se,
julgado, será submetido ao julgamento previsto no inciso ante-rior; na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias fede-rais.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998) (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

2
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organi- DECRETA:
zado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se,
na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias fede-rais. Art. 1o Fica aprovada a Estratégia Nacional de Defesa anexa a
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) este Decreto.
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de
carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as Art. 2o Os órgãos e entidades da administração pública federal
funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, deverão considerar, em seus planejamentos, ações que concorram
exceto as militares.
para fortalecer a Defesa Nacional.
§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preser-
vação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além Art. 3o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades Brasília, 18 de dezembro de 2008; 187 o da Independência e
de defesa civil.
120o da República.
§ 6º As polícias militares e corpos de bombeiros militares,
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente
Nelson Jobim
com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito
Federal e dos Territórios. Roberto Mangabeira Unger
§ 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos Este texto não substitui o publicado no DOU de 19.12.2008
órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir
a eficiência de suas atividades. ANEXO
§ 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA
des-tinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, I – FORMULAÇÃO SISTEMÁTICA
conforme dispuser a lei. Introdução
§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos ór- O Brasil é pacífico por tradição e por convicção. Vive em paz com
gãos relacionados neste artigo será fixada na forma do § 4º do art. seus vizinhos. Rege suas relações internacionais, dentre ou-tros, pelos
39. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) princípios constitucionais da não-intervenção, defesa da paz e solução
§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pacífica dos conflitos. Esse traço de pacifismo
pública e da incolumidade das pessoas e do seu patrimônio nas vias é parte da identidade nacional e um valor a ser conservado pelo
públicas: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 82, de 2014) povo brasileiro.
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trân- País em desenvolvimento, o Brasil ascenderá ao primeiro pla-
sito, além de outras atividades previstas em lei, que assegurem ao no no mundo sem exercer hegemonia ou dominação. O povo bra-
cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e (Incluído pela sileiro não deseja exercer mando sobre outros povos. Quer que o
Emenda Constitucional nº 82, de 2014) Brasil se engrandeça sem imperar.
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Talvez por isso nunca tenha sido realizado no Brasil, em toda a
Municípios, aos respectivos órgãos ou entidades executivos e seus sua história, amplo debate sobre os assuntos de defesa. Perio-
agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei. (In- dicamente, os governos autorizavam a compra ou a produção de novos
cluído pela Emenda Constitucional nº 82, de 2014) materiais de defesa e introduziam reformas pontuais nas Forças
Armadas. No entanto, nunca propuseram uma estratégia nacional de
ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA – defesa para orientar de forma sistemática a reorganiza-ção e
ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA E reorientação das Forças Armadas; a organização da indústria de
material de defesa, com a finalidade de assegurar a autonomia
ESTRATÉGIA NACIONAL DE
operacional para as três Forças: a Marinha, o Exército e a Aero-
DESENVOLVIMENTO; NATUREZA E ÂMBITO DA náutica; e a política de composição dos seus efetivos, sobretudo a
ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA; reconsideração do Serviço Militar Obrigatório.
DIRETRIZES DA ESTRATÉGIA NACIONAL DE Porém, se o Brasil quiser ocupar o lugar que lhe cabe no mun-
DEFESA; MARINHA DO BRASIL: A HIERARQUIA do, precisará estar preparado para defender-se não somente das
DOS OBJETIVOS ESTRATÉGICOS E TÁTICOS agressões, mas também das ameaças. Vive-se em um mundo em
que a intimidação tripudia sobre a boa fé. Nada substitui o en-
volvimento do povo brasileiro no debate e na construção da sua
própria defesa.
DECRETO Nº 6.703, DE 18 DE DEZEMBRO DE 2008. Estratégia Nacional de Defesa e Estratégia Nacional de De-
Aprova a Estratégia Nacional de Defesa, e dá outras providên-
senvolvimento
1.Estratégia nacional de defesa é inseparável de estratégia na-
cias. cional de desenvolvimento. Esta motiva aquela. Aquela fornece
escudo para esta. Cada uma reforça as razões da outra. Em ambas, se
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição desperta para a nacionalidade e constrói-se a Nação. Defendido, o
que lhe confere o art. 84, inciso VI, alínea “a”, da Constituição, e Brasil terá como dizer não, quando tiver que dizer não. Terá ca-
tendo em vista o disposto no Decreto de 6 de setembro de 2007, pacidade para construir seu próprio modelo de desenvolvimento.
que institui o Comitê Ministerial de Formulação da Estratégia Na- 2.Difícil – e necessário – é para um País que pouco trato teve
cional de Defesa, com guerras convencer-se da necessidade de defender-se para po-
der construir-se. Não bastam, ainda que sejam proveitosos e até
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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
mesmo indispensáveis, os argumentos que invocam as utilidades Ao lado da destinação constitucional, das atribuições, da cul-
das tecnologias e dos conhecimentos da defesa para o desenvolvi- tura, dos costumes e das competências próprias de cada Força e da
mento do País. Os recursos demandados pela defesa exigem uma maneira de sistematizá-las em estratégia de defesa integrada,
transformação de consciências para que se constitua uma estraté- aborda-se o papel de três setores decisivos para a defesa nacio-nal:
gia de defesa para o Brasil. o espacial, o cibernético e o nuclear. Descreve-se como as três
3.Difícil – e necessário – é para as Forças Armadas de um País Forças devem operar em rede - entre si e em ligação com o moni-
tão pacífico como o Brasil manterem, em meio à paz, o impulso de toramento do território, do espaço aéreo e das águas jurisdicionais
se prepararem para o combate e de cultivarem, em prol desse brasileiras.
preparo, o hábito da transformação. O segundo eixo estruturante refere-se à reorganização da in-
Disposição para mudar é o que a Nação está a exigir agora de dústria nacional de material de defesa, para assegurar que o aten-
seus marinheiros, soldados e aviadores. Não se trata apenas de dimento das necessidades de equipamento das Forças Armadas
financiar e de equipar as Forças Armadas. Trata-se de transformá apóie-se em tecnologias sob domínio nacional.
-las, para melhor defenderem o Brasil. O terceiro eixo estruturante versa sobre a composição dos efetivos
4.Projeto forte de defesa favorece projeto forte de desenvol- das Forças Armadas e, consequentemente, sobre o futuro do Serviço
vimento. Forte é o projeto de desenvolvimento que, sejam quais Militar Obrigatório. Seu propósito é zelar para que as Forças Armadas
forem suas demais orientações, se guie pelos seguintes princípios: reproduzam, em sua composição, a própria Nação
a) Independência nacional, efetivada pela mobilização de re- - para que elas não sejam uma parte da Nação, pagas para lutar por
cursos físicos, econômicos e humanos, para o investimento no po- conta e em benefício das outras partes. O Serviço Militar Obri-
tencial produtivo do País. Aproveitar a poupança estrangeira, sem gatório deve, pois, funcionar como espaço republicano, no qual
dela depender; possa a Nação encontrar-se acima das classes sociais.
b) Independência nacional, alcançada pela capacitação tecno- Diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa.
lógica autônoma, inclusive nos estratégicos setores espacial, ci- Pauta-se a Estratégia Nacional de Defesa pelas seguintes di-
bernético e nuclear. Não é independente quem não tem o domínio retrizes.
das tecnologias sensíveis, tanto para a defesa como para o desen- 1.Dissuadir a concentração de forças hostis nas fronteiras ter-
volvimento; e restres, nos limites das águas jurisdicionais brasileiras, e impedir-
c) Independência nacional, assegurada pela democratização lhes o uso do espaço aéreo nacional.
de oportunidades educativas e econômicas e pelas oportunidades Para dissuadir, é preciso estar preparado para combater. A tec-
para ampliar a participação popular nos processos decisórios da nologia, por mais avançada que seja, jamais será alternativa ao
vida política e econômica do País. O Brasil não será independente combate. Será sempre instrumento do combate.
enquanto faltar para parcela do seu povo condições para aprender, 2.Organizar as Forças Armadas sob a égide do trinômio
trabalhar e produzir. moni-toramento/controle, mobilidade e presença.
Natureza e âmbito da Estratégia Nacional de Defesa Esse triplo imperativo vale, com as adaptações cabíveis, para
1.A Estratégia Nacional de Defesa é o vínculo entre o conceito e cada Força. Do trinômio resulta a definição das capacitações ope-
a política de independência nacional, de um lado, e as Forças Armadas racionais de cada uma das Forças.
para resguardar essa independência, de outro. Trata de questões 3.Desenvolver as capacidades de monitorar e controlar o es-
políticas e institucionais decisivas para a defesa do País, como os paço aéreo, o território e as águas jurisdicionais brasileiras.
objetivos da sua “grande estratégia” e os meios para fazer com que a Tal desenvolvimento dar-se-á a partir da utilização de tecno-
Nação participe da defesa. Aborda, também, problemas propriamente logias de monitoramento terrestre, marítimo, aéreo e espacial que
militares, derivados da influência dessa “grande es-tratégia” na estejam sob inteiro e incondicional domínio nacional.
orientação e nas práticas operacionais das três Forças. 4.Desenvolver, lastreado na capacidade de monitorar/contro-
A Estratégia Nacional de Defesa será complementada por pla- lar, a capacidade de responder prontamente a qualquer ameaça ou
nos para a paz e para a guerra, concebidos para fazer frente a dife- agressão: a mobilidade estratégica.
rentes hipóteses de emprego. A mobilidade estratégica - entendida como a aptidão para se
2.A Estratégia Nacional de Defesa organiza-se em torno de chegar rapidamente ao teatro de operações – reforçada pela mo-
três eixos estruturantes. bilidade tática – entendida como a aptidão para se mover dentro
O primeiro eixo estruturante diz respeito a como as Forças daquele teatro - é o complemento prioritário do monitoramento/
Armadas devem-se organizar e orientar para melhor desempenha-rem controle e uma das bases do poder de combate, exigindo das For-
sua destinação constitucional e suas atribuições na paz e na guerra. ças Armadas ação que, mais do que conjunta, seja unificada.
Enumeram-se diretrizes estratégicas relativas a cada uma das Forças e O imperativo de mobilidade ganha importância decisiva, da-
especifica-se a relação que deve prevalecer entre elas. das a vastidão do espaço a defender e a escassez dos meios para
Descreve-se a maneira de transformar tais diretrizes em práticas e defendê-lo. O esforço de presença, sobretudo ao longo das fron-
capacitações operacionais e propõe-se a linha de evolução tecno- teiras terrestres e nas partes mais estratégicas do litoral, tem limi-
lógica necessária para assegurar que se concretizem. tações intrínsecas. É a mobilidade que permitirá superar o efeito
A análise das hipóteses de emprego das Forças Armadas - para prejudicial de tais limitações.
resguardar o espaço aéreo, o território e as águas jurisdicionais 5.Aprofundar o vínculo entre os aspectos tecnológicos e os
brasileiras - permite dar foco mais preciso às diretrizes estraté- operacionais da mobilidade, sob a disciplina de objetivos bem de-
gicas. Nenhuma análise de hipóteses de emprego pode, porém, finidos.
desconsiderar as ameaças do futuro. Por isso mesmo, as diretrizes Mobilidade depende de meios terrestres, marítimos e aéreos
estratégicas e as capacitações operacionais precisam transcender o apropriados e da maneira de combiná-los. Depende, também, de
horizonte imediato que a experiência e o entendimento de hoje capacitações operacionais que permitam aproveitar ao máximo o
permitem descortinar. potencial das tecnologias do movimento.

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O vínculo entre os aspectos tecnológicos e operacionais da Os Estados-Maiores das três Forças, subordinados a seus Co-
mobilidade há de se realizar de maneira a alcançar objetivos bem mandantes, serão os agentes da formulação estratégica em cada
definidos. Entre esses objetivos, há um que guarda relação espe- uma delas, sob a orientação do respectivo comandante.
cialmente próxima com a mobilidade: a capacidade de alternar a 8.Reposicionar os efetivos das três Forças.
concentração e a desconcentração de forças com o propósito de As principais unidades do Exército estacionam no Sudeste e
dissuadir e combater a ameaça. no Sul do Brasil. A esquadra da Marinha concentra-se na cidade
6.Fortalecer três setores de importância estratégica: o espa- do Rio de Janeiro. As instalações tecnológicas da Força Aérea
cial, o cibernético e o nuclear. estão quase todas localizadas em São José dos Campos, em São
Esse fortalecimento assegurará o atendimento ao conceito de Paulo. As preocupações mais agudas de defesa estão, porém, no
flexibilidade. Norte, no Oeste e no Atlântico Sul.
Como decorrência de sua própria natureza, esse setores trans- Sem desconsiderar a necessidade de defender as maiores con-
cendem a divisão entre desenvolvimento e defesa, entre o civil e o centrações demográficas e os maiores centros industriais do País,
militar. a Marinha deverá estar mais presente na região da foz do
Os setores espacial e cibernético permitirão, em conjunto, que Amazonas e nas grandes bacias fluviais do Amazonas e do
a capacidade de visualizar o próprio país não dependa de tecnolo- Paraguai-Paraná. O Exército deverá posicionar suas reservas
gia estrangeira e que as três Forças, em conjunto, possam atuar em estratégicas no centro do País, de onde poderão se deslocar em
rede, instruídas por monitoramento que se faça também a partir do qualquer direção. Deverá também o Exército agrupar suas reservas
espaço. regionais nas respectivas áreas, para possibilitar a resposta
O Brasil tem compromisso - decorrente da Constituição Fede-ral imediata na crise ou no conflito armado.
e da adesão ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nuclea-res - Pelas mesmas razões que exigem a formação do Estado-Maior
com o uso estritamente pacífico da energia nuclear. Entretan-to, afirma Conjunto das Forças Armadas, os Distritos Navais ou Comandos de
a necessidade estratégica de desenvolver e dominar a tecnologia Área das três Forças terão suas áreas de jurisdição coincidentes,
nuclear. O Brasil precisa garantir o equilíbrio e a versa-tilidade da sua ressalvados impedimentos decorrentes de circunstâncias locais ou
matriz energética e avançar em áreas, tais como as de agricultura e específicas. Os oficiais-generais que comandarem, por conta de suas
saúde, que podem se beneficiar da tecnologia de energia nuclear. E respectivas Forças, um Distrito Naval ou Comando de Área, reunir-se-
levar a cabo, entre outras iniciativas que exigem independência ão regularmente, acompanhados de seus principais as-sessores, para
tecnológica em matéria de energia nuclear, o proje-to do submarino de assegurar a unidade operacional das três Forças na-quela área. Em
propulsão nuclear. cada área deverá ser estruturado um Estado-Maior Conjunto, que será
7.Unificar as operações das três Forças, muito além dos limi- ativado para realizar e atualizar, desde o tempo de paz, os
tes impostos pelos protocolos de exercícios conjuntos. planejamentos operacionais da área.
Os instrumentos principais dessa unificação serão o Minis- 9.Adensar a presença de unidades do Exército, da Marinha e
tério da Defesa e o Estado-Maior de Defesa, a ser reestruturado da Força Aérea nas fronteiras.
como Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas. Devem ganhar Deve-se ter claro que, dadas as dimensões continentais do ter-
dimensão maior e responsabilidades mais abrangentes. ritório nacional, presença não pode significar onipresença. A pre-
O Ministro da Defesa exercerá, na plenitude, todos os poderes sença ganha efetividade graças à sua relação com monitoramento/
de direção das Forças Armadas que a Constituição e as leis não controle e com mobilidade.
reservarem, expressamente, ao Presidente da República. Nas fronteiras terrestres e nas águas jurisdicionais brasileiras,
A subordinação das Forças Armadas ao poder político cons- as unidades do Exército, da Marinha e da Força Aérea têm, so-
titucional é pressuposto do regime republicano e garantia da inte- bretudo, tarefas de vigilância. No cumprimento dessas tarefas, as
gridade da Nação. unidades ganham seu pleno significado apenas quando compõem
Os Secretários do Ministério da Defesa serão livremente es- sistema integrado de monitoramento/controle, feito, inclusive, a
colhidos pelo Ministro da Defesa, entre cidadãos brasileiros, mili- partir do espaço. Ao mesmo tempo, tais unidades potencializam-
tares das três Forças e civis, respeitadas as peculiaridades e as fun- se como instrumentos de defesa, por meio de seus vínculos com as
ções de cada secretaria. As iniciativas destinadas a formar quadros reservas táticas e estratégicas. Os vigias alertam. As reservas
de especialistas civis em defesa permitirão, no futuro, aumentar a respondem e operam. E a eficácia do emprego das reservas táticas
presença de civis em postos dirigentes no Ministério da Defesa. As regionais e estratégicas é proporcional à capacidade de elas aten-
disposições legais em contrário serão revogadas. derem à exigência da mobilidade.
O Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas será chefiado 10.Priorizar a região amazônica.
por um oficial-general de último posto, e terá a participação dos A Amazônia representa um dos focos de maior interesse para
Chefes dos Estados-Maiores das três Forças. Será subordinado a defesa. A defesa da Amazônia exige avanço de projeto de de-
diretamente ao Ministro da Defesa. Construirá as iniciativas que senvolvimento sustentável e passa pelo trinômio monitoramento/
dêem realidade prática à tese da unificação doutrinária, estratégica controle, mobilidade e presença.
e operacional e contará com estrutura permanente que lhe permita O Brasil será vigilante na reafirmação incondicional de sua
cumprir sua tarefa. soberania sobre a Amazônia brasileira. Repudiará, pela prática de
A Marinha, o Exército e a Aeronáutica disporão, singularmen-te, atos de desenvolvimento e de defesa, qualquer tentativa de tutela
de um Comandante, nomeado pelo Presidente da República e indicado sobre as suas decisões a respeito de preservação, de desenvolvi-
pelo Ministro da Defesa. O Comandante de Força, no âmbito das suas mento e de defesa da Amazônia. Não permitirá que organizações
atribuições, exercerá a direção e a gestão da sua Força, formulará a sua ou indivíduos sirvam de instrumentos para interesses estrangeiros
política e doutrina e preparará seus órgãos - políticos ou econômicos - que queiram enfraquecer a soberania
operativos e de apoio para o cumprimento da destinação constitu- brasileira. Quem cuida da Amazônia brasileira, a serviço da huma-
cional. nidade e de si mesmo, é o Brasil.

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11.Desenvolver, para fortalecer a mobilidade, a capacidade 14.Promover a reunião, nos militares brasileiros, dos atributos
logística, sobretudo na região amazônica. e predicados exigidos pelo conceito de flexibilidade.
Daí a importância de se possuir estruturas de transporte e de O militar brasileiro precisa reunir qualificação e rusticidade.
comando e controle que possam operar em grande variedade de Necessita dominar as tecnologias e as práticas operacionais exi-
circunstâncias, inclusive sob as condições extraordinárias impos- gidas pelo conceito de flexibilidade. Deve identificar-se com as
tas por um conflito armado. peculiaridades e características geográficas exigentes ou extremas
12.Desenvolver, para atender aos requisitos de monitoramen- que existem no País. Só assim realizar-se-á, na prática, o conceito
to/controle, mobilidade e presença, o conceito de flexibilidade no de flexibilidade, dentro das características do território nacional e
combate. da situação geográfica e geopolítica do Brasil.
Isso exigirá, sobretudo na Força Terrestre, que as forças con- 15.Rever, a partir de uma política de otimização do emprego
vencionais cultivem alguns predicados atribuídos a forças não- de recursos humanos, a composição dos efetivos das três Forças,
convencionais. de modo a dimensioná-las para atender adequadamente ao dispos-
Somente Forças Armadas com tais predicados estarão aptas to na Estratégia Nacional de Defesa.
para operar no amplíssimo espectro de circunstâncias que o futuro 16. Estruturar o potencial estratégico em torno de capacida-
poderá trazer. des.
A conveniência de assegurar que as forças convencionais ad- Convém organizar as Forças Armadas em torno de capacida-
quiram predicados comumente associados a forças não-convencio- des, não em torno de inimigos específicos. O Brasil não tem inimi-
nais pode parecer mais evidente no ambiente da selva amazônica. gos no presente. Para não tê-los no futuro, é preciso preservar a paz
Aplicam-se eles, porém, com igual pertinência, a outras áreas do País. e preparar-se para a guerra.
Não é uma adaptação a especificidades geográficas localiza-das. É 17.Preparar efetivos para o cumprimento de missões de garan-
resposta a uma vocação estratégica geral. tia da lei e da ordem, nos termos da Constituição Federal.
13.Desenvolver, para atender aos requisitos de monitoramen- O País cuida para evitar que as Forças Armadas desempenhem
to/controle, mobilidade e presença, o repertório de práticas e de papel de polícia. Efetuar operações internas em garantia da lei e da
capacitações operacionais dos combatentes. ordem, quando os poderes constituídos não conseguem garantir a
Cada homem e mulher a serviço das Forças Armadas há de paz pública e um dos Chefes dos três Poderes o requer, faz parte
dispor de três ordens de meios e de habilitações. das responsabilidades constitucionais das Forças Armadas. A legi-
Em primeiro lugar, cada combatente deve contar com meios e timação de tais responsabilidades pressupõe, entretanto, legislação
habilitações para atuar em rede, não só com outros combatentes e que ordene e respalde as condições específicas e os procedimentos
contingentes de sua própria Força, mas também com combatentes e federativos que dêem ensejo a tais operações, com resguardo de
contingentes das outras Forças. As tecnologias de comunicações,
seus integrantes.
inclusive com os veículos que monitorem a superfície da terra e do
18.Estimular a integração da América do Sul.
mar a partir do espaço, devem ser encaradas como instrumentos
Essa integração não somente contribuirá para a defesa do Bra-sil,
potencializadores de iniciativas de defesa e de combate. Esse é o
como possibilitará fomentar a cooperação militar regional e a
sentido do requisito de monitoramento e controle e de sua relação com
integração das bases industriais de defesa. Afastará a sombra de
as exigências de mobilidade e de presença.
conflitos dentro da região. Com todos os países avança-se rumo
Em segundo lugar, cada combatente deve dispor de tecnolo-
à construção da unidade sul-americana. O Conselho de Defesa
gias e de conhecimentos que permitam radicalizar, em qualquer
Sul-Americano, em debate na região, criará mecanismo consultivo
teatro de operações, terrestre ou marítimo, o imperativo de mobi-
lidade. É a esse imperativo, combinado com a capacidade de com- que permitirá prevenir conflitos e fomentar a cooperaçãomilitar re-
bate, que devem servir as plataformas e os sistemas de armas à gional e a integração das bases industriais de defesa, sem que dele
disposição do combatente. participe país alheio à região.
Em terceiro lugar, cada combatente deve ser treinado para 19.Preparar as Forças Armadas para desempenharem respon-
abordar o combate de modo a atenuar as formas rígidas e tradicio- sabilidades crescentes em operações de manutenção da paz.
nais de comando e controle, em prol da flexibilidade, da adaptabi- Em tais operações, as Forças agirão sob a orientação das Na-
lidade, da audácia e da surpresa no campo de batalha. Esse com- ções Unidas ou em apoio a iniciativas de órgãos multilaterais da
batente será, ao mesmo tempo, um comandado que sabe obedecer, região, pois o fortalecimento do sistema de segurança coletiva é
exercer a iniciativa na ausência de ordens específicas e orientar-se benéfico à paz mundial e à defesa nacional.
em meio às incertezas e aos sobressaltos do combate - e uma fonte 20.Ampliar a capacidade de atender aos compromissos inter-
de iniciativas - capaz de adaptar suas ordens à realidade da situa- nacionais de busca e salvamento.
ção mutável em que se encontra. É tarefa prioritária para o País o aprimoramento dos meios
Ganha ascendência no mundo um estilo de produção indus-trial existentes e da capacitação do pessoal envolvido com as atividades
marcado pela atenuação de contrastes entre atividades de pla- de busca e salvamento no território nacional, nas águas jurisdicio-
nejamento e de execução e pela relativização de especializações nais brasileiras e nas áreas pelas quais o Brasil é responsável, em
rígidas nas atividades de execução. Esse estilo encontra contra-partida decorrência de compromissos internacionais.
na maneira de fazer a guerra, cada vez mais caracterizada por extrema 21.Desenvolver o potencial de mobilização militar e nacional
flexibilidade. O desdobramento final dessa trajetória para assegurar a capacidade dissuasória e operacional das Forças
é esmaecer o contraste entre forças convencionais e não-conven- Armadas.
cionais, não em relação aos armamentos com que cada uma delas Diante de eventual degeneração do quadro internacional, o
possa contar, senão no radicalismo com que ambas praticam o con- Brasil e suas Forças Armadas deverão estar prontos para tomar
ceito de flexibilidade. medidas de resguardo do território, das linhas de comércio ma-

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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
rítimo e plataformas de petróleo e do espaço aéreo nacionais. As A motivação de ordem nacional será contribuir para a amplia-
Forças Armadas deverão, também, estar habilitadas a aumentar ção das instituições que democratizem a economia de mercado e
rapidamente os meios humanos e materiais disponíveis para a de- aprofundem a democracia, organizando o crescimento econômico
fesa. Exprime-se o imperativo de elasticidade em capacidade de socialmente includente. O método preferido desse trabalho é o dos
mobilização nacional e militar. experimentos binacionais: as iniciativas desenvolvidas em conjun-
Ao decretar a mobilização nacional, o Poder Executivo deli- to com os países parceiros.
mitará a área em que será realizada e especificará as medidas ne- 23.Manter o Serviço Militar Obrigatório.
cessárias à sua execução, tais como poderes para assumir o contro-le O Serviço Militar Obrigatório é condição para que se possa
de recursos materiais, inclusive meios de transporte, necessários mobilizar o povo brasileiro em defesa da soberania nacional. É,
à defesa, de acordo com a Lei de Mobilização Nacional. A mobi- também, instrumento para afirmar a unidade da Nação acima das
lização militar demanda a organização de uma força de reserva, divisões das classes sociais.
mobilizável em tais circunstâncias. Reporta-se, portanto, à questão O objetivo, a ser perseguido gradativamente, é tornar o Ser-
do futuro do Serviço Militar Obrigatório. viço Militar realmente obrigatório. Como o número dos alistados
Sem que se assegure a elasticidade para as Forças Armadas, anualmente é muito maior do que o número de recrutas de que
seu poder dissuasório e defensivo ficará comprometido. precisam as Forças Armadas, deverão elas selecioná-los segundo
22.Capacitar a indústria nacional de material de defesa para o vigor físico, a aptidão e a capacidade intelectual, em vez de
que conquiste autonomia em tecnologias indispensáveis à defesa. permi-tir que eles se auto-selecionem, cuidando para que todas as
Regime jurídico, regulatório e tributário especiais protegerá as classes sociais sejam representadas.
empresas privadas nacionais de material de defesa contra os ris- No futuro, convirá que os que forem desobrigados da pres-tação
cos do imediatismo mercantil e assegurará continuidade nas com- do serviço militar obrigatório sejam incentivados a prestar um serviço
pras públicas. A contrapartida a tal regime especial será, porém, o civil, de preferência em região do País diferente da região das quais se
poder estratégico que o Estado exercerá sobre tais empresas, a ser originam. Prestariam o serviço de acordo com a natureza de sua
assegurado por um conjunto de instrumentos de direito privado ou instrução preexistente, além de receber instrução nova. O serviço seria,
de direito público. portanto, ao mesmo tempo oportunidade de aprendizagem, expressão
Já o setor estatal de material de defesa terá por missão operar de solidariedade e instrumento de unida-de nacional. Os que o
no teto tecnológico, desenvolvendo as tecnologias que as empresas prestassem receberiam treinamento militar básico que embasasse
privadas não possam alcançar ou obter, a curto ou médio prazo, de eventual mobilização futura. E passariam a compor força de reserva
maneira rentável. mobilizável.
A formulação e a execução da política de compras de produtos Devem as escolas de formação de oficiais das três Forças con-
de defesa serão centralizadas no Ministério da Defesa, sob a res- tinuarem a atrair candidatos de todas as classes sociais. É ótimo que
ponsabilidade de uma secretaria de produtos de defesa. , admitida número cada vez maior deles provenha da classe trabalhadora.
delegação na sua execução. É necessário, porém, que os efetivos das Forças Armadas sejam
A indústria nacional de material de defesa será incentivada a formados por cidadãos oriundos de todas as classes sociais. Essa é
competir em mercados externos para aumentar a sua escala de uma das razões pelas quais a valorização da carreira, inclusive em
produção. A consolidação da União de Nações Sul-Americanas termos remuneratórios, representa exigência de segurança na-
poderá atenuar a tensão entre o requisito da independência em pro- cional.
dução de defesa e a necessidade de compensar custo com escala, A Marinha do Brasil: a hierarquia dos objetivos estratégicos
possibilitando o desenvolvimento da produção de defesa em con- e táticos.
junto com outros países da região. 1.Na maneira de conceber a relação entre as tarefas estraté-
Serão buscadas parcerias com outros países, com o propósito gicas de negação do uso do mar, de controle de áreas marítimas e
de desenvolver a capacitação tecnológica e a fabricação de produ- de projeção de poder, a Marinha do Brasil se pautará por um
tos de defesa nacionais, de modo a eliminar, progressivamente, a desenvolvimento desigual e conjunto. Se aceitasse dar peso igual
compra de serviços e produtos importados. a todos os três objetivos, seria grande o risco de ser medíocre em
Sempre que possível, as parcerias serão construídas como ex- todos eles. Embora todos mereçam ser cultivados, o serão em de-
pressões de associação estratégica mais abrangente entre o Brasil terminadas ordem e sequência.
e o país parceiro. A associação será manifestada em colaborações A prioridade é assegurar os meios para negar o uso do mar a
de defesa e de desenvolvimento e será pautada por duas ordens de qualquer concentração de forças inimigas que se aproxime do
motivações básicas: a internacional e a nacional. Brasil por via marítima. A negação do uso do mar ao inimigo é a
A motivação de ordem internacional será trabalhar com o país que organiza, antes de atendidos quaisquer outros objetivos estra-
parceiro em prol de um maior pluralismo de poder e de visão no tégicos, a estratégia de defesa marítima do Brasil. Essa prioridade
mundo. Esse trabalho conjunto passa por duas etapas. Na primeira tem implicações para a reconfiguração das forças navais.
etapa, o objetivo é a melhor representação de países emergentes, Ao garantir seu poder para negar o uso do mar ao inimigo,
inclusive o Brasil, nas organizações internacionais – políticas e precisa o Brasil manter a capacidade focada de projeção de poder
econômicas – estabelecidas. Na segunda, o alvo é a reestruturação das e criar condições para controlar, no grau necessário à defesa e den-
organizações internacionais, inclusive a do regime internacio-nal de tro dos limites do direito internacional, as áreas marítimas e águas
comércio, para que se tornem mais abertas às divergências, às interiores de importância político-estratégica, econômica e militar,
inovações e aos experimentos do que são as instituições nasci-das ao e também as suas linhas de comunicação marítimas. A despeito
término da Segunda Guerra Mundial. desta consideração, a projeção de poder se subordina, hierarquica-
mente, à negação do uso do mar.

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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
A negação do uso do mar, o controle de áreas marítimas e a A Marinha contará, também, com embarcações de combate,
projeção de poder devem ter por foco, sem hierarquização de obje- de transporte e de patrulha, oceânicas, litorâneas e fluviais. Serão
tivos e de acordo com as circunstâncias: concebidas e fabricadas de acordo com a mesma preocupação de
(a) defesa pró-ativa das plataformas petrolíferas; versatilidade funcional que orientará a construção das belonaves
(b) defesa pró-ativa das instalações navais e portuárias, dos de alto mar. A Marinha adensará sua presença nas vias navegáveis
arquipélagos e das ilhas oceânicas nas águas jurisdicionais brasi- das duas grandes bacias fluviais, a do Amazonas e a do Paraguai -
leiras; Paraná, empregando tanto navios-patrulha como navios-transpor-
(c) prontidão para responder a qualquer ameaça, por Estado te, ambos guarnecidos por helicópteros, adaptados ao regime das
ou por forças não-convencionais ou criminosas, às vias marítimas águas.
de comércio; A presença da Marinha nas bacias fluviais será facilitada pela
(d) capacidade de participar de operações internacionais de paz, dedicação do País à inauguração de um paradigma multimodal de
fora do território e das águas jurisdicionais brasileiras, sob a égide transporte. Esse paradigma contemplará a construção das hidrovias do
das Nações Unidas ou de organismos multilaterais da região; A Paraná-Tietê, do Madeira, do Tocantins-Araguaia e do Tapa-jós-Teles
construção de meios para exercer o controle de áreas marí-timas terá Pires. As barragens serão, quando possível, providas de eclusas, de
como focos as áreas estratégicas de acesso marítimo ao Brasil. Duas modo a assegurar franca navegabilidade às hidrovias.
áreas do litoral continuarão a merecer atenção espe-cial, do ponto de 6.O monitoramento da superfície do mar a partir do espaço
vista da necessidade de controlar o acesso maríti-mo ao Brasil: a deverá integrar o repertório de práticas e capacitações operacio-
faixa que vai de Santos a Vitória e a área em torno nais da Marinha.
da foz do rio Amazonas. A partir dele as forças navais, submarinas e de superfície te-
2.A doutrina do desenvolvimento desigual e conjunto tem im- rão fortalecidas suas capacidades de atuar em rede com as forças
plicações para a reconfiguração das forças navais. A implicação mais terrestre e aérea.
importante é que a Marinha se reconstruirá, por etapas, como uma 7.A constituição de uma força e de uma estratégia navais que
arma balanceada entre o componente submarino, o compo-nente de integrem os componentes submarino, de superfície e aéreo,
superfície e o componente aeroespacial. permitirá realçar a flexibilidade com que se resguarda o objetivo
3.Para assegurar o objetivo de negação do uso do mar, o Brasil prioritário da estratégia de segurança marítima: a dissuasão com a
contará com força naval submarina de envergadura, composta de negação do uso do mar ao inimigo que se aproxime, por meio do
submarinos convencionais e de submarinos de propulsão nuclear. O mar, do Brasil. Em amplo espectro de circunstâncias de comba-te,
Brasil manterá e desenvolverá sua capacidade de projetar e de fabricar
sobretudo quando a força inimiga for muito mais poderosa, a força
de superfície será concebida e operada como reserva tática ou
tanto submarinos de propulsão convencional como de pro-pulsão
estratégica. Preferencialmente e sempre que a situação tática
nuclear. Acelerará os investimentos e as parcerias necessá-rios para
permitir, a força de superfície será engajada no conflito depois do
executar o projeto do submarino de propulsão nuclear. Armará os
emprego inicial da força submarina, que atuará de maneira coor-
submarinos, convencionais e nucleares, com mísseis e desenvolverá
denada com os veículos espaciais (para efeito de monitoramento)
capacitações para projetá-los e fabricá-los. Cuidará de ganhar
e com meios aéreos (para efeito de fogo focado).
autonomia nas tecnologias cibernéticas que guiem os submarinos e
Esse desdobramento do combate em etapas sucessivas, sob a
seus sistemas de armas e que lhes possibilitem atuar em rede com as
responsabilidade de contingentes distintos, permitirá, na guerra
outras forças navais, terrestres e aéreas.
naval, a agilização da alternância entre a concentração e a descon-
4.Para assegurar sua capacidade de projeção de poder, a Ma-rinha centração de forças e o aprofundamento da flexibilidade a serviço
possuirá, ainda, meios de Fuzileiros Navais, em permanente condição da surpresa.
de pronto emprego. A existência de tais meios é também essencial para 8.Um dos elos entre a etapa preliminar do embate, sob a res-
a defesa das instalações navais e portuárias, dos ar-quipélagos e ilhas ponsabilidade da força submarina e de suas contrapartes espacial e
oceânicas nas águas jurisdicionais brasileiras, para atuar em operações aérea, e a etapa subsequente, conduzida com o pleno engajamento
internacionais de paz, em operações hu-manitárias, em qualquer lugar da força naval de superfície, será a Aviação Naval, embarcada em
do mundo. Nas vias fluviais, serão fundamentais para assegurar o navios. A Marinha trabalhará com a indústria nacional de material
controle das margens durante as operações ribeirinhas. O Corpo de de defesa para desenvolver um avião versátil, de defesa e ataque,
Fuzileiros Navais consolidar-se-á como a força de caráter que maximize o potencial aéreo defensivo e ofensivo da Força Na-
expedicionário por excelência. val.
5.A força naval de superfície contará tanto com navios de 9.A Marinha iniciará os estudos e preparativos para estabele-cer,
grande porte, capazes de operar e de permanecer por longo tempo em lugar próprio, o mais próximo possível da foz do rio Ama-zonas,
em alto mar, como de navios de porte menor, dedicados a patrulhar uma base naval de uso múltiplo, comparável, na abrangên-cia e na
o litoral e os principais rios navegáveis brasileiros. Requisito para densidade de seus meios, à Base Naval do Rio de Janeiro.
a manutenção de tal esquadra será a capacidade da Força Aérea de 10.A Marinha acelerará o trabalho de instalação de suas bases
trabalhar em conjunto com a Aviação Naval para garantir superio- de submarinos, convencionais e de propulsão nuclear.
ridade aérea local em caso de conflito armado. O Exército Brasileiro: os imperativos de flexibilidade e de
Entre os navios de alto mar, a Marinha dedicará especial aten- elasticidade
ção ao projeto e à fabricação de navios de propósitos múltiplos que 1.O Exército Brasileiro cumprirá sua destinação constitucio-
possam, também, servir como navios-aeródromos. Serão pre- nal e desempenhará suas atribuições, na paz e na guerra, sob a
feridos aos navios-aeródromos convencionais e de dedicação ex- orientação dos conceitos estratégicos de flexibilidade e de elastici-
clusiva. dade. A flexibilidade, por sua vez, inclui os requisitos estratégicos
de monitoramento/controle e de mobilidade.

8
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
Flexibilidade é a capacidade de empregar forças militares com o (c) Instrumentos de mobilidade que lhes permitam deslocar-se
mínimo de rigidez pré-estabelecida e com o máximo de adapta- rapidamente por terra, água e ar - para o teatro de operações e den-
bilidade à circunstância de emprego da força. Na paz, significa a tro dele. Por ar e por água, a mobilidade se efetuará comumente
versatilidade com que se substitui a presença - ou a onipresença - pela por meio de operações conjuntas com a Marinha e com a Força
capacidade de se fazer presente (mobilidade) à luz da infor-mação Aérea;
(monitoramento/controle). Na guerra, exige a capacidade de deixar o (d) Recursos logísticos capazes de manter a brigada com su-
inimigo em desequilíbrio permanente, surpreendendo -o por meio da primento, mesmo em regiões isoladas e inóspitas, por um período
dialética da desconcentração e da concentração de forças e da audácia de várias semanas.
com que se desfecha o golpe inesperado. A qualificação do módulo brigada como vanguarda exige am-
A flexibilidade relativiza o contraste entre o conflito conven- plo espectro de meios tecnológicos, desde os menos sofisticados,
cional e o conflito não-convencional: reivindica para as forças tais como radar portátil e instrumental de visão noturna, até as for-
convencionais alguns dos atributos de força não-convencional e mas mais avançadas de comunicação entre as operações terrestres
firma a supremacia da inteligência e da imaginação sobre o mero e o monitoramento espacial.
acúmulo de meios materiais e humanos. Por isso mesmo, rejeita a O entendimento da mobilidade tem implicações para a evo-lução
tentação de ver na alta tecnologia alternativa ao combate, assu- dos blindados, dos meios mecanizados e da artilharia. Uma implicação
mindo-a como um reforço da capacidade operacional. Insiste no desse entendimento é harmonizar, no desenho dos blin-dados e dos
papel da surpresa. Transforma a incerteza em solução, em vez de meios mecanizados, características técnicas de prote-ção e
encará-la como problema. Combina as defesas meditadas com os movimento. Outra implicação – nos blindados, nos meios
ataques fulminantes. mecanizados e na artilharia - é priorizar o desenvolvimento de tec-
Elasticidade é a capacidade de aumentar rapidamente o di- nologias capazes de assegurar precisão na execução do tiro.
mensionamento das forças militares quando as circunstâncias o 3.A transformação de todo o Exército em vanguarda, com base
exigirem, mobilizando em grande escala os recursos humanos e no módulo brigada, terá prioridade sobre a estratégia de pre-sença.
materiais do País. A elasticidade exige, portanto, a construção de Nessa transformação, o aparelhamento baseado no comple-
força de reserva, mobilizável de acordo com as circunstâncias. A tamento e modernização dos sistemas operacionais das brigadas,
base derradeira da elasticidade é a integração das Forças Armadas para dotá-las de capacidade de rapidamente fazerem-se presentes,
com a Nação. O desdobramento da elasticidade reporta-se à parte será prioritário.
desta Estratégia Nacional de Defesa que trata do futuro do Serviço A transformação será, porém, compatibilizada com a estra-
Militar Obrigatório e da mobilização nacional. tégia da presença, em especial na região amazônica, em face dos
A flexibilidade depende, para sua afirmação plena, da elasti- obstáculos ao deslocamento e à concentração de forças. Em todas
cidade. O potencial da flexibilidade, para dissuasão e para defesa, as circunstâncias, as unidades militares situadas nas fronteiras fun-
ficaria severamente limitado se não fosse possível, em caso de ne- cionarão como destacamentos avançados de vigilância e de dis-
cessidade, multiplicar os meios humanos e materiais das Forças suasão.
Armadas. Por outro lado, a maneira de interpretar e de efetuar o Nos centros estratégicos do País – políticos, industriais, tecno-
imperativo da elasticidade revela o desdobramento mais radical da lógicos e militares – a estratégia de presença do Exército concorre-
flexibilidade. A elasticidade é a flexibilidade, traduzida no engaja- rá também para o objetivo de se assegurar a capacidade de defesa
mento de toda a Nação em sua própria defesa. antiaérea, em quantidade e em qualidade, sobretudo por meio de
2.O Exército, embora seja empregado de forma progressiva artilharia antiaérea de média altura.
nas crises e conflitos armados, deve ser constituído por meios 4.O Exército continuará a manter reservas regionais e estra-
modernos e por efetivos muito bem adestrados. O Exército não terá tégicas, articuladas em dispositivo de expectativa. As reservas es-
dentro de si uma vanguarda. O Exército será, todo ele, uma tratégicas, incluindo pára-quedistas e contingentes de operações
vanguarda. A concepção do Exército como vanguarda tem, como especiais, em prol da faculdade de concentrar forças rapidamente,
expressão prática principal a sua reconstrução em módulo brigada, serão estacionadas no centro do País.
que vem a ser o módulo básico de combate da Força Terrestre. Na 5.O monitoramento/controle, como componente do imperati-vo
composição atual do Exército, as brigadas das Forças de Ação de flexibilidade, exigirá que entre os recursos espaciais haja um vetor
Rápida Estratégicas são as que melhor exprimem o ideal de flexi- sob integral domínio nacional, ainda que parceiros estrangei-ros
bilidade. participem do seu projeto e da sua implementação, incluindo:
O modelo de composição das Forças de Ação Rápida Estra- (a) a fabricação de veículos lançadores de satélites;
tégicas não precisa nem deve ser seguido rigidamente, sem que se (b) a fabricação de satélites de baixa e de alta altitude, sobre-
levem em conta os problemas operacionais próprios dos diferen- tudo de satélites geoestacionários, de múltiplos usos;
tes teatros de operações. Entretanto, todas as brigadas do Exército (c) o desenvolvimento de alternativas nacionais aos sistemas
devem conter, em princípio, os seguintes elementos, para que se de localização e de posicionamento dos quais o Brasil depende,
generalize o atendimento do conceito da flexibilidade: passando pelas necessárias etapas internas de evolução dessas tec-
(a) Recursos humanos com elevada motivação e efetiva ca- nologias;
pacitação operacional, típicas da Brigada de Operações Especiais, (d) os meios aéreos e terrestres para monitoramento focado,
que hoje compõe a reserva estratégica do Exército; de alta resolução;
(b) Instrumentos de comunicações e de monitoramento que (e) as capacitações e os instrumentos cibernéticos necessários
lhes permitam operar em rede com outras unidades do Exército, da para assegurar comunicações entre os monitores espaciais e aéreos
Marinha e da Força Aérea e receber informação fornecida pelo e a força terrestre.
monitoramento do terreno a partir do ar e do espaço;

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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
6.A mobilidade como componente do imperativo de flexibili- Cada uma das condições, a seguir listadas, para a condução
dade requer o desenvolvimento de veículos terrestres e de meios exi-tosa da guerra de resistência deve ser interpretada como
aéreos de combate e de transporte. Demandará, também, a reor- advertên-cia orientadora da maneira de desempenhar as
ganização das relações com a Marinha e com a Força Aérea, de responsabilidades do Exército:
maneira a assegurar, tanto na cúpula dos Estados-Maiores como na a. Ver a Nação identificada com a causa da defesa. Toda a
base dos contingentes operacionais, a capacidade de atuar como estra-tégia nacional repousa sobre a conscientização do povo
uma única força. brasileiro da importância central dos problemas de defesa.
7.Monitoramento/controle e mobilidade têm seu complemen- b. Juntar a soldados regulares, fortalecidos com atributos de
to em medidas destinadas a assegurar, ainda no módulo brigada, a sol-dados não-convencionais, as reservas mobilizadas de acordo
obtenção do efetivo poder de combate. Algumas dessas medidas com o conceito da elasticidade.
são tecnológicas: o desenvolvimento de sistemas de armas e de c. Contar com um soldado resistente que, além dos pendores
guiamento que permitam precisão no direcionamento do tiro e o de qualificação e de rusticidade, seja também, no mais alto grau,
desenvolvimento da capacidade de fabricar munições não-nuclea- tenaz. Sua tenacidade se inspirará na identificação da Nação com
res de todos os tipos. Outras medidas são operacionais: a consoli- a causa da defesa.
dação de um repertório de práticas e de capacitações que propor- d. Sustentar, sob condições adversas e extremas, a capacidade
cionem à Força Terrestre os conhecimentos e as potencialidades, de comando e controle entre as forças combatentes.
tanto para o combate convencional quanto para não-convencional, e. Manter e construir, mesmo sob condições adversas e extre-
capaz de operar com adaptabilidade nas condições imensamente mas, o poder de apoio logístico às forças combatentes.
variadas do território nacional. Outras medidas - ainda mais im- f. Saber aproveitar ao máximo as características do terreno.
portantes - são educativas: a formação de um militar que reúna A Força Aérea Brasileira: vigilância orientadora,
qualificação e rusticidade. superioridade aérea, combate focado, combate aeroestratégico
8.A defesa da região amazônica será encarada, na atual fase da 1.Quatro objetivos estratégicos orientam a missão da Força
História, como o foco de concentração das diretrizes resumi-das sob o Aé-rea Brasileira e fixam o lugar de seu trabalho dentro da
rótulo dos imperativos de monitoramento/controle e de mobilidade. Estratégia Na-cional de Defesa. Esses objetivos estão encadeados
Não exige qualquer exceção a tais diretrizes; reforça as razões para em determinada ordem: cada um condiciona a definição e a
seguí-las. As adaptações necessárias serão as reque-ridas pela natureza execução dos objetivos subsequentes.
daquele teatro de operações: a intensificação das tecnologias e dos a. A prioridade da vigilância aérea.
dispositivos de monitoramento a partir do espaço, do ar e da terra; a Exercer do ar a vigilância do espaço aéreo, sobre o território
primazia da transformação da brigada em uma força com atributos nacional e as águas jurisdicionais brasileiras, com a assistência dos
tecnológicos e operacionais; os meios logísticos e aéreos para apoiar meios espaciais, terrestres e marítimos, é a primeira das responsa-
unidades de fronteira isoladas em áreas remotas, exigentes e bilidades da Força Aérea e a condição essencial para poder inibir o
vulneráveis; e a formação de um com-batente detentor de qualificação sobrevôo desimpedido do espaço aéreo nacional pelo inimigo. A
e de rusticidade necessárias à pro-ficiência de um combatente de selva. estratégia da Força Aérea será a de cercar o Brasil com sucessivas e
O desenvolvimento sustentável da região amazônica passará a ser complementares camadas de visualização, condicionantes da pron-
visto, também, como instrumento da defesa nacional: só ele pode tidão para responder. Implicação prática dessa tarefa é que a Força
consolidar as condições para assegurar a soberania nacional sobre Aérea precisará contar com plataformas e sistemas próprios para mo-
aquela região. Dentro dos planos para o desenvolvimento sustentável nitorar, e não apenas para combater e transportar, particularmente na
da Amazônia, caberá papel primordial à regularização fundiária. Para região amazônica.
defender a Amazônia, será preciso tirá-la da con-dição de insegurança O Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro (SISDABRA), uma
jurídica e de conflito generalizado em que, por conta da falta de dessas camadas, disporá de um complexo de monitoramento,
solução ao problema da terra, ela se encontra. incluindo veículos lançadores, satélites geoestacionários e de moni-
9.Atender ao imperativo da elasticidade será preocupação es- toramento, aviões de inteligência e respectivos aparatos de visualiza-
pecial do Exército, pois é, sobretudo, a Força Terrestre que terá de ção e de comunicações, que estejam sob integral domínio nacional.
multiplicar-se em caso de conflito armado. O Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (COMDA-BRA)
10.Os imperativos de flexibilidade e de elasticidade culmi- será fortalecido como núcleo da defesa aeroespacial, incumbi-do de
nam no preparo para uma guerra assimétrica, sobretudo na região liderar e de integrar todos os meios de monitoramento aeroes-pacial
amazônica, a ser sustentada contra inimigo de poder militar muito do País. A indústria nacional de material de defesa será orien-tada a
superior, por ação de um país ou de uma coligação de países que dar a mais alta prioridade ao desenvolvimento das tecnologias
insista em contestar, a pretexto de supostos interesses da Humani- necessárias, inclusive aquelas que viabilizem independência do sis-
dade, a incondicional soberania brasileira sobre a sua Amazônia. tema de sinal GPS ou de qualquer outro sistema de sinal estrangeiro.
A preparação para tal guerra não consiste apenas em ajudar a O potencial para contribuir com tal independência tecnológica pesará
evitar o que hoje é uma hipótese remota, a de envolvimento do na escolha das parcerias com outros países em matéria de tecnologias
Brasil em um conflito armado de grande escala. É, também, de defesa.
aproveitar disciplina útil para a formação de sua doutrina militar e b. O poder para assegurar superioridade aérea local.
de suas capacitações operacionais. Um exército que conquistou os Em qualquer hipótese de emprego a Força Aérea terá a respon-
atributos de flexibilidade e de elasticidade é um exército que sabe sabilidade de assegurar superioridade aérea local. Do cumprimento
conjugar as ações convencionais com as não-convencionais. A dessa responsabilidade, dependerá em grande parte a viabilidade das
guerra assimétrica, no quadro de uma guerra de resistência na- operações navais e das operações das forças terrestres no interior do
cional, representa uma efetiva possibilidade da doutrina aqui es- País. O requisito do potencial de garantir superioridade aérea local
pecificada. será o primeiro passo para afirmar a superioridade aérea sobre o
território e as águas jurisdicionais brasileiras.

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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
Impõe, como consequência, evitar qualquer hiato de despro- 4.Dentre todas as preocupações a enfrentar no desenvolvi-
teção aérea no período de 2015 a 2025, durante o qual terão de ser mento da Força Aérea, a que inspira cuidados mais vivos e pre-
substituídos a atual frota de aviões de combate, os sistemas de ar- mentes é a maneira de substituir os atuais aviões de combate no
mas e armamentos inteligentes embarcados, inclusive os sistemas intervalo entre 2015 e 2025, uma vez esgotada a possibilidade de
inerciais que permitam dirigir o fogo ao alvo com exatidão e “além prolongar-lhes a vida por modernização de seus sistemas de armas,
do alcance visual”. de sua aviônica e de partes de sua estrutura e fuselagem.
c. A capacidade para levar o combate a pontos específicos do O Brasil confronta, nesse particular, dilema corriqueiro em toda a
território nacional, em conjunto com o Exército e a Marinha, cons- parte: manter a prioridade das capacitações futuras sobre os gastos
tituindo uma única força combatente, sob a disciplina do teatro de atuais, sem tolerar desproteção aérea. Precisa investir nas capacidades
operações. que lhe assegurem potencial de fabricação indepen-dente de seus
A primeira implicação é a necessidade de dispor de aviões de meios aéreos de defesa. Não pode, porém, aceitar ficar desfalcado de
transporte em número suficiente para transportar em poucas horas um escudo aéreo enquanto reúne as condições para ganhar tal
uma brigada da reserva estratégica, do centro do País para qual- independência. A solução a dar a esse problema é tão importante, e
quer ponto do território nacional. As unidades de transporte aéreo exerce efeitos tão variados sobre a situação estra-tégica do País na
ficarão baseadas no centro do País, próximo às reservas estratégi- América do Sul e no mundo, que transcende uma mera discussão de
cas da Força Terrestre. equipamento e merece ser entendida como parte integrante da
A segunda implicação é a necessidade de contar com siste- Estratégia Nacional de Defesa.
mas de armas de grande precisão, capazes de permitir a adequada O princípio genérico da solução é a rejeição das soluções
discriminação de alvos em situações nas quais forças nacionais extremas - simplesmente comprar no mercado internacional um
poderão estar entremeadas ao inimigo. caça “de quinta geração” ou sacrificar a compra para investir na
A terceira implicação é a necessidade de dispor de suficientes e modernização dos aviões existentes, nos projetos de aviões não-
adequados meios de transporte para apoiar a aplicação da estra-tégia tripulados, no desenvolvimento, junto com outro país, do protótipo
da presença do Exército na região Amazônica e no Centro -Oeste, de um caça tripulado do futuro e na formação maciça de quadros
sobretudo as atividades operacionais e logísticas realizadas pelas científicos e técnicos. Convém solução híbrida, que providencie o
unidades da Força Terrestre situadas na fronteira. avião de combate dentro do intervalo temporal necessário mas que
d. A índole pacífica do Brasil não elimina a necessidade de o faça de maneira a criar condições para a fabricação nacional de
assegurar à Força Aérea o domínio de um potencial estratégico que caças tripulados avançados.
se organize em torno de uma capacidade, não em torno de um Tal solução híbrida poderá obedecer a um de dois figurinos.
inimigo. Sem que a Força Aérea tenha o pleno domínio desse Embora esses dois figurinos possam coexistir em tese, na prática
potencial aeroestratégico, não estará ela em condições de defen- um terá de prevalecer sobre o outro. Ambos ultrapassam de muito
der o Brasil, nem mesmo dentro dos mais estritos limites de uma os limites convencionais de compra com transferência de tecnolo-
guerra defensiva. Para tanto, precisa contar com todos os meios gia ou “off-set” e envolvem iniciativa substancial de concepção e
relevantes: plataformas, sistemas de armas, subsídios cartográficos de fabricação no Brasil. Atingem o mesmo resultado por caminhos
e recursos de inteligência. diferentes.
2.Na região amazônica, o atendimento a esses objetivos exi- De acordo com o primeiro figurino, estabelecer-se-ia parceria
girá que a Força Aérea disponha de unidades com recursos técni- com outro país ou países para projetar e fabricar no Brasil, dentro
cos para assegurar a operacionalidade das pistas de pouso e das do intervalo temporal relevante, um sucedâneo a um caça de quinta
instalações de proteção ao vôo nas situações de vigilância e de geração à venda no mercado internacional. Projeta-se e constrói-se
combate. o sucedâneo de maneira a superar limitações técnicas e operacio-
3.O complexo tecnológico e científico sediado em São José nais significativas da versão atual daquele avião (por exemplo, seu
dos Campos continuará a ser o sustentáculo da Força Aérea e de raio de ação, suas limitações em matéria de empuxo vetorado, sua
seu futuro. De sua importância central resultam os seguintes impe- falta de baixa assinatura radar). A solução em foco daria resposta
rativos estratégicos: simultânea aos problemas das limitações técnicas e da indepen-
a. Priorizar a formação, dentro e fora do Brasil, dos quadros dência tecnológica.
técnico-científicos, militares e civis, que permitam alcançar a in- De acordo com o segundo figurino, seria comprado um caça
dependência tecnológica; de quinta geração, em negociação que contemplasse a transferên-
b. Desenvolver projetos tecnológicos que se distingam por sua cia integral de tecnologia, inclusive as tecnologias de projeto e de
fecundidade tecnológica (aplicação análoga a outras áreas) e por fabricação do avião e os “códigos-fonte”. A compra seria feita na
seu significado transformador (alteração revolucionária das condi- escala mínima necessária para facultar a transferência integral
ções de combate), não apenas por sua aplicação imediata; dessas tecnologias. Uma empresa brasileira começa a produzir, sob
c. Estreitar os vínculos entre os Institutos de Pesquisa do Cen- orientação do Estado brasileiro, um sucedâneo àquele avião
tro Tecnológico da Aeronáutica (CTA) e as empresas privadas, comprado, autorizado por negociação antecedente com o país e a
resguardando sempre os interesses do Estado quanto à proteção de empresa vendedores. A solução em foco dar-se-ia por sequencia-
patentes e à propriedade industrial; mento e não por simultaneidade.
d. Promover o desenvolvimento, em São José de Campos ou A escolha entre os dois figurinos é questão de circunstância e
em outros lugares, de adequadas condições de ensaio; de negociação. Consideração que poderá ser decisiva é a necessi-
e. Enfrentar o problema da vulnerabilidade estratégica cria-da dade de preferir a opção que minimize a dependência tecnológica
pela concentração de iniciativas no complexo tecnológico e ou política em relação a qualquer fornecedor que, por deter com-
empresarial de São José dos Campos. Preparar a progressiva des- ponentes do avião a comprar ou a modernizar, possa pretender,
concentração geográfica de algumas das partes mais sensíveis do por conta dessa participação, inibir ou influir sobre iniciativas de
complexo. defesa desencadeadas pelo Brasil.

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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
5.Três diretrizes estratégicas marcarão a evolução da Força Por imperativo constitucional e por tratado internacional, pri-
Aérea. Cada uma dessas diretrizes representa muito mais do que vou-se o Brasil da faculdade de empregar a energia nuclear para
uma tarefa, uma oportunidade de transformação. qualquer fim que não seja pacífico. Fê-lo sob várias premissas, das
A primeira diretriz é o desenvolvimento do repertório de tec- quais a mais importante foi o progressivo desarmamento nuclear
nologias e de capacitações que permitam à Força Aérea operar em das potências nucleares.
rede, não só entre seus próprios componentes, mas, também, com Nenhum país é mais atuante do que o Brasil na causa do de-
o Exército e a Marinha. sarmamento nuclear. Entretanto o Brasil, ao proibir a si mesmo o
A segunda diretriz é o avanço nos programas de veículos aé-reos acesso ao armamento nuclear, não se deve despojar da tecnologia
não tripulados, primeiro de vigilância e depois de combate. Os nuclear. Deve, pelo contrário, desenvolvê-la, inclusive por meio
veículos não tripulados poderão vir a ser meios centrais, não das seguintes iniciativas:
meramente acessórios, do combate aéreo, além de facultar patamar a. Completar, no que diz respeito ao programa de submarino
mais exigente de precisão no monitoramento/controle do território de propulsão nuclear, a nacionalização completa e o desenvolvi-
nacional. A Força Aérea absorverá as implicações desse meio de mento em escala industrial do ciclo do combustível (inclusive a
vigilância e de combate para sua orientação tática e estratégica. gaseificação e o enriquecimento) e da tecnologia da construção de
Formulará doutrina sobre a interação entre os veículos tripulados e não reatores, para uso exclusivo do Brasil.
tripulados que aproveite o novo meio para radicalizar o poder de b. Acelerar o mapeamento, a prospecção e o aproveitamento
surpreender, sem expor as vidas dos pilotos. das jazidas de urânio.
A terceira diretriz é a integração das atividades espaciais nas c. Desenvolver o potencial de projetar e construir termelé-
operações da Força Aérea. O monitoramento espacial será par-te tricas nucleares, com tecnologias e capacitações que acabem sob
integral e condição indispensável do cumprimento das tarefas domínio nacional, ainda que desenvolvidas por meio de parcerias
estratégicas que orientarão a Força Aérea: vigilância múltipla e com Estados e empresas estrangeiras. Empregar a energia nuclear
cumulativa, superioridade aérea local e fogo focado no contexto de criteriosamente, e sujeitá-la aos mais rigorosos controles de segu-
operações conjuntas. O desenvolvimento da tecnologia de veícu-los rança e de proteção do meio-ambiente, como forma de estabilizar
lançadores servirá como instrumento amplo, não só para apoiar os a matriz energética nacional, ajustando as variações no suprimento
programas espaciais, mas também para desenvolver tecnologia de energias renováveis, sobretudo a energia de origem hidrelétrica;
nacional de projeto e de fabricação de mísseis. e
Os setores estratégicos: o espacial, o cibernético e o nuclear d. Aumentar a capacidade de usar a energia nuclear em amplo
1.Três setores estratégicos - o espacial, o cibernético e o nu- espectro de atividades.
clear –são essenciais para a defesa nacional. O Brasil zelará por manter abertas as vias de acesso ao desen-
2.Nos três setores, as parcerias com outros países e as compras de volvimento de suas tecnologias de energia nuclear. Não aderirá a
produtos e serviços no exterior devem ser compatibilizadas com o acréscimos ao Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares
objetivo de assegurar espectro abrangente de capacitações e de destinados a ampliar as restrições do Tratado sem que as potências
tecnologias sob domínio nacional. nucleares tenham avançado na premissa central do Tratado: seu
3.No setor espacial, as prioridades são as seguintes: próprio desarmamento nuclear.
a. Projetar e fabricar veículos lançadores de satélites e desen- 6.A primeira prioridade do Estado na política dos três setores
volver tecnologias de guiamento remoto, sobretudo sistemas iner- estratégicos será a formação de recursos humanos nas ciências re-
ciais e tecnologias de propulsão líquida. levantes. Para tanto, ajudará a financiar os programas de pesquisa
b. Projetar e fabricar satélites, sobretudo os geoestacionários, e de formação nas universidades brasileiras e nos centros nacionais
para telecomunicações e os destinados ao sensoriamento remoto de pesquisa e aumentará a oferta de bolsas de doutoramento e de
de alta resolução, multiespectral e desenvolver tecnologias de con- pós-doutoramento nas instituições internacionais pertinentes. Essa
trole de atitude dos satélites. política de apoio não se limitará à ciência aplicada, de emprego
c. Desenvolver tecnologias de comunicações, comando e con- tecnológico imediato. Beneficiará, também, a ciência fundamental
trole a partir de satélites, com as forças terrestres, aéreas e maríti- e especulativa.
mas, inclusive submarinas, para que elas se capacitem a operar em A reorganização da indústria nacional de material de defesa:
rede e a se orientar por informações deles recebidas; desenvolvimento tecnológico independente
d. Desenvolver tecnologia de determinação de coordenadas 1.A defesa do Brasil requer a reorganização da indústria na-cional de
geográficas a partir de satélites. material de defesa, de acordo com as seguintes diretrizes: a. Dar
4.As capacitações cibernéticas se destinarão ao mais amplo prioridade ao desenvolvimento de capacitações tecno-
espectro de usos industriais, educativos e militares. Incluirão, lógicas independentes.
como parte prioritária, as tecnologias de comunicação entre to-dos Essa meta condicionará as parcerias com países e empresas
os contingentes das Forças Armadas de modo a assegurar sua estrangeiras ao desenvolvimento progressivo de pesquisa e de pro-
capacidade para atuar em rede. Contemplarão o poder de comu- dução no País.
nicação entre os contingentes das Forças Armadas e os veículos b. Subordinar as considerações comerciais aos imperativos
espaciais. No setor cibernético, será constituída organização en- estratégicos.
carregada de desenvolver a capacitação cibernética nos campos Isso importa em organizar o regime legal, regulatório e tribu-
industrial e militar. tário da indústria nacional de material de defesa para que reflita tal
5.O setor nuclear tem valor estratégico. Transcende, por sua subordinação.
natureza, a divisão entre desenvolvimento e defesa. c. Evitar que a indústria nacional de material de defesa polari-
ze-se entre pesquisa avançada e produção rotineira.

12
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
Deve-se cuidar para que a pesquisa de vanguarda sirva à pro- O objetivo será implementar, no mais breve período, uma
dução de vanguarda. po-lítica centralizada de compras produtos de defesa capaz de:
d. Usar o desenvolvimento de tecnologias de defesa como (a) otimizar o dispêndio de recursos;
foco para o desenvolvimento de capacitações operacionais. (b) assegurar que as compras obedeçam às diretrizes da Estra-
Isso implica buscar a modernização permanente das platafor- tégia Nacional de Defesa e de sua elaboração, ao longo do tempo;
mas, seja pela reavaliação à luz da experiência operacional, seja e
pela incorporação de melhorias provindas do desenvolvimento (c) garantir, nas decisões de compra, a primazia do compro-
tecnoló-gico. misso com o desenvolvimento das capacitações tecnológicas na-
2.Estabelecer-se-á, para a indústria nacional de material de de- cionais em produtos de defesa.
fesa, regime legal, regulatório e tributário especial. 8.A Secretaria responsável pela área de Ciência e Tecnologia
Tal regime resguardará as empresas privadas de material de de- no Ministério da Defesa deverá ter, entre as suas atribuições, a de
fesa das pressões do imediatismo mercantil ao eximi-las do regime coordenar a pesquisa avançada em tecnologias de defesa que se
geral de licitações; as protegerá contra o risco dos contingenciamen- realize nos Institutos de pesquisa da Marinha, do Exército e da
tos orçamentários e assegurará a continuidade nas compras públicas. Aeronáutica, bem como em outras organizações subordinadas às
Em contrapartida, o Estado ganhará poderes especiais sobre as em-
Forças Armadas.
presas privadas, para além das fronteiras da autoridade regulatória
O objetivo será implementar uma política tecnológica integra-
geral. Esses poderes serão exercidos quer por meio de instrumentos de
da, que evite duplicação; compartilhe quadros, idéias e recursos; e
direito privado, como a “golden share”, quer por meio de ins-
trumentos de direito público, como os licenciamentos regulatórios. prime por construir elos entre pesquisa e produção, sem perder
3.O componente estatal da indústria de material de defesa terá por contato com avanços em ciências básicas. Para assegurar a conse-
vocação produzir o que o setor privado não possa projetar e fa-bricar, cução desses objetivos, a Secretaria fará com que muitos projetos
a curto e médio prazo, de maneira rentável. Atuará, portanto, no teto, de pesquisa sejam realizados conjuntamente pelas instituições de
e não no piso tecnológico. Manterá estreito vínculo com os centros tecnologia avançada das três Forças Armadas. Alguns desses pro-
avançados de pesquisa das próprias Forças Armadas e das instituições jetos conjuntos poderão ser organizados com personalidade pró-
acadêmicas brasileiras. pria, seja como empresas de propósitos específicos, seja sob outras
4.O Estado ajudará a conquistar clientela estrangeira para a in- formas jurídicas.
dústria nacional de material de defesa. Entretanto, a continuidade Os projetos serão escolhidos e avaliados não só pelo seu po-
da produção deve ser organizada para não depender da conquista tencial produtivo próximo, mas também por sua fecundidade tec-
ou da continuidade de tal clientela. Portanto, o Estado reconhecerá nológica: sua utilidade como fonte de inspiração e de capacitação
que em muitas linhas de produção, aquela indústria terá de operar para iniciativas análogas.
em sistema de “custo mais margem” e, por conseguinte, sob 9.Resguardados os interesses de segurança do Estado quanto
intenso escrutínio regulatório. ao acesso a informações, serão estimuladas iniciativas conjuntas
5.O futuro das capacitações tecnológicas nacionais de defesa entre organizações de pesquisa das Forças Armadas, instituições
depende mais da formação de recursos humanos do que do desen- acadêmicas nacionais e empresas privadas brasileiras. O objetivo
volvimento de aparato industrial. Daí a primazia da política de for- será fomentar o desenvolvimento de um complexo militar-univer-
mação de cientistas, em ciência aplicada e básica, já abordada no sitário-empresarial capaz de atuar na fronteira de tecnologias que
tratamento dos setores espacial, cibernético e nuclear. terão quase sempre utilidade dual, militar e civil.
6.No esforço de reorganizar a indústria nacional de material de O serviço militar obrigatório: nivelamento republicano e mo-
defesa, buscar-se-á parcerias com outros países, com o objetivo de bilização nacional
desenvolver a capacitação tecnológica nacional, de modo a reduzir 1.A base da defesa nacional é a identificação da Nação com as
progressivamente a compra de serviços e de produtos acabados no Forças Armadas e das Forças Armadas com a Nação. Tal identifi-
exterior. A esses interlocutores estrangeiros, o Brasil deixará sem-pre
cação exige que a Nação compreenda serem inseparáveis as causas
claro que pretende ser parceiro, não cliente ou comprador. O País está
do desenvolvimento e da defesa.
mais interessado em parcerias que fortaleçam suas capa-citações
O Serviço Militar Obrigatório será, por isso, mantido e re-
independentes do que na compra de produtos e serviços acabados. Tais
forçado. É a mais importante garantia da defesa nacional. Pode ser
parcerias devem contemplar, em princípio, que parte substancial da
pesquisa e da fabricação seja desenvolvida no Brasil e ganharão relevo também o mais eficaz nivelador republicano, permitindo que a
maior quando forem expressão de associações es-tratégicas Nação se encontre acima de suas classes sociais.
abrangentes. 2.As Forças Armadas limitarão e reverterão a tendência de
7.Estabelecer-se-á, no Ministério da Defesa, uma Secretaria diminuir a proporção de recrutas e de aumentar a proporção de
de Produtos de Defesa. O Secretário será nomeado pelo Presidente soldados profissionais. No Exército, respeitada a necessidade de
da República, por indicação do Ministro da Defesa. especialistas, a maioria do efetivo de soldados deverá sempre con-
Caberá ao Secretário executar as diretrizes fixadas pelo Mi-nistro tinuar a ser de recrutas do Serviço Militar Obrigatório. Na Marinha e
da Defesa e, com base nelas, formular e dirigir a política de compras na Força Aérea, a necessidade de contar com especialistas, for-mados
de produtos de defesa, inclusive armamentos, munições, meios de ao longo de vários anos, deverá ter como contrapeso a im-portância
transporte e de comunicações, fardamentos e materiais de uso estratégica de manter abertos os canais do recrutamento.
individual e coletivo, empregados nas atividades operacionais. O O conflito entre as vantagens do profissionalismo e os valores
Ministro da Defesa delegará aos órgãos das três Forças poderes do recrutamento há de ser atenuado por meio da educação - técnica
para executarem a política formulada pela Secretaria quanto a en- e geral, porém de orientação analítica e capacitadora - que será
comendas e compras de produtos específicos de sua área, sujeita ministrada aos recrutas ao longo do período de serviço.
tal execução à avaliação permanente pelo Ministério.

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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
3.As Forças Armadas se colocarão no rumo de tornar o Ser- A Escola Superior de Guerra deve servir como um dos prin-
viço Militar realmente obrigatório. Não se contentarão em deixar cipais instrumentos de tal formação. Deve, também, organizar o
que a desproporção entre o número muito maior de obrigados ao debate permanente, entre as lideranças civis e militares, a respeito
serviço e o número muito menor de vagas e de necessidades das dos problemas da defesa. Para melhor cumprir essas funções, de-
Forças seja resolvido pelo critério da auto-seleção de recrutas de- verá a Escola ser transferida para Brasília, sem prejuízo de sua
sejosos de servir. O uso preponderante de tal critério, ainda que presença no Rio de Janeiro, e passar a contar com o engajamento
sob o efeito de melhores atrativos financeiros, limita o potencial direto do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas e dos Esta-
do serviço militar, em prejuízo de seus objetivos de defesa nacional dos-Maiores das três Forças.
e de nivelamento republicano. Conclusão
Os recrutas serão selecionados por dois critérios principais. O A Estratégia Nacional de Defesa inspira-se em duas realidades
primeiro será a combinação do vigor físico com a capacidade analítica, que lhe garantem a viabilidade e lhe indicam o rumo.
medida de maneira independente do nível de informação ou de A primeira realidade é a capacidade de improvisação e adap-
formação cultural de que goze o recruta. O segundo será o da tação, o pendor para criar soluções quando faltam instrumentos, a
representação de todas as classes sociais e regiões do país. disposição de enfrentar as agruras da natureza e da sociedade,
4.Complementarmente ao Serviço Militar Obrigatório insti- enfim, a capacidade quase irrestrita de adaptação que permeia a
tuir-se-á Serviço Civil, de amplas proporções. Nele poderão ser cultura brasileira. É esse o fato que permite efetivar o conceito de
progressivamente aproveitados os jovens brasileiros que não fo-
flexibilidade.
rem incorporados no Serviço Militar. Nesse serviço civil - con-
A segunda realidade é o sentido do compromisso nacional no
cebido como generalização das aspirações do Projeto Rondon
- receberão os incorporados, de acordo com suas qualificações e Brasil. A Nação brasileira foi e é um projeto do povo brasileiro;
preferências, formação para poder participar de um trabalho so- foi ele que sempre abraçou a idéia de nacionalidade e lutou para
cial. Esse trabalho se destinará a atender às carências do povo bra- converter a essa idéia os quadros dirigentes e letrados. Este fato é
sileiro e a reafirmar a unidade da Nação. Receberão, também, os a garantia profunda da identificação da Nação com as Forças
participantes do Serviço Civil, treinamento militar básico que lhes Arma-das e destas com a Nação.
permita compor força de reserva, mobilizável em circunstâncias de Do encontro dessas duas realidades, resultaram as diretrizes
necessidade. Serão catalogados, de acordo com suas habilitações, da Estratégia Nacional de Defesa.
para eventual mobilização. II – MEDIDAS DE
À medida que os recursos o permitirem, os jovens do Serviço IMPLEMENTAÇÃO Contexto
Civil serão estimulados a servir em região do País diferente daque- A segunda parte da Estratégia Nacional de Defesa comple-
las de onde são originários. menta a formulação sistemática contida na primeira.
Até que se criem as condições para instituir plenamente o São três seus propósitos. O primeiro é contextualizá-la, enu-
Serviço Civil, as Forças Armadas tratarão, por meio de trabalho merando circunstâncias que ajudam a precisar-lhe os objetivos e a
conjunto com os prefeitos municipais, de restabelecer a tradição explicar-lhe os métodos. O segundo é aplicar a Estratégia a um
dos Tiros de Guerra. Em princípio, todas as prefeituras do País espectro, amplo e representativo, de problemas atuais enfrentados
deverão estar aptas para participar dessa renovação dos Tiros de pelas Forças Armadas e, com isso, tornar mais claras sua doutrina
Guerra, derrubadas as restrições legais que ainda restringem o rol e suas exigências. O terceiro é enumerar medidas de transição que
dos municípios qualificados. indiquem o caminho que levará o Brasil, de onde está para onde
5.Os Serviços Militar e Civil evoluirão em conjunto com as deve ir, na organização de sua defesa.
providências para assegurar a mobilização nacional em caso de ne- Podem ser considerados como principais aspectos positivos
cessidade, de acordo com a Lei de Mobilização Nacional. O Brasil do atual quadro da defesa nacional:
entenderá, em todo o momento, que sua defesa depende do poten-cial - Forças Armadas identificadas com a sociedade brasileira,
de mobilizar recursos humanos e materiais em grande escala, muito com altos índices de confiabilidade;
além do efetivo das suas Forças Armadas em tempo de paz. Jamais
- adaptabilidade do brasileiro às situações novas e inusitadas,
tratará a evolução tecnológica como alternativa à mobi-lização
criando situação propícia a uma cultura militar pautada pelo con-
nacional; aquela será entendida como instrumento desta.
ceito da flexibilidade; e
Ao assegurar a flexibilidade de suas Forças Armadas, assegurará
também a elasticidade delas. - excelência do ensino nas Forças Armadas, no que diz respei-
6.É importante para a defesa nacional que o oficialato seja to à metodologia e à atualização em relação às modernas táticas e
representativo de todos os setores da sociedade brasileira. É bom estratégias de emprego de meios militares, incluindo o uso de
que os filhos de trabalhadores ingressem nas academias militares. concepções próprias, adequadas aos ambientes operacionais de
Entretanto, a ampla representação de todas as classes sociais nas provável emprego.
academias militares é imperativo de segurança nacional. Duas Por outro lado, configuram-se como principais vulnerabilida-
condições são indispensáveis para que se alcance esse objetivo. A des da atual estrutura de defesa do País:
primeira é que a carreira militar seja remunerada com venci-mentos - pouco envolvimento da sociedade brasileira com os
competitivos com outras valorizadas carreiras do Estado. A segunda assuntos de defesa e escassez de especialistas civis nesses temas;
condição é que a Nação abrace a causa da defesa e nela identifique - insuficiência e descontinuidade na alocação de recursos or-
requisito para o engrandecimento do povo brasileiro. çamentários para a defesa;
7.Um interesse estratégico do Estado é a formação de especia- - obsolescência da maioria dos equipamentos das Forças Ar-
listas civis em assuntos de defesa. No intuito de formá-los, o Go-verno madas; elevado grau de dependência em relação a produtos de de-
Federal deve apoiar, nas universidades, um amplo espectro de fesa estrangeiros; e ausência de direção unificada para aquisições
programas e de cursos que versem sobre a defesa. de produtos de defesa;

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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
- inadequada distribuição espacial das Forças Armadas no - otimização dos esforços em Ciência, Tecnologia e Inovação
território nacional, para o atendimento otimizado às necessidades para a Defesa, por intermédio, dentre outras, das seguintes medi-
estratégicas; das:
- falta de articulação com o Governo federal e com a socieda-de (a) maior integração entre as instituições científicas e tecnoló-
do principal Instituto brasileiro de altos estudos estratégicos - a Escola gicas, tanto militares como civis, e a indústria nacional de defesa;
Superior de Guerra - no desenvolvimento e consolidação dos (b) definição de pesquisas de uso dual; e
conhecimentos necessários ao planejamento de defesa e no as- (c) fomento à pesquisa e ao desenvolvimento de produtos de
sessoramento à formulação de políticas e estratégias decorrentes; interesse da defesa;
- insuficiência ou pouca atratividade e divulgação dos cursos - maior integração entre as indústrias estatal e privada de ma-
para a capacitação de civis em assuntos de defesa; e inexistência terial de defesa, com a definição de um modelo de participação na
de carreira civil na área de defesa, mesmo sendo uma função de produção nacional de meios de defesa;
Estado;
- estabelecimento de regime jurídico especial para a indústria
- limitados recursos aplicados em pesquisa científica e tecno-
nacional de material de defesa, que possibilite a continuidade e o
lógica para o desenvolvimento de material de emprego militar e
caráter preferencial nas compras públicas;
produtos de defesa, associados ao incipiente nível de integração
entre os órgãos militares de pesquisa, e entre estes e os institutos - integração e definição centralizada na aquisição de produtos
civis de pesquisa; de defesa de uso comum, compatíveis com as prioridades estabe-
- inexistência de planejamento nacional para desenvolvimento lecidas;
de produtos de elevado conteúdo tecnológico, com participação - condicionamento da compra de produtos de defesa no exte-
coordenada dos centros de pesquisa das universidades, das Forças rior à transferência substancial de tecnologia, inclusive por meio
Armadas e da indústria; de parcerias para pesquisa e fabricação no Brasil de partes desses
- falta de inclusão, nos planos governamentais, de programas produtos ou de sucedâneos a eles;
de aquisição de produtos de defesa em longo prazo, calcados em - articulação das Forças Armadas, compatível com as necessi-
programas plurianuais e em planos de equipamento das Forças dades estratégicas e de adestramento dos Comandos Operacionais,
Armadas, com priorização da indústria nacional de material de tanto singulares quanto conjuntos, capaz de levar em consideração
defesa. Essa omissão ocasiona aquisições de produtos de defesa no as exigências de cada ambiente operacional, em especial o amazô-
exterior, às vezes, calcadas em oportunidades, com desníveis nico e o do Atlântico Sul;
tecnológicos em relação ao “estado da arte” e com a geração de - fomento da atividade aeroespacial, de forma a proporcionar
indesejável dependência externa; ao País o conhecimento tecnológico necessário ao desenvolvimen-
- inexistência de regras claras de prioridade à indústria nacio- to de projeto e fabricação de satélites e de veículos lançadores de
nal, no caso de produtos de defesa fabricados no País; satélites e desenvolvimento de um sistema integrado de monito-
- dualidade de tratamento tributário entre o produto de defesa ramento do espaço aéreo, do território e das águas jurisdicionais
fabricado no País e o adquirido no exterior, com excessiva carga brasileiras;
tributária incidente sobre o material nacional, favorecendo a opção - desenvolvimento das infra-estruturas marítima, terrestre e
pela importação; aeroespacial necessárias para viabilizar as estratégias de defesa;
- deficiências nos programas de financiamento para as empre- - promoção de ações de presença do Estado na região amazô-
sas nacionais fornecedoras de produtos de defesa, prejudicando-as nica, em especial pelo fortalecimento do viés de defesa do Progra-
nos mercados interno e externo; ma Calha Norte;
- falta de garantias para apoiar possíveis contratos de forneci- - estreitamento da cooperação entre os países da América do
mento oriundos da indústria nacional de defesa;
Sul e, por extensão, com os do entorno estratégico brasileiro;
- bloqueios tecnológicos impostos por países desenvolvidos,
- valorização da profissão militar, a fim de estimular o
retardando os projetos estratégicos de concepção brasileira;
recruta-mento de seus quadros em todas as classes sociais;
- cláusula de compensação comercial, industrial e tecnológica
(off-set) inexistente em alguns contratos de importação de produ- - aperfeiçoamento do Serviço Militar Obrigatório, na busca de
tos de defesa, ou mesmo a não-participação efetiva da indústria maior identificação das Forças Armadas com a sociedade brasi-
nacional em programas de compensação; e leira, e estudos para viabilizar a criação de um Serviço Civil, a ser
- sistemas nacionais de logística e de mobilização deficientes. A regulado por normas específicas;
identificação e a análise dos principais aspectos positivos e - expansão da capacidade de combate das Forças Armadas,
das vulnerabilidades permitem vislumbrar as seguintes oportuni- por meio da mobilização de pessoal, material e serviços, para com-
dades a serem exploradas: plementar a logística militar, no caso de o País se ver envolvido
- maior engajamento da sociedade brasileira nos assuntos de em conflito; e
defesa, assim como maior integração entre os diferentes setores dos - otimização do controle sobre atores não-governamentais, es-
três poderes do Estado brasileiro e desses setores com os insti-tutos pecialmente na região amazônica, visando à preservação do patri-
nacionais de estudos estratégicos, públicos ou privados; mônio nacional, mediante ampla coordenação das Forças Armadas
- regularidade e continuidade na alocação dos recursos orça- com os órgãos governamentais brasileiros responsáveis pela auto-
mentários de defesa, para incrementar os investimentos e garantir rização de atuação no País desses atores, sobretudo daqueles com
o custeio das Forças Armadas; vinculação estrangeira.
- aparelhamento das Forças Armadas e capacitação profissio-
nal de seus integrantes, para que disponham de meios militares ap-
tos ao pronto emprego, integrado, com elevada mobilidade tática e
estratégica;

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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
Hipóteses de Emprego (HE) Fundamentos
Entende-se por “Hipótese de Emprego” a antevisão de pos- Os ambientes apontados na Estratégia Nacional de Defesa não
sível emprego das Forças Armadas em determinada situação ou permitem vislumbrar ameaças militares concretas e definidas,
área de interesse estratégico para a defesa nacional. É formulada representadas por forças antagônicas de países potencialmente ini-
considerando-se o alto grau de indeterminação e imprevisibilidade migos ou de outros agentes não-estatais. Devido à incerteza das
de ameaças ao País. Com base nas hipóteses de emprego, serão ameaças ao Estado, o preparo das Forças Armadas deve ser orien-tado
elaborados e mantidos atualizados os planos estratégicos e opera- para atuar no cumprimento de variadas missões, em diferen-tes áreas
cionais pertinentes, visando a possibilitar o contínuo aprestamento e cenários, para respaldar a ação política do Estado.
da Nação como um todo, e em particular das Forças Armadas, para As Hipóteses de Emprego são provenientes da associação das
emprego na defesa do País. principais tendências de evolução das conjunturas nacional e inter-
Emprego Conjunto das Forças Armadas em atendimento às nacional com as orientações político-estratégicas do País.
HE Na elaboração das Hipóteses de Emprego, a Estratégia Militar
A evolução da estrutura das Forças Armadas, do estado de paz de Defesa deverá contemplar o emprego das Forças Armadas con-
para o de conflito armado ou guerra, dar-se-á de acordo com as pe- siderando, dentre outros, os seguintes aspectos:
culiaridades da situação apresentada e de uma maneira sequencial, - o monitoramento e controle do espaço aéreo, das fronteiras
que pode ser assim esquematizada: terrestres, do território e das águas jurisdicionais brasileiras em
(a) Na paz circunstâncias de paz;
As organizações militares serão articuladas para conciliar o - a ameaça de penetração nas fronteiras terrestres ou aborda-
atendimento às Hipóteses de Emprego com a necessidade de oti-mizar gem nas águas jurisdicionais brasileiras;
os seus custos de manutenção e para proporcionar a realiza-ção do - a ameaça de forças militares muito superiores na região
adestramento em ambientes operacionais específicos. ama-zônica;
Serão desenvolvidas atividades permanentes de inteligência, - as providências internas ligadas à defesa nacional decorren-
para acompanhamento da situação e dos atores que possam vir a tes de guerra em outra região do mundo, ultrapassando os limites
representar potenciais ameaças ao Estado e para proporcionar o de uma guerra regional controlada, com emprego efetivo ou poten-
alerta antecipado ante a possibilidade de concretização de tais cial de armamento nuclear;
ameaças. As atividades de inteligência devem obedecer a salva- - a participação do Brasil em operações de paz e
guardas e controles que resguardem os direitos e garantias cons- humanitárias, regidas por organismos internacionais;
titucionais. - a participação em operações internas de Garantia da Lei e da
(b) Na crise Ordem, nos termos da Constituição Federal, e os atendimentos às
O Comandante Supremo das Forças Armadas, consultado o requisições da Justiça Eleitoral;
Conselho de Defesa Nacional, poderá ativar uma estrutura de ge-
- ameaça de conflito armado no Atlântico Sul.
renciamento de crise, com a participação de representantes do Mi-
Estruturação das Forças Armadas
nistério da Defesa e dos Comandos da Marinha, do Exército e da
Para o atendimento eficaz das Hipóteses de Emprego, as For-
Aeronáutica, bem como de representantes de outros Ministérios,
ças Armadas deverão estar organizadas e articuladas de maneira a
se necessários.
facilitar a realização de operações conjuntas e singulares, adequa-
O emprego das Forças Armadas será singular ou conjunto e
das às características peculiares das operações de cada uma das
ocorrerá em consonância com as diretrizes expedidas.
áreas estratégicas.
As atividades de inteligência serão intensificadas.
Medidas políticas inerentes ao gerenciamento de crise conti- O instrumento principal, por meio do qual as Forças desen-
nuarão a ser adotadas, em paralelo com as ações militares. volverão sua flexibilidade tática e estratégica, será o trabalho
Ante a possibilidade de a crise evoluir para conflito armado, coordenado entre as Forças, a fim de tirar proveito da dialética da
poderão ser desencadeadas, entre outras, as seguintes medidas: concentração e desconcentração. Portanto, as Forças, como regra,
- a ativação dos Comandos Operacionais previstos na Estrutu- definirão suas orientações operacionais em conjunto, privilegiando
ra Militar de Defesa; essa visão conjunta como forma de aprofundar suas capacidades e
- a adjudicação de forças pertencentes à estrutura organizacio-nal rejeitarão qualquer tentativa de definir orientação operacional
das três Forças aos Comandos Operacionais ativados; isolada.
- a atualização e implementação, pelo Comando Operacional O agente institucional para esse trabalho unificado será a cola-
ativado, dos planos de campanha elaborados no estado de paz; boração entre os Estados-Maiores das Forças com o Estado-Maior
- o recompletamento das estruturas; Conjunto das Forças Armadas, no estabelecimento e definição das
- a ativação de Zona de Defesa, áreas onde são mobilizáveis linhas de frente de atuação conjunta. Nesse sentido, o sistema edu-
tropas da ativa e reservistas, inclusive os egressos dos Tiros de cacional de cada Força ministrará cursos e realizará projetos de
Guerra, para defesa do interior do país em caso de conflito pesquisa e de formulação em conjunto com os sistemas das demais
armado; e Forças e com a Escola Superior de Guerra.
- a decretação da Mobilização Nacional, se necessária. Da mesma forma, as Forças Armadas deverão ser equipadas,
(c) Durante o conflito armado/guerra articuladas e adestradas, desde os tempos de paz, segundo as di-
O desencadeamento da campanha militar prevista no Plano retrizes do Ministério da Defesa, realizando exercícios singulares
de Campanha elaborado. e conjuntos.
(d) Ao término do conflito armado/guerra Assim, com base na Estratégia Nacional de Defesa e na Es-
A progressiva desmobilização dos recursos não mais neces- tratégia Militar dela decorrente, as Forças Armadas submeterão ao
sários. Ministério da Defesa seus Planos de Equipamento e de

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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
Art.culação, os quais deverão contemplar uma proposta de (b) a manutenção de tropas no centro do País, em particular as
distribuição espacial das instalações militares e de quantificação reservas estratégicas, na situação de prontidão operacional com
dos meios necessários ao atendimento eficaz das Hipóteses de Em- mobilidade, que lhes permitam deslocar-se rapidamente para qual-
prego, de maneira a possibilitar: quer parte do território nacional ou para o exterior;
- poder de combate que propicie credibilidade à estratégia da (c) a manutenção de tropas no centro-sul do País para garantir
dissuasão; a defesa da principal concentração demográfica, industrial e eco-
- que o Sistema de Defesa Nacional disponha de meios que nômica, bem como da infra-estrutura, particularmente a geradora
permitam o aprimoramento da vigilância; o controle do espaço aé- de energia; e
reo, das fronteiras terrestres, do território e das águas jurisdicionais (d) a concentração das reservas regionais em suas respectivas
brasileiras; e da infra-estrutura estratégica nacional; áreas; e
- o aumento da presença militar nas áreas estratégicas do - na Força Aérea, a adequação da localização de suas unidades
Atlântico Sul e da região amazônica; de transporte de tropa de forma a propiciar o rápido atendimento
- o aumento da participação de órgãos governamentais, milita-res de apoio de transporte a forças estratégicas de emprego. Isso pres-
e civis, no plano de vivificação e desenvolvimento da faixa de fronteira supõe que se baseiem próximo às reservas estratégicas do Exército
amazônica, empregando a estratégia da presença; no centro do País. Além disso, suas unidades de defesa aérea e de
- a adoção de uma articulação que atenda aos aspectos ligados controle do espaço aéreo serão distribuídas de forma a possibilitar
à concentração dos meios, à eficiência operacional, à rapidez no um efetivo atendimento às necessidades correntes com velocidade
emprego e à otimização do custeio em tempo de paz; e e presteza.
- a existência de forças estratégicas de elevada mobilidade e A partir da consolidação dos Planos de Equipamento e de
flexibilidade, dotadas de material tecnologicamente avançado e em Art.culação elaborados pelas Forças, o Ministério da Defesa
condições de emprego imediato, articuladas de maneira à me-lhor proporá ao Presidente da República o Projeto de Lei de Equipa-
atender às Hipóteses de Emprego. mento e de
Os Planos das Forças singulares, consolidados no Ministé-rio Art.culação da Defesa Nacional, envolvendo a sociedade bra-
da Defesa, deverão referenciar-se a metas de curto prazo (até sileira na busca das soluções necessárias.
2014), de médio prazo (entre 2015 e 2022) e de longo prazo (entre As características especiais do ambiente amazônico, com re-
2027 e 2030). flexos na doutrina de emprego das Forças Armadas, deverão de-
Em relação ao equipamento, o planejamento deverá priorizar, mandar tratamento especial, devendo ser incrementadas as ações
com compensação comercial, industrial e tecnológica: de fortalecimento da estratégia da presença naquele ambiente ope-
- no âmbito das três Forças, sob a condução do Ministério da racional.
Defesa, a aquisição de helicópteros de transporte e de reconheci- Em face da indefinição das ameaças, as Forças Armadas deve-
mento e ataque; rão se dedicar à obtenção de capacidades orientadoras das medidas
- na Marinha, o projeto e fabricação de submarinos conven- a serem planejadas e adotadas.
cionais que permitam a evolução para o projeto e fabricação, no No tempo de paz ou enquanto os recursos forem insuficientes,
País, de submarinos de propulsão nuclear, de meios de superfície algumas capacidades serão mantidas temporariamente por meio de
e aéreos priorizados nesta Estratégia; núcleos de expansão, constituídos por estruturas flexíveis e capa-
- no Exército, os meios necessários ao completamento dos zes de evoluir rapidamente, de modo a obter adequado poder de
sistemas operacionais das brigadas; o aumento da mobilidade táti-ca e combate nas operações.
estratégica da Força Terrestre, sobretudo das Forças de Ação As seguintes capacidades são desejadas para as Forças Arma-
Rápida Estratégicas e das forças estacionadas na região amazôni-ca; das:
os denominados “Núcleos de Modernidade”; a nova família de - permanente prontidão operacional para atender às
blindados sobre rodas; os sistemas de mísseis e radares antiaéreos Hipóteses de Emprego, integrando forças conjuntas ou não;
(defesa antiaérea); a produção de munições e o armamento e o - manutenção de unidades aptas a compor Forças de Pronto
equipamento individual do combatente, entre outros, aproximando -os Emprego, em condições de atuar em diferentes ambientes opera-
das tecnologias necessárias ao combatente do futuro; e cionais;
- na Força Aérea, a aquisição de aeronaves de caça que subs- - projeção de poder nas áreas de interesse estratégico;
tituam, paulatinamente, as hoje existentes, buscando a possível - estruturas de Comando e Controle, e de Inteligência conso-
padronização; a aquisição e o desenvolvimento de armamentos e lidadas;
sensores, objetivando a auto-suficiência na integração destes às ae- - permanência na ação, sustentada por um adequado apoio
ronaves; e a aquisição de aeronaves de transporte de tropa. logístico, buscando ao máximo a integração da logística das três
Em relação à distribuição espacial das Forças no território Forças;
nacional, o planejamento consolidado no Ministério da Defesa, - aumento do poder de combate, em curto prazo, pela
deverá priorizar: incorpo-ração de recursos mobilizáveis, previstos em lei; e
- na Marinha, a necessidade de constituição de uma Esquadra - interoperabilidade nas operações conjuntas.
no norte/nordeste do País; Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I)
- no Exército, a distribuição que atenda às seguintes condi- A Política de Ciência, Tecnologia e Inovação para a Defesa
cionantes: Nacional tem como propósito estimular o desenvolvimento cientí-fico
(a) um flexível dispositivo de expectativa, em face da indefi- e tecnológico e a inovação de interesse para a defesa nacional.
nição de ameaças, que facilite o emprego progressivo das tropas e
a presença seletiva em uma escalada de crise;

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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
Isso ocorrerá por meio de um planejamento nacional para As medidas descritas têm respaldo na parceria entre o Minis-tério
desenvolvimento de produtos de alto conteúdo tecnológico, com da Defesa e o Ministério da Ciência e Tecnologia, que remon-ta à
envolvimento coordenado das instituições científicas e tecnológi- “Concepção para CT&I de Interesse da Defesa” – documento
cas (ICT) civis e militares, da indústria e da universidade, com a elaborado conjuntamente em 2003 e revisado em 2008. Foi forta-
definição de áreas prioritárias e suas respectivas tecnologias de lecida com o lançamento do Plano de Ação de Ciência, Tecnologia e
interesse e a criação de instrumentos de fomento à pesquisa de ma- Inovação (PACTI/MCT - Portaria Interministerial MCT/MD nº 750,
teriais, equipamentos e sistemas de emprego de defesa ou dual, de de 20.11.2007), cuja finalidade é viabilizar soluções científi-co-
forma a viabilizar uma vanguarda tecnológica e operacional pau- tecnológicas e inovações para o atendimento das necessidades do País
tada na mobilidade estratégica, na flexibilidade e na capacidade de atinentes à defesa e ao desenvolvimento nacional.
dissuadir ou de surpreender. Indústria de Material de Defesa
Para atender ao propósito dessa política, deverá ser conside- A relação entre Ciência, Tecnologia e Inovação na área de
rada, ainda, a “Concepção Estratégica para CT&I de Interesse da defesa fortalece-se com a Política de Desenvolvimento Produti-vo
Defesa”, documento elaborado em 2003, em conjunto pelo Mi- (PDP), lançada em maio de 2008. Sob a coordenação geral do
nistério da Defesa e pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, e Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a
revisado em 2008. PDP contempla 32 áreas. O programa estruturante do Complexo
O Ministério da Defesa, em coordenação com o Ministério da Industrial de Defesa está sob a gestão do Ministério da Defesa e
Ciência e Tecnologia, atualizará a Política de Ciência, Tecnolo-gia sob a coordenação do Ministério da Ciência e Tecnologia.
e Inovação para a Defesa Nacional e os instrumentos normati-vos Tal programa tem por objetivo “recuperar e incentivar o cres-
decorrentes. Para atender aos objetivos dessa Política, deverá cimento da base industrial instalada, ampliando o fornecimento
ocorrer a adequação das estruturas organizacionais existentes e que para as Forças Armadas brasileiras e exportações”. Estabelece
atuam na área de Ciência e Tecnologia da Defesa. Os citados quatro desafios para a consecução do objetivo:
documentos contemplarão: - aumentar os investimentos em Pesquisa, Desenvolvimento
- medidas para a maximização e a otimização dos esforços de e Inovação;
pesquisa nas instituições científicas e tecnológicas civis e milita- - promover isonomia tributária em relação a produtos/mate-
res, para o desenvolvimento de tecnologias de ponta para o sistema riais importados;
de defesa, com a definição de esforços integrados de pesquisadores - expandir a participação nos mercados interno e externo; e
das três Forças, especialmente para áreas prioritárias e suas respec- - fortalecer a cadeia de fornecedores no Brasil.
tivas tecnologias de interesse; A PDP sugere, ainda, um conjunto de ações destinadas à
- um plano nacional de pesquisa e desenvolvimento de pro- supe-ração dos desafios identificados:
dutos de defesa, tendo como escopo prioritário a busca do domínio - ampliação das compras nacionais;
de tecnologias consideradas estratégicas e medidas para o finan- - expansão e adequação do financiamento;
ciamento de pesquisas; - promoção das vendas e capacitação de empresas brasileiras;
- a integração dos esforços dos centros de pesquisa militares, e
com a definição das prioridades de pesquisa de material de empre- - fortalecimento da base de P, D&I.
go comum para cada centro, e a participação de pesquisadores das Com base em tais objetivos, desafios e ações, a PDP visa ao
três Forças em projetos prioritários; e fortalecimento da associação entre desenvolvimento da Ciência e
- o estabelecimento de parcerias estratégicas com países que da Tecnologia e desenvolvimento da produção. Busca aproveitar o
possam contribuir para o desenvolvimento de tecnologias de ponta potencial de tecnologias empregadas no País e transformá-las em
de interesse para a defesa. bens finais, estimulando a indústria nacional.
Projetos de interesse comum a mais de uma Força deverão ter Os projetos a serem apoiados serão selecionados e avaliados
seus esforços de pesquisa integrados, definindo-se, no plano espe- de acordo com as ações estratégicas a seguir descritas e com ca-
cificado, para cada um deles, um pólo integrador. racterísticas que considerem o potencial da demanda pública, a
No que respeita à utilização do espaço exterior como meio de possibilidade de uso comum pelas Forças, o uso dual – militar e
suporte às atividades de defesa, os satélites geoestacionários para civil – das tecnologias, subprodutos tecnológicos de emprego ci-
comunicações, controle de tráfego aéreo e meteorologia desem- vil, o índice de nacionalização, o potencial exportador, a presença
penharão papel fundamental na viabilização de diversas funções de matéria-prima crítica dependente de importação e o potencial
em sistemas de comando e controle. As capacidades de alerta, vi- de embargo internacional.
gilância, monitoramento e reconhecimento poderão, também, ser O Ministério da Defesa, em coordenação com o Ministério de
aperfeiçoadas por meio do uso de sensores ópticos e de radar, a Ciência e Tecnologia e com o Ministério do Desenvolvimento,
bordo de satélites ou de veículos aéreos não-tripulados (VANT). Indústria e Comércio Exterior, realizará a análise das característi-
Serão consideradas, nesse contexto, as plataformas e missões cas referidas, selecionando de forma articulada projetos e produtos
espaciais em desenvolvimento, para fins civis, tais como satélites que unam as necessidades das atividades de defesa com as poten-
de monitoramento ambiental e científicos, ou satélites geoestacio- cialidades tecnológicas e produtivas existentes no Brasil.
nários de comunicações e meteorologia, no âmbito do Programa Para atendimento aos novos desafios da indústria de material
Nacional de Atividades Espaciais - PNAE. de defesa do País, impõe-se a atualização da Política Nacional da
Em qualquer situação, a concepção, o projeto e a operação dos Indústria de Material de Defesa.
sistemas espaciais devem observar a legislação internacional, os
tratados, bilaterais e multilaterais, ratificados pelo País, bem como
os regimes internacionais dos quais o Brasil é signatário.

18
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
Inteligência de Defesa - um satélite geoestacionário nacional para meteorologia e co-
A exatidão é o princípio fundamental da Inteligência Militar. municações seguras, entre outras aplicações; e
Por meio da Inteligência, busca-se que todos os planejamentos - satélites de sensoriamento remoto para monitoramento am-
– políticos, estratégicos, operacionais e táticos – e sua execução biental, com sensores ópticos e radar de abertura sintética.
desenvolvam-se com base em fatos que se transformam em co- 4.O Ministério da Defesa e o Ministério da Ciência e Tec-nologia,
nhecimentos confiáveis e oportunos. As informações precisas são por intermédio do Instituto de Aeronáutica e Espaço do Comando da
condição essencial para o emprego adequado dos meios militares. Aeronáutica e da Agência Espacial Brasileira, pro-moverão medidas
A Inteligência deve ser desenvolvida desde o tempo de paz, com vistas a garantir a autonomia de produção, lançamento, operação
pois é ela que possibilita superar as incertezas. É da sua vertente e reposição de sistemas espaciais, por meio:
prospectiva que procedem os melhores resultados, permitindo o - do desenvolvimento de veículos lançadores de satélites e
delineamento dos cursos de ação possíveis e os seus desdobramen- sistemas de solo para garantir acesso ao espaço em órbitas baixa e
tos. A identificação das ameaças é o primeiro resultado da ativida- geoestacionária;
de da Inteligência Militar. - de atividades de fomento e apoio ao desenvolvimento de ca-
Ações Estratégicas pacidade industrial no setor espacial, com a participação do Minis-
Enunciam-se a seguir as ações estratégicas que irão orientar a tério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, de modo
implementação da Estratégia Nacional de Defesa: a garantir o fornecimento e a reposição tempestiva de componen-
Ciência e Tecnologia tes, subsistemas e sistemas espaciais; e
Fomentar a pesquisa de materiais, equipamentos e sistemas - de atividades de capacitação de pessoal nas áreas de concep-
militares e civis que compatibilize as prioridades científico-tecno- ção, projeto, desenvolvimento e operação de sistemas espaciais.
lógicas com as necessidades de defesa. Recursos Humanos
1.O Ministério da Defesa proporá, em coordenação com os Promover a valorização da profissão militar de forma compa-
Ministérios das Relações Exteriores, da Fazenda, do Desenvolvi- tível com seu papel na sociedade brasileira, assim como fomentar
mento, Indústria e Comércio Exterior, do Planejamento, Orçamen-to e o recrutamento, a seleção, o desenvolvimento e a permanência de
Gestão, da Ciência e Tecnologia e com a Secretaria de Assun-tos quadros civis, para contribuir com o esforço de defesa.
Estratégicos da Presidência da República, o estabelecimento de 1.O recrutamento dos quadros profissionais das Forças Arma-das
parcerias estratégicas com países que possam contribuir para o de- deverá ser representativo de todas as classes sociais. A carreira militar
senvolvimento de tecnologias de ponta de interesse para a defesa. será valorizada pela criação de atrativos compatíveis com as
2.O Ministério da Defesa, em coordenação com os Ministérios da características peculiares da profissão. Nesse sentido, o Minis-tério da
Fazenda, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, do Defesa, assessorado pelos Comandos das três Forças, pro-porá as
Planejamento, Orçamento e Gestão, e da Ciência e Tecnologia e com medidas necessárias à valorização pretendida.
as Forças Armadas, deverá estabelecer ato legal que garanta a 2.O recrutamento do pessoal temporário das Forças Armadas
alocação, de forma continuada, de recursos financeiros específi-cos deve representar a sociedade brasileira, assim como possibilitar a
que viabilizem o desenvolvimento integrado e a conclusão de projetos oferta de mão-de-obra adequada aos novos meios tecnológicos da
relacionados à defesa nacional, cada um deles com um pólo integrador defesa nacional. Nesse sentido, o Ministério da Defesa, assessora-
definido, com ênfase para o desenvolvimento e a fabricação, dentre do pelos Comandos das três Forças, proporá as mudanças necessá-
outros, de: rias no Serviço Militar Obrigatório.
- aeronaves de caça e de transporte; 3.O Ministério da Defesa e a Secretaria de Assuntos Estraté-
- submarinos convencionais e de propulsão nuclear; gicos da Presidência da República proporão a criação e a regula-
- meios navais de superfície; mentação de um Serviço Civil, em todo o território nacional, a ser
- armamentos inteligentes, como mísseis, bombas e torpedos, prestado por cidadãos que não forem designados para a realização
dentre outros; do Serviço Militar Obrigatório.
- veículos aéreos não-tripulados; 4.O Ministério da Defesa realizará estudos sobre a criação de
- sistemas de comando e controle e de segurança das infor- quadro de especialistas civis em Defesa, em complementação às
mações; carreiras existentes na administração civil e militar, de forma a
- radares; constituir-se numa força de trabalho capaz de atuar na gestão de
- equipamentos e plataformas de guerra eletrônica; políticas públicas de defesa, em programas e projetos da área de
- equipamento individual e sistemas de comunicação do defesa, bem como na interação com órgãos governamentais e a
com-batente do futuro; sociedade, integrando os pontos de vista político e técnico.
- veículos blindados; Ensino
- helicópteros de transporte de tropa, para o aumento da Promover maior integração e participação dos setores civis
mobi-lidade tática, e helicópteros de reconhecimento e ataque; governamentais na discussão dos temas ligados à defesa, assim
- munições; e como a participação efetiva da sociedade brasileira, por intermédio
- sensores óticos e eletro-óticos. do meio acadêmico e de institutos e entidades ligados aos assuntos
3.O Ministério da Ciência e Tecnologia, por intermédio da estratégicos de defesa.
Agência Espacial Brasileira, promoverá a atualização do Progra- 1.O Ministério da Defesa deverá apresentar planejamento para
ma Espacial Brasileiro, de forma a priorizar o desenvolvimento de a transferência da Escola Superior de Guerra para Brasília, de
sistemas espaciais necessários à ampliação da capacidade de modo a intensificar o intercâmbio fluido entre os membros do
comunicações, meteorologia e monitoramento ambiental, com Governo Federal e aquela Instituição, assim como para otimizar a
destaque para o desenvolvimento de: formação de recursos humanos ligados aos assuntos de defesa.

19
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
2. O Ministério da Defesa e o Ministério do Planejamento, 2.O Ministério da Defesa proporá a criação de estrutura, a si
Orçamento e Gestão proporão projeto de lei, alterando a Lei de subordinada, encarregada da coordenação dos processos de certi-
Criação da Escola Superior de Guerra. O projeto de lei visará criar ficação, de metrologia, de normatização e de fomento industrial.
cargos de direção e assessoria superior destinados à constituição de Indústria de Material de Defesa
um corpo permanente que, podendo ser renovado, permita o exercício Compatibilizar os esforços governamentais de aceleração do
das atividades acadêmicas, pela atração de pessoas com notória crescimento com as necessidades da Defesa Nacional.
especialização ou reconhecido saber em áreas específicas. 1.O Ministério da Defesa, ouvidos os Ministérios da Fazenda,
Isso possibilitará incrementar a capacidade institucional da Esco- do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, do Planeja-
la de desenvolver atividades acadêmicas e administrativas, bem mento, Orçamento e Gestão e da Ciência e Tecnologia e a Secreta-
como intensificar o intercâmbio entre os membros do Governo Fe- ria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, deverá
deral, a sociedade organizada e aquela instituição. propor modificações na legislação referente ao regime jurídico e
3.O Ministério da Defesa e a Secretaria de Assuntos Estra- econômico especial para compras de produtos de defesa junto às
tégicos da Presidência da República estimularão a realização de empresas nacionais, com propostas de modificação da Lei nº
Encontros, Simpósios e Seminários destinados à discussão de as- 8.666, de junho de 1993.
suntos estratégicos, aí incluída a temática da Defesa Nacional. A
2.O Ministério da Defesa, em articulação com os Ministérios
participação da sociedade nesses eventos deve ser objeto de aten-
ção especial. da Fazenda, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
4.O Ministério da Defesa intensificará a divulgação das ativi- dos Transportes, do Planejamento, Orçamento e Gestão e da Ciên-
dades de defesa, de modo a aumentar sua visibilidade junto à so- cia e Tecnologia e com a Secretaria de Assuntos Estratégicos da
ciedade, e implementará ações e programas voltados à promoção e Presidência da República, deverá propor modificações na legisla-
disseminação de pesquisas e à formação de recursos humanos ção referente à tributação incidente sobre a indústria nacional de
qualificados na área, a exemplo do Programa de Apoio ao Ensino material de defesa, por meio da criação de regime jurídico especial
e à Pesquisa Científica e Tecnológica em Defesa Nacional (Pró- que viabilize incentivos e desoneração tributária à iniciativa pri-
Defesa). vada na fabricação de produto de defesa prioritário para as Forças
5. O Ministério da Defesa elaborará uma Política de Ensino Armadas e para a exportação.
com as seguintes finalidades: 3.O Ministério da Defesa, em articulação com os Ministérios da
- acelerar o processo de interação do ensino militar, em parti- Fazenda, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, dos
cular no nível de Altos Estudos, atendendo às orientações contidas Transportes, do Planejamento, Orçamento e Gestão e da Ciên-cia e
na primeira parte da presente Estratégia e Tecnologia, e a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Pre-sidência da
- capacitar civis e militares para a própria Administração Cen- República, deverá propor modificações na legislação referente à linha
tral do Ministério e para outros setores do Governo, de interesse da de crédito especial, por intermédio do Banco Na-cional de
Defesa. Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para os produtos de
6.As instituições de ensino das três Forças ampliarão nos seus defesa, similar às já concedidas para outras atividades.
currículos de formação militar disciplinas relativas a noções de 4.O Ministério da Defesa, em articulação com os Ministérios
Direito Constitucional e de Direitos Humanos, indispensáveis para da Fazenda, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
consolidar a identificação das Forças Armadas com o povo brasi- dos Transportes, do Planejamento, Orçamento e Gestão e da Ciên-
leiro. cia e Tecnologia e com a Secretaria de Assuntos Estratégicos da
Mobilização Presidência da República, deverá propor modificações na legisla-
Realizar, integrar e coordenar as ações de planejamento, pre- ção referente à viabilização, por parte do Ministério da Fazenda,
paro, execução e controle das atividades de Mobilização e Desmo- de procedimentos de garantias para contratos de exportação de
bilização Nacionais previstas no Sistema Nacional de Mobilização produto de defesa de grande vulto, em consonância com o Decreto
(SINAMOB).
Lei nº 1.418, de 03 de setembro de 1975, e com a Lei de Respon-
1.O Ministério da Defesa, enquanto não for aprovada altera-
sabilidade Fiscal.
ção na legislação do Sistema Nacional de Mobilização, orientará e
coordenará os demais ministérios, secretarias e órgãos envolvidos Comando e Controle
no SINAMOB no estabelecimento de programas, normas e proce- Consolidar o sistema de comando e controle para a Defesa
dimentos relativos à complementação da Logística Nacional e na Nacional.
adequação das políticas governamentais à política de Mobilização O Ministério da Defesa aperfeiçoará o Sistema de Comando e
Nacional. Controle de Defesa, para contemplar o uso de satélite de teleco-
2.O Ministério da Defesa, em coordenação com a Secretaria municações próprio.
de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, proporá O sistema integrado de Comando e Controle de Defesa deverá
modificações na Lei nº 11.631, de 27 de dezembro de 2007, no que ser capaz de disponibilizar, em função de seus sensores de monito-
concerne à definição do órgão central do SINAMOB. ramento e controle do espaço terrestre, marítimo e aéreo brasileiro,
Logística dados de interesse do Sistema Nacional de Segurança Pública, em
Acelerar o processo de integração entre as três Forças, espe- função de suas atribuições constitucionais específicas. De forma
cialmente nos campos da tecnologia industrial básica, da logística recíproca, o Sistema Nacional de Segurança Pública deverá dis-
e mobilização, do comando e controle e das operações conjuntas. ponibilizar ao sistema de defesa nacional dados de interesse do
1.O Ministério da Defesa proporá a modificação de sua es- controle das fronteiras, exercido também pelas Forças Armadas,
trutura regimental, de forma a criar órgão a si subordinado encar- em especial no que diz respeito às atividades ligadas aos crimes
regado de formular e dirigir a política de compras de produtos de transnacionais fronteiriços.
defesa.

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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
Adestramento 3.O Ministério da Defesa apresentará ao Ministério dos Trans-
Atualizar o planejamento operacional e adestrar EM Con- portes, em data coordenada com este, programação de investi-
juntos. mentos de médio e longo prazo, bem como a ordenação de suas
O Ministério da Defesa definirá núcleos de Estados-Maiores prioridades ligadas às necessidades de vias de transporte para o
Conjuntos, coordenados pelo Estado-Maior Conjunto das Forças atendimento aos planejamentos estratégicos decorrentes das Hi-
Armadas, a serem ativados, desde o tempo de paz, dentro da es- póteses de Emprego. O Ministério dos Transportes, por sua vez,
trutura organizacional das Forças Armadas, para que possibilitem promoverá a inclusão das citadas prioridades no Plano Nacional de
a continuidade e a atualização do planejamento e do adestramento Logística e Transportes (PNLT).
operacionais que atendam o ao estabelecido nos planos estratégi- 4.O Ministério dos Transportes, em coordenação com o Mi-
cos. nistério da Defesa, fará instalar, no Centro de Operações do Co-
Inteligência de Defesa mandante Supremo (COCS), terminal da Base de Dados Georrefe-
Aperfeiçoar o Sistema de Inteligência de Defesa. renciados em Transporte que possibilite a utilização das informa-
O Sistema deverá receber recursos necessários à formulação ções ligadas à infra-estrutura de transportes, disponibilizadas por
de diagnóstico conjuntural dos cenários vigentes em prospectiva aquele sistema, no planejamento e na gestão estratégica de crises e
político-estratégica, nos campos nacional e internacional. conflitos.
O recursos humanos serão capacitados em análise e técnicas 5.O Ministério da Defesa e o Ministério da Integração Na-
nos campos científico, tecnológico, cibernético, espacial e nuclear, cional desenvolverão estudos conjuntos com vistas à compati-
com ênfase para o monitoramento/controle, à mobilidade estraté- bilização dos Programas Calha Norte e de Promoção do Desen-
gica e à capacidade logística. volvimento da Faixa de Fronteira (PDFF) e ao levantamento da
Criar-se-á, no Ministério da Defesa, uma estrutura compatí- viabilidade de estruturação de Arranjos Produtivos Locais (APL),
vel com as necessidades de integração dos órgãos de inteligência com ações de infra-estrutura econômica e social, para atendimen-
militar. to a eventuais necessidades de vivificação e desenvolvimento da
Doutrina fronteira, identificadas nos planejamentos estratégicos decorrentes
Promover o aperfeiçoamento da Doutrina de Operações Con- das Hipóteses de Emprego.
juntas. 6.O Ministério das Comunicações, no contexto do Programa
O Ministério da Defesa promoverá estudos relativos ao aper- Governo Eletrônico Serviço de Atendimento ao Cidadão (GE-
feiçoamento da Doutrina de Operações Conjuntas, considerando, SAC), deverá prever a instalação de telecentros comunitários com
principalmente, o ambiente operacional e o aprimoramento dos conexão em banda larga nas sedes das instalações militares de
meios de defesa, a experiência e os ensinamentos adquiridos com fronteira existentes e a serem implantadas em decorrência do pre-
a realização de operações conjuntas e as orientações da Estraté-gia visto no Decreto nº 4.412, de 7 de outubro de 2002, alterado pelo
Nacional de Defesa, no que concerne às atribuições do Estado - Decreto nº 6.513, de 22 de julho de 2008.
Maior Conjunto das Forças Armadas e dos Estados-Maiores das 7.O Ministério da Defesa, com o apoio das Forças Armadas
três Forças. no que for julgado pertinente, e o Ministério das Comunicações
Operações de Paz promoverão estudos com vistas à coordenação de ações de incen-
Promover o incremento do adestramento e da participação tivo à habilitação de rádios comunitárias nos municípios das áreas
das Forças Armadas em operações de paz, integrando Força de Paz de fronteira, de forma a atenuar, com isto, os efeitos de emissões
da ONU ou de organismos multilaterais da região. indesejáveis.
1.O Brasil deverá ampliar a participação em operações de paz, Garantia da Lei e da Ordem
sob a égide da ONU ou de organismos multilaterais da região, de Compatibilizar a legislação e adestrar meios específicos das
acordo com os interesses nacionais expressos em compromissos Forças Armadas para o emprego episódico na Garantia da Lei e da
internacionais. Ordem nos termos da Constituição Federal.
2.O Ministério da Defesa promoverá ações com vistas ao in- 1.O Ministério da Defesa proporá alterações na Lei Comple-
cremento das atividades de um Centro de Instrução de Operações mentar nº 97, de 09 de junho de 1999, alterada pela Lei Comple-mentar
de Paz, de maneira a estimular o adestramento de civis e militares nº 117, de 02 de setembro de 2004; e na Lei nº 9.299, de 07 de agosto
ou de contingentes de Segurança Pública, assim como de convida- de 1996, que viabilizem o emprego das Forças Armadas na Garantia
dos de outras nações amigas. Para tal, prover-lhe-á o apoio neces- da Lei e da Ordem, nos termos da Constituição Fede-ral, com eficácia
sário a torná-lo referência regional no adestramento conjunto para e resguardo de seus integrantes.
operações de paz e de desminagem humanitária. 2.O adestramento das Forças deverá prever a capacitação de
Infra-Estrutura tropa para o cumprimento das missões de Garantia da Lei e da
Compatibilizar os atuais esforços governamentais de acele- Ordem, nos termos da Constituição Federal.
ração do crescimento com as necessidades da Defesa Nacional. Estabilidade Regional
1.O Ministério da Defesa, em coordenação com a Secretaria Contribuir para a manutenção da estabilidade regional.
de Assuntos Estratégicos da Presidência da República proporá aos 1.O Ministério da Defesa e o Ministério das Relações Exterio-
ministérios competentes as iniciativas necessárias ao desenvolvi- res promoverão o incremento das atividades destinadas à manuten-
mento da infra-estrutura de energia, transporte e comunicações de ção da estabilidade regional e à cooperação nas áreas de fronteira
interesse da defesa, de acordo com os planejamentos estratégicos do País.
de emprego das Forças. 2.O Ministério da Defesa e as Forças Armadas intensificarão as
2.O Ministério da Defesa priorizará, na elaboração do Plano de parcerias estratégicas nas áreas cibernética, espacial e nuclear e o
Desenvolvimento de Aeródromos de Interesse Militar (PDAIM), intercâmbio militar com as Forças Armadas das nações amigas,
os aeródromos de desdobramento previstos nos planejamentos re- neste caso particularmente com as do entorno estratégico brasilei-
lativos à defesa da região amazônica. ro e as da Comunidade de Países de Língua Portuguesa.

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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
3.O Ministério da Defesa, o Ministério das Relações Exteriores e as Forças Armadas buscarão contribuir ativamente para o fortaleci-
mento, a expansão e a consolidação da integração regional, com ênfase na pesquisa e desenvolvimento de projetos comuns de produtos de
defesa.
Inserção Internacional
Incrementar o apoio à participação brasileira nas atividades antárticas.
1.O Ministério da Defesa, demais ministérios envolvidos e as Forças Armadas deverão incrementar o apoio necessário à participação
brasileira nos processos de decisão sobre o destino da Região Antártica.
Segurança Nacional
Contribuir para o incremento do nível de Segurança Nacional.
Todas as instâncias do Estado deverão contribuir para o incremento do nível de Segurança Nacional, com particular ênfase sobre:
- o aperfeiçoamento de processos para o gerenciamento de crises;
- a integração de todos os órgãos do Sistema de Inteligência Nacional (SISBIN);
- a prevenção de atos terroristas e de atentados massivos aos Direitos Humanos, bem como a condução de operações contra-terrorismo, a
cargo dos Ministérios da Defesa e da Justiça e do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI-PR);
- as medidas para a segurança das áreas de infra-estruturas críticas, incluindo serviços, em especial no que se refere à energia, transporte,
água e telecomunicações, a cargo dos Ministérios da Defesa, das Minas e Energia, dos Transportes, da Integração Nacional e das Comunica-
ções, e ao trabalho de coordenação, avaliação, monitoramento e redução de riscos, desempenhado pelo Gabinete de Segurança Institucional
da Presidência da República (GSI/PR);
- as medidas de defesa química, bacteriológica e nuclear, a cargo da Casa Civil da Presidência da República, dos Ministérios da Defesa,
da Saúde, da Integração Nacional, das Minas e Energia e da Ciência e Tecnologia, e do GSI-PR, para as ações de proteção à população e às
instalações em território nacional, decorrentes de possíveis efeitos do emprego de armas dessa natureza;
- as ações de defesa civil, a cargo do Ministério da Integração Nacional;
- as ações de segurança pública, a cargo do Ministério da Justiça e dos órgãos de segurança pública estaduais;
- o aperfeiçoamento dos dispositivos e procedimentos de segurança que reduzam a vulnerabilidade dos sistemas relacionados à Defesa
Nacional contra ataques cibernéticos e, se for o caso, que permitam seu pronto restabelecimento, a cargo da Casa Civil da Presidência da
República, dos Ministérios da Defesa, das Comunicações e da Ciência e Tecnologia, e do GSI-PR;
- a execução de estudos para viabilizar a instalação de um centro de pesquisa de doenças tropicais para a região amazônica, a cargo dos
Ministérios da Defesa, da Ciência e Tecnologia, da Saúde e órgãos de saúde estaduais e municipais;
- medidas de defesa contra pandemias; e
- o atendimento aos compromissos internacionais relativos à salvaguarda da vida humana no mar e ao tráfego aéreo internacional, a
cargo do Ministério da Defesa, por intermédio dos Comandos da Marinha e da Aeronáutica, respectivamente, e do Ministério das Relações
Exteriores;
Disposições Finais
Os documentos complementares e decorrentes da presente Estratégia Nacional de Defesa, cujas necessidades de elaboração ou atuali-
zação atendem às exigências desta Estratégia, deverão ser confeccionados conforme o quadro a seguir:

PRAZO TAREFA A REALIZAR RESPONSÁVEL


Planos Estratégicos que servirão de base para os Planos de
31/12/2010 MD
Campanha dos Comandos Conjuntos, para cada HE
Planos de Equipamento e
30/06/2009 MD e Forças Armadas
Art.culação das Forças Armadas (2009-2030)
Proposta de Projeto de Lei de Equipamento e
30/09/2009 Art.culação da Defesa Nacional a ser submetida ao CC e MD
Presidente da República
Atualização da Política de Ciência, Tecnologia e Inovação
31/03/2009 para a Defesa Nacional e instrumentos normativos MD e MCT
decorrentes.
MD, MF, MDIC,
31/03/2009 Atualização da Política Nacional da Indústria de Defesa MPOG MCT e SAE
Proposta de estabelecimento de parcerias estratégicas com
31/03/2009 países que possam contribuir para o desenvolvimento de MD, MRE e SAE
tecnologia de ponta de interesse para a defesa

Proposta de estabelecimento de ato legal que garanta a


alocação, de forma continuada, de recursos financeiros CC, MF, MD, MPOG
31/03/2009 específicos, para viabilizar o desenvolvimento integrado e SAE
e a conclusão de projetos relacionados à defesa nacional.

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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
PRAZO TAREFA A REALIZAR RESPONSÁVEL
Proposta de dispositivos necessários a viabilizar
investimentos nas Forças Armadas a partir de receitas
30/06/2009 eventualmente geradas pelos bens imóveis da União, CC, MD, MF e MPOG
administrados pelas Forças.
Proposta de uma legislação específica que possibilite a
30/06/2009 aplicação, nas Forças Armadas, dos recursos provenientes CC, MD, MF e MPOG
do recolhimento de taxas e serviços
Projeto de Lei com a nova Estrutura Militar de Defesa
30/06/2009 contemplando a estruturação de núcleos de Estados- CC e MD
Maiores Conjuntos vinculados ao MD.
Apresentação de estudo de viabilidade para a criação e
regulamentação de um Serviço Civil, em todo o território CC, MD, MPOG e
30/06/2009 nacional, a ser prestado por cidadãos que não forem SAE, MEC e SAÚDE
designados para a realização do Serviço Militar
Projeto de Lei propondo a criação de quadro específico
de Especialistas de Defesa, para a inclusão no Plano
30/06/2009 Único de Carreira dos servidores da área de defesa, em CC, MD e MPOG
complementação às carreiras existentes na administração
civil e militar
Plano de Transferência da ESG para Brasília e proposta de
30/06/2009 medidas complementares necessárias MD
Projeto de Lei alterando a Lei de Criação da ESG,
31/03/2009 viabilizando a criação de cargos DAS CC, MD e MPOG
Proposta de Política de Ensino para as Forças Armadas, em
30/06/2009 particular no nível de Altos Estudos MD e MEC
Proposta de Modificação da Lei do Sistema Nacional de
31/03/2009 Mobilização CC, MD e SAE
Projeto de Lei propondo nova estrutura do MD, com a
criação de órgão encarregado do processo de aquisição de
30/06/2009 produto de defesa, devidamente integrado ao processo de CC, MD e MPOG
catalogação de material
Proposta de criação de estrutura, subordinada ao MD,
31/03/2009 encarregada da coordenação dos processos de certificação, MD, MDIC e MPOG
de metrologia, de normalização e de fomento industrial
Proposta de modificações na Lei nº 8.666 e legislação
complementar, possibilitando regime jurídico e econômico CC, MD, MDIC, MT,
31/03/2009 especial para compras de produtos de defesa junto às MPOG e SAE
empresas nacionais
Proposta de modificações na legislação referente à
tributação incidente sobre a indústria nacional de defesa,
por meio da criação de regime jurídico especial que CC, MD, MDIC, MF,
31/03/2009 viabilize incentivos e desoneração tributária à iniciativa MT, MPOG e SAE
privada na fabricação de produto de defesa prioritário para
as Forças Armadas
Proposta de modificações na legislação referente à
viabilização, por parte do Ministério da Fazenda, de CC, MD, MF, MT,
31/03/2009 procedimentos de garantias para contratos de exportação MDIC e SAE
de produto de defesa de grande vulto
Propostas de alterações na LCP 97, na LCP 117 e na Lei
30/06/2009 CC e MD
nº 9.299, para adequá-las à Estratégia Nacional de Defesa

A ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA E SEUS DOCUMENTOS DECORRENTES SERÃO COMPLEMENTADOS POR


ANEXOS. TAIS ANEXOS FORMULARÃO PLANOS PARA DIVERSAS HIPÓTESES DE EMPREGO DAS FORÇAS
ARMADAS. SERÃO ELABORADOS, SOB A DIREÇÃO DO MINISTRO DA DEFESA, PELO ESTADO-MAIOR CONJUNTO
DAS FORÇAS ARMADAS E PELOS ESTADOS-MAIORES DAS TRÊS FORÇAS.

23
LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
IV - os alunos de órgão de formação de militares da ativa e
LEGISLAÇÃO MILITAR NAVAL da reserva; e
V - em tempo de guerra, todo cidadão brasileiro mobilizado
BRASIL. LEI Nº 6.880, DE 9 DE DEZEMBRO
para o serviço ativo nas Forças Armadas.
DO 1980. ESTATUTO DOS MILITARES, b) na inatividade:
TÍTULOS I E II. VADE MECUM NAVAL. I - os da reserva remunerada, quando pertençam à reserva das
DIRETORIA DO PATRIMONIO HISTÓRICO E Forças Armadas e percebam remuneração da União, porém sujei-
DOCUMENTAÇÃO DA MARINHA . ED. VER. RIO tos, ainda, à prestação de serviço na ativa, mediante convocação
DE JANEIRO, 2009. ou mobilização; e
ESTATUTO DOS MILITARES - II - os reformados, quando, tendo passado por uma das si-
HIERARQUIA MILITAR E DISCIPLINA; CARGOS tuações anteriores estejam dispensados, definitivamente, da pres-
E FUNÇÕES MILITARES; VALOR E ÉTICA tação de serviço na ativa, mas continuem a perceber remuneração
MILITAR; COMPROMISSO, COMANDO E da União.
lll - os da reserva remunerada, e, excepcionalmente, os refor-
SUBORDINAÇÃO; VIOLAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES mados, executado tarefa por tempo certo, segundo regulamenta-
E DEVERES MILITARES; CRIMS MILITARES; ção para cada Força Armada.(Redação dada pela Lei nº 9.442, de
CONTRAVENÇÃO 14.3.1997) (Vide Decreto nº 4.307, de 2002)
§ 2º Os militares de carreira são os da ativa que, no desempe-
OU TRANSGESSÕES DISCIPLINARES. nho voluntário e permanente do serviço militar, tenham vitalicie-
dade assegurada ou presumida.

Art. 4º São considerados reserva das Forças Armadas:


LEI Nº 6.880, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1980. I - individualmente:
a) os militares da reserva remunerada; e
Dispõe sobre o Estatuto dos Militares.
b) os demais cidadãos em condições de convocação ou de
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Con- mobilização para a ativa.
gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: II - no seu conjunto:
ESTATUTO DOS MILITARES a) as Polícias Militares; e
b) os Corpos de Bombeiros Militares.
TÍTULO I § 1° A Marinha Mercante, a Aviação Civil e as empresas de-
Generalidades claradas diretamente devotada às finalidades precípuas das Forças
Armadas, denominada atividade efeitos de mobilização e de em-
CAPÍTULO I prego, reserva das Forças Armadas.
Disposições Preliminares § 2º O pessoal componente da Marinha Mercante, da Aviação
Civil e das empresas declaradas diretamente relacionadas com a
Art. 1º O presente Estatuto regula a situação, obrigações, de- segurança nacional, bem como os demais cidadãos em condições
veres, direitos e prerrogativas dos membros das Forças Armadas. de convocação ou mobilização para a ativa, só serão considerados
militares quando convocados ou mobilizados para o serviço nas
Art. 2º As Forças Armadas, essenciais à execução da política Forças Armadas.
de segurança nacional, são constituídas pela Marinha, pelo Exérci-
to e pela Aeronáutica, e destinam-se a defender a Pátria e a garantir Art. 5º A carreira militar é caracterizada por atividade conti-
os poderes constituídos, a lei e a ordem. São instituições nacionais, nuada e inteiramente devotada às finalidades precípuas das Forças
permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na Armadas, denominada atividade militar.
disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República e § 1º A carreira militar é privativa do pessoal da ativa, inicia-
dentro dos limites da lei. se com o ingresso nas Forças Armadas e obedece às diversas
sequên-cias de graus hierárquicos.
Art. 3° Os membros das Forças Armadas, em razão de sua § 2º São privativas de brasileiro nato as carreiras de oficial da
destinação constitucional, formam uma categoria especial de ser- Marinha, do Exército e da Aeronáutica.
vidores da Pátria e são denominados militares.
§ 1° Os militares encontram-se em uma das seguintes situa- Art. 6o São equivalentes as expressões “na ativa”, “da ativa”,
ções:
“em serviço ativo”, “em serviço na ativa”, “em serviço”, “em ati-
a) na ativa:
I - os de carreira; vidade” ou “em atividade militar”, conferidas aos militares no de-
II - os incorporados às Forças Armadas para prestação de sempenho de cargo, comissão, encargo, incumbência ou missão,
serviço militar inicial, durante os prazos previstos na legislação serviço ou atividade militar ou considerada de natureza militar nas
que trata do serviço militar, ou durante as prorrogações daqueles organizações militares das Forças Armadas, bem como na Presi-
prazos; dência da República, na Vice-Presidência da República, no Mi-
III - os componentes da reserva das Forças Armadas quando nistério da Defesa e nos demais órgãos quando previsto em lei, ou
convocados, reincluídos, designados ou mobilizados; quando incorporados às Forças Armadas. (Redação dada pela
Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001)

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
Art. 7° A condição jurídica dos militares é definida pelos dis- CAPÍTULO III
positivos da Constituição que lhes sejam aplicáveis, por este Esta- Da Hierarquia Militar e da Disciplina
tuto e pela legislação, que lhes outorgam direitos e prerrogativas e
lhes impõem deveres e obrigações. Art. 14. A hierarquia e a disciplina são a base institucional das
Forças Armadas. A autoridade e a responsabilidade crescem com
Art. 8° O disposto neste Estatuto aplica-se, no que couber: o grau hierárquico.
I - aos militares da reserva remunerada e reformados; § 1º A hierarquia militar é a ordenação da autoridade, em níveis
II - aos alunos de órgão de formação da reserva; diferentes, dentro da estrutura das Forças Armadas. A orde-nação se
III - aos membros do Magistério Militar; e faz por postos ou graduações; dentro de um mesmo posto ou graduação
IV - aos Capelães Militares. se faz pela antiguidade no posto ou na graduação. O respeito à
hierarquia é consubstanciado no espírito de acatamento
Art. 9º Os oficiais-generais nomeados Ministros do Superior à sequência de autoridade.
Tribunal Militar, os membros do Magistério Militar e os Capelães § 2º Disciplina é a rigorosa observância e o acatamento inte-gral
Militares são regidos por legislação específica. das leis, regulamentos, normas e disposições que fundamen-tam o
organismo militar e coordenam seu funcionamento regular e
CAPÍTULO II harmônico, traduzindo-se pelo perfeito cumprimento do dever por
Do Ingresso nas Forças Armadas parte de todos e de cada um dos componentes desse organismo.
§ 3º A disciplina e o respeito à hierarquia devem ser mantidos
Art. 10. O ingresso nas Forças Armadas é facultado, mediante em todas as circunstâncias da vida entre militares da ativa, da re-
incorporação, matrícula ou nomeação, a todos os brasileiros que serva remunerada e reformados.
preencham os requisitos estabelecidos em lei e nos regulamentos
da Marinha, do Exército e da Aeronáutica. Art. 15. Círculos hierárquicos são âmbitos de convivência
§ 1º Quando houver conveniência para o serviço de qual- entre os militares da mesma categoria e têm a finalidade de de-
quer das Forças Armadas, o brasileiro possuidor de reconhecida senvolver o espírito de camaradagem, em ambiente de estima e
competência técnico-profissional ou de notória cultura científica confiança, sem prejuízo do respeito mútuo.
poderá, mediante sua aquiescência e proposta do Ministro da For-
ça interessada, ser incluído nos Quadros ou Corpos da Reserva e Art.. 16. Os círculos hierárquicos e a escala hierárquica nas
convocado para o serviço na ativa em caráter transitório. Forças Armadas, bem como a correspondência entre os postos e as
§ 2º A inclusão nos termos do parágrafo anterior será feita em graduações da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, são fixados
grau hierárquico compatível com sua idade, atividades civis e res- nos parágrafos seguintes e no Quadro em anexo.
ponsabilidades que lhe serão atribuídas, nas condições reguladas § 1° Posto é o grau hierárquico do oficial, conferido por ato
pelo Poder Executivo. do Presidente da República ou do Ministro de Força Singular e
confirmado em Carta Patente.
Art. 11. Para matrícula nos estabelecimentos de ensino mili- § 2º Os postos de Almirante, Marechal e Marechal-do-Ar
tar destinados à formação de oficiais, da ativa e da reserva, e de so-mente serão providos em tempo de guerra.
graduados, além das condições relativas à nacionalidade, idade, § 3º Graduação é o grau hierárquico da praça, conferido pela
aptidão intelectual, capacidade física e idoneidade moral, é neces- autoridade militar competente.
sário que o candidato não exerça ou não tenha exercido atividades § 4º Os Guardas-Marinha, os Aspirantes-a-Oficial e os alunos
prejudiciais ou perigosas à segurança nacional. de órgãos específicos de formação de militares são denominados
Parágrafo único. O disposto neste artigo e no anterior aplica- praças especiais.
se, também, aos candidatos ao ingresso nos Corpos ou Quadros de § 5º Os graus hierárquicos inicial e final dos diversos Corpos,
Oficiais em que é exigido o diploma de estabelecimento de ensino Quadros, Armas, Serviços, Especialidades ou Subespecialidades
superior reconhecido pelo Governo Federal. são fixados, separadamente, para cada caso, na Marinha, no Exér-
cito e na Aeronáutica.
Art. 12. A convocação em tempo de paz é regulada pela legis- § 6º Os militares da Marinha, do Exército e da Aeronáutica,
lação que trata do serviço militar. cujos graus hierárquicos tenham denominação comum, acrescen-
§ 1° Em tempo de paz e independentemente de convocação, tarão aos mesmos, quando julgado necessário, a indicação do res-
os integrantes da reserva poderão ser designados para o serviço pectivo Corpo, Quadro, Arma ou Serviço e, se ainda necessário, a
ativo, em caráter transitório e mediante aceitação voluntária. Força Armada a que pertencerem, conforme os regulamentos ou
§ 2º O disposto no parágrafo anterior será regulamentado normas em vigor.
pelo Poder Executivo. § 7º Sempre que o militar da reserva remunerada ou reforma-
do fizer uso do posto ou graduação, deverá fazê-lo com as abrevia-
Art. 13. A mobilização é regulada em legislação específica. turas respectivas de sua situação.
Parágrafo único. A incorporação às Forças Armadas de depu-
tados federais e senadores, embora militares e ainda que em Art. 17. A precedência entre militares da ativa do mesmo grau
tempo de guerra, dependerá de licença da Câmara respectiva. hierárquico, ou correspondente, é assegurada pela antiguidade no
posto ou graduação, salvo nos casos de precedência funcional es-
tabelecida em lei.

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
§ 1º A antiguidade em cada posto ou graduação é contada a § 2º As obrigações inerentes ao cargo militar devem ser com-
partir da data da assinatura do ato da respectiva promoção, no- patíveis com o correspondente grau hierárquico e definidas em le-
meação, declaração ou incorporação, salvo quando estiver taxati- gislação ou regulamentação específicas.
vamente fixada outra data.
§ 2º No caso do parágrafo anterior, havendo empate, a anti- Art. 21. Os cargos militares são providos com pessoal que sa-
guidade será estabelecida: tisfaça aos requisitos de grau hierárquico e de qualificação exigi-
a) entre militares do mesmo Corpo, Quadro, Arma ou Ser- dos para o seu desempenho.
viço, pela posição nas respectivas escalas numéricas ou registros Parágrafo único. O provimento de cargo militar far-se-á por
existentes em cada Força; ato de nomeação ou determinação expressa da autoridade compe-
b) nos demais casos, pela antiguidade no posto ou graduação tente.
anterior; se, ainda assim, subsistir a igualdade, recorrer-se-á, su-
cessivamente, aos graus hierárquicos anteriores, à data de praça e Art. 22. O cargo militar é considerado vago a partir de sua
à data de nascimento para definir a procedência, e, neste último criação e até que um militar nele tome posse, ou desde o momento
caso, o de mais idade será considerado o mais antigo; em que o militar exonerado, ou que tenha recebido determinação
c) na existência de mais de uma data de praça, inclusive de expressa da autoridade competente, o deixe e até que outro militar
outra Força Singular, prevalece a antiguidade do militar que tiver nele tome posse de acordo com as normas de provimento previstas
maior tempo de efetivo serviço na praça anterior ou nas praças no parágrafo único do artigo anterior.
anteriores; e Parágrafo único. Consideram-se também vagos os cargos mi-
d) entre os alunos de um mesmo órgão de formação de mi- litares cujos ocupantes tenham:
litares, de acordo com o regulamento do respectivo órgão, se não a) falecido;
estiverem especificamente enquadrados nas letras a , b e c. b) sido considerados extraviados;
§ 3º Em igualdade de posto ou de graduação, os militares da c) sido feitos prisioneiros; e
ativa têm precedência sobre os da inatividade. d) sido considerados desertores.
§ 4º Em igualdade de posto ou de graduação, a precedência
entre os militares de carreira na ativa e os da reserva remunerada Art. 23. Função militar é o exercício das obrigações inerentes
ou não, que estejam convocados, é definida pelo tempo de efetivo ao cargo militar.
serviço no posto ou graduação.
Art. 24. Dentro de uma mesma organização militar, a sequên-
Art. 18. Em legislação especial, regular-se-á: cia de substituições para assumir cargo ou responder por funções,
I - a precedência entre militares e civis, em missões bem como as normas, atribuições e responsabilidades relativas, são
diplomá-ticas, ou em comissão no País ou no estrangeiro; e as estabelecidas na legislação ou regulamentação específicas,
II - a precedência nas solenidades oficiais. respeitadas a precedência e a qualificação exigidas para o cargo ou
o exercício da função.
Art. 19. A precedência entre as praças especiais e as demais
praças é assim regulada: Art. 25. O militar ocupante de cargo provido em caráter efeti-
I - os Guardas-Marinha e os Aspirantes-a-Oficial são hierar- vo ou interino, de acordo com o parágrafo único do artigo 21, faz
quicamente superiores às demais praças; jus aos direitos correspondentes ao cargo, conforme previsto em
II - os Aspirantes, alunos da Escola Naval, e os Cadetes, alu- dispositivo legal.
nos da Academia Militar das Agulhas Negras e da Academia da
Força Aérea, bem como os alunos da Escola de Oficiais Especia- Art. 26. As obrigações que, pela generalidade, peculiaridade,
listas da Aeronáutica, são hierarquicamente superiores aos subofi- duração, vulto ou natureza, não são catalogadas como posições
ciais e aos subtenentes; tituladas em “Quadro de Efetivo”, “Quadro de Organização”, “Ta-
III - os alunos de Escola Preparatória de Cadetes e do Colégio bela de Lotação” ou dispositivo legal, são cumpridas como en-
Naval têm precedência sobre os Terceiros-Sargentos, aos quais são cargo, incumbência, comissão, serviço ou atividade, militar ou de
equiparados; natureza militar.
IV - os alunos dos órgãos de formação de oficiais da reserva, Parágrafo único. Aplica-se, no que couber, a encargo, incum-
quando fardados, têm precedência sobre os Cabos, aos quais são bência, comissão, serviço ou atividade, militar ou de natureza mi-
equiparados; e litar, o disposto neste Capítulo para cargo militar.
V - os Cabos têm precedência sobre os alunos das escolas ou
dos centros de formação de sargentos, que a eles são equiparados, TÍTULO II
respeitada, no caso de militares, a antiguidade relativa. Das Obrigações e dos Deveres Militares

CAPÍTULO IV CAPÍTULO I
Do Cargo e da Função Militares Das Obrigações Militares

Art. 20. Cargo militar é um conjunto de atribuições, deveres SEÇÃO IDo Valor Militar
e responsabilidades cometidos a um militar em serviço ativo.
§ 1º O cargo militar, a que se refere este artigo, é o que se en- Art. 27. São manifestações essenciais do valor militar:
contra especificado nos Quadros de Efetivo ou Tabelas de Lotação I - o patriotismo, traduzido pela vontade inabalável de cum-
das Forças Armadas ou previsto, caracterizado ou definido como prir o dever militar e pelo solene juramento de fidelidade à Pátria
tal em outras disposições legais. até com o sacrifício da própria vida;

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
II - o civismo e o culto das tradições históricas; Art. 29. Ao militar da ativa é vedado comerciar ou tomar parte
III - a fé na missão elevada das Forças Armadas; na administração ou gerência de sociedade ou dela ser sócio ou
IV - o espírito de corpo, orgulho do militar pela organização participar, exceto como acionista ou quotista, em sociedade anôni-
onde serve; ma ou por quotas de responsabilidade limitada.
V - o amor à profissão das armas e o entusiasmo com que é § 1º Os integrantes da reserva, quando convocados, ficam
exercida; e proibidos de tratar, nas organizações militares e nas repartições
VI - o aprimoramento técnico-profissional. públicas civis, de interesse de organizações ou empresas privadas
de qualquer natureza.
SEÇÃO II § 2º Os militares da ativa podem exercer, diretamente, a ges-
Da Ética Militar tão de seus bens, desde que não infrinjam o disposto no presente
artigo.
Art. 28. O sentimento do dever, o pundonor militar e o decoro § 3º No intuito de desenvolver a prática profissional, é permi-
da classe impõem, a cada um dos integrantes das Forças Armadas, tido aos oficiais titulares dos Quadros ou Serviços de Saúde e de
conduta moral e profissional irrepreensíveis, com a observância Veterinária o exercício de atividade técnico-profissional no meio
dos seguintes preceitos de ética militar:
civil, desde que tal prática não prejudique o serviço e não infrinja
I - amar a verdade e a responsabilidade como fundamento de
dignidade pessoal; o disposto neste artigo.
II - exercer, com autoridade, eficiência e probidade, as fun-
Art. 30. Os Ministros das Forças Singulares poderão determi-
ções que lhe couberem em decorrência do cargo;
III - respeitar a dignidade da pessoa humana; nar aos militares da ativa da respectiva Força que, no interesse da
IV - cumprir e fazer cumprir as leis, os regulamentos, as ins- salvaguarda da dignidade dos mesmos, informem sobre a origem e
truções e as ordens das autoridades competentes; natureza dos seus bens, sempre que houver razões que recomen-
V - ser justo e imparcial no julgamento dos atos e na dem tal medida.
aprecia-ção do mérito dos subordinados;
VI - zelar pelo preparo próprio, moral, intelectual e físico e, CAPÍTULO II
também, pelo dos subordinados, tendo em vista o cumprimento da Dos Deveres Militares
missão comum;
VII - empregar todas as suas energias em benefício do ser- SEÇÃO I
viço; Conceituação
VIII - praticar a camaradagem e desenvolver, permanente-
mente, o espírito de cooperação; Art. 31. Os deveres militares emanam de um conjunto de vín-
IX - ser discreto em suas atitudes, maneiras e em sua lingua- culos racionais, bem como morais, que ligam o militar à Pátria e
gem escrita e falada; ao seu serviço, e compreendem, essencialmente:
X - abster-se de tratar, fora do âmbito apropriado, de matéria I - a dedicação e a fidelidade à Pátria, cuja honra, integridade
sigilosa de qualquer natureza; e instituições devem ser defendidas mesmo com o sacrifício da
XI - acatar as autoridades civis; própria vida;
XII - cumprir seus deveres de cidadão; II - o culto aos Símbolos Nacionais;
XIII - proceder de maneira ilibada na vida pública e na par- III - a probidade e a lealdade em todas as circunstâncias;
ticular; IV - a disciplina e o respeito à hierarquia;
XIV - observar as normas da boa educação; V - o rigoroso cumprimento das obrigações e das ordens; e
XV - garantir assistência moral e material ao seu lar e VI - a obrigação de tratar o subordinado dignamente e com
condu-zir-se como chefe de família modelar; urbanidade.
XVI - conduzir-se, mesmo fora do serviço ou quando já na
inatividade, de modo que não sejam prejudicados os princípios da
SEÇÃO II
disciplina, do respeito e do decoro militar;
Do Compromisso Militar
XVII - abster-se de fazer uso do posto ou da graduação para
obter facilidades pessoais de qualquer natureza ou para encami-
nhar negócios particulares ou de terceiros; Art. 32. Todo cidadão, após ingressar em uma das Forças Ar-
XVIII - abster-se, na inatividade, do uso das designações madas mediante incorporação, matrícula ou nomeação, prestará
hie-rárquicas: compromisso de honra, no qual afirmará a sua aceitação conscien-
a) em atividades político-partidárias; te das obrigações e dos deveres militares e manifestará a sua firme
b) em atividades comerciais; disposição de bem cumpri-los.
c) em atividades industriais;
d) para discutir ou provocar discussões pela imprensa a res- Art.. 33. O compromisso do incorporado, do matriculado e do
peito de assuntos políticos ou militares, excetuando-se os de natu- nomeado, a que se refere o artigo anterior, terá caráter solene e será
reza exclusivamente técnica, se devidamente autorizado; e sempre prestado sob a forma de juramento à Bandeira na presença
e) no exercício de cargo ou função de natureza civil, mesmo de tropa ou guarnição formada, conforme os dizeres estabelecidos
que seja da Administração Pública; e nos regulamentos específicos das Forças Armadas, e tão logo o
XIX - zelar pelo bom nome das Forças Armadas e de cada um militar tenha adquirido um grau de instrução compatível com o
de seus integrantes, obedecendo e fazendo obedecer aos preceitos perfeito entendimento de seus deveres como integrante das Forças
da ética militar. Armadas.

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
§ 1º O compromisso de Guarda-Marinha ou Aspirante-a-O- CAPÍTULO III
ficial é prestado nos estabelecimentos de formação, obedecendo o Da Violação das Obrigações e dos Deveres Militares
cerimonial ao fixado nos respectivos regulamentos.
§ 2º O compromisso como oficial, quando houver, será SEÇÃO I
regu-lado em cada Força Armada. Conceituação

SEÇÃO III Art. 42. A violação das obrigações ou dos deveres militares
Do Comando e da Subordinação constituirá crime, contravenção ou transgressão disciplinar, con-
forme dispuser a legislação ou regulamentação específicas.
Art. 34. Comando é a soma de autoridade, deveres e respon- § 1º A violação dos preceitos da ética militar será tão mais
sabilidades de que o militar é investido legalmente quando conduz grave quanto mais elevado for o grau hierárquico de quem a co-
homens ou dirige uma organização militar. O comando é vincu-lado meter.
ao grau hierárquico e constitui uma prerrogativa impessoal, em cujo § 2° No concurso de crime militar e de contravenção ou trans-
exercício o militar se define e se caracteriza como chefe. gressão disciplinar, quando forem da mesma natureza, será aplica-
Parágrafo único. Aplica-se à direção e à chefia de organização da somente a pena relativa ao crime.
militar, no que couber, o estabelecido para comando.
Art. 43. A inobservância dos deveres especificados nas leis e
Art. 35. A subordinação não afeta, de modo algum, a dignida- regulamentos, ou a falta de exação no cumprimento dos mesmos,
de pessoal do militar e decorre, exclusivamente, da estrutura hie- acarreta para o militar responsabilidade funcional, pecuniária, dis-
rarquizada das Forças Armadas. ciplinar ou penal, consoante a legislação específica.
Parágrafo único. A apuração da responsabilidade funcional,
Art. 36. O oficial é preparado, ao longo da carreira, para o pecuniária, disciplinar ou penal poderá concluir pela incompatibi-
exercício de funções de comando, de chefia e de direção. lidade do militar com o cargo ou pela incapacidade para o exercí-
cio das funções militares a ele inerentes.
Art. 37. Os graduados auxiliam ou complementam as ativi-
dades dos oficiais, quer no adestramento e no emprego de meios, Art. 44. O militar que, por sua atuação, se tornar incompatível
quer na instrução e na administração. com o cargo, ou demonstrar incapacidade no exercício de funções
Parágrafo único. No exercício das atividades mencionadas neste militares a ele inerentes, será afastado do cargo.
artigo e no comando de elementos subordinados, os subofi-ciais, os § 1º São competentes para determinar o imediato
subtenentes e os sargentos deverão impor-se pela lealda-de, pelo afastamento do cargo ou o impedimento do exercício da função:
exemplo e pela capacidade profissional e técnica, incum-bindo-lhes a) o Presidente da República;
assegurar a observância minuciosa e ininterrupta das ordens, das b) os titulares das respectivas pastas militares e o Chefe do
regras do serviço e das normas operativas pelas praças que lhes Estado-Maior das Forças Armadas; e
estiverem diretamente subordinadas e a manutenção da coesão e do c) os comandantes, os chefes e os diretores, na conformidade da
moral das mesmas praças em todas as circunstâncias. legislação ou regulamentação específica de cada Força Armada.
§ 2º O militar afastado do cargo, nas condições mencionadas
Art. 38. Os Cabos, Taifeiros-Mores, Soldados-de-Primei-ra- neste artigo, ficará privado do exercício de qualquer função militar até
Classe, Taifeiros-de-Primeira-Classe, Marinheiros, Soldados, a solução do processo ou das providências legais cabíveis.
Soldados-de-Segunda-Classe e Taifeiros-de-Segunda-Classe são,
essencialmente, elementos de execução. Art. 45. São proibidas quaisquer manifestações coletivas, tan-
to sobre atos de superiores quanto as de caráter reivindicatório ou
Art. 39. Os Marinheiros-Recrutas, Recrutas, Soldados-Recru- político.
tas e Soldados-de-Segunda-Classe constituem os elementos in-
corporados às Forças Armadas para a prestação do serviço militar SEÇÃO II
inicial. Dos Crimes Militares

Art. 40. Às praças especiais cabe a rigorosa observância das Art. 46. O Código Penal Militar relaciona e classifica os cri-
prescrições dos regulamentos que lhes são pertinentes, exigindo- mes militares, em tempo de paz e em tempo de guerra, e dispõe so-
se-lhes inteira dedicação ao estudo e ao aprendizado técnico-pro- bre a aplicação aos militares das penas correspondentes aos crimes
fissional. por eles cometidos.
Parágrafo único. Às praças especiais também se assegura a
prestação do serviço militar inicial. SEÇÃO III
Das Contravenções ou Transgressões Disciplinares
Art. 41. Cabe ao militar a responsabilidade integral pelas de-
cisões que tomar, pelas ordens que emitir e pelos atos que praticar. Art. 47. Os regulamentos disciplinares das Forças Armadas
especificarão e classificarão as contravenções ou transgressões dis-
ciplinares e estabelecerão as normas relativas à amplitude e apli-cação
das penas disciplinares, à classificação do comportamento militar e à
interposição de recursos contra as penas disciplinares.

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
§ 1º As penas disciplinares de impedimento, detenção ou IV - nas condições ou nas limitações impostas na legislação e
pri-são não podem ultrapassar 30 (trinta) dias. regulamentação específicas:
§ 2º À praça especial aplicam-se, também, as disposições dis- a) a estabilidade, quando praça com 10 (dez) ou mais anos
ciplinares previstas no regulamento do estabelecimento de ensino de tempo de efetivo serviço;
onde estiver matriculada. b) o uso das designações hierárquicas;
c) a ocupação de cargo correspondente ao posto ou à gradua-
SEÇÃO IV ção;
Dos Conselhos de Justificação e de Disciplina d) a percepção de remuneração;
e) a assistência médico-hospitalar para si e seus dependentes,
Art. 48. O oficial presumivelmente incapaz de permanecer assim entendida como o conjunto de atividades relacionadas com
como militar da ativa será, na forma da legislação específica, sub- a prevenção, conservação ou recuperação da saúde, abrangendo
metido a Conselho de Justificação. ser-viços profissionais médicos, farmacêuticos e odontológicos,
§ 1º O oficial, ao ser submetido a Conselho de Justificação,
bem como o fornecimento, a aplicação de meios e os cuidados e
poderá ser afastado do exercício de suas funções, a critério do res-
demais atos médicos e paramédicos necessários;
pectivo Ministro, conforme estabelecido em legislação específica.
§ 2º Compete ao Superior Tribunal Militar, em tempo de paz, ou
f) o funeral para si e seus dependentes, constituindo-se no
a Tribunal Especial, em tempo de guerra, julgar, em instância conjunto de medidas tomadas pelo Estado, quando solicitado, des-
única, os processos oriundos dos Conselhos de Justificação, nos de o óbito até o sepultamento condigno;
ca-sos previstos em lei específica. g) a alimentação, assim entendida como as refeições forneci-
§ 3º A Conselho de Justificação poderá, também, ser submeti- das aos militares em atividade;
do o oficial da reserva remunerada ou reformado, presumivelmente h) o fardamento, constituindo-se no conjunto de uniformes,
incapaz de permanecer na situação de inatividade em que se en- roupa branca e roupa de cama, fornecido ao militar na ativa de gra-
contra. duação inferior a terceiro-sargento e, em casos especiais, a outros
militares;
Art. 49. O Guarda-Marinha, o Aspirante-a-Oficial e as praças i) a moradia para o militar em atividade, compreendendo:
com estabilidade assegurada, presumivelmente incapazes de per- 1 - alojamento em organização militar, quando aquartelado
manecerem como militares da ativa, serão submetidos a Conselho ou embarcado; e
de Disciplina e afastados das atividades que estiverem exercendo, 2 - habitação para si e seus dependentes; em imóvel sob a
na forma da regulamentação específica. responsabilidade da União, de acordo com a disponibilidade exis-
§ 1º O Conselho de Disciplina obedecerá a normas comuns tente.
às três Forças Armadas. j) (Revogada pela Medida Provisória nº 2.215-10, de
§ 2º Compete aos Ministros das Forças Singulares julgar, em 31.8.2001)
última instância, os processos oriundos dos Conselhos de Discipli-na l) a constituição de pensão militar;
convocados no âmbito das respectivas Forças Armadas. m) a promoção;
§ 3º A Conselho de Disciplina poderá, também, ser submetida a n) a transferência a pedido para a reserva remunerada;
praça na reserva remunerada ou reformada, presumivelmente in-capaz o) as férias, os afastamentos temporários do serviço e as li-
de permanecer na situação de inatividade em que se encontra. cenças;
p) a demissão e o licenciamento voluntários;
TÍTULO III q) o porte de arma quando oficial em serviço ativo ou em
Dos Direitos e das Prerrogativas dos Militares inatividade, salvo caso de inatividade por alienação mental ou con-
denação por crimes contra a segurança do Estado ou por atividades
CAPÍTULO I
que desaconselhem aquele porte;
Dos Direitos
r) o porte de arma, pelas praças, com as restrições impostas
SEÇÃO I pela respectiva Força Armada; e
Enumeração s) outros direitos previstos em leis específicas.
§ 1º (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de
Art. 50. São direitos dos militares: 31.8.2001)
I - a garantia da patente em toda a sua plenitude, com as van- § 2° São considerados dependentes do militar:
tagens, prerrogativas e deveres a ela inerentes, quando oficial, nos I - a esposa;
termos da Constituição; II - o filho menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou
II - o provento calculado com base no soldo integral do posto ou interdito;
graduação que possuía quando da transferência para a inativida-de III - a filha solteira, desde que não receba remuneração;
remunerada, se contar com mais de trinta anos de serviço; (Re-dação IV - o filho estudante, menor de 24 (vinte e quatro) anos,
dada pela Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001) desde que não receba remuneração;
III - o provento calculado com base no soldo integral do pos- V - a mãe viúva, desde que não receba remuneração;
to ou graduação quando, não contando trinta anos de serviço, for VI - o enteado, o filho adotivo e o tutelado, nas mesmas con-
transferido para a reserva remunerada, ex officio, por ter atingido dições dos itens II, III e IV;
a idade-limite de permanência em atividade no posto ou na gra- VII - a viúva do militar, enquanto permanecer neste estado, e os
duação, ou ter sido abrangido pela quota compulsória; e (Redação demais dependentes mencionados nos itens II, III, IV, V e VI deste
dada pela Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001) parágrafo, desde que vivam sob a responsabilidade da viúva;

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
VIII - a ex-esposa com direito à pensão alimentícia estabe- a) se contar menos de 5 (cinco) anos de serviço, será, ao se
lecida por sentença transitada em julgado, enquanto não contrair candidatar a cargo eletivo, excluído do serviço ativo mediante de-
novo matrimônio. missão ou licenciamento ex officio ; e
§ 3º São, ainda, considerados dependentes do militar, desde b) se em atividade, com 5 (cinco) ou mais anos de serviço,
que vivam sob sua dependência econômica, sob o mesmo teto, e será, ao se candidatar a cargo eletivo, afastado, temporariamente,
quando expressamente declarados na organização militar compe- do serviço ativo e agregado, considerado em licença para tratar de
tente: interesse particular; se eleito, será, no ato da diplomação, transfe-
a) a filha, a enteada e a tutelada, nas condições de viúvas, rido para a reserva remunerada, percebendo a remuneração a que
separadas judicialmente ou divorciadas, desde que não recebam fizer jus em função do seu tempo de serviço.
remuneração;
b) a mãe solteira, a madrasta viúva, a sogra viúva ou solteira, SEÇÃO II
bem como separadas judicialmente ou divorciadas, desde que, em Da Remuneração
qualquer dessas situações, não recebam remuneração;
c) os avós e os pais, quando inválidos ou interditos, e Art. 53. A remuneração dos militares será estabelecida em
respec-tivos cônjuges, estes desde que não recebam remuneração; legislação específica, comum às Forças Armadas. (Redação dada
d) o pai maior de 60 (sessenta) anos e seu respectivo pela Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001)
cônjuge, desde que ambos não recebam remuneração; I - na ativa; (Redação dada pela Lei nº 8.237, de 1991)
e) o irmão, o cunhado e o sobrinho, quando menores ou a) soldo, gratificações e indenizações regulares; (Redação
invá-lidos ou interditos, sem outro arrimo; dada pela Lei nº 8.237, de 1991)
f) a irmã, a cunhada e a sobrinha, solteiras, viúvas, separadas II - na inatividade: (Redação dada pela Lei nº 8.237, de 1991)
judicialmente ou divorciadas, desde que não recebam remunera- a) proventos, constituídos de soldo os quotas de soldo e grati-
ção; ficações incorporáveis; (Redação dada pela Lei nº 8.237, de 1991)
g) o neto, órfão, menor inválido ou interdito; b) adicionais. (Redação dada pela Lei nº 8.237, de 1991)
h) a pessoa que viva, no mínimo há 5 (cinco) anos, sob a sua
exclusiva dependência econômica, comprovada mediante justifi- Art. 54. O soldo é irredutível e não está sujeito à penhora,
cação judicial;
i) a companheira, desde que viva em sua companhia há mais sequestro ou arresto, exceto nos casos previstos em lei.
de 5 (cinco) anos, comprovada por justificação judicial; e
Art. 55. O valor do soldo é igual para o militar da ativa, da reserva
j) o menor que esteja sob sua guarda, sustento e
remunerada ou reformado, de um mesmo grau hierárquico, ressalvado
responsabili-dade, mediante autorização judicial.
§ 4º Para efeito do disposto nos §§ 2º e 3º deste artigo, não o disposto no item II, do caput , do artigo 50.
serão considerados como remuneração os rendimentos não-pro-
Art. 56. Por ocasião de sua passagem para a inatividade, o mi-litar
venientes de trabalho assalariado, ainda que recebidos dos cofres terá direito a tantas quotas de soldo quantos forem os anos de serviço,
públicos, ou a remuneração que, mesmo resultante de relação de computáveis para a inatividade, até o máximo de 30 (trin-ta) anos,
trabalho, não enseje ao dependente do militar qualquer direito à ressalvado o disposto no item III do caput , do artigo 50.
assistência previdenciária oficial. Parágrafo único. Para efeito de contagem das quotas, a fração
Art. 51. O militar que se julgar prejudicado ou ofendido por de tempo igual ou superior a 180 (cento e oitenta) dias será consi-
qualquer ato administrativo ou disciplinar de superior hierárquico derada 1 (um) ano.
poderá recorrer ou interpor pedido de reconsideração, queixa ou
representação, segundo regulamentação específica de cada Força Art. 57. Nos termos do § 9º, do artigo 93, da Constituição, a
Armada. proibição de acumular proventos de inatividade não se aplica aos
§ 1º O direito de recorrer na esfera administrativa prescre- militares da reserva remunerada e aos reformados quanto ao
verá: exercício de mandato eletivo, quanto ao de função de magistério
a) em 15 (quinze) dias corridos, a contar do recebimento da ou de cargo em comissão ou quanto ao contrato para prestação de
comunicação oficial, quanto a ato que decorra de inclusão em quo- serviços técnicos ou especializados.
ta compulsória ou de composição de Quadro de Acesso; e
b) em 120 (cento e vinte) dias, nos demais casos. Art. 58. Os proventos de inatividade serão revistos sempre
§ 2º O pedido de reconsideração, a queixa e a representação que, por motivo de alteração do poder aquisitivo da moeda, se mo-
não podem ser feitos coletivamente. dificarem os vencimentos dos militares em serviço ativo.
§ 3º O militar só poderá recorrer ao Judiciário após esgotados Parágrafo único. Ressalvados os casos previstos em lei, os
todos os recursos administrativos e deverá participar esta iniciati-va, proventos da inatividade não poderão exceder à remuneração per-
antecipadamente, à autoridade à qual estiver subordinado. cebida pelo militar da ativa no posto ou graduação correspondente
aos dos seus proventos.
Art. 52. Os militares são alistáveis, como eleitores, desde que
oficiais, guardas-marinha ou aspirantes-a-oficial, suboficiais ou
subtenentes, sargentos ou alunos das escolas militares de nível su-
perior para formação de oficiais.
Parágrafo único. Os militares alistáveis são elegíveis, atendi-
das às seguintes condições:

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
SEÇÃO III b) na data fixada na Lei de Promoções de Oficiais da Ativa
Da Promoção das Forças Armadas ou seus regulamentos, em casos neles indi-
cados; e
Art. 59. O acesso na hierarquia militar, fundamentado prin- c) na data oficial do óbito do militar.
cipalmente no valor moral e profissional, é seletivo, gradual e su-
cessivo e será feito mediante promoções, de conformidade com a Art. 62. Não haverá promoção de militar por ocasião de sua
legislação e regulamentação de promoções de oficiais e de praças,
transferência para a reserva remunerada ou reforma.
de modo a obter-se um fluxo regular e equilibrado de carreira para
os militares. SEÇÃO IV
Parágrafo único. O planejamento da carreira dos oficiais e das Das Férias e de Outros Afastamentos
praças é atribuição de cada um dos Ministérios das Forças Singu- Temporários do Serviço
lares.
Art. 63. Férias são afastamentos totais do serviço, anual e
Art. 60. As promoções serão efetuadas pelos critérios de an-
tiguidade, merecimento ou escolha, ou, ainda, por bravura e post obrigatoriamente concedidos aos militares para descanso, a par-tir
mortem . do último mês do ano a que se referem e durante todo o ano
§ 1º Em casos extraordinários e independentemente de seguinte.
vagas, poderá haver promoção em ressarcimento de preterição. § 1º O Poder Executivo fixará a duração das férias, inclusive
§ 2º A promoção de militar feita em ressarcimento de prete- para os militares servindo em localidades especiais.
rição será efetuada segundo os critérios de antiguidade ou mere- § 2º Compete aos Ministros Militares regulamentar a
cimento, recebendo ele o número que lhe competir na escala hie- conces-são de férias.
rárquica, como se houvesse sido promovido, na época devida, pelo § 3o A concessão de férias não é prejudicada pelo gozo ante-
critério em que ora é feita sua promoção. rior de licença para tratamento de saúde, nem por punição anterior
decorrente de contravenção ou transgressão disciplinar, ou pelo
Art. 61. A fim de manter a renovação, o equilíbrio e a regula- estado de guerra, ou para que sejam cumpridos atos em serviço,
ridade de acesso nos diferentes Corpos, Quadros, Armas ou Servi- bem como não anula o direito àquela licença. (Redação dada pela
ços, haverá anual e obrigatoriamente um número fixado de vagas Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001)
à promoção, nas proporções abaixo indicadas: § 4º Somente em casos de interesse da segurança nacional, de
I - Almirantes-de-Esquadra, Generais-de-Exército e Tenentes - manutenção da ordem, de extrema necessidade do serviço, de
Brigadeiros - 1/4 (um quarto) dos respectivos Corpos ou Quadros; transferência para a inatividade, ou para cumprimento de punição
II - Vice-Almirantes, Generais-de-Divisão e Majores-Briga- decorrente de contravenção ou de transgressão disciplinar de natu-reza
deiros - 1/4 (um quarto) dos respectivos Corpos ou Quadros; grave e em caso de baixa a hospital, os militares terão inter-rompido
III - Contra-Almirantes, Generais-de-Brigada e Brigadeiros - ou deixarão de gozar na época prevista o período de férias a que
1/4 (um quarto) dos respectivos Corpos ou Quadros; tiverem direito, registrando-se o fato em seus assentamentos.
IV - Capitães-de-Mar-e-Guerra e Coronéis - no mínimo 1/8 (um § 5º (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de
oitavo) dos respectivos Corpos, Quadros, Armas ou Serviços; V -
31.8.2001)
Capitães-de-Fragata e Tenentes-Coronéis - no mínimo 1/15 (um
quinze avos) dos respectivos Corpos, Quadros, Armas
Art. 64. Os militares têm direito, ainda, aos seguintes períodos
ou Serviços;
de afastamento total do serviço, obedecidas às disposições legais e
VI - Capitães-de-Corveta e Majores - no mínimo 1/20 (um vinte
regulamentares, por motivo de:
avos) dos respectivos Corpos, Quadros, Armas ou Serviços; e
VII - Oficiais dos 3 (três) últimos postos dos Quadros de que I - núpcias: 8 (oito) dias;
trata a alínea b do inciso I do art. 98, 1/4 para o último posto, no II - luto: 8 (oito) dias;
mínimo 1/10 para o penúltimo posto, e no mínimo 1/15 para o III - instalação: até 10 (dez) dias;
antepenúltimo posto, dos respectivos Quadros, exceto quando o e IV - trânsito: até 30 (trinta) dias.
último e o penúltimo postos forem Capitão-Tenente ou capitão e
1º Tenente, caso em que as proporções serão no mínimo 1/10 e Art. 65. As férias e os afastamentos mencionados no artigo
1/20, respectivamente. (Redação dada pela Lei nº 7.666, de 1988) anterior são concedidos com a remuneração prevista na legislação
§ 1º O número de vagas para promoção obrigatória em cada específica e computados como tempo de efetivo serviço para todos
ano-base para os postos relativos aos itens IV, V, VI e VII deste os efeitos legais.
artigo será fixado, para cada Força, em decretos separados, até o
dia 15 (quinze) de janeiro do ano seguinte. Art. 66. As férias, instalação e trânsito dos militares que se en-
§ 2º As frações que resultarem da aplicação das proporções contrem a serviço no estrangeiro devem ter regulamentação idên-
estabelecidas neste artigo serão adicionadas, cumulativamente, aos tica para as três Forças Armadas.
cálculos correspondentes dos anos seguintes, até completar-se pelo
menos 1 (um) inteiro que, então, será computado para obten-ção SEÇÃO V
de uma vaga para promoção obrigatória. Das Licenças
§ 3º As vagas serão consideradas abertas:
a) na data da assinatura do ato que promover, passar para a Art. 67. Licença é a autorização para afastamento total do ser-
inatividade, transferir de Corpo ou Quadro, demitir ou agregar o viço, em caráter temporário, concedida ao militar, obedecidas às
militar; disposições legais e regulamentares.

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
§ 1º A licença pode ser: § 1o A interrupção da licença especial, da licença para tratar
a) (Revogada pela Medida Provisória nº 2.215-10, de de interesse particular e da licença para acompanhar cônjuge ou
31.8.2001) companheiro(a) poderá ocorrer: (Redação dada pela Lei nº 11.447,
b) para tratar de interesse particular; de 2007)
c) para tratamento de saúde de pessoa da família; e a) em caso de mobilização e estado de guerra;
d) para tratamento de saúde própria. b) em caso de decretação de estado de emergência ou de es-
e) para acompanhar cônjuge ou companheiro(a). (Redação tado de sítio;
dada pela Lei nº 11.447, de 2007) c) para cumprimento de sentença que importe em restrição
§ 2º A remuneração do militar licenciado será regulada em da liberdade individual;
legislação específica. d) para cumprimento de punição disciplinar, conforme regu-
§ 3o A concessão da licença é regulada pelo Comandante da lamentação de cada Força. (Redação dada pela Medida Provisória
Força. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.215-10, de nº 2.215-10, de 31.8.2001)
31.8.2001) e) em caso de denúncia ou de pronúncia em processo criminal
ou indiciação em inquérito militar, a juízo da autoridade que efeti-
Art. 68. (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de vou a denúncia, a pronúncia ou a indiciação.
31.8.2001) § 2o A interrupção da licença para tratar de interesse particu-
lar e da licença para acompanhar cônjuge ou companheiro(a) será
Art. 69. Licença para tratar de interesse particular é a autori- definitiva quando o militar for reformado ou transferido, de ofício,
zação para o afastamento total do serviço, concedida ao militar, para a reserva remunerada.(Redação dada pela Lei nº 11.447, de
com mais de 10 (dez) anos de efetivo serviço, que a requeira com 2007)
aquela finalidade. § 3º A interrupção da licença para tratamento de saúde de pes-
Parágrafo único. A licença de que trata este artigo será sempre
soa da família, para cumprimento de pena disciplinar que importe em
concedida com prejuízo da remuneração e da contagem de tempo
restrição da liberdade individual, será regulada em cada Força.
de efetivo serviço, exceto, quanto a este último, para fins de indi-
cação para a quota compulsória. SEÇÃO VI
Da Pensão Militar
Art. 69-A. Licença para acompanhar cônjuge ou companhei-
ro(a) é a autorização para o afastamento total do serviço, conce-
Art. 71. A pensão militar destina-se a amparar os beneficiários
dida a militar com mais de 10 (dez) anos de efetivo serviço que a
do militar falecido ou extraviado e será paga conforme o disposto
requeira para acompanhar cônjuge ou companheiro(a) que, sendo
servidor público da União ou militar das Forças Armadas, for, de em legislação específica.
ofício, exercer atividade em órgão público federal situado em ou- § 1º Para fins de aplicação da legislação específica, será con-
tro ponto do território nacional ou no exterior, diverso da locali- siderado como posto ou graduação do militar o correspondente ao
zação da organização militar do requerente. (Incluído pela Lei nº soldo sobre o qual forem calculadas as suas contribuições.
11.447, de 2007) § 2º Todos os militares são contribuintes obrigatórios da pen-
§ 1o A licença será concedida sempre com prejuízo da remu- são militar correspondente ao seu posto ou graduação, com as ex-
neração e da contagem de tempo de efetivo serviço, exceto, quanto ceções previstas em legislação específica.
a este último, para fins de indicação para a quota compulsória. (In- § 3º Todo militar é obrigado a fazer sua declaração de benefi-
cluído pela Lei nº 11.447, de 2007) ciários que, salvo prova em contrário, prevalecerá para a habilita-
§ 2o O prazo-limite para a licença será de 36 (trinta e seis) me- ção dos mesmos à pensão militar.
ses, podendo ser concedido de forma contínua ou fracionada. (In-
cluído pela Lei nº 11.447, de 2007) Art. 72. A pensão militar defere-se nas prioridades e condi-
§ 3o Para a concessão da licença para acompanhar compa- ções estabelecidas em legislação específica.
nheiro(a), há necessidade de que seja reconhecida a união estável
entre o homem e a mulher como entidade familiar, de acordo com CAPÍTULO II
a legislação específica.(Incluído pela Lei nº 11.447, de 2007) Das Prerrogativas
§ 4o Não será concedida a licença de que trata este artigo
quando o militar acompanhante puder ser passado à disposição ou SEÇÃO I
à situação de adido ou ser classificado/lotado em organização Constituição e Enumeração
militar das Forças Armadas para o desempenho de funções com-
patíveis com o seu nível hierárquico. (Incluído pela Lei nº 11.447, Art. 73. As prerrogativas dos militares são constituídas pelas
de 2007) honras, dignidades e distinções devidas aos graus hierárquicos e
§ 5o A passagem à disposição ou à situação de adido ou a clas- cargos.
sificação/lotação em organização militar, de que trata o § 4o des-te Parágrafo único. São prerrogativas dos militares:
artigo, será efetivada sem ônus para a União e sempre com a a) uso de títulos, uniformes, distintivos, insígnias e emblemas
aquiescência das Forças Armadas envolvidas. (Incluído pela Lei nº militares das Forças Armadas, correspondentes ao posto ou gra-
11.447, de 2007) duação, Corpo, Quadro, Arma, Serviço ou Cargo;
b) honras, tratamento e sinais de respeito que lhes sejam
Art. 70. As licenças poderão ser interrompidas a pedido ou asse-gurados em leis e regulamentos;
nas condições estabelecidas neste artigo.

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
c) cumprimento de pena de prisão ou detenção somente em Art. 79. É vedado às Forças Auxiliares e a qualquer elemento
organização militar da respectiva Força cujo comandante, chefe ou civil ou organizações civis usar uniformes ou ostentar distintivos,
diretor tenha precedência hierárquica sobre o preso ou, na impos- insígnias ou emblemas que possam ser confundidos com os adota-
sibilidade de cumprir esta disposição, em organização militar de dos nas Forças Armadas.
outra Força cujo comandante, chefe ou diretor tenha a necessária Parágrafo único. São responsáveis pela infração das dispo-
precedência; e sições deste artigo, além dos indivíduos que a tenham cometido, os
d) julgamento em foro especial, nos crimes militares. comandantes das Forças Auxiliares, diretores ou chefes de re-
partições, organizações de qualquer natureza, firmas ou emprega-
Art. 74. Somente em caso de flagrante delito o militar poderá dores, empresas, institutos ou departamentos que tenham adotado
ser preso por autoridade policial, ficando esta obrigada a entregá - ou consentido sejam usados uniformes ou ostentados distintivos,
lo imediatamente à autoridade militar mais próxima, só podendo insígnias ou emblemas que possam ser confundidos com os adota-
retê-lo, na delegacia ou posto policial, durante o tempo necessário dos nas Forças Armadas.
à lavratura do flagrante.
§ 1º Cabe à autoridade militar competente a iniciativa de TÍTULO IV
responsabilizar a autoridade policial que não cumprir ao dispos-to Das Disposições Diversas
neste artigo e a que maltratar ou consentir que seja maltratado
qualquer preso militar ou não lhe der o tratamento devido ao seu CAPÍTULO I
posto ou graduação. Das Situações Especiais
§ 2º Se, durante o processo e julgamento no foro civil, houver
perigo de vida para qualquer preso militar, a autoridade militar SEÇÃO I
competente, mediante requisição da autoridade judiciária, manda- Da Agregação
rá guardar os pretórios ou tribunais por força federal.
Art. 80. Agregação é a situação na qual o militar da ativa deixa
Art. 75. Os militares da ativa, no exercício de funções milita-
de ocupar vaga na escala hierárquica de seu Corpo, Quadro, Arma
res, são dispensados do serviço na instituição do Júri e do serviço
ou Serviço, nela permanecendo sem número.
na Justiça Eleitoral.
Art. 81. O militar será agregado e considerado, para todos os
SEÇÃO II
efeitos legais, como em serviço ativo quando:
Do Uso dos Uniformes
I - for nomeado para cargo, militar ou considerado de na-
tureza militar, estabelecido em lei ou decreto, no País ou no es-
Art. 76. Os uniformes das Forças Armadas, com seus distin-
tivos, insígnias e emblemas, são privativos dos militares e sim- trangeiro, não-previsto nos Quadros de Organização ou Tabelas de
bolizam a autoridade militar, com as prerrogativas que lhe são Lotação da respectiva Força Armada, exceção feita aos membros
inerentes. das comissões de estudo ou de aquisição de material, aos obser-
Parágrafo único. Constituem crimes previstos na legislação vadores de guerra e aos estagiários para aperfeiçoamento de co-
nhecimentos militares em organizações militares ou industriais no
específica o desrespeito aos uniformes, distintivos, insígnias e em-
estrangeiro;
blemas militares, bem como seu uso por quem a eles não tiver
II - for posto à disposição exclusiva do Ministério da Defesa
direito.
ou de Força Armada diversa daquela a que pertença, para ocupar
Art. 77. O uso dos uniformes com seus distintivos, insígnias e cargo militar ou considerado de natureza militar; (Redação dada
emblemas, bem como os modelos, descrição, composição, peças pela Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001)
acessórias e outras disposições, são os estabelecidos na regula- III - aguardar transferência ex officio para a reserva, por ter
mentação específica de cada Força Armada. sido enquadrado em quaisquer dos requisitos que a motivaram;
§ 1º É proibido ao militar o uso dos uniformes: IV - o órgão competente para formalizar o respectivo proces-
a) em manifestação de caráter político-partidária; so tiver conhecimento oficial do pedido de transferência do militar
b) em atividade não-militar no estrangeiro, salvo quando ex- para a reserva; e
pressamente determinado ou autorizado; e V - houver ultrapassado 6 (seis) meses contínuos na situação
c) na inatividade, salvo para comparecer a solenidades mili- de convocado para funcionar como Ministro do Superior Tribunal
tares, a cerimônias cívicas comemorativas de datas nacionais ou a Militar.
atos sociais solenes de caráter particular, desde que autorizado. § 1º A agregação de militar nos casos dos itens I e II é conta-da
§ 2º O oficial na inatividade, quando no cargo de Ministro de a partir da data da posse no novo cargo até o regresso à Força Armada
Estado da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, poderá usar a que pertence ou a transferência ex officio para a reserva.
os mesmos uniformes dos militares na ativa. § 2º A agregação de militar no caso do item III é contada a
§ 3º Os militares na inatividade cuja conduta possa ser con- partir da data indicada no ato que tornar público o respectivo
siderada como ofensiva à dignidade da classe poderão ser defini- evento.
tivamente proibidos de usar uniformes por decisão do Ministro da § 3º A agregação de militar no caso do item IV é contada a
respectiva Força Singular. partir da data indicada no ato que tornar pública a comunicação
oficial até a transferência para a reserva.
Art. 78. O militar fardado tem as obrigações correspondentes § 4º A agregação de militar no caso do item V é contada a
ao uniforme que use e aos distintivos, emblemas ou às insígnias partir do primeiro dia após o respectivo prazo e enquanto durar o
que ostente. evento.

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
Art. 82. O militar será agregado quando for afastado Art. 85. A agregação se faz por ato do Presidente da República ou
tempora-riamente do serviço ativo por motivo de: da autoridade à qual tenha sido delegada a devida competência.
I - ter sido julgado incapaz temporariamente, após 1 (um)
ano contínuo de tratamento; SEÇÃO II
II - haver ultrapassado 1 (um) ano contínuo em licença para Da Reversão
tratamento de saúde própria;
III - haver ultrapassado 6 (seis) meses contínuos em licença Art. 86. Reversão é o ato pelo qual o militar agregado retorna
para tratar de interesse particular ou em licença para acompanhar ao respectivo Corpo, Quadro, Arma ou Serviço tão logo cesse o
cônjuge ou companheiro(a); (Redação dada pela Lei nº 11.447, de motivo que determinou sua agregação, voltando a ocupar o lugar
2007) que lhe competir na respectiva escala numérica, na primeira vaga
IV - haver ultrapassado 6 (seis) meses contínuos em licença que ocorrer, observado o disposto no § 3° do artigo 100.
para tratar de saúde de pessoa da família; Parágrafo único. Em qualquer tempo poderá ser determinada
V - ter sido julgado incapaz definitivamente, enquanto a reversão do militar agregado nos casos previstos nos itens IX,
tramita o processo de reforma;
XII e XIII do artigo 82.
VI - ter sido considerado oficialmente extraviado;
VII - ter-se esgotado o prazo que caracteriza o crime de de- Art. 87. A reversão será efetuada mediante ato do Presidente
serção previsto no Código Penal Militar, se oficial ou praça com
estabilidade assegurada; da República ou da autoridade à qual tenha sido delegada a devida
VIII - como desertor, ter-se apresentado voluntariamente, ou competência.
ter sido capturado, e reincluído a fim de se ver processar;
IX - se ver processar, após ficar exclusivamente à disposição SEÇÃO III
da Justiça Comum; Do Excedente
X - ter sido condenado à pena restritiva de liberdade superior
a 6 (seis) meses, em sentença transitada em julgado, enquanto du- Art. 88. Excedente é a situação transitória a que, automatica-
rar a execução, excluído o período de sua suspensão condicional, mente, passa o militar que:
se concedida esta, ou até ser declarado indigno de pertencer às I - tendo cessado o motivo que determinou sua agregação,
Forças Armadas ou com elas incompatível; reverta ao respectivo Corpo, Quadro, Arma ou Serviço, estando
XI - ter sido condenado à pena de suspensão do exercício do qualquer destes com seu efetivo completo;
posto, graduação, cargo ou função prevista no Código Penal II - aguarda a colocação a que faz jus na escala hierárquica,
Militar; após haver sido transferido de Corpo ou Quadro, estando os mes-
XII - ter passado à disposição de Ministério Civil, de órgão mos com seu efetivo completo;
do Governo Federal, de Governo Estadual, de Território ou III - é promovido por bravura, sem haver
Distrito Federal, para exercer função de natureza civil; vaga; IV - é promovido indevidamente;
XIII - ter sido nomeado para qualquer cargo público civil V - sendo o mais moderno da respectiva escala hierárquica,
temporário, não-eletivo, inclusive da administração indireta; e ultrapasse o efetivo de seu Corpo, Quadro, Arma ou Serviço, em
XIV - ter-se candidatado a cargo eletivo, desde que conte 5 virtude de promoção de outro militar em ressarcimento de prete-
(cinco) ou mais anos de serviço. rição; e
§ 1° A agregação de militar nos casos dos itens I, II, III e IV VI - tendo cessado o motivo que determinou sua reforma por
é contada a partir do primeiro dia após os respectivos prazos e incapacidade definitiva, retorne ao respectivo Corpo, Quadro,
enquanto durar o evento. Arma ou Serviço, estando qualquer destes com seu efetivo com-
§ 2º A agregação de militar nos casos dos itens V, VI, VII, pleto.
VIII, IX, X e XI é contada a partir da data indicada no ato que § 1º O militar cuja situação é a de excedente, salvo o indevi-
tornar público o respectivo evento. damente promovido, ocupa a mesma posição relativa, em antigui-
§ 3º A agregação de militar nos casos dos itens XII e XIII dade, que lhe cabe na escala hierárquica e receberá o número que
é contada a partir da data de posse no novo cargo até o regresso à
lhe competir, em consequência da primeira vaga que se verificar,
Força Armada a que pertence ou transferência ex officio para a
reserva. observado o disposto no § 3º do artigo 100.
§ 2º O militar, cuja situação é de excedente, é considerado,
§ 4º A agregação de militar no caso do item XIV é contada a
para todos os efeitos, como em efetivo serviço e concorre, respei-
partir da data do registro como candidato até sua diplomação ou
tados os requisitos legais, em igualdade de condições e sem nenhu-
seu regresso à Força Armada a que pertence, se não houver sido
ma restrição, a qualquer cargo militar, bem como à promoção e à
eleito.
quota compulsória.
Art. 83. O militar agregado fica sujeito às obrigações discipli- § 3º O militar promovido por bravura sem haver vaga ocupa-
nares concernentes às suas relações com outros militares e autori- rá a primeira vaga aberta, observado o disposto no § 3º do artigo
dades civis, salvo quando titular de cargo que lhe dê precedência 100, deslocando o critério de promoção a ser seguido para a vaga
funcional sobre outros militares mais graduados ou mais antigos. seguinte.
§ 4º O militar promovido indevidamente só contará antigui-
Art. 84. O militar agregado ficará adido, para efeito de altera- dade e receberá o número que lhe competir na escala hierárquica
ções e remuneração, à organização militar que lhe for designada, quando a vaga que deverá preencher corresponder ao critério pelo
continuando a figurar no respectivo registro, sem número, no qual deveria ter sido promovido, desde que satisfaça aos requisitos
lugar que até então ocupava. para promoção.

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
SEÇÃO IV § 1º O militar excluído do serviço ativo e desligado da orga-
Do Ausente e do Desertor nização a que estiver vinculado passará a integrar a reserva das
Forças Armadas, exceto se incidir em qualquer dos itens II, IV, VI,
Art. 89. É considerado ausente o militar que, por mais de 24 VIII, IX, X e XI deste artigo ou for licenciado, ex officio , a bem
(vinte e quatro) horas consecutivas: da disciplina.
I - deixar de comparecer à sua organização militar sem § 2º Os atos referentes às situações de que trata o presente
comu-nicar qualquer motivo de impedimento; e artigo são da alçada do Presidente da República, ou da autoridade
II - ausentar-se, sem licença, da organização militar onde competente para realizá-los, por delegação.
ser-ve ou local onde deve permanecer.
Parágrafo único. Decorrido o prazo mencionado neste artigo, Art. 95. O militar na ativa, enquadrado em um dos itens I, II,
serão observadas as formalidades previstas em legislação especí- V e VII do artigo anterior, ou demissionário a pedido, continuará
fica. no exercício de suas funções até ser desligado da organização
militar em que serve.
Art. 90. O militar é considerado desertor nos casos previstos § 1º O desligamento do militar da organização em que serve
na legislação penal militar. deverá ser feito após a publicação em Diário Oficial , em Boletim
ou em Ordem de Serviço de sua organização militar, do ato oficial
SEÇÃO V correspondente, e não poderá exceder 45 (quarenta e cinco) dias
Do Desaparecido e do Extraviado da data da primeira publicação oficial.
§ 2º Ultrapassado o prazo a que se refere o parágrafo anterior,
Art. 91. É considerado desaparecido o militar na ativa que, no o militar será considerado desligado da organização a que estiver
desempenho de qualquer serviço, em viagem, em campanha ou em vinculado, deixando de contar tempo de serviço, para fins de trans-
caso de calamidade pública, tiver paradeiro ignorado por mais de ferência para a inatividade.
8 (oito) dias.
Parágrafo único. A situação de desaparecimento só será con- SEÇÃO II
siderada quando não houver indício de deserção. Da Transferência para a Reserva Remunerada

Art. 92. O militar que, na forma do artigo anterior, permanecer Art. 96. A passagem do militar à situação de inatividade, me-
desaparecido por mais de 30 (trinta) dias, ser oficialmente consi- diante transferência para a reserva remunerada, se efetua:
derado extraviado. I - a pedido; e
II - ex officio .
SEÇÃO VI Parágrafo único. A transferência do militar para a reserva
Do Comissionado remunerada pode ser suspensa na vigência do estado de guerra,
estado de sítio, estado de emergência ou em caso de mobilização.
Art. 93. Após a declaração de estado de guerra, os militares em
serviço ativo poderão ser comissionados, temporariamente, em postos Art. 97. A transferência para a reserva remunerada, a pedido,
ou graduações superiores aos que efetivamente possuírem. será concedida mediante requerimento, ao militar que contar, no
Parágrafo único. O comissionamento de que trata este artigo mínimo, 30 (trinta) anos de serviço.
será regulado em legislação específica. § 1º O oficial da ativa pode pleitear transferência para a re-
serva remunerada mediante inclusão voluntária na quota compul-
CAPÍTULO II sória.
Da Exclusão do Serviço Ativo § 2º No caso de o militar haver realizado qualquer curso ou
estágio de duração superior a 6 ( seis ) meses, por conta da União, no
SEÇÃO I estrangeiro, sem haver decorrido 3 (três) anos de seu término, a
Da Ocorrência transferência para a reserva só será concedida mediante indeniza-ção
de todas as despesas correspondentes à realização do referido curso ou
Art. 94. A exclusão do serviço ativo das Forças Armadas e o estágio, inclusive as diferenças de vencimentos. O cál-culo da
consequente desligamento da organização a que estiver vinculado indenização será efetuado pelos respectivos Ministérios.
o militar decorrem dos seguintes motivos: (Vide Decreto nº 2.790, § 3º O disposto no parágrafo anterior não se aplica aos ofi-
de 1998) ciais que deixem de ser incluídos em Lista de Escolha, quando nela
I - transferência para a reserva remunerada; tenha entrado oficial mais moderno do seu respectivo Corpo,
II - reforma; Quadro, Arma ou Serviço.
III - demissão; § 4º Não será concedida transferência para a reserva
IV - perda de posto e patente; remune-rada, a pedido, ao militar que:
V - licenciamento; a) estiver respondendo a inquérito ou processo em qualquer
VI - anulação de incorporação; jurisdição; e
VII - desincorporação; b) estiver cumprindo pena de qualquer natureza.
VIII - a bem da disciplina;
IX - deserção; Art. 98. A transferência para a reserva remunerada, ex officio
X - falecimento; e , verificar-se-á sempre que o militar incidir em um dos seguintes
XI - extravio. casos:

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
I - atingir as seguintes idades-limite: (Redação dada pela Lei nº 7.503, de 1986)
a) na Marinha, no Exército e na Aeronáutica, para os Oficiais dos Corpos, Quadros, Armas e Serviços não incluídos na alínea b; (Re-
dação dada pela Lei nº 7.666, de 1988)

Postos Idades
Almirante-de-Esquadra, General-de-Exéreito e Tenente-Brigadeiro 66 anos
Vice-Almirante, General-de-Divisão e Major-Brigadeiro 64 anos
Contra-Almirante, General-de-Brigada e Brigadeiro 62 anos
Capitão-de-Mar-e-Guerra e Coronel 59 anos
Capitão-de-Fragata e Tenente-Coronel 56 anos
Capitão-de-Corveta e Major 52 anos
Capitão-Tenente ou Capitão e Oficiais Subalternos 48 anos
(Redação dada pela Lei nº 7.503, de 1986)

b) na Marinha, para os Oficiais do Quadro de Cirurgiões-Dentistas (CD) e do Quadro de Apoio à Saúde (S), componentes do Corpo de Saúde
da Marinha e do Quadro Técnico (T), do Quadro Auxiliar da Armada (AA) e do Quadro Auxiliar de Fuzileiros Navais (AFN), componentes do
Corpo Auxiliar da Marinha; no Exército, para os Oficiais do Quadro Complementar de Oficiais (QCO), do Quadro Auxiliar de Oficiais (QAO), do
Quadro de Oficiais Médicos (QOM), do Quadro de Oficiais Farmacêuticos (QOF), e do Quadro de Oficiais Dentistas (QOD); na Aeronáutica, para
os Oficiais do Quadro de Oficiais Médicos (QOMed), do Quadro de Oficiais Farmacêuticos (QOFarm), do Quadro de Oficiais Dentistas (QODent),
do Quadro de Oficiais de Infantaria da Aeronáutica (QOInf), dos Quadros de Oficiais Especialistas em Aviões (QOEAv), em Comunicações
(QOECom), em Armamento (QOEArm), em Fotografia (QOEFot), em Meteorologia (QOEMet), em Controle de Tráfego Aéreo (QOECTA), em
Suprimento Técnico (QOESup) e do Quadro de Oficiais Especialistas da Aeronáutica
(QOEA): (Redação dada pela Lei nº 10.416, de 27.3.2002)

Postos Idades
Capitão-de-Mar-e-Guerra e Corone 62 anos
Capitão-de-Fragata e Tenente-Corone 60 anos
Capitão-de-Corveta e Major 58 anos
Capitão-Tenente e Capitão 56 anos
Primeiro Tenente 56 anos
Segundo-Tenente 56 anos

c) na Marinha, no Exército e na Aeronáutica, para Praças: (Redação dada pela Lei nº 7.666, de 1988)
Graduação Idades
Suboficial e Subtenente 54 anos
Primeiro-Sargento e Taifeiro-Mor 52 anos
Segundo-Sargento e Taifeiro-de-Primeira-Classe 50 anos

Graduação Idades
Terceiro-Sargento 49 anos
Cabo e Taifeiro-de-Segunda-Classe 48 anos
Marinheiro, Soldado e Soldado-de-Primeira-Classe 44 anos

II - completar o Oficial-General 4 (quatro) anos no último posto da hierarquia, em tempo de paz, prevista para cada Corpo ou Quadro
da respectiva Força. (Redação dada pela Lei nº 7.659, de 1988)
III - completar os seguintes tempos de serviço como Oficial-General:
a) nos Corpos ou Quadros que possuírem até o posto de Almirante-de-Esquadra, General-de-Exército e Tenente-Brigadeiro, 12
(doze) anos;
b) nos Corpos ou Quadros que possuírem até o posto de Vice-Almirante, General-de-Divisão e Major-Brigadeiro, 8 (oito) anos; e c) nos
Corpos ou Quadros que possuírem apenas o posto de Contra-Almirante, General-de-Brigada e Brigadeiro, 4 (quatro) anos;

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
IV - ultrapassar o oficial 5 (cinco) anos de permanência no b) somente poderá ser promovido por antiguidade; e
último posto da hierarquia de paz de seu Corpo, Quadro, Arma ou c) o tempo de serviço é contado apenas para aquela
Serviço; para o Capitão-de-Mar-e-Guerra ou Coronel esse prazo promoção e para a transferência para a inatividade.
será acrescido de 4 (quatro) anos se, ao completar os primeiros 5 § 5º Entende-se como Lista de Escolha aquela que como tal
(cinco) anos no posto, já possuir o curso exigido para a promoção for definida na lei que dispõe sobre as promoções dos oficiais da
ao primeiro posto de oficial-general, ou nele estiver matriculado e ativa das Forças Armadas.
vier a concluí-lo com aproveitamento;
V - for o oficial abrangido pela quota compulsória; Art. 99. A quota compulsória, a que se refere o item V do
VI - for a praça abrangida pela quota compulsória, na forma artigo anterior, é destinada a assegurar a renovação, o equilíbrio, a
regulada em decreto, para cada Força Singular; regularidade de acesso e a adequação dos efetivos de cada Força
VII - for o oficial considerado não-habilitado para o acesso Singular.
em caráter definitivo, no momento em que vier a ser objeto de
apreciação para ingresso em Quadro de Acesso ou Lista de Esco- Art. 100. Para assegurar o número fixado de vagas à promoção
lha; na forma estabelecida no artigo 61, quando este número não tenha
VIII - deixar o Oficial-General, o Capitão-de-Mar-e-Guerra sido alcançado com as vagas ocorridas durante o ano considerado
ou o Coronel de integrar a Lista de Escolha a ser apresentada ao ano-base, aplicar-se-á a quota compulsória a que se refere o artigo
Presidente da República, pelo número de vezes fixado pela Lei de anterior.
Promoções de Oficiais da Ativa das Forças Armadas, quando na § 1º A quota compulsória é calculada deduzindo-se das
referida Lista de Escolha tenha entrado oficial mais moderno do vagas fixadas para o ano-base para um determinado posto:
seu respectivo Corpo, Quadro, Arma ou Serviço; a) as vagas fixadas para o posto imediatamente superior no
IX - for o Capitão-de-Mar-e-Guerra ou o Coronel, inabilita- referido ano-base; e
do para o acesso, por estar definitivamente impedido de realizar o b) as vagas havidas durante o ano-base e abertas a partir de 1º
curso exigido, ultrapassado 2 (duas) vezes, consecutivas ou não, (primeiro) de janeiro até 31 (trinta e um) de dezembro, inclusive.
por oficial mais moderno do respectivo Corpo, Quadro, Arma ou § 2º Não estarão enquadradas na letra b do parágrafo
Serviço, que tenha sido incluído em Lista de Escolha; anterior as vagas que:
X - na Marinha e na Aeronáutica, deixar o oficial do penúl- a) resultarem da fixação de quota compulsória para o ano
timo posto de Quadro, cujo último posto seja de oficial superior, an-terior ao base; e
de ingressar em Quadro de Acesso por Merecimento pelo número b) abertas durante o ano-base, tiverem sido preenchidas por
de vezes fixado pela Lei de Promoções de Oficiais da Ativa das oficiais excedentes nos Corpos, Quadros, Armas ou Serviços ou
Forças Armadas, quando nele tenha entrado oficial mais moderno que a eles houverem revertido em virtude de terem cessado as cau-
do respectivo Quadro; sas que deram motivo à agregação, observado o disposto no § 3º
XI - ingressar o oficial no Magistério Militar, se assim o de-
deste artigo.
terminar a legislação específica;
§ 3º As vagas decorrentes da aplicação direta da quota com-
XII - ultrapassar 2 (dois) anos, contínuos ou não, em licença
pulsória e as resultantes das promoções efetivadas nos diversos
para tratar de interesse particular;
postos, em face daquela aplicação inicial, não serão preenchidas
XIII - ultrapassar 2 (dois) anos contínuos em licença para
por oficiais excedentes ou agregados que reverterem em virtude de
tratamento de saúde de pessoa de sua família;
haverem cessado as causas da agregação.
XIV - (Revogado pela Lei nº 9.297, de 1996);
XV - ultrapassar 2 (dois) anos de afastamento, contínuos ou § 4º As quotas compulsórias só serão aplicadas quando hou-
não, agregado em virtude de ter passado a exercer cargo ou empre- ver, no posto imediatamente abaixo, oficiais que satisfaçam às
go público civil temporário, não-eletivo, inclusive da administra- condições de acesso.
ção indireta; e
XVI - ser diplomado em cargo eletivo, na forma da letra b , Art.. 101. A indicação dos oficiais para integrarem a quota
do parágrafo único, do artigo 52. compulsória obedecerá às seguintes prescrições:
§ 1º A transferência para a reserva processar-se-á quando o I - inicialmente serão apreciados os requerimentos apresenta-
militar for enquadrado em um dos itens deste artigo, salvo quanto dos pelos oficiais da ativa que, contando mais de 20 (vinte) anos
ao item V, caso em que será processada na primeira quinzena de de tempo de efetivo serviço, requererem sua inclusão na quota
março. com-pulsória, dando-se atendimento, por prioridade em cada
§ 2° (Revogado pela Lei nº 9.297, de 1996) posto, aos mais idosos; e
§ 3° A nomeação ou admissão do militar para os cargos ou II - se o número de oficiais voluntários na forma do item I não
empregos públicos de que trata o inciso XV deste artigo somente atingir o total de vagas da quota fixada em cada posto, esse total
poderá ser feita se: (Redação dada pela Lei nº 9.297, de 1996) será completado, ex officio , pelos oficiais que:
a) oficial, pelo Presidente da República ou mediante sua auto- a) contarem, no mínimo, como tempo de efetivo serviço:
rização quando a nomeação ou admissão for da alçada de qualquer 1 - 30 (trinta) anos, se Oficial-General;
outra autoridade federal, estadual ou municipal; e 2 - 28 (vinte e oito) anos, se Capitão-de-Mar-e-Guerra ou
b) praça, mediante autorização do respectivo Ministro. Coronel;
§ 4º Enquanto o militar permanecer no cargo ou emprego de 3 - 25 (vinte e cinco) anos, se Capitão-de-Fragata ou
que trata o item XV: Tenente-Coronel; e
a) é-lhe assegurada a opção entre a remuneração do cargo ou
emprego e a do posto ou da graduação;

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
4 - 20 (vinte) anos, de Capitão-de-Corveta ou Major. § 1º Para aplicação da quota compulsória na forma deste ar-
b) possuírem interstício para promoção, quando for o caso; tigo, o Poder Executivo fixará percentual calculado sobre os efeti-
c) estiverem compreendidos nos limites quantitativos de anti- vos de oficiais não-remunerados existentes em cada Corpo, Qua-
guidade que definem a faixa dos que concorrem à constituição dos dro, Arma ou Serviço, em 31 de dezembro de cada ano.
Quadros de Acesso por Antiguidade, Merecimento ou Escolha; § 2º A indicação de oficiais não-numerados para integrarem
d) ainda que não concorrendo à constituição dos Quadros de a quota compulsória, os quais deverão ter, no mínimo, 28 (vinte e
Acesso por Escolha, estiverem compreendidos nos limites quanti- oito) anos de efetivo serviço, obedecerá às seguintes prioridades:
tativos de antiguidade estabelecidos para a organização dos refe- 1ª) os que requererem sua inclusão na quota compulsória; 2ª) os
ridos Quadros; e de menor merecimento a ser apreciado pelo órgão com-
e) satisfizerem as condições das letras a , b , c e d, na petente da Marinha, do Exército e da Aeronáutica; em igualdade
seguinte ordem de prioridade: de merecimento, os de mais idade e, em caso de mesma idade, os
1ª) não possuírem as condições regulamentares para a promo- mais modernos; e
ção, ressalvada a incapacidade física até 6 (seis) meses contínuos ou 3ª) forem os de mais idade e, no caso de mesma idade, os
12 (doze) meses descontínuos; dentre eles os de menor mere-cimento mais modernos.
a ser apreciado pelo órgão competente da Marinha, do Exército e da § 3º Observar-se-ão na aplicação da quota compulsória, refe-
Aeronáutica; em igualdade de merecimento, os de mais idade e, em rida no parágrafo anterior, as disposições estabelecidas no artigo
caso de mesma idade, os mais modernos; 102.
2ª) deixarem de integrar os Quadros de Acesso por Mereci-
mento ou Lista de Escolha, pelo maior número de vezes no posto, SEÇÃO III
quando neles tenha entrado oficial mais moderno; em igualdade de Da Reforma
condições, os de menor merecimento a ser apreciado pelo órgão
competente da Marinha, do Exército e da Aeronáutica; em igualda- Art. 104. A passagem do militar à situação de inatividade,
de de merecimento, os de mais idade e, em caso de mesma idade, me-diante reforma, se efetua:
os mais modernos; e I - a pedido; e
3ª) forem os de mais idade e, no caso da mesma idade, os II - ex officio .
mais modernos.
§ 1º Aos oficiais excedentes, aos agregados e aos não-nume- Art.. 105. A reforma a pedido, exclusivamente aplicada aos
rados em virtude de lei especial aplicam-se as disposições deste membros do Magistério Militar; se o dispuser a legislação especí-
artigo e os que forem relacionados para a compulsória serão trans- fica da respectiva Força, somente poderá ser concedida àquele que
feridos para a reserva juntamente com os demais componentes da contar mais de 30 (trinta) anos de serviço, dos quais 10 (dez), no
quota, não sendo computados, entretanto, no total das vagas fixa- mínimo, de tempo de Magistério Militar.
das.
§ 2º Nos Corpos, Quadros, Armas ou Serviços, nos quais não Art.. 106. A reforma ex officio será aplicada ao militar que:
haja posto de Oficial-General, só poderão ser atingidos pela quota I - atingir as seguintes idades-limite de permanência na re-
compulsória os oficiais do último posto da hierarquia que tiverem, no serva:
mínimo, 28 (vinte e oito) anos de tempo de efetivo serviço e os oficiais a) para Oficial-General, 68 (sessenta e oito) anos;
dos penúltimo e antepenúltimo postos que tiverem, no mínimo, 25 b) para Oficial Superior, inclusive membros do Magistério
(vinte e cinco) anos de tempo de efetivo serviço. Militar, 64 (sessenta e quatro) anos;
§ 3º Computar-se-á, para os fins de aplicação da quota com- c) para Capitão-Tenente, Capitão e oficial subalterno, 60
pulsória, no caso previsto no item II, letra a , número 1, como de (ses-senta) anos; e
efetivo serviço, o acréscimo a que se refere o item II do artigo 137. d) para Praças, 56 (cinquenta e seis) anos.
II - for julgado incapaz, definitivamente, para o serviço ativo
Art. 102. O órgão competente da Marinha, do Exército e da das Forças Armadas;
Aeronáutica organizará, até o dia 31 (trinta e um) de janeiro de III - estiver agregado por mais de 2 (dois) anos por ter sido
cada ano, a lista dos oficiais destinados a integrarem a quota com- julgado incapaz, temporariamente, mediante homologação de Jun-
pulsória, na forma do artigo anterior. ta Superior de Saúde, ainda que se trate de moléstia curável;
§ 1º Os oficiais indicados para integrarem a quota compulsó- IV - for condenado à pena de reforma prevista no Código
ria anual serão notificados imediatamente e terão, para apresentar Penal Militar, por sentença transitada em julgado;
recursos contra essa medida, o prazo previsto na letra a , do § 1º, V - sendo oficial, a tiver determinada em julgado do Superior
do artigo 51. Tribunal Militar, efetuado em consequência de Conselho de Justi-
§ 2º Não serão relacionados para integrarem a quota compul- ficação a que foi submetido; e
sória os oficiais que estiverem agregados por terem sido declara- VI - sendo Guarda-Marinha, Aspirante-a-Oficial ou praça
dos extraviados ou desertores. com estabilidade assegurada, for para tal indicado, ao Ministro
respectivo, em julgamento de Conselho de Disciplina.
Art. 103. Para assegurar a adequação dos efetivos à necessi-dade Parágrafo único. O militar reformado na forma do item V ou
de cada Corpo, Quadro, Arma ou Serviço, o Poder Executivo poderá VI só poderá readquirir a situação militar anterior:
aplicar também a quota compulsória aos Capitães-de-Mar -e-Guerra e a) no caso do item V, por outra sentença do Superior
Coronéis não-numerados, por não possuírem o curso exigido para Tribunal Militar e nas condições nela estabelecidas; e
ascender ao primeiro posto de Oficial-General. b) no caso do item VI, por decisão do Ministro respectivo.

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
Art. 107. Anualmente, no mês de fevereiro, o órgão compe- b) o de Segundo-Tenente, para Primeiro-Sargento, Segundo-
tente da Marinha, do Exército e da Aeronáutica organizará a rela- Sargento e Terceiro-Sargento; e
ção dos militares, inclusive membros do Magistério Militar, que c) o de Terceiro-Sargento, para Cabo e demais praças cons-
houverem atingido a idade-limite de permanência na reserva, a fim tantes do Quadro a que se refere o artigo 16.
de serem reformados. § 3º Aos benefícios previstos neste artigo e seus parágrafos
Parágrafo único. A situação de inatividade do militar da reser- poderão ser acrescidos outros relativos à remuneração, estabele-
va remunerada, quando reformado por limite de idade, não sofre cidos em leis especiais, desde que o militar, ao ser reformado, já
solução de continuidade, exceto quanto às condições de mobili- satisfaça às condições por elas exigidas.
zação. § 4º (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de
31.8.2001)
Art. 108. A incapacidade definitiva pode sobrevir em conse- § 5º (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de
quência de: 31.8.2001)
I - ferimento recebido em campanha ou na manutenção da
ordem pública; Art. 111. O militar da ativa julgado incapaz definitivamente
II - enfermidade contraída em campanha ou na manutenção por um dos motivos constantes do item VI do artigo 108 será re-
da ordem pública, ou enfermidade cuja causa eficiente decorra de formado:
uma dessas situações; I - com remuneração proporcional ao tempo de serviço, se
III - acidente em serviço; oficial ou praça com estabilidade assegurada; e
IV - doença, moléstia ou enfermidade adquirida em tempo de II - com remuneração calculada com base no soldo integral
paz, com relação de causa e efeito a condições inerentes ao serviço; do posto ou graduação, desde que, com qualquer tempo de serviço,
V - tuberculose ativa, alienação mental, esclerose múltipla, seja considerado inválido, isto é, impossibilitado total e permanen-
neoplasia maligna, cegueira, lepra, paralisia irreversível e inca- temente para qualquer trabalho.
pacitante, cardiopatia grave, mal de Parkinson, pênfigo, espondi-
loartrose anquilosante, nefropatia grave e outras moléstias que a Art. 112. O militar reformado por incapacidade definitiva que
lei indicar com base nas conclusões da medicina especializada; e for julgado apto em inspeção de saúde por junta superior, em grau
(Redação dada pela Lei nº 12.670, de 2012) de recurso ou revisão, poderá retornar ao serviço ativo ou ser trans-
VI - acidente ou doença, moléstia ou enfermidade, sem rela- ferido para a reserva remunerada, conforme dispuser regulamen-
ção de causa e efeito com o serviço. tação específica.
§ 1º Os casos de que tratam os itens I, II, III e IV serão pro- § 1º O retorno ao serviço ativo ocorrerá se o tempo decorrido
vados por atestado de origem, inquérito sanitário de origem ou fi- na situação de reformado não ultrapassar 2 (dois) anos e na forma
cha de evacuação, sendo os termos do acidente, baixa ao hospital, do disposto no § 1º do artigo 88.
papeleta de tratamento nas enfermarias e hospitais, e os registros § 2º A transferência para a reserva remunerada, observado o
de baixa utilizados como meios subsidiários para esclarecer a si- limite de idade para a permanência nessa reserva, ocorrerá se o
tuação. tempo transcorrido na situação de reformado ultrapassar 2 (dois)
§ 2º Os militares julgados incapazes por um dos motivos anos.
constantes do item V deste artigo somente poderão ser reformados
após a homologação, por Junta Superior de Saúde, da inspeção de Art.. 113. A interdição judicial do militar reformado por alie-
saúde que concluiu pela incapacidade definitiva, obedecida à nação mental deverá ser providenciada junto ao Ministério Públi-
regulamentação específica de cada Força Singular. co, por iniciativa de beneficiários, parentes ou responsáveis, até 60
(sessenta) dias a contar da data do ato da reforma.
Art. 109. O militar da ativa julgado incapaz definitivamente § 1º A interdição judicial do militar e seu internamento em
por um dos motivos constantes dos itens I, II, III, IV e V do artigo instituição apropriada, militar ou não, deverão ser providenciados
anterior será reformado com qualquer tempo de serviço. pelo Ministério Militar, sob cuja responsabilidade houver sido pre-
parado o processo de reforma, quando:
Art. 110. O militar da ativa ou da reserva remunerada, julgado a) não existirem beneficiários, parentes ou responsáveis, ou
incapaz definitivamente por um dos motivos constantes dos inci- estes não promoverem a interdição conforme previsto no parágra-
sos I e II do art. 108, será reformado com a remuneração calculada fo anterior; ou
com base no soldo correspondente ao grau hierárquico imediato ao b) não forem satisfeitas às condições de tratamento exigidas
que possuir ou que possuía na ativa, respectivamente. (Redação neste artigo.
dada pela Lei nº 7.580, de 1986) § 2º Os processos e os atos de registro de interdição do mili-
§ 1º Aplica-se o disposto neste artigo aos casos previstos nos tar terão andamento sumário, serão instruídos com laudo proferido
itens III, IV e V do artigo 108, quando, verificada a incapacidade por Junta Militar de Saúde e isentos de custas.
definitiva, for o militar considerado inválido, isto é, impossibilita- § 3º O militar reformado por alienação mental, enquanto não
do total e permanentemente para qualquer trabalho. ocorrer a designação judicial do curador, terá sua remunera-
§ 2º Considera-se, para efeito deste artigo, grau hierárquico ção paga aos seus beneficiários, desde que estes o tenham sob sua
imediato: guarda e responsabilidade e lhe dispensem tratamento humano e
a) o de Primeiro-Tenente, para Guarda-Marinha, Aspirante-a condigno.
-Oficial e Suboficial ou Subtenente;

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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
Art. 114. Para fins de passagem à situação de inatividade, me- Art. 117. O oficial da ativa que passar a exercer cargo ou
diante reforma ex officio , as praças especiais, constantes do Qua- emprego público permanente, estranho à sua carreira, será ime-
dro a que se refere o artigo 16, são consideradas como: diatamente demitido ex officio e transferido para a reserva não
I - Segundo-Tenente: os Guardas-Marinha, Aspirantes-a-O- remunerada, onde ingressará com o posto que possuía na ativa e
ficial; com as obrigações estabelecidas na legislação do serviço militar,
II - Guarda-Marinha ou Aspirante-a-Oficial: os Aspirantes, os obedecidos os preceitos do art. 116 no que se refere às indeniza-
Cadetes, os alunos da Escola de Oficiais Especialistas da Aeronáu- ções. (Redação dada pela Lei nº 9.297, de 1996)
tica, conforme o caso específico;
III - Segundo-Sargento: os alunos do Colégio Naval, da Es- SEÇÃO V
cola Preparatória de Cadetes do Exército e da Escola Preparatória Da Perda do Posto e da Patente
de Cadetes-do-Ar;
IV - Terceiro-Sargento: os alunos de órgão de formação de Art. 118. O oficial perderá o posto e a patente se for decla-
oficiais da reserva e de escola ou centro de formação de sargentos; rado indigno do oficialato, ou com ele incompatível, por decisão
e do Superior Tribunal Militar, em tempo de paz, ou de Tribunal
V - Cabos: os Aprendizes-Marinheiros e os demais alunos Especial, em tempo de guerra, em decorrência de julgamento a que
de órgãos de formação de praças, da ativa e da reserva. for submetido.
Parágrafo único. O disposto nos itens II, III e IV é aplicável Parágrafo único. O oficial declarado indigno do oficialato, ou
com ele incompatível, e condenado à perda de posto e patente só
às praças especiais em qualquer ano escolar.
poderá readquirir a situação militar anterior por outra sentença dos
SEÇÃO IV tribunais referidos neste artigo e nas condições nela estabelecidas.
Da Demissão
Art. 119. O oficial que houver perdido o posto e a patente será
Art. 115. A demissão das Forças Armadas, aplicada demitido ex officio sem direito a qualquer remuneração ou
exclusiva-mente aos oficiais, se efetua: indenização e receberá a certidão de situação militar prevista na
I - a pedido; e legislação que trata do serviço militar.
II - ex officio.
Art. 120. Ficará sujeito à declaração de indignidade para o
oficialato, ou de incompatibilidade com o mesmo, o oficial que:
Art.. 116 A demissão a pedido será concedida mediante reque-
I - for condenado, por tribunal civil ou militar, em sentença
rimento do interessado:
transitada em julgado, à pena restritiva de liberdade individual su-
I - sem indenização aos cofres públicos, quando contar mais
perior a 2 (dois) anos;
de 5 (cinco) anos de oficialato, ressalvado o disposto no § 1º deste II - for condenado, em sentença transitada em julgado, por
artigo; e crimes para os quais o Código Penal Militar comina essas penas
II - com indenização das despesas feitas pela União, com a acessórias e por crimes previstos na legislação especial concernen-
sua preparação e formação, quando contar menos de 5 (cinco) anos te à segurança do Estado;
de oficialato. III - incidir nos casos, previstos em lei específica, que moti-
§ 1º A demissão a pedido só será concedida mediante a inde- vam o julgamento por Conselho de Justificação e neste for consi-
nização de todas as despesas correspondentes, acrescidas, se for o derado culpado; e
caso, das previstas no item II, quando o oficial tiver realizado IV - houver perdido a nacionalidade brasileira.
qualquer curso ou estágio, no País ou no exterior, e não tenham
decorrido os seguintes prazos: SEÇÃO VI
a) 2 (dois) anos, para curso ou estágio de duração igual ou Do Licenciamento
superior a 2 (dois) meses e inferior a 6 (seis) meses;
b) 3 (três) anos, para curso ou estágio de duração igual ou Art. 121. O licenciamento do serviço ativo se efetua:
superior a 6 (seis) meses e igual ou inferior a 18 (dezoito) meses; I - a pedido; e
c) 5 (cinco) anos, para curso ou estágio de duração superior a II - ex officio .
18 (dezoito) meses. § 1º O licenciamento a pedido poderá ser concedido, desde
§ 2º O cálculo das indenizações a que se referem o item II e que não haja prejuízo para o serviço:
o parágrafo anterior será efetuado pelos respectivos Ministérios. a) ao oficial da reserva convocado, após prestação do
§ 3º O oficial demissionário, a pedido, ingressará na reserva, serviço ativo durante 6 (seis) meses; e
onde permanecerá sem direito a qualquer remuneração. O ingresso na b) à praça engajada ou reengajada, desde que conte, no míni-
reserva será no mesmo posto que tinha no serviço ativo e sua situação, mo, a metade do tempo de serviço a que se obrigou.
inclusive promoções, será regulada pelo Regulamento do § 2º A praça com estabilidade assegurada, quando licenciada
Corpo de Oficiais da Reserva da respectiva Força. para fins de matrícula em Estabelecimento de Ensino de Formação ou
§ 4º O direito à demissão a pedido pode ser suspenso na vi- Preparatório de outra Força Singular ou Auxiliar, caso não con-clua o
gência de estado de guerra, estado de emergência, estado de sítio curso onde foi matriculada, poderá ser reincluída na Força de origem,
ou em caso de mobilização. mediante requerimento ao respectivo Ministro.
§ 3º O licenciamento ex officio será feito na forma da legisla-
ção que trata do serviço militar e dos regulamentos específicos de
cada Força Armada:

17
LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
a) por conclusão de tempo de serviço ou de estágio; Art. 126. É da competência dos Ministros das Forças Singula-
b) por conveniência do serviço; e res, ou autoridades às quais tenha sido delegada competência para
c) a bem da disciplina. isso, o ato de exclusão a bem da disciplina do Guarda-Marinha e
§ 4º O militar licenciado não tem direito a qualquer remune- do Aspirante-a-Oficial, bem como das praças com estabilidade
ração e, exceto o licenciado ex officio a bem da disciplina, deve ser assegurada.
incluído ou reincluído na reserva.
§ 5° O licenciado ex officio a bem da disciplina receberá o Art. 127. A exclusão da praça a bem da disciplina acarreta a
certificado de isenção do serviço militar, previsto na legislação que perda de seu grau hierárquico e não a isenta das indenizações dos
trata do serviço militar. prejuízos causados à Fazenda Nacional ou a terceiros, nem das
pensões decorrentes de sentença judicial.
Art. 122. O Guarda-Marinha, o Aspirante-a-Oficial e as de- Parágrafo único. A praça excluída a bem da disciplina recebe-
mais praças empossados em cargos ou emprego público perma- rá o certificado de isenção do serviço militar previsto na legislação
nente, estranho à sua carreira, serão imediatamente, mediante que trata do serviço militar, sem direito a qualquer remuneração ou
licenciamento ex officio, transferidos para a reserva não remune- indenização.
rada, com as obrigações estabelecidas na legislação do serviço mi-
litar. (Redação dada pela Lei nº 9.297, de 1996) SEÇÃO IX
Da Deserção
Art. 123. O licenciamento poderá ser suspenso na vigência de
estado de guerra, estado de emergência, estado de sítio ou em caso Art. 128. A deserção do militar acarreta interrupção do serviço
militar, com a consequente demissão ex officio para o oficial, ou a
de mobilização.
exclusão do serviço ativo, para a praça.
SEÇÃO VII § 1º A demissão do oficial ou a exclusão da praça com estabi-
Da Anulação de Incorporação e da Desincorporação da Praça lidade assegurada processar-se-á após 1 (um) ano de agregação, se não
houver captura ou apresentação voluntária antes desse prazo.
Art. 124. A anulação de incorporação e a desincorporação da § 2º A praça sem estabilidade assegurada será automatica-
mente excluída após oficialmente declarada desertora.
praça resultam na interrupção do serviço militar com a consequen-
§ 3º O militar desertor que for capturado ou que se apresen-
te exclusão do serviço ativo.
tar voluntariamente, depois de haver sido demitido ou excluído,
Parágrafo único. A legislação que trata do serviço militar
será reincluído no serviço ativo e, a seguir, agregado para se ver
estabelece os casos em que haverá anulação de incorporação ou processar.
desincorporação da praça. § 4º A reinclusão em definitivo do militar de que trata o
SEÇÃO VIII pará-grafo anterior dependerá de sentença de Conselho de Justiça.
Da Exclusão da Praça a Bem da Disciplina SEÇÃO X
Do Falecimento e do Extravio
Art. 125. A exclusão a bem da disciplina será aplicada ex of-
ficio ao Guarda-Marinha, ao Aspirante-a-Oficial ou às praças com Art. 129. O militar na ativa que vier a falecer será excluído do
estabilidade assegurada:
serviço ativo e desligado da organização a que estava vinculado, a
I - quando assim se pronunciar o Conselho Permanente de
partir da data da ocorrência do óbito.
Justiça, em tempo de paz, ou Tribunal Especial, em tempo de guer-
ra, ou Tribunal Civil após terem sido essas praças condenadas, em Art. 130. O extravio do militar na ativa acarreta interrupção
sentença transitada em julgado, à pena restritiva de liberdade in- do serviço militar, com o consequente afastamento temporário do
dividual superior a 2 (dois) anos ou, nos crimes previstos na le- serviço ativo, a partir da data em que o mesmo for oficialmente
gislação especial concernente à segurança do Estado, a pena de considerado extraviado.
qualquer duração; § 1º A exclusão do serviço ativo será feita 6 (seis) meses
II - quando assim se pronunciar o Conselho Permanente de após a agregação por motivo de extravio.
Justiça, em tempo de paz, ou Tribunal Especial, em tempo de guer- § 2º Em caso de naufrágio, sinistro aéreo, catástrofe, calami-
ra, por haverem perdido a nacionalidade brasileira; e dade pública ou outros acidentes oficialmente reconhecidos, o ex-
III - que incidirem nos casos que motivarem o julgamento travio ou o desaparecimento de militar da ativa será considerado,
pelo Conselho de Disciplina previsto no artigo 49 e nele forem para fins deste Estatuto, como falecimento, tão logo sejam esgo-
considerados culpados. tados os prazos máximos de possível sobrevivência ou quando se
Parágrafo único. O Guarda-Marinha, o Aspirante-a-Oficial ou a dêem por encerradas as providências de salvamento.
praça com estabilidade assegurada que houver sido excluído a bem
da disciplina só poderá readquirir a situação militar anterior: a) por Art. 131. O militar reaparecido será submetido a Conselho de
outra sentença do Conselho Permanente de Justiça, em tempo de paz, Justificação ou a Conselho de Disciplina, por decisão do Ministro
ou Tribunal Especial, em tempo de guerra, e nas condições nela da respectiva Força, se assim for julgado necessário.
estabelecidas, se a exclusão tiver sido consequên- Parágrafo único. O reaparecimento de militar extraviado, já
cia de sentença de um daqueles Tribunais; e excluído do serviço ativo, resultará em sua reinclusão e nova
b) por decisão do Ministro respectivo, se a exclusão foi con- agregação enquanto se apuram as causas que deram origem ao seu
sequência de ter sido julgado culpado em Conselho de Disciplina. afastamento.

18
LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
CAPÍTULO III § 2º Será, também, computado como tempo de efetivo serviço
Da Reabilitação o tempo passado dia a dia nas organizações militares, pelo militar
da reserva convocado ou mobilizado, no exercício de funções mi-
Art. 132. A reabilitação do militar será efetuada: litares.
I - de acordo com o Código Penal Militar e o Código de Pro- § 3º Não serão deduzidos do tempo de efetivo serviço, além
cesso Penal Militar, se tiver sido condenado, por sentença definiti- dos afastamentos previstos no artigo 65, os períodos em que o
va, a quaisquer penas previstas no Código Penal Militar; militar estiver afastado do exercício de suas funções em gozo de
II - de acordo com a legislação que trata do serviço militar, licença especial.
se tiver sido excluído ou licenciado a bem da disciplina. § 4º Ao tempo de efetivo serviço, de que trata este artigo,
Parágrafo único. Nos casos em que a condenação do militar apurado e totalizado em dias, será aplicado o divisor 365 (trezen-
acarretar sua exclusão a bem da disciplina, a reabilitação previs-ta tos e sessenta e cinco) para a correspondente obtenção dos anos de
na legislação que trata do serviço militar poderá anteceder a efetivo serviço.
efetuada de acordo com o Código Penal Militar e o Código de
Processo Penal Militar. Art. 137. Anos de serviço é a expressão que designa o tempo
de efetivo serviço a que se refere o artigo anterior, com os seguin-
Art. 133. A concessão da reabilitação implica em que sejam tes acréscimos:
cancelados, mediante averbação, os antecedentes criminais do mi- I - tempo de serviço público federal, estadual ou municipal,
litar e os registros constantes de seus assentamentos militares ou prestado pelo militar anteriormente à sua incorporação, matrícula,
alterações, ou substituídos seus documentos comprobatórios de nomeação ou reinclusão em qualquer organização militar;
situação militar pelos adequados à nova situação. II - (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de
31.8.2001)
CAPÍTULO IV III - tempo de serviço computável durante o período
Do Tempo de Serviço matricu-lado como aluno de órgão de formação da reserva;
IV - (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de
Art. 134. Os militares começam a contar tempo de serviço nas 31.8.2001)
Forças Armadas a partir da data de seu ingresso em qualquer V - (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de
organização militar da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica. 31.8.2001)
§ 1º Considera-se como data de ingresso, para fins deste ar- VI - 1/3 (um terço) para cada período consecutivo ou não de
tigo: 2 (dois) anos de efetivo serviço passados pelo militar nas
a) a do ato em que o convocado ou voluntário é incorporado guarnições especiais da Categoria “A”, a partir da vigência da Lei
em uma organização militar; nº 5.774, de 23 de dezembro de 1971. (Redação dada pela Lei nº
b) a de matrícula como praça especial; e 7.698, de 1988)
c) a do ato de nomeação. § 1º Os acréscimos a que se referem os itens I, III e VI serão
§ 2º O tempo de serviço como aluno de órgão de formação da computados somente no momento da passagem do militar à situa-
reserva é computado, apenas, para fins de inatividade na base de ção de inatividade e para esse fim.
1 (um) dia para cada período de 8 (oito) horas de instrução, desde § 2º (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de
que concluída com aproveitamento a formação militar. 31.8.2001)
§ 3º O militar reincluído recomeça a contar tempo de serviço § 3º (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de
a partir da data de sua reinclusão. 31.8.2001)
§ 4º Quando, por motivo de força maior, oficialmente reco- § 4º Não é computável para efeito algum, salvo para fins de
nhecida, decorrente de incêndio, inundação, naufrágio, sinistro aé- indicação para a quota compulsória, o tempo:
reo e outras calamidades, faltarem dados para contagem de tempo a) que ultrapassar de 1 (um) ano, contínuo ou não, em
de serviço, caberá aos Ministros Militares arbitrar o tempo a ser licença para tratamento de saúde de pessoa da família;
computado para cada caso particular, de acordo com os elementos b) passado em licença para tratar de interesse particular ou
disponíveis. para acompanhar cônjuge ou companheiro(a); (Redação dada pela
Lei nº 11.447, de 2007)
Art. 135. Na apuração do tempo de serviço militar, será feita c) passado como desertor;
distinção entre: d) decorrido em cumprimento de pena de suspensão do exer-
I - tempo de efetivo serviço; e cício do posto, graduação, cargo ou função por sentença transitada
II - anos de serviço. em julgado; e
e) decorrido em cumprimento de pena restritiva da liberda-
Art. 136. Tempo de efetivo serviço é o espaço de tempo com- de, por sentença transitada em julgado, desde que não tenha sido
putado dia a dia entre a data de ingresso e a data-limite estabele- concedida suspensão condicional de pena, quando, então, o tempo
cida para a contagem ou a data do desligamento em consequência correspondente ao período da pena será computado apenas para
da exclusão do serviço ativo, mesmo que tal espaço de tempo seja fins de indicação para a quota compulsória e o que dele exceder,
parcelado. para todos os efeitos, caso as condições estipuladas na sentença
§ 1º O tempo de serviço em campanha é computado pelo não o impeçam.
dobro como tempo de efetivo serviço, para todos os efeitos, exceto
indicação para a quota compulsória.

19
LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
Art. 138. (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de § 1º São recompensas:
31.8.2001) a) os prêmios de Honra ao Mérito;
b) as condecorações por serviços prestados na paz e na guer-
Art. 139. O tempo que o militar passou ou vier a passar afas- ra;
tado do exercício de suas funções, em consequência de ferimentos c) os elogios, louvores e referências elogiosas; e
recebidos em acidente quando em serviço, combate, na defesa da d) as dispensas de serviço.
Pátria e na garantia dos poderes constituídos, da lei e da ordem, ou § 2º As recompensas serão concedidas de acordo com as nor-
de moléstia adquirida no exercício de qualquer função militar, será mas estabelecidas nos regulamentos da Marinha, do Exército e da
computado como se o tivesse passado no exercício efetivo Aeronáutica.
daquelas funções.
Art.. 147. As dispensas de serviço são autorizações conce-
Art. 140. Entende-se por tempo de serviço em campanha o didas aos militares para afastamento total do serviço, em caráter
período em que o militar estiver em operações de guerra. temporário.
Parágrafo único. A participação do militar em atividades de-
pendentes ou decorrentes das operações de guerra será regulada Art.. 148. As dispensas de serviço podem ser concedidas aos
em legislação específica. militares:
I - como recompensa;
Art. 141. O tempo de serviço dos militares beneficiados por II - para desconto em férias; e
anistia será contado como estabelecer o ato legal que a conceder. III - em decorrência de prescrição médica.
Parágrafo único. As dispensas de serviço serão concedidas
Art. 142. A data-limite estabelecida para final da contagem com a remuneração integral e computadas como tempo de efetivo
dos anos de serviço para fins de passagem para a inatividade será serviço.
do desligamento em consequência da exclusão do serviço ativo.
TÍTULO V
Art. 143. Na contagem dos anos de serviço não poderá ser Disposições Gerais, Transitórias e Finais
computada qualquer superposição dos tempos de serviço público
federal, estadual e municipal ou passado em administração indire- Art. 149. A transferência para a reserva remunerada ou a re-forma
ta, entre si, nem com os acréscimos de tempo, para os possuidores não isentam o militar da indenização dos prejuízos causados
de curso universitário, e nem com o tempo de serviço computável à Fazenda Nacional ou a terceiros, nem do pagamento das
após a incorporação em organização militar, matrícula em órgão pensões decorrentes de sentença judicial.
de formação de militares ou nomeação para posto ou graduação
nas Forças Armadas. Art. 150. A Assistência Religiosa às Forças Armadas é regula-
da por lei específica.
CAPÍTULO V
Do Casamento Art. 151. É vedado o uso por organização civil de designações
que possam sugerir sua vinculação às Forças Armadas.
Art. 144. O militar da ativa pode contrair matrimônio, desde Parágrafo único. Excetuam-se das prescrições deste artigo as
que observada a legislação civil específica. associações, clubes, círculos e outras organizações que congre-guem
§ 1º Os Guardas-Marinha e os Aspirantes-a-Oficial não po- membros das Forças Armadas e que se destinem, exclusiva-mente, a
dem contrair matrimônio, salvo em casos excepcionais, a critério promover intercâmbio social e assistencial entre os mili-tares e suas
do Ministro da respectiva Força. famílias e entre esses e a sociedade civil.
§ 2º É vedado o casamento às praças especiais, com qualquer
idade, enquanto estiverem sujeitas aos regulamentos dos órgãos de Art. 152. Ao militar amparado por uma ou mais das Leis n° 288,
formação de oficiais, de graduados e de praças, cujos requisi-tos para de 8 de junho de 1948, 616, de 2 de fevereiro de 1949, 1.156, de 12 de
admissão exijam a condição de solteiro, salvo em casos excepcionais, julho de 1950, e 1.267, de 9 de dezembro de 1950, e que em virtude
a critério do Ministro da respectiva Força Armada. do disposto no artigo 62 desta Lei não mais usufruirá as promoções
§ 3º O casamento com mulher estrangeira somente poderá ser previstas naquelas leis, fica assegurada, por ocasião da transferência
realizado após a autorização do Ministro da Força Armada a que para a reserva ou da reforma, a remuneração da inatividade relativa ao
pertencer o militar. posto ou graduação a que seria promovido em decorrência da
aplicação das referidas leis.
Art. 145. As praças especiais que contraírem matrimônio em Parágrafo único. A remuneração de inatividade assegurada
desacordo com os §§ 1º e 2° do artigo anterior serão excluídas do neste artigo não poderá exceder, em nenhum caso, a que caberia
serviço ativo, sem direito a qualquer remuneração ou indenização. ao militar, se fosse ele promovido até 2 (dois) graus hierárquicos
aci-ma daquele que tiver por ocasião do processamento de sua
CAPÍTULO VI trans-ferência para a reserva ou reforma, incluindo-se nesta
Das Recompensas e das Dispensas do Serviço limitação a aplicação do disposto no § 1º do artigo 50 e no artigo
110 e seu § 1º.
Art. 146. As recompensas constituem reconhecimento dos
bons serviços prestados pelos militares.

20
LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
Art. 153. Na passagem para a reserva remunerada, aos milita-
res obrigados ao vôo serão computados os acréscimos de tempo de
efetivo serviço decorrentes das horas de vôo realizadas até 20 de
outubro de 1946, na forma da legislação então vigente.

Art. 154. Os militares da Aeronáutica que, por enfermidade,


acidente ou deficiência psicofisiológica, verificada em inspeção de
saúde, na forma regulamentar, forem considerados definitivamente
incapacitados para o exercício da atividade aérea, exigida pelos
regulamentos específicos, só passarão à inatividade se essa incapa-
cidade o for também para todo o serviço militar.
Parágrafo único. A regulamentação própria da Aeronáutica
estabelece a situação do pessoal enquadrado neste artigo.

Art. 155. Aos Cabos que, na data da vigência desta Lei, te-
nham adquirido estabilidade será permitido permanecer no serviço
ativo, em caráter excepcional, de acordo com o interesse da res-
pectiva Força Singular, até completarem 50 (cinquenta) anos de
idade, ressalvadas outras disposições legais.

Art. 156. (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de


31.8.2001)

Art. 157. As disposições deste Estatuto não retroagem para


alcançar situações definidas anteriormente à data de sua vigência.

Art. 158. Após a vigência do presente Estatuto serão a ele


ajustadas todas as disposições legais e regulamentares que com ele
tenham ou venham a ter pertinência.

Art. 159. O presente Estatuto entrará em vigor a partir de 1º de


janeiro de 1981, salvo quanto ao disposto no item IV do artigo 98,
que terá vigência 1 (um) ano após a data da publicação desta Lei.
Parágrafo único. Até a entrada em vigor do disposto no item
IV do artigo 98, permanecerão em vigor as disposições constantes
dos itens IV e V do artigo 102 da Lei n° 5.774, de 23 de dezembro
de 1971.

Art. 160. (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de


31.8.2001)
JOÃO FIGUEIREDO
Maximiano Fonseca
Ernani Ayrosa da Silva
Délio Jardim de Mattos
José Ferraz da Rocha
Este texto não substitui o publicado no DOU de 11.12.1988

21
RELAÇÕES HUMANAS E
LIDERANÇA
RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇAS
1.3 ASPECTOS FUNDAMENTAIS DA LIDERANÇA
Neste tópico serão abordados aspectos relacionados aos tipos
RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇA BRASIL. de liderança.
MARINHA DO BRASIL. ESCOLA-MAIOR DA Existem diversas conceituações para liderança na literatura
ARMADA. EMA-137 – DOUTRINA DE LIDERANÇA especializada. A Marinha do Brasil define liderança como: “ o pro-
DA MARINHA. cesso que consiste em influenciar pessoas no sentido de que ainda
CAPÍTULO I, VER 1. BRASÍLIA, DF, 2013. voluntariamente, em prol do cumprimento da missão. Fica eviden-
DOUTRINA DE LIDERANÇA DA MARINHA ciado, pela definição, que a liderança inclui não só a capacidade de
- CHEFIA E LIDERANÇA; ASPECTOS fazer um grupo realizar uma tarefa especifica mas, sobretudo,
FUNDAMENTAIS DA LLIDERANÇA; executa-la de forma voluntária, atendendo ao desejo do líder como
se fosse o seu próprio.
ESTILOSDE LIDERANÇA; SELEÇÃO DE ESTILOS
Nessa definição de liderança, estão implícitos os seus agentes,
DE LIDERANÇA; FATORES DA LIDERANÇA; ou seja, o líder e os liderados, as relações entre eles e os princípios
ATRIBUIÇÃO DE UM LÍDER; NÍVEIS DE filosóficos, psicológicos e sociológico que regem o comportamen-
LIDERANÇA. to humano.
1.3.1 – Aspectos Filosóficos
A filosofia tem como característica desenvolver o senso cri-
tico, que fornece o individuo bases metodológicas para efetuar,
EMA -137 – Doutrina de Liderança na permanentemente, o exame corrente da situação, favorecendo o
Marinha Capítulo I exame corrente da situação, favorecendo o processo de tomada de
decisões. Tal prática é fundamental ao exercício da liderança, po-
Elementos Conceituais de dendo-se verificar que o requisito pensamento critico está direta e
Liderança 1.1 - PROPÓSITO indiretamente associado a diversos atributos de liderança prescri-
Este capítulo aborda conceitos, aspectos fundamentais, es- tos nessa Doutrina.
tilos, fatores, atributos e níveis de liderança, para prover conhe- A axiologia , também conhecida como a teoria dos valores, é
cimentos básicos que definam a natureza das relações desejáveis considerada a parte mais nobre da filosofia. O processo de influen-
entre lideres e liderados. ciação de um grupo, que é a essência da liderança, está profunda-
1.2 CHEFIA e LIDERANÇA mente ligado aos valores éticos e morais que devem ser transmiti-
O exercício da chefia, comando ou direção, é entendido pelo dos e praticados pelo líder.
conjunto de ações e decisões tomadas pelo mais antigo, com auto- A prática dos fundamentais filosóficos da educação, seja ela
ridade para tal, na sua esfera de competência, a fim de conduzir de formal ou informal, desenvolvida pro grupos sociais, independente de
forma integrada o setor que lhe é confiado. suas crenças e culturas, constitui-se no elemento catalisador dos
No desempenho de suas funções, os mais antigos normalmen- valores universais. O ser humano precisa receber uma educação
te , desempenham dois papéis funcionais , a saber: o de “chefe” e adequada para ser capaz de valorizar um objeto ( a vida huma-na, a
o de “ condutor de homens”. Em relação ao primeiro papel, preva- Pátria, a família). Sem essa educação, perde-se a capacidade de
lece a autoridade advinda da responsabilidade atribuída à função, perceber esses valores, especialmente quando se trata daqueles
associada com aquela decorrente de seu posto ou graduação, à qual universais, tais como: honra, dignidade e honestidade.
passaremos a definir, genericamente, como chefia. Com respeito A característica fundamental da Axiologia consiste na hierar-
ao segundo papel, identifica-se um estreito relacionamento com o quização desses valores, que são transmitidos pela educação fami-liar,
atributo de líder. Neste contexto, fica ressaltada a importância da pela sociedade e pelo grupo. Essa hierarquização de valores varia de
capacidade individual dos amis antigos em influenciarem e inspi-
um pais para o outro , de uma sociedade organizada para outra, de um
rarem os seus subordinados.
grupo social para outro. Por exemplo, os fundamen-talistas islâmicos,
Caracterizados esses dois atributos do comandante, o de chefe
que se sacrificam em atentados, contrariando o instinto de
e o de líder , pode- se dizer que comandar é exercer a chefia e a
preservação, valor primordial do ser humano.
liderança, a fim de conduzir eficazmente a organização no cum-
Valores como honra, a dignidade, a honestidade, a lealdade e
primento da missão . sendo o exercício do comando um processo
abrangente, a divisão ora apresentada será utilizada para efeito de o amor à pátria, assim como todos os outros considerados vitais
uma melhor compreensão do tema em lide, pois chefia e liderança pela Marinha, devem ser praticados e transmitidos, permanente-
não são processos alternativos e sim simultâneos e complementa- mente, pelo líder aos seus liderados. A tarefa de doutrinamento
res. visa a transmitira sua correta hierarquização, priorizando-os em
Os melhores resultados no tocante à liderança ocorrem quan-do relação aos valores materiais, como dinheiro, o poder e a satisfa-
ela é desenvolvida, não sendo impositiva. Nesse contexto, a li-derança ção pessoal. Este é o maior desafio a ser enfrentado por aquele que
deve ser entendida como um processo dinâmico e progres-sivo de pretende exercer a liderança de um grupo.
aprendizado, o qual, desenvolvido nos cursos de carreira e no dia a dia 1.3.2 Aspectos psicológicos
das OM, trará não so evidentes benefícios às organi-zações, como “Em essência, a liderança envolve a realização de objetivos
também contribuirá para os sucesso profissional in-dividual de cada com e através de pessoas.
militar. Desta forma o contínuo desenvolvimento das qualidades dos Consequentemente, um líder precisa preocupar-se com tarefas e
militares MB como líderes deverá ser objeto de atenta e permanente relações humanas” (HERSEY;BLANCHARD, 1982, p 105).
atenção, a ser trabalhada, conjuntamente, pela instituição e,
prioritariamente, pro cada militar.

1
RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇAS
O líder influencia outros indivíduos, provocando, Cooperando , etimologicamente, significa trabalhar em con-
basicamente, mudanças psicológicas e “[..] num nível de junto. Implica uma opção pelo coletivo em detrimento do indivi-
generalidade que in-clui mudanças em comportamentos, opiniões, dual, mas nada impede o desenvolvimento e o estimulo das ha-
atitudes, objetivos, necessidades, valores e todos os outros bilidades de cada membro, em prol de um objetivo comum. Sob
aspectos do campo psico-lógico do individuo”. (FRENCH; muitos aspectos, e de um ponto de vista humanista, é a forma ideal
RAVEN, 1969, apud NOBRE , 1998, p 43). de atuação de grupos.
Os processos grupais e a liderança são os principais objetos de Ocorre que nem sempre é possível, dentro de um grupo, man-
estudo da Psicologia Social e a subjetividade humana, a per- ter, exclusivamente, o processo cooperativo. Em função do con-
sonalidade e as mudanças psicológicas oriundas de processos de texto, das circunstancias da própria tarefa a realizar, da natureza
influenciação e de aprendizagem são focos de estudo e de análise do grupo, ou das características do líder, outros processos se de-
da Psicologia. senvolvem.
O caminho apara a liderança passa pelo conhecimento profis- Competição é definida como a luta pela posse de recompensas
sional, mas também pelo autoconhecimento e pro conhecer bem seus cuja oferta é limitada.
subordinados. Para os dois últimos requisitos, a Psicologia pode Tais recompensas incluem dinheiro, poder, status, amor e
oferecer ferramentas úteis para o líder. Pesquisas mostram que o muito outros. Outra forma de descrever o processo competitivo o
quociente emocional (QE) ou inteligência emocional está cada vez mostra como a tentativa de obter uma recompensa superando todos
,aso, destacando-se como o principal diferencial de com-petência no os rivais.
trabalho. Esta conclusão é especialmente pertinente, em se tratando do A competição pode ser pessoal – entre um número limitado de
desempenho em funções de liderança. concorrentes que se conhecem entre si – ou impessoal - quando o
A Psicologia é, portanto, uma ciência que fornece firme emba- numero de rivais é tal, que se torna impossível o conhecimento
samento teórico e prático para que o líder possa influenciar pessoas. entre eles, como ocorre, por exemplo, nos exames vestibulares ou
1.3.3 Aspectos Sociológicos concursos públicos.
Os textos deste subitem foram retirados, com adaptações , do Atualmente , os especialistas concordam que ambos os pro-
Manual de Liderança, editado em 1996 ( 130 – Bases sociológicas).
cessos - cooperação e competição – coexistem e, até mesmo,
Sociólogos concordam que a perspectiva sociológica envolve sobrepõe na maioria das sociedades. O que varia, em função de
um processo que vai permitir examinar as coletividades além das
diferenças culturais, é a intensidade com que cada um é experi-
fachadas das estruturas sociais, com o proposito de refletir, com
mentado.
profundidade, sobre a dinâmica de forças atuantes em cada cole-
Sob o ponto de vista psicológico, é relevante considerar que,
tividade.
se a competição tem mérito inicial de estimular a atividade dos
A liderança envolve líder, liderados, e contexto (ou situação),
indivíduos e dos grupos aumentando-lhes a produtividade, tem o
constituindo, fundamentalmente, uma relação. Para muitos teóri-
grave inconveniente de desencorajar os esforços daqueles que se
cos, a liderança, dadas as características singulares que envolve,
habituaram a fracassar.
constitui-se em um processo impar de interação social. Partindo
Vencedor há um só; todos os demais são perdedores. Outro
desta visão da liderança, é evidente o quanto a Sociologia tem para
inconveniente sério, decorrente do estímulo à competição, consiste na
contribuir em termos de embasamento teórico no estudo e na cons-
trução do processo de liderança. forte possiblidade de desenvolvimento de hostilidades e desa-venças
Os militares, em geral, em função da peculiaridade de suas no interior do grupo, contribuindo para sua desagregação. A
atividades profissionais, constituem uma subcultura dentro da so- instabilidade inerente ao processo competitivo faz com que este, com
ciedade brasileira. bastante frequência, se transforme em conflito. Na liderança, a
Focalizando mais de perto ainda, pode-se afirmar que a Ma- competição tem sempre que ser saudável e estimulante.
rinha, dentro das Forças Armadas, face as suas atribuições muito Conflito é a exacerbação da competição. Uma definição mais
próprias, constitui-se igualmente em uma subcultura. A liderança , especifica afirma que tal processo consiste em obter recompensas pela
por definição, pressupõe a ação do líder sobre grupos humanos; os eliminação ou enfraquecimento dos competidores. Ou seja, o conflito
membros desse grupo são , em geral, oriundos de diferentes sub- é uma forma de competição que pode caminhar para a instalação de
culturas. violência e, que se vai intensificando, à medida que aumenta a duração
Esses indivíduos, ao ingressarem na Marinha, passarão a inte- do processo, já que este tem caráter cumulativo - a cada ato hostil surge
grar-se a esta nova subcultura, após um período de adaptação. No uma represália cada vez mais agressiva.
âmbito da Marinha, pode-se distinguir subculturas correspondentes O processo social de conflito inclui aspectos positivos e ne-
aos diferentes corpos e quadros, em função da missão atribuída a cada gativos. Por um lado, o conflito tende a destruir a unidade social e
um deles. Cultura e subcultura são, portanto , temas de estudo da , da mesma forma, desagregar grupos menores, pelo aumento de
Sociologia de interesse para a liderança. ressentimento, pelo desvio dos objetivos mais elevados do grupo,
Outro tópico da Sociologia avaliado como relevante é o dos pela destruição dos canais normais do cooperação, pela intensifica-
processos sociais, estes definidos como interação repetitivas de pa- ção de tensões internas, podendo chegar à violência.
drões de comportamento comumente encontrados na vida social. Por outro lado, doses regulares de conflito de posições , po-dem
Os processos sociais de maior incidência nas sociedades e grupos ter efeito integrador dentro do grupo, na medida em que obri-gam os
humanos são: cooperação, competição e conflito. O líder, cuja ma- grupos a se autocriticarem, a reverem posições, a forçarem a
téria prima é o grupo liderado, necessita identificar a existência de formulação de novas politicas e práticas, e em consequência, a uma
tais processos, estimulando-os ou não, em função das especifida- revitalização dos valores autênticos próprios daquele grupo.
des da situação corrente e da natureza da missão a ser levada a
termo.

2
RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇAS
Uma vez instalado e manifesto o conflito no seio de um gru- de liderança mais conhecida e de mais fácil adoção. A principal
po, seu respectivo líder terá de buscar soluções e alternativas para restrição a esse tipo de liderança é o desinteresse pelos problemas
manter o controle da situação. Não é fácil ou agradável para os e ideias, tolhendo a iniciativa e, por conseguinte, a participação e
lideres atuar em situações de conflito, o que justifica sua pura e a criatividade dos subordinados. Ouso desse estilo de liderança
simples negação. pode gerar resistência passiva dentro da equipe e inibir a iniciativa
É indispensável que o líder seja capaz de diagnosticar as situa- do subordinado, além de não considerar os aspectos humanos,
ções de conflito, mesmo quando ainda latentes, de modo a buscar dentre eles, o relacionamento líder-liderados.
estratégias adequadas para gerencia-las construtivamente. 1.4.2 -Liderança Participativa ou Democrática
Nesse estilo de liderança, abre-se mão de parte da autoridade
1.4 ESTILOS DE LIDERANÇA formal em prol de uma esperada participação dos subordinados e
aproveitamento de suas ideias. Os componentes do grupo são
Nos primórdios do século XX, prevaleceram as pesquisas so- incentivados a opinarem sobre as formas como uma tarefa poderá
bre liderança, entendida como qualidade inerente a certas pessoas ser realizada, cabendo a decisão final ao líder (exemplo típico é o
ou traço pessoal inato. A partir, dos anos 30, evoluiu-se para uma Estado-Maior). O êxito desse estilo é condicionado pelas carac-
concepção de liderança como conjunto de comportamentos e de terísticas pessoais, pelo conhecimento técnico-profissional e pelo
habilidades que podem ser ensinadas às pessoas que, desta forma, engajamento e motivação dos componentes do grupo como um
teriam a possibilidade de se tronarem lideres eficazes. todo. Em se obtendo sucesso, a satisfação pessoal e o sentimento
Progressivamente, os pesquisadores abandonaram a busca de uma de contribuição por parte dos subordinados são fatores que per-
essência da liderança, percebendo toda a complexidade envolvida e mitem uma realimentação positiva do processo. Na ausência do
evoluindo para análise bem mais sofisticadas, que in-cluíam diversas líder, uma boa equipe terá condições de continuar agindo de acor-
variáveis situacionais. Nesse contexto, observa-se a proliferação de do com o planejamento previamente estabelecido para cumprir a
publicações sobre liderança, incluindo trabalhos científicos e literatura missão.O líder deve estabelecer um ambiente de respeito, con-
sensacionalista e de autoajuda. Diferentes autores propõem uma fiança e entendimentorecíprocos, devendo possuir, para tanto, as-
infinidade de estilos de liderança que se so-brepõem. Alguns cendência técnico-profissional sobre seussubordinados e conduta
fundamentam-se em estudos e pesquisas e outros são meramente ética e moral compatíveis com o cargo que exerce. Um líder que
empíricos e intuitivos. Há também muitos modis-mos, alguns adota o estilo democrático encoraja a participação e delega com
consistindo, apenas, em atribuição de novos nomes e roupagens a sabedoria, mas nunca perde de vista sua autoridade e responsa-
antigos conceitos, sendo reapresentados como se fossem avanços na bilidade. Um chefe inseguro dificilmente conseguirá exercer uma
área da liderança. liderança democrática, mastenderá a submeter ao grupo todas as
Para simplificar a apresentação e o emprego de uma gama de decisões. Isso poderá fazer com que o chefe acabe sendo conduzi-
estilos de liderança consagrados e relevantes para o contexto mili- do pelo próprio grupo.
tar-naval, foram considerados alguns estilos selecionados em três 1.4.3 -Liderança Delegativa
grandes eixos: grau de centralização de poder; tipo de incentivo; e Esse estilo é indicado para assuntos de natureza técnica,
foco do líder. Pode-se afirmar , genericamente, que os diferen-tes onde o líder atribui a assessores a tomada de decisões especia-
estilos de liderança, propostos à luz das diversas teorias, se lizadas, deixando-os agir por si só. Desse modo, eletem mais
enquadram em três principais critérios de classificação, apresen- tempo para dar atenção a todos os problemas sem se deter especi-
tados como eixos lógicos em que se agrupam apenas sete estilos ficamente a uma determinada área.
principais: É eficaz quando exercido sobre pessoas altamente qualificadas e
a) quanto ao grau de centralização de poder: Liderança Auto- motivadas. O ponto crucial do sucesso deste tipo de liderança
crática, Liderança participativa e Liderança Delegativa. é saber delegar atribuições sem perder o controle da situação e, por
b)quanto ao tipo de incentivo: Liderança Transformacional e essa razão, o líder, também, deverá ser altamente qualificado
Liderança Transacional; e emotivado. O controle das atividades dos elementos subordinados
c) quanto ao foco do líder: Liderança Orientada para tarefa e é pequeno, competindo ao chefe as tarefas de orientar e motivar o
Liderança Orientada para o relacionamento. grupo para atingir as metas estabelecidas.
Os subitens a seguir descrevem os sete principais estilos de 1.4.4 -Liderança Transformacional
liderança propostos pelas diversas teorias. Esse estilo de liderança é especialmente indicado para si-
tuações de pressão, crise emudança, que requerem elevados ní-veis
1.4.1 Liderança Autocrática de envolvimento e comprometimento dossubordinados, sendo que
“uma ou mais pessoas engajam-se com outras de tal forma que
A liderança autocrática é baseada na autoridade formal, aceita líderes e seguidores elevam um ao outro a níveis mais altos de
como correta a legitima pela estrutura do grupo. motivação e moral” (BURNS, 1978,apud SMITH; PETERSON,
O líder autocrático baseia a sua atuação numa disciplina rígi- 1994, p. 129)
da, impondo obediência e mantendo-se afastado de relacionamen- Quatro aspectos caracterizam a liderança transformacio-nal:
tos menos formais com os seus subordinados, controla o grupo por 1º) “[...] carisma(influência idealizada) associado com um grau
meio de inspeções de verificação do cumprimento de normas e elevado de poder de referência por parte do líder [...]” (NO-BRE,
padrões de eficiência, exercendo pressão contínua. Esse tipo de 1998, p. 54), que é capaz de despertar respeito, confiança e
liderança pode ser útil e, até mesmo, recomendável, em situações admiração;2º) inspiração motivadora, que consiste na capacidade
especiais como em combate, quando o líder tem que tomar deci- de apresentar uma visão, dando sentido à missão a ser realizada,
sões rápidas e não é possível ouvir seus liderados, sendo a forma

3
RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇAS
de instilar orgulho. Inclui também a capacidade de simplificar o 1.5 -SELEÇÃO DE ESTILOS DE LIDERANÇA
entendimento sobre a importância dos objetivos a serem atingi-dos e, Ao proporem diferentes estilos de liderança, os autores condi-
a “[...] possibilidade decriar símbolos, “slogans” ou ima-gens que cionam a eficácia do seu emprego a algumas variáveis, tais como:
sintetizam e comunicam metas e ideais,concentrando assim os relevância da qualidade da tarefa ou decisão; importância da aceita-
esforços [...]” (NOBRE, 1998, p. 54); 3º) estimulação ção da decisão pelos subordinados para obtenção de seu envolvimen-
intelectual,consiste “[...] em encorajar os subordinados a questio- to na implantação de determinada linha de ação; tempo disponível para
narem sua forma usual de fazer ascoisas, [...] além de incen-tivar a realização da missão; riscos envolvidos; níveis de prioridade no que
criatividade, o auto-desenvolvimento e a autonomia de pensamento” diz respeito à produtividade ou à satisfação do grupo; e nível de
(NOBRE, 1998, p. 54-55), propiciando a formula-ção de críticas maturidade psicológica e profissional dos subordinados. Destacando-
construtivas, em busca da melhoria contínua; 4º) “consideração seapenas esta última variável como exemplo, pode-se afirmar, gene-
individualizada, implica em considerar asneces-sidades diferenciadas ricamente, que aidentificação de um baixo nível de maturidade (pro-
dos subordinados, dedicando atenção pes-soal, fissional e/ou emocional) no grupo de subordinados induz à aplica-ção
orientandotecnicamente e aconselhando individualmen-te” de estilos com maior centralização de poder, mais foco na tarefa e que
(CAVALCANTI et al., 2005) e “[...]oferecendo também meios incentivos no nível transacional (licença, rancho, conforto etc) tendem
efetivos de desenvolvimento e auto-superação.” (NOBRE, 1998, a ter mais valência para o grupo. Por outro lado, grupos mais maduros,
p.55). Segundo o enfoque da liderança transformacional, ao en- em geral, respondem melhor a estilos menos centralizado-res de poder
contrarem significado eperspectivas de realização pessoal no traba- e a incentivos no nível da autorrealização, como ocorre no estilo
lho, os subordinados alcançam os mais elevados níveis de produti- transformacional. Naturalmente, não apenas uma, mas to-das as
vidade e criatividade, fazendo desaparecer a dicotomia trabalho e variáveis relevantes de cada situação devem ser consideradas pelo
prazer.(BARRETT, 2000, apud CAVALCANTI et al., 2005). líder.Portanto, diferentes estilos de liderança podem ser adota-dos, de
acordo com ascircunstâncias. Pode-se considerar que:
1.4.5 -Liderança Transacional “[...] quando se abandona a ideia de que deve existir uma me-
Nesse estilo de liderança, o líder trabalha com interesses e lhor forma de liderar,todas as teorias subsequentes de liderança de-
necessidades primárias dos seguidores, oferecendo recompensas vem ser contingenciais ousituacionais, isto é, devem definir as cir-
de natureza econômica ou psicológica, em troca de esforço para cunstâncias que afetam o comportamento e a eficácia dos líderes.”
alcançar os resultados organizacionais desejados (CAVALCANTI (SMITH; PETERSON, 1994, p. 173)
et al., 2005) À luz da abordagem situacional, que prevalece na atualidade,
na qual a liderança pode assumir diversos estilos, os principais
A liderança transacional envolve os seguintes fatores: requisi-tos de liderança passam a ser a capacidade de diagnosticar
“A recompensa é contingente, buscando-se uma sintonia en- as variá-veis situacionais, a flexibilidade e a adaptabilidade às
tre o atendimento das necessidades dos subordinados e o alcan-ce mudanças. Os melhores líderes utilizam estilos diferentes, em
dos objetivos organizacionais; Esse estilo de liderança carac- distintas situações. Assim, é necessário um esforço pessoal do líder
teriza-se também pela administração por exceção, que implica num no sentido de se adaptar, continuamente, às mudanças de estilo
gerenciamento atuante somente no sentido de corrigir erros adequadas a cada con-texto.
[...].”(NOBRE, 1998, p. 55)
Neste estilo de liderança, o líder “[...] observa e procura des- 1.6 -FATORES DA LIDERANÇA
vios das regras e padrões, toma medidas corretivas.” (CAVAL- Os fatores da liderança, mencionados neste item, baseiam-se
CANTI et al., 2005, p. 120). na publicação Liderança Militar, Instruções Provisórias IP 20-10,
de 1991, do Estado-Maior do Exército.
1.4.6 -Liderança Orientada para Tarefa
A especialização em tarefas é uma das principais responsabili- 1.6.1 -O Líder
dades do líder, na medida em que possui a necessária qualificação O líder deve conhecer a si mesmo, para saber de suas capacida-
profissional para o exercício da função. Nesse estilo de liderança, des, características e limitações, evitando atribuir aos seus liderados
então, o líder focaliza o desempenho de tarefas e a realização de falhas ou restrições. “Os bons líderes eficientes são também bons
objetivos, transmitindo orientações específicas, definindo manei- seguidores [...]” (BRASIL, 1991, p. 3-3)e cumpridores das orienta-
ras de realizar o trabalho, o que espera de cada um e quais são os ções de seus superiores, passando esse exemplo a seussubordinados.
padrões organizacionais. “O líder, independentemente de sua vontade, atua como ele-mento
modificador docomportamento de seus liderados subordina-dos. [...] A
1.4.7 -Liderança Orientada para Relacionamento função militar estárelacionada com a segurança e a respon-sabilidade pela
Nesse estilo de liderança, o foco do líder é a manutenção e vida de seres humanos.”(BRASIL, 1991, p. 3-3, 3-4)
fortalecimento das relações pessoais e do próprio grupo. O líder Provavelmente, poucos profissionais são forçados a assumir
demonstra sensibilidade às necessidades pessoais dos liderados, ta-refa tão grave ao liderar subordinados. (BRASIL, 1991).
concentra-se nas relações interpessoais, no clima e no moral do 1.6.2 -Os Liderados
grupo. Esse estilo de liderança, que está significativamente asso- “O conhecimento dos liderados é fator essencial para o exercí-
ciado às medidas de satisfação dos liderados em relação ao traba- cio da liderança edepende do entendimento claro da natureza
lho e ao chefe, pode ser útil em situações de tensão, frustração, huma-na, das suas necessidades,emoções e motivações.”
insatisfação e desmotivação do grupo. (BRASIL, 1991, p. 3-4)
Isto é, ainda, crucial para o salutar exercício de Delegação de
Autoridade.

4
RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇAS
1.6.3 -A Situação abrangência da liderança e será adotado ao longo desta Doutrina. A
“Não existem normas nem fórmulas que mostrem com exati- liderança direta é obtida por meio do relacionamento face a face entre
dão o que deve ser feito. O líder precisa compreender a dinâmica o líder e seus liderados e é mais presente nos escalões infe-riores,
do processo de liderança, os fatores principais que a compõem, as quando o contato pessoal é constante. A liderança direta, conquanto
características de seus liderados e aplicar estes conhecimentos seja mais intensa no comando de pequenas frações ou unidades, tendo
como guia para cada situação em particular.” (BRASIL, 1991, p. em vista que a estrutura organizacional da Força exige o trato com
3-5) assessores e subordinados diretos. A lideran-ça organizacional
Fica, assim, bem clara a necessidade exaustiva da prática da desenvolvese em organizações de maior enver-gadura, normalmente
liderança, para o sucesso do líder, levando sempre em conta a cul- estruturadas como Estado Maior, sendo com-posta por liderança
tura e/ou a subcultura organizacional da instituição. direta, conduzida em menor escala e voltada para os subordinados
imediatos, e por delegação de tarefas. A lide-rança estratégica militar
1.6.4 -A Comunicação é aquela exercida nos níveis que definem a política e a estratégia da
“A comunicação é um processo essencial à liderança, que consiste Força. É um processo empregado para conduzir a realização de uma
na troca de ordens, informações e ideias, só ocorrendo quando a visão de futuro desejável e bem de-lineada.
mensagem é recebida e compreendida. [...] É através desse processo
que o líder coordena, supervisiona, avalia, ensina, treina e aconselha
seus subordinados.[...] O que é comunicado e a forma como isto é feito 1.8.1 -Liderança Direta
aumentam ou diminuem o vínculo das re-lações pessoais, criam o Essa é a primeira linha de liderança e ocorre em organizações
respeito, a confiança mútua e a compreen-são. Os laços que se onde os subordinados estão acostumados a ver seus chefes fre-
formam, com o passar do tempo, entre o líder e seus liderados, são a quentemente: seções, divisões, departamentos, navios, batalhões,
base da disciplina e da coesão em uma or-ganização. O líder deve ser companhias, pelotões e esquadras de tiro. Para serem eficazes, os
claro e “escolher” cuidadosamente as palavras, de tal forma que líderes diretos devem possuir muitas habilidades interpessoais,
signifiquem a mesma coisa para ele e para seus subordinados.” conceituais, técnicas e táticas.
(BRASIL, 1991, p. 3-4). Os líderes diretos aplicam os atributos conceituais de pensa-
mento crítico-lógico e pensamento criativo para determinar a me-lhor
1.7 -ATRIBUTOS DE UM LÍDER maneira de cumprir a missão. Como todo líder, usam a Ética para
A natureza e as especificidades da profissão militar, a des- pautar suas condutas e adquirir certeza de que suas escolhas são as
tinação constitucional das Forças Armadas e a cultura organi- melhores e contribuem para o aperfeiçoamento da perfor-mance do
zacional da Forças Armadas como um todo e, da Marinha, mais grupo, dos subordinados e deles próprios. Eles empre-gam os atributos
especificamente, fazem com que certos traços de personalidade interpessoais de comunicação e supervisão para realizar o seu trabalho.
tornem-se desejáveis etendam a encontrar-se especialmente acen- Desenvolvem seus liderados por instruções e aconselhamento e os
tuados nos líderes militares. Embora não existamfórmulas de lide- moldam em equipes coesas, treinando-os até a obtenção de um padrão.
rança, a História, a experiência e também a pesquisa psicossocial São especialistas técnicos e os me-lhores mentores. Tanto seus chefes
têm demonstrado que é importante que os chefes procurem desen- quanto seus subordinados es-peram que eles conheçam bem sua
volver esses traços em si e nosseus subordinados, porque em mo- equipe, os equipamentos e que sejam “expert” na área em que atuam.
mentos críticos ou nas situações difíceis eles podemcontribuir para Usam a competência para incrementar a disciplina entre os seus
um exercício mais eficaz da liderança no contexto militar. Os atri- comandados. Usam o co-nhecimento dos equipamentos e da doutrina
butos de um líder têm como componente comum a capacidade de para treinar homens e levá-los a alcançar padrões elevados, bem como
influenciar. criam e sus-tentam equipes com habilidade, certeza e confiança no
Um bom líder deve perseguir, manter, desenvolver e culti-var sucesso na paz e na guerra. Exercem influência continuamente,
essa capacidade e,sobretudo, transmiti-la aos seus subor-dinados, buscando cumprir a missão, tendo por base ospropósitos e orientações
formando assim, novos líderes que, por sua vez, devem agir da mesma ema-nadas das decisões e do conceito da operação do chefe,adquirin-
forma, na tentativa de alcançar um círculo virtuoso. O Anexo A define do e aferindo resultados e motivando seus subordinados, principal-
os principais atributos de um líder, que devem estar em consonância mente peloexemplo pessoal. Devido a sua liderança ser face a face,
com os preceitos da Ética Militar, segundo os fundamentos veem os resultados de suas ações quase imediatamente. Trabalham
estabelecidos no Estatuto dos Militares. Nunca é demais ressaltar que focando as atividades de seus subordinados em direção aos obje-tivos
a Ética é parâmetro fundamental para o exer-cício da liderança, da organização, bem como planejam, preparam, executam e controlam
notadamente no âmbito militar. os resultados. Se aperfeiçoam ao assumirem os valores da instituição
e ao estabelecerem um modelo de conduta para seus subordinados,
1.8 -NÍVEIS DE LIDERANÇA colocando os interesses da instituição e do Grupo que lideram acima
Com a evolução das técnicas de gestão empresa-rial, o foco do dos próprios. Com isto, eles desenvolvem equi-pes fortes e coesas em
estudo sobre ocomportamento dos dirigentes passou a ser voltado para um ambiente de aprendizagem saudável e efetiva. Os líderes diretos
as diferenças entre o líder de base e ode cúpula. Foi então idealizado devem, ainda, estimular ao máximo o desenvolvimento de líderes
um padrão de organização baseado em três ní-veis funcionais: subordinados, de forma a potencializar a sua influência até os níveis
operacional, tático e estratégico, discriminando as características organizacionais mais baixos e obter melhores resultados.
desejáveis para um líder nos três níveis, de acordo com suas
habilidades.Em consonância com esses novos concei-tos, foram
estabelecidos três níveis deliderança: direta, organiza-cional e
estratégica. Estes três níveis definem com precisão toda a

5
RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇAS
1.8.2 -Liderança Organizacional Conhecendo a si mesmos e aos demais “atores” estratégicos, tendo
Ao contrário do que acontece no nível de liderança dire-ta, um nítido domínio dos requisitos operacionais, da situa-ção
onde os líderes planejam, preparam, executam e controlam di- geopolítica e da sociedade, os líderes estratégicos conduzem
retamente os resultados dos seus trabalhos, a influenciados líderes adequadamente a Força e contribuem para o desenvolvimento e a
organizacionais é basicamente indireta: eles expedem suas políti- segurança da Nação. Tendo em vista que os conflitos nos dias de
cas e diretivas e incentivam seus liderados por meio de seu hojepodem ser desencadeados muito rapidamente, não permi-tindo
staff e comandantes subordinados. Devido ao fato de não ha-ver um longo período demobilização para a guerra – como se fazia no
proximidade, os resultados de suas ações são frequentemente menos passado –, o sucesso de um líder estratégicosignifica dei-xar a
visíveis e mais demorados. No entanto, a presença desses líderes em Força pronta para vencer uma variedade de conflitos no pre-sente
momentos e lugares críticos aumenta a confiança e a performance dos epermanecer pronta para enfrentar as incertezas do futuro. Em
seus liderados. Independente do tipo de organi-zaçãoque eles chefiem, resumo, esses líderes preparam a instituição para o futuro por meio
líderes organizacionais conduzem opera-ções pela força do de sua liderança. Isto significa influenciar pessoas – integran-tes
exemplo,estimulando os subordinados e su-pervisionando-os da própria organização, membros de outros setores do governo,
apropriadamente. Sempre que possível, o líder organizacional deve elites políticas – por meio de propósitos significativos, direções
mostrar sua presença física junto aos escalões subordinados, seja por claras e motivação consistente. Significa, também, acompanhar o
intermédio de visitas e mostras, seja por meio de reuniões funcionais desenrolar das missões atuais, sejam quais forem, e buscar aper-
com os comandantes subordinados. feiçoar a instituição – tendo a certeza que o pessoal está adestrado
e de que seus equipamentos e estrutura estão prontos para os fu-
1.8.3 -Liderança Estratégica turos desafios.
Líderes estratégicos exercem sua liderança no âmbito dos ní-veis
mais elevados dainstituição. Sua influência é ainda mais in-direta e
distante do que a dos líderesorganizacionais. Des-se modo, eles devem
desenvolver atributos adicionais de forma ae-liminar ou reduzir esses
inconvenientes. Os líderes estratégicos trabalham para deixar, hoje, a
instituição pronta para o amanhã, ou seja, para enfrentar os desafios
do futuro, oscilando entre a cons-ciência das necessidades nacionais
correntes e na missão e obje-tivos de longo prazo. Desde que a
incerteza quanto às possíveis ameaças não permita uma visualização
clara do futuro, a visão dos líderes estratégicos é especialmente crucial
na identificação do que éimportante com relação ao pessoal, material,
logística e tecno-logia, a fim de subsidiardecisões críticas que irão
determinar a estrutura e a capacidade futura da organização. Dentro da
ins-tituição, os líderes estratégicos constroem o suporte para facilitar
a buscados objetivos finais de sua visão. Isto significa montar um staff
que possa assessorá-los convenientemente a conduzir seus
subordinados de maneira segura e flexível. Para obter o suporte
necessário, os líderes estratégicos procuram obter o consenso não só
no âmbito interno da organização, como também trabalhando junto a
outros órgãos e instituições a que tenham acesso, em ques-tões como
orçamento, estrutura da Força e outras de interesse, bem como
estabelecendo contatos com representações de outros países e Forças
em assuntos de interesse mútuo. A maneira como eles comunicam as
suas políticas e diretivas aos militares e civis subor-dinados e
apresentam aquelas de interesse aos demais cidadãos vai determinar o
nível de compreensão alcançado e o possível apoio para as novas
ideias. Para se fazer entender por essas diversas au-diências, os líderes
estratégicos empregam múltiplas mídias, ajus-tando a mensagem ao
público alvo, sempre reforçando os temas de real interesse da
instituição.
Os líderes estratégicos estão decidindo hoje como transformar a
Força para o futuro. Eles devem trabalhar para criar e desenvol-ver a
próxima geração de líderes estratégicos, montar a estrutura para o
futuro e pesquisar os novos sistemas que contribuirão na obtenção do
sucesso. Para capitanear as mudanças pessoalmente e levar a
instituição em direção à realização do seu projeto de futuro, esses
líderes transformam programas conceituais e políticos emi-niciativas
práticas e concretas. Este processo envolve uma pro-gressiva
alavancagemtecnológica e uma modelagem cultural.

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HISTÓRIA NAVAL
HISTÓRIA NAVAL
OS NAVIOS DE MADEIRA:
CONSTRUINDO EMBARCAÇÕES E NAVIOS
A HISTÓRIA DA NAVEGAÇÃO: OS NAVIOS DE
MADEIRA: CONSTRUINDO EMBARCAÇÕES E As caravelas provavelmente tiveram sua origem em em-
NAVIOS; barcações de pesca, que já existiam na Península Ibérica desde o
O DESENVOLVIMENTO DOS NAVIOS século XIII. Tinham, em geral, velas latinas. Essas velas são muito
PORTUGUESES. O DESENVOLVIMENTO DA boas para navegar quase contra o vento, con-tribuindo para que as
NAVEGAÇÃO OCEÂNICA : INSTRUMENTOS E AS caravelas fossem muito úteis na costa da África. Foi
principalmente com elas que os portugueses exploraram
CARTAS DE MAREAR; A VIDA A BORDO DOS
NAVIOS VELEIROS. o litoral africano durante o século XV. As caravelas foram os
navios mais importantes para Portugal até a descoberta do Cabo da
Boa Esperança, que permitiu contornar a África, passando do
Oceano Atlântico para o Oceano Índi-co. A partir de então, o
Os rios, lagos, mares e oceanos eram obstáculos que transporte de mercadorias por [naus] passou a ser o mais
os seres humanos do passado muitas vezes precisavam importante.
ultrapassar. Primeiro, eles se agarravam a qualquer coisa que A nau era um navio mercante com grandes espaços nos porões
flutuasse. Depois, sentiram a necessidade de descobrir como para carregar as mercadorias do Oriente. Essa ênfase na carga, no
transformar materiais, para que estes, flutuando, pu-dessem se entanto, fazia com que as naus fossem mal armadas. Levavam
sustentar melhor sobre a água. Assim, ao longo do tempo, em cada poucos canhões para carregar
lugar surgiu uma solução, que dependeu do material disponível: a
canoa feita de um só tronco cavado; a canoa feita da casca de uma Galeão do século XVI (acervo SDM) mais mercadorias e
única árvore; a jangada de vários troncos amarrados; o bote de eram presas fáceis para os navios dos países que começa-riam a
feixes de juncos ou de [papiro]; o bote de couro de animais e desafiar o monopólio português do comércio com o Oriente pelo
outros. Cabo da Boa Esperança, da chamada Carreira da Índia. Até então,
Todas essas soluções simples, no entanto, não transpor-tavam Portugal vinha utilizando caravelas bem armadas como navios de
muita coisa, ou eram difíceis de manejar, ou mesmo perigosas em guerra, mas, desde o início do século XVI, sentira a necessidade
águas agitadas. Era necessário desenvolver embarcações de desenvolver o [galeão], um navio de guerra maior e com mais
construídas a partir da junção de diversas par-tes, para que fossem 5
maiores e melhores. canhões, para combater turcos no Oriente e corsários e piratas
Durante o século XV, os portugueses decidiram que de-veriam europeus ou muçul-manos no Atlântico. O galeão foi a verdadeira
prosperar negociando diretamente com o Oriente, por meio do mar. origem do na-vio de guerra para emprego no oceano. Foi
Para alcançar bom êxito nesse ambicioso projeto de interesse construído para fazer longas viagens e combater longe da Europa.
nacional, foi necessário: explorar a costa da África no Oceano
Atlântico e encontrar a passagem, ao sul do continente africano, O DESENVOLVIMENTO DA NAVEGAÇÃO OCEÂNI-
para o Oceano Índico; chegar às Índias e lá negociar diretamente CA: OS INSTRUMENTOS E AS CARTAS DE MAREAR
as mercadorias; trazê-las para Portugal em navios capazes de
transportar quantidades relativamente grandes de carga e defender Um dos instrumentos mais importantes que, no passado,
esse comércio. Isso exigiu desenvolvimentos científicos e permitiram as Grandes Navegações foi a bússola, inventada pelos
tecnológicos para os navios e para a navegação. chineses. A bordo ela é chamada de agulha magnéti-ca e,
antigamente, de agulha de marear. Basicamente, ela consta de uma
agulha imantada que se alinha em função do campo magnético
Os portugueses desenvolveram e utilizaram: [caravelas] para natural da Terra, podendo-se, então, saber a direção em que está o
explorações; naus como navios mercantes para o comér-cio e polo norte magnético. Assim, é possível saber a direção em que o
galeões como navios de guerra. Mas isso só não bas-tava para navio segue, ou seja, seu rumo.
chegar Para saber exatamente a posição em que se está em relação ao
com sucesso ao porto de destino. globo terrestre, é necessário calcular a latitude e a longitude do
lugar. O cálculo prático da longitude depende de se saber, com
A navegação, quando se mantém terra à vista, é feita pela precisão, a hora. Porém, a inexistência de relógios (cronômetros)
observação de pontos geográficos de terra determinando a posição que não fossem afetados pelos mo-vimentos do navio, causados
do navio em relação à costa. Quando não se avista mais a terra e pelas ondas, fez com que a hora não pudesse ser calculada no mar
quando o mar e o céu se encontram no horizonte a toda volta, é até o século XVIII, quando foram desenvolvidos cronômetros
necessário saber em que direção o navio segue e a posição em que adequados à utilização a bordo dos navios, para o cálculo da
se está em relação à superfície do globo terrestre. longitude. A latitude não era difícil de se calcular e, por ela e pela
estimativa de quanto o navio havia se deslocado, os navegadores
Foi necessário, portanto, desenvolver instrumentos ca-pazes da época das Grandes Navegações sabiam aproximadamente onde
de indicar a direção (bússola) do navio, a latitude (astrolábio) e a estavam. Evidentemente, erros de navegação ocorreram, com
longitude (cronômetro). consequências desastrosas.

1
HISTÓRIA NAVAL
Outros instrumentos utilizados mais tarde, como o qua-drante
e o sextante, mediam a altura do Sol pelo ângulo em relação ao
horizonte, permitindo estimar a hora e o cálculo de longitude. A EXPANSÃO MARITIMA EUROPEIA E O
As cartas náuticas, mapas do mar, eram muito impreci-sas e DESCOBRIMENTO DO BRASIL:
passaram por difícil processo de desenvolvimento. As que foram FUNDAMENTOS DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
inicialmente feitas pelos portugueses eram conhecidas como PORTUGUES E A EXPANSÃO ULTRMARINA:
portulanos. A partir do final do século XVI, passou-se a utilizar a LUSITANIA; ORDENS MILITARES E
Projeção de Mercator, usada até os dias de hoje nas cartas náuticas. RELIGIOSAS; O PAPEL DA NOBREZA; A
Nela os meridia nos e os pa-ralelos são representados por linhas IMPORTANCIA DO MAR NA FORMAÇÃO DE
retas que se intercep-tam formando ângulos de 90 graus. Isso causa
PORTUGAL; DESENVOLVIMENTO ECONOMICO
consideráveis distorções nas latitudes mais elevadas, porém tem a
vanta-gem de os rumos e as marcações de pontos de terra serem E SOCIAL; A DESCOBERTA DO BRASIL
linhas retas, facilitando a [plotagem] nas cartas. Como a Terra é
aproximadamente esférica (na verdade um geóide), a distância
mais curta entre dois pontos não é uma linha reta na Projeção de
Mercator, mas isso é somente um pequeno incon-veniente, e a SINOPSE
curva que representa a menor distância pode ser calculada pelo Este capítulo trata das condicionantes, físicas e políticas, que
navegador. levaram portugueses e espanhóis a se aventurar pelo mar, em busca
de caminhos alternativos para o comércio com as Ín-dias. Vimos,
no capítulo anterior, o desenvolvimento da cons-trução naval e dos
A VIDA A BORDO DOS NAVIOS VELEIROS instrumentos náuticos que permitiram tal feito. Agora, vamos
conhecer um pouco os navegantes que se aventuraram e um pouco
A vida a bordo dos navios veleiros era muito difícil. A Idade da história dos seus países de origem, ou seja, Portugal e Espanha.
da Vela representou para os marinheiros muito sacri-fício. O
trabalho a bordo, manobrando com as velas, muitas vezes durante O pioneirismo português, já no final do século XIV, foi
tempestades, exigia bastante esforço físico e era arriscado. A resultado de Portugal estar com suas fronteiras estabeleci-das e ter
comida, sem possibilidade de contar com uma câmara frigorífica, um poder estatal em processo de centralização, possibilitando o
era deficiente, principalmente em vita-minas, o que causava incentivo, por parte do governo, à expansão ultramarina. A
doenças como o beribéri (pela carência de vitamina B) e o primeira conquista portuguesa no ultramar foi a cidade de Ceuta,
escorbuto (pela carência de vitamina C). Durante os longos no norte da África. Na sequência, Dio-go Cão explorou a costa
períodos de mau tempo, não havia como secar as roupas. A higiene africana entre os anos de 1482 e 1485; depois foi a vez de
a bordo também deixava muito a desejar. Muitos morreram nas Bartolomeu Dias que, atingindo o sul do continente africano,
longas viagens oceânicas. passou pelo Cabo das Tormentas, em 1487, que passou a ser
O escorbuto, no entanto, merece destaque, pois foi uma denominado Cabo da Boa Esperança.
doença que causou a morte de muitos marinheiros nas longas
travessias no mar, quando a dieta dependia apenas de peixe, carne Vasco da Gama, em 1498, chegou a Calicute, sudoeste da
salgada e biscoito (feito de farinha de trigo, o último alimento que Índia, estabelecendo a rota entre Portugal e o Oriente. Em 1500, a
se deteriorava a bordo dos veleiros). Ele é cau-sado pela falta de frota de Pedro Álvares Cabral chegou às terras do Brasil. Estava,
vitamina C na dieta. As gengivas incham e sangram, os dentes assim, formado o império ultramarino portu-guês.
perdem sua fixação, aparecem manchas na pele, sente-se muito
cansaço. Com o tempo, vem a morte. Em uma viagem da Marinha
inglesa (força naval comandada pelo Comodoro George Anson), Já os espanhóis se aventuraram em busca do caminho para as
em 1741, dos dois mil ho-mens que partiram da Inglaterra, Índias na direção oeste. Cristóvão Colombo chegou
somente 200 regressaram. A maioria morreu por causa do à América em 1492, e Fernão de Magalhães, financiado pela
escorbuto. Ele foi responsá-vel por mais mortes na Idade da Vela Espanha, alcançou, em 1519, o extremo sul do continente sul -
do que os combates, os naufrágios, as tempestades e todas as outras americano, ultrapassou o estreito que hoje leva seu nome e cruzou
doenças juntas. o Oceano Pacífico, chegando às Filipinas em 1521.
A prevenção do escorbuto obtém-se bebendo, fre-
quentemente, um pouco de suco de limão (que é rico em vitamina Tendo descoberto as terras que Portugal denominou Brasil, foi
C), como parte da dieta. Essa solução surgiu no final do século necessário reconhecê-las e povoá-las. Veremos, a partir daqui,
XVIII, tornando mais saudável a vida a bordo nos navios. quais as expedições que reconheceram o nosso litoral e as
providências adotadas para povoá-lo.
Agora é possível deduzir porque a maioria dos piratas re- Singremos, portanto, no reconhecimento da nova terra.
presentados em filmes não possui alguns dentes.

2
HISTÓRIA NAVAL
FUNDAMENTOS DA ORGANIZAÇÃO A origem do próprio Estado português se deu com a formação
DO ESTADO PORTUGUÊS E EXPANSÃO ULTRAMARI- do Condado Portucalense, sob o domínio de Dom Henrique de
NA Borgonha.
As vitórias alcançadas pelos exércitos de Dom Henrique
A condição fundamental para o processo de formação das mostraram à Santa Sé a importância que estes vinham adqui-rindo
nações europeias foi a crise do feudalismo, que teve início em com o sucesso das lutas militares. Assim, os interesses do senhorio
meados do século XIII. Essa crise foi resultante da relativa paz em do condado e os do papado iam aos poucos convergindo para o
que vivia o continente europeu, que permitiu a criação dos burgos reconhecimento da autonomia portuca-lense ante o Reino de Leão.
(fora dos limites do senhor feudal, que lhes dava proteção em troca O Tratado de Zamora, firmado em 1143 entre o duque
da vassalagem), que viriam a se transformar em vilas ou cidades portucalense Dom Afonso Henriques (1128-1185), filho de
com relativa autonomia. Isso provocou o enfraquecimento dos Henrique de Borgonha, e Dom Afonso VII, imperador de Leão,
senhores feudais, redu-zindo o poder da nobreza e, determinou o reconhecimento, por parte deste último, da in-
consequentemente, abrindo espaço para a retomada do poder dependência do antigo condado, agora Reino de Portugal.
político pelos reis.
Os soberanos, à medida que obtinham recursos finan-ceiros, ORDENS MILITARES E RELIGIOSAS
em troca de privilégios, fortaleciam seus exércitos e submetiam os
antigos feudos e as novas vilas e cidades Outro fator a ser ressaltado diz respeito às ordens milita-res
à sua autoridade, incorporando esses territórios ao que viriam a ser (ordens de cavalaria sujeitas a um estatuto religioso e que se
seus reinos. Era o embrião do futuro Estado na-cional. propunham a lutar contra os mulçumanos) no processo da
Reconquista. Tais ordens, fundadas com o intuito de auxiliar
Intensas lutas precederam e consolidaram o Estado português. doentes e peregrinos que iam à Terra Santa e, sobretudo, para
O primeiro grande embate foi para a expulsão dos mouros da combater militarmenteos adeptos da fé mulçumana, participaram
Península Ibérica em das batalhas contra os mouros na Península Ibérica.
1249 (os mouros, comandados pelo general Tarik,
invadiram a Península Ibérica no ano de 711), no movi- O PAPEL DA NOBREZA
mento denominado Reconquista, quando Portugal con-
solidou seu território e firmou-se como “o primeiro Estado
Além de setores diretamente ligados à Igreja, assinala-se
europeu moderno”, segundo o historiador Charles Boxer.
também intensa vinculação da nobreza portucalense na formação
Mas somente após a vitória sobre os Reinos de Leão e Castela,
do Estado nacional lusitano. Esse setor social, cujo poder se
em 1385, na Batalha de Aljubarrota, e a assinatura do tratado
de paz e aliança perpétua com o Reino de Castela, em 1411, a originava na propriedade da terra, também partici-pou de forma
decisiva nas guerras da Reconquista, apoiando o esforço militar da
paz foi selada.
realeza. Esta, num primeiro momen-to, concedeu privilégios
Portugal iniciou seu processo de expansão ultramarina bastante amplos à nobreza. Mais tarde, contudo, pretendeu limitar
conquistando aos mouros a cidade de Ceuta, no norte da tais privilégios, impondo medidas que beneficiavam a
África. A partir daí, virou-se para o mar, onde se tornou domi- centralização do poder.
nante. Como não poderia deixar de ser, essa empreitada en-
volveu somas altíssimas e, para financiá-la, a coroa portuguesa A IMPORTÂNCIA DO MAR NA FORMAÇÃO DE POR-
se valeu do aumento de impostos e recorreu a empréstimos TUGAL
financeiros de grandes comerciantes e banqueiros (inclusive
italianos). Paralelamente aos problemas político-territoriais apon-tados,
LUSITÂNIA é digno de destaque que, além da agricultura, o co-mércio marítimo
Conhecida outrora pelo nome de Lusitânia, a região que e a pesca eram das mais importantes ati-vidades praticadas em
hoje é Portugal foi originalmente habitada por populações Portugal, país de solo nem sempre fértil e produtivo. A atividade
iberas de origem indo-européia. Mais tarde, foi ocupada, su- pesqueira destacou-se como fundamental para complemento da
cessivamente, por fenícios (século XII a.C.), gregos (século VII alimentação de sua po-pulação.
a.C.), cartagineses (século III a.C.), romanos (século II a.C.) e,
posteriormente, pelos visigodos (povo germânico, converti- Situado em posição geográfica estratégica, à beira do Oceano
do ao cristianismo no século VI), desde o ano de 624. Atlântico e próximo ao Mediterrâneo, era de se es-perar que
Em 711, a região foi conquistada pelos muçulmanos, desenvolvesse grande devotamento à navegação e,
impulsionados por sua política de expansionismo, tendo consequentemente, à construção naval. Natural, também, que a
como base uma coligação formada por árabes, sírios, per- Marinha portuguesa fosse utilizada em caráter militar, o que
sas, egípcios e berberes, estes em maioria, todos unidos ocorreu a partir do século XII.
pela fé islâmica e denominados mouros. No reinado de Dom Sancho II (1223-1245) podem ser
A resistência aos invasores só ganhou força a partir do assinaladas as primeiras tentativas de implantação de uma frota
século XI, após a formação dos reinos cristãos ao norte, naval pertencente ao Estado, ordenando, inclusive, a construção de
como Leão, Castela, Navarra e Aragão. A guerra deflagrada locais específicos nas praias para reparo de em-barcações.
contra os mouros contou com o apoio de grande parte da
aristocracia europeia, atraída pelas terras que a conquista
lhes proporcionaria.

3
HISTÓRIA NAVAL
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL século, Portugal dominou as rotas comerciais do Atlântico
Sul, da África e da Ásia. Sua presença foi tão marcante nesses
Durante o reinado de Dom Dinis (1279-1325), sexto rei de mercados que, nos séculos XVI e XVII, a língua portuguesa era
Portugal (primeiro a assinar documentos com nome completo e, usada nos portos como língua franca– aquela que permite
presumidamente, primeiro rei não analfa-beto daquele país), o entendimento entre marinheiros de diferentes nacionali-dades.
iniciativas bastante relevantes foram adotadas para o fomento da
cultura, da agricultura, do comércio e da navegação. Denominado
O Lavrador ou Rei Agricultor e ainda Rei Poeta ou Rei Trovador, Ordem de Cristo
Dom Dinis foi monarca essencialmente administrador e não
guerreiro. Envolvendo-se em guerra contra Castela, em 1295, Na segunda vertente, o objetivo colocava-se mais a lon-go
desistiu dela em troca das Vilas de Serpa e Moura. prazo, já que se buscava conquistar pontos estratégicos das rotas
comerciais com o Oriente, criando ali entrepostos (feitorias)
controlados pelos comerciantes lusos. Foi o caso da tomada das
Pelo Tratado de Alcanizes (1297) formou a paz com Caste-la, cidades asiáticas. Tal modo de expansão tam-bém ficou marcado
ocasião em que foram definidas as fronteiras atuais entre os países pelo aspecto religioso (cruzadas), pois mantinha-se a ideia de luta
ibéricos. cristã contra os muçulmanos.
Preocupado com a infraestrutura do país, ordenou a
Cronologicamente e resumidamente, assim se deu o referido
exploração de cobre, estanho e ferro, fomentou as trocas co-
processo expansionista:
merciais com outros países, assinou o primeiro tratado co-mercial
Entre 1421 e 1434 os lusitanos chegaram aos Arqui-pélagos
com a Inglaterra, em 1308, e instituiu a Marinha Real. Nomeou,
da Madeira e dos Açores e avançaram para além do Cabo Bojador.
então, o primeiro almirante (de que se tem conhe-cimento) da
Até esse ponto, a navegação era basicamente costeira.
Marinha portuguesa, Nuno Fernandes Cogo-minho, para cuja vaga
foi contratado, em
1317, o genovês Pezagno (ou Manuel Pessanha). Data dessa Em 1444, atingiram a Ilha de Arguim, no Senegal, onde ins-
época a chegada dos portugueses às Ilhas Canárias. talaram a primeira feitoria em território africano e iniciaram a
Deve-se também à sua iniciativa a intensificação da mono- comercialização de escravos, marfim e ouro.
cultura do pinheiro bravo (Pinhal de Leiria), como reserva flo-
restal para o fornecimento de madeira destinada à construção naval Entre 1445 e 1461, descobriram o Arquipélago de Cabo
e à exportação. Verde, navegaram pelos Rios Senegal e Gâmbia e avança-ram até
No reinado de Dom Fernando I (1367-1383), a construção Serra Leoa.
naval recebeu grande incentivo, mediante a isenção de im-postos e No período 1487/1488, Bartolomeu Dias atingiu o Cabo das
a concessão de vantagens e garantias aos constru-tores navais. Tormentas, no extremo sul do continente – que passou a ser
Como resulta do, incrementaram-se o comércio marítimo, a chamado de Cabo da Boa Esperança – e chegou ao Oceano Índico,
exportação de produtos da agricultura e a impor-tação de tecidos e conquistando o trecho mais difícil do cami-nho das Índias.
manufaturas. As rendas da Alfândega de Lisboa, considerado porto
franco e intensamente frequenta-do por estrangeiros, aumentaram Em 1498, Vasco da Gama chegou a Calicute, na costa
significativamente. sudoeste da Índia, estabelecendo a rota entre Portugal e o Oriente.
O processo de centralização do poder foi o elemento essencial
que permitiu ao reino português lançar-se na ex-pansão
ultramarina porém, deve-se destacar que os limites da extração das Durante o reinado de Dom João II, iniciado em 1481, a
rendas obtidas com a agricultura fizeram a coroa voltar seus olhos expansão ultramarina atingiu o auge com os feitos dos na-
às atividades comerciais e marítimas. vegadores Diogo Cão e Bartolomeu Dias. Abriram-se, des-se
O monopólio exercido pelas cidades italianas de Gê-nova e modo, novas e extraordinárias perspectivas para a nação
Veneza sobre as rotas de comércio com a Ásia levou os grupos portuguesa. O negócio das especiarias do Oriente, levadas para a
mercantis portugueses a procurar outra alternati-va para realização Arábia e o Egito pelos árabes e dali transportadas aos países
de seus negócios e, consequentemente, para obtenção de lucros. A europeus, por intermédio de Veneza – que enrique-cera com o
saída seria o contato direto com os comerciantes árabes, evitando tráfico –, vai se concentrar em novas rotas, deslo-cando o foco do
o intermediário genovês ou veneziano. Para isso muito contribuiu comércio mundial do Mediterrâneo para o Oceano Atlântico.
a estrutura naval já existente no reino, cujo desenvolvimento foi
estimulado pela coroa. Foi justamente um genovês, Cristóvão Colombo, quem abalou
as pretensões de Dom João II na sua política expan-sionista, ao
A expansão marítima portuguesa caracterizou-se por duas descobrir a América em 1492. No retorno de sua famosa viagem,
vertentes. A primeira, de aspecto imediatista, realizada ao norte do Colombo avistou-se com o rei de Portugal, comunicando-lhe a
continente africano, visava à obtenção de riquezas acumuladas descoberta. Anteriormente, o mesmo Colombo já havia oferecido
naquelas regiões por meio da prática de pilhagens. A tomada de seus serviços ao soberano por-tuguês, que recusou a oferta baseado
Ceuta, no norte da África (Mar-rocos), em 1415, seria um dos em informações dadas
exemplos mais representativos desse tipo de empreendimento e pelos cosmógrafos do reino, levando o genovês a dirigir-se a
marca o início da expan-são portuguesa rumo à África e à Ásia. Castela, onde obteve apoio financeiro para sua viagem.
Em menos de um

4
HISTÓRIA NAVAL
Abalado com as notícias trazidas por Colombo, Dom João II nhã seguinte avançaram as caravelas, sondando o fundo, e
cogitou em mandar uma expedição em direção às terras recém- [fundearam] a milha e meia da praia próxima à foz de um rio, mais
descobertas, convencido de que lhe pertenciam por direito. Pouco tarde denominado Rio do Frade. Após reunião com os
de pois, a questão foi arbitrada por três [bulas] do Papa Alexandre comandantes, foi decidido enviar a terra um [batel], sob o co-
VI, que concederam à Espanha os direi-tos sobre as terras achadas mando de Nicolau Coelho, para fazer contato com os nativos,
por seus navegadores a ocidente do meridiano traçado a cem léguas quando se deu o primeiro encontro entre portugueses e in-dígenas.
a oeste das Ilhas dos Açores e de Cabo Verde. Durante a noite soprou vento forte, seguido de chu-varada,
colocando em risco as embarcações. Consultados os pilotos,
Os portugueses discordaram da proposta e novas nego-ciações decidiu Cabral sair em busca de local mais abrigado, chegando em
resultaram na assinatura do Tratado de Tordesilhas (cidade Porto Seguro, hoje Baía Cabrália. Alguns tri-pulantes desceram à
espanhola), em 7 de junho de 1494, que garantiu à coroa terra, e não conseguiram entender os habitantes, nem por eles ser
portuguesa as terras que viessem a ser descobertas até 370 léguas entendidos, pois falavam uma língua desconhecida.
a oeste do Arquipélago de Cabo Verde. As terras situadas além
desse limite pertenceriam à Espanha. No dia 26 de abril de 1500, no litoral sul da Bahia, foi reza-da
Dom João II morreu em 1495 e coube ao seu sucessor, Dom a primeira missa – num domingo de Páscoa –, onde foi decidido
Manuel, dar continuidade ao projeto expansionista. Du-rante sua mandar ao reino, pela [naveta] de mantimentos,
gestão aconteceu a viagem de Vasco da Gama, que partiu do Rio a notícia da descoberta. Nos dias posteriores, os marinheiros
Tejo em julho de 1497, dobrou o Cabo da Boa Esperança e, em ocuparam-se em cortar lenha, lavar roupa e preparar [aguada],
maio de 1498, após quase um ano de viagem, chegou a Calicute, o
além de trocar presentes com os habitantes do lugar. No dia 1 de
na Índia.
maio, Pedro Álvares Cabral assinalou o lugar onde foi erigida uma
A façanha de Vasco da Gama colocou Portugal em conta-to cruz, próximo ao que hoje conhecemos como Rio Mutari.
Assentadas as armas reais e erigido o cruzeiro em lugar visível, foi
direto com a região das especiarias, do ouro e das pedras preciosas, erguido um altar, onde Frei Henrique de Coimbra celebrou a
e, como consequência, passou a ser o principal fornecedor de tais segunda missa.
produtos na Europa, abalando seriamente o comércio das
repúblicas italianas. No dia 2 de maio, a frota de onze navios levantou ân-coras
A DESCOBERTA DO BRASIL rumo a Calicute, deixando na praia dois [degredados], além de
Vasco da Gama retornou a Portugal em julho de 1499 sob outros tantos [grumetes], se não mais, que deserta-ram de bordo.
clima de grande excitação, motivado pela descoberta da nova rota Antes de atingirem o Cabo da Boa Esperança, quatro navios
para as Índias. Pouco depois, a 9 de março de 1500, partiu em naufragaram e desgarrou-se a nau comandada por Diogo Dias, que
direção ao oriente uma portentosa frota de treze navios (dez percorreu todo o litoral africano, reen-contrando a frota na altura
provavelmente eram naus e três navios menores, que seriam de Cabo Verde quando esta re-tornou.
caravelas).

De seu comandante, Pedro Álvares Cabral, sabe-se que nasceu Com seis navios, Cabral alcançou as Índias, em se-tembro de
na vila de Belmonte, em 1500. Em Calicute, as negociações foram difíceis, surgindo
1467 ou 1468, segundo filho de Fernão Cabral, senhor de desentendimentos com os indianos, quando portu-gueses foram
Belmonte, e de Dona Isabel de Gouveia. Na juventude teria mortos em terra (inclusive o escrivão da armada, Pero Vaz de
prestado bons serviços à coroa nas guerras da África. De qual-quer Caminha) e o porto bombardeado. Em seguida, a Armada ancorou
modo, sabe-se da dúvida de Dom Manuel na escolha do em Cochim e Cananor, onde foi bem re-cebida, abastecendo-se de
comandante da expedição, que no primeiro momento re-caiu sobre especiarias antes da viagem de retorno, iniciada no dia 16 de
Vasco da Gama. janeiro de
Cabral teria na época cerca de 30 anos e levava consigo 1501. Em 23 de junho, finalmente, a Armada adentrou o Rio
marinheiros ilustres, como Bartolomeu Dias e Nicolau Coelho, Tejo, concluindo sua jornada.
além de numerosa tripulação, perto de 1,5 mil homens e oito frades
franciscanos, os primeiros religiosos mandados por Portugal a tais
lugares.
Uma das recomendações feitas a Cabral era que tivesse
particular cuidado com o sistema de ventos nas proximidades da
costa africana, fruto da experiência de Vasco da Gama. Na manhã
do dia 14 de março, a frota atingiu as Ilhas Canárias, fazendo 5.8
[nós] de velocidade média. No dia 22, avistou São Nicolau, uma
das ilhas do Arquipélago de Cabo Verde.
Prosseguindo a navegação sempre em rumo sudoeste, foram
avistadas ervas marinhas, indicando terra próxima. No dia 22 de
abril, foram avistadas as primeiras aves e, ao entar-decer,
avistaram terra. Ao longe, um monte alto e redondo foi
denominado Pascoal, por ser semana da Páscoa. Na ma-

5
HISTÓRIA NAVAL
Havendo aguardado por dois meses e quatro dias al-guma
O RECONHECIMENTO DA COSTA notícia de Gonçalo Coelho, decidiram percorrer o litoral em
BRASILEIRAA direção ao sul, onde se detiveram durante cinco meses em um
EXPEDIÇÃO DE 1501/1502 ponto que tudo indica ter sido o Rio de Janei-ro, onde ergueram
uma fortificação e deixaram 24 homens. Logo depois retornaram a
Portugal, onde aportaram em 18 de junho de 1504. Gonçalo
Coelho, com o restante da frota, regressou a Portugal, ainda em
1503.
Preocupado em realizar o reconhecimento da nova ter-ra, Dom
Manuel enviou, antes mesmo do retorno de Cabral, uma
expedição, composta por três caravelas, comandadas por Gonçalo AS EXPEDIÇÕES GUARDA-COSTAS
Coelho, tendo a companhia do florentino Américo Vespúcio. A
expedição partiu de Lisboa, em 13 de maio de

1501, em direção às Canárias, de onde rumou para Cabo


O litoral, conhecido como a costa do pau-brasil, pro-longava-
Verde. Nesse arquipélago se encontrou com navios da es-quadra
se desde o Rio de Janeiro até Pernambuco, onde foram sendo
de Cabral que regressavam das Índias. Em meados do mês de
estabelecidas feitorias, nas quais navios portu-gueses realizavam
junho, partiu para sua travessia oceânica, chegan-do à costa
regularmente o carregamento desse tipo de madeira para o reino.
brasileira na altura do Rio Grande do Norte.
Esse negócio rendoso começou a atrair a atenção de outros países
Na Praia dos Marcos (RN) deu-se o primeiro desembar-que,
europeus que nunca acei-taram a partilha do mundo entre Portugal
tendo sido fincado um marco de pedra, sinal de posse da terra. A
e Espanha, entre eles a França.
partir de então, Gonçalo Coelho deu partida à sua missão
exploradora, navegando pela costa, em direção ao sul, onde avistou
Os franceses começaram a frequentar nosso litoral co-
e denominou os pontos litorâneos, con-forme calendário religioso
mercializando o pau-brasil clandestinamente com os índios.
da época. O [périplo] costeiro da expedição teve como limite sul a
Portugal procurou, a princípio, usar de mecanismos diplomá-ticos,
região de Cananéia.
encaminhando várias reclamações ao governo francês, na
esperança de que aquele Estado coibisse esse comércio
A EXPEDIÇÃO DE 1502/1503 clandestino.
Notando que ainda era grande a presença de contra-bandistas
franceses no Brasil, Dom Manuel I resolveu enviar o fidalgo
português Cristóvão Jaques, com a principal missão de realizar o
Essa segunda expedição foi resultado do arrenda-mento da patrulhamento da costa brasileira.
Terra de Santa Cruz a um consórcio formado por cristãos-novos, Cristóvão Jaques realizou viagens ao longo de nossa costa
encabeçado por Fernando de Noronha, e que tinha a obrigação, entre os períodos de 1516 a 1519, de 1521 a 1522 e de 1527 a 1528,
conforme contrato, de mandar todos os anos seis navios às novas onde combateu e reprimiu as atividades do comércio clandestino.
terras com a missão de descobrir, a cada ano, 300 léguas [avante] Em 1528, foi dispensado do cargo de Capitão-Morda Ar mada
e construir uma fortaleza. Guarda -Costa, regressando para Portugal.

A rota traçada pela expedição possivelmente seguiu o


A EXPEDIÇÃO COLONIZADORA DE
percurso normal até o Arquipélago de Cabo Verde, cruzou o
Atlântico, passando pelo Arquipélago de Fernando de No-ronha, MARTIM AFONSO DE SOUSA
concluindo sua navegação nas imediações de Porto Seguro, na
atual Baía Cabrália.

Em 1530, Portugal resolveu enviar ao Brasil uma expe-dição


A EXPEDIÇÃO DE 1503/1504 comandada por Martim Afonso de Sousa visando à ocupação da
nova terra. A [Armada] partiu de Lisboa, a 3 de dezembro, com
duas naus, um galeão e duas caravelas que, juntas, conduziam 400
pessoas. Tinha a missão de combater os franceses, que
Segundo as informações do cronista Damião de Góis, essa continuavam a frequentar o litoral e contra-bandear o pau-brasil;
expedição partiu de Portugal, em 10 de junho de 1503, com seis descobrir terras e explorar rios; esta-belecer um ou mais núcleos
naus, e novamente foi comandada por Gonçalo Coelho. Ao de povoação.
chegarem em Fernando de Noronha, naufragou a [capitânia]. Em 1532, fundou, no atual litoral de São Paulo, a Vila de São
Nesse local deu-se a separação da frota. Após aguardar por oito Vicente e, logo a seguir – no limite do planalto que os índios
dias o aparecimento do restante da frota, dois navios (num dos chamavam de Piratininga –, a Vila de Santo André da Borda do
quais se encontrava embarcado Américo Vespúcio) rumaram para Campo. Da Ilha da Madeira, Martim Afonso trouxe as pri-meiras
a Baía de Todos os Santos, pois assim determinava o regimento mudas de cana que plantou no Brasil, construindo na Vila de São
real para qualquer navio que se perdesse do capitão-mor. Vicente o primeiro engenho de cana-de-açúcar.

6
HISTÓRIA NAVAL
Ainda se encontrava no Brasil quando, em 1532, Dom João III A Holanda era um país de bons comerciantes e hábeis
decidiu impulsionar a colonização, utilizando a tra-dicional marinheiros. Os holandeses possuíam uma fortíssima cons-ciência
distribuição de terras. O regime de capitanias he-reditárias marítima e utilizavam seu poder marítimo com muita competência.
consistiu em dividir o Brasil em imensos [tratos de terra], Eles não pretendiam ficar sem o rico mercado do açúcar brasileiro
distribuídos a fidalgos da pequena nobreza, abrindo à iniciativa devido ao conflito com a Espanha e, conse-quentemente, com
privada a colonização. Portugal. Em 1621, eles criaram a West -Indische Compagnie, a
Martim Afonso de Sousa retornou a Portugal em 13 de março Companhia das Índias Ocidentais.
de 1533, após ter cumprido de maneira satisfatória sua missão de
fincar as bases do processo de ocupação das terras brasileiras. A Companhia das Índias Ocidentais holandesa invadiu
primeiro Salvador, de onde foi expulsa por uma força naval luso-
INVASÕES ESTRANGEIRAS NO BRASIL: espanhola cerca de um ano depois, e, em seguida, Olinda, de onde
INVASÕES FRANCESAS NO RIO DE JANEIRO E se expandiu para boa parte do Nordeste e onde permaneceu por 24
anos.
NO MARANHAO: RIO DE JANEIRO; MARANHAO;
INVASORES NA FOZ DO AMAZONAS: INVAÕES Ocorreram nesse período muitos combates no mar e até uma
HOLANDESAS NA BAHIA E EM PERNAMBUCO; grande batalha naval, a Batalha de 1640, onde quase cem navios,
HOLANDESES NA BAHIA; A OCUPAÇÃO DO entre holandeses e luso-espanhóis, combate-ram na costa do
NORDESTE BRASILEIRO, A INSURREIÇÃO EM Nordeste brasileiro.
PERNAMBUCO; A DERROTA DOS HOLANDESES
EM RECIFE; CORSARIOS FRANCESES NO RIO Nessa luta para expulsar os holandeses, o esforço em terra foi
DE JANEIRO fundamental, mas o poder naval português foi capaz de manter
NO SÉCULO VXIII, GUERRAS, TRATADOS E Salvador como base de operações e, com a presença de uma força
naval em Pernambuco, foi possível obter a ren-dição definitiva dos
LIMITES NO SUL DO BRASIL invasores.
No século XVIII, com o envolvimento de Portugal na Guer-ra
de Sucessão da Espanha, na Europa, o Rio de Janeiro foi atacado
por dois corsários franceses. Com a descoberta do ouro das Minas
SINOPSE Gerais, no final do século XVII, o Rio de Janeiro vinha se tornando
Diversos intrusos e invasores desafiaram os interesses uma cidade próspera. Mais tarde, ela se tornaria a capital da
ultramarinos de Portugal durante os séculos XVI e XVII. Os colônia.
franceses foram os primeiros e, desde o início do século XVI,
navios Por seu lado, os portugueses sempre ambicionaram atingir as
de armadores franceses frequentavam a costa brasileira, riquezas existentes nas possessões espanholas do oeste sul-ameri
comerciando com os nativos os produtos da terra: pau-brasil cano. Eles desejavam apossar-se da região do Rio da Prata, pois
(utilizado para tingir tecido); peles de animais selvagens; pa- isso possibilitaria o acesso às minas de prata de Potosi, na Bolívia.
pagaios e macacos; resinas vegetais e outros. Portugal rea-giu A ocupação espanhola dessa região foi, portanto, fundamental para
enviando expedições guarda-costas e, depois, iniciando a deter os interesses portugueses. Mesmo assim, por ela, a prata
colonização do Brasil. boliviana foi contrabandeada para o Brasil.
Esse início da colonização pelos portugueses criou difi-
culdades para os franceses, mas logo eles tentaram estabe-lecer
duas colônias: em 1555, no Rio de Janeiro, e em 1612, no Buscando expandir seus domínios em direção ao sul do Brasil
Maranhão. Portugal reagiu às duas invasões projetando seu poder e alcançar sua meta, Portugal rompeu formalmen-te com o antigo
naval, com bom êxito, para expulsar os invasores. Tratado de Tordesilhas, assinado com os espanhóis em 1494,
Na foz do Rio Amazonas vamos encontrar ingleses, ho- quando, em janeiro de 1680, o gover-nador do Rio de Janeiro, Dom
landeses e irlandeses que haviam estabelecido feitorias pri-vadas, Manuel Lobo, fundou, na margem esquerda do Rio da Prata, a
e foi preciso empregar a força para expulsá-los. Colônia do Santíssimo Sacramento. Esse fato desencadeou uma
O comércio holandês com o Brasil datava quase do início da série de desen-tendimentos, lutas e tratados de limites com a
colonização, da primeira metade do século XVI. Em 1580, ocorreu Espanha que se estenderiam por mais de um século, em que o
a união das coroas de Portugal e Espanha, e o rei da Espanha, emprego do poder naval português foi muito importante, como
Felipe II, passou a ser, também, o rei de Portugal. Os holandeses veremos neste capítulo.
iniciaram sua guerra de independência con-tra a Espanha no final
do século XVI, mas, mesmo assim, esse comércio continuou, no
início do século XVII, intermediado por comerciantes portugueses. Naveguemos, portanto, na luta de nossa integridade ter-
Destacavam-se como mer-cadorias brasileiras o açúcar, o couro, o ritorial.
pau-brasil e o algo-dão.

7
HISTÓRIA NAVAL
INVASÕES FRANCESAS NO RIO DE JANEIRO E NO A reação portuguesa somente ocorreu por intermédio do
MARANHÃO governador Mem de Sá, em 1560. Portugal desistira da via
Essas duas invasões não foram iniciativas do governo da diplomática para a solução dos problemas com os franceses.
França, cuja estratégia estava voltada para seus interesses na
própria Europa, mas sim iniciativas privadas. Em ambas faltou o Mem de Sá atacou o Forte de Coligny com uma força naval
apoio do Estado francês, no momento em que, atacadas pe-los (soldados e índios) que trouxera da Bahia e arrasou-o. Depois
portugueses, necessitaram de socorro. Já a colonização do Brasil partiu para São Vicente sem deixar uma guarnição na Guanabara.
foi um interesse de Portugal, que pretendia prote-ger a rota de seu
comércio com as Índias. Todos os recursos do Estado português Os franceses fugiram para o continente, abrigando-se junto a
estavam disponíveis para expulsar os invasores e proteger os seus aliados tupinambás e, logo depois que os por-tugueses se
núcleos de colonização portuguesa. foram, restabeleceram suas fortificações.

RIO DE JANEIRO Mem de Sá concluiu que era necessário ocupar definiti-


Em 1553, Nicolau Durand de Villegagnon foi nomeado Vice- vamente o Rio de Janeiro para garantir a expulsão dos in-vasores.
Almirante da Bretanha. Assim tomou conhecimento do comércio Dessa vez enviou, em 1563, seu sobrinho Estácio de Sá à testa da
francês com o Brasil e desenvolveu um plano para fundar uma nova força naval, com ordens para fundar uma povoação na Baía
colônia na Baía de Guanabara, onde habitavam nativos da tribo de Guanabara e derrotar definitivamente os franceses.
Tupinambá, aliados dos franceses. O rei da França, Henrique II,
aprovou esse plano de iniciativa privada, prometeu apoio, forneceu
financiamento e dois navios do rei para a viagem. Estácio de Sá obteve a participação de uma tribo tupi, ini-miga
Villegagnon chegou à Baía de Guanabara em 1555. Ins-talou dos tupinambás do Rio de Janeiro, os temiminós, lidera-dos por
o núcleo da colônia – que chamou de França Antártica –, na ilha Araribóia. Participaram, também, como aliados dos portugueses,
que atualmente tem seu nome, e construiu uma fortificação, dando- índios da tribo tupiniquim de Piratininga, trazi-dos de São Vicente.
lhe o nome de Forte de Coligny. A ilha era pequena e não tinha
Estácio de Sá fundou a cidade de São Sebastião do Rio de
água, mas era uma excelente posição de defesa. Em terra firme,
Janeiro, em 1565, entre o Morro Cara de Cão e o Pão de Açúcar.
perto do atual Morro da Glória, instalou uma olaria para fabricar
Era um local apertado, mas protegido pelos morros, de fácil defesa
tijolos e telhas, fez planta-ções e deu início a uma povoação, que
e de onde se controlava a entrada da barra da Baía de Guanabara.
chamou de Henryville, homenageando o rei da França, Henrique
Sem dúvida, o melhor lugar para poder cumprir sua missão. Logo
II. A povo ação em terra firme, porém, não teve bom êxito e o
começaram a combater os franceses e os tupinambás. Houve
progresso da colô-nia, como um todo, deixou a desejar.
grandes combates, inclusive um de ca-noas nas águas da baía e um
Villegagnon, que já mostrara sua bravura e compe-tência
ataque ao atual Morro da Glória, onde Estácio de Sá foi ferido por
como militar em diversas ocasiões, encontrou muitas dificuldades
uma flecha, no rosto, vindo a falecer em consequência desse
para recrutar as pessoas certas para sua colônia. Um núcleo de
ferimento.
colonização precisa de sapateiros, alfaiates, barbeiros,
carpinteiros, oleiros, pedreiros, médicos, solda-dos e muitos Derrotados na Guanabara, os franceses e seus aliados
outros. Sem eles haveria falta de coisas necessá-rias à tentaram, ainda, estabelecer uma resistência na cidade de Cabo
sobrevivência na colônia. Além disso, é funda mental a presença Frio, mas acabaram vencidos. Os franceses que se renderam foram
de bons agricultores para que não faltem alimentos e produtos para
enviados em navios para a França.
o comércio externo.
As pessoas que vieram com Villegagnon formavam, po-rém, MARANHÃO
um grupo heterogêneo em muitos aspectos: católicos e protestantes
(em uma época de sérios conflitos religio-sos), soldados escoceses Os franceses continuaram com o tráfico marítimo na cos-ta
e ex-presi diários (caracterizando extremos de aceitação de brasileira. Seu eixo de atuação, porém, deslocou-se para o Norte,
disciplina). A pior falha, no entanto, foi a presença de poucas ainda sem povoações portuguesas. Após diversas ações na costa
mulheres européias no grupo, o que fez com que muitos colonos do Brasil, estabeleceram-se, em pequeno nú-mero, em diversos
procurassem as mulheres índias. Isso era difícil para Villegagnon pontos do litoral Norte. Desde o final do século XVI, o Maranhão
entender, devido à sua formação religiosa de Cavaleiro de Malta, passou a ser um local regularmente frequentado por navios
com voto de castidade, que não admitia o sexo fora do casamento. franceses. Na atual Ilha de São Luís ha-via uma pequena povoação
Os franceses contavam com a amizade dos tupinambás. Eles de franceses, em boa convivência com os índios, também
comerciavam com os franceses por meio de trocas (es-cambo) – tupinambás, que habitavam o local.
recebiam machados, facas, tesouras, espelhos, tecidos coloridos,
anzóis e outros objetos e forneciam o pau -brasil, que cortavam na Em 1612, partiu da França uma expedição que constituía uma
floresta e traziam para a colônia, e alimentos. Os tupinambás tentativa séria da iniciativa privada para estabelecer uma colônia
lutaram bravamente ao lado dos franceses, pois detestavam os no Brasil. O destino era o Maranhão. A expedição era chefiada
portugueses, que eram amigos de outros índios, seus inimigos. pelos sócios François de Razilly, Daniel de la Touche de la
Ravardière e o Barão de Sancy, com poderes de tenentes-generais
do rei da França. Quando chegaram, construíram o Forte de São
Luís.

8
HISTÓRIA NAVAL
Na França, o bom relacionamento com a Espanha fez com que Os navios dessa força partiram de diversos portos da Ho-landa
o governo não colaborasse significativamente com re-cursos para e reuniram-se em uma das ilhas do Arquipélago de Cabo Verde.
o reforço da colônia. Em 1614, uma força naval, comandada pela No dia 8 de maio de 1624, eles chegaram à Baía de Todos os
primera vez por um brasileiro, Jerônimo de Albuquerque, chegou Santos. No dia seguinte, iniciaram o ataque a Salvador.
ao Maranhão para combater os franceses.
Os holandeses atacaram os fortes que defendiam a ci-dade, e
os navios que transportavam tropas se dirigiram para o Porto da
No Maranhão os portugueses iniciaram a construção de um Barra, onde, após calarem o Forte de Santo Antônio,
forte, que chamaram Santa Maria. Logo os franceses fize-ram uma desembarcaram um contingente que avançou na direção da cidade.
[sortida] e se apoderaram de três dos navios que es-tavam funde
ados. Animados com o bom êxito alcançado, resolveram, uma O governador português resistiu, mas, como não tinha
semana depois, atacar o forte português. Planejaram um ataque recursos suficientes e a população havia abandonado a cida-de,
simultâneo de tropas. Os portugue-ses, no entanto, foram mais acabou se rendendo. A cidade foi saqueada. Somente al-guns dias
rápidos e contra-atacaram sepa-radamente, com vigor, as duas depois organizou-se a reação contra os invasores.
forças francesas, vencendo-as.
Estabelecidos em Salvador, os holandeses foram, aos poucos,
Apesar de os franceses terem um navio de maior porte, o
diminuindo os efetivos de sua força naval, com a par-tida de
Regente, e as três presas portuguesas, além de ainda con-tarem com
diversos navios.
os tupinambás, resolveram propor um armistício, para conseguir
reforços na França ou obter solução diplomá-tica. Os portugueses Soube-se da perda de Salvador, cerca de dois meses
aceitaram. e meio depois, em Lisboa e Madri. As notícias chegavam
à Europa levadas por navios. Logo, o governo luso-espanhol
A trégua também era favorável aos portugueses, que ob-
começou a preparar uma grande força naval para recuperar a
tiveram reforços no Brasil. La Ravardière não conseguiu no-
vamente o apoio de seu governo e o tratado de paz em vigor, colônia antes que a companhia holandesa consolidasse sua
naquele momento, previa que, em casos como esse, os riscos e os conquista. Na Holanda, sabendo-se dos preparativos luso -
perigos cabiam aos particulares, sem que a paz entre os Estados espanhóis, acelerou-se a prontificação dos reforços que de-veriam
fosse perturbada. Além do mais, o rei de Portugal não ratificou a garantir a ocupação da Bahia.
trégua e ordenou que se expulsassem os franceses do Maranhão.
Providenciou reforços e mandou, em seguida, o governador de A preparação de forças navais que projetassem poder a tão
Pernambuco organizar uma nova expedição. O comando coube a longa distância exigia enorme esforço. Era necessário pla-
Alexandre de Moura. nejamento cuidadoso de consideráveis recursos financeiros,
Os franceses foram cercados no Maranhão, por mar e por materiais e huma nos. A força deveria ser composta de navios de
terra, e, sem esperança de reforços, para evitar que os portugueses diferentes tipos. Os galeões eram os principais navios de guerra da
os tratassem como piratas, renderam-se, em 1615. época. As naus e as urcas eram navios mercantes armados com 10
a 20 canhões, o que lhes possibilitava, tam-bém, emprego militar.
As caravelas, pequenas, nem sempre com canhões, eram muito
INVASÕES NA FOZ DO RIO AMAZONAS empregadas para desembarcar tropas. Havia ainda diversos outros
Após a ocupação do Maranhão, os portugueses resolve-ram navios menores, como [patachos], iates velozes e embarcações que
dirigir sua atenção para os invasores da foz do Rio Ama-zonas, complementa-vam a capacidade das forças navais.
enviando uma expedição que fundou o Forte do Presé-pio, origem
da cidade de Belém, para servir de base para suas ações militares. Considerando as populações da época – a Holanda teria cerca
De lá, eles passaram a atacar os estabele-cimentos ingleses, de 1,5 milhão de habitantes e Portugal ainda menos – não era fácil
holandeses e irlandeses, enforcando os que resistiam e conservar em segredo a preparação de uma força naval. Espiões
escravizando as tribos de índios que os apoia-vam. Essa violência mantinham as cortes européias bem informa-das e seus informes
e a criação de uma flotilha de embarca-ções (que agia eram avaliados e utilizados para preparar contra-ofensivas.
permanentemente na região, apoiando as ações militares e Ocorreram verdadeiras corridas de forças navais para alcançar a
patrulhando os rios) garantiram o bom êxito e asseguraram a posse costa brasileira. Chegar primeiro podia ser uma vantagem decisiva.
da Amazônia Oriental para Portugal. Os luso-espanhóis conseguiram, dessa vez, ficar pron-tos
antes dos holandeses e, em 22 de novembro, partiu de Lisboa uma
INVASÕES HOLANDESAS NA BAHIA E EM PERNAM- armada composta por 25 galeões, 10 naus, 10 urcas, 6 caravelas, 2
BUCO patachos e 4 navios menores, tendo a bordo 12,5 mil marinheiros
HOLANDESES NA BAHIA e soldados. O Comandante-Geral era Dom Fadrique de Toledo
A invasão holandesa de Salvador (BA) foi planejada pela Osório, Marquês de Villanueva de Valdueza.
Companhia das Índias Ocidentais com o propósito de lucro, a ser
obtido, principalmente, com a exploração da agroin-dústria do
açúcar. Levantado o capital para o empreendi-mento, os
holandeses reuniram uma relativamente pode-rosa força naval de
26 navios, 1,6 mil marinheiros e 1,7 mil soldados. O comando
coube ao Almirante Jacob Willekens.

9
HISTÓRIA NAVAL
A Armada luso-espanhola chegou a Salvador em 29 de março A INSURREIÇÃO EM PERNAMBUCO
de 1625. Era a maior força naval que até aquela data atravessara o
Atlântico. Cerca de vinte navios holandeses se abrigavam sob a o
Em 1 de dezembro de 1640, ocorreu a Restauração de
proteção dos fortes e a cidade estava defen-dida por tropas
Portugal, sendo o Duque de Bragança aclamado rei, com o nome
holandesas. Logo, iniciou-se o ataque luso -espanhol, que, pela de Dom João IV.
superioridade de forças, não poderia en-contrar muita resistência.
o Em junho de 1641, assinou-se uma trégua de dez anos com os
Com a rendição dos holandeses, a cidade foi ocupada em 1 de holandeses em Haia. Essa trégua interessava à Com-panhia, que
maio. via seus lucros consumidos pelas ações militares,
A OCUPAÇÃO DO NORDESTE BRASILEIRO e aos portugueses, que, no momento, estavam em guerra com a
Espanha e precisavam reduzir as frentes de combate.
Em 1629, a Companhia das Índias Ocidentais resolveu dirigir
seus esforços para Pernambuco, em lugar de tentar re-conquistar a Como sempre ocorre às vésperas de uma trégua, trataram os
Bahia. holandeses de alargar suas conquistas. Assim, ocuparam Sergipe e
Maranhão, no Brasil, e Angola e São Tomé, na África.
A força naval holandesa enviada conquistou Olinda em 1630.
Era comandada pelo General-do-Mar Wendrich Cor-neliszoon
Lonck e trazia, além de uma tripulação de 3,5 mil homens, 3 mil Após a Restauração de Portugal, foi enviado novo go-
soldados. vernadorgeral para o Brasil, Antônio Teles da Silva. Embora
oficialmente o governo português respeitasse a trégua, para evitar
Soube-se dos preparativos com antecedência em Madri e uma guerra declarada contra a Holanda, sigilosamente aprovava a
Lisboa. O General Matias de Albuquerque, que então estava na insurreição no Brasil, e o novo governador desem-penhou papel de
Europa, regressou ao Brasil para organizar a reação, mas pouco destaque no apoio a essa causa, poden-do-se identificá-lo como seu
pôde ser feito de efetivo, restando, para os defenso-res, iniciar a organizador chefe. Iniciou-se, assim, em Pernambuco, a campanha
defesa em terra, depois da ocupação. da insurreição contra os holandeses.

Entre 1631 e 1640, dentro do período da união com a Es-


panha, foram enviadas três Esquadras luso-espanholas ao Brasil Em 1644, Teles da Silva resolveu reunir uma força naval para
para recuperar Pernambuco. auxiliar os revoltosos, com base no que havia dispo-nível. Os três
navios mais fortes eram naus, armadas com 16 canhões cada.
Os holandeses também enviaram forças navais, com re-forços Tripulações de novatos faziam com que dificilmente essa força
de tropas, para proteger suas conquistas no Brasil. Ocorreram, pudesse fazer frente aos profissio-nais holandeses. O comando foi
consequentemente, encontros que resultaram em diversos dado ao coronel Jerônimo Serrão de Paiva.
combates navais de porte. Destacam-se, entre eles:
O Governador Teles da Silva decidiu executar um plano para
– o Combate Naval dos Abrolhos, em 3 de setembro de ocupar o Recife. Os galeões e outros navios de uma frota que
1631; seguia para Portugal deveriam se juntar aos de Serrão de Paiva e,
caso os holandeses fossem ingênuos ou se a po-pulação se
– os combates navais que ocorreram intermitentemente revoltasse, tentar desembarcar na cidade.
durante cinco dias, a partir de 12 de janeiro, na Batalha Naval de Na noite de 11 de agosto, 37 navios portugueses, incluin-do
1640. os galeões, fundearam em frente ao Recife. Vigorava a trégua e,
portanto, oficialmente, as hostilidades não estavam autorizadas.
Para os luso-espanhóis, a batalha ocorrida em 1640 foi uma
derrota estratégica. Após cinco dias de combate, não haviam Os navios holandeses permaneceram no porto, aguar-dando os
desembarcado as tropas em Pernambuco. Os com-bates levaram a acontecimentos e, em terra, os representantes da Companhia das
força naval muito para o norte, ao longo do litoral do Nordeste, e Índias Ocidentais estavam dispostos a resis-tir a qualquer tentativa
tinha, entre ela e Pernambuco, a for-ça holandesa muito pouco de desembarque.
desfalcada. O desembarque das tropas acabou se realizando no No dia 13, o mau tempo obrigou os navios portugueses a
atual estado do Rio Grande do Norte e o conde da Torre regressou buscar o alto-mar. Durante todo o dia 12, no entanto, ti-nham sido
a Salvador com sua força naval. admirados pelo povo pernambucano, e o que ficou conhecido
como A Jornada do Galeão, acabou sendo, somente, um ato de
emprego político do poder naval pelos portugueses, influenciando
Os holandeses, por sua vez, conseguiram manter o do-mínio as mentes e as atitudes, sem uso de força.
do mar e se aproveitaram dele para bloquear os portos principais e
atacar o litoral do Nordeste do Brasil, expandindo sua conquista.
No dia 9 de setembro de 1645, o almirante holandês Lichthardt
resolveu atacar a força de Serrão de Paiva, que se separara dos
outros navios. Os portugueses contavam com sete naus, três
caravelas e quatro embarcações, com uma tri-

10
HISTÓRIA NAVAL
pulação de mil homens, aproximadamente, e estavam fun-deados A DERROTA DOS HOLANDESES EM RECIFE
na Baía de Tamandaré. Lichthardt [investiu à barra] com oito Em 1949 os holandeses foram novamente derrotados em terra
navios holandeses e foi abordar os navios portugue-ses dentro da na segunda Batalha de Guararapes. Apesar de ain-da terem o
baía. domínio do mar, iniciou-se, em seguida, grande deterioração do
ânimo do pessoal embarcado, com motins, destituições de
A resistência se limitou ao bravo Serrão de Paiva e a pou- comandantes e navios que regressaram para a Holanda
cos homens de seu navio. A maioria dos marinheiros e soldados amotinados.
portugueses se lançou ao mar, nadando para a praia. Seguiu- Em fevereiro de 1650, a primeira frota portuguesa da
se uma verdadeira carnificina de fugitivos e uma consequente Companhia do Comércio do Brasil, com 18 navios de guer-ra,
derrota fragorosa, com muitos mortos, prisioneiros, inclusive chegou ao Brasil. Não tinha ordens para atacar o Recife. Dom João
o Serrão de Paiva ferido, e navios queimados ou apresados IV ainda temia uma guerra com a Holanda na Europa e preferiu
e levados para o Recife. Os documentos e a correspondên- manter a situação informal no Brasil, pro-curando obter resultados
cia sigilosa, comprometedores quanto ao envolvimento das por meio de negociações diplomá-ticas e da guerra de insurreição.
autoridades portuguesas na revolta, caíram nas mãos dos Perdia-se, novamente, uma oportunidade, pois os holandeses, já
holandeses. sitiados em terra, não mais contavam com a força naval de De
Com o domínio do mar novamente assegurado, os holan- With.
deses puderam movimentar suas tropas de reforço, sem ris- Em abril de 1650, o Recife recebeu o reforço de doze na-vios
co de oposição no mar. Assim, puderam organizar ataques holandeses, o que permitiu recuperar o domínio do mar e bloquear
para diminuir a pressão que os insurretos já exerciam o Cabo de Santo Agostinho, local por onde as forças de terra luso-
sobre seus principais pontos estratégicos. brasileiras recebiam suas provisões. A força do Conde de Vila
Em fevereiro de 1647, os holandeses atacaram, pelo mar, Pouca de Aguiar ainda estava em Salvador, porém, com ordem de
e ocuparam a Ilha de Itaparica. O propósito era ameaçar Sal- somente entrar em comba-te se atacada. No final de 1650, partiu
vador. para Portugal.
O ataque a Itaparica incentivou Dom João IV a iniciar a Por décadas, o poder marítimo holandês havia prepon-derado
preparação de uma força naval para enviar ao Brasil. nos oceanos, mas, em meados do século XVII, reapa-receu a
Dom João IV designou Antônio Teles de Menezes coman- concorrência séria da Grã-Bretanha, que teve como consequência
dante da Armada de Socorro do Brasil, fazendo-o Conde de a Guerra Anglo-Holandesa, de 1652 a 1654. Tornou-se, portanto,
Vila Pouca de Aguiar e nomeando-o governador e capitão- inviável para os holandeses manter o domínio do mar permanente
general do Estado do Brasil, em substituição a Teles da Silva. na costa do Brasil.
Compunha-se essa esquadra de 20 navios: 11 galeões, 1 urca, Em dezembro de 1653, uma frota portuguesa chegou ao
2 naus, 2 [fragatas] e 4 navios menores. Brasil. O comandante da frota, Pedro Jaques de Magalhães,
A missão da esquadra do Conde de Vila Pouca de Aguiar decidiu bloquear o Recife e apoiar os revoltosos luso-brasilei-ros.
não era expulsar os holandeses de Pernambuco, ou atacar o As posições holandesas foram, sucessivamente, sendo
Recife, mas, sim, proteger Salvador e expulsar os invasores conquistadas, e a rendição do Recife finalmente ocorreu no final
da Ilha de Itaparica. A perda de Salvador seria, sem dúvida, de janeiro de 1654.
desastrosa para Portugal e para a causa dos revoltosos. O longo êxito dos holandeses no Brasil foi resultante do
Na Holanda, sabendo-se da Armada portuguesa de esmagador domínio do mar que conseguiram manter du-rante
Socorro do Brasil, organizou-se uma força naval sob o co- quase todo o período da ocupação. Mesmo quando o Recife já
mando do ViceAlmirante Witte Corneliszoon de With. estava cercado e era inviável vencer em terra, ainda conseguiram,
Os navios holandeses saíram aos poucos dos portos e, por longos anos, suprir a cidade por mar.
somente em março de 1648, alcançaram o Recife. Encontra-
ram uma situação muito desfavorável e indefinições sobre a CORSÁRIOS FRANCESES NO
ação a tomar no mar. As forças holandesas tinham se retirado RIO DE JANEIRO NO SÉCULO XVIII
de Itaparica e somente restava em poder da Companhia, A França utilizou a estratégia de empregar corsários para, por
além do Recife, a Ilha de Itamaracá e os Fortes do Rio Grande meio de ações que visavam ao lucro, causar danos nos mares a seus
do Norte e da Paraíba. inimigos. Eles não eram piratas, pois tinham uma carta de corso,
Em 19 de abril de 1648, travou-se a Primeira Batalha dos que lhes dava a autorização real para agir. Tinham, portanto, o
Guararapes e os holandeses, mais numerosos e com a fama direito de ser tratados como prisioneiros de guerra, enquanto os
de estarem entre os melhores soldados da Europa de então, piratas, se apanhados, podiam ser en-forcados.
foram derrotados no campo de batalha escolhido pelos luso
-brasileiros. As riquezas do Rio de Janeiro emergente atraíram a co-biça de
Restava para a Companhia agir no mar, bloqueando os dois franceses. O primeiro foi Duclerc, que foi derro-tado depois
portos brasileiros e atacando pontos do litoral. O bloqueio, de invadir a cidade. O segundo foi Duguay-Trou-in, que veio com
apesar de exigir dos marinheiros longas estadas no mar, com uma considerável força naval, conquistou a Ilha das Cobras, depois
consequentes problemas sanitários e alimentares, tinha como o Morro da Conceição e, de lá, logrou ocupar a cidade que,
incentivo a possibilidade de fazer presas, havendo participa- ameaçada de ser incendiada, rendeu-se. Saqueou o Rio de Janeiro
ção da tripulação no resultado financeiro da venda dos navios e somente o deixou após receber resgate.
e das cargas apresadas.

11
HISTÓRIA NAVAL
GUERRAS, TRATADOS E LIMITES NO SUL DO O Brigadeiro Silva Paes permaneceu no Sul e, após ameaçar
BRA-SIL um ataque a Montevidéu – que não ocorreu de-vido ao grande risco
A fronteira do Sul do Brasil demorou a ser definida devi-do à dos navios ficarem encalhados naque-la baía –, decidiu partir para
ferrenha disputa travada entre Portugal e Espanha, que tinham o Rio Grande de São Pedro e cumprir a missão de fortificá-la. Ao
interesse em dominar a estratégica região platina. As-sim, para chegar, tratou Silva Paes de organizar suas defesas e mandou
consolidar o domínio da região, os dois reinos trava-ram diversas construir o forte que de-nominou Jesus, Maria e José. Estavam
batalhas – nas quais o poder naval de ambos os lados foi muito assim criadas as con-dições para o início da povoação dessa região,
empregado – e vários acordos foram firmados. A fronteira sul do que recebeu mais tarde casais açorianos para ocupar a terra.
Brasil mudou então diversas vezes, confor-me o estipulado em
cada novo acordo assinado entre as duas coroas, ficando conhecida Procurando solucionar suas questões de limites, Por-tugal e
como a fronteira do vai-e-vem. Espanha resolveram assinar, em 1750, o Tratado de Madri, que,
entre outras medidas, estabeleceu a posse da Colônia de
Tratado de Lisboa (1681) – Já no primeiro ano de sua Sacramento para Espanha e a de Sete Povos das Missões para
fundação, em 1680, a Colônia de Sacramento foi atacada e recon Portugal. A troca estabelecida pelo trata-do não foi efetuada, pois
quistada aos espanhóis pelo governador de Buenos Aires, sendo os índios que viviam nas Missões se recusaram a deixar o local,
devolvida aos portugueses em 1683, após a assi-natura do Tratado empreendendo resistência armada, levando os luso-espanhóis a
de Lisboa, em 1681. responder com ação militar conjunta que, em 1756, por meio da
força, permitiu a ocupação da região.
Tratado de Utrecht (1715) – A morte do rei da Espanha Carlos
II, em novembro de 1700, levou as maiores potências europeias a
engajarem-se no conflito que ficou conhecido como Guerra da Tratado do Pardo (1761) – Celebrado entre portugueses e
Sucessão da Espanha, que durou quase 15 anos e teve seus reflexos espanhóis, anulou os efeitos do Tratado de Madri e estabe-leceu
estendidos para o continente ame-ricano. Nesse conflito, Portugal que a Colônia de Sacramento voltasse a ser de Portugal. Durante a
e Espanha ficaram em lados opostos e, como consequência, a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), Portugal e Es-panha voltaram
Colônia de Sacramento foi novamente ocupada pelos espanhóis a ficar em lados opostos quando, em 1761, a Espanha assinou um
em 1705. O tratado foi celebrado em 1715 entre as duas nações – tratado de aliança com a França, o que levou a Grã-Bretanha a
legitimou a presença portuguesa na região do Prata com a declarar guerra aos espanhóis. Como consequência, Portugal, que
restituição aos lusos da Colônia de Sacramento. apoiava os britânicos, foi inva-dido, em 1762, por forças
hispânicas e, consequentemente, a guerra se propagou para o Sul
do Brasil.
Tratado de Madri (1750) O conflito ocorrido entre
O espanhol Dom Pedro Antônio Cevallos tinha ambicioso
as cortes portuguesa e espanhola, entre 1735 e 1737, mo-
proje to de dominação do Sul do Brasil e preparou-se militar-mente
tivou a terceira investida hispânica sobre a Colônia de
para atacar a Colônia de Sacramento, recebendo re-forços da
Sacramento. Cumprindo ordem do governador de Buenos
Aires, em junho de 1735, navios espanhóis já empreen- Espanha em navios, material de artilharia e munição.
diam bloqueio marítimo à colônia lusa, enquanto 4 mil A Colônia de Sacramento dispunha, para sua defesa, de uma
soldados realizavam sítio por terra. pequena tropa, que não excedia 500 homens, e o Gover-nador
No Rio de Janeiro, o governador interino, Brigadeiro Vicente da Silva Fonseca respondia às intimações de Cevallos
José Silva Paes, preparou e enviou, às pressas, uma força procurando ganhar tempo, enquanto aguardava reforços. Em
naval para socorrer a colônia. Assim que chegou à região do outubro de 1762, a Colônia de Sacramento foi atacada pela quarta
Prata, essa força naval dissipou o bloqueio que os navios es- vez e, não obstante a resistência oferecida pelos portugueses,
panhóis vinham impondo à Colônia de Sacramento.
capitulou.
Em Portugal, o recebimento da notícia do assédio es-panhol à
colônia lusa levou o rei a ordenar o preparo de uma força naval, Os espanhóis continuaram avançando sobre terras ocupadas
constituída de duas naus e uma fragata. Essa força partiu de Lisboa pelos luso-brasileiros e, com superioridade de forças, tomaram o
em março de 1736. Ao chegar ao Rio de Janeiro, recebeu reforços Rio Grande de São Pedro, em 1763. Ape-sar de ter sido resta
e a ela se juntou o Brigadeiro Silva Paes, com ordens de socorrer a belecida a paz entre as duas nações, após a assinatura do Tratado
Colônia de Sacramento e, se possível, reconquistar de Paris, e o governador de Buenos Aires restituir a Colônia de
Sacramento, este con-tinuou com a ocupação do Rio Grande de
Montevidéu (fundada e abandonada pelos luso-brasilei-ros e São Pedro, que pretendia tornar definitiva, tendo como base o
novamente fundada pelos espanhóis) e fortificar o Rio Grande de Tratado de Tordesilhas. Não obstante a reclamação dos
São Pedro. portugueses por via diplomática, foi necessário empreender uma
ação militar, na qual tropas luso-brasileiras, comandadas pelo
A força naval portuguesa no Prata combateu os es-panhóis, Tenente-General João Henrique Boehm (alemão a serviço de
apoiou a Colônia de Sacramento e estabeleceu o domínio do mar Portugal), juntamente com o emprego da Esquadra por-tuguesa,
na região. Após alcançar esses objetivos, parte dessa força reconquistaram o Rio Grande de São Pedro, em abril de 1776.
regressou ao Rio de Janeiro.

12
HISTÓRIA NAVAL
Em 1777, os espanhóis protestaram contra a tomada do Rio
Grande pelos portugueses e, após insucessos diplomá-ticos,
decidiram enviar poderosa expedição sob comando de Dom Pedro FORMAÇÃO DA MARINHA IMPERIAL
de Cevallos. Os espanhóis ocuparam a Ilha de Santa Catarina e, BRASILEIRA: A VINDA DA FAMILIA REAL;
pela quinta vez, atacaram a Colônia de Sacramento. POLITICA EXTERNA DE D.JOÃO E A ATUAÇÃO
DA MARINHA: A CONQUISTA DE CAIENA E A
Tratado de Santo Ildefonso (1777) OCUPAÇÃO DA BAHIA ORIENTAL: A BANDA
– Com a morte de Dom José I, em fevereiro de 1777, assu-miu ORIENTAL;
o trono de Portugal Dona Maria I. Na tentativa de resolver as A REVOLTA NATIVISTA DE 1817 E A ATUAÇÃO
o DA MARINHA; GUERRA DE INDEPENDENCIA;
questões de limites entre os dois países, foi assinado, em 1 de
ELEVAÇÃO DO BRASIL A REINO UNIDO; O
outubro de 1777, o Tratado de Santo Ildefonso. Por esse tratado,
ficou estabelecida a restituição a Portugal da Ilha de Santa
RETORNO DE D. JOÃO VI PARA PORTUGAL; A
Catarina, porém os lusos perderam a Colônia do Santíssimo INDEPENDENCIA ; A FORMAÇÃO DE UMA
Sacramento e a região dos Sete Povos das Missões. Esse tratado ESQUADRA BRASILEIRA; OPERAÇÕES NAVAIS;
deixou os espanhóis com o domínio exclusivo do Rio da Prata, CONDEFERAÇÃOD O EQUADOR.
sendo deveras desvantajoso para Portugal.
Tratado de Badajós (1801) – A estabilidade entre as relações
luso-espanholas foi afetada quando Napoleão Bo-naparte,
desejoso de castigar Portugal por participar, com seus navios, de SINOPSE
cruzeiros ingleses no Mediterrâneo e visando a trazer os Emergindo das dificuldades do período revolucioná-rio
portugueses para a zona de influência francesa, forçou a Espanha (1789- 1799), a França erguia-se perante a Europa aristo-crática
a declarar guerra a Portugal, em 1801. O rompimento das relações com o Grande Exército chefiado por Napoleão Bo-naparte. As
entre os dois países na Europa du-rou poucas semanas, sem ações notáveis vitórias militares francesas subjugaram a maior parte do
militares dignas de registro, ficando o episódio conhecido como a Velho Mundo e esse expansionismo teve repercussões intensas na
Guerra das Laranjas. Na América, porém, a chegada da notícia própria América, abrindo caminho para a emancipação política das
sobre o conflito entre as duas coroas desencadeou o rompimento colônias ibéricas.
de hostilidades entre as populações de fronteiras. No Rio Grande
de São Pedro, tropas foram aprestadas para defender as frontei-ras, As guerras napoleônicas (1804–1815) foram caracteri-zadas
ainda em demarcação, e os luso-brasileiros invadiram e por dois aspectos: o primeiro, na luta de uma nação burguesa
conquistaram Sete Povos das Missões, do lado espanhol, enquanto contra uma Europa aristocrática; e o segundo, na luta entre França
os hispano-americanos invadiram o sul de Mato Grosso. e Inglaterra. Com a derrota da Marinha francesa na Batalha de
Trafalgar (1805) para a Marinha inglesa, muito superior, decide
O Tratado de Badajós pôs fim à guerra de França e Espanha Napoleão investir contra seus inimi-gos continentais (Áustria e
contra Portugal, tendo a Espanha, por direito de guerra, conservado Prússia) e, ao tomar Berlim, iniciou guerra econômica à Inglaterra,
a praça de Olivença, e Portugal recupera-do, no sul da América, o estabelecendo, em 1806, um bloqueio continental. Os demais
território dos Sete Povos das Missões Orientais do Uruguai. Estados europeus foram concitados a aderir ao bloqueio, entre eles
Portugal.

Portugal sempre manteve laços comerciais com a Inglaterra, e


sua não-adesão ao bloqueio foi determinante para a decisão de sua
invasão por exército francês sob o comando do General Junot. Ao
saber da chegada do exér-cito invasor de Napoleão, o Conselho de
Estado e o Príncipe Regente Dom João acordaram na retirada para
o Brasil de toda a Família Real.

Em 29 de novembro de 1807, a Família Real embarca rumo


ao Brasil. O comboio de transportes que conduziu todo o aparato
(15 mil pessoas, entre militares e civis) era de trinta navios e várias
embarcações. Foi protegido por escolta ingle-sa composta por
dezesseis naus.

Em 22 de janeiro de 1808, a nau Príncipe Real, onde o


Príncipe Regente Dom João encontrava-se embarcado, che-gou à
Bahia.

13
HISTÓRIA NAVAL
Em 28 de janeiro daquele ano, Dom João proclamava a POLÍTICA EXTERNA DE DOM JOÃO E A ATUAÇÃO DA
independência econômica do Brasil, com a publicação da famosa MARINHA: A CONQUISTA DE CAIENA
carta régia, que abriu ao comércio estrangeiro os portos do País;
em 7 de março de 1808, Dom João, à testa de uma força naval Diante da invasão do território continental português pelas
composta por três naus, um [bergantim] e um transporte, entrou na o
Baía de Guanabara. A bordo tam- tropas do General Junot, Dom João assinou, em 1 de maio de
bém vinham os integrantes da Brigada Real da Estandarte dos 1808, manifesto declarando guerra à França, consideran-do nulos
todos os tratados que o imperador dos franceses o obrigara a
Fuzileiros Navais assinar. Os limites entre o Brasil e a Guiana Francesa voltaram a
ser questionados.
Marinha, encarregados da artilharia e da defesa dos na-vios.
Como a guerra não poderia ser levada a cabo no terri-tório
Vamos ver neste capítulo o que ocorreu quanto ao es- europeu, e sendo importante a ocupação de território inimigo em
tabelecimento da Marinha na Corte e a política externa de Dom qualquer guerra, o objetivo ideal se tornou a colônia francesa. A
João, caracterizada pela invasão da capital da Guia-na Francesa, Corte determinou ao capitão-general da Capitania do Grão-Pará,
Caiena, e a ocupação da Banda Oriental, atual Uruguai. Tenente-Coronel José Narciso Magalhães de Meneses, que
ocupasse militarmente as margens do Rio Oiapoque. Ordem
recebida, tratou de ar-regimentar pessoal e material, valendo-se,
No campo interno, veremos a Revolta Nativista de 1817, inclusive, (diante dos escassos recursos existentes nos cofres da
movimento separatista ocorrido em Pernambuco, onde a Marinha capitania) de subscrição popular.
atuou na sua repressão, bloqueando o porto do Re-cife.

Em outubro de 1808 a força estava pronta, sob o co-mando do


Com o retorno de Dom João VI para Portugal, permane-ceu Tenente-Coronel Manuel Marques d’Elvas Portugal. Para
no Brasil seu filho Dom Pedro, que passou a sofrer pressão vinda conduzir essa força ao lugar de destino, aprestou-se uma
da Corte de Portugal para que regressasse a Lisboa. Como [esquadrilha] composta por dez embar-cações. Em 3 de novembro,
consequência, temos o Dia do Fico (9/1/1822) e, pos-teriormente, a esquadrilha foi acrescida de três navios vindos da Corte, um
após novas pressões, Dom Pedro proclama a nossa Independência. deles, o [brigue] Infante D. Pedro, estava sob o comando do
Para concretizar a Independência e levar a todos os recantos Capitão-Tenente Luís da Cunha Moreira. Juntos traziam um
do litoral brasileiro a notícia do dia 7 de setembro, foi necessário reforço de 300 homens. Tinham ordens de ocupar o território da
organizar uma força naval capaz de atingir todas as províncias e Guiana Francesa e submeter Caiena.
fazer frente aos focos de resistência à nova ordem.
o
Em 1 de dezembro, desembarcaram as nossas tropas no
território inimigo. Quatro escunas francesas foram apri-sionadas,
Vamos, então, iniciar esta viagem. incorporadas e rebatizadas de Lusitana, D. Carlos, Sydney Smith e
A VINDA DA FAMÍLIA REAL Invencível Meneses.
A CORTE NO RIO DE JANEIRO O governador de Caiena, Victor Hughes, tratou, em vão, de
Juntamente com a Família Real, todo o aparato buro-crático e preparar a resistência, levantando baterias, fortificando os
administrativo foi transferido para o Rio de Janeiro. Entre as melhores pontos estratégicos e guarnecendo os fortes. As forças de
primeiras decisões de Dom João, já no dia 11 de março de 1808, ataque foram ganhando terreno, apertando cada vez mais o cerco à
está a instalação do Ministério dos Negócios da Marinha e capital Caiena, até sua rendição final, em 12 de janeiro de 1809. A
Ultramar, que continuou a ter o mesmo regula-mento instituído importância dessa operação recai na condição de ter sido o
pelo Alvará de 1736. primeiro ato consistente de política ex-terna de Dom João
A seguir, foram sucessivamente criadas ou estabelecidas realizado por meio militar, contando com forças navais e terrestres
várias repartições necessárias ao funcionamento do Minis-tério da anglo-luso-brasileiras.
Marinha, tais como: Quartel-General da Armada, In-tendência e
Contadoria, Arquivo Militar, Hospital de Marinha, Fábrica de A ocupação portuguesa da Guiana Francesa durou mais de
Pólvora e Conselho Supremo Militar. oito anos. Embora temporária, a ocupação da Guiana Francesa foi
A Academia Real de Guardas-Marinha, hoje Escola Naval, da maior valia para a fixação dos limites do País, porquanto, na
que também acompanhou a Família Real, teve sua instalação nas ocasião de sua devolução, em 1817, ficaram ta-citamente
dependências do Mosteiro de São Bento, tor-nando-se, desta feita, estabelecidos os limites do Oiapoque.
o primeiro estabelecimento de ensino superior no Brasil.
A BANDA ORIENTAL

No tocante à infraestrutura já existente no Rio de Ja-neiro, Outro movimento importante de Dom João na política externa
observamos que o Arsenal Real da Marinha, localiza-do então ao foi a ocupação da Banda Oriental. Na ocupação, foi de grande
pé do morro do Mosteiro de São Bento, cuja criação data de 29 de importância o papel que desempenhou a Marinha, não só no
dezembro de 1763, teve sua capacida-de ampliada para poder transporte das tropas, desde Portugal (já liberado do domínio
apoiar a recém-chegada Esquadra. francês), como também em todo o desenrolar da ocupação.

14
HISTÓRIA NAVAL
O movimento de independência da América espanhola A REVOLTA NATIVISTA DE 1817 E A ATUAÇÃO DA
provocou o aparecimento de novas nações americanas, cada qual MARINHA
com lideranças individuais. Foi o caso do Uruguai, então chamado
de Banda Oriental, que se recusava a fazer parte das Províncias Em paralelo ao que ocorria no Sul, teve a Corte de se mo-
Unidas do Rio da Prata, encabeçada por Buenos Aires. Seu líder, bilizar para fazer frente ao movimento separatista que eclodiu em
José Gervásio Artigas, arregimentou as ca-madas populares contra Pernambuco, em março de 1817.
o domínio espanhol e para o ideal da anexação promovido por
Buenos Aires. Nesse intento, in-vadiu as fronteiras portenhas e As primeiras providências para o restabelecimento da ordem
brasileiras, o que ocasionou o acordo entre as duas últimas para legal em Pernambuco foram tomadas pelo Conde dos Arcos,
uma ação conjunta contra Artigas. governador da Bahia, que fez armar em guerra alguns navios
mercantes, e mandou-os seguir para Pernambuco sob o comando
Em 12 de junho de 1816, partiu do Rio de Janeiro uma Di-visão do Capitão Tenente Rufino Peres Batista. A es-quadrilha era
Naval, composta de uma fragata, uma [corveta], cinco naus (das composta por três navios e tinha como missão o bloqueio do porto
quais uma era inglesa e outra francesa) e seis brigues, capitaneada
pela nau Vasco da Gama, onde acha-vam-se embarcados o do Recife.
Chefe-de-Divisão Rodrigo José Fer-reira Lobo, responsável
pelas atividades navais da expedi-ção, e o tenente-coronel Carlos Em 2 de abril, partiu da Corte uma Divisão sob o co-mando
Frederico Lecor, então no-meado governador e capitãogeneral da do Chefe-de-Esquadra Rodrigo José Ferreira Lôbo, composta por
o três navios, enquanto que, da Bahia, seguiram por terra dois
Praça e Capitania de Montevidéu. Foi se reunir com o 1 regimentos de cavalaria e dois de infantaria. Em 4 de maio, outra
Escalão, composto por seis navios, que já havia seguido para Divisão Naval, sob o comando do Chefe-de-Divisão Brás Caetano
Santa Catarina em Barreto Cogomilho, partiu do Rio de Janeiro.
janeiro.
Do Rio de Janeiro, em 4 de agosto, partiu nova flotilha,
composta por quatro navios, com a missão de operar em com- O cerco da cidade do Recife por terra e o bloqueio efe-tuado
binação com a Divisão dos Voluntários Reais. Em 22 de novem- por mar fizeram com que os rebeldes abandonassem a cidade em
bro de 1816 deu-se o desembarque, em Maldonado, das for-ças 20 de maio, dando fim ao movimento separatista.
navais de Rodrigo José Ferreira Lobo. Com a ocupação da cidade GUERRA DA INDEPENDÊNCIA
e a vitória pelas forças terrestres em Índia Morta, o caminho para
Montevidéu ficou livre. Lecor encontrava-se acampado no passo ELEVAÇÃO DO BRASIL A REINO UNIDO
de São Miguel, quando recebeu uma [deputação] de Montevidéu,
que apresentou-lhe as chaves da cidade e seu submisso respeito e Do mesmo modo que a transferência para o Brasil da sede do
completa adesão ao governo de Dom João VI. reino português foi motivada pela ameaça repre-sentada pelo
expansionismo francês na Europa, a queda de Napoleão e o
Não foi imediata a completa submissão da Banda Oriental. movimento de restauração das monar-
Ainda, por alguns anos, fez José Artigas tenaz re-sistência à quias absolutistas, encabeçado pelo Congresso de Viena,
dominação portuguesa, até sua derrota final na Ba-talha de levou os portugueses a esperar que seu
Taquarembó, em 22 de janeiro de 1820. rei retornasse para Portugal e trouxesse a Corte de volta para
Durante esse período, os partidários de Artigas valiam-se de Lisboa. Entretanto, o monarca permaneceu no Rio de Janeiro e,
corsários que, com base na Colônia de Sacramento, oca-sionavam para viabilizar essa situação, elevou o Brasil a uma condição
grandes prejuízos ao comércio de nossa Marinha Mercante. Com equivalente a de Portugal, com a formação do Reino Unido de
recursos navais reduzidos para liquidar a nova ameaça, o comando Portugal, Brasil e Algarves. Enquanto comerciantes e fazendeiros
português empregou tropas terrestres para tentar destruir as bases brasileiros desfrutavam do afrouxamento dos laços coloniais, a
inimigas. Assim, o Tenente-Coronel Manuel Jorge Rodrigues, sociedade portuguesa via-se deixada em segundo plano, com o
auxiliado por forças na-vais, atacou e conquistou Colônia, território luso sendo administrado por uma junta sob controle de
Paissandu e outros locais às margens do Uruguai, tendo em um militar britânico.
Sacramento conseguido aprisionar vários corsários que aí se
encontravam. Tal estado de “abrasileiramento” da monarquia portu-guesa,
No mar, o último episódio em que a força naval atuou, somado ao clamor por uma flexibilização do absolu-tismo de
ocorrido em 15 de junho de 1820, foi o aprisionamento do corsário setores da sociedade portuguesa, fez estourar, na Cidade do Porto,
General Rivera, com a recuperação dos mercantes Ulisses e um movimento revolucionário liberal. Logo a revolução se
Triunfantes, pela Corveta Maria da Glória, co-mandada pelo espalhou por todo o Portugal, fomentando a instalação de uma
Capitão-de-Fragata Diogo Jorge de Brito. assembleia nacional constituinte deno-minada de “Cortes”, que
visava a instaurar uma monarquia constitucionalista. O estado
Em 31 de julho de 1821, em assembléia formada por de- revolucionário da antiga metró-pole provocou o retorno do rei em
putados representantes de todas as localidades orientais, foi 26 de abril de 1821, dei-xando seu filho Dom Pedro como príncipe
aprovada, por unanimidade, a incorporação da Banda Orien-tal à regente. Tentava, assim, a dinastia de Bragança, manter sob
Coroa portuguesa, fazendo parte do domínio do Brasil com o nome controle, e longe dos ventos liberais, as duas partes de seu reino.
de Província Cisplatina.

15
HISTÓRIA NAVAL
Mesmo com o retorno do rei, as Cortes reunidas em Lis-boa A FORMAÇÃO DE UMA ESQUADRA BRASILEIRA
mantiveram-se atuantes na imposição de uma monarquia O governo brasileiro, constituído por José Bonifácio,
constitucional a Dom João VI. Contudo, o posicionamento das percebeu que só o domínio do mar manteria a unidade da ex-
Cortes em relação ao Brasil era completamente contrário ao seu colônia portuguesa, pois as ligações entre as províncias litorâneas,
discurso liberal: vinha no sentido de reativar a subor-dinação onde estava concentrada a maior parte da popu-lação e da força
política e econômica, reerguendo o pacto colonial. A oposição que produtiva brasileira, eram inteiramente pelas vias marítimas, ao
as Cortes faziam à dinastia de Bragança em Portugal e suas longo de um extenso litoral de mais de 8 mil quilômetros.
crescentes imposições ao príncipe regente provocaram reações de A rápida formação de uma Marinha de Guerra nacional
Dom Pedro. Em 9 de janeiro de 1822, no que ficou conhecido constituía-se no melhor meio de transportar e concentrar tropas
como Dia do Fico, Dom Pedro decla-rou que permaneceria no leais e suprimentos para as áreas de embate com os portugueses,
Brasil, apesar da determinação das Cortes para que retornasse à com a rapidez e a segurança que os caminhos terrestres não
Lisboa. Concomitantemente, o príncipe nomeou um novo permitiam. Ainda, esse conjunto de navios de guerra, a Esquadra,
Gabinete de Ministros, sob a li-derança de José Bonifácio de promoveria o bloqueio aos portos das cidades brasileiras ocupadas
Andrada e Silva, que defendia a emancipação do Brasil sob uma pelos portugueses, impedindo a chegada de reforços da metrópole
monarquia constitucional encabeçada pelo príncipe regente. e isolando as guarnições portuguesas de ressuprimentos vindos por
mar, bem como fustigando-as com o fogo dos canhões
A pressão das Cortes pela restauração do pacto colonial, com embarcados.
o consequente esvaziamento das suas atribuições de regente, O nascimento da Marinha Imperial se deu nesse regime de
levaram Dom Pedro a defender a autonomia brasi-leira perante a urgência, aproveitando os navios deixados no porto do Rio de
restauração da condição de colônia pretendi-da pelas Cortes. Janeiro pelos portugueses, em mau estado de con-servação, e os
oficiais e praças da Marinha portuguesa que aderiram à
Independência. Os navios foram reparados, em um intenso
A INDEPENDÊNCIA trabalho do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, e foram
adquiridos outros, tanto pelo governo como por subscrição
Em 7 de setembro de 1822, o Príncipe Dom Pedro declarava
pública. E as lacunas encontradas nos corpos de oficiais e praças
a Independência do Brasil. Porém, só as províncias do Rio de
foram completadas com a contratação de estrangeiros, sobretudo
Janeiro, São Paulo e Minas Gerais atenderam de imediato à
experientes remanescentes da Marinha inglesa. A necessidade de
conclamação emanada das margens do Ipiran-ga. Até pela
dispor da Força Naval como eficiente elemento operativo e como
proximidade geográfica, estas mantiveram-se fiéis às decisões
fator de dissua-são para as pretensões de reconquista portu guesa
emanadas do Paço, mesmo após a partida de Dom João VI. As
capitais das províncias ao Norte do País mantiveram sua ligação fez com que o governo imperial contratasse Lorde Thomas
com a metrópole, pois as peculiari-dades da navegação a vela e a Cochra-ne, um brilhante e experiente oficial de marinha inglês,
falta de estradas as punham mais próximas desta do que do Rio de como Comandante-em-Chefe da Esquadra.
Janeiro. Mormente o expressivo número de patriotas no interior
dessas provín-cias, nas capitais e nas poucas principais cidades, as
OPERAÇÕES NAVAIS
elites de comerciantes era majoritariamente portuguesa e adepta da
restauração colonial pretendida pelo movimento liberal português. o
Durante a queda-de-braço empreendida en-tre as Cortes e Dom Em 1 de abril de 1823, a Esquadra brasileira co-mandada por
Pedro, foram reforçadas as guarnições militares das capitanias do Cochrane deixava a Guanabara com destino
à Bahia, para bloquear Salvador e dar combate às forças navais
Norte e Nordeste para manter a vinculação com Lisboa.
portuguesas que lá se concentravam sob o comando do Chefe-de-
Divisão Félix dos Campos. A primeira tentati-va de dar combate
A resistência mais forte estava justamente em Salvador, aos navios portugueses foi desfavorável a Cochrane, tendo
Bahia, onde essa guarnição era mais numerosa. No Sul, a re-cém- enfrentado, além do inimigo, a indisposição para luta dos
incorporada Província Cisplatina viu as guarnições mili-tares, que marinheiros portugueses nos navios da Esquadra, muitos dos quais
lá ainda estavam, dividirem-se perante a causa da independência. guarneciam os canhões com uma inabi-lidade próxima ao motim.
Enquanto o comandante das tropas de ocu-pação, General Carlos Depois de reorganizar suas forças e expurgar os elementos
Frederico Lecor, colocou-se ao lado dos brasileiros, seu desleais, e a despeito das
subcomandante, Dom Álvaro da Costa de Souza Macedo, e a Forças Navais portuguesas, Cochrane colocou Salvador
maior parte das tropas defenderam o pacto com Lisboa. A situação sob bloqueio naval, capturando os navios que realizavam
geral que se descortinava pa-recia cada vez mais desfavorável para o abastecimento da cidade, já sitiada por terra pelas forças
o processo de inde-pendência. Mesmo que as forças brasileiras, brasileiras.
constituídas de militares e milícias patrióticas, no interior, Pressionadas pelo desabastecimento, as tropas portu-guesas
forçassem e mesmo sitiassem as guarnições portuguesas, o mar era abandonaram a cidade em 2 de julho, num comboio de mais de 70
uma via aberta para o recebimento de reforços. Assim, Portugal navios, escoltados por 17 navios de guerra. Este foi acompanhado
refor-çou com tropas, suprimentos e navios de guerra a guarnição e fustigado pela Esquadra brasileira, des-tacando-se a atuação da
de Salvador comandada pelo governador das Armas da Província, fragata Niterói, comandada pelo Capitão-de-Fragata John Taylor,
Brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo. que, apresando vários navios, atacou o comboio português até a
foz do Rio Tejo.

16
HISTÓRIA NAVAL
O próximo passo para a expulsão dos portugueses do Norte-
Nordeste brasileiro era o Maranhão, onde Cochra-ne, utilizando-se
de um hábil ardil, fez da nau Pedro I, sua capitânia, a ponta de A ATUAÇÃO DA MARINHA NOS CONLFITOS DA
lança de uma grande força naval que viria próxima, transportando REGENCIA E DO INICIO DO SEGUNDO REINADO
um vultoso exército nacional que tomaria São Luís. Porém, tudo
não passava de um blefe para levar à deposição da junta
governativa que se mantinha fiel a Lisboa, o que aconteceu em 27
de julho de 1823. SINOPSE
Seguiu-se a utilização do mesmo ardil no Pará, conduzido pelo A peculiar independência brasileira, que pôs à frente do
Capitão-Tenente John Pascoe Grenfell, no comando do brigue processo de emancipação da ex-colônia o herdeiro do trono real
Maranhão. Tais blefes, que conduziram à aceitação português, produziu uma divisão na política brasileira que
da Independência brasileira pelas elites, formadas em sua marcaria o reinado de Dom Pedro I: a separação entre brasi-leiros,
maioria de portugueses, em São Luís e em Belém, não os liberais, que defendiam a monarquia constitucional, e
se deram tão facilmente, como um vislumbre superficial do portugueses, que propunham a maior concentração de poder nas
evento histórico permite concluir. A luta pelo poder pro- mãos do imperador.
vincial entre brasileiros nativos e portugueses recém-adep-
O Imperador D. Pedro I tornava-se cada vez mais autoritá-rio,
tos da Independência levou a que o contingente da Marinha,
buscando o apoio da facção dos portugueses que defendia maior
naquelas cidades, atuasse tanto num sentido apaziguador, mesmo
poder ao monarca. Já a facção dos brasileiros queria que o poder
diplomático, como trazendo a ordem pela força das armas.
do Estado brasileiro fosse dividido entre o imperador e a
As operações navais na Cisplatina assemelharam-se às Assembleia Legislativa, constituída de representantes eleitos da
realizadas na Bahia, sendo empreendido um bloqueio naval sociedade, que redigiria a Carta Constitucional e faria as leis. Ou
seja, defendiam que a monarquia de Dom Pedro fosse uma
conjugado com um cerco à Montevidéu, isolando as tropas
portuguesas comandadas por Dom Álvaro Macedo. Em mar-ço de monarquia constitucional.
1823, a Força Naval no Sul, comandada pelo Capitão-de-Mar-e- A Assembleia Constituinte foi reunida para redigir a pri-meira
Guerra Pedro Antônio Nunes, foi reforçada com a chegada de mais Constituição brasileira. Contudo, a maioria dos deputados
navios vindos das vitórias no Norte-Nordeste do Império, a tempo constituintes queria uma Constituição que limitasse os poderes do
de se opor à tentativa portuguesa de romper o bloqueio em 21 de
imperador. Tal fato desagradava a Dom Pedro e aos homens que o
outubro. A batalha que se se-guiu, embora violenta, terminou sem
apoiavam, já que o monarca queria no Brasil uma monar-quia
a vitória de nenhum dos oponentes, mas configurou-se como uma
absolutista, como seu pai, Dom João, reinou em Portugal.
vitória estra-tégica das forças brasileiras com a manutenção do
bloqueio. O desabastecimento provocado pelo bloqueio e pelo O conflito entre Dom Pedro e os deputados constituintes
cerco por terra, somado à desalentadora notícia que Montevidéu acabou quando o imperador dissolveu a Assembleia Consti-tuinte
era a última resistência portuguesa na ex-colônia, provocou em 1823. Em seguida, nomeou um Conselho de Estado, composto
a evacuação do contingente português da Cisplatina, em por dez membros, com a tarefa de redigir um projeto de
novembro de 1823. Constituição. O resultado é que impôs uma Constituição,
CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR outorgada em 1824, que praticamente resgatava o regime
absolutista. A atitude autoritária do imperador aumentou em muito
Ainda no reinado de Dom Pedro I, uma revolta na Provín- a oposição liberal a ele, representada pelo Partido Bra-sileiro.
cia de Pernambuco colocou em perigo a integridade terri-
torial do Império. A Marinha atuou contra a Confederação Foram vários anos de disputa política entre os Partidos
do Equador a partir de abril de 1824. Porém, o aumento do Português e Brasileiro e de críticas cada vez mais violentas ao
combate à revolta só se deu com o envio da Força Naval imperador, vindas dos políticos do Partido Brasileiro e de todos os
comandada por Cochrane, onde foi embarcada a 3ª Brigada do que defendiam que o poder do Estado não ficasse tão concen-trado
Exército Imperial, com 1,2 mil homens, comandada pelo nas mãos de Dom Pedro. Também desagradava muito aos
Brigadeiro Francisco Lima e Silva. As tropas seriam desem- brasileiros naturais a influência que os portugueses, que haviam
barcadas em Alagoas e seguiriam por terra para a província aderido à nacionalidade brasileira com a independência, tinham
rebelada, enquanto a Força Naval alcançava o Recife, em 18 de perante o imperador. Os nativos brasileiros acusavam os por-
agosto de 1824, instituindo severo bloqueio naval. Com a Marinha tugueses de monopolizar o comércio com o exterior.
e o Exército atuando conjuntamente, as forças rebeldes do Recife O embate entre portugueses e brasileiros na Assembleia Geral
foram derrotadas em 18 de setembro. Legislativa transparece na imprensa, que ataca o impera-dor e vai
para as ruas, onde partidários do imperador entram em choque com
defensores do Partido Brasileiro. Preocupava Dom Pedro I não
somente a oposição a seu reinado, que crescia entre os brasileiros,
mas também a situação política em sua terra natal, Portugal, onde
ele próprio e seus des-cendentes tinham direitos sobre o trono.

17
HISTÓRIA NAVAL
Em 7 de abril de 1831, Dom Pedro I abdicou do trono em favor Na Guerra Cisplatina, Brasil e as Províncias Unidas do Rio da
de seu filho, Dom Pedro de Alcântara, então com cinco anos de Prata, atual Argentina, lutaram pela posse ou influência no
idade. Enquanto o herdeiro não tinha idade para assumir o trono, território uruguaio, ainda não independente. Nessa guer-ra, que
instalou-se no Brasil um governo regen-cial. O Poder Executivo custou muito à economia de um país recém-formado como o
seria composto por três membros, uma regência trina, conforme Brasil, a Marinha lutou longe de sua base principal, o Rio de
determinava a Carta Cons-titucional. Posteriormente, a regência Janeiro, contra a Marinha argentina que, embora me-nor, atuava
seria constituída de uma só pessoa, a regência una. muito perto de sua principal base de apoio, Buenos Aires, e
conhecendo muito um teatro de operações repleto de obstáculos
naturais à navegação, o Rio da Prata.
No período regencial, o conturbado ambiente político da Corte
se refletiu nas províncias do Império, em movimentos armados que A Marinha Imperial brasileira, além das atividades de
explodiram por todos os principais centros regio-nais, desde 1831 abastecimento das tropas em combate, operou de modo ofensivo
até os anos de consolidação do reinado de Dom Pedro II. A no Rio da Prata. A Força Naval brasileira efetuou um bloqueio
Marinha da Independência e da Guerra Cis-platina, constituída por naval sobre Buenos Aires, visando a isolar a capital adversária de
elevado número de navios de relativo grande porte, foi sendo abastecimento vindo do exterior e impedir que embarcações
transformada em uma Marinha de unidades menores, próprias para argentinas transportassem tropas e arma-mento para reforçar
enfrentar as conflagrações nas províncias e também de acordo com argentinos e orientais que lutavam contra as tropas brasileiras no
as limitações orça-mentárias. território uruguaio.

Revoltas deflagradas em diversas províncias foram abafa-das Além do bloqueio, a Força Naval brasileira combateu a
pelo governo regencial com a utilização da Marinha e do Exército. Esquadra argentina até seu desmembramento, privando o
A Marinha se fez mais presente nos combates no Pará adversário do principal e primeiro braço do Poder Naval. Os navios
(Cabanagem), no Rio Grande do Sul (Guerra dos Farrapos ou da Marinha que não foram deslocados para aquela guerra não
Revolução Farroupilha), na Bahia (Sabinada), no Maranhão e no deixaram de se envolver no conflito. A Marinha defendeu as linhas
Piauí (Balaiada) e em Pernambuco (Revolta Praieira), esta já anos de comunicação marítimas, dando com-bate aos corsários armados
após a coroação de Dom Pedro II. pela Argentina e pelos rebeldes uruguaios que atacavam a
navegação mercante
Em todas essas revoltas, a Marinha não enfrentou nenhum brasileira ao longo de toda a nossa costa.
grande inimigo no mar. Embora na Guerra dos Far-rapos os A próxima guerra em que o Brasil se envolveria no Rio da
rebeldes tenham formado uma pequena flotilha de embarcações Prata seria contra Juan Manuel de Rosas, ditador argentino, e
armadas, que foi prontamente combatida e vencida. A Marinha se Manuel Oribe, presidente da República Oriental do Uruguai e líder
fez presente no rápido transporte de tropas do Exército Imperial da do Partido Blanco. Tendo como seus aliados os governa-dores das
Corte e de outras provín-cias até as províncias conflagradas. províncias argentinas de Entre Rios e Corrientes e o Partido
Também dependeu do transporte por mar, em grande parte Colorado uruguaio, o Império brasileiro se interpôs a uma tentativa
realizado pela Marinha, o abastecimento das tropas que lutavam de união de seus vizinhos do sul, que enfraque-ceria a posição
nas províncias rebe-ladas, pois não existiam estradas que ligassem brasileira no Rio da Prata e se tornaria uma ameaça na fronteira do
a Corte às províncias do Norte e do Sul. Rio Grande do Sul, há pouco pacifica-do e impedido de se separar
do Brasil na Guerra dos Farrapos.
A Marinha também cumpriu ações de bloqueio nos portos
ocupados pelos rebeldes nas províncias, evitando que recebessem Coube à Marinha um grande momento nesse curto confli-to: a
qualquer abastecimento vindo do mar, como armas e munições Passagem de Tonelero. Pela primeira vez se utilizando de navios a
desviadas de outras províncias ou com-pradas no estrangeiro. vapor em um conflito externo, a Força Naval brasi-leira
Finalmente, militares da Marinha Imperial atuaram diversas vezes ultrapassou, em ávida troca de fogos, o ponto fortificado
em desembarques, lutando com grupos rebelados lado a lado com adversário no Rio Paraná, o Passo de Tonelero, e conduziu as
tropas do Exército, da Guarda Nacional e milicianos. tropas aliadas rio acima, para uma posição de desembarque
favorável, onde foi possível o ataque e a posterior vitória so-bre as
Os dois grandes conflitos externos em que o Império bra- tropas adversárias.
sileiro se envolveu, desde sua independência até o início das
hostilidades que levariam à guerra contra o Paraguai, foram a
Guerra Cisplatina, entre 1825 e 1828, e a Guerra contra Ma-nuel
Oribe e Juan Manuel de Rosas, em 1850 e 1852. A área marítimo-
fluvial em que se desenrolou a grande maioria das operações
navais desses dois conflitos, separados no tempo por quase um
quarto de século, foi a mesma, o grande estuá-rio do Rio da Prata,
que separa o Uruguai da Argentina. Foi com as forças militares
dessas duas repúblicas que o Império brasileiro lutou.

18
HISTÓRIA NAVAL

CONFLITOS INTERNOS SABINADA


CABANAGEM

A Sabinada, revolta que eclodiu contra a autoridade da


A primeira sublevação ocorrida contra a Regência foi a Regência na Bahia, em novembro de 1837, foi combatida pela
Cabanagem, no Pará, que se generalizou em 1835 com a ocupação Marinha Imperial com o bloqueio da província e o combate a uma
da capital da província, Belém. O governo central enviou uma diminuta Força Naval montada pelos rebel-des com navios
força interventora constituída de elementos da Marinha e do apresados.
Exército Imperial que, após uma primeira ten-tativa frustrada de A revolta foi finalmente sufocada em 1838.
reconquistar a capital, desembarcou
e a ocupou sem a resistência dos rebeldes. Contudo, os cabanos
retomaram o fôlego para a luta com o crescimento da revolta no BALAIADA
interior e retomaram a capital em agosto de 1835.
Durante todo o conflito, as forças legais atuaram con-tra focos
rebeldes espalhados por um território inóspito e desconhecido, a
floresta amazônica. A Marinha bloqueou o porto de Belém, A Balaiada, agitação que tomou conta das Províncias do
dificultando o seu abastecimento, mas também bombardeou Maranhão e do Piauí, entre 1838 e 1841, reuniu a popula-ção pobre
posições rebeldes, desembarcou tro-pas do Exército e embrenhou- e os escravos contra as autoridades constituídas da própria
se nos rios amazônicos para dar combate aos mais isolados focos província. Em agosto de 1839, seguiu para o Ma-ranhão o Capitão-
de revolta. Tenente Joaquim Marques Lisboa, futuro Marquês de Tamandaré,
O desgaste que as forças militares impuseram aos caba-nos nomeado comandante da Força Na-val em operação contra os
levou ao abandono da capital em maio de 1836. A luta se estendeu insurretos.
até 1840, com a ação conjunta da Força Naval e das tropas do
Exército debelando a resistência dos cabanos por todo o Pará. Após estudar a região, armou pequenas embarca-ções que,
enviadas para diversos pontos dos principais rios maranhenses,
combateriam os rebeldes isoladamente ou apoiariam forças em
GUERRA DOS FARRAPOS terra. A partir de 1840 e até o final da Balaiada, o Capitão-Tenente
Joaquim Marques Lisboa atua-ria em cooperação com o então
Coronel Luís Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias,
que comandava a Divisão Pacificadora do Norte, reunida para
A Guerra dos Farrapos, rebelião no Sul do Império, que durou debelar a revolta. A união dos futuros patronos das forças
dez anos, de 1835 a 1845, atingiu uma região de fronteira já singulares de mar e terra no combate à Balaiada simboliza uma
conturbada por conflitos exter nos. A Marinha novamente atuaria situação recorrente em todos os conflitos internos durante a
em cooperação com o Exército no transporte e no abastecimento Regência e o Segundo Império: a atuação conjunta da Marinha e
das tropas e apoiando ações em terra com o fogo dos canhões do Exército na manutenção da ordem constituída e da unidade do
embarcados. Império.
Porém, na Guerra dos Farrapos, os navios de guerra estiveram
envolvidos em pequenos combates navais com os farroupilhas. Os REVOLTA PRAIEIRA
combates não ocorreriam em mar aberto, mas em águas restritas,
como as Lagoas dos Patos e Mirim. O primeiro combate naval da
Guerra dos Farrapos opôs o Iate Oceano, da Marinha Imperial, e o
Cúter Minuano, dos revoltosos, na Lagoa Mirim, quando o navio A Revolta Praieira estourou em Pernambuco em no-vembro
rebelde foi posto a pique. de
1848. Iniciada na capital, tomou corpo nas vilas e nos en-
A pequena Força Naval que os farroupilhas mantinham na genhos da zona da mata e do interior pernambucanos. Para
Lagoa dos Patos foi completamente vencida em agosto de 1839, combatê-la, tropas leais ao governo provincial deixaram Recife, a
quando o Chefe-de-Divisão John Pascoe Grenfell, comandante das capital da província, para engajar as forças praieiras que estariam
Forças Navais no Rio Grande, apresou dois lanchões rebeldes em no interior. Ao ver a capital desguarnecida, forças praieiras
Cama quã. A rebelião rio-granden-se estendeu-se para Santa atacaram-na, em 2 de fevereiro de 1849. O peque-no contingente
Catarina, onde os farroupilhas formaram uma pequena Força militar que guarnecia a cidade foi imediata-mente apoiado pela
Naval com navios mercantes apresados e lanchões remanescentes Força Naval fundeada no porto.
das operações nas La-goas dos Patos e Mirim, que foi vencida pela Contingentes de marinheiros e fuzileiros navais desem-
Marinha em um combate no porto de Laguna. Foi nesse conflito barcaram dos navios para reunir-se aos defensores da capital na
regional que, pela primeira vez, a Marinha brasileira empregou um batalha, enquanto os canhões da Marinha fustigaram as investidas
navio movido a vapor em operações de guerra. dos revoltosos. A atuação da Marinha nessa
revolta, embora breve, evitou que a capital provincial caísse nas
mãos dos rebeldes.

19
HISTÓRIA NAVAL
A batalha mais significativa da Guerra Cisplatina, a Batalha
do Passo do Rosário, ou Ituzaingó, como argentinos e uru-guaios
CONFLITOS EXTERNOS a chamam, ocorrida em 20 de fevereiro de 1827, teve resultados
GUERRA CISPLATINA tão indecisos como toda a guerra terrestre que se travou na
Província Cisplatina. Nenhum dos lados conseguiu impor-se sobre
o outro, não sendo possível apontar vitorio-sos nem derrotados.
A Marinha Imperial brasileira, na Guerra Cisplatina, lutou
O Brasil recém-independente envolveu-se numa guer-ra com com a Força Naval argentina, mas também atuou con-tra os
as Províncias Unidas do Rio da Prata, atual Argentina, pela posse corsários que, com Patentes de corso emitidas pelas Províncias
da então província brasileira da Cisplatina, atual República Unidas do Rio da Prata e pelo próprio Exército de Lavalleja,
Oriental do Uruguai, anexa da, ainda por Dom João VI, em 1821. atacavam os navios mercantes brasileiros por toda a nossa costa.

O interesse pelo domínio daquelas terras não era novo. O O embate entre a Esquadra brasileira e a Esquadra ar-gentina
Império do Brasil e a Argentina herdaram as aspirações e as teve lugar no estuário do Rio da Prata e suas proximi-dades, região
disputas dos colonizadores portugueses e espanhóis pela margem com grande número de bancos de areia que dificultava a
esquerda do estuário do Rio da Prata. Nos séculos XVII e XVIII, navegação. Isso ajudou os argentinos a desen-volver uma variação
o centro da disputa era a Colônia de Sacramen-to, o enclave naval da guerra de guerrilha. Os navios argentinos atacavam e,
português na região. No início do século XIX, com os movimentos quando repelidos, escapavam da perseguição dos navios
de independência na América espanho-la e portuguesa, a brasileiros pelos estreitos canais que se formavam entre os vários
conflagração atingiu o Brasil e a Argentina, no conflito conhecido bancos de areia da região, em sua maioria desconhecidos dos
como Guerra Cisplatina. marinheiros brasileiros.
A guerra não envolvia só a disputa pela posse do ter-ritório da Como primeira ação de guerra, a Força Naval brasileira no Rio
Província Cisplatina que, além do gado criado nos pampas e de da Prata, comandada pelo Vice-Almirante Rodrigo Lobo,
dois portos comerciais importantes (Montevidéu e Maldonado), estabeleceu um bloqueio naval no Rio da Prata, pre-tendendo
não continha recursos naturais de monta, mas tinha como objetivo impedir qualquer ligação marítima entre as Provín-cias Unidas e
o controle do Rio da Prata, área geo-gráfica de suma importância os rebeldes de Lavalleja, e dos dois adversários com o exterior. O
estratégica desde o início da colonização europeia na América do inimigo a ser confrontado pela Força Naval brasileira deslocada
Sul. No estuário do Rio da Prata desembocavam dois grandes rios para o estuário do Rio da Prata era liderado pelo experiente
(Uruguai e Para-ná), que constituíam o caminho natural para a irlandês William George Brown, comandante da pequena
penetração no continente sul-americano, representando uma Esquadra sediada em Buenos Aires desde as lutas pela
estrada fluvial para a colonização, o acesso aos recursos naturais e independência daquele país. O adversá-rio, apesar do menor
a viabilização das trocas comerciais por todo interior da América número de navios de guerra, tinha suas ações facilitadas não só
do Sul. pelo conhecimento da conformação hidrográfica do estuário do
Rio da Prata, como também por permanecer operando próximo de
seu porto base, o anco-radouro de Los Pozos, em Buenos Aires,
O Estado argentino, naquela época, era formado por várias onde seus navios eram abastecidos e reparados.
províncias com alto grau de autonomia, que reconhe-ciam a
liderança exercida pela província de Buenos Aires. A confederação
de províncias argentinas tinha um interes-se comum na sublevação Nos primeiros meses da guerra, o bloqueio naval im-posto
de cisplatinos contra o Império brasileiro, visando à possibilidade pela Esquadra brasileira provocou o primeiro emba-te entre as
de incorporar a Banda Oriental. Assim, imediatamente deram forças navais. O Combate de Colares ocorreu em 9 de fevereiro de
apoio político, militar e financeiro à revolta, passando, 1826, quando a Esquadra argentina, composta de 14 navios, deixou
posteriormente, a envolver-se oficialmente na luta. seu ancoradouro para em-preender uma ação de desgaste à Força
Naval brasileira em bloqueio, também composta de 14 navios. As
Para se opor à sublevação, nitidamente suportada pela forças navais adversárias, dispostas em colunas, trocaram tiros de
Argentina, o Brasil desenvolveu uma campanha militar na Banda canhão a grande distância uma da outra, causando perdas humanas
Oriental entre os anos de 1825 e 1828. Além de tropas, deslocou e avarias materiais reduzidas de parte a parte. A Esquadra
vários meios navais da Esquadra, recém-formada nas Guerras da argentina se retirou para o refúgio de Los Pozos e a Força Naval
Independência, para o estuário da Prata, sob o comando do Vice- brasileira foi fundear entre os Bancos de Ortiz e Chico.
Almirante Rodrigo Lobo. Com o fortaleci-mento das forças de
Lavalleja na Banda Oriental, as Províncias Unidas do Rio da Prata O passo posterior do comandante das forças argentinas teria
oficializaram seu apoio à revolta, declarando anexada a Banda consequências muito mais significativas para os destinos da guer
Oriental ao território argenti-no, o que significava uma declaração ra no mar e em terra, se bem-sucedido. Seu alvo era a Colônia de
de guerra ao Governo Imperial. Sacramento, uma praça fortificada situada na margem esquerda do
Rio da Prata e guarnecida por 1,5 mil

20
HISTÓRIA NAVAL
homens, chefiados pelo Brigadeiro Manoel Jorge Rodrigues, concentrou nos navios de maior porte, com a fragata Niterói
complementados por uma pequena força de quatro navios, trocando disparos com a fragata 25 de Mayo e com um dos brigues
comandada pelo Capitão-de-Fragata Frederico Mariath. Sete que a acompanhavam. Com o cair da noite, os na-vios argentinos,
navios da Esquadra argentina, capitaneados pela fragata 25 de com graves avarias, retiraram-se para Buenos Aires, dando por
Mayo, romperam o bloqueio brasileiro ao largo de Bue-nos Aires encerrado o embate que ficou conhecido como o Combate de
e fizeram vela para a Colônia de Sacramento, simul-taneamente Montevidéu.
aquela praça era cercada por tropas.
Em primeiro plano a fragata Niterói, à direita o navio capitâ-
Devido ao maior poder de combate da Força Naval argentina, nia argentino, a fragata 25 de Mayo, no momento em que perde o
perante a flotilha brasileira que defendia a Colô-nia, as tripulações joanete do mastro grande. Aquarela do Almirante Trajano Augusto
e os canhões dos navios brasileiros foram desembarcados e de Carvalho (Acervo SDM)
incorporados às defesas de terra. Em 26 de fevereiro de 1826, os
Esquadra com navios brasileiros capturados. Tencionava
navios argentinos e as tropas de cer-co iniciaram o bombardeio,
abordar e capturar a fragata Niterói, o mesmo navio que frus-trou
respondido pelas fortificações da Colônia do Sacramento, que
sua incursão anterior. Na noite de 27 de abril, sete navios
inutilizaram um dos navios adversários. Repelido o primeiro
argentinos rumaram para próximo de Montevidéu, onde os navios
ataque, os defensores da Colônia do Sacramento enviaram uma
brasileiros se reuniam, e tentaram identificar seu alvo. Enganados
escuna para pedir au-xílio às forças navais brasileiras estacionadas
pela escuridão, investiram contra a fragata Im-peratriz que, tendo
em Montevidéu, esperando que o socorro chegasse mais rápido percebido a aproximação do inimigo, se preparou para o combate.
àquela praça sitiada. Os navios argentinos 25 de Mayo e Independencia tentaram a
abordagem, mas foram repelidos pela tripulação da Imperatriz. O
Contudo, o Vice-Almirante Rodrigo Lobo não acudiu de
comandante do navio brasileiro, Capitão-de-Fragata Luís Barroso
o Pereira, liderou seus homens na renhida luta até tombar
imediato à cidade acossada pelo inimigo. Na noite de 1 de março,
mortalmente ferido no convés, atingido por disparos do inimigo.
a Força Naval argentina, reforçada por seis canhonei-ras, tentou
desembarcar 200 homens naquela praça. Depois de severa luta, os Foi uma das duas vítimas fatais da Imperatriz no combate.
atacantes argentinos foram repelidos, com a perda de duas
canhoneiras e muitos homens, não sem antes conseguirem Em 3 de maio de 1826, a Esquadra comandada por Bro-wn foi
incendiar um dos nossos navios. Os navios ar-gentinos só avistada pelos navios brasileiros quando tentava es-capar do
desistiram do cerco em 12 de março, escapando da Esquadra bloqueio naval ao seu porto. Os navios argentinos tentaram
brasileira, que chegara com atraso em defesa de Sacramento. alcançar o Banco de Ortiz, na esperança de atrair os perseguidores,
que, com navios de maior porte, encalhariam naquele banco de
Uma das missões da Esquadra argentina era justamente a areia, tornando-se alvos imóveis para seus canhões.
manutenção do abastecimento dos exércitos que lutavam na O Combate do Banco de Ortiz acabou sem grandes perdas
Província Cisplatina. Como obstáculo, antepunha-se a Esquadra para ambos os adversários, mas mostrou o perigo que os bancos de
brasileira, comandada pelo Almirante Rodrigo Lobo que, apesar areia do estuário do Rio da Prata representavam para as esquadras
da ineficiência desse início de bloqueio naval (pelos primeiros em luta.
embates navais da guerra, observa-se que a Esquadra argentina
Em 13 de maio de 1826, o Almirante Rodrigo Pinto Gue-des,
movimentava-se com relativa facilidade), mantinha-se superior em
o Barão do Rio da Prata, substituiu o Almirante Rodrigo Lobo, que
número às forças navais comandadas por Brown.
tinha se mostrado pouco capaz no comando da Força Naval do
Império do Brasil em operações de guerra no Rio da Prata. A
O comandante da Esquadra argentina, William Brown, primeira medida tomada pelo Almirante Pin-to Guedes foi
reuniu sua capitânia, a fragata 25 de Mayo, e dois brigues em estabelecer uma nova disposição das forças navais que reforçasse
uma audaciosa ação para capturar navios que se dirigissem a o bloqueio naval. Dividiu suas forças em quatro divisões, sob o
Montevidéu, tentando aumentar o tamanho de sua Esqua-dra e comando de oficiais capazes e experientes, devendo em todas as
tomar alguma carga de valor dos navios mercantes. Em 10 de abril oportunidades engajar o inimigo, obrigando-o a aceitar a luta.
de 1826, conseguiu capturar a pequena escuna Isabel Maria. No
dia seguinte, ao perseguir um navio mer-cante, a fragata 25 de No dia 15 de maio de 1826, as três linhas de bloqueio de-
Mayo aproximou-se tanto do porto de Montevidéu que foi terminadas pelo novo comandante da Força Naval brasileira no Rio
reconhecida por navios da Esquadra brasileira, mesmo arvorando da Prata já se achavam em posição. Em 23 de maio, a Esquadra
a bandeira francesa. argentina decidiu testar a resistência da Força Na-val brasileira
a
responsável pelo bloqueio de Buenos Aires, a 2 Divisão da
Saiu em sua perseguição a fragata Niterói, comandada pelo Esquadra Imperial, chefiada pelo Capitão-de-Mar-e-Guerra James
hábil Capitão-de-Mar-e-Guerra James Norton, ambos, navio e Norton. Os navios brasileiros en-gajaram-se no Combate das
comandante, veteranos das Guerras da Independên-cia e recém Balizas Exteriores, mesmo com o risco de encalharem nos bancos
chegados para reforçar a Força Naval brasileira no Rio da Prata. de areia em torno de Buenos
Acompanharam a perseguição à capitânia argentina quatro outros Aires. Os navios argentinos perceberam a resolução da força
pequenos navios, mas o combate se bloqueadora e voltaram ao seu ancoradouro, em Los Pozos.

21
HISTÓRIA NAVAL
Mesmo a nova estratégia de bloqueio, mais agressiva, não se Já nesse período da guerra no mar, o governo de Buenos Aires
mostrava eficiente na destruição dos navios argenti-nos, que se concentrava seu esforço na guerra de corso, que afetava o comércio
mantinham protegidos no ancoradouro de Los Pozos. marítimo do Império brasileiro. Mesmo a Esqua-dra argentina, já
muito debilitada depois do Combate de La-ra-Quilmes, cedia seus
navios para campanhas de corso na costa brasileira. E foi com esse
No começo de junho de 1826, buscando um engajamen-to propósito que os quatro principais navios argentinos tentaram
decisivo, o Almirante Rodrigo Pinto Guedes planejou atacar a
a romper o bloqueio brasileiro, na noite de 6 de abril de 1827.
Esquadra inimiga dentro de Los Pozos. Para isso, a 2 Divisão foi A Força Naval argentina, composta pelos brigues Re-pública,
a Congresso e Independencia, e pela escuna Sarandi, comandada
reunida à 3 Divisão da Esquadra Imperial, composta por navios pelo próprio comandante da Esquadra argenti-na, William Brown,
menores que poderiam transpor os bancos de areia que protegiam a
o ancoradouro de Buenos Aires. foi interceptada pelos navios da 2 Di-visão quando tentava
a a contornar o bloqueio naval brasileiro.
Em 11 daquele mês, as 2 e 3 Divisões, comandadas por
Norton, executaram o plano de ataque e investiram contra a Nesse último grande encontro entre as forças adver-sárias,
Esquadra argentina em Los Pozos. Novamente, os bancos de areia a
protegeram os navios argentinos. O comandante da Força Naval conhecido como Combate de Monte Santiago, a 2 Divisão
brasileira, Norton, desistiu do ataque que seria infrutífero. Apesar brasileira, reforçada pelos navios das outras duas divisões
dos insucessos da ação planejada, a escu-na Isabel Maria, apresada bloqueadoras, fustigou os navios argentinos com os seus canhões,
pelos argentinos, foi recuperada. que, encurralados entre a força brasileira e os bancos de areia,
foram sendo destroçados. Os brigues República e Independência
Considerando o malogro do último ataque brasileiro à
Esquadra argentina como sua vitória, Brown preparou nova foram abordados e capturados pelos brasileiros. O brigue
a Congresso e a escuna Sarandi, na-vios menores e mais leves,
investida à 2 Divisão, determinado a livrar Buenos Aires do conseguiram passar pelos bancos de areia e refugiaram-se em
bloqueio naval. Buenos Aires, ainda assim bas-tante atingidos pelos canhões
brasileiros e com muitos mortos e feridos a bordo.
Protegidos pela noite, em 29 de julho de 1826, 17 navios da
Esquadra argentina tentaram surpreender os navios sob o comando
Foi o golpe final contra a Esquadra argentina e a demons-
do Capitão-de-Mar-e-Guerra James Norton. Po-rém, alertados por
uma escuna que fazia a vigilância, os brasileiros responderam ao tração de que o bloqueio naval organizado pelo Almirante Rodrigo
ataque. O combate tornou-se confuso; a mesma noite que escondia Pinto Guedes foi efetivo no combate ao inimigo.
os atacantes prejudi-cava a precisão dos disparos e a identificação
As grandes perdas argentinas no Combate de Monte Santiago,
do inimigo. A possibilidade de atingir navios amigos determinou
em abril de 1827, ratificaram a opção pela guerra de corso. Durante
que ambos os lados suspendessem a luta.
todo o conflito, as Províncias Unidas arma-ram corsários.
Ao alvorecer, o combate recomeçou. O comandante da
Esquadra argentina, Brown, conduziu seu navio capitânia, a A guerra de corso, empreendida contra nosso comércio
fragata 25 de Mayo, na direção dos navios brasileiros, mas só foi marítimo (à época, como hoje, essencial para a economia
acompanhado pela escuna Rio de La Plata. Os dois navios nacional), foi mais efetiva contra o esforço de guerra brasileiro do
argentinos receberam todo o peso dos disparos dos canhões que as ações da Esquadra argentina. A operação ofensiva que a
brasileiros e ficaram completamente inutilizados. O chefe das Marinha Imperial brasileira realizou com o bloqueio naval no Prata
forças argentinas foi obrigado a transferir-se sob fogo para um coexistiu com a ação defensiva na vigilância das extensas águas
navio argentino que ousou aproximar-se. O restante da Esquadra territoriais brasileiras, defendendo nosso comércio marítimo dos
argentina retirou-se para a segurança de seu ancoradouro. O
corsários.
Combate de Lara-Quilmes foi a última tentativa da Esquadra
a O combate aos corsários foi mais efetivo no bloqueio na-val
argentina de destruir os navios da 2 Divisão da Esquadra
Imperial, desmantelando o bloqueio naval brasileiro em torno de empreendido a outra de suas “bases”, a localizada no Rio Salado.
Buenos Aires. Outros corsários foram batidos no mar pela Marinha Imperial,
como o brigue Niger, capturado em março de 1828 e o brigue
a General Brandsen, destruído por navios brasileiros após longa
No início de fevereiro de 1827, a 3 Divisão desceu o Rio
Uruguai para combater a Força Naval argentina que o blo-queava. campanha de corso.
A indefinição da campanha terrestre e o esgotamento
O bloqueio naval mais rigoroso, realizado desde maio de 1826 econômico e militar de ambos os contendores levou o Brasil a
a aceitar a mediação da Grã-Bretanha para o fim da guerra. A
pela 2 Divisão da Esquadra Imperial, mantinha a maior parte do Convenção Preliminar de Paz foi assinada entre o Império do
tempo a Esquadra argentina confinada em seu ancoradouro. Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata, em 27 de agosto de
Porém, a Esquadra brasileira não conseguia uma vitória definitiva 1828. O acordo estipulava que ambos os lados renunciariam a suas
frente ao inimigo, não evi-tando pequenas incursões que, algumas pretensões sobre a Banda Oriental, que se tornaria um país
vezes, mostravam-se desastrosas. independente como República Oriental do Uruguai.

22
HISTÓRIA NAVAL
O término da Guerra Cisplatina não seria o fim dos conflitos por 16 peças de artilharia e 2,8 mil homens. Devido à pou-
na região. A Marinha Imperial brasileira permanece-ria ca largura do rio naquele trecho, os navios brasileiros seriam
guarnecendo a segurança do Império do Brasil no Rio da Prata. obrigados a passar a menos de
400 metros daquela fortificação, recebendo o peso da
artilharia inimiga. A solução encontrada pelo Chefe-de-Es-quadra
Grenfell foi o emprego conjunto dos navios a vela e a vapor na
GUERRA CONTRA ORIBE E ROSAS operação de transposição daquele obstáculo.
Os navios a vela, mais artilhados (pois tinham artilharia
postada por todo seu costado, substituída nos navios a vapor pelas
rodas laterais), foram rebocados pelos navios a vapor, mais rápidos
Terminada a longa revolta que sublevou as Províncias do Rio e ágeis nas manobras.
Grande e de Santa Catarina, o Império brasileiro pôde retomar a
Tonelero foi vencida em 17 de dezembro de 1851, com as
vigilância na fronteira Sul e ater-se ao conflito que crescia na área
do Rio da Prata. Mesmo com o fim da Guer-ra Cisplatina e a inde tropas desembarcando em Diamante com sucesso.
pendência da República Oriental do Uruguai, as lideranças Naquela localidade, os navios a vapor auxiliaram tam-bém na
políticas argentinas continuavam com a pretensão de restituir o transposição do rio pelas tropas oriundas das pro-víncias
mando de Buenos Aires sobre o território do Vice-Reinado do argentinas aliadas que tinham marchado até aquela posição.
Prata.

O projeto de anexação do Uruguai ao território argenti-no O Exército de Buenos Aires foi derrotado pelas tropas
encontrou seus executores em Juan Manuel de Rosas, liderança brasileiras e de seus aliados platinos, em fevereiro de 1852, e a
máxima da Confederação Argentina desde 1835, e em Manuel Passagem de Tonelero representou a única operação ofensi-va
Oribe, líder do partido de oposição ao governo uruguaio, o Partido realizada pela Marinha Imperial naquele conflito.
Blanco.
Contudo, o emprego da Força Naval no transporte de tropas
O Império brasileiro, que se opunha frontalmente à ane-xação, para a área do conflito e, notadamente depois de Tonelero, na
apoiava o governo constituído do Uruguai, exercido pelo Partido transposição das tropas aliadas da margem uruguaia para território
Colorado. A situação política no Uruguai apro-ximava-se a de uma argentino, no Rio da Prata e no Rio Paraná, constituiu fator
guerra civil, com tropas partidárias de Oribe e apoiadas por Rosas essencial para o sucesso das ações militares desenvolvidas pelos
cercando a capital, Montevidéu. aliados contra Rosas e Oribe.

Em 1851, o governo brasileiro procedeu uma aliança com o A ATUAÇÃO DA MARINHA NA GUERRA DA
governo legal uruguaio e com um oposicionista de Rosas, o TRIPLICE ALIANÇA CONTRA O GOVERNO DO
governador da Província argentina de Entre Rios, Justo José de PARAGUAI: O BLOQUEIO DO RIO PARANA E A
Urquiza, para defender o Uruguai do ataque das forças de Rosas e
BATALHA NAVAL DO RIACHUELO; NAVIOS
Oribe.
ENCOURAÇADOS E A INVASÃO DO PARAGUAI;
A ação da Marinha novamente seria realizada em es-treita CUZUZU E CURUPAITI; CAXIAS E INHAÚMA;
colaboração com o Exército Imperial. O comando da Força Naval PASSAGEM DE CURUPAITI; PASSAGEM DE
foi entregue ao Chefe-de-Esquadra John Pascoe Grenfell, veterano HUMAITÁ; O RECUO DAS FORÇAS
das lutas da Independência e na Cisplatina. PARAGUAIAS; O AVANÇO ALIADO E A
DEZEMBRADA; OCUPAÇÃO DE ASSUNÇÃO E
Somente com a intervenção da força terrestre, as tro-pas que AFASE FINAL DA GUERRA.
cercavam Montevidéu capitularam. Manuel Oribe estava
derrotado. A Esquadra brasileira, disposta ao longo do Rio da
Prata, impediu que as tropas vencidas pudessem evacuar para a
margem direita, o lado argentino. SINOPSE
A livre navegação nos rios e os limites entre o Brasil e o norte
Tendo pacificado o Uruguai, a força brasileira e seus alia-dos do Paraguai eram motivos de discordância entre os dois países.
platinos voltaram-se contra Rosas, que mantinha-se Não se chegou a um acordo satisfatório até a con-clusão da Guerra
como uma ameaça à estabilidade da região. Nessa nova ação da Tríplice Aliança. Para os brasileiros, era muito importante
militar, coube à Marinha a tarefa de transportar as tropas aliadas acessar, sem empecilhos, a Província de Mato Grosso, navegando
pelo Rio Paraná até a localidade de Diamante, para ali desembarcá- pelo Rio Paraguai. Sabendo disso, os paraguaios mantinham a
las. questão dos limites, que rei-vindicavam, associada à da livre
navegação. O litígio existia, principalmente em relação a um
A Força Naval brasileira, composta por quatro navios com território situado à margem
propulsão a vapor e três navios a vela, tinha como obstáculo o esquerda do Rio Paraguai, entre os Rios Apa e Branco, ocu-pado
Passo de Tonelero, nas proximidades da Barranca de Ace-vedo, por brasileiros.
onde o inimigo instalara uma fortificação guarnecida

23
HISTÓRIA NAVAL
Apesar dessas questões, o entendimento entre o Bra-sil e o No início da Guerra da Tríplice Aliança, a Marinha do Brasil
Paraguai era cordial, excetuando-se algumas crises que não dispunha de 45 navios armados. Destes, 33 eram navios de
chegaram a ter maiores consequências. Interessa-va propulsão mista, a vela e a vapor, e 12 dependiam exclusiva-mente
principalmente ao Império que o Paraguai se mantivesse fora da do vento. A propulsão a vapor, no entanto, era essen-cial para
Confederação Argentina, que muitas dificuldades lhe vinha operar nos rios. Todos tinham casco de madeira. Muitos deles já
causando, com sua permanente instabilidade política. estavam armados com canhões raiados de carregamento pela
Com a morte de Carlos López, ascendeu ao governo do culatra.
Paraguai seu filho, Francisco Solano López, que ampliou a política
externa do país, inclusive estabelecendo laços de amizade com o Os navios brasileiros, no entanto, mesmo os de propulsão
General Justo José de Urquiza, que liderava a Província argentina mista, eram adequados para operar no mar e não nas condi-ções de
de Entre Rios, e com o Partido Blanco uruguaio. Essas alianças, águas restritas e pouco profundas que o teatro de operações nos
sem dúvida, favoreciam o acesso do Paraguai ao mar. Rios Paraná e Paraguai exigia; a possibilidade de encalhar era um
perigo sempre presente. Além disso, esses navios, com casco de
madeira, eram muito vulneráveis à artilha-ria de terra, posicionada
Com a invasão do Uruguai por tropas brasileiras, na in- nas margens.
tervenção realizada em 1864, contra o governo do presiden-te
uruguaio Manuel Aguirre, do Partido Blanco, Solano López Era uma época de frequentes inovações tecnológicas no
considerou que seu próprio país fora agredido e declarou guerra ao Hemisfério Norte, e a Guerra Civil Americana trouxera muitas
Brasil. Aliás, ele havia enviado um ultimato ao Brasil, que fora novidades para a guerra naval e, especificamente, para o combate
ignorado. Como foi negada pelos argentinos per-missão para que nos rios. Sua influência, logo depois dessa primeira fase de navios
o Exército paraguaio atravessasse seu terri-tório para atacar o Rio de madeira, na Guerra da Tríplice Aliança, fe-z-se sentir,
Grande do Sul, invadiu a Província de Corrientes, envolvendo a principalmente, com o aparecimento dos navios protegidos por
Argentina no conflito. couraça de ferro, projetados para a guerra fluvial, e a mina naval.

O Paraguai estava se mobilizando para uma possível guer-ra


desde o início de 1864. López se julgava mais forte – o que Todos os navios da Esquadra paraguaia, exceto um, eram
provavel mente era verdadeiro, ao final de 1864 e início de 1865 navios de madeira, mistos, a vela e vapor, com propulsão por rodas
– e acreditava que teria o apoio dos blancos uruguaios e do ar- de pás. Embora todos eles fossem adequados para navegar nos rios,
gentino Urquiza. Tal não ocorreu. Ele superestimou o poderio somente o Taquary era um verdadeiro navio de guerra; os outros,
econômico e militar do Paraguai e subestimou o potencial do Poder apesar de convertidos, não foram projetados para tal.
Militar brasileiro e a disposição para a luta do Brasil.
Os seguintes atos de hostilidade do Paraguai levaram
à assinatura do Tratado da Tríplice Aliança contra o Governo do Os paraguaios desenvolveram a chata com canhão como arma
o de guerra. Era um barco de fundo chato, sem propulsão, com
Paraguai, pelo Brasil, Argentina e Uruguai, em 1 de maio de
1865: canhão de seis polegadas de calibre, que era rebocado até o local
de utilização, onde ficava fundeado. Transportava apenas a
• o apresamento do vapor brasileiro Marquês de Olin-da, que guarnição do canhão e sua borda ficava próximo da água, deixando
viajava para Mato Grosso, transportando o novo presidente dessa à vista um reduzidíssimo alvo. Via-se somen-te a boca do canhão
província, em 12 de novembro de 1864, em Assunção; acima da superfície da água.

Discriminadas as forças, sigamos então no conflito. A se-guir


• a invasão do sul de Mato Grosso por tropas para-guaias, serão destacados os pontos de maior relevância da nossa Força
em 28 de dezembro de 1864; Naval.
• a invasão de território da Argentina por tropas pa-raguaias,
em 13 de abril de 1865, ocupando a cidade de Cor-rientes e O BLOQUEIO DO RIO PARANÁ E
apresando os vapores argentinos Gualeguay e 25 de Mayo. A BATALHA NAVAL DO RIACHUELO

Foi designado comandante das Forças Navais Brasileiras em


A aliança com os argentinos era, na opinião de um dos Operação o Almirante Joaquim Marques Lisboa, Viscon-de de
observadores estrangeiros, uma “aliança de cão e gato”. Havia Tamandaré. A estratégia naval adotada foi a de negar o acesso ao
muitas desavenças recentes e ao Brasil não interessava subordinar território paraguaio através do
sua Força Naval a um comandante argentino. A Argentina possuía, bloqueio. Tamandaré, logo no início, tratou também de
durante essa guerra, apenas uma peque-na Marinha e o esforço organizar a difícil logística que o teatro de operações exigia. Os
naval foi quase totalmente da Marinha do Brasil. O Império não rios eram as principais vias de comunicação da região, e navios e
queria criar uma situação em que um estrangeiro pudesse decidir o embarcações teriam de transportar supri-mentos para as tropas,
destino de seu Poder Naval. Poder que sempre desempenhara papel carvão para servir como combustí-vel dos próprios navios e,
importante, de di-ferenciador, nos conflitos da região do Rio da muitas vezes, soldados, cavalos e armamento.
Prata.

24
HISTÓRIA NAVAL
Com o avanço das tropas paraguaias ao longo do Rio Pa-raná, Às 9h25min, dispararam-se os primeiros tiros de ar-tilharia.
ocupando a Província de Corrientes, Tamandaré resol-veu Passou, logo em seguida, a força paraguaia, em coluna, pelo
designar seu Chefe de Estado Maior, o Chefe-de-Divisão [través] da brasileira, ainda imobilizada, indo, logo depois, rio
Francisco Manoel Barroso da Silva, para assumir o comando da abaixo, para as proximidades da margem esquerda, logo após o
Força Naval brasileira, que subira o rio para efetivar o bloqueio do local onde estavam as baterias de terra. Fechou-se a armadilha em
Paraguai. Ele queria mais ação. Barroso partiu em 28 de abril de uma extensão de uns seis quilômetros, ao longo de um trecho do
1865, na fragata Amazonas, e assumiu o cargo em ataque à cidade Rio Paraná, junto à foz do Riachuelo.
de Corrientes, então ocupada pelos pa-raguaios. O desembarque
das tropas aliadas em Corrientes ocorreu com bom êxito, no dia 25
de maio. Pouco tempo depois, a coluna brasileira, com o Bel-monte à
frente, seguido pelo Jequitinhonha e por outros na-vios, avistou as
Não era, sabidamente, possível manter a posse dessa ci-dade barrancas de Santa Catalina.
na retaguarda das tropas invasoras, principalmente na-quele
momento da luta, em que os paraguaios mantinham ofensiva Barroso resolveu deter a Amazonas, reservando-a para
vitoriosa, e foi preciso, logo depois, evacuá-la. interceptar uma possível fuga dos paraguaios rio acima. Al-guns
Mas o ataque deteve o avanço paraguaio para o Sul. Ficou navios brasileiros não entenderam a manobra e ficaram indecisos.
evidente que a presença da Força Naval brasileira dei-xava o flanco Como consequência, o Jequitinhonha encalhou num banco, sob as
direito dos invasores, que se apoiava no Rio Paraná, sempre muito baterias de terra, e o Belmonte, à frente, prosseguiu sozinho,
vulnerável. Para os paraguaios, era necessário destruí-la e isso recebendo o fogo concentrado da artilha-ria do inimigo e tendo de
levou Solano López a planejar a ação que levaria à Batalha Naval encalhar, propositadamente, após completar a passagem, para não
do Riachuelo. afundar, devido às avarias sofridas em combate.

Os preparativos para o ataque aos navios brasileiros fo-ram


realizados sob a orientação direta do próprio López. O plano Para reorganizar sua força naval, Barroso avançou com a
consistia em surpreender os navios brasileiros fundea-dos, abordá- Amazonas, assumiu a liderança dos navios que estavam a ré do
los e, após a vitória, rebocá-los para Humaitá. Por isso, os navios Belmonte e, seguido por eles, completou a passagem, sob o fogo
paraguaios estavam superlotados com tropas. dos canhões paraguaios e da fuzilaria de terra. Afas-tou-se, depois,
descendo o Rio Paraná com apenas seis dos seus nove navios,
porque o Parnaíba, com o leme avaria-do, também não conseguira
Tirando o máximo proveito do terre no ao longo do Rio Pa- passar. Completou-se assim, às 12h10min, a primeira fase da
raná, ele mandou assentar canhões nas barrancas da Ponta de Santa batalha.
Catalina, que fica imediatamente antes da foz do Ria-chuelo, e
reforçar com tropas de infantaria o Rincão de Lagraña, que lhe fica Então, Barroso mostrou toda a sua coragem, decidindo
a jusante. regressar para o interior da armadilha de Riachuelo. Foi ne-
cessário descer o rio até um lugar onde o canal permitia fazer a
Da extremidade sul do Rincão de Lagraña, que tem uma volta com os navios e, cerca de uma hora depois, ele estava
barranca mais elevada, os paraguaios podiam atirar, de cima, sobre novamente em frente à ponta sul do Rincão de Lagraña.
os conveses dos navios brasileiros que escapassem, descendo o Rio Até aquele instante, o resultado era altamente insatisfa-tório
Paraná. O local era perfeito para uma arma-dilha, pois o canal para o Brasil. O Belmonte fora de ação, o Jequitinhonha encalhado,
navegável era estreito e tortuoso, com risco de encalhe em bancos para sempre, e o Parnaíba sendo abordado e dominado pelo
submersos, o que forçava as embar-cações a passarem próximo à inimigo, apesar da resistência heroica de brasileiros, como o
margem esquerda. Guarda-Marinha Guilherme Greenhalgh e o Marinheiro Marcílio
Dias, que lutaram até a morte.
Na noite de 10 para 11 de junho de 1865, a Força Naval Tirando vantagem do porte da Amazonas e contando com a
brasileira, comandada por Barroso, constituída pela perícia do prático argentino que tinha a bordo, Barroso usou seu
fragata Amazonas e pelos vapo res Jequitinhonha, Bebe- navio para abalroar os paraguaios e vencer a batalha. Foi um
ribe, Parnaíba, Mearim, Araguari, Iguatemi e Ipiranga, improviso, seu navio não tinha esporão, nem a proa pro-
estava fundeada ao sul da cidade de Corrientes, próxima à positadamente reforçada para ser empregada como aríete.
margem direita, em um trecho largo do rio. De lá avistaram,
pouco de pois das oito horas da manhã, a força paraguaia Repetindo aqui as próprias palavras do Chefe-de-Divisão
comandada pelo Capitão-de-Fragata Pedro Inácio Mezza, Barroso, na parte que transmitiu ao Visconde de Tamandaré, assim
com os navios: Tacuary, Paraguary, Igurey, Ipora, Jejuy, Sal-to se deu a batalha (grafia de época):
Oriental, Marquês de Olinda e Pirabebe, rebocando seis chatas
artilhadas. – “....Subi, minha resolução foi de acabar de uma vez, com
toda a esquadra paraguaya, que eu teria conseguido se os quatro
Alertada, a Força Naval brasileira se preparou para o iminente vapores que estavam mais acima não tivessem fugido. Pus a proa
combate, as tripulações assumindo seus postos, despertando o fogo sobre o primeiro, que o escangalhei, ficando inutili-sado
das fornalhas das caldeiras com carvão e largando as [amarras]. completamente, de agoa aberta, indo pouco depois ao fundo. Segui
a mesma manobra contra o segundo, que era o

25
HISTÓRIA NAVAL
Marques de Olinda, que inutilisei, e depois o terceiro, que era o Humaitá ainda era uma fortaleza inexpugnável enquan-to não
Salto, que ficou pela mesma fórma. Os quatro restantes vendo a estivessem disponíveis os novos meios navais que es-tavam em
manobra que eu praticava e que eu estava disposto a fazer-lhes o obtenção pelo Brasil: os navios encouraçados.
mesmo, trataram de fugir rio acima. Em seguimento ao terceiro
vapor destruí do, aproei a uma chata que com o choque e um tiro Para avançar ao longo do Rio Paraguai, era necessá-rio vencer
foi a pique. diversas passagens fortificadas, destacando-se, inicialmente,
Curuzu, Curupaiti e Humaitá. Navios oceânicos de calado inapro
Exmº Sr. Almirante, todas estas manobras eram feitas pela priado para navegar em rios, de casco de madeira, sem couraça,
Amazonas, debaixo do mais vivo fogo, quer dos navios e cha-tas, como os da Força Naval brasileira que combatera em Riachuelo,
como das baterias de terra e mosquetaria de mais de mil
não teriam bom êxito. Era evidente que o Brasil necessitava de
espingardas. A minha tenção era destruir por esta forma toda a
navios encouraçados para o prosseguimento das ações de guerra.
Esquadra Paraguaya, do que andar para baixo e para cima, que
Os obstáculos e as fortifi cações de Humaitá eram séria ameaça,
necessariamente mais cedo ou mais tarde ha-víamos de encalhar,
mesmo para esses navios.
por ser naquela localidade o canal mui estreito.

Concluída esta faina, seriam 4 horas da tarde, tratei de to- NAVIOS ENCOURAÇADOS
mar as chatas, que ao approximar-me delas eram abandona-das, E A INVASÃO DO PARAGUAI
saltando todos ao rio, e nadando para terra, que estava a curta
distância. Eles começaram a chegar à frente de combate em de-zembro
de 1865. O encouraçado Brasil, encomendado após a Questão
O quarto vapor paraguayo Paraguary, de que ainda não falei, Christie na França, foi o primeiro que chegou a Cor-rientes, em
recebeu tal rombo no costado e caldeiras, quando des-ceram, que dezembro de 1865.
foi encalhar em uma ilha em frente, e toda a gente saltou para ela, No Arsenal de Marinha da Corte, no Rio de Janeiro, inicia-ra-
fugindo e abandonando o navio”. se a construção de outros navios encouraçados, especifica-dos para
lutar naquele teatro de operações fluviais.
Quatro navios paraguaios conseguiram fugir e, com a
aproximação da noite, os navios brasileiros que os perseguiam Durante a guerra, foram incorporados à Armada bra-sileira 17
regressaram, para evitar encalhes em território inimigo. Além navios encouraçados, incluindo alguns clas-sificados como
disto, apesar de não comentarem, na época, não seria sensato [monitores], que obedeciam a características de projeto
abordar um navio lotado com tropas. inovadoras, desenvolvidas poucos anos antes na Guerra Civil
Antes do pôr-do-sol de 11 de junho, a vitória era brasileira. Americana.
Foi uma batalha naval, em alguns aspectos, decisiva.
A Esquadra paraguaia foi praticamente aniquilada, e não teria Em 21 de fevereiro de 1866, Tamandaré chegou a Cor-rientes
mais participação relevante no conflito. Estava garantido o e assumiu o comando da Força Naval, mantendo Barroso como seu
bloqueio que impediria o Paraguai de receber armamentos e, até Chefe de Estado-Maior. Em 17 de março, os navios suspenderam
mesmo, os [encouraçados] encomen-dados no exterior. para iniciar as operações rio acima. Qua-tro dos encouraçados já
Comprometeu, também, a situação das tropas invasoras e, pouco estavam disponíveis nessa força. Um deles tinha o nome de
tempo depois, a guerra passou para o território paraguaio. Barroso e outro, o de Tamandaré. Era uma grande homenagem,
em vida, aos dois ilustres chefes.
Barroso, sem dúvida, foi o responsável pelo bom êxito de sua A ofensiva aliada para a invasão do Paraguai necessitava de
Força Naval em Riachuelo. O futuro Barão de Teffé declarou que apoio naval. Passo da Pátria foi uma operação conjunta de forças
o vira, da Araguari, em plena batalha, deste-mido, expondo-se navais e terrestres. Coube, inicialmente, à Marinha fazer os
sobre a [roda] da Amazonas, com a barba branca, que deixara levantamentos hidrográficos, combater as chatas pa-raguaias e
crescer, ao vento, e sentira por ele grande respeito e admiração. bombardear o Forte de Itapiru e o acampamento inimigo. Em
março de 1866, já estavam disponíveis nove na-vios encouraçados,
A cidade de Corrientes continuava ocupada pelo inimigo e a inclusive três construídos no Brasil: Ta-mandaré, Barroso e Rio de
Força Naval brasileira, que mostrara sua presença, fun-deada Janeiro. A reação da artilharia paraguaia ceifou vidas preciosas,
próxima a ela, precisou iniciar, alguns dias após o 11 de junho, a como a do Tenente Mariz e Barros, comandante do Tamandaré.
descida do rio, que estava baixando.
Houve, depois, perfeita cooperação entre as forças, na grande
Barroso passou com seus navios por Mercedes e Cuevas, operação de desembarque que ocorreu em 16 de abril de 1866.
enfrentando a artilharia paraguaia, e somente regressou pas-sados Enquanto parte da Força Naval bombardeava a margem direita do
alguns meses, apoiando o avanço das tropas aliadas, que Rio Paraná, de modo a atrair a atenção do inimigo, os transportes
progrediam aproveitando o recuo do inimigo. avançaram e entraram no Rio Pa-raguai.
Tudo levava à ilusão de que a Tríplice Aliança venceria a
guerra em pouco tempo, mas tal não ocorreu. O que parecia fácil
estagnou. O Paraguai era um país mobilizado para a guer-ra que,
aliás, foi ele que iniciou, achando que tinha vantagens.

26
HISTÓRIA NAVAL
Os navios transportaram inicialmente cerca de 45 mil ho- PASSAGEM DE CURUPAITI
mens, de um efetivo de 66 mil (38 mil brasileiros, 25 mil
argentinos e 3 mil uruguaios), artilharia, cavalos e material. O Há meses que a Força Naval bombardeava diariamente
General Osório foi o primeiro a desembarcar em território inimigo. Curupaiti, tentando diminuir seu poder de fogo e abalar o moral
Com a invasão, os paraguaios abandonaram Itapiru e Passo da dos defensores.
Pátria e, após tentativas infrutíferas de derrotar o invasor em Estero Em 15 de agosto de 1867, já promovido a Vice-Almirante,
Bellaco e Tuiuti, concentraram suas defesas nas fortificações que Joaquim Ignácio comandou a Passagem de Curupaiti, en-frentando
barravam o caminho: Curuzu, Curupaiti e Humaitá. o fogo das baterias de terra e obstáculos no rio. Pelo feito, recebeu,
CURUZU E CURUPAITI logo depois, o título de Barão de Inhaúma. Participaram da
Em 31 de agosto de 1866, as tropas comandadas pelo Barão passagem dez navios encouraçados que, em seguida, fundearam
de Porto Alegre (Tenente-General Manoel Marques de Souza) um pouco abaixo de Humaitá e começa-ram a bombardeá-la.
desembarcaram na margem esquerda para atacar Curuzu e, no dia
seguinte, os navios começaram a bombar-dear a fortificação. A posição desses navios, porém, expunha-os aos tiros das
fortificações paraguaias, e Inhaúma considerava que ainda não era
o momento de forçar Humaitá. Caxias apoiou essa decisão.
Em 2 de setembro, o navio encouraçado Rio de Janeiro foi
atingido por duas minas flutuantes e afundou, com perda de vidas O apoio logístico a essa Força Naval, operando entre Curupaiti
humanas. e Humaitá, era muito difícil e exigiu que os brasilei-ros fizessem o
caminho pela margem direita do Rio Paraguai, no Chaco. Logo
Curuzu foi conquistada pelo Barão de Porto Alegre, apoiado depois, construiu-se pequena ferrovia nesse caminho, para
pelo fogo naval, em 3 de setembro. transportar as provisões necessárias.
O próximo ataque foi a Curupaiti. O presidente argenti-no, Para apoiar o material das forças em combate, construíra-se
General Bartolomeu Mitre, comandante das Forças da Tríplice um arsenal em Cerrito, próximo à confluência dos Rios Paraguai e
Aliança, assumiu pessoalmente o comando da ope-ração. Apesar Paraná. Graças a ele, foi possível fazer essa estrada de ferro.
do intenso bombardeio naval, o ataque aliado, ocorrido em 22 de
setembro, levou à maior derrota da Tríplice Aliança nessa guerra.
Ultrapassar Humaitá com uma força naval e mantê-la rio
acima exigiria também uma base de suprimentos rio acima. Caxias,
Seguiram-se acusações e críticas, que causaram uma crise após reorganizar as forças terrestres brasileiras, ini-ciou, em julho
entre Mitre e Tamandaré. O preparo da operação, sem dúvida, fora de 1867, a marcha de flanco e ocupou Tayi, no Rio Paraguai, acima
insuficiente e as dificuldades do ataque incor-retamente avaliadas. de Humaitá, que serviria para apoiar os navios.
Como Mitre permaneceria exercendo o comando geral dos
Exércitos Aliados, o governo brasileiro aceitou o pedido de
afastamento feito anteriormente por Tamandaré. Ele e Barroso Em dezembro de 1867, os três primeiros monitores, cons-
foram substituídos, não mais parti-cipando das operações dessa truídos no Arsenal de Marinha da Corte, chegaram à frente de
guerra. combate. Esses monitores, por suas características, seriam
importantes para o prosseguimento das operações.
CAXIAS E INHAÚMA
O Marquês de Caxias, General Luís Alves de Lima e Silva, Em 14 de janeiro de 1868, Mitre precisou reassumir a pre-
futuro Duque de Caxias e patrono do Exército Brasileiro, foi sidência da Argentina e passou, definitivamente, o comando -em-
designado para o cargo de Comandante-em-Chefe das Forças chefe dos Exércitos da Tríplice Aliança para Caxias.
Brasileiras em Operações contra o Governo do Paraguai. Já havia
provado ser um excelente general e estadista; o homem certo para PASSAGEM DE HUMAITÁ
aquela ocasião difícil.
Na madrugada de 19 de fevereiro de 1868, iniciou-se a
O comando da Força Naval coube ao Chefe-de-Esqua-dra Passagem de Humaitá.
Joaquim José Ignácio, futuro Visconde de Inhaúma,
que assumiu seu cargo, substituindo Tamandaré, em 22 A Força Naval de Inhaúma intensificou o bombardeio
de dezembro de 1866. Ele estava subordinado a Caxias, e a Divisão Avançada, comandada pelo Capitão-de-Mar-e-Guerra
mas não a Mitre. Delfim Carlos de Carvalho, depois Almirante e Barão da
Passagem, avançou rio acima. Essa divisão era formada por seis
Caxias soube empregar a Força Naval de Inhaúma, para apoiar navios: os encouraçados Barroso, Tamandaré e Bahia e os
sua ofensiva ao longo do Rio Paraguai, até a ocupa-ção da cidade monitores Rio Grande, Pará e Alagoas.
de Assunção, bombardeando fortificações, fazendo Eles acometeram a passagem formando três pares, compostos,
reconhecimentos pelo rio, transportando tropas de uma margem cada um, por um encouraçado e um monitor amarrado ao seu
para a outra, para contornar o flanco inimigo, e fazendo o apoio contrabordo.
logístico necessário.

27
HISTÓRIA NAVAL
Após a passagem, três dos seis navios tiveram que ser en- O ataque de Caxias para o sul é conhecido como a Dezem-
calhados, para não afundarem devido às avarias sofridas no brada. Ocorreu uma sucessão de combates terrestres, dos quais se
percurso. O Alagoas foi atingido por mais de 160 projéteis. destacam Itororó, Avaí e Lomas Valentinas. Ao final, as forças
paraguaias estavam derrotadas e López fugiu.
Estava, no entanto, vencida Humaitá, que aos poucos se-ria
desguarnecida pelos paraguaios. Solano López decidiu que era Não se rendendo, apesar de seu exército estar pratica-mente
necessário retirar-se com seu exército para uma nova posição aniquilado, ele conseguiu prolongar a guerra por mais de um ano,
defensiva, mais ao norte. na região montanhosa do norte de seu país, na chamada Campanha
da Cordilheira, causando enormes sacrifícios a todos os
O RECUO DAS FORÇAS envolvidos, principalmente ao povo pa-raguaio.
PARAGUAIAS

Na madrugada de 3 de março de 1868, López se retirou de A OCUPAÇÃO DE ASSUNÇÃO E A FASE FINAL


Humaitá, com cerca de 12 mil homens. Os aliados fecharam o DA GUERRA
cerco.
Como não havia mais obstáculos até Assunção, ela foi
Solano López (Acervo SDM) ocupada pelos aliados e a Força Naval fundeou em frente à cidade,
Em 25 de julho, os últimos defensores abandonaram Hu- em janeiro de 1869.
maitá, que foi ocupada pelos aliados. Era preciso reforçar o cerco
para evitar que eles se juntassem ao grosso do Exército paraguaio. Em fevereiro, o Chefe-de-Esquadra Elisário Antônio dos
Para isso, os aliados criaram uma flotilha de escale-res, lanchas e Santos assumiu o comando da Força Naval. Ficaram no Pa-raguai
canoas para bloquear a passagem dos fugitivos pela Lagoa Verá. os navios de menor calado, mais úteis para atuar nos afluentes.
Uma Força Naval subiu o Rio Paraguai até território brasileiro, em
Os combates que ali ocorreram, corpo a corpo, entre as Mato Grosso. Houve um último combate no Rio Manduvirá.
tripulações de embarcações, constituíram um dos conjuntos de Seguiu-se a Campanha da Cordilheira, em que a Marinha não mais
episódios mais dramáticos da guerra. Participaram deles, com confrontou o inimigo.
grande bravura, jovens oficiais brasileiros, como os Te-nentes
Saldanha da Gama e Júlio de Noronha, entre outros. Ao final, Em 1870, o Paraguai estava derrotado e seu povo dizi-mado.
renderam-se 1,3 mil paraguaios. A guerra, por sua dificuldade logística, pelo envol-vimento da
população do país e, até, por ações típicas de guerrilha, foi um
O AVANÇO ALIADO E A DEZEMBRADA enorme desafio para os países da Tríplice Aliança. Ela teve
consequências notáveis. Foi durante o confli-to que a unidade da
Superado o obstáculo de Humaitá, Caxias pôde avançar para Argentina se consolidou. Para o Brasil, foi um grande desafio, que
o norte. Era necessário que a Força Naval acompanhas-se o mobilizou o País e uniu sua popula-ção. Foi lá que brasileiros das
movimento das forças terrestres aliadas e, no dia 16 de agosto de diferentes regiões do País se conheceram melhor, passando a se
1868, Inhaúma começou a subir o Rio Paraguai. A partir de então, respeitar e a se entender.
os navios participaram das operações, prestando o apoio necessário
ao Exército aliado.

Logo, Caxias alcançou Palmas e iniciou seus planos para


atacar a nova posição do inimigo, em Piquissiri. Ele próprio
efetuou vários reconhecimentos empregando os navios e de-cidiu
por não realizar uma ação frontal. Para atacar os para-guaios pela
retaguarda, era preciso utilizar a margem direita, onde se situava o
Chaco, um alagadiço quase intransponível, exposto às inundações.

A genial manobra do Piquissiri, que contornou a po-sição do


inimigo, foi operação em que a Força Naval exerceu papel
relevante. Foi construída uma estrada pelos pântanos do Chaco,
ultrapassando diversos cursos d’água, para que as tropas, que
cruzaram o rio nos navios, avan-çassem pela margem direita até
um ponto em que podiam embarcar novamente, para ser
transportadas para a margem esquerda, acima das posições
inimigas.
Em 4 de dezembro, a Força Naval apoiou o desembarque das
tropas em Santo Antônio, sobre a retaguarda paraguaia.

28
HISTÓRIA NAVAL
indústria adaptavam aos navios. O encouraçado era o pesado e bem
A MARINHA NA REPUBLICA:PRIMEIRA artilhado navio de linha, o cruzador era o leve, a fragata era ligeira
GUERRA MUNDIAL: ANTECEDENTES ; O e a torpedeira e o [brulote], destinado a incendiar as antigas naus.
PREPARO DO BRASIL; A DIVISÃO NAVAL EM Em 15 de novembro de 1906, assumiu a Presidência da
OPERAÇÕES DE GUERRA; O PERIODO ENTRE República o conselheiro Afonso Pena e, com ele, o seu novo
GUERRAS; A SITUAÇÃO EM 1940; SEGUNDA ministério, sendo a pasta da Marinha ocupada pelo Almirante
GUERRA MUNDIAL: Alexandrino Faria de Alencar. Não demorou que este con-seguisse
do Congresso a reforma do Programa de 1904. A alteração mais
ANTECEDENTES ; INICIO DAS HOSTILIDADES E marcante trazida pelo novo programa do Al-mirante Alexandrino
ATAQUES AOS NOSSOA NAVIOS MERCANTES; A foi a adição de três novos encouraçados do tipo dreadnought, de
LEI DE o
20 mil toneladas, cuja aprovação resultou no Decreto n 1.567, de
EMPRESTIMO E ARRENDAMENTO E
24 de novembro de 1906.
MODERNIZAÇÕES DE NOSSOS MEIOS E Nesse programa, foi cancelado o projeto de um novo arsenal.
DEFESA ATIVA DA COSTA BRASILEIRA; Em seu lugar, optou-se por modernizar as instala-ções da Ilha das
DEFESAS LOCAIS; DEFESA ATIVA; A FORÇA Cobras, porém, admitia-se a construção de bases secundárias, em
NAVAL DO NORDESTE; E O QUE FICOU? Belém e em Natal, e um porto militar de pequeno porte em Santa
Catarina.
Como consequência direta do Programa Alexandrino, a
Esquadra de 1910, assim chamada por haver chegado ao Brasil
SINOPSE nesse ano a maior parte de seus componentes, repre-sentou um
Os primeiros anos da República foram marcados pela pro- verdadeiro revigoramento militar e tecnológico da Marinha
gressiva desmobilização da Esquadra brasileira. As revoltas que brasileira. Dessa forma, o Brasil obteve uma frota de alto-mar
assolaram a Nação e o desgaste econômico conhecido como ofensiva, podendo levar a outros rincões o Pavilhão Nacional e,
encilhamento provocaram o gradativo desmantela-mento das principalmente, apoiar a ação diplomática do governo brasileiro
unidades da Força Naval. A situação interna do País se refletia nos em qualquer local em que se fizesse necessário.
orçamentos insuficientes que negavam à Marinha os recursos
necessários à modernização dos meios flutuantes e à criação de A incorporação de navios como os encouraçados Minas
uma infra-estrutura de apoio. Gerais e São Paulo, pertencentes à classe dos dreadnoughts, os
Essa situação se manteve por toda a década fi nal do sécu-lo mais poderosos do mundo, encheu de orgulho e confiança os
XIX. A sucessão de quatro ministros da Marinha em apenas seis cidadãos brasileiros.
anos contribuiu negativamente para a elaboração de um programa Além dessas embarcações, também chegaram os cru-zadores
naval condizente com o litoral e os interesses a de-fender. Bahia e Rio Grande do Sul e os [contratorpedeiros] Amazonas,
Pará, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Ala-goas, Sergipe,
Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso.
Em 15 de novembro de 1902, o Almirante Júlio de Noro-nha Posteriormente ao ano de 1910, o contratorpedeiro Ma-
assumiu a pasta da Marinha, encontrando uma Força Na-val ranhão, os submarinos F1, F3, F5 e Humaitá, o tender Ceará e
composta de navios reformados, sendo, na sua maioria, modelos outros navios auxiliares complementaram os efetivos navais da
obsoletos perante as classes mais modernas que estavam em Marinha.
processo de construção pelas potências indus-triais da época.
A Esquadra brasileira passou a ser organizada, essencial-mente,
Procurando satisfazer a justa aspiração brasileira em constituir em divisões de encouraçados e cruzadores e flotilhas de
uma Marinha bem aparelhada, o deputado Dr. Laurindo Pitta contratorpedeiros e de submarinos. Porém, com o início da
apresentou à Câmara, em julho de 1904, proje-to que continha o Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o ministro da Marinha,
programa Alexandrino de Alencar, determinou que as principais unidades
naval do Almirante Júlio de Noronha, o qual poderia atender operativas de superfície fossem reorganizadas em três divisões, a
a tais expectativas. Em discurso entusiasmado, pro-pôs a fim de patrulhar as águas costeiras dentro
aprovação de orçamento que financiasse os navios re-quisitados. de cada área de responsabilidade.
Pitta encabeçou uma grande luta nos bastidores da política Dessa forma, a Marinha iria enfrentar os seus dois prin-cipais
nacional com a finalidade de obter a aprovação, no Congresso
Nacional, do projeto que reorganizaria toda a Esquadra brasileira. desafios no século XX.
Sendo o projeto finalmente aprovado, quase por unanimidade, ele As duas grandes guerras mundiais.
o
se transformou no Decreto n 1.296, de 14 de novembro de 1904.
Segundo o próprio Laurindo Pitta, em discurso por oca-sião
da apresentação do seu projeto de reaparelhamento naval,
couraçados, [cruzadores], torpedeiras não eram inven-ções
modernas, eram aperfeiçoamentos que a ciência e a

29
HISTÓRIA NAVAL
PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL O PREPARO DO BRASIL
ANTECEDENTES
A disposição do Brasil em manter-se neutro no conflito foi
No ano de 1914, as relações entre as principais nações eu- evidenciada desde o primeiro minuto dos combates na Europa, em
ropeias estavam tensas. Nos últimos 60 anos havia ocorrido a 1914. Naqueles dias conturbados, prevalecia no País uma
Segunda Revolução Industrial e várias potências econô-micas tendência natural de simpatia em favor dos aliados, principalmente
surgiram ameaçando a supremacia da Grã-Bretanha, com destaque porque a elite nacional via na edu-cação e na cultura francesas seus
para Estados Unidos, Itália, Rússia, Alemanha e Japão. Isso principais paradigmas. A neutralidade foi a marca brasileira nos
significava que todos esses países tinham como produzir, mas três primeiros anos de guerra, mesmo quando Portugal foi a ela
precisavam de matérias primas e de mercados para vender a sua arrastada, em março de 1916.
produção.
O bloqueio sem restrições, firmado pelo governo ale-mão em
Se na primeira Revolução Industrial o grande fato impul- 31 de janeiro de 1917, trouxe não só mal-estar a todos os neutros,
sionador foi a invenção do vapor, na segunda, a eletricidade foi o mas também preocupação ao governo brasi-leiro, que dependia
mecanismo que revolucionou os meios de produção. Outro grande fundamentalmente do mar para escoar a produção de café para a
fator de crescimento econômico foi o aumento da disponibilidade Europa e os Estados Unidos, nossos principais compradores.
de ferro e aço. A mecanização da indústria se elevou, Ademais, importávamos muitos produtos da Inglaterra, que
proporcionando o consequente aumento do nú-mero de máquinas naquela altura lutava desesperadamente nos campos franceses e
e motores menores, que viriam dotar os bens de consumo duráveis, enfrentava, com preocupação, os ataques dos submarinos alemães
os maiores símbolos da socieda-de moderna. a seu trá-fego marítimo.

O Brasil apresentou, inicialmente, seu protesto formal


Naquele ano de 1914 vigorava a Paz Armada, uma situa-ção à
em que todas as nações procuravam se armar para inibir o
adversário de atacá-las. Duas grandes alianças político-militares Alemanha, sendo logo depois obrigado a romper re-lações
predominavam: a Tríplice Aliança, formada pelo Im-pério Austro- comerciais com aquele país, mantendo-se, contudo, ainda, na mais
Húngaro, Itália e Alemanha, e a Tríplice Entente, formada por rigorosa neutralidade.
França, Inglaterra e Rússia. Pequenas frentes de luta surgiam nas
áreas em disputa. Todos queriam se apossar de territórios. Um O que veio a modificar a atitude brasileira foi o afun-damento
terrorista sérvio conseguiu assassinar o Ar-quiduque Francisco do navio mercante Paraná, ao largo de Barfleur, na França, apesar
Ferdinando, herdeiro do trono austríaco, em um atentado em de ostentar a palavra Brasil pintada no costado e a Bandeira
Sarajevo, na Bósnia. Essa morte imediata-mente provocou a guerra Nacional içada no mastro. Naquela oportunidade, a população na
entre a Áustria e a Sérvia; a Rússia, fiadora da Sérvia, iniciou um capital, Rio de Janeiro, atacou firmas comerciais alemãs, criando
confronto com a Áustria, provo-cando a intervenção alemã e grande desconforto para o governo de Wenceslau Braz. Seguiu-se
unindo a França e a Inglaterra. Aliados de um ou outro lado então o rompimento das relações diplomáticas com o governo
entraram na Guerra. Iniciava-se a Primeira Guerra Mundial. alemão, em 11 de abril de 1917. Um fato importante, que influiu
também na decisão de se romper relações com o Império Alemão,
De 1914 até o seu final, a guerra assumiu seu lado mais cruel. foi a atitude de protesto dos Estados Unidos contra o bloqueio
Milhões de vidas foram ceifadas na chamada guerra de trincheiras, irrestrito, tendo sofrido por isso o torpedeamento de dois de seus
quando as tropas limitavam-se a defender deter-minadas posições navios. Tais acontecimentos motivaram a declaração de guerra
estratégicas. norte-americana. Mantínhamos, até esse ponto, laços comerciais
profundos com esse país e claras simpatias com os aliados.
Em 1917, os EUA entraram na guerra. No mesmo ano, eclodiu
a revolução socialista na Rússia e seus dirigentes assinaram, com
a Alemanha, o Tratado de Brest-Litovsky, re-tirando-se da guerra. No mês de maio, o segundo navio brasileiro, o Tijuca, foi
torpedeado nas proximidades de Brest, na costa francesa. Seis dias
Em 1918, o Brasil entrou no conflito quando a campanha depois seguiu-se o mercante Lapa. Ele foi abordado por um
submarina alemã atingiu seus navios mercantes, afundados em submarino alemão, que mandou a tripulação deixar o vapor para
razão do bloqueio alemão à Grã-Bretanha. depois torpedeá-lo. Esses três ataques levaram o presidente
O Brasil enviou, nesse mesmo ano, uma Divisão Naval para Wenceslau Braz a decretar o arresto de 45 navios dos impérios
operar com a Marinha britânica entre Dakar e Gibraltar. centrais aportados no Brasil e a revogação da neutralidade. Muitos
deles encontravam-se danificados por sabotagem dos próprios
A Alemanha, depois de uma fracassada ofensiva no tea-tro de tripulantes. Isso não impediu que o Brasil utilizasse 15 deles e
operações ocidental, se viu exausta com as perdas sofridas, vindo repassasse 30 por afretamento para a França. Um fato curioso foi
a assinar o Armistício com os aliados no mês de novembro de o arresto da Canhoneira alemã Eber, surta no porto de Salvador.
1918. Tratava-se de navio militar e não de vapor mercante, como os 45
navios arres-tados. Antes de ser abordada por autoridades
brasileiras, e

30
HISTÓRIA NAVAL
percebendo essa medida, os tripulantes queimaram esse vaso de esforço para a Marinha significativa foi a designação de treze
guerra e conseguiram se transferir para outro navio mer-cante que oficiais aviadores, sendo doze da Marinha e um do Exército, para
se evadiu dos portos nacionais com o armamento e os homens se aperfeiçoarem como pilotos de caça da Royal Air Force no
especializados, que seriam ainda úteis à Marinha alemã no teatro europeu. Depois de árduo adestramento em que dois pilotos
se acidentaram, sendo um fatal, eles fo-ram considerados
conflito. qualificados para operações de combate, tendo sido empregados
Quatro meses se passaram até que novo navio brasilei-ro fosse
o
no 16 Grupo da RAF, com sede em Plymouth, em missões de
atacado e afundado, dessa feita foi o vapor Tupi, nas mediações do patrulhamento no Canal da Mancha.
Cabo Finisterra. O caso tornou-se grave porque o comandante e o
despenseiro foram aprisionados por um submarino alemão e nunca No principal porto do País, o do Rio de Janeiro, centro
mais se teve notícia de seus destinos. econômico e político mais importante, instituiu-se uma linha de
minas submarinas, cobrindo 600 metros entre as Fortalezas da Laje
e Santa Cruz. Duas ilhas oceânicas preocupavam as auto-ridades
Oito dias depois, 26 de outubro de 1917, o Brasil reco-nhecia navais devido à possibilidade de seu uso como pontos de refúgio
e proclamava o estado de guerra com o Império Ale-mão. de navios inimigos: as de Trindade e de Fernando de Noronha. A
primeira foi ocupada militarmente, em maio de 1916, com um
grupo de cerca de 50 militares. Uma estação ra-diotelegráfica
Como estava o Brasil naquela oportunidade para enfren-tar os mantinha as comunicações com o continente e, frequentemente,
germânicos? Trindade era visitada por navios de guerra para o seu
reabastecimento. Quanto a Fernando de Noronha, lá existia um
O governo brasileiro tinha consciência de que a grande presídio do estado de Pernambuco. A Marinha, então, passou a
ameaça seria o submarino alemão, ávido por atacar os nossos assumir a defesa dessa ilha, destacando um grupo de militares para
navios mercantes que mantinham comércio com outros paí-ses em guarnecê-la. Não houve nenhuma tentativa de ocupação por parte
pleno desenvolvimento. Além disso, naquela opor-tunidade, não dos alemães.
existiam estradas ligando o Sul e Sudeste com o Norte e Nordeste.
Todas as comunicações entre essas regiões eram feitas por mar, daí Com o estado de guerra declarado, os ataques aos mercantes
nossa grande vulnerabilida-de estratégica. Tanto a Marinha brasileiros continuaram. Em 2 de novembro, nas proximidades da
Mercante como a de Guerra seriam as grandes protagonistas Ilha de São Vicente, na costa africana, foram torpedeados mais
brasileiras nesse confronto. dois navios, o Guaíba e o Acari. Depois de atingidos, seus
comandantes conseguiram encalhá-los, sal-vando-se a carga, não
A Marinha Mercante brasileira era modesta, no entanto, desde impedindo, no entanto, que vidas brasileiras fossem perdidas.
os primeiros anos do século, os governos que se su-cederam
procuraram aparelhá-la, o que foi auspicioso, pois teríamos na Outro ataque, já no ano de 1918, aconteceu ao mer-cante
guerra um teste fundamental para a manutenção de nosso fluxo Taquari, da Companhia de Comércio e Navegação, na costa
comercial. No início do conflito – quando o Brasil ainda mantinha inglesa. Desta feita o navio foi atingido por tiros
irrestrita neutralidade –, diversos países envolvidos na guerra, de canhão, tendo tempo de arriar as baleeiras que, no entanto,
ávidos para cobrir as perdas provoca-das por afundamentos, foram metralhadas, provocando a morte de oito tri-pulantes.
ofereceram propostas de compras de muitos de nossos mercantes.
Esses ataques insuflaram ainda mais a opinião públi-ca
Propostas de compras do Lloyd Brasileiro foram comuns. brasileira que, influenciada por campanhas jornalísticas e
Entretanto, o governo nacional, premido pela necessidade de declarações de diversos homens públicos, exigiu um com-
manter o comércio com outros países e de escoar o nosso principal prometimento maior com a causa aliada, com a participação
produto, o café, principalmente para os Estados Uni-dos, impediu efetiva no esforço bélico contra as Potências Centrais.
todas essas tentativas de arrendamento. Ao final, essa ação veio a
ser fundamental para o Brasil. Desde o início do conflito, a participação da Marinha no
Nossa Marinha de Guerra era centrada na chamada Es-quadra confronto baseou-se no patrulhamento marítimo do litoral
de 1910, com navios relativamente novos construídos na Inglaterra brasileiro com três divisões navais, como já mencionado,
sob o Plano de Construção Naval do Almirante Alexandrino Faria distribuídas nos portos de Belém, Rio de Janeiro e São Fran-cisco
de Alencar, ministro da Marinha de então, como anteriormente do Sul. Esse serviço tinha por finalidade colocar a na-vegação
mencionado. Eram ao todo dois en-couraçados tipo dread nought, nacional, a aliada e a neutra ao abrigo de possíveis ataques de
o Minas Gerais e o São Pau-lo, dois cruzadores tipo scouts, o Rio navios alemães, de qualquer natureza, nas nossas águas.
Grande do Sul e o Bahia, que viria a ser perdido tragicamente na
Segunda Guerra Mundial, e dez contratorpedeiros de pequenas
dimensões. Esses meios eram todos movidos a vapor, queimando A Divisão Naval do Norte possuía os encouraçados guarda
carvão. costas, Deodoro e Floriano, dois cruzadores, Tira-dentes e
Desde o início da participação brasileira no conflito, o República, dois contratorpedeiros, três avisos e duas canhoneiras.
governo nacional decidiu-se pelo envio de uma divisão naval para Sua sede era Belém.
operar em águas europeias, o que representaria grande

31
HISTÓRIA NAVAL
A Divisão Naval do Centro compunha-se dos encoura-çados A principal tarefa a ser cumprida por essa Divisão seria
Minas Gerais e São Paulo e de seis contratorpedei-ros, com sede patrulhar uma área marítima contra os submarinos alemães,
no Rio de janeiro. compreendida entre Dakar, no Senegal, e Gibraltar, na entrada do
Mediterrâneo, com subordinação ao Almiran-tado inglês.
Por fim, a Divisão Naval do Sul possuía os cruzadores Bar-
roso, Bahia e Rio Grande do Sul, um iate e dois contratorpe-deiros, A preparação dos navios, ainda no Brasil, requereu mui-tos
com sede em São Francisco do Sul. recursos de toda a ordem. Entre os pontos a ser corrigidos estava a
deficiência de abastecimento, principalmente a escassez de
A Marinha possuía também três navios mineiros, uma flo-tilha combustível, o carvão. Dava-se preferência a um tipo de carvão
de submersíveis, com um tênder, três pequenos sub-marinos proveniente da Inglaterra, o tipo cardiff, ou dos Estados Unidos da
construí dos na Itália e uma torpedeira, as flotilhas do Mato América. O carvão nacional, por possuir grande quantidade de
Grosso, do Amazonas, aviões de guerra e, por fim, navios soltos. enxofre, era contra-indicado, e esse ponto nevrálgico preocupou os
chefes navais durante toda a comissão da DNOG.

A DIVISÃO NAVAL EM OPERAÇÕES DE GUERRA Depois de três meses de adestramento contínuo com as
tripulações, os navios suspenderam do Rio de Janeiro, em grupos
O governo de Wenceslau Braz decidiu enviar uma divisão pequenos, para se juntarem na Ilha de Fernando de Noronha.
naval para operar sob as ordens da Marinha britânica, na oca-sião Inicialmente, os contratorpedeiros deixaram a Guanabara no dia 7
a maior e mais poderosa do mundo. Logicamente, os na-vios de maio de 1918, seguidos, no dia 11, pelos dois cruzadores. Em 6
escolhidos deve riam ser da Esquadra adquirida oito anos antes na de julho, suspendeu do Rio de Janeiro o cruzador auxiliar
própria Inglaterra, pois eram os mais modernos que o Brasil Belmonte e dois dias depois o rebocador Laurindo Pitta. Esses
possuía. No entanto, devido aos avanços tecnológicos provocados navios ficaram responsáveis pelo transporte do carvão necessário
pela própria guerra, esses navios tornaram-se obsoletos para a DNOG, daí sua grande importância logística.
rapidamente. Em que pese tal fato, a escolha da alta administração
naval recaiu nos dois cruzadores (Rio Grande do Sul e Bahia), em o
quatro contratorpedeiros (Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e No dia 1 de agosto, a Divisão unida suspendeu de Fer-nando
Santa Catarina), um rebocador (Laurindo Pitta) e um cruzador- de Noronha com destino a Dakar, passando por Free-town.
auxiliar (Belmonte), ao todo oito navios. O propósito dessa primeira [derrota] até Freetown era destruir
os submarinos inimigos que se encontravam na rota da DNOG. O
Contra quem iríamos lutar? A Alemanha, apesar de pos-suir armamento, naquela ocasião, para se neutralizar esses submarinos,
Esquadra menor que a da Inglaterra, possuía uma frota muito era bastante primitivo, não se comparando com coisa alguma que
agressiva e motivada, que se batera com valentia até aquele se viu na Segunda Guerra Mundial. Existiam hidrofones primitivos
momento. e bombas de profundidade de 40 libras, que eram lançadas pela
borda no local provável onde se encontrava o submarino. É
No início do conflito, os alemães se lançaram à guerra de interessante mencionar que o próprio submarino, naquela
corso utilizando navios de superfície, no estilo de corsários oportunidade, possuía pequena capacidade de permanecer
independentes, que atacavam os mercantes navegando soli-tários. mergulhado durante longo período de tempo, o que era uma grande
Essa estratégia, com o decorrer da guerra, foi abando-nada. limitação. Normalmente, os ataques contra mercantes eram
Preferiu-se a guerra submarina, que mostrou-se muito mais realizados utilizando-se os canhões localizados em seus
eficiente. Esses submarinos não chegaram a atuar nas nossas [conveses]. A maior possibilidade de destruir esses submarinos
costas, como aconteceu na Segunda Guerra Mundial, no entanto, acontecia quando o inimigo vinha à superfície para destruir o alvo
atacaram nossos navios nas costas europeias e os afundaram sem por canhão, ou mesmo com o uso de [torpedos]. Nessa travessia
trégua. inicial, alguns [rebates] de “prováveis submarinos” foram da-dos,
porém não tiveram confirmação.
Há de se notar que a Marinha brasileira era dependente de
suprimentos vindos do exterior. Não existiam estaleiros ca- Outro ponto interessante na travessia Fernando de Noronha–
pacitados, nem fábricas de munição e estoques logísticos Dakar era a faina de transferência de carvão em al-to-mar. Esses
adequados. Dessa forma, a preparação da Divisão Naval em recebimentos aconteciam em quaisquer con-dições de tempo e de
Operações de Guerra (DNOG), como ficou conhecida essa mar e obrigavam a atracação dos navios ao cruzador-auxiliar
pequena força, foi muito dificultada por limitações que não eram Belmonte e a utilização do rebocador Laurindo Pitta para auxílio
só da Marinha, mas também do Brasil. Como critério de escolha, nas aproximações. Foram fainas perigosas que demandaram muita
abriu-se o voluntariado para os seus componentes e foi escolhido capacidade marinheira dos tripulantes, além da natural
um Contra-Almirante, ainda muito jovem, com 51 anos de idade, vulnerabilidade durante os abastecimentos, quando os submarinos
muito habilidoso, com grande experiência marinheira, na ocasião inimigos poderiam aproveitar a baixa velocidade dos navios para
comandante da Divisão de Cruzado-res com base no porto de o ataque torpé-dico. A tensão reinante durante esses eventos era
Santos, o Almirante Pedro Max de Frontin, irmão do engenheiro enorme, sem contar com as difíceis condições em que eram
Paulo de Frontin, para o coman-do da DNOG. realizadas. Os navios ficavam literalmente negros de carvão e
todos tra-balhavam do nascer do sol até o término do
abastecimento.

32
HISTÓRIA NAVAL
Depois de oito dias de travessia, a DNOG chegou ao A vitória dos aliados seria confirmada em Paris, em 28 de
porto de Freetown, onde se agregou ao esquadrão britânico. Nessa junho de 1919, quando se reuniram os representantes de 32 países
cidade, os navios permaneceram por 14 dias, reabaste-cendo-se e para assinar o Tratado de Versalhes, que foi imposto à Alemanha
sofrendo os reparos necessários à continuação da missão. derrotada.
No dia 9 de junho de 1919, depois de tocar Recife por breves
No dia 23 de agosto de 1918, a Divisão suspendeu em direção dias, os navios da DNOG entravam na Baía de Gua-nabara, porto
a Dakar, tendo essa derrota sido muito desconfor-tável para as sede da Divisão Naval. Acabara, assim, a par-ticipação da Marinha
tripulações dos navios devido ao mau tempo reinante. Na véspera na Primeira Guerra Mundial.
da chegada a esse porto africano, no período noturno, foi avistado
um submarino navegando na superfície. Imediatamente foi atacado O PERÍODO ENTRE GUERRAS
pela força brasileira, no entanto, o submarino conseguiu lançar um O período entre guerras, que abarcou os anos de 1918 até
contra-ataque contra o cruzador-auxiliar Belmonte, quase 1939, caracterizou-se pelo abandono a que foi submetida não só a
atingindo seu intento, uma vez que a esteira fosforescente do Marinha de Guerra como praticamente toda a ativi-dade nacional
torpedo foi perfeitamente observada a 20 metros da popa do navio relacionada com o mar. A ausência de mentali-dade marítima do
brasi-leiro. No dia 26 de agosto, os navios aportavam em Dakar e
povo brasileiro revelou-se em toda a sua intensidade.
aí começariam as grandes provações dos tripulantes nacionais.
Todo esse martírio teria início quando determinado navio
inglês, o Mantua, iniciou uma rotina, observada por nossos No entanto, iniciativas modestas, ainda durante a Gran-de
marinheiros, que o viam suspender de quando em vez para o alto- Guerra, como a criação da Escola Naval de Guerra (depois Escola
mar regressando em seguida. Logo após, soube-se que essas saídas de Guerra Naval), da Flotilha dos Submarinos, com os três
eram para lançar ao mar os corpos dos homens de sua tripulação pequenos submarinos da Classe F, e da Escola de Aviação Naval,
. indicaram a necessidade de avançar na melhoria das condições de
que haviam contraído a terrível “gripe espanho-la” Possivelmente
o Mantua foi o responsável pela moléstia que vitimaria diversos de prontidão da nossa Força Naval.
nossos tripulantes que nunca retor-nariam ao Brasil.
A revolução de 30 representou para a Marinha um divi-sor de
No início de setembro, as primeiras vítimas brasileiras eram águas entre duas épocas distintas. Em relatório do ministro da
atingidas pela [gripe mortal]. Marinha, no ano de 1932, em que foi feita análise da situação da
Marinha, encontra-se registrada a seguinte declaração: “Estamos
A permanência em Dakar deveria ser curta. No entanto, deixando morrer a nossa Marinha. A Esquadra agoniza pela idade
devido à gravidade da situação sanitária com a gripe, os navios lá [a maior parte dos navios era da Esquadra de 1910], e, perdido com
permaneceram mais tempo. A tudo isso somou-se o [impa- ela o hábito das viagens, substituído pela vida parasitária e
ludismo] e as [febres biliares africanas]. Dos navios atingidos pelas burocrática dos portos, morrem todas as tradições... Estamos numa
doenças, o mais afetado foi o cruzador-auxiliar Belmonte que, encruzilhada: ou fazemos renascer o Poder Naval sob bases
entre seus 364 tripulantes, contaram-se 154 doentes. permanentes e voluntariosas, ou nos resignamos a ostentar a nossa
Substituições foram solicitadas ao Brasil, que vie-ram no fraqueza provocadora.... estamos completamente desaparelhados.
paquete Ásia, para completar os claros deixados pelos O programa naval estabelecido em 1932, e ajustado em 1936
falecimentos. Foram vitimados 156 brasileiros da DNOG pela elaborado sem obedecer a nenhum planejamento es-tratégico ou
“gripe espanhola”. político, criou uma Força Naval modesta, dentro das possibilidades
financeiras e técnicas do País, podendo ministrar adestramento
Os navios britânicos e brasileiros em Free-town e Dakar satisfatório e com capacidade de in-tervir em operações limitadas,
ficaram inoperantes em face das condições sanitárias reinan-tes, mais no campo interno que externo. Devemos reconhecer, no
estando a defesa do estreito entre Dakar e Cabo Verde somente a
entanto, que tal modesta iniciativa foi um marco de coragem, pois
cargo de dois pequenos navios portugueses. Com grande esforço
utilizou a incipiente indústria brasileira na tentativa de reconstituir,
pessoal, a DNOG conseguiu logo depois de-signar o Piauí e o
em termos nacionais, um Poder Naval com alguma credibilidade.
Paraíba para auxiliarem os portugueses na-quela área de
operações. Em 1935, foi iniciada grande reforma no encouraçado Minas
No dia 3 de novembro, a DNOG [largou] de Dakar em direção Gerais, que constou da substituição de suas caldeiras e do aumento
a Gibraltar, sem o Rio Grande do Sul, o Rio Grande do Norte, o do alcance de seus canhões de 305 mm.
Belmonte e o Laurindo Pitta, os dois primeiros avaria-dos e os dois
seguintes designados para outras missões. Sete dias depois, os As atividades de minagem e varredura tinham sido man-tidas
navios da Divisão faziam sua entrada em Gibraltar. No dia em segundo plano desde o fim da Grande Guerra, utilizando-se
seguinte, o Armistício foi assinado, dando a Grande Guerra como navios mineiros varredores improvisados. Em 1940, obedecendo
terminada. Nossa missão de guerra fin- ao novo programa naval, então aprovado, decidiu-se pela
dara; no entanto, nossa Divisão prolongou sua permanência na construção, no Brasil, de uma série de navios mineiros varredores.
Europa, já que foi convidada para participar das festivida-des
promovidas pelos vitoriosos.

33
HISTÓRIA NAVAL
Em 1940, a nossa Força de Alto-Mar era assim constituída: Nossa Esquadra, despreparada, pouco podia fazer para
ESQUADRA: enfrentar uma esquadra como a alemã.
– Divisão de encouraçados: Minas Gerais e São Paulo.
– Divisão de cruzadores: Rio Grande do Sul e Bahia. SEGUNDA GUERRA
– Flotilha de contratorpedeiros: Maranhão, Piauí, Rio MUNDIAL ANTECEDENTES
Grande do Norte, Sergipe, Santa Catarina e Mato Grosso.
– Flotilha de submarinos: Humaitá, Tupi, Timbira e Tamoio. Derrotada na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha foi
– Trem: tênderes Belmonte e Ceará; navios-tanques No-vais obrigada a restituir a Alsácia e a Lorena à França, ceder minas de
de Abreu e Marajó; rebocadores Aníbal de Mendonça, Muniz carvão, colônias, submarinos e navios mercantes. Além disso,
Freire, Henrique Perdigão e DNOG. deveria pagar aos vencedores uma indenização em dinheiro,
ficando proibida de possuir Força Aérea e de fabricar alguns tipos
Flotilha de Navios Mineiros Varredores: de armas. Era proibida também de possuir Exérci-to superior a 100
– dez navios. mil homens.

Flotilha da Diretoria de Hidrografia e Navegação: Essas medidas do Tratado de Versalhes atingiram du-ramente
– três navios hidrográficos e dois navios faroleiros. a economia alemã, afligindo seu povo, que passou a nutrir
sentimento de aversão às principais potências da épo-ca. Estava
Navio isolado: constituído o caldo que os nazistas necessitavam para alcançar o
– navio-escola Almirante Saldanha. poder. Muitas des sas restrições, sob o coman-do de Hitler,
Flotilhas Fluviais começaram a ser ignoradas. A Alemanha crescia e, por isso,
necessitava de mercado para os seus produtos e de colônias onde
Dispondo o Brasil de imensas bacias [potamográficas], as pudesse adquirir matérias-primas.
forças fluviais sempre representaram papel importante em nossa
concepção estratégica. Em 1940, elas eram assim cons-tituídas: Por outro lado, também dispostos a destruir a ordem colonial
vigente, Japão e Itália adotaram, na década de 30, uma política
– Flotilha do Amazonas: canhoneira Amapá e rebocador expansionista contra a qual a [Liga das Nações] mostrou-se
Mário Alves. impotente. Cobiçando as matérias-primas e os vastos mercados da
Ásia, o Japão reiniciou sua investida im-perialista, em 1931,
– Flotilha de Mato Grosso: monitores Parnaíba, Paraguaçu e conquistando a Manchúria, região rica em minérios que pertencia
Pernambuco; avisos Oiapoque e Voluntários e navio-tanque à China. Em outubro de 1935, a Itália de Mussolini invadiu a
Potengi. Etiópia. Em 1936, a Alemanha nazista começou a mostrar suas
garras ocupando a Renânia (região situada entre a França e a
Pode-se perceber, claramente, a vulnerabilidade de nosso Alemanha), indo juntar-se à Itália fascista e intervir na guerra civil
Poder Naval para o enfrentamento da guerra A/S (an-ti- espanhola a favor do General Franco. Nesse ano de 1936, Itália,
submarino). Não possuíamos sensores adequados, nem Alemanha e Japão assina-ram acordo para combater o comunismo
adestramento para a luta contra os submarinos. A doutrina A/S era internacional (Pacto AntiComintern), formalizando o Eixo Roma–
baseada ainda nas lições apreendidas na Primeira Guerra Mundial, Berlim– Tóquio.
muito diferente do que vinha ocorrendo nas águas do Atlântico
Norte e do Mediterrâneo, desde 1939.
Em agosto de 1939, a Alemanha e a União Soviética fir-
A SITUAÇÃO EM 1940 maram entre si um pacto de não-agressão, que estabelecia,
secretamente, a partilha do território polonês entre as duas nações.
Como vimos, o nosso Poder Naval possuía limitações Hitler se sentiu à vontade para agir, invadindo a Polô-nia e dando
operacionais importantes. No início da guerra na Europa, o Brasil início à Segunda Guerra Mundial, que se alastrou por toda a
contava com praticamente os mesmos navios da Primei-ra Guerra Europa.
Mundial. INÍCIO DAS HOSTILIDADES E ATAQUES AOS NOS-
SOS NAVIOS MERCANTES
A verdade é que não se equipam e treinam forças navais A Marinha Mercante brasileira somava 652.100 toneladas
sem verbas condizentes, que eram seguidamente preteridas brutas de [arqueação] no início da guerra. Mesmo peque-na e
pelo governo Getúlio Vargas. composta de navios antiquados, se comparada com as grandes
As grandes preocupações do nosso Estado-Maior da potências de então, ela exercia papel fundamental na economia
Armada eram a defesa de nossa enorme e desprotegida nacional, não só no transporte das exportações brasileiras, mas
costa marítima e, essencialmente, a proteção das linhas de também na navegação de cabotagem, que mantinha o fluxo
comunicação, vitais para a conservação de nossas artérias co- comercial entre as economias regio-nais, isoladas pela deficiência
merciais com o exterior e para a manutenção das linhas de das nossas redes rodoviárias e ferroviárias.
.
cabotagem Devemos observar que no ano de 1940 esse tipo
de transporte era fundamental, pois não existia uma única co-
municação terrestre entre Belém e São Luís, entre Fortaleza
e Natal e entre Salvador e Vitória.

34
HISTÓRIA NAVAL
No decorrer da guerra, foram perdidos, por ação de sub- Em 28 de janeiro de 1942, o Brasil rompeu relações diplo-
marinos alemães e italianos, 33 navios mercantes, que soma-ram máticas com os países que compunham o Eixo. A colabo-ração
cerca de 140 mil toneladas de arqueação (21% do total), com a militar entre o Brasil e os Estados Unidos, que desde meados de
morte de 480 tripulantes e 502 passageiros. 1941 já era notória, intensificou-se com a assinatura de um acordo
político-militar, em 23 de maio de 1942.
Os primeiros ataques à nossa Marinha Mercante ocor-reram
quando o Brasil ainda se mantinha neutro no conflito europeu. Em Nesse período deslocava-se para o saliente nordestino
22 de março de 1941, no Mar Mediterrâneo, o navio mercante brasileiro a Força-Tarefa 3 da Marinha norte-americana, tendo o
(NM) Taubaté foi metralhado pela Força Aérea alemã, tendo sido governo Vargas colocado os portos de Recife, Salvador e
avariado, apesar da pintura, em seu costado, da Bandeira posteriormente Natal à disposição das forças norte-america-nas.
Brasileira. Com a entrada dos Estados Unidos da América naquele
conflito, os submarinos alemães passaram a operar no Atlântico
ocidental, ameaçando todos os navios de bandeiras neutras que As atitudes cada vez mais claras de alinhamento do Brasil com
tentassem adentrar por-tos norte-americanos. os países aliados levaram o alto comando alemão a pla-nejar uma
A primeira perda brasileira foi o NM Cabedelo, que deixou o operação contra os principais portos brasileiros. Posteriormente,
porto de Filadélfia, nos Estados Unidos, com carga de carvão, no por ordem de Hitler, essa ofensiva submarina foi reduzida em
dia 14 de fevereiro de 1942. Ainda não existia o sistema de tamanho, mas não em intensidade, com o en-vio de dez submarinos
comboios nas Antilhas. O navio desapareceu rapidamente sem dar ao litoral, com ordens para atacar nossa navegação de [longo
sinais, podendo ter sido torpedeado por um submarino alemão ou curso] e de [cabotagem].
italiano.
Ele foi considerado perdido por ação do inimigo, uma vez que No cair da tarde de 15 de agosto de 1942, o submarino alemão
o tempo reinante era bom e claro. U-507, comandado pelo Capitão-de Corveta Harro Schacht,
torpedeou o paquete Baependi, que navegava ao largo da costa de
Seguiu-se o torpedeamento do NM Buarque, em 16 de Alagoas com destino ao Recife. O velho navio foi ao fundo,
fevereiro de 1942, pelo submarino alemão U-432, comanda-do levando 270 almas de um total de 306 tripu-lantes e passageiros
pelo Capitão-Tenente Heins-Otto Schultze, a 60 milhas do Cabo o
embarcados, inclusive parte da guarni-ção do 7 Grupo de
Hatteras, quando levava para os Estados Unidos 11 passageiros, Artilharia de Dorso do Exército brasileiro, que iria reforçar as
café, algodão, cacau e peles. O navio, do tipo misto, era do Lloyd defesas do saliente nordestino.
Brasileiro, tendo se salvado toda a tripula-ção de 73 homens.
Algumas horas depois, o U-507 encontrou o paquete
Araraquara, navegando [escoteiro] e inteiramente ilumina-do, e o
Em 18 de fevereiro de 1942, foi a vez do NM Olinda, torpe- afundou com dois torpedos, vitimando 131 das 142 pessoas a
deado pelo mesmo U-432, ao largo da Virgínia, Estados Uni-dos. bordo.
O submarino veio à superfície, mandando o mercante pa-rar, dando
ordem de abandonar o navio. Esperou que todos embarcassem nas Na madrugada do dia 16, foi a vez do paquete Aníbal Be-
baleeiras e, a tiros de canhão, pôs a pique o Olinda. A tripulação, névolo, também utilizado nas linhas de cabotagem.
de 46 homens, foi salva pelo [USS] Dallas.
No dia 17 de agosto, na altura do Farol do Morro de São Paulo,
Seguiram-se, em 1942, os torpedeamentos dos mer-cantes ao sul de Salvador, o U-507 torpedeou o paquete Ita-giba, que
o
o tinha, entre os seus 121 passageiros, o restante do 7 Grupo de
Arabutã, em 7 de março; Cairu, em 8 de março; Par-naíba, em 1 Artilharia de Dorso.
o Nesse mesmo dia, o NM Arará foi torpedeado quando
de maio; Gonçalves Dias, em 24 de maio; Alegre-te, em 1 de recolhia náufragos dos primeiros alvos do submarino germâ-nico.
junho; ocorridos ou na costa norte-americana ou no Mar das
Antilhas, área em que os submarinos alemães atuaram no início do
envolvimento dos Estados Unidos no conflito, quando ainda eram A última vítima do comandante Schacht foi a barcaça Ja-cira,
precárias as patrulhas anti-sub-marinas norte-americanas. pequena embarcação que foi posta a pique em 19 de agosto.
A única exceção nesse período foi o NM Comandante Lira,
torpedeado no litoral brasileiro, ao largo do Ceará, pelo submarino A ação de cinco dias do submarino alemão U-507 levou a
italiano Barbarigo. Foi o único navio a ser salvo, gra-ças ao pronto pique seis embarcações dedicadas às linhas de cabotagem,
auxílio dado pelo rebocador da Marinha bra-sileira Heitor vitimando 607 pessoas, chocando a opinião pública brasileira e
Perdigão e por alguns navios norte-americanos. levando o governo a declarar o estado de beligerância com a
O NM Barbacena e NM Piave, torpedeados pelo subma-rino Alemanha, em 22 daquele mês e, finalmente, o estado de guerra
alemão U-155 ao largo da Ilha de Trinidade, em 28 de julho de contra esse país, a Itália e o Japão, em 31 de agosto de 1942.
1942, foram as últimas perdas ocorridas por ação do inimigo
enquanto o Brasil ainda se mantinha formalmente como país
neutro.

35
HISTÓRIA NAVAL
Com comboios organizados ainda de maneira inci-piente, Ao rompermos relações diplomáticas com o Eixo, a Mari-nha
foram afundados os navios mercantes Osório e La-ges, em 27 de do Brasil desconhecia as novas táticas anti-submarino e estava,
setembro de 1942, seguindo-se o afunda-mento do pequeno NM consequentemente, desprovida do material flutuan-te e dos
Antonico, que navegava escoteiro ao largo da costa da Guiana equipamentos necessários para executá-las, como bem mostramos
Francesa. Esse ataque alemão ficou tragicamente gravado na anteriormente.
mente dos protagonistas, pois o U-516, com sua artilharia, Os progressos verificados nos entendimentos entre o Brasil e
metralhou os náufragos nas baleei-ras, após o pequeno navio ter os Estados Unidos, depois dos torpedeamentos dos primeiros
sido posto a pique, matando e ferindo muitos deles. Ainda em navios na costa Leste norte-americana e nas Antilhas, permitira
1942, foram perdidos os NM Porto Alegre e Apalóide. incluir na agenda das discussões o forneci-mento ao Brasil de
pequenas unidades de proteção ao tráfe-go e para o ataque a
submarinos.
A organização dos comboios nos portos nacionais, que Os primeiros navios recebidos pelo Brasil, depois da de-
reuniam navios mercantes da navegação de longo curso e de claração de guerra, foram os caça-submarinos da classe G
cabotagem, escoltados por navios de guerra brasileiros e norte- (Guaporé e Gurupi), entregues em Natal, em 24 de setembro de
americanos, e a intensa patrulha anti-submarino empreendida pelas 1942.
forças aeronavais aliadas, levaram a uma drástica diminuição nas
perdas dos navios de ban-deira brasileira, com oito Em seguida, foram incorporados à Marinha do Brasil, em
torpedeamentos, comparados aos 24 ocorridos ao longo do ano Miami, oito caça-submarinos da classe J (Javari, Jutaí, Juruá,
anterior. Juruena, Jaguarão, Jaguaribe, Jacuí, e Jundiaí).
A maioria dos navios mercantes brasileiros vitimados por No ano de 1943, foram entregues mais seis unidades da classe
submarinos alemães em 1943 navegava fora dos comboios. O NM G (Guaíba, Gurupá, Guajará, Goiana, Grajaú e Graúna).
Brasilóide navegava escoteiro quando foi torpedea-do, em 18 de Nos anos de 44/45, mais oito unidades foram entregues, dessa
fevereiro de 1943; já o NM Afonso Pena, inde-vidamente, vez os excelentes contratorpedeiros-de-escolta que já operavam
abandonou o comboio do qual fazia parte e foi afundado em 2 de em nossas águas (Bertioga, Beberibe, Bracuí, Bau-ru, Baependi,
março; o NM Tutóia foi atingido em 30 de junho, também viajando Benevente, Babitonga e Bocaina).
isolado. O NM Pelotaslóide, fretado ao governo norte-americano
para transporte de material bé-lico, foi afundado na entrada do Após o término da guerra na Europa, a Marinha recebeu dos
canal para o porto de Belém quando esperava o embarque do Estados Unidos, em 16 de julho de 1945, em Tampa, na Fló-rida,
prático, estando escoltado por três caça-submarinos da Marinha o navio-transporte de tropas Duque de Caxias.
brasileira. Quanto às construções navais aqui no Brasil, tivemos a
O NM Bagé compunha um comboio quando, na tarde de 31 incorporação de contratorpedeiros da classe M (Mariz e Bar-ros,
de julho, foi obrigado a seguir viagem isolado, pois suas máquinas Marcílio Dias e Greenhalgh) e das corvetas Matias de Al-
produziam fumaça em demasia, fazendo com que o comboio buquerque, Felipe Camarão, Henrique Dias, Fernando Vieira,
pudesse ser localizado por submarinos do Eixo a grandes Vidal de Negreiros e Barreto de Menezes.
distâncias, colocando em risco os outros navios com-boiados.
Naquela mesma noite foi torpedeado. Os dois últi-mos Declarada a guerra, foi desenvolvido trabalho intenso para
torpedeamentos de navios mercantes brasileiros foram o Itapagé, adaptar nossos antigos navios, dentro de suas possibi-lidades, para
em 26 de setembro, e o Campos, em 23 de outubro de 1943, ambos a campanha anti-submarino.
navegando escoteiros. Os aperfeiçoamentos impetrados em nossa Força Na-val
vieram aumentar em muito nossa capacidade de reagir de forma
A LEI DE EMPRÉSTIMO E ARRENDAMENTO E MO- adequada aos novos desafios que se afiguravam. Seria injusto não
DERNIZAÇÕES DE NOSSOS MEIOS DE DEFESA ATIVA DA mencionar que o auxílio norte-americano foi vital para que
COSTA BRASILEIRA pudéssemos nos contrapor aos submarinos alemães.

A Lei de Empréstimo e Arrendamento – Lend Lease –, com


os Estados Unidos da América permitia, sem ope-rações Além disso, algumas providências de caráter adminis-trativo,
financeiras imediatas, o fornecimento dos materiais necessários ao de treinamento e modificações materiais foram se tornando
esforço de guerra dos países aliados. Ela foi assinada em 11 de necessárias.
março de 1941.
Como primeira medida de caráter orgânico, foram insta-lados
o o
Em acordo firmado em 1 de outubro de 1941, o Brasil os Comandos Navais, criados pelo Decreto n 10.359, de 31 de
obteve, nos termos dessa lei, crédito de 200 milhões de dó-lares, agosto de 1942, com o propósito de prover defesa mais eficaz da
dos quais, por ordem do presidente da República, couberam ao nossa fronteira marítima, orientando e con-trolando as operações
Exército 100 milhões e à Marinha e à Força Aérea, 50 milhões em águas a ela adjacentes, não só as relativas à navegação
cada. Da cota destinada à Marinha, um total de 2 milhões de comercial, como às de guerra pro-priamente ditas e de assuntos
dólares foi despendido com o armamento dos navios mercantes. correlatos. A área de cada Comando abrangia determinado setor de
nossas costas marítimas e fluviais.

36
HISTÓRIA NAVAL
O Chefe do Estado-Maior da Armada entrou em enten- As minas encontradas à deriva eram destruídas pelos na-vios
dimento com seus colegas do Exército e da Aeronáutica para de patrulha com tiros de canhão. O Terceiro Grupamento Móvel
organizar um serviço conjunto de vigilância e defesa da de Artilharia de Costa e o Segundo Grupo do Terceiro Regimento
costa, tendente a prevenir a possibilidade de aproximação e de Artilharia Antiaérea do Exército coordenavam-se com os
desembarque inimigos. elementos da Marinha, o que permitia uma cobertu-ra completa da
costa.
DEFESA ATIVA Salvador – A defesa principal do porto cabia ao encou-raçado
Minas Gerais, com sua artilharia controlada em con-junto com as
Na História, há numerosos exemplos de navios corsários baterias do Exército, situadas na Ponta de Santo Antônio e na Ilha
surgirem de surpresa diante de um porto para danificarem suas de Itaparica. Em abril de 1943, os monitores Parnaíba e
16 Paraguaçu foram movimentados de Mato Grosso para Salvador,
instalações ou amedrontarem suas populações . Do ponto de
vista militar, os efeitos dessas incursões são reduzi-dos, sendo a por solicitação do comandante naval do Leste. Depois de sofrerem
ação, na maioria das vezes, executada para desor-ganizar a vida da algumas modificações no Rio de Janeiro (em especial no
localidade e obter efeitos morais. armamento), ficaram em condições de operar na Baía de Todos os
Com o advento do submarino, o perigo tornou-se maior, com Santos.
a possibilidade de torpedeamento de navios surtos nos portos. Por [Aparelhos de radiogoniometria] de alta frequência [cruzavam
esses motivos, foi organizada a defesa ati-va, atuando em pontos as marcações] com equipamentos semelhantes no Recife, a fim de
focais da costa, com a finalidade de repelir qualquer ataque aéreo
localizar submarinos.
ou naval inimigo, por meio de ações coordenadas da Marinha de
Guerra, do Exército e da Aeronáutica. Foram essas as seguintes Natal – Os serviços de proteção do porto estavam a cargo do
medidas de defesa ativa adotadas: Comando da Base Naval de Natal. Também eram acionadas
unidades do Exército (que mantinham baterias na barra) e da Força
Rio de Janeiro – Instalação de rede de aço protetora no Aérea Brasileira.
alinhamento Boa Viagem–Villegagnon e coordenação do serviço
de defesa do porto com as fortalezas da barra. A rede era Vitória – A proteção do porto ficou entregue ao Exército,
fiscalizada por lanchas velozes, e a sua entrada, aberta e fechada havendo a Marinha cedido alguns canhões navais de 120 mm para
por rebocadores. O patrulhamento interno cabia aos navios da artilhar a barra. Ilhas oceânicas – Na Ilha da Trindade foi
chamada flotilha João das Bottas (constituída de navios mineiros estacionado um destacamento de fuzileiros navais, em 20 de março
de instrução), rememorando a flotilha de pequenas embarcações de 1942, levado pelo navio-transporte José Bo-nifácio.
comandada pelo Segundo-Tenente João Francisco de Oliveira
Bottas, que fustigou os portugueses encastelados em Salvador e na A defesa do Arquipélago de Fernando de Noronha, situado em
Baía de Todos os Santos, na Guerra da Independência. ponto focal da [cintura estreita do Atlântico], ficou entregue ao
Exército, que a artilhou fortemente, levando contingentes em
comboios escoltados por navios da Ma-rinha. A ocupação se deu
Externamente, ou onde fosse necessário, atuavam os an-tigos logo depois que o Brasil rompeu relações diplomáticas com o Eixo,
contratorpedeiros classe Pará, oriundos do programa de sendo o primeiro grupo de militares transportado, junto com
reaparelhamento naval desde 1906, recebidos em 1910, com mais material de guerra, em um comboio, em 15 de abril de 1942.
de 30 anos de intensa operação. A responsabilidade da defesa ficou
afeta ao Comando da Defesa Flutuante, subordi-nado ao Comando
Naval do Centro. Santos – Os rebocadores São Paulo (eram dois com o mesmo
nome, sendo um chamado de iate) foram artilha-dos; outras
Em junho de 1944, afastado o perigo de um ataque de
embarcações menores requisitadas faziam ser-viço de vigilância.
submarinos aos navios surtos no porto, suspendeu-se a patru-lha
externa feita pelos veteranos contratorpedeiros, sendo mantida
apenas a vigilância interna, a cargo de um rebocador portuário. Rio Grande – Foi artilhado o rebocador Antonio Azam-buja.
Um especialista norte-americano, o Tenente Jacowski,
estabeleceu planos para a utilização de boias de escuta subma-rina,
a ser adotados de acordo com as necessidades. Em julho de 1943, Como reforço às defesas locais, foram criadas Compa-nhias
teve início o serviço de varredura de minas do canal da barra, Regionais do Corpo de Fuzileiros Navais em Belém, Natal, Recife
realizado pelo USS Flincker, substituído mais tarde pelo USS e Salvador.
Linnet. Observamos aí mais uma vez o auxílio direto dos norte-
americanos ao nosso plano de defesa local. Ao se lembrar da participação da Marinha na Segunda Guerra
Recife – O encouraçado São Paulo, [amarrado] no interior do Mundial, a primeira imagem que surge é a conhecida Força Naval
arrecife, provia a defesa da artilharia e supervisionava a rede do Nordeste. Como eram afinal sua composição e suas tarefas?
antitorpédica. A varredura de minas era feita por navios mineiros-
varredores norte-americanos. Estava estacionado
no Recife um grupo de especialistas em desativação de mi-nas, as
quais, por vezes, chegavam à costa, sendo estudadas
cuidadosamente antes de serem destruídas.

37
HISTÓRIA NAVAL
A FORÇA NAVAL DO NORDESTE Quarenta e oito horas após o torpedeamento do Vital de
Oliveira, a cerca de 12 milhas a nordeste da barra do Recife, perdeu
A missão da Marinha do Brasil, na Segunda Guerra Mun-dial, nossa Marinha a corveta Camaquã, afundada devido a violento
foi patrulhar o Atlântico Sul e proteger os comboios de navios mar. Discute-se até hoje os motivos que levaram esse navio a seu
mercantes, que trafegavam entre o Mar do Caribe e o nosso litoral afundamento. O comandante Antônio Bas-tos Bernardes,
Sul, contra a ação dos submarinos e dos navios corsários sobrevivente do sinistro, afirmou, alguns anos após esse acidente,
germânicos e italianos. Luta constante, silenciosa e pouco que o emborcamento se deu por “fortu-na do mar”. Seja como for,
conhecida pelos brasileiros. pereceram nessa oportunidade 33 pessoas.
A capacidade de combate da Marinha do Brasil, no alvo-recer
do conflito, era modesta se comparada com as grandes esquadras Por fim, o pior desastre enfrentado pela Marinha durante a
em luta no Atlântico Norte e no Pacífico. O nosso pessoal e os Segunda Guerra Mundial foi a perda do cruzador Bah-ia, no dia 4
nossos meios não estavam preparados para se engajar com o de julho de 1945. Essa tragédia foi exacerbada pelo conhecimento
inimigo oculto sob o mar, que assolava o trans-porte marítimo em dos terríveis sofrimentos dos náufragos, abandonados no mar
nosso litoral. durante muitos dias, por incompreensí-vel falha de comunicações.
Ingressaríamos em uma guerra anti-submarino sem
equipamentos para detecção e sem armamento apropriado, porém Três infortúnios e cerca de 469 mortos, sem contar os cerca de
esse obstáculo não impediu que navios e tripulações patrulhassem 23 falecidos em outros navios e em navios mercantes afun-dados,
nossas águas, mesmo antes do envolvimento oficial do governo elevaram o total de perdas humanas a 492, mais que os mortos
brasileiro no conflito, apesar de todos os perigos. brasileiros em combate pela Força Expedicionária Brasileira.

Um ponto pouco discutido em nossa historiografia com-


o preende a atuação da Quarta Esquadra Norte-Americana,
A criação da Força Naval do Nordeste (FNNE), pelo Aviso n subordinada ao Vice-Almirante Jonas Ingram. Figura no-tável, de
1.661, de 5 de outubro de 1942, foi parte de rápido e inten-so grande afabilidade, e realmente um grande chefe naval, que teve o
processo de reorganização das nossas forças navais para adequar- mérito de congregar forças heterogêneas em um único comando
se à situação de conflito. Sob o comando do então Capitão-de-Mar-
e-Guerra Alfredo Carlos Soares Dutra, a re-cém criada força foi unificado, eficiente e coeso, auxiliado pelos Almirantes Oliver
inicialmente composta pelos seguintes navios: cruzadores Bahia e Read e Soares Dutra, comandantes das principais forças-tarefas.
Rio Grande do Sul, navios mineiros Carioca, Caravelas, Camaquã
e Cabedelo (posteriormente reclassificados como corvetas) e caça-
submarinos Guaporé Essa força norte-americana compreendeu, em seu maior
e Gurupi. efetivo, seis cruzadores, 33 contratorpedeiros, diversas es-
Ela seria posteriormente acrescida do tênder Bel-monte, de quadrilhas de patrulha, bombardeiros e dirigíveis, além de caça-
caça-submarinos, contratorpedeiros-de-escolta, contratorpedeiros submarinos, patrulheiros, tênderes, varredores, auxilia-res e
classe M, submarinos classe T, constituin-do-se na Força-Tarefa rebocadores.
46 da Força do Atlântico Sul, reunindo a nossa Marinha sob o
a Um dos principais pontos desse relacionamento Brasil– EUA
comando operacional da 4 Esquadra Americana. foi a integração operacional entre as duas Marinhas. Fo-ram
aperfeiçoados procedimentos comuns e táticas eficazes na luta
A atuação conjunta com os norte-americanos trouxe novos anti-submarino.
meios navais e armamentos adequados à guerra an-ti-submarino,
bem como proporcionou treinamento para o nosso pessoal. Em 7 de novembro de 1945, concluída a sua missão, a FNNE
regressou ao Rio de Janeiro em seu último cruzeiro. A curta, árdua
O combate, porém, custou-nos muitas vidas. As perdas e intensa vida operativa da FNNE contribuiu para a livre circulação
brasileiras na guerra marítima somaram 30 navios mercantes e três nas linhas de navegação do Atlântico Sul e, certamente, em muito
navios de guerra, tendo a Marinha do Brasil perdido 486 homens. somou para o esforço de guerra aliado.
Nesse ponto seria interessante descrever em maiores detalhes as
perdas de nossas unidades de combate durante a Batalha do E O QUE FICOU?
Atlântico. Não se pode analisar a participação da Marinha de Guerra
brasileira na Segunda Guerra Mundial sem apontar alguns dados
A primeira perda da Marinha de Guerra foi a do navio-au- que delimitam todo o seu esforço para manter nossas linhas de
xiliar Vital de Oliveira, torpedeado por submarino alemão nas comunicação abertas.
proximidades do Farol de São Tomé, no dia 19 de julho de 1944.
Às 23h55min, foi sentida forte explosão na popa, abrindo grande Foram comboiados cerca de 3.164 navios, sendo 1.577
rombo, por onde começou a entrar água em enor-mes proporções. brasileiros e 1.041 norte-americanos, em 254 comboios. Con-
Segundo algumas testemunhas, o afun-damento do navio deu-se siderando esse número de navios e as perdas em comboios,
em apenas três minutos. A maior parte dos sobreviventes foi chegamos à conclusão de que cerca de 99,01% dos navios pro-
resgatada no dia seguinte por um barco pesqueiro e por outros dois tegidos atingiram os seus destinos.
navios da Marinha, o Javari e o Mariz e Barros. Morreram nesse
ataque 99 militares.

38
HISTÓRIA NAVAL
Foram percorridos pelos escoltas, sem contar os zigue-zagues E, por fim, a guerra no mar mostrou que, no caso do Bra-sil,
realizados para dificultar a detecção submarina e o tiro torpédico, em uma conflagração generalizada, as nossas linhas de
um total de 600 mil milhas náuticas, ou seja, trinta voltas em redor comunicação serão os alvos prioritários. Assim aconteceu em 1917
da Terra pelo Equador. e 1942. Somos ainda dependentes do comércio maríti-mo. Não
podemos estar despreparados mais uma vez.
A Esquadra americana comboiou no Atlântico 16 mil na-vios,
o que corresponde a 16 mercantes por navio de guerra. A Marinha
do Brasil comboiou 3 mil navios, o que correspon-de a 50 O EMPREGO PERMANETE DO PODER
mercantes por navio de guerra brasileiro. NAVAL: O PODER NAVAL NA GUERRA E NA
Foram atacados 32 navios brasileiros, com um total de 972 PAZ : CLASSIFICAÇÃO ; A PERCEPÇÃO DO
mortos ou desaparecidos na Marinha Mercante. Em navios, foram PODER NAVAL; O EMPREGO
perdidos 21,47% da frota nacional. PERMANENTE DO PODER NAVAL.

A Marinha de Guerra perdeu três navios e teve 492 mortos. O


navio de guerra que mais tempo passou no mar foi o
caçasubmarinos Guaporé, num total de 427 dias de mar, em O PODER NAVAL NA GUERRA E NA PAZ
pouco mais de três anos, o que perfez uma média anual de 142 dias
de mar. Sem o Poder Naval não haveria este Brasil que herdamos de
O navio que participou do maior número de comboios foi a nossos antepassados. Conforme se verifica neste livro, o Poder
corveta Caravelas, com 77 participações. Naval português, por algum tempo o luso-espa-nhol, e, mais tarde,
após a Independência, o brasileiro, foram empregados com a
Com todos esses dados, o que efetivamente significou para a violência necessária nos conflitos e nas guerras que ocorreram no
Marinha de Guerra a sua participação no último conflito mundial? passado. Toda vez que alguém uti-lizou a força para impor seus
A primeira conclusão foi que adquirimos maior capacida-de próprios interesses, encontrou a oposição de um Poder Naval que
para controlar áreas marítimas e maior poder dissuasório. No defendeu com eficácia o ter-ritório e os interesses que
entanto, deve ser admitido que tal situação foi fruto do auxílio possibilitaram a formação do Brasil.
norte-americano. Se estivéssemos sozinhos nessa empreitada,
poderíamos ficar em situação muito delicada, principalmente na Cabe observar que, em geral, o que qualquer nação mais
manutenção segura de nossas linhas de co-mércio marítimo. deseja é a paz. Mesmo os países que promoveram as guerras do
passado queriam alcançar a paz. A paz, porém, da forma que
A segunda conclusão aponta para uma mudança de men- desejavam, impondo aos outros o que lhes convinha.
talidade na Marinha, com a assimilação de novas técnicas de
combate e a incorporação de meios modernos para as forças A Alemanha mandou seus submarinos afundarem os navios
navais. Essa mudança de mentalidade fez a Marinha tornar-se bem mercantes brasileiros porque não queria que o Brasil, apesar de ser
mais profissional. ainda um país neutro na Segunda Guerra Mundial, continuasse a
fornecer matérias-primas para seus inimigos. Algumas dessas
A terceira foi a oportunidade de a Marinha “sentir o odor do matérias-primas eram mui-to importantes para o esforço de guerra
combate”, participar de ações de guerra e adquirir ex-periências da deles. O interesse do Brasil era continuar comerciando com quem
refrega, das adversidades, do medo e da dor com a perda de navios desejasse e transportando as mercadorias livremente em seus
e companheiros. Essa experiência de guerra foi fundamental para navios, mas isso não era bom para os alemães, que precisavam
forjar os futuros almirantes, ofi-ciais e praças com a vida dura da vencer a guerra para alcançar a paz da forma que desejavam, o
guerra antisubmarino e com a monotonia e o estresse dos mais brevemente possível. Na paz que a Alemanha queria, suas
comboios. conquistas territoriais deveriam ser reconhecidas pelos ou-tros
países e sua expansão, julgada por ela importante para o futuro dos
A quarta conclusão foi a percepção de que a logística ocupa alemães, imposta aos povos vencidos.
um lugar de suma importância na manutenção de uma força
combatente operando eficientemente. Esse tipo de percepção A guerra resulta de conflitos de interesses. Ela ocorre porque
refletiu-se na construção da Base Naval de Natal e outros pontos não há um árbitro supremo para resolver comple-tamente as
de apoio logístico no nosso litoral. Nisso os EUA foram os grandes questões entre os países. Existem organizações internacionais,
mestres. como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização
dos Estados Americanos (OEA), por exemplo, que muito ajudam
A quinta foi a nossa aproximação franca com os EUA. Essa a evitar a violência e manter essas questões no campo da
associação nos alinhou diretamente com as doutrinas norte- diplomacia. Verifica-se, no entanto, que o poder delas é limitado,
americanas e com uma ênfase exacerbada na guerra anti- porque as nações são ciosas de sua soberania. Cada país precisa se
submarino. Essa percepção só foi mudada a partir da denúncia do precaver, cuidando da defesa de seus interesses, para que os outros
Acordo Militar com esse país em 1977, quando optamos por uma nunca pensem em empregar meios violentos para resolver os
tecnologia relativamente [autóctone]. conflitos.

39
HISTÓRIA NAVAL
Não seria lógico pensar que alguém possa empregar a O sentido indireto da palavra persuasão é sig-nificativo, pois
violência, sem imaginar ter probabilidade de bom êxito, sofrendo é por meio da reação dos outros que ela se manifesta. Então, é
apenas perdas aceitáveis. Cabe ao Poder Militar de um país – do essencial que eles percebam o emprego das forças navais,
qual o Poder Naval é também um dos com-ponentes – criar modificando seu ambiente político e, consequentemente, afetando
permanentemente uma situação em que seja inaceitável, para os suas decisões, por se sentir apoiados, dissuadidos ou mesmo
outros, respaldar seus interesses conflitantes com o emprego de compelidos a uma reação específica. Exerce-se, portanto, a
força. Nosso Poder Militar deve permanentemente dissuadir os persuasão armada, estimu-lando resultados que dependem de
outros países de usar a violência e é, consequentemente, o guardião reações alheias, políticas ou táticas, às vezes conflitantes e em
da paz – da-quela paz que nos interessa, evidentemente. princípio imprevisíveis. Existe sempre a possibilidade de se
configurarem situações inesperadas, até pelo resultado, não
No caso do Brasil, por exemplo, na paz que desejamos, a intencional, da exci-tação de terceiros. Daí a importância da
Amazônia é território nacional; o comércio internacional deve ser permanente avalia-ção em qualquer ação de emprego político do
livre, assim como o uso do transporte marítimo, nas rotas de nosso Poder Naval.
interesse; a maior parte do petróleo continua sendo extraída do
fundo do mar, sem ingerências de outros países; a enorme área No passado, muitas vezes, as nações detentoras de Po-der
compreendida pela Zona Econômica Exclusiva e a Plataforma Naval utilizaram seus navios de guerra e suas forças navais com o
Continental brasileira, chamada de Amazônia Azul, é controlada propósito de sustentação ou de dissuasão. A simples existência de
pelo País, entre outras coisas. A dissuasão é, portanto, uma das um Poder Naval preparado para a guerra pode fazer que aliados se
principais formas de em-prego permanente do Poder Militar em sintam apoiados em suas decisões políti-cas, nas relações
tempo de paz, mas existem outras, como veremos adiante. internacionais, e inimigos sejam dissuadidos de suas intenções
agressivas.
Na paz, ou no que se denomina paz no mundo, o con-fronto A PERCEPÇÃO DO PODER NAVAL
entre os países, resultante de conflitos de interesses, ocorre
evitando, ao máximo, o uso da violência, porém, disputando Como toda percepção, a do Poder Naval depende das
politicamente, economicamente e em todas as outras capacidades que são visíveis ao observador. Esse observador está
manifestações da potencialidade nacional. Nesse contexto, o embebido num contexto político, doméstico, regional e
potencial ofensivo intrínseco dos instrumentos do Poder Militar internacional, que não apenas molda suas reações, como também
faz com que seu emprego, mesmo indireto, possa excitar reações influi na própria percepção.
em países observadores. Tais reações podem simplesmente Enquanto numa guerra preponderam as qualidades reais dos
resultar de excitação acidental, ou refletir resultados meios empregados, que decidem os resultados das ações militares,
intencionalmente desejados por quem exerce esse emprego em situação de paz ou de conflitos de natureza limitada, as ameaças
indireto do Poder Militar, chamado de persuasão armada. são medidas em termos de previsões e comparações. Essas
previsões se baseiam nos dados quanti-tativos e qualitativos ao
Como a paz é relativa, a persuasão armada não exclui o uso da alcance do observador, de sua capa cidade de perceber.
força, de maneira limitada, desde que entendido como simbólico Os países desenvolvidos têm, em geral, maior capa-cidade
pelo país agredido. As grandes potências internacionais, como os para avaliar as verdadeiras ameaças resultantes do Poder Militar,
Estados Unidos da América, a Rússia e outros, utilizam inclusive do Poder Naval, que é um de seus componentes. Sabem
permanentemente seus poderes militares. utilizar seus meios de comunicação para divulgar notícias que
Dos componentes do Poder Militar, o Poder Naval pode ser valorizam a capacidade de seus armamentos. O mesmo não ocorre
empregado para exercer persuasão armada, em tempo de paz, no com países em desen-volvimento, que podem até ter sua percepção
que se denominou, na década de 1970, de “empre-go político do bastante influenciada por essas notícias, tendo em vista suas
Poder Naval”. Ele pode ser empregado em condições inigualáveis próprias limitações de análise. Consequentemente, as avaliações
com outros poderes militares, graças a seus atributos de: das forças navais podem levar a conclusões bastante distorcidas
[mobilidade, versatilidade de tarefas, flexibilidade tática, em relação à capacidade real em combate, mas, em tempo de paz,
autonomia, capacidade de projeção de poder e alcance geográfico]. são essas avaliações subjetivas que importam e que produzem
Concorre para isso o conceito de liberdade dos mares, que resultados.
possibilita aos navios de guerra se deslocar livremente em águas
internacionais, atingindo locais distantes e lá permanecendo, sem
maiores comprome-timentos, em tempo de paz. São “invisíveis” aos leigos em guerra naval, por exemplo, a
complexidade sistêmica dos navios modernos, necessá-rias às
Antes da invasão do Afeganistão, em outubro de 2001, por respostas rápidas e eficazes, quando em combate. Por outro lado,
exemplo, os americanos deslocaram para águas inter-nacionais, são “visíveis” os mísseis, os canhões, o porte e o aspecto externo
próximas do local do conflito, uma poderosa força naval. Influíam do navio. Na realidade, é importante que o navio tenha suficiente
assim nos países da região, sinalizando apoio aos aliados, flexibilidade para possibilitar seu em-prego político, mas a função
dissuadindo as ações dos que lhes eram hostis e favorecendo o política de tempo de paz não deve levar à preparação de um Poder
apoio dos indecisos; em suma, criando uma quantidade de reações Naval apenas aparente.
intencionais.

40
HISTÓRIA NAVAL
O prestígio de uma Marinha sempre foi um dos atribu-tos mais Para os países mais pobres, o armamento moderno pos-sibilita
importantes para a percepção do Poder Naval. O prestígio está condições excepcionais, em relação ao passado. O conflito das
principalmente baseado nas capacidades “vi-síveis” e pode levar à Falklands/Malvinas, em 1982, apesar do des-fecho desfavorável à
necessidade de demonstrar permanen-te superioridade, como fazia Argentina, é um exemplo que não pode deixar de ser citado, porque
a Marinha Real da Grã-Bretanha, durante a época em que poderia, até, ter outro resultado, se houvesse submarinos
dominava os mares, para manter o seu prestígio. argentinos eficazes e suficientes.

O cruzador russo Askold, por exemplo, era o único navio de As táticas para persuasão naval são as diversas formas de
cinco chaminés do mundo e, em 1902, visitou o Gol-fo Pérsico. emprego das forças navais para alcançar resultados políticos, em
Sua visita causou profunda impressão, devido à percepção de tempo de paz. Elas são:
potência mecânica que o número de chaminés transmitia.
Imediatamente, os britânicos desviaram o cruza-dor HMS • demonstração permanente do Poder Naval;
Amphritite para Mascate (capital de Omã). Para eles, a disputa de
prestígio com a Rússia, nessa época, no Orien-te, era importante. • posicionamentos operativos específicos;
Seu comandante providenciou mais duas chaminés de lona para
seu navio, totalizando seis e restau-rando o prestígio local da • auxílio naval;
Marinha Real.
• visitas operativas a portos;
É interessante observar que, atualmente, os mísseis ar–
superfície e superfície–superfície colocaram países relativa-mente • visitas específicas de boa vontade.
fracos em condições de causar danos consideráveis a uma força
naval próxima a suas costas. Tal fato, porém, não impede que uma A demonstração permanente do Poder Naval é feita, por meio
força naval pos sa exercer persuasão, porque não é sua capacidade de ações como deslocamentos e manobras com forças, inclusive
absoluta que importa, mas sim o que ela significa como estrangeiras; participação em missões de paz da Organização das
representante do Poder Naval e da vontade de seu país de alcançar Nações Unidas; reforços e reduções de nível de forças; aumento
o objetivo, suportando as perdas pro-váveis, se tal for assim ou redução da prontificação para combate entre outras – obtenção
percebido. de efeitos desejados, como: aumentar a intensidade da persuasão;
desencorajar; demonstrar preocupação em crises entre terceiros;
Na crise dos mísseis que a União Soviética pretendia instalar exercer coerção ou apoio de maneira limitada ou restrita e outros.
em Cuba, em 1962, a Marinha dos Estados Unidos mostrou
determinação suficiente para que os soviéticos decidissem que os Os posicionamentos operativos específicos, situando navios
navios que transportavam os mísseis de-veriam regressar. Foi, ou forças navais próximo a um local de crise, constituem apenas
portanto, uma ação de coerção deter-rente do emprego político do um caso especial da demonstração permanente do Poder Naval e
Poder Naval americano, pois modificou uma ação que já estava em as ações podem ser semelhantes.
andamento, em face de terem percebido que os americanos
estavam dispostos a usar a força para não ter seu território ao O auxílio naval inclui a instalação de missões navais, o for-
alcance dos mísseis em Cuba. necimento de navios e o apoio de manutenção.
As visitas a portos estrangeiros, para reabastecimento,
descanso das tripulações, ou mesmo ações específicas de boa
Considerando o conflito pela posse das Ilhas Falklands/ Malvi vontade, no que se denomina “mostrar a bandeira”, podem
nas, em 1982, os argentinos deixaram de ser dissuadi-dos pelo transmitir a imagem do prestígio da Marinha, au-mentando a
Poder Naval britânico e invadiram as ilhas, porque julgaram que o influência e acumulando vantagens psicosso-ciais sobre o país
valor daquelas ilhas não compensava o es-forço de projetar o poder visitado.
da Marinha da Grã-Bretanha àque-la distância no Atlântico Sul,
em face das perdas humanas e materiais que provavelmente teria. O Poder Naval brasileiro é empregado em tempo de paz de
Por seu turno, a ocupação militar das ilhas falhou, porque o diversas maneiras, podendo-se destacar:
governo britânico levou a questão ao ponto de defesa da honra do – as operações com Marinhas aliadas, como: a Operação
Reino Unido. Unitas, com a Marinha dos Estados Unidos e de países sul-a-
mericanos; a Operação Fraterno, com a Armada da República
O EMPREGO PERMANENTE DO PODER NAVAL Argentina, e muitas outras;
– a participação em diversas missões de paz, trans-
A teoria do emprego político do Poder Naval mostra a portando as tropas ou enviando seus fuzileiros navais, como
possibilidade do uso permanente das forças navais em tempo de em São Domingos, Angola, Moçambique, Nicarágua e Haiti;
paz, em apoio aos interesses de uma nação. Isso é verda-de tanto
para os países desenvolvidos quanto para aqueles em – as viagens de instrução do navio-escola e as visitas a portos
desenvolvimento, e a intensidade e os tipos de emprego são apenas estrangeiros, “mostrando a bandeira”.
funções do ambiente regional onde se situam e das
vulnerabilidades que possuem.

41
HISTÓRIA NAVAL
Cabe também ressaltar o apoio que a Marinha do Brasil presta tivos para o preparo e o emprego de todas as esferas do Poder
a outras Marinhas aliadas, na América do Sul e no con-tinente Nacional relacionados com a defesa e, também, orienta o pla-
africano. nejamento estratégico de longo prazo das Forças Armadas. A
publicação afirma, ainda, que o Brasil não pode prescindir de
A análise do passado demonstra a necessidade do emprego Forças Armadas, pois tem enorme patrimônio a zelar. Define as
permanente do Poder Naval. Para o Brasil, é muito importante duas áreas estratégicas prioritárias para o Brasil: Atlântico Sul e
manter um Poder Naval capaz de inibir interesses antagônicos e de Bacia Amazônica.
conservar a paz como desejada pelos brasi-leiros.
ATUAÇÃO EM SITUAÇÃO DE CRISE OU CONFLI-
A MARINHA NA HISTÓRIA TO ARMADO
DO BRASIL EM TEMPOS DE PAZ
Considerando a destinação constitucional, as áreas es-
ASPECTOS LEGAIS tratégicas prioritárias, os interesses do País no cenário in-
Atualmente, a Constituição Federal dispõe, no artigo 142, que ternacional e as vulnerabilidades da nossa economia, foram
as Forças Armadas destinam-se à defesa da Pátria, estabelecidas as áreas de atuação e as possibilidades de em-prego
à garantia dos poderes constitucionais e da lei e da ordem. da Marinha do Brasil, em situação de crise ou conflito armado:
Podemos afirmar, então, que essa destinação tem duas com-
ponentes:
• Atlântico Sul;
• a primeira refere-se à defesa da pátria, defesa externa, • Bacia Amazônica;
relacionada à soberania, à independência e ao patrimônio • Bacia do Paraguai–Paraná:
nacionais; • Operações de Paz e Humanitárias;
• Operações em coalizões com países amigos;
• a segunda refere-se à atuação interna no País, relacio-nada • Salvaguarda de cidadãos ou do patrimônio brasileiros no
à garantia dos poderes constitucionais e à garantia da lei e da exterior.
ordem.
Certamente as duas primeiras são prioritárias em relação às
A defesa da pátria é a componente principal e essencial da demais. Para a Marinha, o emprego principal é no Atlântico Sul e,
destinação constitucional das Forças Armadas brasileiras, sendo a entre as duas Bacias, a prioridade é para a Amazônica.
atividade-fim para a Marinha do Brasil. Em decorrên-cia, a missão
da Força é “Preparar e aplicar o Poder Naval, a fim de contribuir No Atlântico Sul, o conceito de emprego do Poder Naval será
para a defesa da Pátria”. no sentido de impedir que as forças navais do possível inimigo
alcancem as proximidades do território nacional.
Lei Complementar definiu que a atuação na área interna
somente se dará após esgotados os instrumentos da Segu-rança Atualmente, estão presentes nas relações internacionais novas
Pública e quando expressamente decidido pelo Presi-dente da questões como os atores não estatais, as novas amea-ças, o
República. Portanto, esse emprego será episódico, temporário e de terrorismo internacional, o nacionalismo radical, os deli-tos
curta duração. transnacionais, entre outros, que também permeiam os arranjos de
segurança e defesa dos estados.
ASPECTOS ESTRATÉGICOS
ATIVIDADES PERMANENTES EM TEMPO DE PAZ
Apesar de vivermos em paz com nossos vizinhos há mais de
130 anos, não estamos livres de ameaças externas, hoje mais Em período de paz, a tarefa da Marinha do Brasil é de grande
presentes as oriundas de atores não-estatais, apesar de não estarem relevância, com a obrigação de:
descartadas as originárias de outros países. A história da • patrulhar cerca de 40 mil km de rios navegáveis, de nove
civilização demonstra que qualquer nação que deseje ser soberana diferentes bacias hidrográficas, que, por não estarem inter-ligadas,
no cenário internacional deve dispor de Poder Militar adequado e exigem inúmeros navios e embarcações de diversos tipos;
confiável, ajustado às dimensões territoriais, populacionais, • fiscalizar e inspecionar os navios que chegam aos nos-sos
políticas, estratégicas e econômi-cas do país. A Marinha tem 80 portos ou terminais hidroviários e marítimos e os que deles
grandes áreas estratégicas a proteger e um enorme patrimônio saem;
econômico a zelar, sejam terrestres, fluviais ou marítimos. • proteger cerca de 100 plataformas de exploração de petróleo
O principal documento de planejamento estratégico de defesa situadas na Amazônia Azul, particularmente na Ba-cia de Campos,
do Brasil é a Política de Defesa Nacional. Não é uma publicação de onde se extrai 90% do petróleo produzido no Brasil;
de uso exclusivo da área militar: deve ser do conhecimento de toda • prover o socorro (emergência) às pessoas acidentadas no
a sociedade, podendo ser aces-sada na internet pelo site: mar e nos rios, operando o Serviço de Busca e Salvamento
https://www. defesa.gov.br/pdn/ index.php. A edição em vigor é (Salvamar) – atividade conhecida mundialmente pela sigla
de junho de 2005, tendo sido aprovada pelo Presidente da SAR (Search and Rescue);
Republica. Ela estabelece obje-

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HISTÓRIA NAVAL
• acompanhar cerca de 750 navios, sendo 70 de bandei-ra Também, em apoio à política externa brasileira, a Ma-rinha do
brasileira, que trafegam diariamente de/para portos na-cionais em Brasil atua em ações internacionais que ratificam o compromisso
uma extensa área no Atlântico Sul (área SAR de responsabilidade do País em participar do concerto das Nações e dá clara
do Brasil), caracterizando a atividade denominada demonstração da capacidade de o Brasil atuar efi-cientemente,
internacionalmente como Controle Naval do Tráfego Marítimo; com suas Forças Armadas, o que contribui para a busca do efeito
de dissuasão, como comentado neste livro, fundamental para evitar
• autorizar a atividade de pesquisa e de exploração de conflitos armados.
recursos naturais por navios e embarcações estrangeiras na
Amazônia Azul; A Marinha do Brasil participou de Operações de Paz com
• executar ações preventivas e repressivas nos navios envio de militares para vários países, de diversas formas:
brasileiros ou estrangeiros, quando navegando na área SAR do observadores militares, em grupos isolados, verificando o
Brasil e submetidos a ataques terroristas, após decisão de cumprimento dos acordos de paz, com tropas de infantaria,
autoridade competente; unidades médicas, equipes de desminagem, pelotões de engenharia
• fiscalizar o cumprimento de leis e regulamentos, na e transporte de contingente brasileiro por navios, conforme dados
Amazônia Azul, exercendo a função de Autoridade Marítima; resumidos a seguir:
• executar a inspeção naval e a vistoria da qualificação do pes
soal de bordo, a fim de verificar o cumprimento de todos os a) observadores militares verificando o cumprimento dos
requisitos de segurança da navegação aquaviária; acordos de paz:
• cooperar com os órgãos de segurança pública, na re-pressão • El Salvador: Operação Onusal – julho de 1991 a abril de
aos crimes de repercussão nacional ou internacional, quando 1995;
ocorridos no mar e nas águas interiores; • Angola: Operações Unavem I e II e Monua – maio de 1989
• contribuir para a formulação e a condução de políti-cas a fevereiro de 1995 e de julho de 1997 a fevereiro de 1999;
nacionais que digam respeito ao mar, particularmente, nas áreas de • Ex-Iugoslávia: Operação Unprofor e Unpredep – agos-to de
pes ca, pesquisa científica no mar, mentalidade marítima e 1992 a dezembro de 1995;
modernização dos portos. • Moçambique: Operação Onumoz – janeiro 1993 a de-
• efetuar levantamentos hidrográficos, sinalização, ba- zembro de 1994;
lizamento e manutenção dos faróis no litoral e no mar brasi-leiros; • Libéria: Operação Unomil – setembro a novembro de 1993;
• prover a prevenção e a fiscalização ambiental de polui-ções
causa das por embarcações ou plataformas petrolíferas no mar • Ruanda: Operação Unomur – agosto de 1993 a setem-bro
brasileiro; de 1994;
• qualificar os profissionais aquaviários, levando Ensi-no • Croácia: Operação Unicro – maio de 1995 a janeiro de
Profissional Marítimo para aqueles que guarnecerão as 1996;
embarcações e os navios em todo o mar brasileiro e nas co- • Macedônia: Operação Unipredep – maio de 1995 a maio de
munidades ribeirinhas situadas nas nove bacias hidrográficas; 1996;
• regulamentar o serviço de praticagem e estabelecer as • Guatemala: Operação Minugua – fevereiro a maio de 1997;
zonas em que a utilização desse serviço seja obrigatória;
• conduzir o Programa Antártico Brasileiro, mantendo a • Eslavônia: Operação Untaes – janeiro de 1996 a janeiro de
Estação 1998;
Antártica Comandante Ferraz; • Prevlaka: Operação Unmpo – janeiro de 1996 a janeiro de
• cooperar com o desenvolvimento nacional, por meio de 1998;
projetos elaborados pelas organizações de pesquisa cien-tífica e de • Peru e Equador: Operação Momep, conflito entre os dois
desenvolvimento tecnológico; países, entre 1995 e 1999;
• cooperar com o Sistema Nacional de Defesa Civil, por meio • Timor Leste: Operação Unamet – julho de 1997 a julho de
de ações preventivas, de socorro, assistenciais e recu-perativas, 1999;
destinadas a evitar ou atenuar os efeitos causados por catástrofes • Libéria: Operação Unmil – outubro de 2003 a outubro de
naturais; 2004;
• prover assistência médica e odontológica às popula-ções • Costa do Marfim: Operação Onuci – dezembro de 2003 até
ribeirinhas na Bacia Amazônica e do Rio Paraguai, que não têm os dias de hoje.
acesso a esses serviços de outra forma;
• executar Assistência Cívico-Sociais nas comunidades b) equipes de desminagem, limpando campos minados
carentes, particularmente nas áreas ribeirinhas da Bacia Ama- terrestres:
zônica e do Rio Paraguai; • Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Guatemala: Opera-ção
Marminca – outubro de 1994 até setembro de 2006;
• participar de campanhas institucionais de utilidade pública • Equador e Peru: Operação Marminas – maio de 2003 até os
ou de interesse social, determinadas pelo governo federal. dias de hoje.

c) tropas de infantaria, engenharia e equipes médicas:


• República Dominicana: Operação FIP, entre 1965 e
1966, uma

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HISTÓRIA NAVAL
Companhia de Fuzileiros Navais;
• Angola: Operação Unavem III, de agosto de 1995 a julho
de
1997, com uma Companhia de Infantaria, um Pelotão de
Engenharia e um posto de saúde;
• Haiti: Operação Minustah, de 2004 até a presente data,
com uma Companhia de Infantaria.

d) navios transportando tropas e material do contingente


brasileiro:
• Faixa de Gaza: Operação Unef I, em 1957;
• República Dominicana: Operação FIP, em 1965;
• Angola: Operação Unavem III, em setembro de 1996;
• Haiti: Operação Minustah, três grupos de navios trans-
portando três diferentes contingentes: em junho e novembro de
2004 e em junho de 2006.

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