TOSTES, José A.: Arquiteto e Urbanista, Professor Associado III da Universidade Federal do
Amapá no curso de Arquitetura e Urbanismo, tostes.j@hotmail.com )
Resumo:
Marajó, estado do Pará. Segundo a estimativa do IBGE (2015), Macapá tem 456 171
habitantes, constituindo 59,50% do estado, sendo a maior cidade, bem como o
principal centro econômico, cultural e político.
Sendo a cidade mais atrativa, Macapá absorve todos os impactos urbanos e
ambientais, fato que é percebido com a ocupação das áreas úmidas (rios, canais,
igarapés e áreas de ressacas) que desempenham papel primordial no controle do
microclima e das bacias de acumulação de águas naturais, são áreas descritas no
Plano Diretor como patrimônio natural e paisagístico da cidade. Com o crescimento
populacional das últimas décadas, impulsionadas pela forte migração e escassez de
políticas públicas urbanas, tais áreas foram alvo de invasões e ocupações de forma
ilegal.
Atualmente, cerca de 20% da população, de acordo com o IBGE (2014), vivem nestas
áreas, ocasionando sérias problemáticas de natureza social, econômica e ambiental.
Na tentativa de oferecer melhores condições de vida aos habitantes. O estado em
conjunto com o município tem dotado esses lugares com infraestrutura de
abastecimento de água e rede elétrica, legitimando a permanência dos moradores. A
oferta de habitação formal através de programas oficiais não tem sido compatível com
a diminuição das ocupações em áreas úmidas (ressacas), o que é grave.
A desordenada ocupação e as consequentes construções, aliadas ao lixo e resíduos
sólidos e o desenfreado processo de aterramento tem acarretado consequências
danosas, que vão desde alagamentos, enchentes, contaminação da água, doenças de
veiculação hídrica, a inibição dos canais de drenagem e as mudanças climáticas no
âmbito urbano.
O artigo pretende analisar a evolução da ocupação das áreas úmidas, entre o período
de 1980 a 2015, em função do crescente aumento do número de habitantes e a
consequente invasão desses espaços ambientais e legalmente protegidos, busca-se
assim, compreender como a ocupação ilegal impacta nos setores sociais, econômicos
e ambientais e na estruturação urbana da cidade.
O artigo será desenvolvido por meio de pesquisas e pela produção cientifica já
existente na Universidade Federal do Amapá, relatórios e documentos oficiais, e na
análise do Plano Diretor de Macapá, Lei de Uso e Ocupação do Solo do município de
Macapá, do Estatuto da Cidade e o Relatório para áreas úmidas na Amazônia. Como
suporte conceitual serão discutidas as ideias do “Direito à Cidade”, de Henri Lefebvre.
Os resultados esperados tendem a apontar a necessidade de novas ações e
estratégias com a participação da própria comunidade local em parceria com a
Universidade Federal do Amapá. Na elaboração de parâmetros que possam
proporcionar outros referenciais sobre a melhor e mais adequada alternativa de
preservação e organização no processo de ocupação em áreas úmidas, bem como a
construção de uma metodologia de reeducação ambiental para o lugar.
1. Introdução
A Amazônia possui a maior rede hidrografica do mundo, além de uma vasta
quantidade de ecossistemas, incluindo as áreas úmidas. O Amapá, o estado mais
preservado da Amazônia, tem 72% da sua cobertura vegetal preservada, sua capital
Macapá, é a única da federação brasileira que é banhada pelo rio Amazonas, tendo na
estrutura urbana um corpo hídrico (lagos, igarapés e áreas de ressacas) diretamente
ligado a ele. Em decorrência do intenso fluxo migratório das últimas três décadas e da
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escassez de políticas públicas urbanas, este corpo hídrico, mesmo sendo legalmente
protegido, vem sendo invadido e ocupado, acarretando em sérias consequências
ambientais e urbanas.
A discussão do uso legal e ilegal destes espaços, tanto na Amazônia, quanto em
Macapá, vem sendo vinculada a uma perspectiva puramente de natureza cultural.
Todavia, neste processo é evidente o descumprimento, por parte administrativa, da
legislação ambiental e urbana. Atualmente, cerca de 20 mil famílias vivem em áreas
úmidas em Macapá, correspondendo a aproximadamente 100 mil pessoas. Esta
temática já vem sendo objeto de estudo nos últimos anos, seus diagnósticos
evidenciam que estas invasões e suas resultantes afetam as bacias de acumulação de
águas naturais, assim como o microclima da cidade, impedindo o cumprimento da
função pelo qual tais áreas são destinadas.
Este artigo tem como objetivo a análise do uso legal e ilegal especificamente das
áreas de ressacas situadas na rede urbana de Macapá, visto que esta questão não
engloba apenas fatores de natureza cultural ou técnica, pois representam um conflito
entre a espacialidade da cidade e o modo de viver riberinho do homem amazonida. A
importância desta discussão nos coloca diante da pespectiva do pensar a cidade de
forma mais integral e integradora, em que a participação social se torna
imprescindível.
Metodologicamente, o artigo foi desenvolvido por meio de pesquisas e pela produção
cientifica já existente na Universidade Federal do Amapá, além da análise de relatórios
e documentos oficiais, como o Plano Diretor de Macapá, a Lei de Uso e Ocupação do
Solo do município de Macapá, o Estatuto da Cidade e o Relatório para áreas úmidas
na Amazônia. O suporte conceitual se dá através da discussão das ideias do “Direito à
Cidade”, de Henri Lefebvre.
O artigo divide-se em seis tópicos: (1) Localização do objeto de estudo, (2) As áreas
úmidas na Amazônia, (3) Aplicabilidade do Estatuto da Cidade em contexto
amazônico, (4) Planejamento urbano: O uso legal e ilegal do solo e (5) Considerações
finais.
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6. Considerações finais
As áreas úmidas desempenham um papel de suma importância para no âmbito
urbano. Mesmo sendo legalmente protegidas, o que, em condições normais, inibiria a
construção de qualquer tipo de habitação, elas vêm sendo invadidas e ocupadas,
constituindo um grave problema para a gestão urbana. Há uma grande pressão sob o
poder público para dotar as áreas de ressacas com infraestruturas, serviços e
equipamentos urbanos, o que, acabaria por legitimar a permanência destes
habitantes. O estado por meio de programas federais, financiados pela União, tem
procurado contornar este problema, mas não tem sido eficiente na sua ação devido a
incompatibilidade destes investimentos com a realidade local.
O planejamento previsto para as áreas de ressacas não vem sendo cumprido,
evidenciando o despreparo por parte das instituições públicas, que buscam solucionar
esta questão com ações isoladas, pontuais e descontinuas. O uso legal e ilegal das
áreas úmidas abrange também uma complexidade cultural do homem ribeirinho,
acostumado com a convivência da proximidade de rios, lagos, igarapés e áreas de
ressacas, se acresce a este fato o desconhecimento de boa parte da população sobre
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Referências
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4º CIHEL – Congresso Internacional da Habitação no Espaço Lusófono | A Cidade Habitada
[14] Tostes, José A. “Além da linha do horizonte”. João Pessoa: Sal da Terra
Editora, 2012. ISBN 978-85-8043-158-2.
[15] Prefeitura Municipal de Macapá (PMM). “Plano Diretor do Município de
Macapá”. Prefeitura Municipal de Macapá, 2003.
[16] _______. Lei Complementar. “Lei Complementar do Uso e Ocupação do solo
do município de Macapá”, n°0029/2004 de 24 de junho de 2004.
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