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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................................02

O CONTO...........................................................................................................................04

OS MITEMAS................................................................................................................... 05

A CIRCUM-AMBULAÇÃO............................................................................................ 08

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................ 11
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INTRODUÇÃO

É redundante falar em poder simbólico da literatura. Falar em símbolos literários é

ainda mais redundante, uma vez que toda a literatura é constituída pela linguagem e essa, por

sua vez é oriunda da capacidade racional do homem para produzir símbolos. Na base, tudo é

símbolo (MOISÉS, 2004), tudo é simbólico e o que definiria qualitativamente uma obra

literária não seria a presença de símbolos que lhe permitissem interpretações demasiado

subjetivas.

A mera presença de vocábulos arbitrariamente transformados em representações

simbólicas de comportamentos, atitudes ou fenômenos sociais ou naturais não qualifica

positivamente um trabalho artístico, ou, pelo menos, não deveria qualificar. Mesmo assim, em

termos de se apresentar uma possível leitura, não se pode desprezar, para o bem da chamada

polissemia literária, a interpretação de certa sequência léxica arbitrariamente selecionada

dentro do assim chamado texto artístico, pois, como diz Barthes (1974), em seu ensaio “Por

onde começar”, uma leitura literária sempre pede que se escolha uma porta de entrada e uma

de saída para o grande labirinto que é a literatura.

Sabendo disso é que nos propomos a realizar uma leitura analítica, a partir dos

símbolos presentes em “Sinfonia eqüestre”, de Ricardo Guilherme Dicke (2006). Os

pressupostos teóricos são fornecidos pela análise estrutural dos mitos desenvolda por G.

Durand (1997), em “As estruturas antropológicas do imaginário”.

De acordo com Durand, o símbolo “estabelece a lei da cultura no plano coletivo e

caracteriza a relação do ser humano com o mundo”, e “a motivação profunda das produções e

elaborações imaginárias está na angústia original e na presentificação do tempo e da morte,

que está na origem de qualquer uma das estruturas do imaginário.”

Durand ainda organiza os símbolos em dois regimes 1, a saber: o regime diurno,

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Devido à simplicidade de nossa contribuição à análise dos mitos no presente trabalho, utilizamos apenas noções
bastante diminutas da enorme pesquisa de Durand que trata de trazer ao nível do esquema e do natural (e,
consequentemente do mito) as relações sociais, artísticas, religiosas e cognitivas estabelecidas ao longo da
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marcado pela presença de elementos representantes do combate ou não aceitação da morte; e

o regime noturno, marcado pela presença de elementos que indicam conformidade diante da

presença a morte ou do fim do ciclo da vida.

Tratamos nesse trabalho de encontrar um fio condutor que nos permita tentar entender

a mais que complexa, difícil, trama do supramencionado conto, se possível, em sua estrutura

menos evidente.

história da humanidade.
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O CONTO

A narrativa “Sinfonia eqüestre”, editada em 2006, dá conta da “saga” de Janis Mohor,

filha de Hildebrando Mohor, morto em uma disputa de terras no sertão do Centro-oeste do

Brasil. Tal “saga” tem início com o “velório” de Hildebrando, que morrera, supostamente,

assassinado depois ter ficado preso por 19 ou 29 anos2.

Janis Mohor é casada com Jan, entretanto permanece virgem até o dia de sua morte,

também por assassinato. Jan é uma personagem caricaturalmente sensível, uma vez que

“ao chorar por sua esposa, chorava pelo próprio coração [sic] as dores do mundo.

Chorava porque, neste mundo tão grande, tantos viventes sofriam sem solução, viviam para

morrer de fome e de dor.”. (DICKE, 2006, p. 146)

A protagonista resolve, depois do velório do pai, ir à fazenda que herdara do falecido

(Fazenda Mutum), acompanhada por um ex-monge (Belizário) que lhe deseja bem em

sentimentos para além da estima. A viagem tem como finalidade vingar a morte do pai, e a

vingança tem destinatário certo, já que o pai da mulher-moça lhe contara quem foi o

assassino3.

A cavalgada deveria durar um dia, mas inexplicavelmente acaba durando bem mais

que isso. Chegando à sua fazenda, Janis passa longo tempo durante a noite em uma piscina e

no dia seguinte sai para guerrear com Tariq Muza, assassino de seu pai. Depois de duas

sessões de guerra, a moça acaba caindo morta, virgem e deixando dois eunucos, um deles (seu

marido), rico.

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A página 135 indica 19 e a página 148 indica 29 anos. Poder-se-ia atribuir esse lapso a algum problema de
digitação durante a editoração do texto, uma vez que a filha de Hildebrando tem apenas 20 anos. Mas é
importante assinalar o caráter inverossímil do conto ainda na página 135 quando se diz: “O tesouro estava
escondido naquela casa que ele comprara antes de ir preso por ter roubado um pão. (...) eram dois grandes
diamantes dentro de um tubinho dentro de uma caixa de mogno.”. É importante entender que quem acaba de
comprar uma casa (possuía também uma fazenda) não deve ser preso, nem em um mundo mágico-mítico, o que
não é o caso (há registros histórico-geográficos que indicam espacialidade e temporalidade e eliminam o tempo-
espaço mitológico), por ter roubado um pão (crime que deveria indicar extrema pobreza). Importante, ainda, é
assinalar que o mesmo homem que foi preso por roubar um pão possuía dois grandes diamantes. Existe aí, no
mínimo, um problema de revisão de texto final.
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A trama é, no mínimo, confusa e com problemas de coerência na progressão textual neste ponto também, já que
a página 135 nos diz que “Esse que o matou (o pai de Janis Mohor) permanece oculto” e da página 136 “Mas
como Janis sabia que fora ele, o turco Tariq Muza, quem lhe assassinara o pai? Foi o pai que lhe contara”.
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OS MITEMAS

De acordo com Durand (1997), “mitema é a unidade mínima de significação na

estrutura dos mitos e que se repetem nos processos de remitologização”. Podemos, dentro de

uma estrutura literária, entender “mitema” como símbolo, e o reconhecimento e compreensão

desses símbolos podem promover uma significação da obra em análise que se estende fora

dos limites materiais de compreensão e se aproximando de esquemas universais que se

repetem na história da humanidade pelos séculos dos séculos.

Da morfologia do conto em estudo, podemos destacar a incidência, ou a recorrência,

de alguns desses símbolos ou mitemas, a saber: a morte, o cavalo (cavalinho), a cama (leito),

a cavalgada (travessia), a piscina, o centauro, o círculo, o deserto, a janela, o jardim e a

sombra. Faz-se necessária uma explicação mais detalhada da significação do léxico

destacado.

Importante de se dizer que essa semantização lexical é exterior à obra e variável de

sociedade para sociedade, de região para região, cabendo, sempre ao arbítrio do analista

escolher a significação que mais lhe satisfaça os interesses. A fonte da semântica é o

Dicionário de Jean Chevalier e seus colaboradores.

Em ordem alfabética:

Cama (leito):

Símbolo da regenerescência pelo sono e pelo amor; também é o lugar da morte. O

leito do nascimento, o leito conjugal, o leito fúnebre são objeto de todos os cuidados e de uma

espécie de veneração: centro sagrado dos mistérios da vida, da vida em seu estado

fundamental, não em seus graus mais elevados. (CHEVALIER, 2003, p. 543)

Cavalo:

Uma crença, que parece estar fixada na memória de todos os povos, associa
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originalmente o cavalo às trevas do mundo ctoniano, que ele surja, galopante como o sangue

nas veias, das entranhas da terra ou das abissais profundezas do mar. Filho da noite e do

mistério, esse cavalo arquetípico é portador de morte e de vida a um só tempo, ligado ao fogo,

destruidor e triunfador, como também à água, nutriente e asfixiante. (CHEVALIER, 2003, pp.

202-203).

Centauro:

Seres monstruosos da mitologia grega, cuja cabeça, braços e tronco são os de um

homem, e o resto do corpo e as pernas, de um cavalo. Os Centauros vivem com suas fêmeas,

as Centauras; nas florestas e montanhas, alimentam-se de carne crua; não podem beber vinho

sem embriagar-se; são muito inclinados a raptar e a violar as mulheres. (...) Nas obra de arte, o

rosto dos Centauros traz geralmente a marca da tristeza. Eles simbolizam a concupiscência

carnal, com todas as suas brutais violências, e que torna o homem semelhante às bestas

quando não é equilibrada pela força espiritual. (...) São a antítese do cavaleiro. (CHEVALIER,

2003 p. 219).

Janela:

Enquanto abertura para o ar e para a luz, a janela simboliza receptividade. Se a janela

é redonda, a receptividade é da mesma natureza que a do olho e da consciência. Se é quadrada,

a receptividade é terrestre, relativamente ao que é enviado do céu. (CHEVALIER, 2003, p.

512.)

Jardim:

O jardim é um símbolo do Paraíso terrestre, do Cosmo de que ele é o centro, do

Paraíso celeste, de que é a representação, dos estados espirituais, que correspondem às

vivências paradisíacas.
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Morte:

A morte designa o fim absoluto de qualquer coisa de positivo: um ser humano, um

animal, uma planta, uma amizade, uma aliança, a paz, um época. Não se fala na morte de uma

tempestade, mas na morte de um belo dia. (...) Enquanto símbolo, a morte é o aspecto

perecível e destrutível da existência. (CHEVALIER, 2003, p. 621)

Sombra:

A sombra é, de um lado, o que se opõe à luz; é, de outro lado, a própria imagem das

coisas fugidias, irreais e mutantes. (...) A sombra é considerada por muitos povos africanos

como a segunda natureza dos seres e das coisas e está geralmente ligada à morte.

(CHEVALIER, 2003, pp. 842-843).


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A CIRCUM-AMBULAÇÃO

Organizando os mitemas de modo a produzir um sentido escondido no texto de

Ricardo G Dicke, podemos chegar à leitura que se segue.

Ao deitar-se na cama depois de chegar ferido, Hildebrando Mohor abre um ciclo de

mortes na sequência da narrativa, uma vez que chega para morrer e se deita em sua cama, que

passa a simbolizar o seu leito de morte. Tal ciclo tem fim apenas com a morte de sua filha,

Janis Mohor.

O círculo de mortes é anunciado pelo “cavalinho correndo em círculos no jardim

verde”, conforme Chevaleir (2003), o cavalo, nesta nossa leitura da narrativa, pode simbolizar

a proximidade da morte; no caso, de mortes.

Desse modo, a presença da morte seria trazida pelos cavalos sempre presentes no texto

e da alegoria do jardim, além da presença do centauro. Como já sabemos, o centauro é a

figura mitológica, parte humano e parte equino, que, salvo em alguns poucos casos, é a

representação do homem em seu estado animalesco, pouco evoluído e bestial, por se associar

à violência e ter sua alimentação à base de carne crua.

A nossa leitura segue no sentido de que tudo se liga indicando o fim fatídico e

inevitável, sem que se contrariem os indícios da previsibilidade da trama: a protagonista terá o

mesmo fim de seu pai, não se importando se é virgem ou não; pelo caminhar da história, é

assessório o fato de uma mulher casada continuar sendo virgem.

É interessante apontar que, por sonoridade, virgem, viagem e vingança acabam se

aproximando, indicando, também no plano semântico da obra, uma ligação: a virgem, que em

praticamente todas as culturas simboliza a pureza, realiza uma viagem de alguns dias, com

pausa de quase uma noite em piscina, rumo à sua vingança (vingança pela morte de seu pai).

De acordo com a leitura dos símbolos presentes (jardim, cavalo, centauro, viagem),

tudo no texto se encaminha para o previsível: morte da filha, na sequência da morte do pai.
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As outras personagens, dentro dessa leitura, passam a ser acessórias, não exercendo

função alguma além de anunciar o que vem sendo anunciado desde o início da narrativa. O

monge-eunuco, Belizário, que conta suas histórias “fantásticas”, vê o objeto de sua paixão

morrer sem poder fazer nada, e Jan, marido de Janis, continua, aparentemente, sendo uma

personagem secundária dentro da trama, a não ser por ser uma personagem capaz de domar os

cavalos.

Verificando desse modo, podemos dizer que Jan é quem acaba por ser privilegiado,

pois ele é quem entende dos mensageiros da morte (os cavalos, e entender de cavalos é sua

única habilidade) e é quem fica com a herança que deveria ser deixada por Hildebrando a

Janis. É difícil saber o que alegoriza a sombra que observa pela janela o cavalinho correndo

em círculos, talvez seja a própria sombra de Jan a espreitar a morte de sua esposa, não se sabe.

***

Tecendo alguns comentários a propósito da leitura realizada, podemos tentar expressar

um entendimento possível a propósito da obra.

O conto, parece ser, explorando o termo “Sinfonia”, que lhe dá nome, um réquiem,

uma execução musical fúnebre, acompanhada pelo trotar de alguns cavalos, orquestrada pelo

marido da protagonista e que possui efetivamente um teor bastante conservador, a saber:

riqueza e felicidade não andam juntos, já que a herdeira havia perdido o pai e recebido

herança, mas tendo libertado sua violência interior (centauro) e tentado fazer justiça com as

próprias mãos, tendo, por isso, sido castigada, de um modo místico, pela misteriosa sombra

que olha por aquela passagem também mística.

Há dois problemas, aí, pelo menos: o primeiro consiste em repetir o já referido e

vulgar provérbio “dinheiro não traz felicidade”, sem que se trabalhe ou demonstre a origem de

tal riqueza e sua finalidade; o segundo, liga-se ao fato de que não se pode fazer justiça com as

próprias mãos (o que, dentro de uma sociedade moderna, não é mesmo admissível), mas com
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a justificativa, também não-histórica, de que forças sobrenaturais irão proferir um castigo.

Não importa quão delicada e pura, dedicada e valente fosse nossa protagonista, ela morre duas

vezes, mas já nasceu morta, e aquele que é imprestável (no caso, seu marido, e, talvez, neste

ponto o narrador tenha tido sucesso) sempre acaba tendo as melhores oportunidades no

mundo real. Isso só endossaria o que Barthes diz a propósito do mito: o mito é uma fala

despolitizada, a banalização do histórico trabalhando em prol de uma ideologia dominante,

que faz tudo dar a impressão de girar em círculos.


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REFERÊNCIAS

BARTHES, Roland. Novos Ensaios Críticos seguidos de O grau zero da escritura. São
Paulo: Cultrix, 1974.

______. Mitologias. São Paulo: Difel, 1982.

CHEVALIER, Jean. et. al. Dicionário de Símbolos. 18. ed. Rio de Janeiro: José Olímpio,
2003.

DICKE, Ricardo Gilherme. Sinfonia equestre. In. ______. Toada do esquecido e Sinfonia
equestre. Cuiabá: Carlini & Caniato; Cathedral Publicações, 2006.

DURAND, Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário. Lisboa: Presença, 1997.

FIGUEIREDO, Fidelino. A luta pela expressão: prolegômenos para uma filosofia da


literatura. 3. ed. São Paulo; Cultrix, 1973.

MIRCEA, Eliade. O mito do eterno retorno. São Paulo: Mercuryo, 1992. pp. 55-86.

MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. 12. ed. São Paulo: Cultrix, 2004.

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