Sem querer
Fui pegando
Tuas falas
E manias,
Teus desejos
E alegrias,
Teu sorriso
E expressão,
Tua nota
E canção,
Teus costumes
E tudo mais,
Quando vi
Tarde demais,
Já era alguma coisa
Parecida com você,
Escancarada pela rua
Para todo mundo ver
Que eu era alguma coisa,
Coisa tua.
Desejo
E como quero,
Na minha existência.
Em um espaço de tempo.
Buracos
Desesperada,
Diário e eterno,
Um verso incerto.
Intrínseco,
Acostumei-me tanto
A te ver no meu sofá,
A dividir a mesa de jantar,
A acordar antes de você,
Observar-te ao sono,
E saber que nunca teria dono,
Mas tua, eu fazia questão de ser.
Depois que tu foste embora,
O sofá nunca foi tão vazio,
A mesa de jantar era só minha,
O outro lado da cama ficou tão frio
Que já não tinha quem observar na madrugada,
Vi-me tão sozinha e desesperada
Que nem sei se eu senti a tua falta
Porque te amava
Ou estava apenas acostumada
A ter você aqui.
Solidão
Não me apavora,
Porque me tornei
A melhor companhia
Caminha ao lado
É só uma sombra.
Café
Tua perturbação,
Tua condenação
E eu não.
Querer
E quando notei,
Me acostumei.
Que é libertador
Essa coisa de
Libertar a dor.
Distância
Se porventura
Ou por acaso,
Só por um momento
Seria o bastante
Nem ventura
E nem acaso.
Abraço
De reduzir os ressentimentos,
De aniquilar remorsos,
De amparar os choros,
De trazer perdão,
Paixão,
Querer,
Um lugar distante
Eu gosto fácil
Fazer um carinho
Se a sua intenção
Em todo o tempo.
Palavras
Vicio em você
Em um segundo,
Saudade é o castigo
Porque o coração
Já está ocupado
Sentindo saudade
De outro alguém.
Vontade
Eu consiga te entender
E me acostumar
Mas é necessário.
E deixá-las irem
Coisas novas
E boas.
Tarde
No mundo de concreto,
Algo incerto.
Mortais,
Monumentais.
Para um desconhecido,
Teríamos vivido.
Que eu te dei.
Tempo
Confusa,
Mas, entregue
E rendida
Que paralisa
Como em um desespero.
Apenas um nome
Eu de esquerda,
Ele de direita.
Eu da poesia,
Eu da fantasia,
Ele da razão.
Eu do amor,
Ele da paixão.
Eu orgulhosa,
Ele também.
No fim, conversamos,
E se eu fosse
É só apego.
Paciência
Vão me conquistar,
Te enganas profundamente
Todos os dias,
Se tu me amas.
Todos os dias,
Todos os dias,
É ganhar na loteria,
É esquecer o guarda-chuva
Sorte é o acaso
Foi cuidado,
Escancarado,
Trazer alegria,
Traiçoeiro,
Maldito,
Feito um parasita
E quando se alimenta
Vai embora.
Minha
Eu, minha,
Tão minha
Que estar só
Sendo minha,
Tão minha,
Sou de alguém
Que tá na minha.
Percepção
Eu nem percebi
Do meu quintal,
Do varal,
Sem pedir,
Sem avisar,
Te deixei ficar.
Ódio
Porque é o sentimento
E te consome pensar
E o ódio surge
Se tu fosses tela,
Te pintaria.
Se tu fosses papel,
Te rabiscaria.
Se tu fosses canção,
Te cantaria.
Se tu fosses poema,
Te declamaria.
Se tu fosses café,
Te tomaria.
Se tu fosses verso,
Te rimaria.
Se tu fosses amor,
Te amaria
E amo.
Canção
Sem pestanejar
Vai me atrasando,
Me atrapalhando
E me deixando na vontade
O tempo inteiro.
Menos você.
Viraha
Por um instante.
Cigana
Oblíqua,
Sinuosa.
Dissimulada,
Brinca de inventar,
Ela me beija,
Sentíamos, eu sei,
Em algumas estrofes.