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ENTREVISTA / ROSANE SCHEIBE

A NOVA
A genética abre uma linha divisória na
Farmácia, criando um mundo novo e
promissor, onde é possível concretizar
o sonho da cura de doenças até
recentemente infactível

FRONTEIRA
DA FARMÁCIA Pelo jornalista Aloísio Brandão,
Editor desta revista

A genética está expandindo as fronteiras da Far-


mácia a um mundo novo e muito mais pro-
Sul (UFRGS), Rosane deu passos longos em sua
carreira que a fizeram uma autoridade em genéti-
missor, onde a cura a doenças, até então um so- ca, no Brasil. Depois de passar pelo Centro de Bio-
nho impossível de se concretizar, passou a ser algo tecnologia do Rio Grande do Sul, onde começou a
mais factível. As novas fronteiras criam-se à luz de trabalhar em pesquisa com DNA recombinante (bi-
um conhecimento extraordinário, gerado pelas bio- ologia molecular), a farmacêutica foi para a Uni-
logias molecular e celular. Esse conhecimento, por versity of Sheffield, na Inglaterra, mais
sua vez, faz surgir uma leva de novas áreas, como a precisamente para o famoso
tecnologia dos transgênicos, terapia gênica, novas Instituto Krebs, onde foi de-
drogas, vacinas recombinantes e de DNA e clona- senvolvido o Ciclo de Krebs,
gem terapêutica, entre outras. Tudo, do lado de lá que envolve a produção de
dessa fronteira, é moderno e anda a uma veloci- energia na respiração aeró-
dade inimaginável. O que, há pouco, eram só idéi- bica. Ali, de 1989 a 1993,
as para pesquisas, hoje, são uma realidade concre- ela fez doutorado em bio-
ta, como os farmacogenômicos. Tudo brota de co- logia molecular. Em segui-
nhecimentos maravilhosos, que estão estabelecen- da, retornou ao Brasil,
do uma nova mentalidade científica e, seguramen- para trabalhar, na Uni-
te, vão gerar um forte impacto na vida das pessoas. versidade Federal
Mas como os medicamentos resultante desses co- do Rio de Janeiro
nhecimentos atuarão no organismo humano? Que (UFRJ), com a
resposta terapêutica espera-se deles? O arsenal te- identificação de
rapêutico nascido da genética será distribuído en- genes envolvi-
tre os povos, tornando-se acessível aos pobres, ou dos no SOS de
ficará restrito aos ricos? E onde se situa o farma- bactérias. Pes-
cêutico neste contexto científico do qual ele é par- quisadora asso-
te importante? A revista PHARMACIA BRASILEIRA ciada do Cen-
ouviu a especialista no assunto, a Dra. Rosane tro de Biotecno-
Machado Scheibe, 37 anos. Farmacêutica-bioquí- logia do Rio
mica pela Universidade Federal do Rio Grande do Grande do Sul,
Rosane Scheibe
Pharmacia Brasileira - Out/Nov 2002
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ENTREVISTA / ROSANE SCHEIBE

Rosane Scheibe, em 1996, entrou para a Pontifícia


Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS),
onde é professora das disciplinas Biotecnologia e
Diagnóstico Molecular nos cursos de graduação de
Farmácia e Medicina e no de pós-graduação de Far-
mácia. A Dra. Rosane é ainda a coordenadora do
Laboratório de Biologia Melecular do Instituto de
Pesquisas Biomédicas da PUCRS. Ela deu esta en-
trevista à PHARMACIA BRASILEIRA.

toda a sociedade, pois com relação aos testes de eficácia e


ela é o grande motiva- toxicidade, que podem ser realiza-
dor destas pesquisas e, dos em cultura de células do pró-
por certo, desfrutará de prio paciente, removidas e tratadas
seus benefícios. É im- em cultura (ex-vivo) com a droga
portante, porém, que a para melhor avaliação do efeito te-
sociedade receba infor- rapêutico.
mações corretas e coe- PHARMACIA BRASILEIRA -
rentes com seu grau de Qual a resposta terapêutica que se
compreensão, uma vez espera dessa classe de medica-
que estamos, cada vez mentos?
mais, “atrelados” à ge- Rosane Scheibe – Como são
nética molecular. medicamentos adaptados às neces-
PHARMACIA BRASI- sidades e características do pacien-
PHARMACIA BRASILEIRA - LEIRA - A biologia molecular está te, espera-se uma resposta terapêu-
Dra. Rosane, é exagerado dizer que criando toda uma geração de medi- tica otimizada, aliada à baixa toxici-
a genética transformou-se num novo camentos, ou levando à adequação dade.
paradigma científico e numa espé- do uso das drogas de acordo com o PHARMACIA BRASILEIRA -
cie de linha divisória, inaugurando, conjunto genético individual. Muitos Tem-se falado, até com uma certa
daqui para frente, um mundo “ge- desses medicamentos, naturalidade, sobre os
nético-dependente” (desculpe-me os chamados farmaco- medicamentos inteli-
pela invencionice semântica)? Até genômicos, sequer es- “Como os gentes, categoria da
onde uma afirmação desta é verda- tão ainda disponíveis no farmacogenômicos qual fazem parte os ge-
de e mito? mercado. Como eles são medicamentos nômicos. O que são me-
Rosane Scheibe - Sem dúvida, vão atuar no organismo adaptados às dicamentos inteligen-
o conhecimento gerado pela biolo- humano? necessidades e tes? Que país está à fren-
gia molecular e celular possibilitou o Rosane Scheibe - te das pesquisas com
desenvolvimento de várias áreas, Estes medicamentos
características do esses produtos? Quan-
como tecnologia dos transgênicos, baseiam-se no perfil paciente, espera- do eles deverão ganhar
terapia gênica, desenho de novas genético do paciente, se uma resposta o mercado?
drogas, vacinas recombinantes e de isto é, no conjunto ge- terapêutica Rosane Scheibe - São
DNA e clonagem terapêutica, além nético que determina otimizada, aliada à medicamentos desen-
de permitir uma melhor compreen- as suas propriedades, baixa toxicidade” volvidos contra alvos
são dos fatores envolvidos no pro- em termos de metabo- moleculares definidos, a
cessamento da informação genética lismo, por exemplo, partir do conhecimento
e sua regulação. Obviamente, todo como o paciente responde frente ao das estruturas e interações molecu-
este conhecimento tem estabeleci- agente terapêutico (farmacogenômi- lares específicas de cada participan-
do novos paradigmas e uma nova ca). Assim, estes medicamentos não te do processo. Os países que estão
“mentalidade científica”. Certamen- atuariam, de forma convencional, di- à frente, nestes estudos, são os Es-
te, surtirá forte impacto na nossa rigidos a um tipo de doença ou ma- tados Unidos e países da Europa,
vida, nos próximos anos. nifestação, ou a um grupo de indiví- onde as empresas farmacêuticas de-
Cabe ressaltar que, além do duos, mas, sim, de modo individua- senvolvem suas pesquisas básicas,
avanço científico, que tem sido enor- lizado, adequados a cada paciente, muitas vezes, em parcerias com ins-
me, igualmente notável é a discus- buscando melhor efeito terapêutico titutos de pesquisas e Universidades.
são gerada sobre os aspectos éticos e menores efeitos indesejados. Vários destes medicamentos estão
e científicos que dizem respeito a Um aspecto a ressaltar seria já disponíveis, como o Glivec (mais

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informações sobre o Glivec estão em São Paulo, Rio de


abaixo, na última resposta), inibido- Janeiro, Minas, Rio
res de proteases, etc. Grande do Sul, etc.
PHARMACIA BRASILEIRA - Porém, apesar dos
Outra novidade no mundo farmacêu- grandes esforços e da
tico são as vacinas de DNA, que tra- sua potencialidade, es-
rão carga de informações genéticas tas estratégias têm sua
para ser aplicadas num recebedor. aplicação grandemente
O que as diferencia das vacinas de limitada, pois os veto-
hoje, do ponto de vista da ação no res mais eficientes de-
organismo? Em que fase de estudos rivam de vírus, ou a
elas se encontram e quando deve- construção genética
rão ser aplicadas em larga escala? envolvida utiliza um
Onde, no Brasil, elas estão sendo promotor viral para per-
estudadas? mitir a expressão do
Rosane Scheibe - As vacinas de gene exógeno, o que
DNA apresentam uma abordagem para vacinas distribuí-
bastante diferente das vacinas “tra- das em larga escala
dicionais”, especialmente pelo as- apresenta problemas
pecto da produção do antígeno de sérios. Eu acredito que tanto as va- teínas produzidas sob condições
um agente infeccioso pelas células cinas de DNA, como a terapia gêni- anormais, como no câncer, doenças
do hospedeiro. Isto, porque estas va- ca, só serão alavancadas, quando auto-imunes, etc.
cinas consistem na inserção de um novos vetores e sistemas de expres- PHARMACIA BRASILEIRA -
segmento de DNA específico do são que não utilizem material viral Que estudos o Instituto de Pesquisas
agente infeccioso em algumas célu- forem desenvolvidos. Biomédicas da PUC/RS vem desen-
las do hospedeiro, usando técnicas PHARMACIA BRASILEIRA - volvendo, no campo da genética?
de DNA recombinante. Um grande conhecimento conquis- Rosane Scheibe - O Instituto
O DNA introduzido contém in- tado em favor da pesquisa sobre me- de Pesquisas Biomédicas da PUCRS
formação genética específica do dicamentos é a modelagem mole- é composto por dez laboratórios de
agente, e será processado, de ma- cular. Do que se trata e o que ela pesquisa. Alguns destes laboratórios
neira a produzir um polipeptídeo representa de evolução para o setor desenvolvem suas linhas, usando a
deste agente. Este peptídeo é pro- farmacêutico? biologia molecular em áreas, como
duzido pelas células do hospedeiro, a Rosane Scheibe - Consiste em biologia tumoral, imunologia mole-
partir de informações de outro orga- determinar um modelo tridimensio- cular e vacinas de DNA, perfil gené-
nismo, e será percebido pelo sistema nal de moléculas biológicas, a partir tico e medicina preditiva e diagnós-
imunológico, desencadeando o pro- da seqüência de aminoácidos de um tico molecular.
cesso de geração da resposta imune. polipeptídeo, por exemplo. Este mo- PHARMACIA BRASILEIRA - O
Esta abordagem é bastante se- delo, desenvolvido com o auxílio de Brasil está atualizado nas pesquisas
gura, uma vez que computadores e pro- em genética com vistas à produção
há introdução de “Todo o conhecimento gramas específicos, de medicamentos?
um pequeno seg- permite que sejam Rosane Scheibe - Sim, o Brasil
gerado pela biologia
mento de DNA do estudados sítios de li- está relativamente bem situado no
agente, incapaz de molecular e celular tem gação com substratos campo científico, mas não na área
produzir doenças, estabelecido novos e cofatores, domíni- de medicamentos. Temos excelen-
em contraste com paradigmas e uma nova os e motivos especí- tes pesquisadores e uma gama de
vacinas de agentes mentalidade científica. ficos nesse polipep- pesquisas de relevância internacio-
atenuados ou ina- Certamente, surtirá forte tídeo, alterações nal sendo desenvolvidas, aqui. Por
tivados. Ainda há a conformacionais, de exemplo, somos o único País da
impacto na nossa vida,
vantagem de esti- acordo com meio e América Latina a integrar o Projeto
mulação das duas
nos próximos anos”. condições de pH, Genoma Internacional, um grupo
vias de resposta permitindo inclusive que envolve vários outros países do
imune: humoral e celular. Como simulações de interação com outros mundo, também na medicina rege-
toda estratégia nova, existe o surgi- elementos. nerativa – pelo uso de células-tron-
mento de vários questionamentos, No setor farmacêutico, esta co – estamos muito bem situados
especialmente com relação à incor- área tem sido bastante explorada, es- no panorama mundial, entre outras.
poração de material genético de pecialmente, na investigação de ini- Na área de medicamentos, alguns
agentes infecciosos, questões éticas, bidores específicos para um deter- grupos estão estudando novas dro-
toxicidade, etc. São vários grupos minado domínio de proteínas deri- gas, a partir da nossa biodiversida-
brasileiros trabalhando, nesta área, vadas de agentes infecciosos, ou pro- de, que é um recurso maravilhoso.

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PHARMACIA BRASILEIRA - O sua interação com


que falta para o País dar um salto nes- o ambiente, expe-
se setor? Mais incentivo financeiro? riências vividas,
Rosane Sheibe - Falta um mai- etc. Desta forma,
or comprometimento das agências este clone seria ca-
de fomento, mais incentivos finan- paz de viver com-
ceiros, desenvolvimento de progra- pletamente sua
mas de convênio e interação inter- condição humana e
nacional. Em vários outros países, compartilhando das
como Estados Unidos, existe uma mesmas caracterís-
participação maciça do setor indus- ticas biológicas e bi-
trial, o que certamente não ocorre, oquímicas que
aqui. Por outro lado, é preciso lem- qualquer outro indi-
brar que as atividades de pesquisa víduo, respeitando
não devem ser apenas “financiadas tes medicamentos estejam ampla- seu perfil genético.
sob encomenda” por empresas, o mente disponíveis e popularizados, PHARMACIA BRASILEIRA -
que poderia reduzir seu potencial. em alguns anos. Que outra novidade está para ser
Talvez, um caminho fosse a cri- PHARMACIA BRASILEIRA - A anunciada, vindo dos laboratórios de
ação de fundo de apoio à pesquisa novela “O Clone”, da TV Globo, dei- pesquisa em genética e que tenha
(que pode e deve ser direcionada a xou um rastro enorme de indagações ligação com o medicamento?
determinadas áreas) com contribui- sobre a clonagem humana. Aprovei- Rosane Scheibe - Já existem
ções contínuas por parte das indús- tando o calor dessas discussões, gos- medicamentos disponíveis e desen-
trias, e que, respeitando a criativida- taria de lhe perguntar: uma pessoa volvidos para alvos moleculares de-
de e peculiaridades da própria pes- clonada trará diferenças biológicas e finidos, como o Iressa, da Aastra Ze-
quisa, gere conhecimentos de mai- bioquímicas em relação a uma pes- neca, e o Glivec, da Novartis, entre
or qualidade. soa concebida pelos meios naturais? outros. O Glivec é utilizado especi-
PHARMACIA BRASILEIRA - O Se isso acontecer, os medicamentos almente no tratamento da leucemia
arsenal terapêutico que se anuncia indicados para um clone teriam que mielóide crônica (LMC). A LMC nor-
será algo acessível aos países pobres, ser diferentes, adaptados à sua rea- malmente resulta de uma alteração
ou ficará restrito aos países do Pri- lidade orgânica? genética denominada translocação
meiro Mundo? O resultado dessas Rosane Scheibe - Primeira- entre os cromossomas 9 e 22, que
pesquisas será mente, a clonagem ainda é uma tec- consiste na quebra e religação “tro-
“Acredito que distribuído, po- nologia experimental, com limita- cada” de segmentos destes cromos-
haverá um dendo beneficiar ções em termos de resultados satis- somos, com a formação do cromos-
as populações ca- fatórios. Eu, pessoalmente, não sou soma Philadelfia.
incremento da
rentes? favorável à clonagem humana, e No ponto de religação, há a fu-
produção de Rosane Schei- acredito que, com as estratégias que são de segmentos de dois genes dis-
hormônios be - Obviamen- utilizam células-tronco com fins tera- tintos, bcr e abl, formando a proteí-
peptídicos por te, como todas pêuticos, a clonagem humana perdeu na Bcr-Abl, característica na LMC que
tecnologia de DNA novas estratégias grande parte de sua justificativa. desencadeia proliferação celular. O
recombinante, bem terapêuticas, os De qualquer forma, um clone Glivec é um inibidor seletivo desta
é um indivíduo formado, a partir do
como alterações de custos em pes- proteína de fusão, que bloqueia a
quisa, desenvol- conjunto de instruções genéticas de proliferação e induz à morte das cé-
propriedades vimento e testes células pertencentes a outro indiví- lulas que apresentam esta fusão.
nutricionais e até clínicos são bas- duo, inclusive células já diferencia- Além destes medicamentos,
inserção de tante elevados. das. Até o momento, não há estu- acredito que haverá um incremen-
propriedades Porém, há neces- dos suficientes que comprovem que to da produção de hormônios pep-
farmacológicas sidade de ter-se um clone teria alterações compara- tídicos por tecnologia de DNA re-
específicas em um mercado am- do às alterações inerentes entre in- combinante, bem como alterações
plo para absorver divíduos concebidos por meios natu- de propriedades nutricionais e até
alimentos, além do estes produtos e, rais, especialmente com relação a um inserção de propriedades farmaco-
desenvolvimento neste sentido, possível envelhecimento precoce. lógicas específicas em alimentos,
de muitas outras acredito que a Gostaria de ressaltar que, mes- além do desenvolvimento de estra-
estratégias” tendência é sua mo possuindo o material genético tégias, como utilização de células-
popularização. derivado de outro indivíduo, um clo- tronco na regeneração de tecidos,
Não saberia precisar quanto tempo ne humano seria, antes e em pri- através da reposição de células des-
isso levaria, pois sua aplicação práti- meiro lugar, um ser humano cujo truídas por patologias, como derra-
ca ainda é incipiente. Estamos no íni- comportamento e caráter seriam fru- mes e infartos.
cio desta jornada e, quem sabe, es- tos não apenas da genética, mas de

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