RESUMO
Este trabalho pretende tecer interpretações acerca da farsa na produção artística
contemporânea em Artes Visuais. Por meio da discussão de conceitos como
pinoquismo e síndrome do vira-lata criativo - SVLC, revejo e relaciono-os a partir de
evidências e entendimentos vivenciados, criticando o reforço de visões
europeizantes e ocidentalizadoras promulgadas desde o século XX. Percebendo a
marquetização para a promulgação dessa determinada produção, encontro artistas
visuais que pinoqueiam ou que remontam a farsa nos seus trabalhos não apenas
como conceito mas como estratégia para forçar uma entrada no Mercado de Arte.
Por fim, questiono possíveis falácias advindas da SVLC e sugiro rumos contextuais
e artístico/educativos para a formação de professores de Artes Visuais no Brasil.
ABSTRACT
This work searches to weave interpretations of the farce in Visual Arts at
contemporary artistic production. Through the discussion of concepts such as
pinocchismo and Syndrome of Creative Mutt – SCM, review and relate from
experienced understanding, criticizing the strengthening of Europeanizing and
Occidental views enacted since the twentieth century. Realizing the marketization to
the reinforce of this particular production, gathering visual artists who pinocchize or
fake their artworks not only as a concept but as a strategy to force an entry in the Art
Market. Finally, I question possible fallacies arising from SCM and suggest
contextual and artistic/educative courses for the Visual Arts Teachers Education in
Brazil.
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Este artigo teria outro tema, se não fosse a triste constatação que hoje tive: A
Arte Contemporânea não morreu, mas há uma enorme profusão de farsas. Também
há se de referir a necessidade de não deixar fatos em branco, pois na Arte o vazio já
foi demais explorado e perseguido. Do branco desta página há de nascer e se
mostrar uma crítica, assim como destas palavras devo construir, desconstruir e
evidenciar questões urgenciais que invadem a produção artística contemporânea.
Por conseguinte devo destacar que o vazio ainda pode ser tema, mas um
tema que leva a uma expansão estética e política da Arte e é disso que pretendo
tratar, da necessidade de enfocarmos bem nossos olhos para uma produção
verdadeiramente significativa, ou, ao que o pesquisador Jorge Larrosa mencionou-
me dias atrás, a uma “verdade verdadeira”.
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O pinoquismo é uma mentira bem contada, uma farsa gerada como parte,
como obra em si ou como ideia de uso da obra, de objetos ou de um espaço. Com
um fim de chocar, contestar e até mesmo esconder a função social, cultural e
transformadora da Arte na sociedade.
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Não menciono apenas acesso, interesse cultural, pois sem curiosidade não há
inventividade e o pensar e o criar artístico é perene e esgotável. É por essa razão
que o indivíduo portador da SVLC não consegue ir além do que permanece
demarcado ou dos modismos estéticos, teóricos e práticos. Existe por detrás disso
todo um ecossistema montado em paradigmas que advém de dois sistemas: um
Tradicional e outro Moderno. Além disso, estes sistemas encontram-se deteriorados
e sua contextualização parece-me esquecida em alguma gaveta empoeirada.
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Dessa maneira, o artista que está dentro do sistema Modernista, faz qualquer
coisa que considere como Arte e, caso caia nas graças daquilo se tornar
espetacularizado tal como previa Debord (1997), tem seu trabalho legitimado e
aplaudido por uma dúzia de críticos descerebrados, previamente medicados pelo
Mercado de Arte que está atualmente mais preocupado em nutrir um produto de uma
farsa do que de promover uma produção que repense politicamente a crise e as
mazelas que rodeiam a estética da obra de Arte e o próprio ser humano.
brasileira. A Arte local seria como a criança que segura uma maçã, estaria “salva”
por assemelhar-se ao estrangeiro. A maçã pode aludir, por sua vez à uma
apreensão, em um plano superficial condiz a um hábito alimentar cultivado, no caso
das Artes Visuais, com uma suposta apreensão de técnicas que respeitam o ideal
estético implantado.
Adam Szymczyk. Foto Divulgação pelo Museu Serralves. Porto, Portugal. 2015.
Imagem retirada da Internet. Domínio Público
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Adam não relutou nem pensou muito. Disse que para ele, formação e ensino
não lhe importavam e que a Arte ia além disso. Continuou expressando sua opinião
de que o ensino artístico não contribuía para a produção artística contemporânea e
que a Documenta 14 não abarca nem as distâncias culturais e econômicas entre os
dois territórios em que será realizada (Alemanha e Grécia), quanto mais algo relativo
à Educação em Artes Visuais.
Hoje sei que é mais simples do que naquele momento imaginei. Pondero que
persiste algo de podre no Mercado de Arte, algo que serve a interesses escusos de
banqueiros, de capitalistas e não ao que a Arte potencialmente possibilita: mudança,
transformação, renovação, revisão de mundos.
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Por fim, infiro que com experiências que revejam os conceitos apresentados,
práticas artístico/educativas contextualizadoras e crítico/reflexivas são possibilitadas,
permeando o ambiente da Arte e da Educação em Arte de olhares mais amplos, de
olhares que tragam pontes técnicas, criativas, expressivas e cognitivas. Com isso,
certamente serão construídos olhares que retomem os múltiplos territórios do fazer,
do perceber e do ensinar de maneira expandida (KRAUSS, 1984) e emergencial
nesses tempos em que há todo tipo de crise pairando e comendo a Arte e o Ser
humano pelas beiradas.
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Referências
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