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7 de Março de 2018
RESUMO
O tema Bens Públicos é de suma importância para toda a sociedade. Desta feita, o
objetivo deste trabalho é apresentar a conceituação de bens públicos, bem como
diferenciar as pessoas públicas a que eles pertencem, como a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Territórios, os Municípios, as Autarquias (inclusive as
associações públicas) e as demais entidades de caráter público criadas por lei.
Objetivamos também despertar no leitor uma atitude proativa na defesa do
patrimônio público. Foi elaborado através de pesquisa bibliográfica. Os bens
públicos são classificados referentes à sua titularidade, à sua destinação e à sua
disponibilidade, e suas características são a inalienabilidade, a impenhorabilidade,
a imprescritibilidade e a não onerabilidade. São bastante diversificadas as formas
de cessão e alienação dos bens públicos, as quais, para serem realizadas devem ser
observadas as formalidades legais, haja vista que o patrimônio público, por existir
para suprir a demanda estatal e populacional, deve ter uma proteção mais rígida,
visando impedir abusos sobre os mesmos.
INTRODUÇÃO
Despertar o cidadão para conhecer o que é seu e, assim, cuidar melhor e exigir o
devido tratamento dos bens públicos a quem é de direito, é um dos nossos
objetivos principais neste trabalho.
Bens Públicos nos remete à ideia de que os entes públicos possuem bens, sejam
móveis, imóveis ou semoventes, sejam corpóreos ou incorpóreos, como, neste caso,
obras literárias ou artísticas. E é isso mesmo.
Muitos gestores públicos, por não conhecerem a fundo este tema, acabam por
perder bens públicos, deixam de adquiri-los ou de lhes dar a devida destinação, o
que se perfaz em prejuízos e inúmeros problemas na sua administração. Desta
forma, o conhecimento sobre este tema é de grande importância para qualquer
Administrador Público.
O Código Civil dedica um Capítulo especialmente para tratar sobre bens públicos
(arts. 98 a 103). E no artigo 98, de forma simples e direta, assim conceitua bens
públicos: “São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas
jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a
pessoa a que pertencerem.”
Por sua vez, o eminente autor José dos Santos Carvalho Filho assim conceitua bens
públicos:
Bens públicos são todos aqueles que, de qualquer natureza e a qualquer título,
pertençam às pessoas jurídicas de direito público, sejam elas federativas, como a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, sejam da Administração
descentralizada, como as autarquias, nestas incluindo-se as fundações de direito
público e as associações públicas (CARVALHO FILHO, 2014, p. 1157).
1.1 PESSOAS A QUE PERTENCEM OS BENS PÚBLICOS
É importante frisar que os bens públicos pertencem às Pessoas Jurídicas e não aos
órgãos. Assim, por mais que um bem, por exemplo, esteja registrado no nome da
Assembleia Legislativa, o bem pertence ao Estado-membro; se estiver registrado
em nome da Câmara Municipal, o bem pertence ao Município respectivo.
No que trata sobre os bens federais são também denominados de bens da União,
possuindo uma relação bastante extensa de bens, conforme consta na nossa
Constituição Federal - CF, art. 20, transcrito a seguir:
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias
marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a
sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade
ambiental federal, e as referidas no art. 26, II;
VI - o mar territorial;
Igualmente, nossa Constituição Federal de 1988, no seu art. 26, relaciona os bens
dos Estados, quais sejam: as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes,
emergentes e em depósito, com a ressalva daquelas que se originem de obras da
União; as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio; as
ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União; as terras devolutas não
compreendidas entre as da União.
Essa relação não é taxativa, pois ao Estado também pertencem outros bens, como
os prédios estaduais, a dívida ativa, os valores depositados judicialmente para a
Fazenda Estadual entre outros.
Quanto à destinação dos bens públicos, temos três tipos: Bens de uso comum do
povo; Bens de uso especial e Bens dominicais. São bens de uso geral, que podem
ser utilizados livremente por todos os indivíduos.
Conforme o art. 99 de nosso Código Civil, bens comuns do povo são os mares, as
praias, os rios, as estradas, as ruas as praças, os logradouros públicos. Embora
sejam de uso comum do povo, é válido ressaltar que o Poder Público pode impedir,
restringir ou regulamentar o seu uso, conforme a necessidade e sempre para que
atinja o bem comum da sociedade.
Enquanto que os Bens de uso especial são aqueles utilizados pelo Estado, nos quais
são prestados serviços públicos, e a população tem acesso a eles conforme
necessitem dos serviços ali oferecidos.
Segundo Carvalho Filho (2014, p. 1164), são bens de uso especial: os edifícios
públicos, como as escolas e universidades, os hospitais, os prédios do Executivo,
Legislativo e judiciário, os quartéis e os demais onde se situem repartições
públicas; os cemitérios públicos; os aeroportos; os museus; os mercados públicos;
as terras reservadas aos indígenas etc. Estão, ainda, nessa categoria, os veículos
oficiais, os navios militares e todos os demais bens móveis necessários às
atividades gerais da Administração, nesta incluindo-se a administração autárquica,
como passou a constar do Código Civil em vigor, artigo 99, II.
Os bens de uso comum do povo e os bens de uso especiais são afetados e, portanto,
possuem a característica da desalienabilidade. Logo, não podem ser vendidos,
penhorados ou dados em garantia de dívida. Para que isso ocorra, devem ser
desafetados, o que somente ocorre por meio de uma lei própria.
Segundo nosso Código Civil, art. 99, III, os bens dominicais também são bens
públicos, os quais constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito
público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.
Estes bens podem ser vendidos, devendo-se observar apenas os ditames legais a
seu respeito (art. 101, CC).
Esclarecendo melhor o tema, Carvalho Filho (2014, p. 1165) ensina que são bens
dominicais as terras sem destinação pública específica (entre elas, as terras
devolutas), os prédios públicos desativados, os bens móveis inservíveis e a dívida
ativa. Esses é que constituem objeto de direito real ou pessoal das pessoas jurídicas
de direito público.
E, por fim os Bens patrimoniais disponíveis, que são os bens dominicais. Podem
ser alienados, desde que obedecidas as determinações legais.
Assim, a Imprescritibilidade compreende que são bens que não podem ser obtidos
por um particular através de usucapião, não importa quanto tempo o particular
utilize o bem (art. 183, § 3º, e art. 191, parágrafo único, ambos da CF).
Os bens públicos municipais de uso especial podem ser utilizados por particulares,
de acordo com o interesse da Administração Pública. A esta forma de utilização
chama-se cessão e é estabelecida através de ato administrativo e tem caráter de
exclusividade (BERNARDI, 2011, p. 75).
O cessionário, por não ser dono, não pode consumi-los, destruí-lo ou inutilizá-los,
mas apenas fazer uso do mesmo, de forma a não dilapidar o patrimônio público.
São diversas as formas de uso destes bens por particulares, quais sejam:
autorização, permissão, concessão, cessão de uso e concessão de direito real de
uso, e que pode se dá de forma onerosa ou mesmo gratuita, por tempo certo ou
indeterminado, por simples ato ou contrato administrativo.
Para que exista, basta uma simples autorização por escrito. Como no exemplo
citado pelo eminente professor BERNARDI (2011, p. 75): “a associação de
moradores solicita à diretora da escola que ceda o auditório, em determinado dia e
hora, para a realização de uma reunião”. Esta, atendendo ao pedido, expedirá um
documento de Autorização de Uso, informando os detalhes da autorização, como
data, horário e formas de utilização e responsabilização pelo particular, caso
venham a danificar algum móvel ou imóvel público, durante sua utilização.
É formalizada através de um ato próprio, que fixe as condições, que deverão ser
respeitadas pelo permissionário, caso contrário, o uso não será permitido. Sendo
um ato unilateral, a permissão pode ser revogada a qualquer tempo pela
administração, sem que gere indenização.
BERNARDI (2011, p. 77) salienta que deve haver uma Lei que estabeleça as
normas da concessão, na qual são expressas as formas e os critérios para que o
bem seja cedido a terceiros. A concessão não é um contrato precário ou
discricionário, pois obedece a regras fixas, que geram direitos e obrigações entre as
partes, devendo sempre o interesse público prevalecer.
Cessão de Uso uma medida gratuita de colaboração entre os entes da
Administração Pública, e ocorre quando a posse de um bem público é transmitida
de forma gratuita de um para outro órgão público, da mesma pessoa jurídica ou de
pessoa jurídica diversa, por tempo certo ou indeterminado, e a utilização do bem
deve se dar de acordo com condições preestabelecidas no termo próprio da Cessão
(BERNARDI 2011, p. 77).
Quando a cessão ocorrer entre órgãos da mesma pessoa jurídica não precisará de
autorização legislativa, por exemplo: entre órgãos de um Município. Mas quando
acontecer entre órgãos de esferas diferentes, por exemplo, entre Município e
Estado ou entre Estado e União, será necessária uma lei emanada pelo ente
cedente, autorizando a cessão. Como é de regra, apenas a posse do bem passa de
um órgão para outro, enquanto o domínio continua com o órgão cedente.
O direito oriundo da Concessão é transmissível por ato inter vivos ou causa mortis
(sucessão), sendo que os fins da concessão continuarão os mesmos, e pode reverter
ao ente que fez a concessão, caso não sejam cumpridas as finalidades estabelecidas
no contrato de concessão. “O instrumento de formalização pode ser escritura
pública ou termo administrativo, devendo o direito real ser inscrito no competente
Registro de Imóveis” (CARVALHO FILHO, 2014, p. 1199, apud MEIRELLES, p.
439).
Observa-se que quando a venda for de imóvel, deve haver uma lei autorizando o
negócio e a avaliação, e se perfazerá mediante licitação. Quando a venda for de
bens móveis, ela deve ser realizada mediante leilão.
Nossa Lei Civil, em seu artigo 538, considera doação como o contrato em que uma
pessoa, por liberalidade, transfere o seu patrimônio, bens ou vantagens para outra.
Também é um contrato civil.
Segundo o artigo 555 do nosso Código Civil, “a doação pode ser revogada por
ingratidão do donatário, ou por inexecução do encargo”. Isso pode ocorrer, por
exemplo, quando um ente da federação doa equipamentos, móveis ou veículos para
entidades assistenciais, e depois verifica-se que não estão cumprindo com os
deveres de donatários a que se incumbiram.
Por seu turno, a Dação em Pagamento, através da qual “o credor pode consentir
em receber prestação diversa da que lhe é devida.” Feito isso, “as relações entre as
partes regular-se-ão pelas normas do contrato de compra e venda.” (art. 366 e 367
do CC).
Outra forma de alienação dos bens públicos é a permuta, que ocorre quando as
partes entregam e recebem bens entre si. Estes bens não precisam,
necessariamente, ter o mesmo valor, e se não tiverem o mesmo valor, as partes
podem convencionar que a que recebeu o bem de valor inferior, receberá uma
contrapartida em dinheiro, ou seja, o troco (BERNARDI, 2011, p. 80).
Além disso, tem um caráter social em seu cerne, na medida em que abre a
possibilidade para o particular se utilizar de uma terra pública, a qual não teria
nenhuma serventia para a Administração. Assim fazendo, aquele terreno adquirido
por conta do instituto da investidura, passa a atender um fim social.
Destaque-se para esta questão que o Poder Público, ao reconhecer a posse legítima
do requerente, e confirmando que este preenche os requisitos fixados em lei,
reconhece sua posse e transfere a ele a propriedade da respectiva área, a qual era
integrante do patrimônio público.
Importante salientar que, além de prevista na nossa Constituição Federal (art.
188), a legitimação de posse também se encontra na Lei 6.383/1976, a qual ordena
que primeiramente seja concedido ao particular uma licença de ocupação, por um
prazo máximo de quatro anos, obedecendo a determinados critérios, que são: a) a
extensão máxima de 100 (cem) hectares; b) que nela o posseiro tenha morada
permanente; c) que o posseiro explore diretamente o cultivo da área, por meio do
trabalho seu e de sua família; e d) não seja proprietário rural.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando se entende melhor o tema ora discorrido, nosso olhar começa a ver mais
longe, como, por exemplo, passamos a notar que há muito abuso na ocupação dos
bens públicos pelos particulares, haja vista que nosso poder público geralmente
fiscaliza muito mal, o que dá ensejo a incontáveis invasões dos espaços públicos,
como as calçadas nas áreas comerciais, onde os comerciantes colocam mesas,
cadeiras, carrinhos de vendas etc., sem qualquer autorização ou permissão de uso
pelo poder público respectivo.
Por outro lado, sabemos que o mau uso dos espaços públicos ocorre
principalmente por culpa da própria administração, que não tem um bom
planejamento, principalmente para suprir a necessidade do terceiro setor.
Nossas estradas, ruas, avenidas, por exemplo, que são bens de uso comum do
povo, geralmente são mal planejadas e construídas também com materiais de
péssima qualidade, que não oferecem durabilidade, somente retratam a maneira
irresponsável que muitos gestores lidam com os bens públicos, que chega a ser sem
precedentes e não coaduna de forma alguma com os ditames constitucionais
previstos no art. 37, caput, de nossa Carta Magna, principalmente no quesito
“eficiência”.
É necessário que haja um grande debate com os gestores públicos do Brasil,
principalmente com os Prefeitos, Governadores e a Presidência da República, com
objetivo de discutir boas práticas de administração pública e também de conhecer
a maneira como algumas administrações tem lidado com esses problemas e os tem
vencido, ou seja, como eles tem conseguido ir na contramão dessa triste realidade
brasileira, e conseguiram fazer uma boa gestão pública.
REFERÊNCIAS
LEITE, E. O.; Direito Civil Aplicado; São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.