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01/04/2018 Löwy, Michael, Walter Benjamín: aviso de incêndio.

Uma leitura das teses ‘Sobre o conceito de História’

Ler História
55 | 2008 :
História Conceptual no Mundo Luso-Brasileiro. 1750-1850
Recensões

Löwy, Michael, Walter Benjamín:


aviso de incêndio. Uma leitura
das teses ‘Sobre o conceito de
História’
São Paulo, Boitempo, 2005, 160 páginas (tradução de Wanda
Nogueira Caldeira Brant; tradução das teses de Jeanne Marie
Gagnebin e Marcos Lutz Müller)

D S R
p. 213-218

Referência(s):
Löwy, Michael, Walter Benjamín: aviso de incêndio. Uma leitura das teses ‘Sobre o conceito de História’, São
Paulo, Boitempo, 2005, 160 páginas (tradução de Wanda Nogueira Caldeira Brant; tradução das teses de
Jeanne Marie Gagnebin e Marcos Lutz Müller).

Texto integral
1 Há um interesse crescente pela obra de Walter Benjamin nas últimas décadas, que
pode ser explicado, pelo menos em parte, pelo aumento do número de pesquisas, a
partir dos anos de 1980, sobre a história urbana e a organização do espaço urbano, em
que a leitura de sua grande e inacabada obra sobre as Passagens (de Paris no século
XIX) é recorrente. E em que os relatos de cronistas e poetas têm demonstrado um
campo fértil para a compreensão do espaço urbano (e da própria história) – tal como
ele chegou a demonstrar em muitos textos. Nesse ponto, não há como negar que a obra
de Walter Benjamin foi um marco. Do mesmo modo, o número de livros e artigos que
têm procurado interpretar o seu pensamento tem sofrido um fenómeno similar.
Todavia, uma das suas grandes preocupações, que foi justamente reflectir sobre como
interpretar o processo histórico, de modo a rascunhar uma verdadeira «filosofia da
história», cuja referência na sua obra são as teses «Sobre o conceito de História», ainda
é um tema pouco investigado – e na maioria dos casos aparece em capítulos ou em
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01/04/2018 Löwy, Michael, Walter Benjamín: aviso de incêndio. Uma leitura das teses ‘Sobre o conceito de História’

pequenas notas explicativas. É evidente que existem excepções, mas são ainda escassos
os trabalhos que se detêm especificamente neste tópico de sua obra, onde as teses
«Sobre o conceito de História» ocupam um lugar central.
2 Com a publicação do novo livro de Michael Löwy, Walter Benjamin: aviso de
incêndio1, há um avanço nesse tipo de investigação, das questões de teoria e filosofia da
história, ligada à sua obra. Por ser um autor já bastante conhecido, Michael Löwy
dispensa apresentações. O mesmo vale para o caso de Walter Benjamin, que nesta obra
foi seu objecto de estudo, com enfoque centrado na interpretação de suas teses «Sobre o
conceito de História». No entanto, deve destacar-se que este livro, ainda que de um
modo bastante peculiar, dá continuidade a reflexões iniciadas nos seus livros Redenção
e utopia (1989); Romantismo e messianismo (1990); Romantismo e política (1993);
Revolta e melancolia (1995) e Estrela da manhã: surrealismo e marxismo (2002).
3 De início, o autor esclarece que «não só us[ou] com frequência exemplos latino-
americanos – alguns brasileiros – para ilustrar os argumentos de Walter Benjamin,
como toda a leitura das teses ‘Sobre o conceito de História’ que propomos é inspirada,
até certo ponto, em uma perspectiva ‘latino-americana’ ou ‘indígena’» (p. 10), porque a
sua ênfase será a de indicar a actualidade das teses de Benjamin que, para o autor,
servem até como referência para se compreender a história latino-americana,
principalmente o período contemporâneo.
4 Para empreender essa investigação, o autor passou em revista as interpretações que
foram feitas sobre a obra de Walter Benjamin. Na França, diz ele, o enfoque tem sido
estudar a estética e a forma. Na Alemanha, principalmente, seus aspectos políticos e
filosóficos. Mas de modo geral: «Estamos habituados a classificar as diferentes
filosofias da história conforme seu caráter progressista ou conservador, revolucionário
ou nostálgico do passado. Walter Benjamin escapa a essas classificações. Ele é um
crítico revolucionário da filosofia do progresso, um adversário marxista do
‘progressismo’, um nostálgico do passado que sonha com o futuro, um romântico
partidário do materialismo. Ele é, em todas as acepções da palavra, ‘inclassificável’» (p.
14). Por outro lado, diz o autor: «A concepção da história de Benjamin não é pós-
moderna, antes de tudo porque, longe de estar ‘muito além de todos os relatos’ –
supondo que isto seja possível – ela constitui uma forma heterodoxa do relato da
emancipação: inspirando-se em fontes messiânicas e marxistas, ela utiliza a nostalgia
do passado como método revolucionário de crítica do presente. Seu pensamento não é,
então, nem ‘moderno’ (no sentido habermasiano) nem ‘pós-moderno’ (no sentido de
Lyotard), mas consiste sobretudo em uma crítica moderna à modernidade
(capitalista/industrial), inspirada em referenciais culturais e históricas pré-
capitalistas» (p. 15).
5 O que implica que a «filosofia da história de Benjamin se apoia em três fontes muito
diferentes: o Romantismo alemão, o messianismo judaico, o marxismo. Não se trata de
uma combinação ou ‘síntese’ eclética dessas três perspectivas (aparentemente)
incompatíveis, mas da invenção, a partir destas, de uma nova concepção,
profundamente original» (p. 17). Nesse sentido, um dos pontos altos do livro é a
maneira como o autor procurou reconstituir o itinerário de Benjamin, avaliando como
cada uma das três perspectivas o inspirou a elaborar uma nova filosofia da história, na
qual a história, o presente e o futuro, estão totalmente em aberto. Para ele o «objectivo
de Benjamin é aprofundar e radicalizar a oposição entre o marxismo e as filosofias
burguesas da história, aguçar seu potencial revolucionário e elevar seu conteúdo
crítico» (p. 30). No entanto, segundo ele: «Encontramos frequentemente na literatura
sobre Benjamin dois erros simétricos (…): o primeiro consiste em dissociar, por uma
operação (no sentido clínico do termo) de ‘ruptura epistemológica’, a obra de juventude
‘idealista’ e teológica daquela ‘materialista’ e revolucionária, da maturidade; o segundo
(…) encara sua obra como um todo homogéneo e de forma alguma leva em
consideração a profunda transformação produzida, por volta da metade dos anos 1920,
devido à descoberta do marxismo. Para compreender o movimento de seu pensamento
seria preciso, então, considerar simultaneamente a continuidade de alguns temas
essenciais e as diversas guinadas e rupturas que delimitam sua trajectória intelectual e
política» (p. 18).

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6 Por isso, uma das chaves de leitura encontrada por Löwy foi a «análise sobre [Johann
Jakob] Bachofen, escrita por Benjamin em 1935, [que] é uma das chaves mais
importantes para compreender seu método de construção de uma nova filosofia da
história a partir do marxismo e do romantismo» (p. 28). De acordo com Löwy, as «teses
‘Sobre o conceito de História’ (1940) de Walter Benjamin constituem um dos textos
filosóficos e políticos mais importantes do século XX» e no «pensamento
revolucionário talvez seja o documento mais significativo desde as ‘Teses sobre
Feuerbach’ de Marx» (p. 17).
7 Para realizar a sua interpretação das teses, teve de rever as discussões efectuadas por
outros autores, empreender uma leitura pormenorizada da obra de Benjamin e do seu
desenvolvimento até às «teses», e consultar a sua correspondência, procurando
compreender a forma como as «teses» foram elaboradas. Com base numa das cartas
trocadas entre Benjamin e Adorno, em 22 de Fevereiro de 1940, diz que o «positivismo
aparece assim, aos olhos de Benjamin, como o denominador comum das tendências que
ele vai criticar: o historicismo conservador, o evolucionismo social-democrata, o
marxismo vulgar» (p. 33).
8 Segundo ele, após a década de 1950, podem definir-se três escolas de interpretação
das «teses»: «1. A escola materialista: Walter Benjamin é um marxista, um
materialista consequente. Suas formulações teológicas devem ser consideradas como
metáforas (...) 2. A escola teológica (...) é antes de tudo um teólogo judeu, um pensador
messiânico. Para ele, o marxismo é apenas uma terminologia (...) 3. A escola da
contradição (...) tenta conciliar marxismo e teologia judaica, materialismo e
messianismo [mas por serem contraditórias, sua tentativa foi um fracasso] (...) [Por
isso] gostaria de propor (…) uma quarta abordagem: W. Benjamin é marxista e teólogo
(...) O objectivo das notas e dos comentários que se seguem não é ‘julgar’ as teses de
Benjamin, mas tentar compreendê-las» (pp. 36-7).
9 Nesse sentido, fez, nas suas palavras, uma análise «talmúdica» das «teses», ou seja,
palavra por palavra, frase por frase. Para a edição brasileira do livro, o autor optou pela
tradução das teses (que estão na íntegra no primeiro capítulo). E tal como outros
pesquisadores italianos têm feito, o autor acrescentou à «lista conhecida de teses uma
nova, que figura com o número XVIII».
10 O autor reconstituiu toda a trajectória de Benjamin até às teses, avaliando as
principais influências teóricas e metodológicas recebidas e destacando os autores que o
inspiraram directamente. Já na tese I demonstra que Benjamin procura lutar contra a
visão da história dos opressores, ao interpretar «correctamente» a história, e vencer o
próprio inimigo histórico, as classes dominantes, que em 1940 estavam representadas
no Fascismo.
11 Indica como as teses de Benjamin possuíam uma grande articulação e um verdadeiro
projecto, político e intelectual, de transformação social. Nesse caso, «escovar a história
a contrapelo», teria segundo Löwy um duplo sentido: um histórico, no qual se vai
contra a corrente da história oficial, demonstrando-lhe a tradição dos oprimidos; e um
político, em que a redenção/revolução não ocorrerá pela determinação de um «sentido
na história», mas por uma acção efectiva de luta contra a corrente.
12 A partir da tese XI, Löwy passa a demonstrar a actualidade das teses «Sobre o
conceito de História», com o exemplo «latino-americano», em que as classes
subalternas, as massas, se têm colocado contra o poder. Para ele, ao contrário do que
Marx havia pensado em o Dezoito Brumário, as massas não apenas podem ter por base
um futuro possível, mas também todas as acções do passado. Mas de «maneira análoga,
em sua acção presente, o revolucionário busca inspiração e força combatente na
rememoração e escapa, assim, do charme maléfico do futuro garantido, previsível e
seguro proposto pelos ‘adivinhos’ modernos» (p. 142). Para Löwy o «seu objectivo é
menos o de ‘decretar’ a revolução do que o de defender uma concepção de história como
processo aberto, não determinado antecipadamente» (p. 145). Portanto, as «teses de
1940 constituem uma espécie de manifesto filosófico (...) para a abertura da história
(...) para uma concepção do processo histórico que dá acesso a um vertiginoso campo
dos possíveis (...) sem no entanto cair na ilusão de uma liberdade absoluta: as condições
‘objectivas’ são também condições de possibilidade» (p. 147).

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01/04/2018 Löwy, Michael, Walter Benjamín: aviso de incêndio. Uma leitura das teses ‘Sobre o conceito de História’

13 Na obra de Benjamin, e principalmente nas teses «Sobre o conceito de História»,


percebe-se «um marxismo da imprevisibilidade: se a história é aberta, se o ‘novo’ é
possível, é porque o futuro não é conhecido antecipadamente; o futuro não é o
resultado inevitável de uma evolução histórica dada, o produto necessário e previsível
de leis ‘naturais’ da transformação social, fruto inevitável do progresso económico,
técnico e científico – ou o que é pior, o prolongamento, sob formas cada vez mais
aperfeiçoadas, do mesmo, do que já existe, da modernidade realmente existente, das
estruturas económicas e sociais actuais» (p. 149).
14 Se o presente e o futuro estão em aberto para Benjamin, de acordo com a
interpretação de Löwy, o passado também estaria. Por isso, quer «se trate do passado
ou do futuro, a abertura da história segundo Walter Benjamin é inseparável de uma
acção ética, social e política pelas vítimas da opressão e por aqueles que a combatem. O
futuro desse combate incerto e as formas que assumirá serão, sem dúvida, inspirados
ou marcados pelas tentativas do passado: serão igualmente novos e totalmente
imprevisíveis» (p. 159).
15 A leitura desta obra evidencia a complexa teia interpretativa que ligam as teses
«Sobre o conceito de História» de Benjamin, em direcção à emancipação dos
oprimidos, e demonstra o quanto são actuais, até para pensarmos a (nossa)
contemporaneidade «latino-americana». Pode-se até criticar a sua leitura das teses,
mas não há como negar os méritos inerentes a esse livro sugestivo e instigante.

Notas
1 O livro foi publicado originalmente na França em 2001. Foi editado no Brasil em 2005,
mantendo a mesma divisão em dois capítulos. No primeiro, com pouco mais de 110 páginas,
encontra-se a sua interpretação das teses «Sobre o conceito de História» de Walter Benjamin. O
segundo, com apenas 12 páginas, serve também como conclusão ao seu estudo.

Para citar este artigo


Referência do documento impresso
Diogo da Silva Roiz, « Löwy, Michael, Walter Benjamín: aviso de incêndio. Uma leitura das teses
‘Sobre o conceito de História’ », Ler História, 55 | 2008, 213-218.

Referência eletrónica
Diogo da Silva Roiz, « Löwy, Michael, Walter Benjamín: aviso de incêndio. Uma leitura das teses
‘Sobre o conceito de História’ », Ler História [Online], 55 | 2008, posto online no dia 16 Outubro
2016, consultado no dia 01 Abril 2018. URL : http://journals.openedition.org/lerhistoria/2307

Autor
Diogo da Silva Roiz
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – Brasil

Direitos de autor

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Internacional.

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