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O General Mourão e o pensamento militar brasileiro, por

Hugo Cortez
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Atualizado em 08/11/2017 - 09:52

Apresentação de Urariano Mota

Destaco do artigo: "o quê, além das habilitações marciais, estão ensinando/estudando nas instituições militares
de ensino brasileiras, principalmente no que diz respeito à alta oficialidade, que lhes garanta estarem á altura
das suas exigências de capacitação intelectual e conscientização de responsabilidades sociopolíticas no mundo
contemporâneo?"

O texto é de Hugo Cortez, ex-preso político, sociólogo e amante de jazz no Recife.

O General Mourão e o pensamento militar brasileiro, por Hugo Cortez

Em palestra proferida no dia 15 de setembro último em uma loja maçônica de Brasília, o general Antonio
Hamilton Mourão, Secretário de Economia e Finanças do Exército, fardado, em resposta a uma pergunta da
plateia, afirmando estar ali falando “como o Exército pensa”, declarou que seus companheiros do Alto Comando
da sua força entendem a possibilidade de uma intervenção militar no Estado nacional se “as instituições” não
derem um tratamento devido à corrupção dos políticos. Neste caso, os militares iriam impor a desejada
solução: a retirada da vida pública de todos os envolvidos.

O general Mourão exibiu uma postura que parece resistir ainda em um segmento da oficialidade das Forças
Armadas: a presunção de superioridade moral e funcional sobre o restante da cidadania e de constituírem
consciência suprema e árbitros últimos dos destinos nacionais. Só não informou qual a fonte de legitimidade
para tanta autoridade, pois nossa Constituição jamais prescreveu esta possibilidade.

A declaração do general repercutiu de imediato na grande imprensa, na mídia alternativa e nas redes sociais.
Personalidades, entidades e partidos políticos democráticos, cidadãos comuns manifestaram-lhe repúdio,
enquanto os que, por ideologia, interesses empresariais mesquinhos, oportunismo e/ou ignorância, aceitam
rebaixar a dignidade da cidadania e cortejam infamemente o autoritarismo, ansiosos por uma tutela castrense
da sociedade, se assanharam. Especulou-se se o general expressava realmente o pensamento do comando da
sua Força, se haveria em andamento uma conspiração militar para um golpe de Estado ou se ele estaria
apenas aproveitando a ocasião para exercer pressão, em função do cargo que ocupa, no objetivo de obter um
orçamento mais favorável para sua instituição.

O general Mourão conta, por sua patente, sem dúvida com um elevado nível de formação dentro da sua força.
Tem, entre outros, o Curso da Escola de Comando do Estado Maior e o Curso de Política Estratégica e
Administração do Exército, no qual foi vice-chefe do Departamento de Educação e Cultura, posição na qual
ajudou a comandar todas as escolas militares da força. Tem, também, o Curso Especial de Oficial de
Informações, Categoria A, da Escola Nacional de Informações (ESNI). Ademais, ao referir-se à possibilidade de
intervenção militar no Estado, ele fez o comentário – obscuro para a maioria dos cidadãos, pouco familiarizados
com a matemática – de que, tal como no caso da tábua de logaritmos, o Alto Comando do Exército, ele incluído,
estaria fazendo “aproximações sucessivas” sobre a situação político-institucional nacional para avaliar sua
conveniência. Traduzindo para a linguagem coloquial, estaria o Alto Comando do Exército desenvolvendo
estudos – quanto mais, melhor – para adquirir o nível mais exato possível de conhecimento desta situação que
lhe permita tomar a decisão mais adequada relativamente à eventualidade de um golpe de Estado.

Mas, o que esperar dos autopropostos agentes de uma missão tão elevada? O que pretende a cúpula de nosso
Exército para o Brasil? Há um projeto esboçado? Difícil saber, aqui de fora, o que pensa em seu conjunto,
consideradas as possíveis variante internas, o Alto Comando. Mas cremos que, ao brindar-nos com sua

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palestra na loja maçônica, o general Mourão forneceu-nos uma amostra do que certamente deve representar
não somente seu pensamento, como também o pensamento provável de uma facção dos seus camaradas de
farda.

Com toda sua formação, carreira e envolvimento atual nas atividades da cúpula do Exército, empenhada neste
momento, segundo ele, em buscar alternativa para o Brasil, para além do episódio da sua admissão
desafiadora da sublevação militar, e por conta deste mesmo, cremos que é bem o caso de aproveitarmos a
oportunidade e nos debruçarmos sobre o que pensa o general Mourão? Qual sua cosmovisão, ou visão de
mundo (weltanschauung), esta capacidade necessária e importante para quem se põe a cargo de grandes
missões históricas?

Cremos que é justo pensar que podemos, então, neste sentido recorrer, como peça de referência, à palestra do
general Antonio Mourão na loja maçônica. Certamente pode-se ponderar que é precipitado avaliar o
pensamento do general com base em apenas uma palestra sua, proferida numa circunstância muito específica,
mas também pode-se argumentar que, qualquer que seja sua limitação, em revelando escolhas e em tendo sido
pública, dela só se pode esperar que tenha expressado, em algum nível mas com o máximo de fidelidade, o
pensamento de alguém com o nível de responsabilidade institucional do orador. Então, destaquemos nela
momentos que, avaliamos, merecem atenção especial.

Durante 52 minutos, recorrendo a um roteiro geral apresentado em uma projeção em Power Point, o general,
após uma breve introdução, expôs, em primeiro lugar, o que ele chamou uma “análise de conjuntura” do mundo
atual, que ele mesmo denominou “um mundo cataclísmico”, fortemente marcado por conflitos dos mais
diversos, desafiador e em constante mutação. Em seguida, expressou suas ideias sobre o que deve ser o
“Estado moderno” e, finalmente, apresentou suas conclusões. Após o que respondeu a perguntas da plateia.

Logo de início, ressaltando ser antigo e “eterno integrante da atividade de inteligência”, o expositor cita frase de
John Foster Dulles, ex-Secretário de Estado norte-americano: “inteligência é o mesmo que clarividência, é um
tipo de ofício profissional de profetizar”. Sem entrarmos no mérito da citação, consideramos que é, no mínimo,
estranho - emblemático? – que um oficial militar de máxima patente brasileiro tenha começado assim sua
exposição, abrigando-a sob a égide do pensamento de alguém que foi integrante destacado da cúpula de uma
superpotência estrangeira, figura de destaque da Guerra Fria. Já expondo sua visão global de conjuntura, o
general aponta a “hegemonia militar de uma hiperpotência militar, tecnológica e econômica”, os EUA e diz que
não podemos ser “xenófobos” com relação a isto. Mas não esboça qualquer delineamento do caráter e do papel
do Estado norte-americano hoje. Nem define o que entende por “xenófobo”. Não tece qualquer comentário, em
contraste, sobre a importância geopolítica estratégica do Brasil e sua desejável inserção no contexto
internacional. Paira no ar a ideia de submissão e atrelamento. Diz que, num mundo conflagrado, a qualquer
momento “o flagelo da guerra pode nos atingir”, mas não identifica de onde pode vir a agressão e quais seus
prováveis motivos.

O general ressalta que todos os países hoje dependem de “sistemas integrados de alta tecnologia”, para os
quais é fundamental a energia, podendo-se daí deduzir a importância da posse por um país de grande número
de fontes energéticas, como é o caso do Brasil que, por isto, desperta “olho grande” no exterior. Contudo,
manteve silêncio sobre as privatizações dos Sistemas Telebrás e Eletrobrás, de enormes importâncias
estratégicas. E omitiu a possibilidade da privatização da Petrobrás, dias depois anunciada pelo governo Temer
(faltou-lhe a informação sobre a intenção?!). Zero comentário sobre as gigantescas jazidas do pré-sal. Fala de
“ameaças transnacionais”, citando, entre elas, o “terrorismo”, categoria na qual tomou como exemplos os
protestos sociais nas formas de “queima de ônibus” e “bloqueios de estradas”. Refere-se ainda ao “crime
organizado”, “às migrações ilegais”, à possibilidade de colapso do sistema financeiro, “fluxo de capitais ilícitos”,
“espionagem”, “gap tecnológico’, “catástrofes ambientais e climáticas”, sem, contudo relacionar os papéis dos
Estados nacionais com relação a todo este elenco.

Para ele, os conceitos de esquerda e direita são anacrônicos e no Brasil os políticos não merecem confiança
porque dizem aquilo que as pessoas querem ouvir, enganam a população e não têm compromisso com a
nação. É difícil acreditar que tenha, ocupando o cargo que ocupa, uma visão tão simplória da política e dos
políticos brasileiros, bem como das nossas esferas de decisão de Estado, típica de setores desinformados da
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população. No item “As Grandes Guerras de Hoje” não cita as agressões intervencionistas das grandes
potências no interesse do controle de fontes de abastecimento energético (Afeganistão, Iraque, Síria, etc.). As
migrações desesperadas de africanos para a Europa têm como origem “guerras climáticas” (o que supõe que é
meramente o clima que as provoca, desconsiderando todo o passivo histórico degradante dos colonialismos e
imperialismos europeus na África).

Tratando da América do Sul, afirma que ‘somos carentes de líderes e de estratégias de desenvolvimento
sustentado” omitindo na história recente os significados das emergências de dirigentes democrático-populares
como, p.ex., Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa e Lula. Refere-se aos “excluídos” do subcontinente,
porém não formula-lhes o perfil nem identifica as causas históricas da exclusão. Trata com aversão a “turma” do
Fórum de São Paulo, articulação de partidos e organizações políticas de esquerda do continente latino-
americano, qualificando-o de “diplomacia paralela”. “Esse pessoal não desiste nunca!”, diz, evidenciando sua
abominação da esquerda.

O Brasil, com “porte estratégico significativo”, viveria uma “crise política, econômica e social”, com baixa
representatividade dos poderes da República, “proliferação de partidos que não representam ninguém” e
índices preocupantes de corrupção”. Mais adiante, ele acrescentaria que nossa sociedade é “carente de coesão
cívica”, anímica (sic) – quis certamente dizer “anêmica” – e lamentaria nosso Estado ser ”partidarizado”, o que
levaria ao “loteamento de cargos”. Invectiva a Constituição Cidadã de 1988 – “que regula do alfinete ao
foguete”, gracejou ele – estaria “cheia da palavra direitos” e registraria pouquíssimas vezes a palavra
deveres. Seria ela o início do “nosso furacão Harvey”, ou seja, de uma onda de devastação que teria flagelado
nosso país até hoje.

Reservou unicamente comentários negativos retirados do cahier de doléances dos neoliberais, ao período
virtuoso em termos econômicos e sociais que viveu a nação durante os governos Lula e Dilma, aos quais em
certo momento se refere depreciativamente como “essa dupla”, sem consideração pelo fato de que ambos
foram chefes de Estado, democraticamente eleitos e reeleitos, aos quais deveu respeito e obediência. Se
alguém esperava tratamento analítico qualificado do ponto de vista sociopolítico sobre os quase catorze anos
de governos do PT, frustrou-se: o discurso pauta-se pela censura unilateral e exala claras ironia e jocosidade,
não esclarece ninguém. O general não se detém numa análise mais aprofundada, não faz balanço entre perdas
e ganhos, não alude a recuos e avanços, não reconhece iniciativas estratégicas, não levanta hipóteses, não
consulta: ele só enxerga negatividade.

Passando à caracterização do que entende por “O Estado Moderno”, o general enumera, primeiro, as “pressões
sobre o Estado”, que seriam: “o aumento das demandas sociais”; “a redução da (sua) capacidade financeira
(crise fiscal)”, tratada como uma fatalidade e não como resultado de uma crise econômica eventual; as
“pressões do cidadão-cliente”, utilizando aqui uma estranha expressão que denota uma visão que confunde o
atendimento à cidadania com relações de mercado; “a extensão dos direitos sociais como fator
desestabilizador” e “a reação à cultura burocrática e à má qualidade do serviço público”.

Em sequência, elenca os “fundamentos econômicos” que recomenda para o Brasil: “disciplina fiscal e
priorização dos gastos, reforma tributária e liberalização financeira, regime cambial e liberalização comercial,
investimentos estrangeiros, privatizações, desregulação e propriedade intelectual.” Pode-se perceber com
clareza sua afinação com a agenda neoliberal em aplicação pelo governo Temer e tão cara aos segmentos
hegemônicos da nossa elite econômica e ao capital internacional. Mas importa ressaltar que, ao se referir aos
investimentos estrangeiros, ele diz que não devemos temê-los, termos medo de que venham a tomar a
Amazônia, que venham a ocupar as terras de fronteira. Nem neste momento, nem em qualquer outro da
palestra ele irá citar a “Operação América Unida”, reunindo tropas dos Exércitos do Brasil, Peru, Colômbia e
EUA, a realizar-se de 6 a 13 deste novembro na cidade trifronteiriça de Tabatinga, liderada pelo Comando de
Logística do Exército Brasileiro sob a iniciativa “Amazon Log 2017” concebida pelo governo Temer. A operação
divide os militares, uma parte deles argumentando que ensinar um exército estrangeiro a combater em território
nacional deveria ser visto como “alta traição”.

“Privatizações, sim!”, diz o general, e acrescenta que se temos dificuldade de poupança interna, recorramos à
externa. E mais uma vez nada comenta sobre os casos da Telebrás e Eletrobrás, assim como sobre a
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Petrobrás.

E seguindo na senda neoliberal, ignora o Estado desenvolvimentista, formulador de políticas econômicas


anticíclicas de tipo keynesiano, e declara que precisamos transformar o Estado brasileiro, “de um Estado de
serviço, produtor de bem público, em um Estado que serve de garantia à produção do bem público. (...) O
Estado tem que encolher para fazer isto.” E como superar a atual situação? Destacamos da sua fórmula de
sucesso um ponto: a “reforma moral” (dos valores da sociedade), nela incluída “a maior de todas as reformas”,
a “reforma cultural”, assim justificada: “nós (referindo-se aos brasileiros) carregamos dentro de cada um uma
herança cultural tripla”: a “ibérica”, associada ao privilégio e à sinecura, “todo mundo quer se dar bem”, “a
indígena, que é a da indolência,” e a “africana, que é a da magia, de que tudo vai dar certo, (...) a
malemolência, o samba, ‘nós somos o melhor’, a embaixadinha...”. “Nós temos que romper este ciclo.”
Inacreditável! Neste instante, o general parece estar perdido em preconceitos elitistas de séculos passados!
Despreza a historiografia nacional, em especial no que trata dos povos indígenas e da escravidão. Caberia
perguntar-lhe como nosso país chegou à condição de uma das maiores economias e de um dos maiores
celeiros de cultura mundiais com uma população com os vícios de que ele nos acusa.

Contudo, afirma com orgulho que seus camaradas das forças armadas estão em constante aperfeiçoamento,
com cursos em sequência nas suas carreiras, nos quais lhes são transmitidos não somente conhecimentos,
mas também valores exemplares. Garantia da boa e disciplinada execução de suas tarefas. É o caso de
perguntar: o quê, além das habilitações marciais, estão ensinando/estudando nas instituições militares de
ensino brasileiras, principalmente no que diz respeito à alta oficialidade, que lhes garanta estarem á altura das
suas exigências de capacitação intelectual e conscientização de responsabilidades sociopolíticas no mundo
contemporâneo?

Da palestra do general Antonio Mourão, pode-se claramente perceber uma incapacidade de lidar com as
grandes questões do mundo atual, um enquadramento ilusório de temas impregnado de viés ideológico
reacionário, preconceitos, alheamentos e presunção. Um ancoramento no passado. Uma dificuldade de
identificar novos cenários, novas ameaças, novos desafios e novos papéis, de conceder às forças armadas de
um país com o significado geopolítico do Brasil uma nova agenda consoante com os novos tempos. Em
nenhum momento, o general delineia um roteiro democrático para nossa sociedade, de modo a ampliar e
viabilizar a participação do povo na definição dos seus destinos, que admita os conflitos de interesses de
classes inerentes a qualquer nação capitalista e, com base nesta admissão, formule procedimentos para
superação das desigualdades e maior justiça social com liberdade.

Se admitirmos, como prescreve o general, a necessidade de uma reforma social e cultural do país, tal tarefa
exigiria, logicamente, primeiro um diagnóstico sócio-político-econômico da nossa realidade que fundamentasse
as opções e decisões a serem tomadas. Isto elevaria seus promotores à condição de estudiosos sociais. O
sociólogo norte-americano Wright Mills, no seu livro A Imaginação Sociológica, disse que “a História é a
medula do estudo social”. Também disse que se o estudioso/cientista social desejar trabalhar e, portanto, agir
de forma consciente deveria “primeiro localizar-se dentro da vida intelectual e da estrutura sócio-histórica de
sua época”. Portanto, na hipótese de uma “reforma” social entre nós promovida pelos militares, haveria que
retificar muito do pensamento do general Mourão e dos seus pares que lhe sejam afins, tentados a eleger ideias
simplórias e equivocadas, como a do determinismo geográfico (“guerras climáticas”) ou do determinismo
biológico (caráter determinado pela raça/cor da pele ou origem étnica), em substituição a causas
complexamente históricas. E, sobretudo, haveria que estabelecer um diálogo intenso nas áreas das ciências
econômica, social e política em geral entre o conjunto dos integrantes das nossas forças armadas e o mundo
intelectual nacional e internacional, pois, a julgar pela palestra do general Mourão, aquele está bem distanciado
deste, parece julgar-se autossuficiente e nem mesmo considera as produções da Universidade e das muitas
instituições de pesquisa públicas federais brasileiras (IBGE, IPEA, INEP, Fundação Joaquim Nabuco, ...). O
general erige seu pensamento prevalentemente na esfera da segurança e inteligência nos moldes das matrizes
ideológicas dos setores relacionados à política externa dos EUA.

Certamente, os militares que pretendam contribuir para transformar num rumo saudável a nação brasileira,
terão que promover um caráter altivo para nosso Estado, manter distância da órbita dos interesses estratégicos
norte-americanos, incorporando a consciência do novo cenário internacional e do significado e da importância
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do trajeto que vivenciamos de avanços sociais e democráticos em nossa sociedade desde a promulgação da
Constituição de 1988.

Terão que reconhecer que vivemos num mundo de emergente multipolaridade, no qual os EUA ainda são a
maior potência, mas onde cada vez mais manifestam e afirmam seus interesses específicos a Europa, a China
e a Rússia. Os conflitos vêm se aguçando por conta da disputa de fontes energéticas e de insumos e minerais
estratégicos. Os EUA tornam-se cada vez mais agressivos e patrocinam – mediante pactos militares como a
OTAN e contando com a cedência e conivência covardes da ONU – intervenções políticas e militares em
nações soberanas, como nos casos da Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, Venezuela... A cobiça pela Amazônia,
com suas biodiversidade e reservas minerais estratégicas, é bastante evidente entre as grandes potências. Não
podemos tratá-la com ligeireza. Como também não podemos subestimar a cupidez com que olham para as
jazidas do pré-sal. No Brasil, encontram-se as maiores reservas de água-doce do mundo, tanto no que respeita
às águas de superfície quanto às subterrâneas, ressaltando-se o Aquífero Guarani, riqueza inestimável da
nossa nação. Cada vez mais elas adquirem importância estratégica, o que não escapa aos olhos do mundo.
Precisamos defender a “Amazônia Azul”, nosso mar territorial de 4,5 milhões de km², rico em minerais e
biodiversidade.

Por outro lado, a economia global vive sob o domínio do capital financeiro, estéril, perverso exaustor e
concentrador das riquezas tão sacrificadamente produzidas pelos povos, especulador, gerador de profundos
desequilíbrios internacionais, corruptor da vida política das nações mediante a cooptação de governos, partidos
e personalidades e a encomenda de legislações favoráveis. A ideologia que lhe corresponde é o neoliberalismo,
que desarma os Estados nacionais retirando-lhe a capacidade de promoção e defesa dos interesses legítimos
dos povos. Não podemos deixar-nos enredar na sua armadilha ideológica.

Precisamos de um Estado nacional democrático, soberano e forte no exercício das funções que lhe forem
atribuídas. No mundo contemporâneo, um Estado assim só pode ser um Estado de ampla participação popular,
onde o povo defina os destinos pátrios, em que se vivenciem as mais amplas liberdades democráticas de forma
substantiva. Um Estado que promova a elevação do nível de consciência política popular.

Um Estado que tenha, com relação às outras nações, uma compreensão sólida da sua envergadura geopolítica
e de suas responsabilidades históricas, que resulte numa postura diplomática altiva, intimorata frente às
grandes potências, sempre ativa no sentido da defesa e da implementação dos nossos interesses legítimos,
solidário às demais nações, em especial àquelas mais pobres, e promotora e coparticipante de acordos
internacionais de benefícios comuns.

Um Estado indutor do desenvolvimento socioeconômico, preocupado com o planejamento integrado interno de


suas ações, voltado para o estímulo às atividades produtivas, a preservação e o fortalecimento das suas
empresas estratégicas, a valorização do trabalho, a promoção de políticas redistributivas de renda e riqueza, a
ampliação e o fortalecimento da nossas infraestruturas produtiva e social, a promoção e bem-estar social do
nosso povo, a elevação dos nossos níveis educacionais, o progresso da ciência e da tecnologia, o
fortalecimento da cultura, o atendimento público de saúde de qualidade, o fortalecimento das Forças Armadas,
o desenvolvimento de projetos estratégicos de segurança e defesa nacional, a observância de princípios de
justiça e direitos humanos, a superação das desigualdades regionais, a promoção da igualdade entre sexos e
cores de pele, o respeito e a não discriminação das opções de sexualidade, a reforma agrária, a garantia e
regularização das terras indígenas e dos quilombolas, a preservação das reservas naturais, o cuidado com o
meio ambiente, a garantia da segurança alimentar e nutrição adequada do povo, a garantia de uma habitação
digna para todos, a democratização da comunicação e outros objetivos progressistas elegíveis pela cidadania
ativa, todos a serem considerados sagrados entre nós.

Não temos necessidade de quarteladas, que só podem nos trazer o autoritarismo, o retrocesso político e social,
o sufocamento da liberdade, o abastardamento do sentimento da justiça, o sofrimento das arbitrariedades, o
rebaixamento da condição humana e outras mazelas a serem, na verdade, brindadas como oferendas de
sacrifício popular nos altares dos capitais, nacionais e estrangeiros, sequiosos de mais riquezas. Se alguém
deseja uma saída justa para a atual crise brasileira, tal saída só poderá se obter com o povo, pelo povo, para o
povo. Um povo do qual devemos nos orgulhar pelo seu cabedal de realizações e do qual há que reconhecer os
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ingentes sacrifícios. Povo resultante do caldeamento de gente oriunda de diversas origens étnicas, que logrou
legar à humanidade grandes contribuições na História, na política, nas artes, na literatura, nas ciências, nos
esportes. Povo que pode muitíssimo mais do que imagina o general Mourão com sua imagem caricata,
depreciativa, da “herança cultural tripla”.

As escolas militares brasileiras têm a necessidade e a obrigação urgentes de, superando preconceitos, se
aproximarem mais da nossa universidade e das nossas instituições de pesquisa e estudos públicas, federais e
estaduais, na área das humanidades, a exemplo do que já vem sendo feito na área da energia nuclear, de
modo a obterem um upgrade na sua concepção de mundo. É com o dinheiro público que todas elas são
financiadas, e é de se esperar que suas atividades e produções venham a ser integradas e marcadas por um
intercâmbio de saber com espírito público que só poderá lhes ser profícuo. Não podem prescindir do recurso à
ampla diversidade de fontes de informação e reflexão e ao intercâmbio e debate rico de ideias com o ambiente
intelectual exterior. Esta é uma prática que nossas forças armadas desconhecem e vêm desprezando,
aferradas a uma postura anticomunista, antiprogressista e mesmo anti-intelectual grosseira, nociva à
nacionalidade.

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