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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS


DEPARTAMENTO DE DIREITO PROCESSUAL E PROPEDÊUTICA

Prof. Msc Paulo Leão


2016.2

DIREITO PROCESSUAL PENAL I

Roteiro de aula 05

1 JURISDIÇÃO

1.1 Mecanismos de solução de conflitos:


A jurisdição é um dos instrumentos de solução de conflitos; são também
instrumentos de solução de conflitos: i) autotutela: caracteriza-se pelo emprego da força
bruta para satisfação de interesses; subjulgamento de uma parte em face da outra. Em
regra, a autotutela não é permitida, de modo que normalmente o emprego da força bruta
para satisfação de seus próprios interesses constitui crime (art. 345, CP – exercício
arbitrário das próprias razões). Excepcionalmente, se admite o emprego da autotutela,
nas situações expressamente previstas pelo Ordenamento (Art. 345 - Fazer justiça pelas
próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite).
Exemplo destas hipóteses excepcionais em que permitida o emprego da autotutela são o
estado de necessidade, a legítima defesa, o desforço imediato na defesa da posse; um
exemplo processual é a prisão em flagrante. ii) autocomposição, que se caracteriza pela
busca do consenso entre as partes. Art. 98, I, CF – traz a previsão dos juizados especiais
criminais com previsão para realizarem a conciliação (ou seja, a própria CF permite a
realização de transações em infrações penais de menor potencial ofensivo –
contravenções e crimes cuja pena máxima não seja superior a dois anos). Lembrar que a
Lei dos Juizados só permite a transação de penas não privativas de liberdade, ou seja, a
transação tem que versar sobre pena restritiva de direitos ou multa (art. 76, L. 9.099/95 =
“havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública incondicionada,
não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá propor a aplicação de pena
restritiva de direitos ou multa”). O que não se admite é transacionar para aplicar pena
restritiva de liberdade, uma vez que a liberdade é ‘bem’ indisponível. iii) jurisdição é o
mais importante meio de solução de conflitos. Na jurisdição se coloca a solução do
conflito nas mãos de terceiro imparcial (o Estado).
Obs.: Vale atentar que, ao contrário do processo civil, no processo penal
SEMPRE há a participação do Estado-Juiz em todos os mecanismos de solução de
conflitos. Ex.: no âmbito cível há a arbitragem, na qual não se faz necessária a presença
do Estado na solução do conflito, exceto quando se passa à fase executória.

1.2 Conceito

Jurisdição é a função do Estado (exercida em regra pelos órgãos jurisdicionais),


mediante a qual o julgador se substitui aos titulares dos interesses em conflito para aplicar
o Direito em cada caso concreto (Note bem: a jurisdição não é única e exclusivamente do
judiciário – o Senado, por exemplo, julga o presidente por crime de responsabilidade).
Uma vez violada a norma penal surge para o Estado o direito de punir concretamente a
infração através da aplicação de uma pena . Esse direito só pode ser exercido perante o
órgão jurisdicional competente por meio de um processo que assegure ao acusado todas
as garantias constitucionais.
O objetivo da jurisdição é a pacificação social.

1.3 Características da jurisdição

Dentre outras podemos destacar as seguintes: (a) inércia da jurisdição (ne


procedat iudex ex officio); (b) definitividade das decisões, que se dá pela coisa julgada; (c)
esgotamento de modo que não pode haver dupla apenação pelo mesmo fato delituoso
(não há revisão criminal pro societate); (d) substitutividade, segundo a qual o órgão
julgador se substitui às partes na solução da controvérsia; (e) lide, no processo penal
sempre haverá uma pretensão resistida, pois que é da natureza das coisas, ainda que
confesse, a resistência do réu à sanção penal.

1.4 Princípios sobre jurisdição

a) PRINCÍPIO DA INVESTIDURA – a jurisdição só será exercida por


quem tenha sido regularmente investido na autoridade do juiz e esteja em exercício.
Dois modos: concurso público e quinto constitucional por indicação do Chefe do
Executivo competente.

b) PRINCÍPIO DA UNIDADE – a jurisdição é única, sendo uma atividade


estatal. A jurisdição é compartilhada entre todos e cada juiz julga de acordo com a sua
competência. COMPETÊNCIA é o poder conferido a cada juiz de poder decidir
determinados litígios. Logo, todo juiz é dotado de juridição, podendo não ser de
competência.

c)PRINCÍPIO DA INDECLINABILIDADE DA JURISDIÇÃO – o juiz competente


não pode declinar do dever de proferir a decisão do caso: o juiz tem que julgar. Cuida-
se de uma verdadeira proibição do non liquet , dispondo o ordenamento jurídico de
instrumentos para solver a controvérsia, seja no campo do direito (Art. 126 do CPC),
seja no campo da prova (ônus da prova). Assim, não existe SENTENÇA BRANCA, no
DPP brasileiro. A sentença branca ocorre quando o juiz delega para o TRIBUNAL a
decisão de um tema que versa sobre TRATADOS INTERNACIONAIS. Isso existe em
alguns países da Europa, em relação ao direito comunitário.

d) PRINCÍPIO DA INDELEGABILIDADE DA JURISDIÇÃO – o juiz não


pode delegar a função de julgar, o juiz pode delegar ATOS PROCESSUAIS, p. ex.,
carta de ordem (antes aqui tinha precatória; precatória não pode ser tido como
exemplo, vez que a sua expedição se dá justamente por faltar competência ao juiz
deprecante para praticar o ato; logo, não se delega competência que não se possui). É
cabível a delegação aos servidores da vara de atos de administração e de mero
expediente sem caráter decisório (art. 93, XIV, da CR/88, como intimação do autor
para se manifestar sobre algum documento. Outro exemplo: atos processuais
instruntórios de processos de competência dos Tribunais; art. 102, I, m, da CF/88.

e) PRINCÍPIO DA INDERROGALIBIDADE OU IMPRORROGABILIDADE


DA JURISDIÇÃO – o juiz competente não pode invadir a jurisdição alheia. Há exceção
no que se refere à competência territorial. É regra absoluta? Não, é relativa. Há
hipóteses de prorrogação. Ex.: no caso de incompetência relativa, como é o caso da
territorial. Crime ocorrido na comarca “A” pode ser julgado na comarca “B”, desde que
o juiz aceite a competência e desde que a defesa não ingresse com a declinação do
foro no prazo legal. Assemelha-se ao princípio da ADERÊNCIA AO TERRITÓRIO, pois
cada juiz só exerce a sua autoridade nos limites do território sujeito por lei a sua
jurisdição.

f) PRINCÍPIO DA INEVITABILIDADE – Significa que a autoridade dos órgãos


de jurisdição, sendo uma emanação do próprio poder estatal soberano, impõe-se por
si mesma, independentemente da vontade das partes

g) PRINCÍPIO DA IRRECUSABILIDADE DO JUIZ NATURAL – o juiz


natural é irrecusável, salvo motivo justificado. Juiz natural é o juiz competente para o
caso concreto, ou seja, é o juiz previamente definido na lei ou na Constituição para
exercer no caso específico a sua parcela de jurisdição (CF, art. 5º, inc. XXXVII e LIII).
Diversas garantias emanam do princípio do juiz natural:

 está proibido no Brasil juízo ou tribunal de exceção (tribunal de


exceção é um órgão criado após a prática do delito especificamente para julgá-lo).
No plano internacional, o Tribunal Penal Internacional surgiu justamente como uma
alternativa para tentar extirpar dos ordenamentos jurídicos a mácula do tribunal de
exceção, como o Tribunal de Nuremberg, criado após a IIGM para julgar os oficiais
nazistas; embora tribunal de exceção, ad hoc, pos factum, sua legitimidade se
baseou num direito natural prévio de justiça que as vítimas do conflito tinham desde
antes mesmo de sua eclosão, logo, não teria sido o Tribunal criado após a guerra,
pelo menos, não juridicamente;
 Regras de proteção, como: i) só pode exercer jurisdição os órgãos
instituídos pela CF; ii) entre os juízes pré-constituídos, vigora uma ordem taxativa de
competências, que impede qualquer discricionariedade na escolha do juiz
(competência não pode ser escolhida, até porque é distribuída por lei).
 a irrecusabilidade do juiz natural, salvo motivo fundamentado. Ex.: juiz
suspeito ou impedido ou corrupto (subornado). Nesses casos é possível recusar o
juiz (via exceção de suspeição).

Lei processual que altera a competência e sua aplicação: lei que altera a
competência tem aplicação imediata aos processos em curso? É bem verdade que o
critério de aplicação da lei processual é a aplicação imediata (art. 2º, CPP: “A lei
processual penal aplicar-se-á desde logo...”). A lei que altera a competência tem
aplicação imediata para os fatos praticados após sua vigência; porém, para a
jurisprudência, lei que altera a competência tem aplicação imediata inclusive aos
processos em andamento, salvo se já houver sentença relativa ao mérito, hipótese
em que o processo deverá seguir na jurisdição em que a decisão foi prolatada (STF,
HC 76.510). No sentido de que a criação de vara especializada provoca o
deslocamento da competência para processamento e julgamento da vara comum
para a vara especializada, HC – 86.660 (STF – Plenário) e HC-85060 (STF - 1ª
Turma).

Ao aplicar o precedente firmado no julgamento do HC 88660/CE (j. em


15.5.2008), no sentido de não haver afronta ao princípio do juiz natural na
especialização de varas e na conseqüente redistribuição dos processos, ainda que já
tenha havido decisões do juízo originalmente competente, a Turma, em conclusão de
julgamento, indeferiu habeas corpus no qual condenado por formação de quadrilha
(CP, art. 288) e gestão fraudulenta de instituição financeira (Lei 7.492, art. 4º) requeria
a nulidade do processo penal, sob alegação de ofensa ao aludido princípio
constitucional (CF, art. 5º, XXXVII e LIII) — (...) v. Informativo 395. HC 85060/PR, rel.
Min. Eros Grau 23.9.2008. (HC-85060)

Ainda sobre o tema: “Ementa: Direito Processual penal. Direito Constitucional.


Ação Direta de Inconstitucionalidade. Criação, por Lei estadual, de Varas
especializadas em delitos praticados por organizações criminosas. – Previsão de
conceito de “crime organizado” no diploma estadual. Alegação de violação à
competência da União para legislar sobre matéria penal e processual penal.
Entendimento do Egrégio Plenário pela procedência do pedido de declaração de
inconstitucionalidade. – Inclusão dos atos conexos aos considerados como Crime
Organizado na competência da Vara especializada. Regra de prevalência entre juízos
inserida em Lei estadual. Inconstitucionalidade. Violação da competência da União
para tratar sobre Direito Processual Penal (Art. 22, I, CRFB). – Ausência de ressalva
à competência constitucional do Tribunal do Júri. Violação ao art. 5º, XXXVIII, CRFB.
Afronta à competência da União para legislar sobre processo (art. 22, I, CRFB). –
Criação de órgão colegiado em primeiro grau por meio de Lei estadual. Aplicabilidade
do art. 24, XI, da Carta Magna, que prevê a competência concorrente para legislar
sobre procedimentos em matéria processual. Colegialidade como fator de reforço da
independência judicial. Omissão da legislação federal. Competência estadual para
suprir a lacuna (art. 24, § 3º, CRFB). Constitucionalidade de todos os dispositivos que
fazem referência à Vara especializada como órgão colegiado. – Dispositivos que
versam sobre protocolo e distribuição. Constitucionalidade. Competência concorrente
para tratar de procedimentos em matéria processual (Art. 24, XI, da CRFB). –
Atividades da Vara Criminal anteriores ou concomitantes à instrução prévia. Alegação
de malferimento ao sistema acusatório de processo penal. Interpretação conforme à
Constituição. Atuação do Judiciário na fase investigativa preliminar apenas na função
de “juiz de garantias”. Possibilidade, ainda, de apreciação de remédios constitucionais
destinados a combater expedientes investigativos ilegais. – Atribuição, à Vara
especializada, de competência territorial que abrange todo o território do Estado-
membro. Suscitação de ofensa ao princípio da territorialidade. Improcedência. Matéria
inserida na discricionariedade do legislador estadual para tratar de organização
judiciária (Art. 125 da CRFB). – Comando da lei estadual que determina a
redistribuição dos inquéritos policiais em curso para a nova Vara. Inexistência de
afronta à perpetuatio jurisdictionis. Aplicação das exceções contidas no art. 87 do
CPC. Entendimento do Pleno deste Pretório Excelso. – Previsão, na Lei atacada, de
não redistribuição dos processos em andamento. Constitucionalidade. Matéria que
atine tanto ao Direito Processual quanto à organização judiciária. Teoria dos poderes
implícitos. Competência dos Estados para dispor, mediante Lei, sobre a redistribuição
dos feitos em curso. Exegese do art. 125 da CRFB. – Possibilidade de delegação
discricionária dos atos de instrução ou execução a outro juízo. Matéria Processual.
Permissão para qualquer juiz, alegando estar sofrendo ameaças, solicitar a atuação
da Vara especializada. Vício formal, por invadir competência privativa da União para
tratar de processo (art. 22, I, CRFB). Inconstitucionalidade material, por violar o
princípio do Juiz Natural e a vedação de criação de Tribunais de exceção (art. 5º, LIII
e XXXVII, CRFB). – Atribuição, à Vara especializada, de competência para processar
a execução penal. Inexistência de afronta à Carta Magna. Tema de organização
judiciária (art. 125 CRFB). – Permissão legal para julgar casos urgentes não inseridos
na competência da Vara especializada. Interpretação conforme à Constituição (art. 5º,
XXXV, LIII, LIV, LXV, LXI e LXII, CRFB). Permissão que se restringe às hipóteses de
relaxamento de prisões ilegais, salvante as hipóteses de má-fé ou erro manifesto.
Translatio iudicii no Processo Penal, cuja aplicabilidade requer haja dúvida objetiva
acerca da competência para apreciar a causa. – Previsão genérica de segredo de
justiça a todos os inquéritos e processos. Inconstitucionalidade declarada pelo
Plenário. – Indicação e nomeação de magistrado para integrar a Vara especializada
realizada politicamente pelo Presidente do Tribunal de Justiça. Inconstitucionalidade.
Violação aos critérios para remoção e promoção de juízes previstos na Carta Magna
(art. 93, II e VIII-A). Garantias de independência da magistratura e de qualidade da
prestação jurisdicional. – Estabelecimento de mandato de dois anos para a ocupação
da titularidade da Vara especializada. Designação política também do juiz substituto,
ante o afastamento do titular. Inconstitucionalidade. Afastamento indireto da regra da
identidade física do juiz (art. 399, § 2º, CPP). Princípio da oralidade. Matéria
processual, que deve ser tratada em Lei nacional (art. 22, I, CRFB). – Ação Direta de
Inconstitucionalidade julgada parcialmente procedente. Modulação dos efeitos
temporais da decisão. 1. Os delitos cometidos por organizações criminosas podem
submeter-se ao juízo especializado criado por lei estadual, porquanto o tema é de
organização judiciária, prevista em lei editada no âmbito da competência dos
Estados-membros (art. 125 da CRFB). Precedentes (ADI 1218, Relator(a): Min.
MAURÍCIO CORRÊA, Tribunal Pleno, julgado em 05/09/2002, DJ 08-11-2002; HC
96104, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em
16/06/2010, Dje-145; HC 94146, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma,
julgado em 21/10/2008, Dje-211; HC 85060, Relator(a): Min. EROS GRAU, Primeira
Turma, julgado em 23/09/2008, Dje-030; HC 91024, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE,
Segunda Turma, julgado em 05/08/2008, Dje-157). Doutrina (TOURINHO FILHO,
Fernando da Costa. Código de Processo Penal Comentado, 12ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2009. p. 278-279). 2. O conceito de “crime organizado” é matéria reservada
à competência legislativa da União, tema interditado à lei estadual, à luz da repartição
constitucional (art. 22, I, CRFB). 3. À Lei estadual não é lícito, a pretexto de definir a
competência da Vara especializada, imiscuir-se na esfera privativa da União para
legislar sobre regras de prevalência entre juízos (arts. 78 e 79 do CPP), matéria de
caráter processual (art. 22, I, CRFB). 4. A competência constitucional do Tribunal do
Júri (art. 5º, XXXVIII) não pode ser afastada por Lei estadual, nem usurpada por Vara
criminal especializada, sendo vedada, ainda, a alteração da forma de sua
composição, que deve ser definida em Lei nacional. Precedentes do Pleno deste
Pretório Excelso (ADI 1218/RO, rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA, julg. 05/09/2002,
Tribunal Pleno). 5. A composição do órgão jurisdicional se insere na competência
legislativa concorrente para versar sobre procedimentos em matéria processual,
mercê da caracterização do procedimento como a exteriorização da relação jurídica
em desenvolvimento, a englobar o modo de produção dos atos decisórios do Estado-
juiz, se com a chancela de um ou de vários magistrados (Machado Guimarães.
Estudos de Direito Processual Civil. Rio de Janeiro - São Paulo: Jurídica e
Universitária, 1969. p. 68). 6. A independência do juiz nos casos relativos a
organizações criminosas, injunção constitucional, na forma do art. 5º, XXXVII e LIII,
da CRFB, não está adequadamente preservada pela legislação federal, constituindo
lacuna a ser preenchida pelos Estados-membros, no exercício da competência
prevista no art. 24, § 3º, da Carta Magna. 7. Os Estados-membros podem dispor,
mediante Lei, sobre protocolo e distribuição de processos, no âmbito de sua
competência para editar normas específicas sobre procedimentos em matéria
processual (art. 24, XI, CRFB). 8. A separação entre as funções de acusar defender e
julgar é o signo essencial do sistema acusatório de processo penal (Art. 129, I,
CRFB), tornando a atuação do Judiciário na fase pré-processual somente admissível
com o propósito de proteger as garantias fundamentais dos investigados
(FERRAJOLI, Luigi. Derecho y Razón – Teoría del Garantismo Penal. 3ª ed., Madrid:
Trotta, 1998. p. 567). 9. Os procedimentos investigativos pré-processuais não
previstos no ordenamento positivo são ilegais, a exemplo das VPIs, sindicâncias e
acautelamentos, sendo possível recorrer ao Judiciário para fazer cessar a ilicitude,
mantida a incolumidade do sistema acusatório (HAMILTON, Sergio Demoro. A
Ilegalidade das VPIS, das Sindicâncias, dos Acautelamentos e Quejandos. In:
Processo Penal Reflexões. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002). 10. O princípio do juiz
natural não resta violado na hipótese em que Lei estadual atribui a Vara especializada
competência territorial abrangente de todo o território da unidade federada, com
fundamento no art. 125 da Constituição, porquanto o tema gravita em torno da
organização judiciária, inexistindo afronta aos princípios da territorialidade e do Juiz
natural. 11. A perpetuatio jurisdictionis é excepcionada nas hipóteses de modificação
da competência ratione materiae do órgão, motivo pelo qual é lícita a redistribuição
dos inquéritos policiais para a nova Vara Criminal, consoante o art. 87, in fine, do
CPC. Precedentes (HC 88.660-4, Rel. Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, julg.
15.05.2008; HC 85.060, Rel. Min. Eros Grau, Primeira Turma, julg. 23.09.2008; HC
76.510/SP Rel. Min. Carlos Velloso, Segunda Turma, julg. 31.03.1998). Doutrina
(CARNELUTTI, Francesco. Sistema di Diritto Processuale Civile. V. III. Padova:
CEDAM, 1939. p. 480; MARQUES, José Frederico. Enciclopédia Saraiva do Direito.
Vol. 46. p. 446; TORNAGHI, Tornaghi. Instituição de Processo Penal. Vol. I. 2ª ed.
São Paulo: Saraiva, 1977. p. 174). 12. A Lei estadual que cria Vara especializada em
razão da matéria pode, de forma objetiva e abstrata, impedir a redistribuição dos
processos em curso, através de norma procedimental (art. 24, XI, CRFB), que se
afigura necessária para preservar a racionalidade da prestação jurisdicional e uma
eficiente organização judiciária (art. 125 CRFB) (GRECO, Leonardo. Instituições de
Processo Civil. V. I. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 174-175; DINAMARCO,
Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. V. I. 6ª ed. São Paulo:
Malheiros, 2009. p. 365-366). 13. O princípio do Juiz natural (art. 5º, XXXVII e LIII,
CRFB) é incompatível com disposição que permita a delegação de atos de instrução
ou execução a outro juízo, sem justificativa calcada na competência territorial ou
funcional dos órgãos envolvidos, ante a proibição dos poderes de comissão
(possibilidade de criação de órgão jurisdicional ex post facto) e de avocação
(possibilidade de modificação da competência por critérios discricionários), sendo
certo que a cisão funcional de competência não se insere na esfera legislativa dos
Estados-membros (art. 22, I, CRFB) (FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão: teoria do
garantismo penal. 2ª ed. São Paulo: RT, 2006. p. 544; SCHWAB, Karl Heinz. Divisão
de funções e o juiz natural. Revista de Processo,vol 12 n 48 p 124 a 131 out/dez
1987). 14. A criação, no curso do processo, de órgão julgador composto pelo
magistrado que se julga ameaçado no exercício de suas funções e pelos demais
integrantes da Vara especializada em crime organizado é inconstitucional, por afronta
aos incisos LIII e XXXVII do artigo 5º da Carta Magna, que vedam, conforme
mencionado alhures, o poder de comissão, é dizer, a criação de órgão jurisdicional ex
post facto, havendo, ainda, vício formal, por se tratar de matéria processual, de
competência da União (art. 22, I, CRFB). 15. A Lei estadual pode definir que um
mesmo juízo disponha de competência para atuar na fase de conhecimento e na fase
executória do processo penal, máxime em razão do disposto no art. 65 da Lei Federal
nº 7.210/84 (Lei de Execução Penal), verbis: “A execução penal competirá ao Juiz
indicado na lei local de organização judiciária e, na sua ausência, ao da sentença”.
16. O juízo incompetente pode, salvante os casos de erro grosseiro e manifesta má-
fé, em hipóteses de urgência e desde que haja dúvida razoável a respeito do órgão
que deve processar a causa, determinar o relaxamento de prisão ilegal, remetendo o
caso, em seguida, ao juiz natural, configurando hipótese de translatio iudicii inferida
do art. 5º, LXV, da Carta Magna, o qual não exige a competência da autoridade
judiciária responsável pelo relaxamento, sendo certo que a complexidade dos critérios
de divisão da competência jurisdicional não podem obstaculizar o acesso à justiça
(art. 5º, XXXV, CRFB). Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal admitindo a
ratificação de atos prolatados por juiz incompetente inclusive em desfavor do réu (HC
83.006/SP, rel. Min. Ellen Gracie, Plenário, DJ de 29.8.2003; HC 88.262/SP, rel. Min.
Gilmar Mendes, Segunda Turma, julgado em 18/12/2006, DJ 30-03-2007). Doutrina
(GRECO, Leonardo. Translatio iudicii e reassunção do processo. RePro, ano 33, nº
166. São Paulo: RT, 2008; BODART, Bruno e ARAÚJO, José Aurélio de. Alguns
apontamentos sobre a Reforma Processual Civil Italiana – Sugestões de Direito
Comparado para o Anteprojeto do Novo CPC Brasileiro. In: O novo processo civil
brasileiro – Direito em expectativa. Coord. Luiz Fux. Rio de Janeiro: Forense, 2011. p.
27-28). 17. É vedado à Lei Estadual estabelecer o sigilo do inquérito policial,
aplicando-se as normas da legislação federal sobre a matéria. 18. A publicidade
assegurada constitucionalmente (art. 5º, LX, e 93, IX, da CRFB) alcança os autos do
processo, e não somente as sessões e audiências, razão pela qual padece de
inconstitucionalidade disposição normativa que determine abstratamente segredo de
justiça em todos os processos em curso perante Vara Criminal. Doutrina (GRECO,
Leonardo. Instituições de Processo Civil. Vol. I. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 558;
TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e garantias individuais no processo penal brasileiro.
3ª ed. São Paulo: RT, 2009. p. 184; TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual
de Processo Penal. 11ª ed. São Paulo: 2009. p. 20; CAPPELLETTI, Mauro.
Fundamental guarantees of the parties in civil litigation. Milano: A. Giuffre, 1973. p.
756-758). 19. Os juízes integrantes de Vara especializada criada por Lei estadual
devem ser designados com observância dos parâmetros constitucionais de
antiguidade e merecimento previstos no art. 93, II e VIII-A, da Constituição da
República, sendo inconstitucional, em vista da necessidade de preservação da
independência do julgador, previsão normativa segundo a qual a indicação e
nomeação dos magistrados que ocuparão a referida Vara será feita pelo Presidente
do Tribunal de Justiça, com a aprovação do Tribunal. Doutrina (FERRAJOLI, Luigi.
Direito e Razão: teoria do garantismo penal. 2ª ed. São Paulo: RT, 2006. p. 534;
GARAPON, Antoine. O juiz e a democracia. Trad. Maria Luiza de Carvalho. Rio de
Janeiro: Revan, 1999. p. 60; CARNELUTTI, Francesco. Sistema di Diritto Processuale
Civile. V. I. Padova: CEDAM, 1936. p. 647-651; Idem. Lezioni di Diritto Processuale
Civile. V. Terzo. Padova: CEDAM, 1986. p. 114; GUIMARÃES, Mário. O Juiz e a
Função Jurisdicional. Rio de Janeiro: Forense, 1958. p. 117). 20. O mandato de dois
anos para a ocupação da titularidade da Vara especializada em crimes organizados, a
par de afrontar a garantia da inamovibilidade, viola a regra da identidade física do juiz,
componente fundamental do princípio da oralidade, prevista no art. 399, § 2º, do CPP
(“O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença”), impedindo, por via
oblíqua, a aplicação dessa norma cogente prevista em Lei nacional, em desfavor do
Réu, usurpando a competência privativa da União (art. 22, I, CRFB). Doutrina
(CHIOVENDA, Giuseppe. A oralidade e a prova. In: Processo Oral. 1ª série. Rio de
Janeiro: Forense, 1940. p. 137). 21. O princípio do Juiz natural obsta “qualquer
escolha do juiz ou colegiado a que as causas são confiadas”, de modo a se afastar o
“perigo de prejudiciais condicionamentos dos processos através da designação
hierárquica dos magistrados competentes para apreciá-los” (FERRAJOLI, Luigi.
Direito e Razão: teoria do garantismo penal. 2ª ed. São Paulo: RT, 2006. p. 545),
devendo-se condicionar a nomeação do juiz substituto, nos casos de afastamento do
titular, por designação do Presidente do Tribunal de Justiça, à observância de critérios
impessoais, objetivos e apriorísticos. Doutrina (LLOBREGAT, José Garberí.
Constitución y Derecho Procesal – Los fundamentos constitucionales del Derecho
Procesal. Navarra: Civitas/Thomson Reuters, 2009. p. 65-66). 22. Improcedente o
pleito de inconstitucionalidade por arrastamento, permanecendo válidas todas as
disposições da Lei questionada que não sofreram declaração de nulidade. 23. Ação
Direta de Inconstitucionalidade julgada parcialmente procedente pelo Plenário para
declarar a nulidade, com redução de texto, dos seguintes dispositivos e termos da Lei
estadual de Alagoas nº 6.806 de 2007: (a) as palavras “todos indicados e nomeados
pelo Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas, com aprovação do
Pleno, para um período de dois (02) anos, podendo, a critério do Tribunal, ser
renovado”, no art. 2º; (b) o art. 5º, caput e seu parágrafo único; (c) o art. 7º e o art. 12,
que violam o princípio do juiz natural ao permitir os poderes de avocação e de
comissão; (d) o art. 8º; (e) o art. 9º, parágrafo único e respectivos incisos, bem como
a expressão “crime organizado, desde que cometido por mais de dois agentes,
estabelecida a divisão de tarefas, ainda que incipiente, com perpetração
caracterizada pela vinculação com os poderes constituídos, ou por posição de mando
de um agente sobre os demais (hierarquia), praticados através do uso da violência
física ou psíquica, fraude, extorsão, com resultados que traduzem significante
impacto junto à comunidade local ou regional, nacional ou internacional”; (f) o art. 10;
(g) os parágrafos 1º, 2º e 3º do art. 11, preservado o seu caput; (h) a expressão “e
procedimentos prévios”, no art. 13. 24. Ação Direta de Inconstitucionalidade
parcialmente procedente, ainda, para o fim de conferir interpretação conforme à
Constituição: (a) ao art. 1º, de modo a estabelecer que os crimes de competência da
17ª Vara Criminal da Capital são aqueles praticados na forma do art. 1º da Lei nº
9.034/95, com a redação dada pela Lei nº 10.217/01; (b) ao art. 3º, com o fito de
impor a observância, pelo Presidente do Tribunal, na designação de juiz substituto, de
critérios objetivos, apriorísticos e impessoais, nos termos do quanto decidido pela
Corte nos autos do MS nº 27.958/DF; (c) ao art. 9º, inciso I, para excluir da
competência da Vara especializada o processo e julgamento de crimes dolosos
contra a vida. 25. Modulação dos efeitos temporais da decisão, na forma do art. 27 da
Lei 9.868/99, para que os dispositivos objurgados não produzam efeitos sobre os
processos com sentenças já proferidas e sobre os atos processuais já praticados,
ressalvados os recursos e habeas corpus pendentes que tenham como fundamento a
inconstitucionalidade dos dispositivos da Lei Estadual ora em exame, ressaltando-se,
ainda, que os processos pendentes sem prolação de sentença devem ser assumidos
por juízes designados com a observância dos critérios constitucionais, nos termos do
presente aresto, fixado o prazo de noventa dias para o provimento dos cargos de
juízes da 17ª Vara Criminal da Capital.

(ADI 4414, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em


31/05/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-114 DIVULG 14-06-2013 PUBLIC 17-
06-2013)

Convocação de juízes de 1º Grau para substituir desembargadores: Indaga-se


se esta convocação de juízes de primeiro grau viola o princípio do juiz natural. Antes
de mais nada, observar que esta substituição encontra respaldo legal, no art. 118 da
Lei Complementar 35/79. Também o art. 4º da Lei 9.788/99 prevê isto para a justiça
federal. Assim, sabendo que é sim possível a substituição, importa agora saber como
ela deve se dar, a fim de que não viole o princípio do juiz natural. Ora, de pronto
asseveramos que esta convocação não pode ser feita através de um sistema de
voluntariado (porque seria algo discricionário) e nem tampouco por meio de indicação
do desembargador substituído (uma vez que é preciso que as regras sejam objetivas)
– ADIn 1.481. Portanto, temos que essa convocação deve ser feita por meio de
critérios objetivos pré-determinados sob pena de violação do princípio do juiz natural.
Aqui, também insta analisar a situação em que o julgamento da turma no Tribunal se
dá por maioria de juízes convocados: para o STJ e STF não há mácula ao princípio
do juiz natural, desde que a convocação dos juízes tenha sido feita na forma da lei.
Entendimento, esse, que homenageia a duração razoável do processo,
"materializando o ideal de uma prestação jurisdicional célere e efetiva". (STJ, HC
126.390; STF, HC 96.821).

2 COMPETÊNCIA

2.1 CONCEITO

Competência é o poder conferido (pela Constituição ou pela lei) a cada juiz para
conhecer e julgar determinados litígios. Em outras palavras, competência é a medida, é o
limite, da jurisdição, detro dos quais o órgão jurisdicional pode dizer o direito.Todos os
juízes devidamente investidos no cargo contam com jurisdição. Mas só podem dirimir os
conflitos dentro da sua respectiva competência. Em resumo: constitui um limite da
jurisdição.

2.2 Critérios de fixação da competência

I) competência ratione materiae: é uma competência fixada em virtude da


natureza da infração penal. Ex. crimes militares e crimes eleitorais, sendo o primeiro
julgado pela justiça militar e o segundo pela justiça eleitoral. II) competência ratione
personae: é a competência estabelecida em razão do sujeito ativo do delito, por causa do
cargo que exerce ou função que desempenha. É por isto que o próprio STF substitui esta
expressão por ‘ratione funcionae’, a significar foro por prerrogativa de função. III)
competência territorial ou ratione loci: É uma competência territorial, sendo em regra
fixada pelo local da consumação do delito. IV) competência funcional: a competência é
fixada conforme a função que cada um dos órgãos jurisdicionais exerce no processo – ela
varia de acordo com a função do órgão jurisdicional. A competência funcional pode ser
subdividida em: a) por fase do processo, de acordo com a fase em que o processo se
encontra, um órgão jurisdicional diferente exercerá a competência (o ex. é o do tribunal do
júri, em numa primeira fase temos o juiz sumariante e temos depois o tribunal do júri que
efetivamente julga). b) competência funcional por objeto do juízo, segundo a qual a
competência será exercida a depender das questões a serem decididas – o ex. é
novamente o do júri, em que o juiz decide algumas questões e os jurados outras; outro
exemplo seria o incidente de inconstitucionalidade nos tribunais, apreciado pelo pleno ou
pelo órgão especial, cujo julgamento vinculará o órgão fracionário no julgamento da
questão principal. c) competência funcional por grau de jurisdição: é aquela que divide a
competência entre órgãos jurisdicionais superiores e inferiores. Note bem: alguns
doutrinadores ainda dizem que a competência funcional pode ser dividida em horizontal
(quando não há hierarquia entre os órgãos jurisdicionais) e vertical (quando há hierarquia
entre os órgãos jurisdicionais).

2.3 Guia prático da fixação da competência:


1º) Deve-se começar pela jurisdição competente de qual nacionalidade
(COMPETÊNCIA INTERNACIONAL).

2º) Sendo fixada a nacional, qual é a jurisdição competente. Pode ser a especial
(Militar ou Eleitoral) ou a comum (Federal ou Estadual).

3º) Estabelecida a justiça: Qual é o órgão jurisdicional hierarquicamente


competente? (O acusado tem foro especial por prerrogativa de função ou não?; Deve ser
julgado pela primeira instância ou por algum Tribunal?).

2.3.4 Qual é o foro territorialmente competente? (Competência ratione loci - lugar


da infração ou domicílio do réu?).

2.3.5 Qual é o juízo competente? (Qual a vara competente, de acordo com a


natureza da infração penal? Vara comum ou Vara do Júri? É a chamada competência do
juízo).

2.3.6 Qual é o juiz competente? (competência interna). LEI DE ORGANIZAÇÃO


JUDICIÁRIA. Doutrina de Pacelli acerca da Organização Judiciária 1

2.3.7 Qual é o órgão competente para julgar eventual recurso?

2.3.8 Competência do Tribunal Penal Internacional.

A competência do T.P.I. (que é subsidiária).

ELEITORAL
ESPECIAL TRABALHISTA
JUSTIÇA MILITAR: estadual e federal
ESTADUAL
COMUM
FEDERAL
ÓRGÃO COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA (tribunais)
HIERÁRQUICO 1a. INSTÂNCIA
FORO
JUÍZO
JUIZ
TURMA RECURSAL
TJ
Turma recursal
ÓRGÀO RECURSAL TJ
TRIBUNAIS SUPERIORES TRIBUNAIS SUPERIORS: STJ e STF
CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS
HUMANOS
TPI

Não confundir instância com grau de jurisdição. O Juiz monocrático e o


1
“há quem sustente que as regras de organização judiciária também se instituem como competência absoluta.
Pensamos que não. A nosso juízo, somente a CR/88 pode definir regras relativas à competência absoluta, em razão
da função ou em razão da matéria. Embora não se possa negar que as normas de organização judiciária, quando
criam varas especializadas, estão estabelecendo competência por matéria, o fato é que o princípio do juiz natural e,
assim, da competência absoluta, impõe-se apenas como competência de jurisdição (da Justiça Federal, Estadual,
Militar, Eleitoral, Trabalhista etc.). Por isso, independentemente da instituição de varas especializadas, se a matéria
é da competência (constitucional) de Juiz de Direito, o vício de incompetência será relativo, se não obedecida a
organização judiciária (quando a decisão for proferida por um Juiz de Direito, de outra Vara).”
Tribunal constituem, respectivamente, órgãos de 1ª e 2ª instância (termo ligado a
organização judiciária). Todo órgão de 1ª instância constitui o 1º grau de jurisdição, o
mesmo não ocorre com a 2ª instância. Com efeito, o Tribunal, órgão de 2ª instância, pode
funcionar como 1º grau de jurisdição no caso de competência originária ou 2º grau de
jurisdição em caso de competência recursal. O STJ e o STF, órgãos de superposição por
não integrarem nenhuma das justiças, podem funcionar como 1º grau de jurisdição
(competência originária – Art. 102, I e Art. 105, I da CF/88), 2º grau de jurisdição
(competência recursal – Art. 102, II e Art. 105, II da CF/88) e jurisdição extraordinária a ser
exercida através do RE e RESP (Não é considerado um 3º grau de jurisdição).

2.3. A competência internacional

A jurisdição é uma função estatal estabelecida no artigo 2o da CF. Os poderes da


República expressam o exercício da soberania estatal. A regra é a de que a jurisdição
nacional, como parcela que é da soberania nacional, somente se aplica a fatos ocorridos
dentro do território nacional. Como expressão do PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE.

A competência internacional é norteada por dois critérios:


Conveniência – exclui-se os conflitos irrelevantes para o Estado, isto é, sem
repercussão
Viabilidade – possibilidade de impor sua força.

O poder estabelecido no parágrafo único do artigo 1 o. é um PODER INDIVISÍVEL.


Esse poder se divide, para efeitos práticos, em órgãos que são chamados de Poderes
(artigo 2o, CF).

O Estado, como regra, não pode exercer a sua soberania fora do território
nacional (componente espacial do Estado, é a porção sobre a qual o Estado exerce a
sua jurisdição): território real ou território restrito e território por extensão ou território por
ficção jurídica.

 TERRITÓRIO REAL ou TERRITÓRIO RESTRITO ou TERRITÓRIO


PROPRIAMENTE DITO: Abrange o solo, subsolo, as águas interiores, o mar
territorial (entendido como faixa de mar exterior que se estende por doze milhas
marítimas, a partir da baixa do litoral continental – Art. 1º da Lei 8.617/93 ) e o
espaço aéreo (equivalente à coluna atmosférica sobre o território)
OBS: No tocante ao mar territorial, de se registrar que o exercício da
soberania é delimitado pelo direito de passagem inocente previsto Art. 3º da
Lei 8.617/93. A zona contígua, faixa de 12 a 24 milhas marítimas, na qual o
Brasileiro pode tomar medidas de fiscalização. A fim de evitar infrações às leis
aduaneiras, fiscais, de imigração ou sanitária, não compreende o território
nacional. Nessa premissa, eventual crime de entrada ou permanência ilegal de
estrangeiro (Art. 309, CP), embora possa ser evitado pelas autoridades
competentes na zona contígua mesma, somente se consuma no mar territorial
Espaço cósmico e alto-mar: não se sujeitam à soberania de qualquer
país. 2

 Lei 8.617/93 (exclui a citação de lei seca – arts. 2º ao 7º e art.


11 da referida lei).

 TERRITÓRIO POR EXTENSÃO ou TERRITÓRIO POR FICÇÃO


JURÍDICA: aeronave pública nacional onde quer que esteja; embarcação pública
nacional onde quer que esteja; aeronave particular nacional, no espaço aéreo
nacional e no espaço aéreo internacional; embarcação particular nacional, no mar
territorial e no mar internacional.

Representação diplomática: a sua sede não se afigura um território por


extensão, o que não quer dizer que ali não se admita restrições às atividades de
constrição. EXEMPLO: brasileiro mata outro brasileiro dentro da embaixada brasileira nos
EUA, a jurisdição brasileira somente será aplicada em caso de imunidade diplomática. Ou
seja, determinadas pessoas que estejam protegidas pela imunidade diplomática somente
podem ser processadas no seu país de origem.

Exceções ao princípio da territorialidade: estão previstas no artigo 7 o, do CP,


ou seja, a chamada EXTRATERRITORIALIDADE PENAL, que consiste na aplicação da
jurisdição nacional a fatos ocorridos fora do território nacional. Outra exceção consiste na
imunidade diplomática. Há, ainda, outra exceção, qual seja, a
INTRATERRITORIALIDADE, consistente na aplicação da lei estrangeira a crimes
praticados no território do Brasil; intraterritorialidade essa prevista em tratados e acordos
internacionais.

2.4 JUSTIÇAS ESPECIALIZADAS

“A jurisdição especial é exercida por órgãos judiciários que julgam apenas


pretensões de natureza determinada: Justiça do Trabalho, Justiça Militar e Justiça
Eleitoral. Já a jurisdição comum é exercida pelos órgãos que julgam pretensões de
qualquer natureza (salvo as submetidas às Justiças Especiais): Justiça Estadual e Justiça
Federal Comum.
Há quem entenda ser a Justiça Federal órgão que exerce jurisdição especial.
Neste sentido, Athos Gusmão Carneiro e Araújo Cintra, Dinamarco e Grinover.”
(Câmara, pág. 75)

A justiça ordinária Estadual, é, em conclusão, a que exerce a jurisdição residual


em todos os campos do direito material não atribuídos as Justiças Especiaise nem à
Justiça Comum Federal ( visto que sua competência vem enumerada na Constituição
Federal de 1988), e que pela Constituição Federal, abrange:
2
Vide Roberto Luis Luchi Demo, in “A Jurisdição Penal Brasileira. Desenho em relação ao Espaço e às Pessoas.
Concorrência de Jurisdições Nacional e Estrangeira. Conseqüência de sua Ausência ou Deficiência”, publicado na
RDPP n.º 38/66-82.
OBS.: Para Pacelli, A razão de ser da súmula n. 122 do STJ que entende como
prevalente a competência da justiça federal no caso de conexão com crimes da justiça
estadual reside no fato de que a competência da justiça federal está expressa na CR/88,
enquanto que a da justiça estadual é residual, o que faz da Justiça Federal uma justiça
especial no caso em que comparada diretamente com a Justiça Estadual.
Sobre essa súmula, vide o julgado:
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. TRÁFICO DE ENTORPECENTES E
MOEDA FALSA. AUSÊNCIA DE CONEXÃO. DESMEMBRAMENTO DO FEITO.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL PARA APRECIAÇÃO DO CRIME DE
TRÁFICO DE DROGAS E DO JUÍZO FEDERAL PARA O DELITO DE MOEDA
FALSA.
1. Não evidenciada a conexão entre os crimes de tráfico de drogas e de moeda
falsa, muito embora tenham sido descobertos na mesma circunstância temporal,
compete ao Juízo Estadual processar e julgar o crime previsto no art. 33, caput,
da Lei nº 11.343/2006, e ao Juízo Federal o crime do artigo 289 do Código Penal.
2. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da Vara
Criminal de Salto do Lontra/PR, o suscitado, para processar e julgar o crime de
tráfico de drogas, e o Juízo Federal de Francisco Beltrão/PR, o suscitante, para o
processamento e julgamento do delito de moeda falsa.
(CC 119.010/PR, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 09/05/2012, DJe 06/06/2012)

Pode-se falar em JURISDIÇÃO POLÍTICA ou extraordinária, que não se


confunde com a justiça especializada. Corresponde à atividade jurisdicional exercida
por órgãos políticos alheios ao poder judiciário, com o objetivo de afastar o agente
que comete crimes de responsabilidade. JURISDIÇÃO POLÍTICA (IMPEACHMENT):
Presidente é Senado Federal (Lei 1079); Governadores são as AL (Lei 1079); Prefeito
(Decreto 201) julgamento é das Câmaras Municipais.
É interessante mencionar que a expressão “crimes políticos” é usada em dois
sentidos: a) em sentido amplo = são aqueles cuja qualidade de funcionário público é
uma elementar do delito. Ex. art. 312, CP e SS. São os crimes funcionais. Na
constituição, os crimes de responsabilidade com este primeiro sentido são chamados de
crimes comuns. b) crime de responsabilidade em sentido estrito, são aqueles que só
podem ser praticados por determinados agentes políticos. Não tem natureza
jurídica de infração penal, mas sim de infração político-administrativa – é o sentido
utilizado no art. 52, CF.

Juiz do trabalho – não possui jurisdição criminal. Há uma exceção – Vide item
2.5.1.5

2.4.1 JUSTIÇA MILITAR

2.4.1.1 Justiça militar estadual (art. 125, CF): a justiça militar dos Estados é
composta:

a) Conselho de justiça militar - em 1ª grau de jurisdição.


b) TJ – 2º grau ou
c) Tribunal de Justiça Militar - Nos estados em que o efetivo da policia
militar for mais de 20.000, cria-se o Tribunal de Justiça Militar (SP, RS, MG). Uma
seção ou turma do TJ julgará. Artigo 125, § 3º, CF

É competente para julgar somente os crimes militares cometidos por militares e


ações judiciais contra atos disciplinares militares – policiais militares e bombeiros (CF, art.
125, § 4º): jamais a justiça militar estadual julga civil. Não há exceção.

Não existe conexão entre crime militar e crime comum. Há separação obrigatória
dos julgamentos.

Caso de um militar e de um civil que praticam em co-autoria um estupro: a


solução é a separação dos processos: a Justiça comum julga o civil enquanto a militar
julga o militar, com conseqüências completamente diferentes (de acordo com a letra da
lei: as penas são diferentes, o estupro é crime hediondo no direito comum e não o é no
direito militar etc.).

A EC 45 deu à justiça militar dos estados, atribuição não penal, não-criminal. Juiz
auditor militar julgará ações contra atos disciplinares. Artigo 125, § 4º, CF – neste caso, a
justiça militar dos estados não julga matéria criminal, mas lato sensu cível.

A justiça militar não julga:


 Crimes dolosos contra a vida – lei 9299/96 – lei Hélio Bicudo.
 Os crimes dolosos contra a vida praticados por oficiais militares ou
corpo de bombeiros serão julgados pelo TJ ou JF. Dependendo do crime.
 Se matar policial federal: justiça federal.

Sua competência está regida por dois critérios conjugados: ratione materiae e
ratione personae. Militar que mata civil dolosamente: competência do Tribunal do Júri
(Justiça comum). Militar que comete outros crimes contra civil: competência do juiz auditor
(competência singular) (EC 45/04).

A partir da EC 45 é o juiz auditor militar, de forma singular, que julga crimes


militares cuja vítima seja civil. § 5º, artigo 125.

A EC/45 (artigo 124, § 4o.) afirma que a Justiça Militar Estadual tem competência para
julgar matéria NÃO criminal quando fala em ATOS DISCIPLINARES MILITARES. A justiça militar
não julga os crimes dolosos contra a vida. A justiça estadual militar NUNCA pode julgar o civil,
a federal pode, nos termos da CF/88.

O PM quando pratica crime militar será julgado no Estado de sua corporação (Súmula 78,
STJ).

Súmula 78 do STJ – COMPETE A JUSTIÇA MILITAR PROCESSAR E


JULGAR POLICIAL DE CORPORAÇÃO ESTADUAL, AINDA QUE O DELITO
TENHA SIDO PRATICADO EM OUTRA UNIDADE FEDERATIVA.

A Lei 4.898/65 trata de abuso de autoridade e determina que o julgamento do


militar será feito pela Justiça Estadual. Se o policial cometer abuso de autoridade, será
julgado pela justiça comum estadual e não pela justiça militar.

 Guarda municipal, metropolitano – não é militar.


 Polícia rodoviária federal – é servidor público federal civil. Não é
militar.

Súmula 172, STJ: “compete à justiça comum processar e julgar militar por abuso
de autoridade, ainda que praticado em serviço”. O abuso de autoridade não está previsto
no Código Penal Militar, razão pela qual nunca é da competência da justiça militar.

2.4.1.1 Justiça militar federal: é competente para julgar os crimes militares


cometidos contra as forças armadas: Exército, Marinha e Aeronáutica. Pode julgar civil, a
justiça militar estadual nunca. Como se vê, o que determina a peculiaridade da Justiça
militar federal é o critério da ratione materiae. (Vide art. 124, CF/88)

 Súmula 90 do STJ (DJU DE 26/10/1993): Compete à Justiça


Estadual Militar processar e julgar o policial militar pela prática do crime
militar, e à Comum pela prática do crime comum simultâneo àquele.
 CPM, Art. 9º: Estabelece os crimes militares em tempo de paz.

Crimes militares – estão previstos no DL 1.001/69.


Crimes militares próprios (só previstos no CPM) e impróprios (previstos no CPM
e em outro diploma legal, podendo ser praticado por civil também, mas que não terá
natureza militar).

Justiça militar da União é composta:


 STM
 Tribunais militares – ainda não foram criados.
 Auditorias militares (em primeiro grau de jurisdição). São divididas em:
o Conselho de Justiça Militar permanente – julga praças e não
oficiais;
o Conselho de Justiça Militar especial – julga oficiais.

A justiça militar da União só possui jurisdição criminal.


Para efeitos de reincidência, não se leva em consideração o crime propriamente
militar e nem os crimes políticos.
A Força Nacional de Segurança é composta de integrantes de diversas
instituições, como PMs, PFs etc. isto é importante porque os militares estaduais dela
integrantes quando praticarem crimes militares serão julgados pela justiça militar de seu
estado de origem.
Jurisprudência referente à Justiça Militar (por tribunal e por ordem cronológica)

**STJ

O parágrafo único do art. 9º do CPM, com as alterações introduzidas pela Lei nº


9.299/96, excluiu do rol dos crimes militares os crimes dolosos contra a vida praticado por
militar contra civil, competindo à Justiça Comum a competência para julgamento dos
referidos delitos. (CC 113020/RS, Rel. Ministro OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 23/03/2011, DJe 01/04/2011)

Inicialmente, observou o Min. Relator que, para verificar a competência da Justiça


Militar, é preciso que o fato delituoso se enquadre em uma das hipóteses previstas no art.
9º do Código Penal Militar (CPM). Em seguida, ressaltou que, na espécie, o fato delituoso
ocorreu em local que não é instituição sujeita à administração militar. Além disso, o
acusado estava de folga no momento do cometimento do crime, a afastar as hipóteses
elencadas no inciso II do art. 9º do referido codex. Asseverou igualmente não incidir o
inciso III do mesmo diploma legal, na medida em que o acusado não estava na reserva ou
reformado, tampouco o delito fora praticado contra as instituições militares. (...) Assim,
ainda que a conduta delitiva tenha sido facilitada em razão da particular condição de
policial militar, uma vez que ele conseguiu ter acesso ao pátio da delegacia de polícia sem
ser vigiado, a ação delituosa não se subsumiu a nenhuma das referidas hipóteses legais
para atrair a competência do juízo militar. CC 115.597-MG, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 14/3/2012. (info 493 - STJ)

A Justiça militar é competente para processar e julgar os crimes de lesão corporal


cometidos por militares no exercício de sua função, ainda que contra vítima civil. Por outro
lado, a Justiça comum é competente para investigar eventual crime doloso contra a vida
praticado por militares contra civil (Lei n. 9.229/1996). Assim, não havendo indícios
mínimos do animus necandi, fica afastada a competência da Justiça comum. No caso, o
inquérito policial militar foi instaurado para apurar eventual infração penal militar de lesões
corporais, fatos consistentes na troca de tiros entre policiais militares em serviço e
foragido da Justiça que, após resistir à ordem de recaptura, foi alvejado. Assim, ficou
evidenciado que os policiais agiram no exercício de sua função e em atividade de
natureza militar, o que caracteriza a existência de crime castrense. Precedentes citados:
CC 64.016-AM, DJ de 22/10/2007, e RHC 16.150-SP, DJ 28/3/2005. CC 120.201-RS, Rel.
Min. Laurita Vaz, julgado em 25/4/2012. STJ – info 496

***STF

A norma do parágrafo único inserido pela Lei nº 9.299/99 no art. 9º do Código


Penal redefiniu os crimes dolosos contra a vida praticados por policiais militares contra
civis, até então considerados de natureza militar, como crimes comuns. Trata-se,
entretanto, de redefinição restrita que não alcançou quaisquer outros ilícitos, ainda que
decorrente de desclassificação, os quais permaneceram sob a jurisdição da Justiça
Militar, que, sendo de extração constitucional (art. 125, § 4º, da CF), não pode ser
afastada, obviamente, por efeito de conexão e nem, tampouco, pelas razões de política
processual que inspiraram as normas do Código de Processo Penal aplicadas pelo
acórdão recorrido. Recurso provido. (RHC 80718, Relator(a): Min. ILMAR GALVÃO,
Tribunal Pleno, julgado em 22/03/2001, DJ 01-08-2003 PP-00106 EMENT VOL-02117-41
PP-08911)

Ao reafirmar entendimento no sentido de que a condição de militar da ativa não


seria suficiente, por si só, para atrair a excepcional competência da justiça castrense. (...)
Observou-se que o local em que supostamente cometido o delito seria uma associação
civil de direito privado e que o fato teria ocorrido no exercício de atividade estranha à
função militar, a afastar a configuração de crime dessa espécie. Asseverou-se que a
simples circunstância de a Marinha haver disponibilizado instalações para a referida
entidade não transformaria esta em “lugar sujeito à administração militar”. Ademais,
destacou-se que a competência da justiça castrense não poderia ser ampliada
indevidamente, a ponto de equiparar-se clube social a organização militar. Assinalou-se
que por mais grave que tivesse sido a eventual prática criminosa, ela não teria reflexo na
ordem e na disciplina militares, cuja tutela seria a razão maior de ser dessa justiça. (HC
95471/MS, rel. Min. Gilmar Mendes, 15.5.2012. – info 666)

2.4.2 JUSTIÇA ELEITORAL

É competente para julgar os crimes eleitorais, definidos na legislação eleitoral, e


os conexos. Exceção: homicídio doloso contra a vida é da competência do júri e não vai
para o eleitoral, mesmo que conexo com crime eleitoral, pois a competência do júri
também está na CF (respeitam-se as duas competências, o crime eleitoral vai para a
justiça eleitoral enquanto o homicídio vai para o júri).

Crimes eleitorais podem ser praticados durante ou não o período de eleições.

OBS: Já em relação aos crimes contra a Justiça Eleitoral (que não se confunde
com os crimes eleitorais), compete à Justiça Federal processar e julgar em detrimento da
administração da Justiça Eleitoral, por isso não se trata de crime eleitoral. A circunstância
de ocorrer o falso depoimento em processo eleitoral não estabelece vínculo de conexão
parar atrair a competência da Justiça Eleitoral, afetando seu processo e julgamento à
Justiça Federal. (Roberto Luis Luchi Demo, in RJ 328/97-117). Idem para Justiça
Trabalhista.
COMPETE A JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRO GRAU PROCESSAR E
JULGAR CRIMES COMUNS PRATICADOS CONTRA JUIZ DE DIREITO NO EXERCICIO
DA JURISDIÇÃO ELEITORAL. (CC 7431/BA, Rel. Ministro VICENTE LEAL, TERCEIRA
SECAO, julgado em 02/03/1995, DJ 27/03/1995, p. 7126)

2.4.3 JUSTIÇA DO TRABALHO

Não tinha competência criminal, mas agora julga o HC de sua jurisdição (EC/45).
Antes, o HC contra juiz do trabalho iria para o TRF, agora vai para o TST. Cuidado: na
ADIn 3684 o STF entendeu que a EC nº45/2004 não atribuiu competência criminal
genérica à Justiça do Trabalho, mas só a específica já vista neste item.

 Habeas Corpus e Justiça Trabalhista [Informativo 394 do STF]


A Turma deferiu habeas corpus em favor de paciente que, nos autos de
reclamação trabalhista, tivera contra ele determinada, por Juízo de Vara do Trabalho de
comarca do Estado de Minas Gerais, a prisão civil, sob a acusação de infidelidade como
depositário judicial. Na espécie, denegado habeas corpus impetrado ao TRT/MG, o
paciente interpusera recurso ordinário ao TST, que o desprovera, e impetrara, também,
novo habeas corpus ao STJ, que concedera a ordem por não ter havido aceitação
expressa do encargo de depositário judicial, sem a qual o decreto de prisão é ilegítimo.
Considerando que os habeas corpus foram julgados antes da edição da EC 45/2004,
entendeu-se aplicável, ao caso, a jurisprudência até então firmada pelo Supremo, no
sentido de competir ao juízo criminal o julgamento de habeas corpus, em razão de
sua natureza penal, ainda que a questão material subjacente seja de natureza civil,
cabendo o julgamento ao Tribunal Regional Federal, quando a coação for imputada
a Juiz do Trabalho de 1º Grau (EC 45/2004: “Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho
processar e julgar:... IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data,
quando o ato questionado envolver matéria sujeita a sua jurisdição.”). HC deferido para
cassar o acórdão do TST, único impugnado, e declarar válido o acórdão do STJ.
Precedente citado: HC 68687/PR (DJU de 4.10.91). HC 85096/MG, rel. Min. Sepúlveda
Pertence, 28.6.2005. (HC-85096)
Atenção!!! Com o entendimento do STF, materializado em súmula vinculante,
acerca da impossibilidade de prisão civil do depositário infiel, em razão da
supralegalidade do Pacto de São Jose da Costa Rica, o Juiz do Trabalho não poderá mais
decretar tais prisões, restando infundado qualquer resquício de competência criminal da
Justiça do Trabalho.

2.5 Justiça Comum

A CF não estabelece a competência da justiça estadual. A sua competência é


residual, remanescente, que se determina por exclusão. Isso é em razão da previsão
expressa da justiça federal.

2.5.1 JUSTIÇA FEDERAL

Antes de mais nada, façamos uma breve análise das atribuições


investigatórias da polícia federal: As atribuições investigatórias da polícia federal
são mais amplas que a competência criminal da justiça federal, porque a PF pode
investigar crimes de repercussão interestadual. Disto, inferimos que não é
necessariamente da competência federal tudo aquilo que a PF investiga (Lei
10.446)

CF/88, Art. 108 e Art. 109: Estabelece a competência da JF.

Considerações Introdutórias
A competência penal da Justiça Federal se divide pelos incisos IV, V, V-A (quando
a causa se tratar de crime), VI, VII, IX e X a XI do Art. 109 da CF/88. Segundo Pacelli, “o
critério utilizado pelo constituinte pode ser explicado a partir da busca de um
dimensionamento mais ou menos preciso das questões que poderiam afetar, direta ou
indiretamente, os interesses federais e os interesses nacionais”.

No campo da definição de interesses federais, a opção se manifestou na proteção da


Administração Pública Federal (inc. IV, segunda parte).

A hipótese matriz de incidência é o inciso IV do Art. 109 da CF/88: Para a


incidência deste inciso, basta à ofensa a bens, interesses ou serviços destas entidades,
não sendo necessário a ocorrência de efetivo prejuízo. Isto porque o eventual
ressarcimento do dano não descaracteriza a prática do ilícito penal, configurando, quando
muito, causa geral de diminuição de pena (desistência voluntária ou arrependimento
eficaz, ou arrependimento posterior) ou causa de extinção de punibilidade (art. 9º da Lei
10.684/03). Compete a justiça federal processar e julgar infrações penais praticadas em
detrimento dos bens, interesses ou serviços da empresa brasileira de correios e
telegrafos, ainda que tenha ocorrido o ressarcimento do prejuizo financeiro. (CC 17757/BA,
3ª Seção, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, julgado em 12.11.1997, DJ 09.12.1997 p. 64592 )

No concurso entre a competência da Justiça Federal e da Justiça Estadual


prevalecerá a competência da Primeira (federal), não porque ela seja especial ou mais
graduada, mas (...) porque a sua jurisdição recebeu tratamento expresso, enquanto a da
Justiça Estadual se definiu pela regra de exclusão, sendo, portanto, no ponto residual.
Súmula n.º 122 do STJ (DJU DE 07/12/1994) – Compete à Justiça Federal o processo e
julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se
aplicando a regra do art. 78, II, "a", do Código de Processo Penal. [independentemente
da infração ser a mais grave ou não]

Atenção: Entretanto, conforme vem entendendo o STJ, a manutenção do julgamento do


cirme da competência estadual só se firma na Justiça Federal caso haja conexão entre os delitos.
Vide julgado acima, pág. 15.

2.5.1.1 CRIME PRATICADO EM DETRIMENTO DE BENS, SERVIÇOS OU


INTERESSES DA UNIÃO, SUAS AUTARQUIAS E EMPRESAS PÚBLICAS

 CF/88, Art. 109, IV;

a) Crime contra a sociedade de economia mista é de competência da


Justiça estadual. Ex: Banco do Brasil, salvo se a sociedade de economia mista agir
por delegação da União.

b) As contravenções contra a União e suas entidades estão


expressamente excluídas da competência da Justiça Federal 3 (A CF/88 previu uma

3
Súmula n.º 38 do STJ (DJU DE 27/03/1992) - Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de
verdadeira norma de exclusão de competência). Na hipótese de conexão ou
continência com crime de competência da Justiça Federal, prevalece a regra
constitucional, indicando a necessidade de desmembramento do processo. Frise-se
que o conceito de infração de menor potencial ofensivo nos crimes de competência da
Justiça Federal não abrange as contravenções penais. Obs.: Há exceção, a
contravenção será julgada pela Justiça Federal quando seu autor tiver foro por
prerrogativa de função em algum TRF, como no caso de um Juiz Federal que pratique
uma contravenção de jogo do bicho.

CONEXÃO CONSEQUÊNCIA
conexão federal é remetida à justiça estadual
Procurador denuncia o crime, tira cópias e remete para a
crime contravençã
justiça estadual a contravenção
federal o Não pode denunciar crime federal e esquecer a contravenção
penal.

c) Justiça Eleitoral e Justiça Militar – Foram expressamente ressalvadas, mas


a sua referência seria desnecessária, tendo em vista tratar-se de Justiças Especializadas.

Estão excluídos os “crimes federais” praticados por menores inimputáveis. A


CF/88 estabelece a competência da JF para julgar apenas CRIMES e não ATOS
INFRACIONAIS que é a natureza do ato praticado por criança/adolescente análogo à
crime. Competência: Justiça da Infância e da Juventude. “Tratando-se de crime praticado
por menores inimputáveis, a competência se estabelece a favor do Juízo da Infância e da
Juventude (ou do Juiz que, na comarca, exerça tal função). Hipótese que não se
subsume ao art. 109, IV da Constituição Federal, ainda que o crime tenha sido praticado
em detrimento da União.” (STJ, CC 31603/SP, 3ª Seção, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO
DA FONSECA, julgado em 11.06.2001, DJ 27.08.2001 p. 222)

Bem = coisa + valor econômico/jurídico. Os bens da União estão elencados no artigo


20 da CF/88 (o rol é exemplificativo, haja vista a cláusula de encerramento prevista no inciso I do
Art. 20). Os bens das autarquias e das empresas públicas estão estabelecidos nas leis que
regulam essas pessoas jurídicas.

Lei 9.472/97, Art. 157. O espectro de radiofreqüências é um recurso limitado,


constituindo-se em bem público, administrado pela Agência. [Lei que criou a ANATEL]

Desvio de verbas dos municípios: a União repassa valores aos Municípios mediante
uma contrapartida deles. A competência para julgamento de crime contra o prefeito em relação
aos valores dependerá da incorporação ou não ao patrimônio municipal, nos termos das súmulas
208 e 209 do STJ.

Súmula: 208 do STJ – Compete a Justiça Federal processar e julgar



prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante
órgão federal. [sempre que o recurso for repassado mediante convênio, acordo,

1988, o processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou
de suas entidades.
ajuste ou outro instrumento congênere nos termos art. 71, VI da CF/88]

 Atenção para esta decisão do STF noticiada no Informativo nº 459 (Entendo


que devemos manter o posicionamento do enunciado nº 208 da Súmula do STJ): Art.
89 da Lei 8.666/93: Repasse de Verba e Competência “Entendeu-se que o fato de
haver controle pelo TCU, bem como convênio vinculando a execução de uma obra
específica a um determinado repasse, não seriam suficientes para atrair a
competência da justiça federal, nos termos do art. 109, IV, da CF. Asseverou-se que
esse repasse faria ingressar, no patrimônio estadual, a verba transferida e que
eventual delito previsto na Lei de Licitações ou no Código Penal ensejaria a
competência da justiça estadual, haja vista que não se poderia identificar, no repasse,
um interesse direto da União a justificar a competência da justiça federal. Vencido o
Min. Carlos Britto, relator, que, tendo em conta tratar-se de repasse vinculado,
indeferia o writ para assentar a competência da justiça federal .” (HC 90174/GO,
rel. originário Min. Carlos Britto, rel. p/ o acórdão Min. Menezes Direito, 4.12.2007. -
HC-90174)

 Súmula: 209 do STJ – COMPETE A JUSTIÇA ESTADUAL PROCESSAR


E JULGAR PREFEITO POR DESVIO DE VERBA TRANSFERIDA E INCORPORADA
AO PATRIMONIO MUNICIPAL. [Os recursos decorrentes das transferências
constitucionais previstas no art. 158, II (ITR) e art. 159, I, b (Fundo de
Participação dos Municípios) não são fiscalizados pelo TCU que possui tão
somente a função de calcular o valor das quotas consoante o art. 161, PU da
CF/88)

Se for Prefeito a competência será do Tribunal Regional Federal, Tribunal


Regional Eleitoral (em caso de crime eleitoral) ou Tribunal de Justiça nos termos da
Súmula 702 do STF: “A competência do Tribunal de Justiça para julgar Prefeitos
restringe-se aos crimes de competência da Justiça comum estadual; nos demais casos, a
competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau.” Se se tratar de ex-
prefeito, a competência será do Juiz de 1º Grau.

“Parcelamento de Terras Pertencentes à União e Competência da Justiça Federal


Compete à Justiça Federal o processamento e julgamento da ação penal proposta
para apurar a prática do crime de parcelamento irregular de terras pertencentes à
União.” (RHC 86081/RO, rel. Min. Gilmar Mendes, 25.10.2005. - RHC-86081)

- Jurisprudência referente a BENS da União (por tribunal e por ordem


cronológica)

**STJ

Consoante entendimento pacificado desta Corte, nos termos da súmula


208/STJ, compete à Justiça federal processar e julgar a ação penal relativa ao
crime de desvio de verbas oriundas do Fundo de Manutenção e de
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério -
FUNDEF, porquanto sujeitas ao controle do Tribunal de Contas da União. (CC
36386/BA, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado
em 12/02/2003, DJ 10/03/2003, p. 86)

A competência da Justiça Federal, expressa no art. 109, inciso IV, da Lex


Fundamentalis, aplica-se às hipóteses em que os crimes são perpetrados em detrimento
de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas autarquias ou empresas públicas.
Na hipótese, está justificada a atração da competência da Justiça Federal, visto que o
feito envolve a apuração de suposta apropriação clandestina de selos por funcionários
dos Correios, que atuavam na condição de funcionários públicos. (HC 200901831972,
FELIX FISCHER, STJ - QUINTA TURMA, DJE DATA:02/08/2010.)

Hipótese em que foi instaurado inquérito policial para apurar a suposta prática do
crime de estelionato, consistente na implantação fraudulenta de empréstimo consignado
em folha de pagamento de proventos de aposentadoria pagos pelo Instituto Nacional do
Seguro Social - INSS a determinada beneficiária, perante instituição financeira privada. 2.
Considerando-se que o delito não foi cometido em detrimento de bens, serviços e
interesses da União ou sua entidade autárquica, mas sim contra particulares (aposentada
e instituição financeira privada), não há que se falar em competência da Justiça Federal.
(CC 200802476599, JORGE MUSSI, STJ - TERCEIRA SEÇÃO, DJE DATA:20/05/2010.)

O documento supostamente falsificado teria sido expedido pela Justiça Federal,


entretanto, foi utilizado para fins particulares, ou seja, celebrar compromisso de compra e
venda de imóvel. Assim, forçoso reconhecer que não há violação a interesses, bens ou
serviços da União, mas, sim, prejuízo a particular, no caso, o promitente comprador do
imóvel, motivo porque é competente para apreciar a suposta prática do delito de
falsificação de documento a Justiça Estadual. (HC 200901480408, OG FERNANDES, STJ
- SEXTA TURMA, DJE DATA:25/10/2010.)

A suposta fraude ocorrida na guia de pagamento DARF - Documento de


Arrecadação da Receita Federal - acarretou prejuízo ao próprio particular, que efetuou
novo pagamento do tributo devido, não lesionando, portanto, a Receita Federal, eis que
se perfez a arrecadação do valor. Precedentes. (CC 201000232714, MARIA THEREZA
DE ASSIS MOURA, STJ - TERCEIRA SEÇÃO, DJE DATA:18/06/2010.)

A Medida Provisória nº 353, convertida na Lei nº 11.484/2007, determinou a


transferência dos bens da Rede Ferroviária Federal à União (Departamento Nacional de
Infra-Estrutura de Transportes – DNIT). 2. Tratando-se de alteração de competência
absoluta (em razão da matéria) e inexistindo sentença de mérito, desloca-se para a
Justiça Federal, em virtude do interesse da União, a competência para processar e julgar
o crime de furto de 'dormentes' de linha férrea pertencente à extinta RFFSA (Rede
Ferroviária Federal S/A). (CC 200802679572, JORGE MUSSI, STJ - TERCEIRA SEÇÃO,
DJE DATA:30/06/2010.)

***STF

Conflito negativo de atribuições entre o ministério público federal e o ministério


público do estado de são paulo. competência do supremo tribunal federal para processar
e julgar a ação. precedentes. conflito de atribuições. apuração de supostas irregularidades
na aplicação dos recursos oriundos do pronaf. interesse da união. art. 109, inc. i, da
constituição da república. atribuição do ministério público federal.109, i, constituição.
(1281 SP , Relator: Min. CÁRMEN LÚCIA, Data de Julgamento: 13/10/2010, Tribunal
Pleno, Data de Publicação: DJe-243 DIVULG 13-12-2010 PUBLIC 14-12-2010 EMENT
VOL-02450-01 PP-00001)

Desvio de recursos provenientes do Fundo de Manutenção e de Desenvolvimento


do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério – FUNDEF. 3. Competência da
Justiça Federal. Precedentes. (HC 100772, GILMAR MENDES, STF)

Os serviços são os desempenhados em decorrência do exercício de competência


administrativa (art. 21, CF) ou competência material ou competência não-legislativa.

É da competência federal somente quando o serviço for desempenhado DIRETAMENTE


por uma das entidades previstas, não abrangendo quando houver descentralização por
colaboração (concessionária de serviço público federal) ou contrato de franquia (agência
franqueada da ECT). Nesse sentido os seguintes julgados:

“Nas concessões de serviço público, os bens pertencem à própria empresa


concessionária, que explora o serviço em nome próprio, com seu patrimônio e por sua conta e
risco. Desse modo, sem a demonstração de prejuízo em detrimento de bens ou interesses da
União, não se justifica a competência da Justiça Federal.” (CC 37.751/DF, Rel. Ministro PAULO
MEDINA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14.05.2003, DJ 16.06.2003 p. 259)

Nos crimes praticados contra agências da ECT a fixação da competência


depende da natureza econômica do serviço prestado. Quando é explorado diretamente
pela empresa pública, a competência é da Justiça Federal. Se a exploração for feita por
particular, mediante franquia, a Justiça estadual será a competente. No caso, trata-se de
uma Agência de Correios Comunitária operada mediante convênio, em que há interesse
recíproco dos agentes na atividade desempenhada, inclusive da empresa pública. Assim,
a Seção entendeu que prevalece o interesse público ou social no funcionamento do
serviço postal por parte da empresa pública federal e por isso há maior similitude com as
agências próprias. Dessa forma, a competência será da Justiça Federal. CC 122.596-SC,
Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 8/8/2012. STJ info 501

Quanto aos serviços, ainda devemos fazer uma análise de algumas questões fáticas:
I) desenvolvimento clandestino de telecomunicação (é a rádio pirata), prevista na Lei 9.472/97.
Quem julga este delito? o raciocínio é o seguinte: a quem compete explorar os serviços de
telecomunicações? À União, conforme o art. 21, XI, CF. Assim, crime contra serviço da União é
crime de competência da Justiça Federal.
II) crime de receptação clandestina de TV a cabo: é considerado furto de energia (sinal de TV a
cabo), sendo, portanto, um crime patrimonial, de modo que o dano é contra a TV a cabo, razão
pela qual a competência é da justiça estadual.
III) crimes praticados em programas de televisão: são da competência da justiça estadual.

Pode abranger tanto a hipótese de crimes cometidos contra ou por seus servidores
públicos ou então por particular (apresentação de um documento falso perante o serviço público
federal): 1. O crime de uso de documento falso foi praticado no intuito de burlar a fiscalização
realizada pelos agentes da Polícia Rodoviária Federal, que constitui serviço da União. 3. Conflito
conhecido para declarar a competência do Juízo Federal. CC 41195/RS, 3ª Seção, Rel. Ministro
ARNALDO ESTEVES LIMA, julgado em 27.04.2005, DJ 22.06.2005 p. 222

SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL vítima ou autor de crime determina a competência da


JF quando houver PERTINÊNCIA TEMÁTICA, ou seja, o crime foi praticado em razão do exercício
da função. EXEMPLO 01: policial federal que sai de férias bebe e mata uma pessoa, a
competência é estadual. EXEMPLO 02: policial federal que está em perseguição e em razão disso
comete ou é vítima de um crime, a competência é federal. O conceito de funcionário público está
previsto no art. 327 do Código Penal e foi ampliado pela Lei 9.983/00
OBS.: Nesse ponto cabe apontar a uma “espantosa” EXCEÇÃO, materializada no
seguinte julgado: ATENÇÃO – esse julgado faz um distinguishing em relação ao precedente
da Súmula n. 147/STJ4: Nos termos do art. 92, III da Lei Maior, os Juízes Federais são órgãos do
Poder Judiciário, qualidade essa que impõe o reconhecimento do interesse da União no
julgamento de crimes de que sejam vítimas, o que atrai a competência da Justiça Federal para
processar e julgar a respectiva Ação Penal, nos termos do art. 109, IV da CF/88. Outrossim, tal
qualidade não pode ser ignorada quando da fixação do Juízo competente, devendo ser levada em
consideração, ainda que a vítima não esteja no exercício das funções jurisdicionais. 2. A
interpretação restritiva prevista na Súmula 147/STJ não se aplica aos Juízes Federais, ocupantes
de cargos cuja natureza jurídica não se confunde com a de funcionário público, mas sim com a de
órgão do Poder Judiciário, o que reclama tratamento e proteção diferenciados, em razão da
própria atividade por eles exercida. 3. O art. 95 da Constituição Federal, que assegura a garantia
da vitaliciedade aos Magistrados, e o art. 35, VIII da LC 35/79, que dispõe sobre o dever destes de
manterem conduta irrepreensível na vida pública e particular, revelam a indissolubilidade da
qualidade de órgão do Poder Judiciário da figura do cidadão investido no mister de Juiz Federal e
demonstram o interesse que possui a União em resguardar direitos, garantias e prerrogativas
daqueles que detêm a condição de Magistrado. (CC 89397/AC, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES
MAIA FILHO, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/03/2008, DJe 10/06/2008) – Obs.: Pacelli critica
esse julgado: tem-se verdadeira personificação do cargo público, pois que se definira a
competência da JF, embora o agente público não estivesse no exercício de suas funções. Na
hipótese concreta a vítima não era o cargo, mas a pessoa. Não teria havido lesão ao serviço, mas
à individualidade da pessoa humana

RE Criminal: Competência da Justiça Comum e SUS. “(...) deferiu habeas corpus de
ofício para anular o processo e reconhecer a competência da justiça comum estadual para o
julgamento de administrador e de médico de hospital privado acusados da suposta prática do
crime de concussão contra paciente vinculado ao Sistema Único de Saúde - SUS.
Precedentes citados: HC 81912/RS (DJU de 13.9.2002); HC 56444/SP (DJU de 28.12.78); HC
71849/SP (DJU de 4.8.95); HC 77717/RS (DJU de 12.3.99).(RE 429171/RS, rel. Min. Carlos
Britto, 14.9.2004. RE-429171)

 Embora a concussão seja crime contra a Administração Pública, a jurisprudência


entende que, nesta hipótese, quem sofreu o prejuízo foi o particular.

SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL investido da função federal determina a competência


da justiça federal. EXEMPLO: juiz de direito exercendo a função eleitoral é xingado por outrem. Os
funcionários da justiça eleitoral são servidores públicos federais. O servidor público estadual pode
4
Súmula 147/STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário público
federal, quando relacionados com o exercício da função.
ser nomeado para um grupo de trabalho federal, nessa hipótese será servidor público federal.

Teor de Súmulas importantes na nota de rodapé.5

Questão interessante é a falsificação de documento público federal. O STJ possui o


entendimento de que quando o falso é praticado como meio para a consumação de um crime de
estelionato e este se dirige ao patrimônio de um particular, a competência será da Justiça
Estadual conforme entendimento cristalizado na Súmula 107 do STJ (DJU DE 22/06/1994):
“Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de estelionato praticado mediante
falsificação das guias de recolhimento das contribuições previdenciárias, quando não ocorrente
lesão à autarquia federal”.

A seguir jurisprudência acerca de documentos:

**STJ

Compete à Justiça Federal processar e julgar eventual delito de falsificação de carteira da


Ordem dos Advogados do Brasil. (CC 33198/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 27/02/2002, DJ 25/03/2002, p. 175)

A Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça vem decidindo que compete à
Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsificação de documento público, consistente na
omissão de anotação de período de vigência do contrato de trabalho de único empregado, tendo
em vista a ausência de lesão a bens, serviços ou interesse da União, consoante o disposto na
Súmula 62/STJ. (CC 200802093406, JORGE MUSSI, STJ - TERCEIRA SEÇÃO, DJE
DATA:03/08/2009.)

Hipótese em que empresa privada deixa de anotar na CTPS da empregada os dados


referentes às atualizações ocorridas no contrato de trabalho, com o fito de frustrar direitos
trabalhistas, dando origem a reclamação trabalhista. Não se vislumbra qualquer prejuízo a bens,
serviços ou interesses da União, senão, por via indireta ou reflexa, do INSS na anotação da
carteira, dado que é na prestação de serviço que se encontra o fato gerador da contribuição
previdenciária. Entendimento da Súmula n.º 62 do STJ. 2. A competência para julgar crime de
falsificação de documento público, consistente na ausência de anotação de atualização do
contrato de trabalho de empregado é da Justiça Estadual, pois inexistente lesão a bens, serviços
ou interesse da União. Súmula n.º 62 do STJ. (CC 201001706595, MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, STJ - TERCEIRA SEÇÃO, DJE DATA:25/11/2010.)

Hipótese em que o agente falsificou Carteira de Habilitação de Arrais Amador (para


condução de embarcação), cuja emissão é realizada pela Marinha do Brasil, órgão integrante das
Forças Armadas. II. Delito de falso cometido por sujeito ativo civil, que apresentou a
documentação no ato de fiscalização naval exercida através da Polícia Federal. III. Competência
da Justiça Federal (Precedentes do Supremo Tribunal Federal). (CC 200901887335, GILSON

5
Súmula n.º 147 do STJ (DJU DE 18/12/1995) – Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados
contra funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função.

Súmula 254 do TFR – Compete à Justiça Federal processar e julgar os delitos praticados por funcionário público
federal, no exercício de suas funções e com estas relacionadas.

Súmula n.º 165 do STJ (DJU DE 23/08/1996 - REP EM 03/09/1996) – Compete à Justiça Federal processar e julgar
crime de falso testemunho cometido no processo trabalhista.
DIPP, STJ - TERCEIRA SEÇÃO, DJE DATA:01/12/2010.)

O uso de documento ideologicamente falso em processo trabalhista extrapola a simples


esfera de interesses individuais dos litigantes, pois evidencia a intenção de induzir em erro a
Justiça do Trabalho. 2. No caso dos autos, ao valer-se de cartões de ponto em tese
ideologicamente falsificados perante a Justiça Trabalhista para obter verbas que foram
consideradas improcedentes, o recorrente ofendeu diretamente a prestação jurisdicional, ou seja,
serviço público federal, motivo pelo qual compete à Justiça Federal, nos termos do artigo 109,
inciso IV, da Constituição Federal, processar e julgar o delito de uso de documento falso. Doutrina.
Precedentes. 3. Conquanto o tema ainda enseje certa controvérsia, prevalece o entendimento de
que, constatada a incompetência absoluta, os autos devem ser remetidos ao Juízo competente,
que pode ratificar ou não os atos já praticados, nos termos do artigo 567 do Código de Processo
Penal, e 113, § 2º, do Código de Processo Civil. Doutrina. Precedentes. 4. Na hipótese em exame,
já foi proferida sentença condenatória pelo Juízo absolutamente incompetente, no que se refere a
delito de uso de documento falso, pelo que se impõe a anulação tão somente do édito repressivo
quanto ao ponto, facultando-se a ratificação, pela Justiça Federal, dos demais atos processuais
anteriormente praticados, inclusive os decisórios não referentes ao mérito da causa. (RHC
23500/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 05/05/2011, DJe
24/06/2011)

Idêntico raciocínio pode ser aplicado quando o particular se passar por servidor público
federal para cometer crime contra particular. - a pratica de delito por particulares que se
passam por agentes rodoviarios federais, contra passageiros de onibus de turismo, por si
so, não justifica o deslocamento da competencia para a justiça federal. (CC 21.822/PR, 3ª
Seção, Rel. Ministro FELIX FISCHER, julgado em 13.05.1998, DJ 29.06.1998 p. 22)

O STF possui entendimento diverso quanto ao crime de falsum:

Falsificação de Documento Público e Competência [ Informativo 445 do


STF]. A falsificação de documento público, por si só, configura infração penal praticada
contra interesse da União, a justificar a competência da Justiça Federal (CF, art. 109,
IV), ainda que os documentos falsos tenham sido utilizados perante particular. (...)
prática dos crimes de uso de documento falso e de falsificação de documento público,
consistentes na utilização de falsa certidão negativa de débito do Instituto Nacional do
Seguro Social - INSS junto à instituição financeira privada para obtenção de
financiamento. Entendeu-se que a credibilidade, a fé pública e a presunção de
veracidade dos atos da Administração foram diretamente atingidas. Asseverou-se,
ademais, que, no caso, objetiva-se a proteção dos interesses da referida autarquia, de
forma a compelir o devedor da previdência a saldar sua dívida antes de adquirir
qualquer empréstimo. HC 85773/SP, rel. Min. Joaquim Barbosa, 17.10.2006. (HC-
85773)

 Crime de Falsificação. Uso de Documento Falso. Documento Federal.


Competência. Compete à Justiça Federal processar e julgar ação penal relativa a crime de
falsificação e uso de documento falso, quando a falsificação incide sobre documentos federais.
(...) prática de falsificação de documento público (CP, art. 297) e falsidade ideológica (CP, art.
299), consistente no fato de ter falsificado certidão de dados da Receita Federal e guia de
recolhimento do ITR - DARF e tê-las apresentado ao Banco do Estado do Paraná, com o fim
de obter, mediante fraude, concessão de empréstimo rural. Considerou-se que, em razão dos
atos incidirem sobre documentos federais, a falsificação e utilização desses documentos
prejudicaram concretamente o interesse e o serviço público, independente de não terem sido
direcionados perante repartição ou órgão federal. RE 411690/PR, rel. Min. Ellen Gracie,
17.8.2004. (RE-411690)

Obs.: O mesmo STF parece manter esse seu entendimento ATUALMENTE, senão
vejamos: Compete ao Supremo a solução de conflito de atribuições a envolver o Ministério
Público Federal e Ministério Público estadual – Petição nº 3.528-3/BA, Tribunal Pleno, relator
Ministro Marco Aurélio, Diário da Justiça de 3 de março de 2006. CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES –
SERVIÇO DA UNIÃO. Versando os fatos sobre prática contrária ao bom serviço federal – da
Receita – (apresentação de DARF supostamente irregulares), incumbe ao Ministério Público
Federal atuar, cabendo, da mesma forma, à Polícia e ao Juízo federal a atividade a ser
desenvolvida, pouco importando a existência, ou não, de dano patrimonial. ((Pet 4680, Relator(a):
Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 29/09/2010, DJe-069 DIVULG 11-04-2011
PUBLIC 12-04-2011 EMENT VOL-02501-01 PP-00075)

Ainda, recente julgado a corroborar:

EMENTA AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO


ORDINÁRIO. ESTELIONATO. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO. PRINCÍPIO DA
CONSUNÇÃO INAPLICÁVEL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. 1. Contra a denegação
de habeas corpus por Tribunal Superior prevê a Constituição Federal remédio jurídico expresso, o
recurso ordinário. Diante da dicção do art. 102, II, a, da Constituição da República, a impetração
de novo habeas corpus em caráter substitutivo escamoteia o instituto recursal próprio, em
manifesta burla ao preceito constitucional. 2. Não há falar em princípio da consunção entre os
crimes de falso e de estelionato quando não exaurida a potencialidade lesiva do primeiro após a
prática do segundo. 3. Verificada lesão a interesse da União, decorrente de falsa declaração de
imposto de renda prestada à Receita Federal, a competência para exame da controvérsia é da
Justiça Federal (art. 109, IV, da Constituição da República). 4. Agravo regimental não provido. (HC
116979 AgR, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 15/10/2013,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-229 DIVULG 20-11-2013 PUBLIC 21-11-2013)

Não obstante, achei esse julgado também em sentido inverso acerca da falsificação de
documento público:
E M E N T A: "HABEAS CORPUS" - FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO -
FATO DELITUOSO, QUE, ISOLADAMENTE CONSIDERADO, NÃO OFENDE BENS, SERVIÇOS
OU INTERESSES DA UNIÃO FEDERAL, DE SUAS AUTARQUIAS OU DE EMPRESA PÚBLICA
FEDERAL - RECONHECIMENTO, NA ESPÉCIE, DA COMPETÊNCIA PENAL DA JUSTIÇA
ESTADUAL PARA O PROCESSO E JULGAMENTO DO CRIME TIPIFICADO NO ART. 297 DO CP
- USO POSTERIOR, PERANTE REPARTIÇÃO FEDERAL, PELO PRÓPRIO AUTOR DA
FALSIFICAÇÃO, DO DOCUMENTO POR ELE MESMO FALSIFICADO - "POST FACTUM" NÃO
PUNÍVEL - CONSEQÜENTE FALTA DE COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL,
CONSIDERADO O CARÁTER IMPUNÍVEL DO USO POSTERIOR, PELO FALSIFICADOR, DO
DOCUMENTO POR ELE PRÓPRIO FORJADO - ABSORÇÃO, EM TAL HIPÓTESE, DO CRIME
DE USO DE DOCUMENTO FALSO (CP, ART. 304) PELO DELITO DE FALSIFICAÇÃO
DOCUMENTAL (CP, ART. 297, NO CASO), DE COMPETÊNCIA, NA ESPÉCIE, DO PODER
JUDICIÁRIO LOCAL - PEDIDO INDEFERIDO. - O uso dos papéis falsificados, quando praticado
pelo próprio autor da falsificação, configura "post factum" não punível, mero exaurimento do
"crimen falsi", respondendo o falsário, em tal hipótese, pelo delito de falsificação de documento
público (CP, art. 297) ou, conforme o caso, pelo crime de falsificação de documento particular (CP,
art. 298). Doutrina. Precedentes (STF). - Reconhecimento, na espécie, da competência do Poder
Judiciário local, eis que inocorrente, quanto ao delito de falsificação documental, qualquer das
situações a que se refere o inciso IV do art. 109 da Constituição da República. - Irrelevância de o
documento falsificado haver sido ulteriormente utilizado, pelo próprio autor da falsificação, perante
repartição pública federal, pois, tratando-se de "post factum" impunível, não há como afirmar-se
caracterizada a competência penal da Justiça Federal, eis que inexistente, em tal hipótese, fato
delituoso a reprimir.(HC 84533, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em
14/09/2004, DJ 30-06-2006 PP-00035 EMENT VOL-02239-01 PP-00112 RTJ VOL-00199-03 PP-
01112)

“De uma maneira geral, sempre que houver uma norma autorizando a gestão,
administração ou fiscalização de qualquer atividade ou serviço, por órgão da Administração
Pública Federal, estará caracterizado o interesse público federal.” (Paccelli, pág. 236)

OBS: Em relação ao “serviço”, não há como esconder que há uma certa


casuística. Muitas vezes não basta somente que a atividade seja fiscalizada por uma
autarquia, tal como ocorre com o IBAMA (meio ambiental- vide ementa sobre crime
fiscalizado pelo IBAMA abaixo) e a ANP (adulteração de combustíveis tipificada no Art. 1º
da Lei 8.176/91).”Embora haja fiscalização do porte de arma pelo Ministério da Justiça,
via Sistema Nacional de Armas – SINARM, não enseja, só por isso, a competência da
Justiça Federal, por isso que ausente interesse direto e específico da União, sendo da
competência da Justiça Estadual comum, ainda que se trate de arma de uso privativo das
forças armas ou de origem estrangeira” (Roberto Luis Luchi Demo, in RJ 328/102).
Quanto às armas e ao SINARM, assim é a jurisprudência dos TRF’s: “A Justiça
Estadual é competente para processar e julgar o crime de porte ilegal de arma – ainda
que de uso privativo ou restrito - se inocorreu lesão direta a qualquer bem, serviço ou
interesse da União. Precedentes do STJ. 3. O fato de existir o SINARM não altera esse
quadro, pois trata-se apenas de órgão com atividade administrativa genérica, cujo escopo
é criar cadastro das armas existentes no território pátrio, o que, por si só, não atrai a
competência federal.” (RSE 200371030001553, ÉLCIO PINHEIRO DE CASTRO, TRF4 -
OITAVA TURMA, DJ 15/10/2003 PÁGINA: 991.) Obs.: Pacelli tem opinião distinta,
sustentando que, quando se tratar de porte ilegal de arma de uso restrito registrada pelo
Comando do Exército, a competência é da Justiça Federal, em razão do interesse direto e
imediato da União.

Embora o tombamento (modalidade de limitação administrativa) não transfira o


bem para o domínio público, será da competência da JF quando crime atingir bem
tombado pelo IPHAN. “processual penal. crime de incendio. bens tombados. carencia de
transcrição imobiliaria. - competencia. cabe a justiça federal o processo-crime contra bens
tombados pelo instituto do patrimonio historico e artistico nacional, sem relevancia
obstativa a falta de inscrição no registro imobiliario.” (CC 19157/MG, 3ª Seção, Rel.
Ministro JOSÉ DANTAS, julgado em 27.03.1998, DJ 03.08.1998 p. 74)

Interesse é difícil conceituação. Embora seja um conceito mais amplo a abranger a


locução “bens” e “serviços”, funciona, em verdade, como uma verdadeira cláusula residual.
“O interesse afetado tem que ser direto e específico, não alcançando quando o interesse for
comum (hipóteses do Art. 23 da CF/88). Ex: proteção do meio ambiente. – Não é a Mata Atlântica,
que integra o patrimônio nacional a que alude o artigo 225, § 4°, da Constituição Federal, bem da
União. – Por outro lado, o interesse da União para que ocorra a competência da Justiça Federal
prevista no artigo 109, IV, da Carta Magna tem de ser direto e específico, e não, como ocorre no
caso, interesse genérico da coletividade, embora aí também incluído genericamente o interesse
da União.” (RE 300244/SC, 1ª Turma, Rel. Min. MOREIRA ALVES, julgado em 20/11/2001, DJ 19-
12-2001 PP-00027)

A atividade de fiscalização ambiental exercida pelo IBAMA, ainda que relativa ao


cumprimento do art. 46 da Lei de Crimes Ambientais, configura interesse genérico, mediato ou
indireto da União , para os fins do art. 109, IV, da Constituição. HC 81916/PA, 2ª Turma, Rel. Min.
GILMAR MENDES, julgado em 17/09/2002, DJ 11-10-2002 PP-00046

Lei 9.605/98. Os crimes ambientais podem ser divididos:

 CRIMES AMBIENTAIS CONTRA A FAUNA (a súmula 91, STJ, que diz ser
competência da JF, foi cancelada; até 2000, entendia-se que os animais da fauna nacional
eram bens da União, mas os crimes contra a fauna nacional são de competência da justiça
estadual) e

 CRIMES CONTRA A FLORA (a regra é a competência da JE, salvo se forem


unidade de conservação federal (bem da União); EXEMPLOS: parque ecológico, parque
nacional).

Regra: Competência da Justiça Comum Estadual. Excepcionalmente, da Justiça


Comum Federal: crimes ambientais praticados em detrimento de bens, serviços e interessses da
União ou de suas entidades autárquicas, empresas públicas, excluídas as contravenções; crimes
ambientais previstos em tratado ou convenção inetrnacional, quando iniciada a execução no país,
o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; crimes ambientais
cometidos a bordo de navios ou aeronaves.

O IBAMA possui uma lista de animais em extinção. Os crimes cometidos contra esses
animais são de competência da JF para julgamento, de acordo com a jurisprudência, apesar do
cancelamento da súmula.(interesse da União em preservar os animais e animais sob tutela do
IBAMA).

“ A teor do disposto no art. 54 da Lei 9.985/2000, cabe ao IBAMA, autarquia federal,


autorizar a captura de exemplares de espécies ameaçadas de extinção destinada a
programas de criação em cativeiro ou formação de coleções científicas. II - Compete à
Justiça Federal, dado o manifesto interesse do IBAMA, o processamento e julgamento
de ação penal cujo objeto é a suposta prática de crime ambiental que envolve animais
em perigo de extinção.” CC 37.137/MG, 3ª Seção, Rel. Ministro FELIX FISCHER, julgado em
12.03.2003, DJ 14.04.2003 p. 178

Todavia, é importante observar que o entendimento do STJ ainda não é adotado pelo
TRF1, apesar seguido pelo TRF4 e TRF5:

***TRF1:
1. Não existe dispositivo constitucional fixando a competência da Justiça Federal para julgar os
crimes ambientais. Competência residual da Justiça Comum. 2. A simples presença de um órgão
federal não é elemento determinante para a fixação da competência, se não for demonstrado um
prejuízo direto. 3. Pesca praticada em rio que não é do domínio da União Federal. (RCCR
2004.43.00.001370-7/TO, Rel. Desembargador Federal Tourinho Neto, Terceira Turma,DJ p.31 de
01/10/2004)

2. O simples interesse do IBAMA não é elemento determinante para a fixação da competência da


Justiça Federal. É necessário que o ato seja praticado em detrimento de bens, serviços de
interesses da União de suas entidades autárquicas ou empresas públicas. 3. Compete à Justiça
Estadual o processo e julgamento do feito relativo a manutenção em cativeiro de "aves inseridas
na lista de extinção", elaborada pelo IBAMA. (RCCR 2003.34.00.038864-9/DF, Rel.
Desembargador Federal Tourinho Neto, Terceira Turma,DJ p.11 de 24/09/2004)

Julgado recentes no mesmo sentido:

“PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. INQUÉRITO POLICIAL. CRIME AMBIENTAL.


COMPETÊNCIA. PRESCRIÇÃO. 1. Compete à Justiça Estadual o processo e o julgamento dos
crimes contra o meio ambiente, envolvendo também a fauna e a flora, bem de uso comum do
povo (CF - art. 225), somente incidindo a competência da Justiça Federal quando o delito ocorrer
em águas ou terras da União, quando o bem atingido for de sua propriedade por ato jurídico
específico (RE nº 300.244-9/SC), ou quando houver conexão instrumental - quando a prova de
uma das infrações ou de qualquer das suas circunstâncias elementares influir na prova da outra -
com crime de competência da justiça federal (Súmula nº 122 - STJ), como ocorre na espécie em
julgamento. Precedentes do STJ. 2. Hipótese na qual não ocorre a prescrição em relação aos
delitos apurados no inquérito policial instaurado por requisição do Ministério Público Federal. 3.
Denegação da ordem de habeas corpus.
(HC , DESEMBARGADOR FEDERAL OLINDO MENEZES, TRF1 - QUARTA TURMA, e-DJF1
DATA:21/11/2013 PAGINA:165.)

CONSTITUCIONAL, PENAL E PROCESSUAL PENAL - RECURSO EM SENTIDO ESTRITO -


CRIME AMBIENTAL - PESCA PROIBIDA - LEI Nº 9.605/98, ART. 34 - DELITO PRATICADO EM
RIO FEDERAL - BEM DA UNIÃO - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL PARA
PROCESSAMENTO E JULGAMENTO - CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ART. 109, IV. a) Recurso em
Sentido Estrito. b) Decisão de origem - Declarada a Incompetência da Justiça Federal para
julgamento da Ação Penal. 1 - Embora a proteção do meio ambiente seja competência comum
entre a União Federal, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, o que torna, em regra,
competente a Justiça Estadual para processamento e julgamento de causas referentes a delitos
ambientais, nos termos do art. 109, IV, da Constituição Federal, os praticados em rio que nasce
em território estrangeiro e entra em território nacional são de interesse direto e específico da
União Federal. Logo, a competência para seu processamento e julgamento é da Justiça Federal.
2 - O delito imputado ao acusado é o inserto no art. 34 da Lei nº 9.605/98, pesca proibida,
praticado no Rio Solimões, que nasce no Peru e entra no Brasil no Município de Tabatinga.
Consequentemente, sendo rio que nasce em território estrangeiro e entra em território nacional, a
competência para processamento e julgamento do delito é da Justiça Federal. 3 - Recurso
provido. 4 - Decisão reformada.
(RSE , DESEMBARGADOR FEDERAL CATÃO ALVES, TRF1 - TERCEIRA TURMA, e-DJF1
DATA:04/10/2013 PAGINA:348.)

Logo, pelo teor dos julgados, pode-se observar que para que a competência do crime
ambiental resvale na JF, deve estar presente situação atinente à regra acima: bem da União,
interesse tutelado pela União, etc.

***TRF5:

“compete à justiça federal, dado o manifesto interesse do ibama, o processamento e julgamento


de ação penal cujo objeto é suposta prática de crime ambiental que envolve animais em perigo de
extinção (stj, cc 37137/mg, min. felix fischer, julgamento unânime da terceira seção, em 12 de
março de 2003). (RSE - Recurso em Sentido Estrito Número do Processo: 0020042-
26.2000.4.05.8300 Órgão Julgador: Terceira Turma RelatorDesembargador Federal VLADIMIR
CARVALHO Data Julgamento 30/10/2008)

***TRF4:

“1. Compete à Justiça Federal processar e julgar ação penal que tenha por objeto crime ambiental
envolvendo espécie da fauna em perigo de extinção, tendo em vista o manifesto interesse do
IBAMA, já que lhe incumbe, além de elaborar o levantamento e a listagem dos animais em vias de
extermínio, a concessão de autorização prévia para a captura e criação de tais espécimes (art. 57
da Lei nº 9.985/00).” Precedentes do STJ. (...) (Classe: ACR - APELAÇÃO CRIMINAL Processo:
2005.71.00.040396-0 UF: RS Data da Decisão: 28/03/2007Orgão Julgador: OITAVA TURMA).

Jurisprudência antiga e RECENTE acerca de crimes AMBIENTAIS:

**STJ

“De regra, compete à Justiça Estadual o processo e julgamento de feitos que visam à apuração de
crimes ambientais. Contudo, tratando-se de possível venda de animais silvestres, caçados em
Reserva Particular de Patrimônio Natural - declarada área de interesse público, segundo a Lei n.º
9.985/00 - evidencia-se situação excepcional indicativa da existência de interesse da União, a
ensejar a competência da Justiça Federal. (...) Ressalva de que os responsáveis pelas
orientações técnicas e científicas ao proprietário da reserva, incluindo-se aí a elaboração dos
Planos de Manejo, Proteção e Gestão da unidade são o CONAMA, o Ministério do Meio Ambiente
e o IBAMA, sendo que este ainda detém a administração das unidades de conservação – tudo a
justificar o interesse da União.” (CC 35476/PB, Rel. Ministro GILSON DIPP, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 11/09/2002, DJ 07/10/2002, p. 170)

“Tratando-se de pedido de restituição de bens apreendidos, no caso concreto, pássaros silvestres,


a competência para o pleito é do juízo federal que ordenou a busca e apreensão, máxime se a
pessoa que se diz dona dos pássaros custodiados, é mulher, em união estável com o investigado,
vivendo com ele no mesmo endereço onde realizada a apreensão de outros animais, não só os
que são objeto do pedido, havendo, por isso mesmo, sérias dúvidas se também não seriam
produto de crimes. Inteligência dos arts. 118 e 120 e parágrafos do Código de Processo Penal.
Precedente desta Corte.” (CC 115000/MS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/04/2011, DJe 30/05/2011)

“Apenas o fato de ser de propriedade da Marinha do Brasil, o produto tóxico transportado, sem
observância das normas de segurança (art. 56 da Lei n. 9.605/1998), não tem o condão de
deslocar a competência da ação penal para a Justiça Federal, já que o bem jurídico tutelado é o
meio ambiente. No caso dos autos, laudo emitido pela ABACC (Agência Brasileiro-Argentina de
Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares) informando que o material poderia ser
transportado por qualquer meio de transporte, exceto por via postal, não requerendo cuidados
adicionais. O Min. Relator reiterou o entendimento consolidado na Terceira Seção de que a Justiça
estadual é competente para julgar as ações penais relativas a crime ambiental (Lei n. 9.605/1998),
salvo se evidenciado interesse jurídico direto e específico da União, suas autarquias e fundações
(art. 109, IV, da CF). Precedentes citados: CC 39.891-PR, DJ 15/12/2003, e REsp 437.959-TO, DJ
6/10/2003. AgRg no CC 115.159-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 13/6/2012. STJ – info
499”

***STF

“Esta Primeira Turma, recentemente, em 20.11.2001, ao julgar o RE 300.244, em caso


semelhante ao presente, decidiu que, não havendo em causa bem da União (a hipótese então em
julgamento dizia respeito a desmatamento e depósito de madeira proveniente da Mata Atlântica
que se entendeu não ser bem da União), nem interesse direto e específico da União (o interesse
desta na proteção do meio ambiente só é genérico), nem decorrer a competência da Justiça
Federal da circunstância de caber ao IBAMA, que é órgão federal, a fiscalização da preservação
do meio ambiente, a competência para julgar o crime que estava em causa (artigo 46, parágrafo
único, da Lei 9.605/98, na modalidade de manter em depósito produtos de origem vegetal
integrantes da flora nativa, sem licença para armazenamento) era da Justiça estadual comum.”
(RE 349189, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Primeira Turma, julgado em 17/09/2002, DJ 14-
11-2002 PP-00034 EMENT VOL-02091-08 PP-01629)

“Não é a Mata Atlântica, que integra o patrimônio nacional a que alude o artigo 225, § 4º, da
Constituição Federal, bem da União. - Por outro lado, o interesse da União para que ocorra a
competência da Justiça Federal prevista no artigo 109, IV, da Carta Magna tem de ser direto e
específico, e não, como ocorre no caso, interesse genérico da coletividade, embora aí também
incluído genericamente o interesse da União. - Conseqüentemente, a competência, no caso, é da
Justiça Comum estadual”. (RE 300244, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Primeira Turma,
julgado em 20/11/2001, DJ 19-12-2001 PP-00027 EMENT VOL-02054-06 PP-01179)

Crime de Contrabando e/ou Descaminho

Em que pese se tratar de matéria de Direiro Penal, vale mencionar que há alteração
legislativa desmembrando os dois delitos, vejamos como ficou:

Descaminho (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela
saída ou pelo consumo de mercadoria (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

§ 1o Incorre na mesma pena quem: (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei; (Redação dada pela Lei nº
13.008, de 26.6.2014)

II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho; (Redação dada pela Lei nº 13.008, de
26.6.2014)

III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência
estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe
ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por parte
de outrem; (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial


ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal
ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos. (Redação dada pela Lei nº 13.008, de
26.6.2014)

§ 2o Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de


comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em
residências. (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

§ 3º - A pena aplica-se em dobro, se o crime de contrabando ou descaminho é praticado em


transporte aéreo. (Incluído pela Lei nº 4.729, de 14.7.1965)

§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em transporte aéreo,


marítimo ou fluvial. (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

Contrabando

Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida: (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos. (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

§ 1o Incorre na mesma pena quem: (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando; (Incluído pela Lei nº 13.008, de
26.6.2014)

II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise ou


autorização de órgão público competente; (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação; (Incluído pela Lei
nº 13.008, de 26.6.2014)

IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira;
(Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial


ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira. (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

§ 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de


comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em
residências. (Incluído pela Lei nº 4.729, de 14.7.1965)

§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de contrabando é praticado em transporte aéreo,


marítimo ou fluvial. (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)

Em tese, o CONTRABANDO OU O DESCAMINHO são consumados no momento e no


local de ingresso no território nacional. Sucede que a competência pode se verificar em razão de
ato praticado em outro momento, vale dizer, por questões de política criminal, a competência
territorial se dá pelo lugar da apreensão, do contrário, assoberbar-se-ia sobremaneira as seções
ou subseções judiciárias federais das regiões de fronteira (José Baltazar Júnior); veja-se o teor da
Súmula n. 151/STJ no rodapé6.

Outras situações:

Os crimes em detrimento de programas de financiamento federal são de competência da


Justiça Federal, pois se trata de recursos da União, ainda que o funcionamento seja
operacionalizado por sociedade de economia mista, que, na hipótese atua como órgão de
execução da política de crédito e financiamento do Governo Federal. O mesmo raciocínio se
aplica quando se tratar de fundo do qual a União ou suas entidades organize ou administre.

 FGTS é um patrimônio do trabalhador (art. 7º, III da CF/88), mas administrado pelo
Governo Federal através de um Conselho Curador (Art. 3º da Lei 8.036/90), cabendo à Caixa
Econômica Federal (CEF) o papel de agente operador.

 Seguro-desemprego – . Lei 7.998/89, Art. 10. É instituído o Fundo de Amparo ao


Trabalhador (FAT), vinculado ao Ministério do Trabalho, destinado ao custeio do Programa de
Seguro-Desemprego, ao pagamento do abono salarial e ao financiamento de programas de
desenvolvimento econômico.

 PRONAF: conflito negativo de atribuições entre o ministério público federal e o


ministério público do estado de são paulo. competência do supremo tribunal federal para
processar e julgar a ação. precedentes. conflito de atribuições. apuração de supostas
irregularidades na aplicação dos recursos oriundos do pronaf. interesse da união. art. 109, inc.
i, da constituição da república. atribuição do ministério público federal.109, i, constituição.
(1281 sp , relator: min. cármen lúcia, data de julgamento: 13/10/2010, tribunal pleno, data de
publicação: dje-243 divulg 13-12-2010 public 14-12-2010 ement vol-02450-01 pp-00001)

 FUNDEF – A rigor, é instituído pelos Estados e é composto por tributos arrecadados


pelos Estados e Municípios e recursos decorrentes de transferências constitucionais (Art. 1º
da da Lei 9.424/96), sendo complementado pela União quando não alcançar o valor mínimo
definido nacionalmente (Art. 6º da Lei 9.424/96). A fiscalização é realizada pelos três Tribunais
de Contas. A rigor, somente seria da competência da Justiça Federal quando a União
aportasse recursos a título de complementação, pois os recursos decorrentes de
transferências ingressam no patrimônio do fundo sem condição. Contudo, o STJ adotou
entendimento diverso, sendo secundado pelo STF que decidiu recentemente a matéria.

***STJ

“1. O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do


Magistério – FUNDEF atende a uma política nacional de educação, cujo interesse da União resta
evidenciado por diversos dispositivos constitucionais e infraconstitucionais. 2. Os Tribunais de
Contas da União, dos Estados e dos Municípios devem fiscalizar o cumprimento do disposto no
art. 212 da Constituição, que trata do sistema de ensino no país, conforme dispõe o art. 11 da Lei
6
Súmula n.º 151 do STJ (DJU DE 26/02/1996) – A competência para o processo e julgamento por crime de
contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens.
9.424/96. (...) 4. Conflito conhecido para declarar a competência da Quarta Seção do Tribunal
Regional Federal da 4ª Região, suscitante.” CC 41163/RS, 3ª Seção, Rel. Ministro ARNALDO
ESTEVES LIMA, julgado em 14.02.2005, DJ 02.03.2005 p. 183

“Consoante entendimento pacificado desta Corte, nos termos da súmula


208/STJ, compete à Justiça federal processar e julgar a ação penal relativa ao
crime de desvio de verbas oriundas do Fundo de Manutenção e de
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério -
FUNDEF, porquanto sujeitas ao controle do Tribunal de Contas da União.” (CC
36386/BA, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado
em 12/02/2003, DJ 10/03/2003, p. 86)

***STF
Compete ao MPF investigar desvio irregular de verbas do Fundef.O ministro
Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), reconheceu na Ação Cível
Originária (ACO 911) a competência do Ministério Público da União (MPF) para investigar
suposto desvio e emprego irregular de verbas do Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef). A
ação, que procura solucionar um conflito negativo * de atribuições, foi proposta pelo MPF
que, ao receber o procedimento de investigação, remetido pelo Ministério Público de São
Paulo (MP-SP), declarou-se incompetente para prosseguir nas investigações. Parte da
verba do Fundef é de origem da União, por isso, segundo o MP-SP, deve ser fiscalizado
pelo Tribunal de Contas da União (TCU). “Cabendo a fiscalização ao TCU, a competência
para processar e julgar, dentre outras, questões relativas à regularidade da aplicação das
verbas do Fundef, é da Justiça Federal”, disse o órgão estadual. Na decisão,
Lewandowski ressaltou que havia competência fiscalizatória concorrente entre os entes,
os estados e a União, e, nesse caso, “é prevalente a competência federal para conhecer e
julgar a ação penal respectiva, nos termos do artigo 78, IV, do Código de Processo Penal”
Ainda: (HC 100772, GILMAR MENDES, STF) “ATENÇÃO”: o STF fazendo uma distinção
entre a competência CRIMINAL e a CÍVEL: “O art. 102, I, f, da Constituição da República
recomenda que o presente conflito de atribuição entre os membros do Ministério Público
Federal e do Estado de São Paulo subsuma-se à competência do Supremo Tribunal
Federal . 3. A sistemática de formação do FUNDEF impõe, para a definição de atribuições
entre o Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual, adequada delimitação
da natureza cível ou criminal da matéria envolvida 4. A competência penal, uma vez
presente o interesse da União, justifica a competência da Justiça Federal (art. 109, IV,
CF/88) não se restringindo ao aspecto econômico, podendo justificá-la questões de
ordem moral. In casu, assume peculiar relevância o papel da União na manutenção e na
fiscalização dos recursos do FUNDEF, por isso o seu interesse moral (político-social) em
assegurar sua adequada destinação, o que atrai a competência da Justiça Federal, em
caráter excepcional, para julgar os crimes praticados em detrimento dessas verbas e a
atribuição do Ministério Público Federal para investigar os fatos e propor eventual ação
penal. 5. A competência da Justiça Federal na esfera cível somente se verifica quando a
União tiver legítimo interesse para atuar como autora, ré, assistente ou opoente,
*
O conflito negativo ocorre quando os dois órgãos declaram-se incompetentes. De outra forma, o conflito positivo
verifica-se quando ambos consideram-se competentes.
conforme disposto no art. 109, inciso I, da Constituição. A princípio, a União não teria
legítimo interesse processual, pois, além de não lhe pertencerem os recursos desviados
(diante da ausência de repasse de recursos federais a título de complementação),
tampouco o ato de improbidade seria imputável a agente público federal. 6. Conflito de
atribuições conhecido, com declaração de atribuição ao órgão de atuação do Ministério
Público Federal para averiguar eventual ocorrência de ilícito penal e a atribuição do
Ministério Público do Estado de São Paulo para apurar hipótese de improbidade
administrativa (ilícito civil), sem prejuízo de posterior deslocamento de competência à
Justiça Federal, caso haja intervenção da União ou diante do reconhecimento ulterior de
lesão ao patrimônio nacional nessa última hipótese. (ACO 1109, Relator(a): Min. ELLEN
GRACIE, Relator(a) p/ Acórdão: Min. LUIZ FUX (art. 38, IV, b, do RISTF), Tribunal Pleno,
julgado em 05/10/2011, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-047 DIVULG 06-03-2012 PUBLIC
07-03-2012)

**** Jurisprudência ATUALIZADA a respeito de BENS, SERVIÇOS e INTERESSES da


União.

**STJ

“compete a justiça federal de primeiro grau processar e julgar crimes comuns praticados contra
juiz de direito no exercicio da jurisdição eleitoral.” (CC 7431/BA, Rel. Ministro VICENTE LEAL,
TERCEIRA SECAO, julgado em 02/03/1995, DJ 27/03/1995, p. 7126) (JE é serviço da União)

“Aos olhos do Relator, há de ser restritiva a interpretação da cláusula "em detrimento de bens,
serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou de empresas públicas",
constante do art. 109, IV, da Constituição. 2. Por isso mesmo, o ato praticado por delegado de
polícia federal – tendo como vítima médica em hospital – quando não se encontrava no exercício
da função não é bastante para se fixar a competência da Justiça Federal.” (HC 200800555097,
NILSON NAVES, STJ - SEXTA TURMA, DJE DATA:14/06/2010.)

“Ofende diretamente interesse da União Federal, atraindo a competência da Justiça Federal (art.
109, IV da CF), a conduta de Policiais Federais que mesmo fora do exercício funcional, mas
vestindo a farda, portando o distintivo da corporação, as identidades e as armas e no uso de
viatura oficial da DPF, praticam crimes contra pessoas alheias à Administração Pública”. (RESP
200802629616, NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, STJ - QUINTA TURMA, DJE
DATA:06/12/2010.) (Interesse da União evidenciado pelo uso do irregular de seu serviço)

“O sistema de repasse previsto no programa de resposta aos desastres e reconstrução, tem por
finalidade específica o atendimento da população desabrigada por situações de calamidade
pública e resulta em termo de compromisso assinado pelos entes federados com o Ministério da
Integração Nacional. Estando o ato sujeito à verificação e fiscalização do Governo Federal, é de
se ter como presente o interesse da União e, portanto, a competência da Justiça Federal, nos
termos da aplicação analógica do Enunciado n.º 208 desta Corte.” (CC 114566/RS, Rel. Ministra
MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/12/2010, DJe
01/02/2011)

“A jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que a competência da


Justiça Federal, em matéria penal, só ocorre quando a infração penal é praticada em detrimento
de bens, serviços ou interesse da União, mormente quando os crimes teriam sido praticados com
o objetivo de evitar que a vítima prestasse declarações ao Conselho de Defesa dos Direitos
Humanos. Precedentes.” (HC N. 107.156-DF, RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA, Info 673, 1º a 3
de agosto de 2012)

“A competência para processar e julgar crimes praticados contra a honra de promotor de justiça do
Distrito Federal no exercício de suas funções é da Justiça comum do DF, visto que, embora
organizado e mantido pela União, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios não é órgão
federal. Isso porque o MPDFT faz parte da estrutura orgânica do DF, entidade política equiparada
aos estados-membros (art. 32, § 1º, da CF). Assim, não incide, na hipótese, o enunciado da Súm.
n. 147/STJ, a qual se refere apenas aos crimes praticados contra servidores públicos federais no
exercício de suas funções. Portanto, eventual ofensa à honra de membro do MPDFT não atrai a
competência da Justiça Federal, visto que não há violação de interesse, bem ou serviço da União,
não se enquadrando, assim, nas hipóteses do art. 109 da CF.” Precedente citado: CC 36.929-DF,
DJ 24/3/2003. CC 119.484-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/4/2012. STJ – info
496

“Compete à Justiça Federal o processo e julgamento de médicos cadastrados ao SUS que, no


atendimento a segurados da Autarquia, exercem função pública delegada, ex vi do amplo
enquadramento permitido pelo art. 327 do CP.” (RHC 8271/RS, Rel. Ministro GILSON DIPP,
QUINTA TURMA, julgado em 18/05/1999, DJ 21/06/1999, p. 173)

*Telecomunicações/Radiodifusão

**STJ

“Conforme entendimento da Terceira Seção desta Corte, a conduta de transmitir sinal de


internet, via rádio, de forma clandestina, caracteriza, a princípio, o delito insculpido no art.
183, da Lei 9.472/97. Precedentes. 2. Em se tratando de serviço cuja exploração é
atribuída à União, nos termos do artigo 21, XI, da CF/88, firmada está a competência da
Justiça Federal para o processo e julgamento do mencionado delito.” (AGRCC
201000475593, OG FERNANDES, STJ - TERCEIRA SEÇÃO, DJE DATA:16/09/2010.)

“A Lei 9.472/97 não teve efeito ab-rogatório sobre a Lei 4.117/62, mas apenas de
revogação parcial, de modo que permanecem inalteráveis os preceitos relativos aos
delitos de radiodifusão, de acordo com o constante no art. 215, I, da Lei 9.472/97.
Precedente. II – Hipótese na qual se trata de competência para o julgamento de recurso
relativo à sentença que condenou o réu pela exploração clandestina de serviço de
radiodifusão na frequência de 106,5 MHz, sem qualquer tipo de autorização da União. III –
Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo da Segunda Turma do Tribunal
Regional Federal da 3.ª Região, o suscitado”. (CC 201000857642, GILSON DIPP, STJ -
TERCEIRA SEÇÃO, DJE DATA:12/11/2010.)

“A conduta do réu de clonar telefones celulares não se subsume ao tipo penal do artigo
183 da Lei nº 9.472/1997, eis que não houve o desenvolvimento clandestino de atividades
de telecomunicação, mas apenas a utilização de linha preexistente e pertencente a outro
usuário, com a finalidade de obter vantagem patrimonial indevida às custas deste e das
concessionárias de telefonia móvel que exploram legalmente o serviço, já que possuem a
obrigação de ressarcir os clientes na hipótese de tal fraude, inexistindo, portanto,
quaisquer prejuízos em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, a ensejar a
competência da Justiça Federal. Precedentes.” (CC 113443/SP, Rel. Ministro MARCO
AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/09/2011, DJe 07/12/2011)

2.5.1.2 CRIMES POLÍTICOS

CF/88, Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) IV - os

crimes políticos (omissis);

LFG: são os previstos na Lei de Segurança Nacional – Lei 7.170/83, exigindo-se


para a sua caracterização a motivação política (art. 2º, Lei 7.170/83). Art. 2º - Quando o
fato estiver também previsto como crime no Código Penal, no Código Penal Militar ou em
leis especiais, levar-se-ão em conta, para a aplicação desta Lei: I - a motivação e os
objetivos do agente; II - a lesão real ou potencial aos bens jurídicos mencionados no
artigo anterior.

GRECCO FILHO: não há esse crime no Brasil.

O STF reconhece como crimes políticos os previstos na Lei 7170/83 (artigos 8 o,


18 e 19), que estabelece os crimes contra a segurança nacional. Anteriormente pertencia
à Justiça Militar (Art. 129, § 1º da CF/69), com a CF/88 cabem à Justiça federal o
processo e julgamento dos crimes contra a segurança nacional. O sujeito, se for
condenado por crime político em 1a instância, poderá interpor RECURSO ORDINÁRIO
(artigo 102, II, b, CF), no STF, e não recurso de apelação ao TRF.

2.5.1.3 CRIMES PREVISTOS EM TRATADOS INTERNACIONAIS

CF/88, Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) V - os
crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução
no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;

OBS: Inicialmente, a previsão constitucional pode levar a uma confusão. A


rigor, não se trata de crime previsto em tratado e, sim, crime em que o Brasil se
obrigou por meio de tratado a reprimir na sua ordem jurídica interna.

“Assim, é preciso que, além de ter sido previsto um tratado ou convenção internacional, a
sua execução tenha se dado no país e o resultado ocorrido (ou devesse ocorrer, na hipótese de
tentativa) no estrangeiro, ou reciprocamente. Em outras palavras, é preciso a presença de uma
relação de internacionalidade, em que a conduta e resultado se realizem entre dois ou mais
Estados (isto é, entre duas ou mais soberanias” (Paccelli, pág. 241 – modificado)

EXEMPLOS: Tráfico internacional de entorpecentes (Art. 33 c/c Art. 40 I da Lei


11.3343/06), de pessoas (mulheres/homens – para prostituição) (Art. 231-A com fim de exercer
a prostituição) e de crianças (Art. 239 do ECA), publicação de fotos de criança ou adolescente
(Art. 241 do ECA) .

***Em relação aos crimes cometidos por intermédio da Internet, existem duas posições:
1ª) Todo crime cometido pela Internet seria de competência da JF ante o caráter mundial
da rede de computadores;

2ª) Haveria necessidade de demonstração de que os dados fossem captados no exterior.

***Crime do art. 241-A do ECA. Veiculação, via internet, de imagens pornográficas


envolvendo adolescentes ou crianças. Definição da competência.

Conforme entendimento do STJ, o delito previsto no art. 241 da Lei 8.069/90


(agora art. 241-A) consuma-se no momento da publicação das imagens, ou seja, aquele
em que ocorre o lançamento na Internet das fotografias de conteúdo pornográfico. É
irrelevante, para fins de fixação da competência, o local em que se encontra sediado o
responsável pelo provedor de acesso ao ambiente virtual.

Este também foi o entendimento pela 1ª Turma do STF (Info 430).

Nos julgados do STJ, observei que se fundamenta a competência da JF no inciso


V do art. 109 da CF. Observe-se que trata de publicação em rede mundial de
computadores.

Posicionamentos do STF e STJ, respectivamente:

“ I - Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes cuja consumação se deu em


território estrangeiro (art. 109, V, CF). II - O crime tipificado no art. 241 do Estatuto da
Criança e do Adolescente, consubstanciado na divulgação ou publicação, pela
internet, de fotografias pornográficas ou de cenas de sexo explícito envolvendo crianças
ou adolescentes, cujo acesso se deu além das fronteiras nacionais, atrai a competência
da Justiça Federal para o seu processamento e julgamento.”(STF no HC nº 86289)

“1. Comprovado que o crime de divulgação de cenas pornográficas envolvendo criança


não ultrapassou as fronteiras nacionais, restringindo-se a uma comunicação eletrônica
(email) entre duas pessoas residentes no Brasil, a competência para julgar o processo é
da Justiça Estadual. Inteligência do art. 109, V da CF.” Precedentes do STJ. (STJ no CC
nº 99.133, 3 Seção, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, j. 05/12/2008 e p.
19/12/2008).

Por fim, julgado do STJ acerca da competência territorial:

“1 - A consumação do ilícito previsto no art. 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente


ocorre no ato de publicação das imagens pedófilo-pornográficas, sendo indiferente a
localização do provedor de acesso à rede mundial de computadores onde tais imagens
encontram-se armazenadas, ou a sua efetiva visualização pelos usuários.” (STJ no CC nº
29886, 3ª Seção, Rel. Min. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, j. 12/12/2007 e p.
01/02/2008).
Mais julgados acerca desse assunto de crimes pela INTERNET:

**STJ

“Pornografia infantil na internet - Competência da Justiça Federal estabelecida no art. 109, V, da


Constituição de 1988, para o processo e julgamento de crime previsto "em tratado ou convenção
internacional, quando iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no
estrangeiro..." (HC 24858/GO, Rel. Ministro PAULO MEDINA, Rel. p/ Acórdão Ministro FONTES
DE ALENCAR, SEXTA TURMA, julgado em 18/11/2003, DJ 06/09/2004, p. 311)

“A divulgação, pela internet, de técnicas de cultivo de planta destinada à preparação de substância


entorpecente não atrai, por si só, a competência federal. 2. Ainda que se trate, no caso, de
hospedeiro estrangeiro, a ação de incitar desenvolveu-se no território nacional, daí não se
justificando a aplicação dos incisos IV e V do art. 109 da Constituição. 3. Caso, pois, de
competência estadual.” (CC 62949/PR, Rel. Ministro NILSON NAVES, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 11/10/2006, DJ 26/02/2007, p. 549)

“A Seção entendeu que compete à Justiça estadual processar e julgar os crimes de injúria
praticados por meio da rede mundial de computadores, ainda que em páginas eletrônicas
internacionais, tais como as redes sociais Orkut e Twitter. Asseverou-se que o simples fato de o
suposto delito ter sido cometido pela internet não atrai, por si só, a competência da Justiça
Federal. Destacou-se que a conduta delituosa – mensagens de caráter ofensivo publicadas pela
ex-namorada da vítima nas mencionadas redes sociais – não se subsume em nenhuma das
hipóteses elencadas no art. 109, IV e V, da CF. O delito de injúria não está previsto em tratado ou
convenção internacional em que o Brasil se comprometeu a combater, por exemplo, os crimes de
racismo, xenofobia, publicação de pornografia infantil, entre outros. Ademais, as mensagens
veiculadas na internet não ofenderam bens, interesses ou serviços da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas. Dessa forma, declarou-se competente para conhecer e julgar o
feito o juízo de Direito do Juizado Especial Civil e Criminal.” CC 121.431-SE, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, julgado em 11/4/2012. (info 494 - STJ)

***STF

“Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes cuja consumação se deu em território
estrangeiro (art. 109, V, CF). II - O crime tipificado no art. 241 do Estatuto da Criança e do
Adolescente, consubstanciado na divulgação ou publicação, pela internet, de fotografias
pornográficas ou de cenas de sexo explícito envolvendo crianças ou adolescentes, cujo acesso se
deu além das fronteiras nacionais, atrai a competência da Justiça Federal para o seu
processamento e julgamento.” (HC 86289, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira
Turma, julgado em 06/06/2006, DJ 20-10-2006 PP-00062 EMENT VOL-02252-02 PP-00296)

A internacionalidade deve ser demonstrada por circunstâncias exteriores ao crime, não se


presumindo a sua prática. EX: o fato de a substância entorpecente ter sido adquirida de um
estrangeiro ou próximo à fronteira não permite, por si só, a presunção do caráter internacional do
delito, a justificar a competência da Justiça federal.

“I - Hipótese em que o paciente foi seguido por policiais federais, tendo sido preso logo após ter
entregado uma mala preta contendo cocaína a uma co-denunciada, configurando a hipótese de
flagrante impróprio ou quase-flagrante, equiparável ao flagrante próprio para o efeito de prisão. II -
O simples fato de a substância entorpecente ter sido adquirida em cidade brasileira que faz
fronteira com a Província de Letícia, na Colômbia, não permite presumir que a mesma tenha sido
adquirida naquele país, apto a caracterizar o tráfico internacional de drogas.III - Não demonstrada
a internacionalidade do tráfico de entorpecentes, afasta-se a competência da Justiça Federal,
declarando a nulidade do feito desde o recebimento da denúncia, com a remessa dos autos à
Justiça Estadual.” HC 38.510/PA, 5ª Turma, Rel. Ministro GILSON DIPP, julgado em 18.11.2004, DJ
13.12.2004 p. 400

Mais julgados acerca da TRANSNACIONALIDADE ou INTERNACIONALIDADE:

“Hipótese que cuida da introdução, em território nacional, de medicamento produzido na


Itália e provavelmente adquirido no Paraguai. II - Configurada que a produção do
medicamento deu-se em território estrangeiro e existindo fortes indícios de que
igualmente o foi sua aquisição, resta configurada a internacionalidade da conduta a
justificar a atração da competência da Justiça Federal.” (CC 116037/SP, Rel. Ministro
GILSON DIPP, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 09/11/2011, DJe 17/11/2011)

“Art. 273 do CP: Falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a


fins terapêuticos ou medicinais 1. Esta Corte vem decidindo que a competência para
processar e julgar o crime previsto no art. 273 do Código Penal é, em regra, da Justiça
estadual, somente existindo interesse da União se houver indícios da internacionalidade
do delito. 2. Hipótese em que se investiga a apreensão em poder do investigado, para fins
de venda em seu estabelecimento comercial, de produto sem registro no órgão de
vigilância sanitária, inexistindo indícios de que o produto foi adquirido fora do território
nacional. A presunção de que ele tinha conhecimento da procedência estrangeira da
mercadoria não serve para alterar a competência.” (CC 110497/SP, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 23/03/2011, DJe
04/04/2011)

Em regra a competência para conhecer e julgar o tráfico de entorpecentes é da


justiça federal, salvo se o lugar do crime não for sede da JF (artigo 27, da Lei 6368/76 e
no artigo 109, § 3o, CF), será competência da JE, cujo juiz ficará investido de função
federal (delegação de jurisdição), o recurso cabível será de competência do TRF
respectivo. É a chamada delegação de competência. A Lei 11.343 de 23.08.2006, ao
revogar as Leis n.º 6.368/76 e Lei 10.409/02, não mais previu a hipótese de
jurisdição delegada.

 OBS: É necessário que a substância seja proibida também no país de origem


ou de destino. A lista de substâncias entorpecentes proibida no Brasil está na Resolução 344
da ANVISA.

“1. O uso e o eventual tráfico de lança-perfume constituem prática doméstica, pois o entorpecente
em referência é produto de venda livre em seu país de origem.” CC 32.458/SP, 3ª Seção, Rel.
Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, julgado em 14.02.2005, DJ 02.03.2005 p. 182

Súmula 522 do STF – Salvo ocorrência de tráfico para o Exterior, quando,


então, a competência será da Justiça Federal, compete à Justiça dos Estados o
processo e julgamento dos crimes relativos a entorpecentes.
A justiça federal julga tráfico internacional de entorpecente. A polícia federal tem
atribuição para reprimir tráfico nacional e internacional. Embora o tráfico interno possa ser
investigado pela PF e julgado pela Justiça Estadual, nada impede que, durante a sua
prisão, o traficante tente subornar um policial federal (corrupção ativa), o que atrairia a
competência do crime de tráfico em razão da conexão do crime de competência da
Justiça Federal - Súmula n. 122/STJ.

É da competência da Justiça Federal julgar tráfico internacional de drogas


praticado por militar em avião da FAB, já que o inc V, do art. 109, da CF, não faz a
ressalva, presente nos demais incisos, da competência da justiça militar. Obs.: Crime a
bordo de aeronaves: Pacelli: há recente lei federal – Lei n. 12.432/11 – ressalvando a
competência da justiça militar e caracterizando como tal (militar) a natureza dos crimes
dolosos contra a vida de civil quando praticados no contexto de ações militares realizadas
na forma do art. 303 da Lei n 7.565/86 – Código brasileiro de aeronáutica. Cuida-se, ali,
de transito irregular de aeronaves em espaço brasileiro, sem observância das
determinações legais e após cumprimento injustificado de advertência para pouso.

A tortura é crime previsto em tratado internacional, mas, em regra, é da


competência estadual. Para que o delito seja da competência federal, é preciso que haja
a verificação, como antes dito, de dois requisitos: i) que o crime esteja previsto em tratado
ou convenção internacional; e ii) que tenha havido uma internacionalidade territorial do
resultado relativamente à conduta delituosa. Ou seja, não basta que tenha sido previsto
em tratado internacional, sendo preciso também que o crime tenha começado fora e
terminado no Brasil ou o inverso.

2.5.1.4 CAUSAS RELATIVAS A GRAVE VIOLAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS

 CF/88, Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) V-A as
causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral
da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações
decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja
parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do
inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça
Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Este artigo consagra a federalização dos crimes contra os direitos humanos.


No plano internacional, é a União que possui responsabilidade internacional pela
prevenção e repressão a condutas que atentem contra os direitos humanos, vale dizer, há
interesse direto e imediato da União, uma vez que ela é quem responde por qualquer tipo
de indenização (obrigação de fazer, não fazer, pagar quantia) em razão de condenação
por Corte Internacional de Direitos Humanos. Exemplos: 1) o famoso Massacre de
Eldorado dos Carajás, ocorrido em 1996, quando houve o homicídio de 19 integrantes do
MST por policiais militares do Pará; 2) Massacre do Carandiru, ocorrido em 1992, quando
morreram 111 detentos por ação da Polícia Militar de São Paulo; 3) recentemente, o
assassinato da missionária norte-americana Doroth Stang, ocorrido em 12.02.2005, no
Pará.

É uma espécie de IDC = incidente de deslocamento da competência. O


deslocamento ocorrerá da Justiça Estadual para a Justiça Federal. O IDC é subsidiário,
ou seja, somente se justifica quando a Justiça Estadual NÃO cumprir as suas
missões.Há, portanto, dois requisitos para a ocorrência do IDC: a) crime praticado com
grave violação dos direitos humanos; e b) risco de descumprimento de tratados
internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte em virtude de inércia do
estado membro em proceder à persecução penal.

Se o STJ defere o pedido do PROCURADOR-GERAL DA REPUBLICA, o


processo será julgado pela Justiça Federal, se se tratar de homicídio doloso a
competência será do TRIBUNAL DO JÚRI DA JUSTIÇA FEDERAL.

Jurisprudência acerca do INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE


COMPETÊNCIA/IDC:

**STJ

“A teor do § 5.º do art. 109 da Constituição Federal, introduzido pela Emenda


Constitucional n.º 45/2004, o incidente de deslocamento de competência para a Justiça
Federal fundamenta-se, essencialmente, em três pressupostos: 1 - a existência de grave
violação a direitos humanos; 2 - o risco de responsabilização internacional
decorrente do descumprimento de obrigações jurídicas assumidas em tratados
internacionais; e 3 - a incapacidade das instâncias e autoridades locais em oferecer
respostas efetivas (esse item 3, segundo o prof. Renato Brasileiro do LFG, foi criado
pelo STJ, para que não se firmasse a idéia de que a JF seria mais graduada ou
hierarquicamente superior à JE, isto é, o IDC é subsidiário, em casos de inoperância ou
obstáculos políticos no desenvolvimento do processo na JE) (IDC 2/DF, Rel. Ministra
LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/10/2010, DJe 22/11/2010) Obs.: Pacelli
defende que os promotores e os juízes podem se dar por incompetentes, diante da
competência ser absoluta.

2.5.1.5 CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

CF/88, Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) VI - os
crimes contra a organização do trabalho (omissis)

Os crimes contra a organização do trabalho estão no Título IV do Código Penal,


porém é preciso observar que nem todos os crimes previstos sob esta rubrica são da
competência da Justiça Federal. Crimes contra a organização do trabalho só serão
julgados pela justiça federal quando violarem direitos dos trabalhadores considerados
coletivamente. Deste modo, a lesão a direitos individuais deve ser julgada na justiça
estadual. Bastante elucidativa nesta questão é a Súmula 115, do extinto Tribunal Federal
de Recursos (“Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes contra a
organização do trabalho, quando tenham por objeto a organização geral do trabalho ou
direitos dos trabalhadores considerados coletivamente.”).

Competência. Justiça Federal. Crimes contra a Organização do Trabalho.

O Plenário do STF (INFO 450) sedimentou que quaisquer condutas que violem
não só o sistema de órgãos e instituições que preservam, coletivamente, os direitos e
deveres dos trabalhadores, mas também o homem trabalhador, atingindo-o nas esferas
em que a Constituição lhe confere proteção máxima, enquadram-se na categoria dos
crimes contra a organização do trabalho, se praticadas no contexto de relações de
trabalho. Concluiu-se que, nesse contexto, o qual sofre influxo do princípio constitucional
da dignidade da pessoa humana, informador de todo o sistema jurídico-constitucional, a
prática do crime em questão caracteriza-se como crime contra a organização do trabalho,
de competência da justiça federal (CF, art. 109, VI).

No mesmo sentido, 1ª Turma do STF (Info 524):

A Turma deu provimento a recurso extraordinário para fixar a competência da Justiça


Federal para julgar os crimes de exposição da vida ou da saúde de trabalhadores a
perigo, de redução a condição análoga à de escravo, de frustração de direito assegurado
por lei trabalhista e de omissão de dados da Carteira de Trabalho e Previdência Social
(CP, artigos 132, 149, 203 e 297, § 4º, respectivamente). Entendeu-se, no caso, que as
condutas atribuídas aos recorridos, em tese, violam bens jurídicos que extrapolam os
limites da liberdade individual e da saúde dos trabalhadores reduzidos àquela condição,
malferindo os princípios da dignidade da pessoa humana e da liberdade do trabalho.
Precedentes.

Obs: existe um julgamento ainda em andamento (RE 459510), no qual o Plenário


do STF novamente está discutindo o tema da competência para julgamento do crime de
redução à condição análoga à de escravo (art. 149 do CP). Por enquanto, o placar está 1
x 1, com pedido de vista do Min. Joaquim Barbosa (vide INFO 573). (Ainda está com
vistas para o Ministro)

A jurisprudência do STJ se orienta no seguinte sentido:

“I. Hipótese em que a denúncia descreve a suposta prática do delito de aliciamento para o
fim de emigração perpetrado contra 3 (três) trabalhadores individualmente considerados.
II. Compete à Justiça Federal o julgamento dos crimes contra a organização do trabalho
desde que demonstrada a lesão a direito dos trabalhadores coletivamente considerados
ou à organização geral do trabalho. III. Conflito conhecido para declarar a competência da
Justiça Estadual.” (CC 200901566737, GILSON DIPP, STJ - TERCEIRA SEÇÃO,
18/10/2010)

“1. A jurisprudência desta Corte é no sentido de que compete à Justiça Federal processar
e julgar o crime do art. 149 do Código Penal, que se insere na categoria dos crimes contra
a organização do trabalho, aplicando-se, quanto aos conexos, o enunciado nº 122 da
Súmula do STJ. 2. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo da 3ª Vara
Federal da Seção Judiciária do Estado do Mato Gosso, órgão integrante da área de
jurisdição do suscitado.” (CC 110.697/MT, Rel. Ministro HAROLDO RODRIGUES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/CE), TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
08/09/2010, DJe 21/09/2010)

O TRF1 segue a jurisprudência do STF.

2.5.1.6 CRIMES CONTRA A ORDEM ECONÔMICA

CF/88, Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) VI –

(omissis) , nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem
econômico-financeira;

É bom observar que tais crimes só são julgados pela Justiça Federal nos casos
determinados por lei. “Quanto ao disposto no inc. VI do art. 109 da CF, ainda que o
presente recurso não o tenha por fundamento, cumpre ressaltar que nem todos os crimes
praticados contra o sistema financeiro nacional e a ordem econômico-financeira são de
competência da Justiça Federal, mas somente aqueles definidos em lei, por força da
exigência constitucional (art. 109, inc. VI), que limita expressamente essa competência
aos “casos determinados por lei”.” (trecho retirado do RE 454.735/SP, 2ª Turma, rel. Min.
Ellen Gracie, 18.10.2005) 7.

Os crimes contra a ordem econômico-financeira são aqueles previstos,


basicamente, nas Leis 8.137/90 (Art. 4º) e 8.176/91 (Art. 1º).

O crime de extração de minérios sem a autorização da União ou em desacordo


com a obtida (Art. 2º da Lei 8.176/91) não é um crime contra ordem econômica e sim
contra o patrimônio da União.

Lei 8.176/91, Art. 2° Constitui crime contra o patrimônio (da União), na



modalidade de usurpacão, produzir bens ou explorar matéria-prima pertencentes à
União, sem autorização legal ou em desacordo com as obrigações impostas pelo título
autorizativo.

7
Competência da Justiça Estadual e Crime contra a Ordem Econômica [Informativo 406 do STF]
Tratando-se de crime contra a ordem econômica, a regra de competência aplicável é a do inciso VI do art. 109 da
CF (“Aos juízes federais compete processar e julgar: VI – os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos
determinados em lei, contra sistema financeiro e a ordem econômico-financeira”), não a do inciso IV do mesmo
dispositivo (“os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesses da
União”). Desse modo, somente à falta de previsão legal expressa atribuindo à Justiça Federal a competência para o
julgamento do aludido delito, essa competência será da Justiça Estadual. Com esse fundamento, a Turma não
conheceu de recurso extraordinário interposto pelo Ministério Público Federal, em que se pretendia o
reconhecimento da competência da Justiça Federal para processar inquérito relativo a crime de comercialização de
combustível que se encontra fora dos padrões exigidos pela Agência Nacional de Petróleo - ANP (Lei 8.176/91, art.
1º, I). Precedente citado: RE 198488/SP (DJU de 11.12.98). RE 454735/SP, rel. Min. Ellen Gracie, 18.10.2005.
(RE-454735)
***Doutrina:

Pacelli tem a seguinte opinião acerca do assunto – “dos crimes contra a ordem
econômico-financeira, atualmente somente a Lei n. 8.176/91, prevê o crime de
competência federal, o disposto em seu art. 2º, no qual se diz constituir crime contra o
patrimônio, na modalidade de usurpação, produzir bens ou explorar matéria prima
pertencente à União sem autorização legal. Observe-se, porém, que a referida lei
pretende regulamentar apenas os crimes contra a ordem econômica, não fazendo
referência ao que seja ordem econômico-financeira. Outra observação se impõe, já em
relação ao delito previsto no art. 1º da citada lei. Embora não haja previsão expressa da
competência da Justiça Federal para o julgamento de fatos relativos à aquisição,
distribuição e revenda de derivados de petróleo, gás natural, suas frações recuperáveis,
em desacordo com as normas estabelecidas em lei (art. 1º, Lei n. 8.176/91), não nos
parece haver dúvidas de que se trata de competência federal, dado o alcance do
interesse envolvido na proteção de tais valores econômicos, de âmbito
desenganadamente nacional. Ressalte-se ainda que a mesma legislação, em seu art. 4º,
institui o Sistema Nacional de Estoques de Combustíveis, cujos gerenciamentos e
fiscalização são atribuídos a organismo da Administração Pública Federal, o que, a nosso
juízo, reforça o entendimento no sentido de que se cuidaria de questão de interesse
nacional.” Obs.: o próprio Pacelli afirma que a jurisprudência ainda não chegou a um
consenso quanto a essa tese defendida por ele, Pacelli.

2.5.1.7 CRIMES FINANCEIROS OU CRIMES CONTRA O SISTEMA


FINANCEIRO NACIONAL

CF/88, Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) VI –

(omissis) , nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro (omissis)

“Nem todos os crimes contra o sistema financeiro nacional são de competência da


Justiça Federal, mas somente aqueles definidos em Lei, como o da Lei 7.492/86”
(Roberto Luis Luchi Demo, in RJ 328/112). São aqueles previstos na Lei do Colarinho
Branco (Lei 7492/86). No caso dos crimes previstos nesta Lei, há o art. 26 que legitima a
competência da justiça Federal para todos os crimes nela previstos:

Lei 7.492/86, Art. 26. A ação penal, nos crimes previstos nesta lei, será

promovida pelo Ministério Público Federal, perante a Justiça Federal.

Isso tanto é verdade que, em relação ao crime de lavagem de dinheiro 8 cuja


objetividade jurídica é considerada o sistema financeiro, depende da verificação do crime
8
Lei 9.613/98, Art. 2º O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei: (...) III - são da competência da Justiça
Federal:
a) quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, ou em detrimento de bens,
serviços ou interesses da União, ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas;
b) quando o crime antecedente for de competência da Justiça Federal.
antecedente.

Aqui a competência não está levando em conta o interesse público federal, mas
sim o interesse nacional na higidez do sistema financeiro. EXEMPLOS: gestão temerária
ou gestão fraudulenta no BB é competência da JF; crimes praticados contra o sistema
financeiro no Banco Econômico ou no Banco Santos é da competência da JF; desvio de
financiamento oferecido pelo BB é da competência da JF.

“2. A Lei 7.492/86 equipara ao conceito de instituição financeira a PESSOA JURÍDICA que capta
ou administra seguros, câmbio, consórcio, capitalização ou qualquer tipo de poupança, ou
recursos de terceiros. 3. Encontrando-se a conduta tipificada, ainda que em tese, em dispositivo
da Lei 7.492/86, a ação penal deve ser julgada na Justiça Federal. 4. Havendo interesse da União
na higidez, confiabilidade e equilíbrio do sistema financeiro, tem-se que a prática ilícita configura
matéria de competência da Justiça Federal.” CC 41.915/SP, 3ª Seção, Rel. Ministro ARNALDO
ESTEVES LIMA, julgado em 13.12.2004, DJ 01.02.2005 p. 404

Crime praticado em detrimento do banco do Brasil – justiça federal. É crime contra


o sistema financeiro.

Gestão fraudulenta no BB – é matéria. Competência da justiça federal!!!

A instituição financeira particular – crime contra o sistema financeiro –


competência da justiça federal em razão da matéria. Não se considera o titular do bem.
Ex. um cidadão pega um financiamento para cultivar soja – desvio de financiamento para
produção – crime federal. Em razão da matéria.

Temos, ainda a Lei 4.595/64, que trata da concessão de empréstimos vedados.


Ela não fala nada de competência, então, apesar de tratar do sistema financeiro, a
competência dos crimes nela previstos é da justiça estadual. Interessante a questão do
agiota: ele será processado em qual justiça? Ora, o agiota não é considerado instituição
financeira, de modo que ele não responde pela lei que trata do sistema financeiro, mas
sim pelo art. 4º da Lei 1.521/51, que cuida dos crimes contra a economia popular, sendo
de competência da justiça estadual.

“1. A caracterização do crime previsto no art. 16, da Lei n° 7.492/86, exige que as
operações irregulares tenham sido realizadas por instituição financeira.2. As empresas
popularmente conhecidas como factoring desempenham atividades de fomento mercantil,
de cunho meramente comercial, em que se ajusta a compra de créditos vencíveis,
mediante preço certo e ajustado, e com recursos próprios, não podendo ser
caracterizadas como instituições financeiras.3. In casu, comprovando-se a abusividade
dos juros cobrados nas operações de empréstimo, configura-se o crime de usura, previsto
no art. 4°, da Lei n° 1.521/51, cuja competência para julgamento é da Justiça Estadual.
(CC 98.062/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
25/08/2010, DJe 06/09/2010)

Lei 1.521/51 – trata dos crimes contra a economia popular, sendo da competência
da justiça estadual (S. 498, STF).

Lei 8.176/91 – trata da venda de combustível adulterado, não falando nada a


respeito de competência, motivo pelo qual é da competência da justiça estadual, pouco
importando o fato de a ANP exercer a fiscalização, uma vez que os tribunais entendem
que o interesse da ANP é remoto.

Lei 8.137/90 – quanto aos crimes contra a ordem tributária, como sonegação de
imposto, é preciso observar quem está sofrendo a lesão. Assim, se o tributo é federal, a
competência será da justiça federal; por outro lado, se o tributo for municipal, a
competência será estadual. Nesta lei também está previsto o crime de formação de
cartéis, que, em regra, é da competência da justiça estadual. Todavia, se em virtude da
magnitude do grupo econômico ou do tipo de atividade desenvolvida, se houver a
possibilidade de que o delito abranja vários estados da federação ou o fornecimento de
serviços essenciais, a competência será da justiça federal (STJ, HC 117.169).

Lei 9.613/98 – lavagem de capitais. Em regra, quem julga é a justiça estadual.


Todavia, há muitas exceções. Será julgada na justiça federal nas seguintes hipóteses: a)
quando o crime antecedente for de competência da justiça federal; b) quando houver
lesão a bens, serviços ou interesses da União, autarquias federais ou empresas públicas
federais.

Jurisprudência acerca de crimes CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO:

**STJ

“A competência da Justiça Federal para o processo e julgamento dos crimes contra o


sistema financeiro e a ordem econômico-financeira circunscreve-se aos casos previstos
na Lei nº 7492/86, não podendo ser ampliada para abranger crimes que, embora afetem a
economia ou o sistema financeiro, não estão nela previstos. - Conflito Conhecido.
Competência da Justiça Estadual.” (CC 36200/PR, Rel. Ministro VICENTE LEAL,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 09/10/2002, DJ 28/10/2002, p. 218)

“A conduta relativa à obtenção de empréstimo pessoal perante instituição bancária não se


amolda ao crime contra o Sistema Financeiro Nacional, descrito no art. 19 da Lei 7.492/86
("obter, mediante fraude, financiamento em instituição financeira"), haja vista que em
aludida operação não há destinação específica dos recursos. Precedentes desta Corte.
(...) 3. No caso, a lesão patrimonial sofrida pelo Banco do Brasil, sociedade de economia
mista, não atrai a competência para a Justiça Federal.” (CC 200901414702, JORGE
MUSSI, STJ - TERCEIRA SEÇÃO, DJE DATA:01/06/2010 LEXSTJ VOL.:00251 PG:00190
RJP VOL.:00034 PG:00108.)

“Na esteira de julgados da Terceira Seção desta Corte, o tipo penal do art. 19 da Lei
7.492/86 exige para o financiamento vinculação certa, distinguindo-se do empréstimo que
possui destinação livre. 2. No caso, conforme apurado, os contratos celebrados mediante
fraude envolviam valores com finalidade certa, qual seja a aquisição de veículos
automotores. A conduta em apreço, ao menos em tese, se subsume ao tipo previsto no
art. 19 da Lei nº 7.492/86, que, a teor do art. 26 do mencionado diploma, deverá ser
processado perante a Justiça Federal. (CC 201000892425, OG FERNANDES, STJ -
TERCEIRA SEÇÃO, DJE DATA:16/09/2010.)

“Segundo precedente da Sexta Turma desta Corte (REsp 706.871/RS), o fato de o


leasing financeiro não constituir financiamento não afasta, por si só, a configuração do
delito previsto no artigo 19 da Lei 7.492/86 e, portanto, a competência da Justiça Federal
para a sua apreciação.” (CC 114322/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS
MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/03/2011, DJe 01/08/2011)

2.5.1.8 HABEAS CORPUS EM MATÉRIA CRIMINAL DE SUA COMPETÊNCIA

 CF/88, Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


VII - os "habeas-corpus", em matéria criminal de sua competência ou quando
o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a
outra jurisdição;

VIII - os mandados de segurança e (omissis) contra ato de autoridade federal,


excetuados os casos de competência dos tribunais federais;

“Compete ao Juiz federal de 1ª instância o processo e julgamento de habeas-corpus


contra delegado de Polícia federal para trancar inquérito policial. Mas, se o inquérito tiver
sido requisitado por autoridade judiciária ou pelo membro do Ministério Público, a
competência será do Tribunal Regional Federal” (Roberto Luis Luchi Demo, in RJ
328/114). Ressalte-se que, em relação ao Parquet Federal, há uma omissão da
Constituição, sendo adotado o critério do foro competente para processar e julgar crime a
autoridade coatora.

“Consoante dispõe o art. 108, I, "d", da Constituição Federal, compete aos Tribunais
Regionais Federais a apreciação e julgamento de habeas corpus impetrado contra ato de
Procurador da República.”RHC 15.132/SP, 5ª Turma, Rel. Ministro FELIX FISCHER, julgado em
09.03.2004, DJ 19.04.2004 p. 212

HC contra Ato de Membro do MPDFT: Competência

Compete ao TRF da 1ª Região, com base no art. 108, I, a, da CF, processar e julgar,
originariamente, os membros do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios que
atuem em primeira instância. (Note que aqui, o crime ou o ato ilegal/abusivo, é praticado
pelo membro, ao contrário da hipótese onde o membro do MPDFT é vítima de crime,
onde a competência é do TJDFT) Com base nesse entendimento, a Turma reformou
acórdão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios que afirmara a sua
competência para processar e julgar habeas corpus em que a coação fora atribuída a
membro do Ministério Público daquela unidade da federação. Inicialmente, salientou-se a
orientação firmada pelo STF no sentido de que a competência para o julgamento de
habeas corpus contra ato de autoridade, excetuado o Ministro de Estado, é do Tribunal a
que couber a apreciação da ação penal contra essa mesma autoridade. Asseverou-se que
o MPDFT está compreendido no MPU (CF, art. 128, I, d) e que a Constituição ressalva da
competência do TRF somente os crimes atribuíveis à Justiça Eleitoral, não fazendo
menção a determinado segmento do MPU, que pudesse afastar da regra específica de
competência os membros do MPDFT. Rejeitou-se, portanto, a incidência da regra geral do
inciso III do art. 96, da CF, com a conseqüente competência do Tribunal local para julgar o
caso concreto. Ressaltando que, embora se reconheça a atuação dos Promotores de
Justiça do DF perante a Justiça do mesmo ente federativo, em primeiro e segundo graus,
similar à dos membros do MP perante os Estados-membros, concluiu-se que o MPDFT
está vinculado ao MPU, a justificar, no ponto, tratamento diferenciado em relação aos
membros do parquet estadual. RE provido para cassar o acórdão recorrido e determinar a
remessa dos autos ao TRF da 1ª Região. Precedentes citados: RE 141209/SP (DJU de
10.2.92); HC 73801/MG (DJU de 27.6.97); RE 315010/DF (DJU de 31.5.2002); RE
352660/DF (DJU 23.6.2003); RE 340086/DF (DJU 1º.7.2002).
RE 418852/DF, rel. Min. Carlos Britto, 6.12.2005. (RE-418852)

No mesmo sentido:

“Não cabe ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal, mas ao Tribunal Regional Federal da
1ª Região, conhecer de habeas corpus contra ato de membro do Ministério Público do
Distrito Federal.” (RE 467923, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Primeira Turma, julgado
em 18/04/2006, DJ 04-08-2006 PP-00056 EMENT VOL-02240-07 PP-01310 LEXSTF v.
28, n. 334, 2006, p. 496-522) Obs.: Pacelli entende que a prerrogativa seria do TJDFT em
razão da autonomia do MPDFT em relação ao MPU, apesar de integrar esse órgão. ps.
205 e 206.

Jurisprudência acerca de HABEAS CORPUS:

***STF:

“O eventual cabimento de recurso especial não constitui óbice à impetração de habeas


corpus, desde que o direito-fim se identifique direta e imediatamente com a liberdade de
locomoção física do paciente.” (HC 108994, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA,
Segunda Turma, julgado em 15/05/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-105 DIVULG
29-05-2012 PUBLIC 30-05-2012 RJP v. 8, n. 46, 2012, p. 117-118)

“Não se pode estabelecer, como uma espécie de condição processual para o


conhecimento do HC ajuizado no STJ, a prévia interposição de recurso especial contra o
acórdão proferido pelo tribunal de segundo grau, em sede de apelação. Condição
processual, essa, que não ressai do art. 105 da Constituição Federal de 1988. (...)”(RHC
108439, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Segunda Turma, julgado em 20/03/2012,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-111 DIVULG 06-06-2012 PUBLIC 08-06-2012)

2.5.1.9 CRIMES PRATICADOS A BORDO DE EMBARCAÇÕES E AERONAVES


 CF/88, Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) IX - os
crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da
Justiça Militar;

Trata-se de qualquer delito: homicídio, furto, estelionato, etc.

Navio:

Embarcação é gênero, do qual o navio é espécie. A denominação “navio” é


reservada a embarcações de maior porte e que comporte viagem transatlântica. Assim,
temos que navio é embarcação apta para navegação em alto-mar. A expressão “a bordo
de navio” significa que o crime deve ser cometido dentro do navio (há inclusive julgado em
que a pessoa se acidentou subindo a escada de acesso, onde não se considerou como a
bordo de navio). A interpretação acerca é restritiva: navio (que não é lancha, não é barco,
não é jet sky e etc.)

COMPETÊNCIA. HOMICÍDIO CULPOSO. LANCHA.


“A questão consiste em saber se o crime ocorreu a bordo do navio ou não, segundo a
interpretação que se der à expressão “a bordo de navio” contida no art. 109, IX, da
CF/1988. No dizer do Min. Relator, essa expressão significa interior de embarcação de
grande porte e, numa interpretação teleológica, a norma visa abranger as hipóteses em
que tripulantes e passageiros, pelo potencial marítimo do navio, possam ser deslocados
para águas territoriais internacionais. No caso dos autos, a vítima não chegou a ingressar
no navio, ocorrendo o acidente na lancha quando da tentativa de embarque. Sendo
assim, à vítima não foi implementado esse potencial de deslocamento internacional, pois
não chegou a ingressar no navio e não se considera a embarcação apta a ensejar a
competência da Justiça Federal. Com esse entendimento, a Seção declarou competente
o juízo estadual suscitante.” Precedente citado: CC 24.249-ES, DJ 17/4/2000. CC 43.404-
SP, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 14/2/2005.

**STJ

“Não basta, à determinação da competência da Justiça Federal, apenas o fato de que o


eventual delito tenha sido cometido no interior de embarcação de grande porte. Faz-se
necessário que este se encontre em situação de deslocamento internacional ou ao menos
em situação de potencial deslocamento. II. Hipótese na qual a embarcação encontrava-se
ancorada, para fins de carregamento, o qual, inclusive, estava sendo feito por pessoas -
no caso as vítimas - estranhas à embarcação, visto que eram estivadores e não
passageiros ou funcionários desta.” (CC 116011/SP, Rel. Ministro GILSON DIPP,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 23/11/2011, DJe 01/12/2011)
Aeronave:

A Lei 6.009/73 define o que é aeronave, a jurisprudência NÃO é pacífica em


relação à aeronave de pequeno porte, mas é majoritária como competência da JF.
Entende-se que aeronave é todo aparelho manobrável em vôo, que pode sustentar-se e
circular no espaço aéreo mediante reações aerodinâmicas, apto a transportar pessoas ou
coisas. No caso de aeronaves, pouco importa para efeitos de determinação da
competência se ela encontrava-se no ar ou em terra, de modo que em sendo o crime
praticado em aeronave, ele será da competência da justiça federal. (A aeronave não
precisa estar em voo; pode estar apenas taxiando na pista do aeroporto, por exemplo.)

“O tráfico internacional de entorpecentes, praticado a bordo de aeronave, é da


competência da Justiça Federal (CF, art. 109, IX). Quando a aeronave ingressa no espaço
aéreo brasileiro, incide a referida competência. Ela não se desloca para a Justiça
Estadual porque a apreensão foi feita no interior de aeronave. Não se confunde o
momento de consumação com o da apreensão da droga. A consumação ocorre quando
tem início o transporte, por ser delito de natureza permanente. Precedente.” HC 80730/MS,
2ª Turma, Rel. Min. NELSON JOBIM, julgado em 03/04/2001, DJ 22-03-2002 PP-00051

COMPETÊNCIA. ACIDENTE AÉREO. (Acidente Gol/Legacy)


“O acidente em questão, alardeado pela imprensa mundial, deu-se pelo choque, em pleno
ar, de um jato executivo e uma aeronave de grande porte destinada ao transporte de
passageiros, o que resultou na queda dessa última em solo do Estado do Mato Grosso.
Diante disso, o MP, em medida cautelar inominada, requereu ao juízo estadual a
apreensão dos passaportes dos pilotos norte-americanos do jato executivo, com o fito de
que não se ausentassem do país, medida que findou deferida. Posteriormente, idêntica
providência foi requerida ao juízo federal, que também a deferiu, porém adicionada à
determinação de que os autos do inquérito que investiga o acidente lhe fossem remetidos,
daí depois advindo o conflito de competência. Diante disso, a Min. Relatora ponderou
que, qualquer que seja o resultado final das investigações, no tocante à prática de
qualquer ilícito penal, seja doloso ou culposo, haverá a competência da Justiça Federal
(art. 109, IV e IX, da CF/1988). Anotou que o tipo penal provisoriamente capitulado é o do
art. 261 do CP (crime de atentado à segurança do transporte aéreo), que busca tutelar
bem cuja exploração (direta ou mediante autorização, concessão ou permissão) é da
União (art. 21, XII, c, da CF/1988), o que impõe a competência da Justiça Federal (art.
109, IV, da CF/1988), também obrigatória no caso de admitir-se a prática de crime a bordo
de aeronave (art. 109, IX, da CF/1988). Esse entendimento, ao final, foi acolhido pela
Seção, que declarou a competência da Justiça Federal. O Min. Nilson Naves relembrou o
julgamento do REsp 476.445-MT, de questão assemelhada à hipótese. Precedentes
citados do STF: HC 85.059-MS, DJ 22/2/2005; do STJ: REsp 476.445-MT, DJ 20/10/2003.
CC 72.283-MT, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 8/11/2006.

OBS: Se se tratar de crime militar a bordo de navios ou aeronaves (v.g. crime


praticado em um navio de guerra), a competência será da Justiça Militar, por força de
ressalva constitucional do inciso mencionado.
***STJ

“Competem aos juízes federais processar e julgar os delitos cometidos a bordo de


aeronaves, independente delas se encontrarem em solo. 2. Não há se falar em qualidade
das empresas lesadas, diante da regra prevista no artigo 109, inciso IX, da Constituição
Federal de 1988. (HC 108478/SP, Rel. Ministro ADILSON VIEIRA MACABU
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RJ), QUINTA TURMA, julgado em
22/02/2011, DJe 28/03/2011) Obs.: Crime a bordo de aeronave militar que abate
monomotor utilizado para o tráfico transnacional de drogas - Crime a bordo de aeronaves:
Pacelli: há recente lei federal – Lei n. 12.432/11 – ressalvando a competência da justiça
militar e caracterizando como tal (militar) a natureza dos crimes dolosos contra a vida de
civil quando praticados no contexto de ações militares realizadas na forma do art. 303 da
Lei n 7.565/86 – Código brasileiro de aeronáutica. Cuida-se, ali, de transito irregular de
aeronaves em espaço brasileiro, sem observância das determinações legais e após
cumprimento injustificado de advertência para pouso.

2.5.1.10 CRIMES DE INGRESSO OU PERMANÊNCIA IRREGULAR DE


ESTRANGEIRO

CF/88, Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) X - os

crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, (omissis);

“A condição de estrangeiro, no processo penal e na perspectiva da competência,


só tem relevância quando se trata de ingresso ou permanência irregular no país.”
(Roberto Luis Luchi Demo, in RJ 328/116)

Reingresso de estrangeiro expulso


CP, Art. 338 - Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de nova expulsão após o
cumprimento da pena.

“1. Constitui crime permanente a conduta delituosa prevista no art. 338 do CP, de
reingresso de estrangeiro expulso, aplicando-se as regras de fixação de competência
previstas nos arts. 71 e 83 do CPP. 2. Conflito conhecido para declarar competente o
Juízo Federal da 3ª Vara Criminal da Seção Judiciária do Estado do Rio de Janeiro,
suscitado. 9

A competência está prevista no artigo 125, da Lei 6.815/80 – Estatuto do


Estrangeiro que prevê diversas infrações administrativas cominadas com pena de multa
ou deportação e também duas infrações penais:

“Lei 6.815/80, Art. 125. Constitui infração, sujeitando o infrator às penas


aqui cominadas: (Renumerado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81)
XII - introduzir estrangeiro clandestinamente ou ocultar clandestino ou

9
CC 40.338/RS, 3ª Seção, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, julgado em 23.02.2005, DJ 21.03.2005 p. 213
irregular: (aqui, creio que a conduta seja de terceiro)
Pena: detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e, se o infrator for estrangeiro,
expulsão.
XIII - fazer declaração falsa em processo de transformação de visto, de
registro, de alteração de assentamentos, de naturalização, ou para a
obtenção de passaporte para estrangeiro, laissez-passer, ou, quando
exigido, visto de saída (aqui tbm creio que a conduta seja de terceiro)
Pena: reclusão de 1 (um) a 5 (cinco) anos e, se o infrator for estrangeiro,
expulsão.”

Para os tribunais, compete à justiça federal o processo e julgamento de todo e


qualquer crime previsto na legislação comum ou especial cometido pelo estrangeiro com
o intuito de regularizar o seu ingresso ou permanência no Brasil. Observe bem: não é que
estrangeiro que pratique crime será necessariamente julgado na justiça federal, porque
ele só será julgado na justiça federal quando o crime praticado tiver sido praticado com o
intuito de regularizar o seu ingresso ou permanência no Brasil.

2.5.1.11 CRIMES QUE ENVOLVEM QUESTÕES INDÍGENAS

CF/88, Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) XI - a

disputa sobre direitos indígenas.

Este inciso justifica a competência cível e penal relativa aos direitos indígenas.
Para ser da competência da Justiça Federal, o crime contra ou praticado por indígena
deve possuir uma conotação transindividual, envolvendo a disputa sobre direitos
indígenas, tais como a terra, sua cultura, sua existência e etc.. Para ter uma noção do que
são os direitos indígenas, ler o artigo 231, CF.

“ Os crimes foram praticados em razão de conflito pela posse de território indígena.


Destarte, havendo disputa sobre direitos indígenas a competência será da Justiça
Federal. 2. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal da 3ª Vara de
Mato Grosso/MT, ora suscitante. “10

“O deslocamento da competência para a Justiça Federal, na forma do inciso XI do artigo


109 da Carta da Republica, somente ocorre quando o processo versa sobre questões
ligadas à cultura indígena e aos direitos sobre suas terras. 2. Homicídio em que os
acusados são índios. Crime motivado por desentendimento momentâneo, agravado por
aversão pessoal em relação à vítima. Delito comum isolado, sem qualquer pertinência
com direitos indígenas. Irrelevância do fato ter ocorrido no interior de reserva indígena.
Competência da Justiça Estadual. Ordem indeferida.” 11

Crime Praticado por Indígena e Competência – 1 [Informativo n.º 434 do STF]

10
CC 39389/MT, 3ª Seção, Rel. Ministra LAURITA VAZ, julgado em 10.03.2004, DJ 05.04.2004 p. 200
11
HC 81827/MT, 2ª Turma, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA, julgado em 28/05/2002, DJ 23-08-2002 PP-00115
O Tribunal, por maioria, negou provimento a recurso extraordinário interposto contra
acórdão do STJ que, resolvendo conflito de competência suscitado nos autos de inquérito
policial instaurado com o objetivo de apurar a prática dos crimes de ameaça, lesão
corporal, constrangimento ilegal e/ou tentativa de homicídio, atribuídos a índios, concluíra
pela competência da Justiça Comum Estadual, aplicando o Enunciado da Súmula 140
daquela Corte. Prevaleceu o voto do Min. Cezar Peluso, primeiro na divergência, que
afirmou sua inclinação no sentido de acompanhar os fundamentos do voto do Min.
Maurício Corrêa, quanto ao alcance do art. 109, XI, da CF, no julgamento do HC
81827/MT (DJU de 23.8.2002), qual seja, de caber à Justiça Federal o processo quando
nele veiculadas questões ligadas aos elementos da cultura indígena e aos direitos sobre
terras, não abarcando delitos isolados praticados sem nenhum envolvimento com a
comunidade indígena (CF: “Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:... XI
- a disputa sobre direitos indígenas.”). Para o Min. Cezar Peluso, a expressão “disputa
sobre direitos indígenas”, contida no mencionado inciso XI do art. 109, significa: a
existência de um conflito que, por definição, é intersubjetivo; que o objeto desse conflito
sejam direitos indígenas; e que essa disputa envolva a demanda sobre a titularidade
desses direitos. Asseverou, também, estar de acordo com a observação de que o art. 231
da CF se direciona mais para tutela de bens de caráter civil que de bens objeto de
valoração estritamente penal (CF: “Art. 231. São reconhecidos aos índios sua
organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre
as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e
fazer respeitar todos os seus bens.”). Esclareceu, no entanto, que a norma também inclui
todo o crime que constitua um atentado contra a existência do grupo indígena, na área
penal, ou crimes que tenham motivação por disputa de terras indígenas ou outros direitos
indígenas. Acentuou, por fim, que essa norma, portanto, pressupõe a especificidade da
questão indígena. Ou seja, o delito comum cometido por índio contra outro índio ou contra
um terceiro que não envolva nada que diga singularmente respeito a sua condição de
indígena, não guarda essa especificidade que reclama da Constituição a tutela peculiar
prevista no art. 231, nem a competência do art. 109, XI. Afastou, assim, a possibilidade de
se ter uma competência “ratione personae” neste último dispositivo. RE 419528/PR, rel.
orig. Min. Marco Aurélio, rel. p/ o acórdão Min. Cezar Peluso, 3.8.2006. (RE-419528)

Se não tiver esse caráter, aplica-se a Súmula 140 do STJ:

“Súmula n.º 140 do STJ (DJU DE 24/05/1995) – Compete à Justiça Comum


Estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou
vítima.”

Interessante é a questão do genocídio contra indígenas. Antes de mais nada, observar


que genocídio significa exterminar uma etnia, de modo que, por envolver direitos indígenas, é
julgado pela justiça federal. Todavia, é um erro pensar que genocídio se dá apenas com a morte
dos indivíduos. Matar é apenas uma das modalidades de se praticar o genocídio. Ver Lei
2.889/56. Importa, saber então que o genocídio não é crime doloso contra a vida, porque o bem
jurídico tutelado é o grupo étnico (grupo étnico, religioso, nacional ou racial), razão pela qual, a
princípio, o genocídio é do juízo singular. Acontece que o STF já decidiu que se a modalidade
escolhida for “matar”, o autor deverá responder em concurso pela prática de homicídio, não sendo
possível a aplicação do princípio da consunção. Nestes casos, os crimes serão julgados por um
júri federal. Sobre genocídio praticado contra indígena o STF, recentemente, decidiu:

Genocídio e Competência – 2 [Informativo n.º 434 do STF]

“O Tribunal negou provimento a recurso extraordinário, remetido pela 1ª Turma ao


Plenário, em que se discutia a competência para processar e julgar os crimes cometidos
por garimpeiros contra índios ianomâmis, no chamado massacre de Haximu – v.
Informativo 402. Pretendia-se, na espécie, sob alegação de ofensa ao disposto no art. 5º,
XXXVIII, d, da CF (“é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a
lei, assegurados:... d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a
vida.”), a reforma de acórdão do STJ que, dando provimento a recurso especial do
Ministério Público Federal, entendera ser o juízo singular competente para processar e
julgar os recorrentes, condenados pela prática do crime de genocídio (Lei 2.889/56, art.
1º, a, b e c) em concurso material com os crimes de lavra garimpeira, dano qualificado,
ocultação de cadáver, contrabando e formação de quadrilha. No caso, o processo
tramitara perante juízo monocrático federal e resultara em decreto condenatório, contra o
qual fora interposto, exclusivamente pela defesa, recurso de apelação, provido para
anular a sentença e determinar a adoção do procedimento do Tribunal do Júri, ao
fundamento de que o genocídio praticado contra índio, com conexão com outros delitos,
seria crime doloso contra a vida.
RE 351487/RR, rel. Min. Cezar Peluso, 3.8.2006. (RE-351487)

 Genocídio e Competência - 3
“Inicialmente, asseverou-se que o objeto jurídico tutelado imediatamente pelos crimes
dolosos contra a vida difere-se do bem protegido pelo crime de genocídio, o qual consiste
na existência de um grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Assim, não obstante a
lesão à vida, à integridade física, à liberdade de locomoção etc. serem meios de ataque a
esse objeto jurídico, o direito positivo pátrio protege, de modo direto, bem jurídico
supranacional ou coletivo. Logo, no genocídio, não se está diante de crime contra a vida
e, por conseguinte, não é o Tribunal do Júri o órgão competente para o seu julgamento,
mas sim o juízo singular. Desse modo, não se negou, no caso, ser a Justiça Federal
competente para a causa. Ademais, considerou-se incensurável o entendimento conferido
pelas instâncias inferiores quanto ao fato de os diversos homicídios praticados pelos
recorrentes reputarem-se uma unidade delitiva, com a conseqüente condenação por um
só crime de genocídio. Esclareceu-se, no ponto, que para a legislação pátria, a pena será
única para quem pratica as diversas modalidades de execução do crime de genocídio,
mediante repetições homogêneas ou não, haja vista serem consideradas como um só
ataque ao bem jurídico coletivo. Ressaltou-se, ainda, que apesar da cominação
diferenciada de penas (Lei 2.889/56, art. 1º), a hipótese é de tipo misto alternativo, no
qual, cada uma das modalidades, incluídos seus resultados materiais, só significa distinto
grau de desvalor da ação criminosa.
RE 351487/RR, rel. Min. Cezar Peluso, 3.8.2006. (RE-351487)
 Genocídio e Competência - 4
“Em seguida, entendeu-se que a questão recursal não se esgotaria no reconhecimento da
prática do genocídio, devendo ser analisada a relação entre este e cada um dos 12
homicídios praticados. Nesse sentido, salientou-se que o genocídio corporifica crime
autônomo contra bem jurídico coletivo, diverso dos ataques individuais que compõem as
modalidades de sua execução. Caso contrário, ao crime mais grave, aplicar-se-ia pena
mais branda, como ocorrera no caso. No ponto, afastou-se a possibilidade de aparente
conflito de normas. Considerou-se que os critérios da especialidade (o tipo penal do
genocídio não corresponderia à soma de um crime de homicídio mais um elemento
especial); da subsidiariedade (não haveria identidade de bem jurídico entre os crimes de
genocídio e de homicídio) e da consunção (o desvalor do homicídio não estaria absorvido
pelo desvalor da conduta do crime de genocídio) não solucionariam a questão, existindo,
pois, entre os diversos crimes de homicídio continuidade delitiva, já que presentes os
requisitos da identidade de crimes, bem como de condições de tempo, lugar e maneira de
execução, cuja pena deve atender ao disposto no art. 71, parágrafo único, do CP.
Ademais, asseverou-se que entre este crime continuado e o de genocídio há concurso
formal (CP, art. 70, parágrafo único), uma vez que no contexto dessa relação, cada
homicídio e o genocídio resultam de desígnios autônomos. Por conseguinte, ocorrendo
concurso entre os crimes dolosos contra a vida (homicídios) e o crime de genocídio, a
competência para julgá-los todos será, por conexão, do Tribunal do Júri (CF, art. 5º,
XXXVIII e CP, art. 78, I). Entretanto, tendo em conta que, na espécie, os recorrentes não
foram condenados pelos delitos de homicídio, mas apenas pelo genocídio, e que o
recurso é exclusivo da defesa, reconheceu-se incidente o princípio que veda a reformatio
in pejus. Os Ministros Carlos Britto, Marco Aurélio e Sepúlveda Pertence ressalvaram seu
entendimento no tocante à adoção da tese de autonomia entre os crimes genocídio e
homicídio quando este for meio de execução daquele.
RE 351487/RR, rel. Min. Cezar Peluso, 3.8.2006. (RE-351487)

Jurisprudência acerca de DIREITOS INDÍGENAS:

**STJ

“Compete à Justiça Federal o processo e julgamento de feito criminal onde vítimas e réu
são índios de facções da Nação Indígena Kiriri, em razão de disputas sobre as terras
pertencentes à comunidade indígena, se evidenciado o envolvimento de interesses gerais
dos indígenas. Motivos/causas dos delitos contra a pessoa provenientes, em tese, de
discordância entre grupos rivais frente à disputa de terras dentro da reserva.
Inaplicabilidade da Súm. nº 140 desta Corte.” (CC 31134/BA, Rel. Ministro GILSON DIPP,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 18/02/2002, DJ 25/03/2002, p. 172)

“Nos termos do enunciado n° 140/STJ, a mera participação de indígena em crime é


insuficiente para atrair a competência da Justiça Federal. 2. Na espécie, entretanto, a
tentativa de homicídio praticada por silvícola contra advogado teve como motivação
conflitos ligados à exploração de garimpos no interior de reserva indígena, o que
caracteriza a hipótese do art. 109, XI, da Constituição da República.” (CC 200802223938,
JORGE MUSSI, STJ - TERCEIRA SEÇÃO, DJE DATA:20/10/2010.)
2.6.1 COMPETÊNCIA POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO OU EM RAZÃO DA
PESSOA OU “RATIONE PERSONAE”

2.6.1.1 Conceito: competência por prerrogativa de função consiste na


possibilidade de o autor do crime ser julgado originariamente por órgãos superiores
(Tribunais) em razão da relevância das suas funções: não se trata de foro “privilegiado” e,
sim, por prerrogativa de função.

Aplica-se o princípio tempus regit actum, de forma que, caso a autoridade deixe
de exercer o cargo que lhe assegure o foro por prerrogativa de função, os autos serão
enviados para 1ª instância, sendo válido todos os atos praticados. Igual entendimento é
inteiramente aplicável se houver deslocamento de competência em razão da mudança de
cargo (Ex: era Governador – STJ e assumiu o mandato de Senador – STF)

Súmula 394 do STF e Princípio Tempus Regit Actum

“A Turma indeferiu habeas corpus em que se pretendia a nulidade do processo criminal


pelo qual ex-prefeita de comarca do Estado de São Paulo fora condenada pela prática do
crime de corrupção ativa (CP, art. 333, caput). No caso concreto, Procurador de Justiça
oferecera denúncia perante o Tribunal de Justiça local. No entanto, o então
desembargador relator, diante do posterior cancelamento do Enunciado da Súmula 394
do STF (“Cometido o crime durante o exercício funcional, prevalece a competência
especial por prerrogativa de função, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados
após a cessação daquele exercício”), declarara-se incompetente e remetera os autos ao
juízo de primeiro grau. Alegava-se violação ao princípio do promotor natural, consistente
no fato de o juízo de primeiro grau ter recebido a denúncia formulada por procurador de
justiça atuante em segundo grau, quando o promotor natural da causa seria o promotor de
justiça da comarca de origem. Entendeu-se aplicável o princípio tempus regit actum, do
qual resulta a validade dos atos antecedentes à alteração da competência inicial,
considerando-se que, na espécie, a denúncia fora oferecida em data anterior a do
cancelamento da mencionada súmula. Precedente citado: Inq 687 QO/SP (DJU de
9.9.99).
HC 87656/SP, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 14.3.2006. (HC-87656)

Trata-se da competência originária dos tribunais. No Brasil, determinadas pessoas


em razão da dignidade do cargo são julgadas originariamente por tribunal. Há duas
razões para a existência dessa prerrogativa, conforme entendimento doutrinário:

a) afastar o julgamento de pressões locais, como regra, os tribunais


estão afastados das questões locais;
b) permitir que seja proferido um julgamento melhor , graças a maior
qualificação dos julgadores de 2a instância.

Trata-se de PRERROGATIVA e não de PRIVILÉGIO, porque ocorrem em razão


do cargo e não da pessoa. Foro por prerrogativa de função como existe no Brasil,
somente aqui em nenhum outro país.

 Prerrogativa – é determinada em razão do cargo;


 Privilégio – é determinada em razão da pessoa.

As pessoas dotadas de foro por prerrogativa de função não podem se valer dos
recursos ordinários (apelação ou recurso em sentido estrito). Somente podem impugnar a
decisão por meio de RECURSO ESPECIAL ou RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
Atenção: é cabível o ajuizamento da ação de HC. Aqui, importante a ressalva de que o
STF já se posicionou no sentido de que pessoas com foro por prerrogativa de função não
tem direito ao duplo grau de jurisdição, aí compreendido como a possibilidade de reexame
integral da sentença (matéria de fato e de direito) por órgão jurisdicional diverso e de
hierarquia superior (RHC 79.785, STF). A interposição de RE e REsp não é entendida
como duplo grau, porque eles não devolvem a instância ad quem o conhecimento da
matéria de fato.

Do ponto de vista constitucional essa jurisprudência do STF é muito questionável.


Está em total discrepância com o art. 8º, II, “h”, da Convenção Americana de Direitos
Humanos (direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior). (DIREITO
INTERNACIONAL: não prevê como regra a possibilidade de recurso, tanto que as
decisões da CIJ são irrecorríveis).

2.6.1.3 Regras fundamentais sobre a competência por prerrogativa de função:

1ª) crime cometido antes do início da função: altera-se a competência (o juízo


natural), quando o agente assume a nova função. Se não for julgado, uma vez cessada a
função, volta o processo para a vara de origem.

2ª) crime cometido durante o exercício das funções: é julgado pelo foro
especial. E depois de cessada a função? A competência especial em face do cargo
também cessa e todos os atos então praticados são tidos como válidos.

*A Lei 10.628/02, que alterou o Art. 84 do CPP, estendeu o for por prerrogativa de
função para os atos funcionais após o término do exercício da função. Além disso,
estendeu o foro especial também para os casos de improbidade administrativa (que
retrata situações de má gestão da coisa pública). A história dessa lei começou com o
ajuizamento de ações de improbidade contra FHC, pelo MPF. Com a preocupação em
relação à prisão de FHC foi publicada a lei.

Em verdade, a lei reativou parcialmente a súmula 394, do STF, que havia sido
cancelada pelo STF (INQ 287). Essa súmula foi cancelada em 11/2001e possuía a
seguinte redação:

“Súmula 394 do STF – Cometido o crime durante o exercício funcional,


prevalece a competência especial por prerrogativa de função, ainda que o
inquérito ou a ação penal sejam iniciados após a cessação daquele exercício.”

O STF já se posicionou sobre a inconstitucionalidade da Lei no julgamento da ADI


2797.

Fundamentos do voto do min. SEPÚLVEDA PERTENCE:

a) o STF cancelou a súmula, assim o legislador ordinário não pode


usurpar a competência do STF de interpretar a CF;
b) as decisões do STF não estão sujeitas a referendo do legislador, ou
seja, o que o STF interpretou, não pode ser refutado por lei do legislador ordinário
(Interpretação da Constituição conforme a lei) e sim através de emenda
constitucional;
c) a competência originária em improbidade administrativa não está
prevista na CF, assim, o legislador ordinário não poderia fazê-lo.

3ª) crime cometido após o exercício das funções: não há que se falar nesse
caso em foro especial (Súmula 451 do STF).

4ª) Não importa o local da infração nos casos de competência originária dos
tribunais: o sujeito será sempre julgado pelo seu juiz natural (isto é, pelo seu Tribunal
natural). Juiz de direito de São Paulo que comete crime no Maranhão: será julgado pelo
TJ de SP.:

5ª) Casos de co-autoria: por força da continência ou da conexão, haverá


processo único no Tribunal competente, ainda que o co-réu não tenha foro especial.
Exceção: crimes dolosos contra a vida; o agente público será julgado pelo seu juízo
natural; o particular pelo Tribunal do Júri.

“Súmula n.º 704 do STF – Não viola as garantias do juiz natural, da ampla
defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do
processo do co-réu ao foro por prerrogativa de função de um dos
denunciados.”

Esse entendimento não é absoluto, pois o STF analisa a separação ou não do


processo segundo o juízo de conveniência, levando em conta a participação de muitos
réus, menor importância da conduta praticado pelo agente com foro por prerrogativa de
função. Ex: houve um processo em que um agente cometeu um crime em concurso com
2000 servidores públicos. Neste caso, o STF optou pela separação. A faculdade está
prevista no Art. 80 do CPP.

“CPP, Art. 80. Será FACULTATIVA a separação dos processos quando as


infrações tiverem sido praticadas em CIRCUNSTÂNCIAS DE TEMPO OU DE
LUGAR DIFERENTES, ou, quando pelo EXCESSIVO NÚMERO DE
ACUSADOS e para não Ihes prolongar a prisão provisória, OU POR OUTRO
MOTIVO RELEVANTE, o juiz reputar conveniente a separação.

PROCESSOS. SEPARAÇÃO FACULTATIVA. CO-RÉUS.

“Em exceção de incompetência, co-réu com prerrogativa de função teve seu processo
desmembrado pela continência (CPP, arts. 77, I, 78, III, 79, caput, e 80). No caso, se
houvesse a necessidade da cisão, seria no âmbito do mesmo órgão jurisdicional
competente para processar e julgar todos os co-réus e não em instâncias
diferentes. Desse modo, proveu-se o recurso para que o co-réu seja processado no TRF
da 4ª Região, por força da obrigatoriedade da união de processos e julgamento pelo
órgão judiciário de maior graduação.” Precedentes citados do STF: HC 70.688-SP, DJ
10/12/1993; do STJ: Inq 282-RJ, DJ 12/11/2001. RHC 17.377-PR, Rel. Min. Arnaldo
Esteves Lima, julgado em 13/9/2005.

“A competência determinada pela conexão probatória é de juízo, e não de autos de


processo-crime (CPP, art. 76, III). 2. A separação de processos no âmbito da competência
do mesmo Juízo pode ser determinada facultativamente quando por motivo relevante for
reputada conveniente (CPP, art. 80). Esta decisão tem respaldo no art. 2º da Lei nº
8.038/90, combinado com o art. 1º da Lei nº 8.658/93.” HC 73.208/RJ, 2ª Turma, Relator
Min. MAURÍCIO CORRÊA, Julgamento: 16/04/1996

Jurisprudência:

***STJ:

“Na determinação da competência por conexão e continência, havendo concurso de


jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação (art. 78, III, do
CPP), estendendo-se tal competência aos demais co-réus, que não gozem de foro
especial por prerrogativa de função. Precedentes desta Corte e do colendo Supremo
Tribunal Federal.” (HC 22066/MG, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA,
julgado em 05/11/2002, DJ 09/1)

***STF

“Sendo um dos denunciados desembargador, possuidor de foro por prerrogativa de


função, os demais co-autores serão processados e julgados perante o Superior Tribunal
de Justiça, tendo em conta a conexão. Súmula 704-STF.” (HC 84465, Relator(a): Min.
CARLOS VELLOSO, Segunda Turma, julgado em 26/10/2004, DJ 26-11-2004 PP-00031
EMENT VOL-02174-02 PP-00369 LEXSTF v. 27, n. 314, 2005, p. 410-415)

“ATENÇÃO” – Recente questão de ordem no julgamento do MENSALÃO:

“O Plenário iniciou julgamento da ação penal acima referida (AP 470-MG – Mensalão). A
princípio, por maioria, rejeitou-se questão de ordem, suscitada da tribuna, em que
requerido o desmembramento do feito, para assentar-se a competência da Corte quanto
ao processo e julgamento dos denunciados não detentores de mandato parlamentar.
Prevaleceu o voto do Min. Joaquim Barbosa, relator. Lembrou que o tema já teria sido
objeto de deliberação pelo Pleno em outra ocasião, na qual decidido que o Supremo seria
competente para julgar todos os réus envolvidos na presente ação, motivo por que a
questão estaria preclusa. Destacou o Enunciado 704 da Súmula do STF (“Não viola as
garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por
continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um
dos denunciados”), a demonstrar que o debate, sob o prisma constitucional, já teria sido
realizado. O Min. Luiz Fux observou que o exame de ações conexas teria por escopo a
aplicação de 2 cláusulas constitucionais: devido processo legal e duração razoável do
processo. Considerou não haver, nas causas de competência originária da Corte, duplo
grau obrigatório de jurisdição. Atentou para a possibilidade de o eventual julgamento
isolado de alguns dos réus, em contexto de interdependência fática, levar à prolação de
decisões inconciliáveis. Afirmou que, da ponderação entre as regras do Pacto de São
José da Costa Rica e da Constituição, prevaleceriam estas, emanadas do Poder
Constituinte originário. (...) O Min. Cezar Peluso salientou o que discutido a esse respeito,
ainda, nos autos do Inq 2424/RJ (DJe de 27.11.2008). Ressaltou o risco de o
desmembramento provocar decisões contraditórias, à luz de imputações relativas a
crimes de quadrilha, bem como de delitos atribuídos a título de coautoria. Advertiu,
também, que eventual remessa dos autos a outro juízo provocaria excessiva demora no
julgamento, dada a complexidade da causa e a quantidade de informações envolvida. (...)
O Min. Gilmar Mendes sublinhou que, se o presente caso fosse desmembrado, sua
complexidade levaria à prescrição da pretensão punitiva. (AP 470/MG, rel. Min. Joaquim
Barbosa, 2 e 3.8.2012. – Info 473) – Ou seja: o entedimento da Corte continua firme no
sentido da atração do corréu ao foro por prerrogativa de função, sendo plenamente
aplicável a súmula 704.

2.6.2 PRINCIPAIS HIPÓTESES DE FORO ESPECIAL POR PRERROGATIVA DE


FUNÇÃO

CRIME DE RESPONSABILIDADE: MATÉRIA PENAL:

“Continuando o julgamento acima mencionado, o Tribunal, por maioria, entendendo que


os crimes de responsabilidade configuram matéria penal e não política, declarou a
inconstitucionalidade da expressão “sob pena de crime de responsabilidade” contida no §
2º do referido art. 162 da Constituição do Estado de Minas Gerais, por ofensa à
competência privativa da União para legislar sobre direito penal (CF, art. 22, I). Vencido,
neste ponto, o Min. Marco Aurélio, que entendia ser cabível a distinção entre crime de
responsabilidade e crime disciplinado pelo Direito Penal, não vislumbrando na
competência exclusiva da União a inserção da disciplina do crime de responsabilidade.”
ADI 1.901-MG, rel. Min. Ilmar Galvão, 3.2.2003. (ADI-1901)

Doutrina: Pacelli entende q não seria atribuição do MP a propositura de ação para


apuração de crime de responsabilidade, por não ter ela natureza penal: “Os crimes de
responsabilidade têm muito de responsabilidade política e nada de crime. Com isso, não
se podem incluir as ações instauradas para as respectivas apurações entre as ações
penais propriamente ditas, tratando-se, na verdade, de procedimentos realizados no
âmbito da jurisdição política. Por isso, não nos parece sustentável o argumento de que, a
partir da CR/88, a persecução seria também do Ministério Publico. Isso porque, como
vimos, em tal situação não se pode falar rigorosamente em ação penal, ainda que a
terminologia adotada na Constituição faça referência a crimes de responsabilidade.”

*Presidente da República e Vice-Presidente da República:

(a) crime comum: STF


(b) crime de responsabilidade: Senado Federal

*Deputado Federal e Senador:

(a) crime comum: STF – Atenção!!! EC 76 de 28/11/2013 – É expressa agora a


previsão de que nos casos de condenação criminal a perda do mandato será decidida
pela respectiva casa.
(b) crime de responsabilidade: Casa respectiva a que pertence.

*Ministro de Estado:

(a) crime comum: STF


(b) crime de responsabilidade: STF, salvo se for conexo com crime do Presidente
da República, pois nesse caso será julgado no Senado Federal.

IMPEACHMENT DE MINISTRO DE ESTADO [IMPORTANTE]

“Compete privativamente ao chefe do Ministério Público Federal a titularidade para a


propositura de ação penal pública, perante o Supremo Tribunal Federal, contra ministros
de Estado, pela prática de crimes de responsabilidade (CF, art. 102, I, c). Com base nesse
entendimento, o Tribunal, considerada a ilegitimidade ad causam, por maioria, negou
seguimento à denúncia apresentada por particulares em face de ministros de Estado pela
suposta prática de crime de responsabilidade – em que se pretendia o impeachment das
referidas autoridades pela não-liberação do repasse de verbas para o pagamento de
precatórios judiciais de caráter alimentar –, determinando-se a remessa dos autos ao
MPF. Considerou-se que o julgamento realizado no âmbito jurisdicional possui natureza
eminentemente penal, não sendo possível estender aos cidadãos a possibilidade de
iniciar, perante o Poder Judiciário, processo de afastamento de ministro de Estado, haja
vista que tal legitimação restringe-se à apresentação de denúncia dessa natureza, junto
ao Poder Legislativo, que envolva necessariamente o Presidente da República, não se
aplicando, portanto, ao processo perante o STF, as regras procedimentais constantes da
Lei 1.079/50. Vencidos os Ministros Celso de Mello e Marco Aurélio que, assentando a
natureza político-administrativa dos crimes de responsabilidade – e afastando, assim, a
sua conotação criminal –, reconheciam a legitimidade do cidadão para apresentar
denúncia contra ministro de Estado (Lei 1.079/50, art. 14: “É permitido a qualquer cidadão
denunciar o Presidente da República ou Ministro de Estado por crime de
responsabilidade, perante a Câmara dos Deputados.”). Precedentes citados: Pet 85-DF
(DJU de 13.2.91) e MS 20.442-DF (RTJ 111/202).
 Lei 10.683/03, Art. 25 (omissis), parágrafo único. São Ministros de Estado os
titulares dos Ministérios, o Chefe da Casa Civil, o Chefe do Gabinete de Segurança
Institucional, o Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, o Chefe da
Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, o Advogado-Geral
da União, o Ministro de Estado do Controle e da Transparência e o Presidente do
Banco Central do Brasil. (Redação dada pela Lei nº 11.204, de 2005)

Houve ADI’s (3289 e 3290) questionando essa transformação, entretanto, o STF,


por maioria, julgou improcedentes os pedidos formulados.

“Ação direta de inconstitucionalidade contra a Medida Provisória nº 207, de 13 de agosto


de 2004 (convertida na Lei nº 11.036/2004), que alterou disposições das Leis nº 10.683/03
e Lei nº 9.650/98, para equiparar o cargo de natureza especial de Presidente do Banco
Central ao cargo de Ministro de Estado. 2. Prerrogativa de foro para o Presidente do
Banco Central. 4. Natureza política da função de Presidente do Banco Central que
autoriza a transferência de competência. 8. Sistemas singulares criados com o objetivo de
garantir independência para cargos importantes da República: Advogado-Geral da União;
Comandantes das Forças Armadas; Chefes de Missões Diplomáticas. 10. Prerrogativa de
foro como reforço à independência das funções de poder na República adotada por
razões de política constitucional. 11. Situação em que se justifica a diferenciação de
tratamento entre agentes políticos em virtude do interesse público evidente. 13. Ação
direta de inconstitucionalidade julgada improcedente” (ADI 3289, Relator(a): Min.
GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 05/05/2005, DJ 03-02-2006 PP-00011
EMENT VOL-02219-02 PP-00304 REPUBLICAÇÃO: DJ 24-02-2006 PP-00007 RTJ VOL-
00209-03 PP-01035)

Não confundir quando o cargo for equiparado ao de Ministro de Estado, pois não
tem direito ao foro por prerrogativa de função.Eis o caso:

“Lei 10.683/03, Art. 38. São criados os cargos de natureza especial de


Secretário Especial do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, de
Secretário Especial de Aqüicultura e Pesca, de Secretário Especial dos
Direitos Humanos e de Secretário Especial de Políticas para as Mulheres da
Presidência da República.
§ 1º Os cargos referidos no caput terão prerrogativas, garantias, vantagens e
direitos equivalentes aos de Ministro de Estado.
§ 2º A remuneração dos cargos referidos no caput é de R$ 8.280,00 (oito mil
duzentos e oitenta reais).”

*Prerrogativa de Foro e Secretário Especial de Aqüicultura e Pesca

“O Tribunal, por maioria, resolveu questão de ordem em inquérito instaurado contra o


Secretário Especial de Aqüicultura e Pesca da Presidência da República no sentido de
declarar a incompetência do STF para julgar o feito. Na espécie, o querelado fora
denunciado pela suposta prática de crimes contra a honra, previstos na Lei de Imprensa,
que teriam ocorrido quando exercia o cargo de Prefeito de Chapecó-SC. Entendeu-se que
o Secretário Especial de Aqüicultura e Pesca, por não ser Ministro de Estado, não possui
a prerrogativa de foro estabelecida no parágrafo único do art. 25, da Lei 10.683/2003, com
a redação dada pela Lei 10.869/2004, e que a extensão de prerrogativas, garantias,
vantagens e direitos equivalentes aos Ministros de Estado a que alude o §1º do art. 38 da
referida Lei repercute somente nas esferas administrativa, financeira e protocolar, mas
não na estritamente constitucional. Vencido o Min. Joaquim Barbosa que declarava a
competência desta Corte.” Inq 2044 QO/SC, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 17.12.2004.
(Inq-2044)

*Procurador Geral da República, Ministro do STF, Advogado Geral da União e


Membros do CNJ ou do CNMP:

(a) crime comum: STF


(b) crime de responsabilidade: Senado Federal

***Doutrina:

Pacelli – A EC 45/04 estabeleceu a competência do STF para o processo e


julgamentos de membros CNJ, do CNMP e do AGU por crimes de responsabilidade, sem,
no entanto, existir norma infralegal tipificando esse crime em relação a tais autoridades. p
200

Pacelli, p. 203 – “se a EC 45/04, de um lado, estabeleceu foro privativo, no


Senado Federal, para os membros do CNJ e do CNMP, para o julgamento dos crimes de
responsabilidade (art. 52, II), do outro, o mesmo não ocorreu em relação aos crimes
comuns. Para esses permanecem as antigas disposições (...) já que houve disposição
expressa em relação aos crimes de responsabilidade e silêncio expressivo/eloquente em
relação aos crimes comuns.” Assim, se um dos dois advogados, indicados pelo Conselho
Federal da OAB para serem membros do CNJ, praticar um crime de furto, será julgado
pela Justiça Estadual e não pelo STF.

*Membros dos Tribunais Superiores: crimes comuns ou de responsabilidade: STF.

*Juiz Federal ou Membros do Ministério Público Federal: são julgados pelos


T.R.Fs., salvo Membro do Ministério Público que atua junto aos TRF’s ou junto aos
Tribunais Superiores (nesse caso são julgados pelo STJ).

*Desembargadores: são julgados pelo S.T.J.

*Conselheiro dos Tribunais de Conta do Estado: são julgados pelo S.T.J.

*Governador:

(a) crime comum e eleitoral: S.T.J.


(b) crime de responsabilidade: compete ao órgão especial estabelecido no art. 78
da Lei 1.079/50. (vide ADI 3466) A justificativa é que as CE´s não possuiriam competência
para legislar sobre material processual (União) e ao preverem foro na CE, estariam
invadindo a competência da União.

Jurisprudência:

“Os Governadores de Estado - que dispõem de prerrogativa de foro ratione muneris,


perante o Superior Tribunal de Justiça (CF, art. 105, I, a) - estão sujeitos, uma vez obtida a
necessária licença da respectiva Assembléia Legislativa (RTJ 151/978-979 - RTJ 158/280
- RTJ 170/40-41 - Lex/Jurisprudência do STF 210/24-26), a processo penal condenatório,
ainda que as infrações penais a eles imputadas sejam estranhas ao exercício das funções
governamentais.” (HC 80511, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma,
julgado em 21/08/2001, DJ 14-09-2001 PP-00049 EMENT VOL-02043-02 PP-00294)

*Deputado Estadual, Secretário de Estado, Vice-governador, desde que previsto


na Constituição Estadual do Estado-membro,
(a) crime comum – aqui incluso os dolosos contra a vida: Tribunal de Justiça.
(b) crime contra a União: T.R.F.
(c) crime eleitoral: T.R.E.
(d) crime de responsabilidade: Assembléia Legislativa respectiva

Doutrina:

Pacelli mudou seu entendimento, sustentando, agora, ser possível a suspensão


do processo contra deputado estadual por deliberação da Casa Legislativa, nos moldes
previstos para o Legislativo da União, tanto no que se refere aos processos em trâmite
nos TJ’s, como nos processados perante os TRF’s e os TER’s. Se a CR/88 admite
tratamento equivalente em relação às imunidades (art. 27), mostra-se possível afirmar
que tais imunidades se estendam também para quaisquer juízos, incluindo o TRF e TRE,
não se restringindo ao TJ. p. 226. POR OUTRO LADO, “em relação aos prefeitos – e
também aos vereadores, acrescentaríamos -, autoridades locais que são, não se poderia
falar em semelhante prerrogativa (suspensão do processo de crime não relacionado ao
exercício da função), mesmo que fosse prevista em Constituição do Estado, por ausência
de autorização constitucional para o tratamento simétrico.” Como se dera para os
deputados estaduais através da norma de extensão do art. 27 da CR/88. p. 227

***Jurisprudência:

“A 1ª Turma concedeu habeas corpus para cassar decreto de prisão expedido por juiz de
direito contra deputado estadual. Entendeu-se que, ante a prerrogativa de foro, a vara
criminal seria incompetente para determinar a constrição do paciente, ainda que afastado
do exercício parlamentar. Em caso de prerrogativa de foro, todo e qualquer ato de
constrição há de ser praticado pelo Tribunal competente.” (HC 95485, MARCO AURÉLIO,
STF) (informativo 628)

A Constituição da República não atribui, ao suplente de Deputado Federal ou de


Senador, a prerrogativa de foro, “ratione muneris”, perante o Supremo Tribunal Federal,
pelo fato de o suplente - enquanto ostentar essa específica condição - não pertencer a
qualquer das Casas que compõem o Congresso Nacional. Precedentes. Inq 3341/DF,
Min. Celso de Mello, 1º a 3 de agosto de 2012 – Info 473)

*Juiz Estadual e membro do Ministério Público Estadual: são julgados pelo


Tribunal de Justiça onde exerçam as suas funções, mesmo que sejam crimes da
competência da Justiça Federal, excetuando-se a Justiça Eleitoral.

“CF/88, Art. 96. Compete privativamente: (...) III - aos Tribunais de Justiça
julgar os juízes estaduais e do Distrito Federal e Territórios, bem como os
membros do Ministério Público, nos crimes comuns e de responsabilidade,
ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.”

“Compete aos Tribunais de Justiça o julgamento de juízes estaduais, mesmo quando


acusados de crime de competência da Justiça Federal (CF, art. 96, III). Com esse
entendimento, a Turma deferiu habeas corpus impetrado em favor de pacientes
condenados pelo TRF da 2ª Região - por terem deixado de recolher aos cofres do INSS
contribuições previdenciárias descontadas dos salários de seus empregados (Lei
8.212/91, art. 95, d) -, sendo que um deles fora empossado como juiz substituto durante a
fase de instrução na primeira instância, para cassar o acórdão e a sentença e anular o
processo a partir da nomeação, determinando a remessa dos autos da ação penal ao
Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo. Determinou-se, ainda, a extensão da
competência à co-ré, que não goza da prerrogativa de foro, tendo em vista o disposto no
art. 78, III, do CPP (“Na determinação da competência por conexão ou continência, serão
observadas as seguintes regras:... III - no concurso de jurisdições de diversas categorias,
predominará a de maior graduação”).”Precedentes citados: HC 68.935-SP (RTJ 138/819)
e HC 77.738-SP (DJU de 13.11.98). HC 77.558-ES, rel. Min. Carlos Velloso, 16.3.99.

É firme a jurisprudência do Supremo Tribunal no sentido de que a única ressalva


à competência por prerrogativa de função do Tribunal de Justiça para julgar juízes
estaduais, nos crimes comuns e de responsabilidade, é a competência da Justiça
eleitoral: precedentes. 12

*Prefeitos:
(a) crime de responsabilidade (=infração político-administrativa): são julgados pela
Câmara Municipal (com sujeição à cassação do cargo), previstos no Art. 4º do do DL
201/67.
(b) crime comum: Tribunal de Justiça, inclusive os crimes de responsabilidade
impróprios previsto no art. 1º do DL 201/67.
(c) crime contra a União: T.R.F.
(d) crime eleitoral: T.R.E.

“Súmula 702 do STF – A competência do Tribunal de Justiça para julgar


Prefeitos restringe-se aos crimes de competência da Justiça comum estadual;
12
RE 398042/BA, 1ª Turma, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, julgado em 02/12/2003, DJ 06-02-2004 PP-
00038
nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de
segundo grau.”

*Embaixador brasileiro (chefe de missão diplomática de caráter permanente: é


julgado pelo S.T.F.

*Vereador: não tem foro por prerrogativa de função. Exceção: Estado do Piauí,
v.g., porque há previsão na Constituição local (STF, HC 74.125-8, DJU de 11.04.97, p.
12.186). Jurisprudência: Cinge-se a controvérsia em verificar se vereador possui foro
especial por prerrogativa de função em ação penal na qual se apura crime cometido em
município diverso de sua vereação. Em princípio, ressaltou-se que, embora a CF não
estabeleça foro especial por prerrogativa de função no caso dos vereadores, nada obsta
que tal previsão conste das constituições estaduais. O Min. Relator destacou que,
segundo o STF, cabe à constituição do estado-membro prever a competência dos seus
tribunais, observados os princípios da CF (art. 125, § 1º). In casu, sendo o acusado titular
de mandato de vereador de município mineiro, apenas a constituição do respectivo estado
poderia atribuir-lhe o foro especial. Porém, o art. 106 daquela Constituição não prevê foro
especial para vereador, devendo, nesse caso, prevalecer a regra de competência do art.
70 do CPP. Assim, como a prisão em flagrante ocorreu em município diverso daquele de
sua vereação, por estar o vereador supostamente mantendo em sua residência um
veículo objeto de furto, compete ao juízo desse local processar e julgar o feito.
Precedentes citados do STF: ADI 541-PB, DJ 6/9/2007; do STJ: HC 86.177-PI, DJe
28/6/2010, e HC 57.340-RJ, DJ 14/5/2007. CC 116.771-MG, Rel. Min. Sebastião Reis
Júnior, julgado em 29/2/2012. STJ – info 492.

*Procurador Estadual: Prerrogativa de Foro


“Embora seja permitido à Constituição de Estado-membro instituir foro especial por
prerrogativa de função (CF, art. 125, § 1º), ela não pode excluir a competência
constitucional do Tribunal do Júri para o julgamento de crimes dolosos contra a vida (CF,
art. 5º, XXXVIII, d), a não ser em relação aos agentes políticos correspondentes àqueles
que a Constituição Federal outorga tal privilégio. Com esse fundamento, o Tribunal, em
face de habeas corpus impetrado em favor de procurador do Estado da Paraíba que fora
condenado por crime de homicídio perante o Tribunal de Justiça estadual em virtude de
privilégio de foro, deferiu o pedido para anular o acórdão condenatório e o processo penal
em que ele foi proferido, ab initio, determinando a devolução dos autos da ação penal à
comarca de origem, por entender inaplicável, aos crimes dolosos contra a vida atribuídos
aos procuradores do Estado, a regra inscrita no art. 136, XII, da Constituição do Estado
da Paraíba (“São assegurado s ao Procurador do Estado: ... XII - ser processado e
julgado, originariamente, pelo Tribunal de Justiça do Estado, nos crimes comuns ou de
responsabilidade;”). HC 78.168-PB, rel. Min. Néri da Silveira, 18.11.98.

O foro por prerrogativa de função pode ser fixado tanto na Constituição


Federal como na Constituição Estadual, sendo que na 1ª hipótese afasta sempre a
competência constitucional do Tribunal do Júri, enquanto na 2ª hipótese somente afastará
se o cargo for ocupado for simétrico em relação ao cargo federal. Entretanto, o foro por
prerrogativa de função estabelecido nas Constituições Estaduais é válido apenas em
relação as autoridades judiciárias estaduais e locais, não podendo ser invocado em face
do Poder Judiciário Federal, salvo quando se tratar de Juiz de Direito ou membro do
Ministério em que a Constituição Federal somente ressalvou a competência da Justiça
Eleitoral.

“Súmula 721 do STF – A competência constitucional do Tribunal do Júri


prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente
pela Constituição estadual.”

AUTORIDADE INFRAÇÃO ÓRGÃO JULGADOR

COMUM STF

PROCURADOR-GERAL DA
REPÚBLICA RESPONSABILIDA SENADO FEDERAL
DE

PARLAMENTARES
RESPONSABILIDA CASA
DE CORRESPONDENTE

MINISTROS DE ESTADO E OS
COMAMANDANTES DA MARINHA, DO
EXÉRCITO E DA AERONÁUTICA RESP. CONEXO
SENADO FEDERAL
COM PRESIDENTE

MINISTROS TRIBUNAIS
SUPERIORES (STJ, TSE, STM, TST) E COMUM/
STF
DIPLOMATAS RESPONSABILIDADE

TRIBUNAL DE CONTAS DA
UNIÃO
MEMBROS DOS TRT/ TRE/ TCE/ COMUM/
TCM E TRFs STJ (ART. 105, I, “a”)
RESPONSABILIDADE

COMUM/
JUÍZES FEDERAIS TRF (ART. 108, I, “a”)
RESPONSABILIDADE

COMUM/ STJ (ART. 105, I, “a”)


ELEITORAL
GOVERNADOR DE ESTADO
RESPONSABILIDA
Art. 78, Lei 1.079/50
DE

COMUM DEPENDE DA CONST.


ESTADUAL
VICE-GOVERNADOR DE ESTADO
RESPONSABILIDA DEPENDE DA CONST.
DE ESTADUAL

COMUM DEPENDE DA CONST.


ESTADUAL (EM REGRA TRIBUNAL
DE JUSTIÇA)
PARLAMENTARES ESTADUAIS
RESPONSABILIDA ASSEMBLÉIA
DE LEGISLATIVA

PROCURADOR-GERAL DE
JUSTIÇA
RESPONSABILIDA PODER LEGISLATIVO
DE ESTADUAL OU DISTRITAL (ART.
128, § 4º)
RESPONSABILIDA
Art. 78, Lei 1.079/50
DE COM GOVERNADOR

COMUM/ TJ (ART. 96, III)


RESPONSABILIDADE
MEMBROS DO MINISTÉRIO
PÚBLICO ESTADUAL
CRIMES
TRE
ELEITORAIS

COMUM/ TJ (ART. 96, III)


RESPONSABILIDADE
JUÍZES DE ALÇADA/ TRIBUNAL
DE JUSTIÇA MILITAR/ JUÍZES DE DIREITO
CRIMES
TRE
ELEITORAIS

COMUM/
DESEMBARGADORES ELEITORAL/ STJ (ART. 105, I, “a”)
RESPONSABILIDADE

RESPONSABILIDA
CÂMARAS DOS
DE (INFRAÇÕES POLÍTICO-
PREFEITOS VEREADORES (ART. 31)
ADMINISTRATIVAS)
RESPONSABILIDA
DES IMPRÓPRIAS TJ
(INFRAÇÕES PENAIS)

2.6.2.1 FORO POR PRERROGATIVA NOS TRIBUNAIS

2.6.2.1.1 Competência do STF

CF/88, Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a


guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-
Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o
Procurador-Geral da República;
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os
Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica,
ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do
Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter
permanente; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999)

Trata-se da competência originária do STF.

A expressão “crimes comuns” 13 na Constituição Federal abrange a prática de


qualquer infração penal, incluindo, portanto, os crimes eleitorais, crimes militares e
contravenção. Ela se contrapõe aos crimes de responsabilidade que, na verdade, não são
crimes, mas infrações políticas-administrativas.

Todas as autoridades do primeiro escalão do Poder da República são julgadas


pelo STF, a CF aplicou o princípio da simetria:

a) PR e Vice; Ministro de Estado;


b) Senador e Deputado Federal;
c) Ministro dos Tribunais Superiores e Ministros do próprio STF.

 1º escalão do Executivo – Presidente da República, Vice-presidente, ministro


do Estado;
 1º escalão do legislativo – Senador e Deputado Federal;
 1º escalão do Judiciário – Ministros dos Tribunais Superiores, Ministros do
próprio STF.
 Comandantes do Exercito, Marinha e Aeronáutica – por razões históricas
hoje não são mais ministérios; são comandantes subordinados ao Ministério da
Defesa. Por questões históricas, os comandantes, que fazem parte do Executivo, são
julgados pelo STF.
 Chefe de representação diplomática permanente – julgado originariamente
pelo STF;
 Ministros do TCU - Por questões históricas, os ministros do TCU são
julgados pelo STF.
 Procurador-Geral da República – é o chefe do Ministério Público da União. O
MP não é poder, formalmente. O MP não é o 4º poder. É uma instituição extra-poder,
que tem status de poder. Em verdade, é o PGR a cúpula do MP, logo, “top julga top”.
Por isso, o PGR é julgado originariamente no STF.

2.6.2.1.2 Competência do STJ

O STJ, de acordo com o artigo 105, I, a, da CF, julga originariamente pela prática
de crime comum as seguintes autoridades:
13
Rcl 511/PB, Pleno, Rel. Min. CELSO DE MELLO, julgado em 09/02/1995, DJ 15-09-1995 PP-29506
 Governadores – o artigo 105, I, a – só diz governador. Não diz vice-
governador. Ele é julgado pelo Tribunal de Justiça se assim a Constituição
Estadual determinar. A constituição estadual pode estabelecer prerrogativa de
foro a autoridades.
 Desembargadores (crimes comuns e de responsabilidade);
 Conselheiros dos Tribunais de Contas dos Estados e dos Municípios,
onde existirem;
 Juízes dos seguintes Tribunais:
o TRF
o TRE - 27
o TRT – 24
1) Membros do Ministério Público da União que oficiem perante
Tribunais. Procurador de justiça é julgado pelo TRF, salvo se for procurador de
justiça do MP do DF e territórios – são julgados pelo STJ (fazem parte do
Ministério Público da União).

Aqui não se seguiu o princípio da simetria. Foi questão política que determinou
que essas autoridades fossem julgadas pelo STJ.

São chamados de Tribunais Nacionais (tribunais com jurisdição nacional):


 STJ
 STF

PRINCÍPIO DA REGIONALIDADE
 TJ
 TRF

Procurador de Justiça: é julgado pelo TJ, exceto se do DF e Territórios que serão


julgados pelo STJ, porque são MPU.

2.6.2.1.3 Competência do TRF

TRF julgam originariamente em todos os crimes praticados por:

 Juízes Federais
 Juízes do Trabalho
 Procuradores da República
 Promotores do Ministério Público do Distrito Federal e
Territórios/MPDFT [Embora possuam funções equivalentes aos Ministérios
Públicos Estaduais, pertencem ao Ministério Público da União, excepcionando a
regra geral prevista no art. 96, III da CF/88 – Vide item 2.5.1.9]
 Procuradores do Trabalho
 Prefeitos e deputados estaduais – pela prática de crimes federais: no
artigo 29, CF, está estabelecido que compete ao TJ julgar prefeitos, mas se forem
crimes federais, em razão da simetria, devem ser julgados pelo TRF (Súmula
702, do STF). Se o crime for eleitoral, o prefeito será julgado pelo TRE

PRINCÍPO DA REGIONALIDADE: a CF criou 5 TRF: Juiz federal da 3ª região –


SP e MS. Se cometer crime no RS, só é julgado no TRF da 3ª região. Crime estadual.
Também é aplicado a prefeito. O STF aplica o princípio da regionalidade. Só pode ser
julgado pelo TJ do Estado onde estiver contido o município em que ele é o chefe do
executivo.

Princípio da simetria – algumas Constituições estabeleciam foro por prerrogativa


de função para delegado de polícia, mas não há simetria. As constituições estaduais que
estabelecem foro por prerrogativa para outras autoridades não podem atentar contra o
princípio da simetria.

PRERROGATIVA DE FORO: MODELO FEDERAL - 3


“O Tribunal concluiu julgamento de ação direta ajuizada pelo Partido dos Trabalhadores -
PT contra a alínea e do inciso VIII do art. 46 da Constituição do Estado de Goiás, na
redação dada pela EC 29/2001, que, ampliando as hipóteses de foro especial por
prerrogativa de função, outorgou ao Tribunal de Justiça estadual competência para
processar e julgar, originariamente, “os Delegados de Polícia, os Procuradores do Estado
e da Assembléia Legislativa e os Defensores Públicos, ressalvadas as competências da
Justiça Eleitoral e do Tribunal do Júri” — v. Informativos 340 e 370. Por maioria,
acompanhando a divergência iniciada pelo Min. Carlos Britto, julgou-se procedente, em
parte, o pedido, e declarou-se a inconstitucionalidade da expressão “e os Delegados de
Polícia”, contida no dispositivo impugnado. Entendeu-se que somente em relação aos
Delegados de Polícia haveria incompatibilidade entre a prerrogativa de foro conferida e a
efetividade de outras regras constitucionais, tendo em conta, principalmente, a que trata
do controle externo da atividade policial exercido pelo Ministério Público. Considerou-se,
também, nos termos dos fundamentos do voto do Min. Gilmar Mendes, a necessidade de
se garantir a determinadas categorias de agentes públicos, como a dos advogados
públicos, maior independência e capacidade para resistir a eventuais pressões políticas,
e, ainda, o disposto no §1º do art. 125 da CF, que reservou às constituições estaduais a
definição da competência dos respectivos tribunais. Vencidos, em parte, os Ministros
Maurício Corrêa, relator, Joaquim Barbosa, Cezar Peluso e Carlos Velloso que julgavam o
pedido integralmente procedente, e Marco Aurélio e Celso de Mello que o julgavam
integralmente improcedente.
ADI 2587/GO, rel. orig. Min. Maurício Corrêa, rel. p/ acórdão Min. Carlos Britto,
1º.12.2004. (ADI-2587)

2.6.2 EXCEÇÃO DA VERDADE CONTRA QUEM GOZA DE FORO ESPECIAL


POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO

“CPP, Art. 85. Nos processos por crime contra a honra, em que forem
querelantes as pessoas que a Constituição sujeita à jurisdição do Supremo
Tribunal Federal e dos Tribunais de Apelação, àquele ou a estes caberá o
julgamento, quando oposta e admitida a exceção da verdade.”

Note-se que o órgão de prerrogativa não julga a ação criminal, mas somente a
exceção da verdade, nos termos do artigo 85, CPP. Se se provar que tudo que foi dito
contra a autoridade estiver provado na exceção da verdade, será julgada procedente a
exceção.

Entretanto, caso não comprove, a exceção será julgada improcedente, os autos


serão remetidos para a comarca e será julgado o autor da exceção da verdade, que virará
réu.

Essa exceção da verdade que vai para o TRIBUNAL vale somente para o
crime de CALÚNIA. Em caso de difamação, a exceção da verdade é julgada
pelo próprio juízo da comarca. Não se aplica o art. 85 fora dos casos de
calúnia.

EXEMPLO: um advogado caluniou um dos juízes da comarca; o juiz ingressa com


queixa-crime contra o advogado, na comarca em que ele exerce sua função. Outro juiz da
comarca vai julgar essa causa. O advogado, em sua defesa, invoca a exceção da verdade
contra o juiz querelante.

No exemplo dado: a exceção é processada em primeira instância e, depois,


remetida ao Tribunal para julgamento (exclusivamente da exceção da verdade). Duas
hipóteses possíveis:

Primeira: o Tribunal julga procedente a exceção da verdade. Conseqüências: (a)


extinção da queixa, por falta de justa causa (não há fato típico); (b) abre-se processo
contra o juiz pelo delito respectivo.

Segunda: o Tribunal julga improcedente a exceção da verdade. Nesse caso


retornam os autos ao juízo de 1º grau para que este julgue a queixa.

Outros julgados acerca do FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO:

***STJ:

“A designação do Procurador-Geral a um Procurador Regional da República é feita para


instituir longa manus, ou seja, é uma forma abrangente de exercício de atribuição do
designante, o que, juridicamente, equivale à atuação do primeiro, sendo irrelevante se
direta ou indiretamente. 3. Levando-se em conta que o presente pedido ataca ato do
Procurador Regional que atuava por designação do Procurador-Geral da República,
inviável o conhecimento deste mandamus por esta Corte (STJ). 4. Habeas Corpus não
conhecido, determinando-se a remessa dos autos ao Supremo Tribunal Federal. (HC
185495/DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ, Rel. p/ Acórdão Ministro NAPOLEÃO NUNES
MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 15/02/2011, DJe 28/03/2011) Obs.: Esse
mesmo HC 185495 subiu até o STF, que entendeu de forma contrária no informativo 646:
vejamos - 1. A designação subscrita pelo Procurador-Geral da República, nos termos da
Portaria PGR nº 96, de 19 de março de 2010, não desloca a competência da causa para
o Supremo Tribunal Federal. Não-ocorrência de ato concreto praticado pelo Procurador-
Geral da República a justificar a regra do art. 102 da Constituição Federal de 1988. 2. É
pacífica a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que os membros do
Ministério Público da União que oficiem em Tribunais estão sujeitos à jurisdição penal do
Superior Tribunal de Justiça (parte final da alínea “a” do inciso I do art. 105 da CF/88).
Tribunal a quem compete processá-los e julgá-los nos ilícitos penais comuns (RE
418.852, da minha relatoria). 3. Habeas Corpus parcialmente concedido tão-somente
para determinar ao Superior Tribunal de Justiça que conheça e julgue, como entender de
direito, o HC 185.495/DF.

“Trata-se de pedido formulado pelo réu, após a inclusão do feito em pauta, de que este
Superior Tribunal reconheça sua incompetência para julgar a ação penal e remeta os
autos ao juízo de 1º grau, em razão de ter pedido exoneração do cargo de conselheiro de
Tribunal de Contas estadual (TCE). A Corte Especial, por maioria, indeferiu o pedido,
porque não há, nos autos, notícia da eficácia do ato de exoneração; pois, para tal, é
necessário o deferimento, a publicação e a aprovação pelo TCE. Assim, manteve a
competência deste Superior Tribunal para julgar ações penais contra conselheiro de
Tribunal de Contas estadual (CF/1988, art. 105, I, a).” QO na APn 266-RO, Rel. Min.
Eliana Calmon, em 5/5/2010. STJ info 452

***STF:

“O art. 400 do Código de Processo Penal, com a redação dada pela Lei 11.719/2008,
fixou o interrogatório do réu como ato derradeiro da instrução penal. II – Sendo tal prática
benéfica à defesa, deve prevalecer nas ações penais originárias perante o Supremo
Tribunal Federal, em detrimento do previsto no art. 7º da Lei 8.038/90 nesse aspecto.
Exceção apenas quanto às ações nas quais o interrogatório já se ultimou. III –
Interpretação sistemática e teleológica do direito. (AP 528 AgR, Relator(a): Min.
RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 24/03/2011, DJe-109 DIVULG 07-
06-2011 PUBLIC 08-06-2011 EMENT VOL-02539-01 PP-00001 RT v. 100, n. 910, 2011, p.
348-354 RJSP v. 59, n. 404, 2011, p. 199-206)

“O que o art. 86, § 4º, confere ao Presidente da República não é imunidade penal, mas
imunidade temporária à persecução penal: nele não se prescreve que o Presidente é
irresponsável por crimes não funcionais praticados no curso do mandato, mas apenas
que, por tais crimes, não poderá ser responsabilizado, enquanto não cesse a investidura
na presidência. 2. Da impossibilidade, segundo o art. 86, § 4º, de que, enquanto dure o
mandato, tenha curso ou se instaure processo penal contra o Presidente da República por
crimes não funcionais, decorre que, se o fato é anterior à sua investidura, o Supremo
Tribunal não será originariamente competente para a ação penal, nem conseqüentemente
para o habeas corpus por falta de justa causa para o curso futuro do processo. (HC
83154, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em
11/09/2003, DJ 21-11-2003 PP-00008 EMENT VOL-02133-03 PP-00554)

“Renúncia de mandato: ato legítimo. Não se presta, porém, a ser utilizada como
subterfúgio para deslocamento de competências constitucionalmente definidas, que não
podem ser objeto de escolha pessoal. Impossibilidade de ser aproveitada como
expediente para impedir o julgamento em tempo à absolvição ou à condenação e, neste
caso, à definição de penas. Questão de ordem resolvida no sentido de reconhecer a
subsistência da competência deste Supremo Tribunal Federal para continuidade do
julgamento. 10. Preliminares rejeitadas. 2. No caso, a renúncia do mandato foi
apresentada à Casa Legislativa em 27 de outubro de 2010, véspera do julgamento da
presente ação penal pelo Plenário do Supremo Tribunal: pretensões nitidamente
incompatíveis com os princípios e as regras constitucionais porque exclui a aplicação da
regra de competência deste Supremo Tribunal. 4. O processo e o julgamento de causas
de natureza civil não estão inscritas no texto constitucional, mesmo quando instauradas
contra Deputado Estadual ou contra qualquer autoridade, que, em matéria penal, dispõem
de prerrogativa de foro 7. A pluralidade de réus e a necessidade de tramitação mais célere
do processo justificam o desmembramento do processo. (396 RO , Relator: Min.
CÁRMEN LÚCIA, Data de Julgamento: 28/10/2010, Tribunal Pleno, Data de Publicação:
DJe-078 DIVULG 27-04-2011 PUBLIC 28-04-2011 EMENT VOL-02510-01 PP-00001)

“Notificação ao Presidente da República. Incompetência do Supremo Tribunal Federal.


Feito da competência do juízo federal de primeiro grau. O Supremo Tribunal Federal não
tem competência originária para processar notificação civil ao Presidente da República. O
Min. Gilmar Mendes destacou que, na espécie, não se trataria de notificação penal, mas
sim genérica” (Pet-AgR 4223, CEZAR PELUSO (Presidente), STF)

2.7 FORO COMPETENTE

O CPP estabelece alguns critérios:

(1) competência em razão do local da consumação do crime;


(2) competência em razão do domicílio ou residência do réu;
(3) competência em razão da matéria (ou pela natureza da
infração);
(4) competência por distribuição;
(5) conexão ou continência;
(6) competência por prevenção (art. 83 do CPP).

2.7.1 1º CRITÉRIO: COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO LOCAL DA


CONSUMAÇÃO DO CRIME
FORO é o local onde o juiz exerce as suas funções (jurisdição). Abrange comarca
(Justiça Estadual) e Seção ou Subseção judiciária (Justiça Federal).

Nos termos do artigo 70 do CPP, é o local da consumação. No CPP, foi adotada a


teoria do RESULTADO.

Para que não haja confusão:


Lugar do Crime: Teoria da Ubiquidade;
Tempo do crime: Teoria da Atividade;
Lugar do crime em JEC: Teoria da Atividade;
Competência para julgamento: Teoria do Resultado.

OBS: “A adoção da teoria da ubiqüidade resolve problemas de Direito Penal


Internacional. Ela não se destina à definição de competência interna, mas sim a determinada da
competência da Justiça Brasileira.” (Rogério Greco, pág. 133) Visa, em verdade, impedir que
condutas criminosas restem impunes por conta do critério adotado pelo Estado acerca do lugar e
do tempo do crime.

Art. 70 do CPP. É critério relativo (não absoluto). Não se pode confundir local da
consumação do crime com o local do exaurimento (fato previsto no tipo penal que ocorre
após a consumação. Exemplo: na extorsão, o recebimento do dinheiro é mero
exaurimento do crime, não consumação). O crime de extorsão é formal e consuma-se no
momento e no local em que ocorre o constrangimento para se faça ou se deixe de fazer
alguma coisa. Súmula nº 96 do Superior Tribunal de Justiça. 2. Hipótese em que a vítima
foi coagida a efetuar o depósito, mediante ameaça proferida por telefone, quando estava
em seu consultório, em Rio Verde/GO. Independentemente da efetivação do depósito ou
do local onde se situa a agência da conta bancária beneficiada, foi ali que se consumou o
delito (em Rio Verde). Precedentes. (CC 115006/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE
ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/03/2011, DJe 21/03/2011)

Local da consumação, nesse caso, é a comarca onde se deu o constrangimento


ilegal visando à obtenção de vantagem econômica.

Quando os limites territoriais são incertos, o CPP (Art. 70, § 3º) determina que deve
lançar da PREVENÇÃO (primeiro ato decisório) (medidas cautelares no curso do IP). Ex.:
Fazenda entre os municípios de Itarana e Itaguaçu. A apreciação de HC na fase de inquérito,
tendo como o delegado como autoridade coatora, não previne o juízo. Manter o flagrante também
não previne o juízo.

Local de consumação dos crimes: formalmente no crime de mera conduta a competência


se firma no local da conduta. Motivos para fixação dessa regra: a) motivo funcional (a investigação
é muito mais fácil, porque a regra é a existência de crime material) e b) motivo social (a sanção
penal tem como finalidade a repressão geral).

Nos crimes formais (extorsão, v.g.), onde se dá a conduta; nos crimes materiais
(homicídio, v.g.), onde se dá o resultado; nos crimes omissivos próprios (omissão de
socorro, v.g.), onde se dá a omissão; nos crimes omissivos impróprios (babá que deixa a
criança cair do edifício), onde se dá o resultado; nos crimes culposos, onde se dá o
resultado etc.

Hipóteses especiais:

(a) apropriação indébita: local em que o agente inverte o título da posse


(passando a praticar atos de dono). Se consuma quando ocorre a inversão do ânimo,
passando a ter vontade de ter a coisa como própria, que deve ser demonstrado por
manifestação externa, o que somente resta irrefutavelmente demonstrada no local de
devolução do bem.

(b) cheque sem fundos: local da recusa do pagamento (Súmula 521 do STF).
(EXEMPLO: cheque emitido em SP, a conta sacada fica em RS, o beneficiado apresentou
em MS, será competente o juízo do RS); quando o crime for cometido mediante
falsificação do cheque, aplica-se a regra contida no estelionato caput, ou seja, local da
obtenção da vantagem indevida.

“Súmula 521 do STF - O foro competente para o processo e o julgamento dos


crimes de estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem
provisão de fundos, é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo
sacado.”

“Súmula n.º 48 do STJ (DJU DE 25/08/1992) – Compete ao juízo do local da


obtenção da vantagem ilícita processar e julgar crime de estelionato cometido
mediante falsificação de cheque.”

(c) falso testemunho por precatória: juízo deprecado (local onde se deu o fato). O
crime se consuma no momento em que restou prestado o falso no juízo deprecado, se a
JF depreca para a JE e a testemunha mente na JE, a competência será da JF.

“Não se deve confundir, prima facie, juízo competente para apreciar o crime de uso de
documento falso e o juízo que julgava a causa previdenciária, onde o documento falso
instruiu o feito, cuja regra de competência subsume-se ao disposto no art. 109, § 3º, da
Carta da República. 2. O uso de documento falso tinha por escopo obter benefício
previdenciário em prejuízo do INSS, autarquia federal, impondo-se a competência da
Justiça Federal, nos termos do art. 109, inciso IV, da Constituição da República . 4. A
remessa dos autos para a Justiça Federal não implica a declaração de nulidade de todos
os atos judiciais praticados, conforme pretende o impetrante, mas tão-somente dos atos
decisórios proferidos pelo juízo incompetente, nos termos do art. 567 do CPP.”14

(d) crimes plurilocais: local da consumação (embora haja forte jurisprudência


admitindo que seja o local da conduta, principalmente em caso de homicídio, quando a
vítima é transportada para outra comarca a fim de receber tratamento médico).
***Doutrina: Pacelli, sem citar qualquer julgado, afirma que “a jurisprudência vem
abrandando, excepcionalmente, o rigor da teoria do resultado, para admitir a competência
14
HC 39713/SP, 5ª Turma, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, julgado em 14.06.2005, DJ 22.08.2005 p. 310
do juizo onde se praticou a ação delituosa, ainda que outro tenha sido o local da
consumação, diante da necessidade de se preservar o máximo possível o conjunto
probatório disponível.” Essa colocação de Pacelli se tem observado muito em casos de
homicídio, vez que em algumas situações, o resultado “morte” pode ocorrer em outro local
– ex.: pessoa socorrida em hospital de outra comarca por ter melhores condições técnicas
e q lá vem a falecer; em tese a competência, em que pese o homicídio ter ocorrido em
outro local, seria do local diferente da ação, onde a vítima faleceu. O que se busca é
tutelar o escopo social da jurisidição, mostrando àquela comunidade abalada pelo crime
que a conduta do agente tem punição. Note que é posição contrária à letra da lei, mas
adotada na jurisprudência.

“HABEAS CORPUS. COMPETÊNCIA. PENAL. HOMICÍDIO. ART. 70 DO


CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. CIRURGIA PLÁSTICA REALIZADA EM
GOIÂNIA/GO. MORTE OCORRIDA EM HOSPITAL DE CEILÂNDIA/DF.
MINISTÉRIO PÚBLICO. PODERES DE INVESTIGAÇÃO. LEGITIMIDADE.
ORDEM DENEGADA.
1. O Superior Tribunal de Justiça tem jurisprudência que mitiga, em
determinados casos, a regra do art. 70 do Código de Processo Penal, na
hipótese de homicídio em que a execução se dá em um lugar, mas a
consumação do resultado ocorre em outro, por ser o local mais indicado
para a persecução penal, tanto pelo abalo social causado pelo delito quanto
pela maior facilidade que as partes têm de produzir provas.
2. Todavia, a análise do caso concreto revela a desnecessidade e
impossibilidade de se mitigar a regra contida no art. 70 do Código de
Processo Penal, ante a dessemelhança do caso dos autos com as hipóteses
em que esta Corte Superior tem flexibilidade a citada norma processual. O
Acusado, efetivamente, mantinha clínica no Distrito Federal, onde a vítima
residia e veio a falecer, após dias de sofrimento, em decorrência dos
procedimentos cirúrgicos a que foi submetida. A inicial acusatória ainda "
imputa ao paciente outros atos de execução do suposto crime de homicídio,
como a omissão no acompanhamento pós-operatório da vítima", cuja
consumação ocorreu em Ceilândia/DF.
3. A legitimidade do Ministério Público para a colheita de elementos
probatórios essenciais à formação de sua opinio delicti decorre de expressa
previsão constitucional, oportunamente regulamentada pela Lei
Complementar n.º 75/1993 (art. 129, incisos VI e VIII, da Constituição da
República, e art. 8.º, incisos V e VII, da LC n.º 75/1993). Precedentes.
4. A Polícia Judiciária não possui o monopólio da investigação criminal,
possuindo o Ministério Público legitimidade para determinar diligências
investigatórias. Inteligência da Lei Complementar n.º 75/93 e do art. 4.º,
parágrafo único, do Código de Processo Penal. Precedente.
5. É consectário lógico da própria função do órgão ministerial - titular
exclusivo da ação penal pública - proceder à realização de diligências
investigatórias pertinentes ao respectivo âmbito de atuação, a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indícios de autoria, mormente quando houver
indício de infração penal atribuída a membro do Parquet, hipótese em que a
apuração competirá ao Ministério Público Federal, por seus órgãos
especialmente designados nos termos do art. 18, parágrafo único, da Lei
Complementar n.º 75/93, e do art. 41, parágrafo único, da Lei n.º
8.625/93.Precedente.6. Ordem denegada.”
(HC 195901/DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em
04/09/2012, DJe 17/09/2012)

(e) acidentes de trânsito e crimes plurilocais: local do resultado, mas a


jurisprudência admite o local da conduta como regra (em razão da maior facilidade na
colheita das provas).

(f) infrações penais de menor potencial ofensivo: local da conduta. (teoria da


ação)

(g) tentativa: local do último ato de execução.

(h) Crime iniciado no Brasil e consumado fora: é o chamado crime à distância


(que envolve dois países ou mais). Local do último ato de execução no Brasil ou local
onde o crime produziu (ou iria produzir) o resultado no Brasil. Aplica-se os §§ 1º e 2º do
Art. 70 do CPP.

(i)Crime cometido na divisa de duas Comarcas: firma-se a competência por


prevenção (o primeiro juiz que praticar qualquer ato oficial, é o competente).

(j)Crime continuado envolvendo várias comarcas: firma-se a competência por


prevenção (CPP, art. 71). O juiz com força atrativa (CPP, art. 82) pode avocar os demais
processos. Por exemplo: três roubos ocorridos em três comarcas contíguas. O juízo
prevento deve avocar os demais processos, que tramitam por outras comarcas. Se não
avocar, o crime continuado será depois reconhecido na Vara das Execuções.

(l)Crime permanente envolvendo várias comarcas: firma-se a competência por


prevenção. O primeiro juiz que praticar algum ato oficial no caso torna-se o competente.

(m)Criação de nova vara: de acordo com a jurisprudência preponderante altera-se


a competência em relação aos crimes ocorridos na área territorial da nova vara, desde
que não tenha sido proposta ação penal (aplicação analógica da perpetuatio jurisdictionis
com fulcro no Ar. 87 do CPC c/c o Art. 3º do CPP). Somente se aplica a investigações em
curso.

“A criação de novas varas, em virtude de modificação da Lei de Organização Judicial


local, não implica incompetência superveniente do juízo em que se iniciou a ação penal.
2. O art. 87 do Código de Processo Civil, aplicável subsidiariamente ao processo penal,
leva à perpetuação do foro, em respeito ao princípio do juiz natural. 3. Ordem denegada.”
15

15
RHC 83181/RJ, Pleno, Rel. p/ Acórdão Min. JOAQUIM BARBOSA, julgado em 06/08/2003
***Competência. Perpetuatio jurisdictionis. Criação de Vara Criminal Especializada

Denílson Feitosa, Guilherme de Souza Nucci, Nestor Távora e Rosmar Antoninni


entendem que o princípio da perpetuação da jurisdição é excepcionado nos casos de
criação de vara criminal especializada. No mesmo sentido, STF, no HC 88.660/CE (j. em
15.5.2008) e no HC 85.060/PR, rel. Min. Eros Grau 23.9.2008 (Info 521).

“Ao aplicar o precedente firmado no julgamento do HC 88660/CE (j. em 15.5.2008), no


sentido de não haver afronta ao princípio do juiz natural na especialização de varas e na
conseqüente redistribuição dos processos, ainda que já tenha havido decisões do juízo
originalmente competente, a Turma, em conclusão de julgamento, (...). Asseverou-se que,
embora os fatos tenham ocorrido antes da edição da resolução que especializara a vara,
descabida a assertiva de que o juízo fora criado pos facto, uma vez que já existiam, à
época, as varas federais de Foz do Iguaçu e de Curitiba, ambas competentes para julgar
tal tipo de delito. Ademais, a especialização acontecera para racionalizar e garantir
persecução penal mais efetiva. Salientou-se, ainda, que, no referido precedente, não
obstante o Plenário ter considerado que a Resolução que especializara varas haveria
exorbitado a competência do Conselho da Justiça Federal - CJF, esse juízo não afetaria a
validade das Resoluções emanadas dos Tribunais Regionais Federais que
regulamentaram a matéria, quando não fundamentadas apenas nessa Resolução do
CJF.” HC 85060/PR, rel. Min. Eros Grau 23.9.2008. (HC-85060)

Jurisprudência:

***STF

“O provimento apontado como inconstitucional especializou vara federal já criada, nos


exatos limites da atribuição que a Carta Magna confere aos Tribunais. II - A remessa para
vara especializada fundada em conexão não viola o princípio do juiz natural.” (HC 91253,
Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado em 16/10/2007,
DJe-142 DIVULG 13-11-2007 PUBLIC 14-11-2007 DJ 14-11-2007 PP-00051 EMENT
VOL-02299-02 PP-00251)

“O STF entendeu constitucional a criação de juízos colegiados especializados em


organizações criminosas “(...) seria constitucional a criação, pelos estados-membros, de
varas especializadas em razão da matéria, seja em âmbito cível ou penal. (...) Frisou
impender a adequação às necessidades, carências e vicissitudes de cada região e
mencionou jurisprudência da Corte a corroborar esse entendimento. Ressalvou que a
liberdade estadual na criação de varas especializadas encontraria freios somente nas
competências previstas constitucionalmente, que deveriam ser respeitadas por critérios
definidos na lei local.” Para não se ferir o objetivo desta atualização, remeto os colegas ao
conteúdo final deste julgamento no Info. 668, ADI – 4414.

Critério relativo: o critério de fixação da competência pelo local da consumação da


infração, de qualquer modo, é relativo. Sua inobservância gera, por conseguinte, nulidade
relativa. Não reconhecida de ofício pelo juiz e não argüida oportunamente pelo
interessado, prorroga-se o foro.

Outros julgados acerca do LUGAR:

**STJ

“Na hipótese de crime contra a honra praticado por meio de publicação impressa de
periódico, deve-se fixar a competência do Juízo onde ocorreu a impressão, tendo em vista
ser o primeiro local onde as matérias produzidas chegaram ao conhecimento de outrem,
nos moldes do art. 70 do Código de Processo Penal. Remanesce, na prática, o resultado
processual obtido pela antiga aplicação da regra de competência prevista na não
recepcionada Lei de Imprensa. 3. Crimes contra a honra praticados por meio de
reportagens veiculadas pela internet ensejam a competência do Juízo do local onde foi
concluída a ação delituosa, ou seja, onde se encontrava o responsável pela veiculação e
divulgação de tais notícias. “(CC 106625/DF, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 12/05/2010, DJe 25/05/2010)

“A competência para processar e julgar suposta prática de crime descrito no art. 7.º, inciso
IX, da Lei n.º 8.137/90 é do foro em que estiver situada a empresa responsável pela
comercialização dos bens ou produtos impróprios para o consumo e não daquela
responsável pelo respectivo processo de produção e embalagem.” (CC 200901711251,
MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, STJ - TERCEIRA SEÇÃO, DJE DATA:04/06/2010.)

“Tratando-se de queixa-crime que imputa a prática do crime de calúnia em razão da


divulgação de carta em blog, na internet, o foro para processamento e julgamento da ação
é o do lugar de onde partiu a publicação do texto tido por calunioso. 4. In casu, como o
blog em questão está hospedado em servidor de internet sediado na cidade de São
Paulo, é do Juízo da 13ª Vara Criminal dessa comarca a competência para atuar no feito.”
(CC 97201/RJ, Rel. Ministro CELSO LIMONGI (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO
TJ/SP), TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/04/2011, DJe 10/02/2012)

2.7.2 2º CRITÉRIO: COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO DOMICÍLIO OU


RESIDÊNCIA DO RÉU

Domicílio (local onde o sujeito reside com ânimo definitivo); residência: não se
exige ânimo definitivo.

Esse é o único caso em que a doutrina reconhece que a competência é definida no


interesse da parte (artigo 73), no caso de ação penal privada EXCLUSIVA, a última poderá
escolher o domicílio ou residência do réu, mesmo sabendo o lugar da infração.

Critério subsidiário ou supletivo: a competência em razão do domicílio ou


residência do réu é subsidiária ou supletiva, isto é, somente é válida quando não se sabe
qual é o local da consumação do crime. Exemplo: furto ocorrido dentro de um ônibus.
Descobre-se o autor do furto, mas não se consegue identificar o local exato do furto.
Firma-se a competência, nesse caso, pelo domicílio ou residência do réu (foro supletivo).
Acusado com mais de uma residência: nesse caso a competência firma-se pela
prevenção (CPP, art. 72, § 1º).

Foro optativo: na ação penal privada, pode o querelante (que vai propor a queixa)
optar entre o local da infração ou domicílio do réu. Chama-se isso de foro optativo ou foro
de eleição.

2.8 JUÍZO COMPETENTE

2.8.1 3º CRITÉRIO: COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA (OU PELA


NATUREZA DA INFRAÇÃO)

Esse critério fixa o juízo competente (não o foro). Em muitas comarcas, há varas
especializadas (de tóxicos, de acidentes, de trânsito etc.). Nesses casos, fixa-se a
competência em razão da matéria.

Tribunal do júri: tem sua competência fixada em razão da matéria. Julga os


crimes dolosos contra a vida e conexos (consumados ou tentados). O legislador ordinário,
por lei ordinária, pode ampliar a competência do Júri, nunca restringi-la.

A CF delimitou a competência mínima do Tribunal do Júri. Nada impede que seja


ampliada (a não ser o bom senso e a razoabilidade). O Tribunal do Júri pertence à Justiça
comum (Estadual ou Federal).

O crime de GENOCÍDIO é julgado por quem? Lembre-se: É crime autônomo e de


ação múltipla. Quando cometido mediante homicídio dos membros do grupo, será conexo
com o crime contra a vida - Vide item 2.5.1.12

Juizados criminais: são competentes para conhecer todas as infrações cuja


pena máxima de prisão não ultrapasse dois anos.

2.8.2 4º CRITÉRIO: COMPETÊNCIA POR DISTRIBUIÇÃO

A distribuição fixa o juízo (vara) competente (não ainda o juiz, necessariamente).

Distribuição antes da denúncia ou queixa: a distribuição do inquérito, por exemplo,


já fixa o juízo competente (mesmo antes da ação penal).

2.8.2.1 COMPETÊNCIA RECURSAL

A competência recursal será tratada no estudo dos recursos. Mas duas


observações devem ser feitas:
TPI = julga os indivíduos. Jurisdição complementar.

CORTE INTERAMERICANA = São José da Costa Rica. Ela julga os Estados, por
falta de jurisdição, ou seja, por impunidade.

Jurisprudência: ***STF – “O juízo de primeiro grau não pode rescindir acórdão de


instância superior, mesmo na hipótese de existência de nulidade absoluta, sob pena de
violação das normas processuais penais e constitucionais relativas à divisão de
competência. (...) apenas o tribunal prolator de uma decisão teria competência para, nas
hipóteses legais e pela via própria, rescindir, originariamente, seus julgados. Asseverou-se
que o órgão colegiado limitara-se a anular a decisão do juízo de primeira instância que
rescindira indevidamente o seu julgado, sem manifestar-se, expressamente, sobre
eventual nulidade decorrente da falta de intimação do paciente. Assim, não competiria ao
STF analisar, per saltum, essa questão.” HC 110358/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski,
12.6.2012. – info 670.

2.8.3 5º CRITÉRIO: CONEXÃO OU CONTINÊNCIA

Ocorre conexão ou continência quando há um vínculo entre vários crimes ou


entre vários autores de um só ou de diversos crimes.

Natureza jurídica: é critério que altera a competência. A rigor, não fixa, altera.

2.8.3.1 DA CONEXÃO (ART. 76 DO CPP)

Conexão é o nexo, a dependência recíproca que os fatos guardam entre si. Existe
quando duas ou mais infrações estiverem entrelaçadas por um vínculo, um nexo, um
liame que aconselha a junção dos processos (CONEXOS).

Efeito da conexão: a reunião das ações penais em um mesmo processo e o


julgamento único (de todas as infrações penais).

A conexão pode ser: a) intersubjetiva; b) objetiva (lógica ou material); c)


instrumental (ou probatória).

(a) intersubjetiva: ocorre quando dois ou mais crimes são cometidos no


mesmo momento por várias pessoas reunidas ou por várias pessoas em concurso,
embora diverso o tempo e o lugar (várias pessoas em co-autoria cometem vários
roubos), ou por várias pessoas umas contra as outras.

 SIMULTANEIDADE: diversas pessoas reunidas (SEM CONCURSO DE


AGENTES) Ex.: É o caso da autoria colateral; dano em um estádio por torcidas.
 POR CONCURSO: várias pessoas em concurso (EM CONCURSO DE
AGENTES) Ex.: duas pessoas concorrem para estelionato previdenciário – o beneficiário
e o funcionário público.
 POR RECIPROCIDADE: várias pessoas umas contra as outras Ex.: rixa.

(b) objetiva ou lógica: ocorre quando um crime é cometido para facilitar a


execução de outro (teleológica) ou para ocultar outro crime, impunidade do autor do fato
ou para assegurar vantagem em relação a outro crime (causal ou consequencial).

 TELEOLÓGIA: para garantir a execução de outra infração. EX: o sujeito


mata o pai para estuprar a filha

 CONSEQÜENCIAL: garantir vantagem, oculta ou garantir impunidade


de outra. Ex.: o sujeito mata a testemunha de um crime que ele tenha praticado;
ocultação de cadáver.

(c) instrumental ou probatória ou processual: ocorre quando a prova


de um crime é relevante para o reconhecimento ou prova de outro crime . O tráfico de
entorpecentes tem conexão probatória com o crime de lavagem de capitais (praticado em
razão do tráfico). A receptação tem conexão com o furto precedente. Não se exige uma
relação de acessoriedade entre os crimes em que, no exemplo acima, o furto constituiria
um elementar do crime de receptação.

2.8.3.2 DA CONTINÊNCIA (ART. 77 DO CPP)

(a) continência por cumulação subjetiva: ocorre quando duas ou mais pessoas
são acusadas de uma mesma infração. Não se pode confundir, portanto, a continência
subjetiva (crime único cometido por várias pessoas) com a conexão intersubjetiva (vários
crimes).

(b) continência por cumulação objetiva: ocorre em todas as hipóteses de concurso


formal de crimes (concurso formal: ocorre quando o agente com uma só conduta comete
dois ou mais crimes, isto é, causa ofensa a vários bens jurídicos autônomos).

Atenção para diferenciar:


Na conexão, eu sempre terei mais de um crime, mais de um agente (várias
condutas); na continência, não! Na subjetiva, eu terei um crime e mais de um agente
(cada um com uma conduta); na objetiva, um agente (uma conduta) e mais de um crime
(concurso formal).

2.8.3.3 EFEITOS DA CONEXÃO OU DA CONTINÊNCIA:

(a) unidade de processo e de julgamento (processo único, julgamento único para


todos os crimes ou todos os autores do crime ou dos crimes);

(b) prorrogação do foro ou do juízo competente: um dos foros ou juízos em


concorrência conta com força atrativa e será de sua competência o julgamento de todos
os crimes ou autores do crime ou dos crimes.
2.8.3.4 QUAL É O JUÍZO OU FORO QUE TEM FORÇA ATRATIVA?

(a) concurso entre competência do júri e outro órgão da jurisdição comum: a força
atrativa é do júri. Estupro em conexão com homicídio: tudo vai para julgamento pelo
Tribunal do Júri.

Exceção: crime do júri em conexão com crime eleitoral. Separam-se os


processos.

Nos termos da recente súmula 721 do STF, “a competência constitucional do


Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido
exclusivamente pela Constituição estadual”. Este verbete sumular deve ser conjugado
com o princípio da simetria, já que utiliza a expressão exclusivamente. O Poder
Constituinte decorrente possui liberdade de conformação para outorgar o foro por
prerrogativa de funções a outras autoridades que não aquelas não previstas na
Constituição Federal. Neste caso, somente se aplicaria aos crimes comuns de
competência da Justiça Estadual, não alcançando os crimes dolosos contra a vida de
alçada do júri e nem os crimes afetos às Justiças Especializadas. Vide págs. 35 e 36.

Vereador que mata uma pessoa será julgado pelo Júri (não pelo TJ). Essa
competência, como já dito, não pode ser derrogada por norma estadual, ainda que
constitucional em face do Poder Constituinte Decorrente. Júri é previsão constitucional.

(b) concurso entre jurisdições da mesma categoria: valem as seguintes regras


específicas:

1ª) local da infração mais grave: um roubo em Campo Grande e um furto em


Dourados: prepondera o primeiro foro; primeiro verifica-se a qualidade da pena e depois a
sua quantidade
2ª) maior número de infrações: dois furtos em Araraquara e um furto em
Piracicaba: prepondera o primeiro foro;
3ª) infrações punidas igualmente e mesmo número delas: um furto em Marabá e
outro em Belém: fixa-se o foro pela prevenção.

(c) concurso entre jurisdições de categorias distintas: foro por prerrogativa atrai.
Ex.: se um juiz é acusado de corrupção juntamente com um escrevente, prepondera a
competência originária do juiz (Tribunal de Justiça no caso, que irá julgar os dois, em
razão da continência). Concurso entre crime da Justiça estadual e Justiça Federal:
prepondera esta última (Súmula 122 do STJ).

Aqui retirei a jurisprudência que falava – mais uma vez – da súmula 122; evitar
repetiçãod e idéiais e tentar enxugar esse ponto.

(d) concurso entre jurisdição comum e jurisdição especial: extorsão e crime


eleitoral: prepondera a Justiça especial (eleitoral). Exceção: homicídio e crime eleitoral:
cada crime é julgado pelo seu juízo natural (júri e Justiça eleitoral, respectivamente, vez
que ambos estabelecidos na CR/88). Jurisprudência correspondente: ***STF: 4. “Em se
verificando, porém, que há processo penal, em andamento na Justiça Federal, por crimes
eleitorais e crimes comuns conexos, é de se conceder "Habeas Corpus", de ofício, para
sua anulação, a partir da denúncia oferecida pelo Ministério Público federal, e
encaminhamento dos autos respectivos à Justiça Eleitoral de 1ª instância, a fim de que o
Ministério Público, oficiando perante esta, requeira o que lhe parecer de direito. (CC 7033,
Relator(a): Min. SYDNEY SANCHES, Tribunal Pleno, julgado em 02/10/1996, DJ 29-11-
1996 PP-47156 EMENT VOL-01852-01 PP-00116)

***STJ: A simples análise dos processos eleitoral e penal demonstra que as


causae petendi, ou seja, os fundamentos de pedir das ações, são induvidosamente
diversas. 2. É consabido que o mesmo ato/fato jurídico ilícito pode redundar na aplicação
de dispositivos legais e suas sanções de natureza diversa: cível, penal, administrativa ou
eleitoral, sem que o processo de uma inviabilize a existência de outro, de natureza
diversa, como no caso concreto. 3. Inexistência de conexão entre as ações eleitoral e
penal. (HC 159369/AP, Rel. Ministro ADILSON VIEIRA MACABU (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJ/RJ), QUINTA TURMA, julgado em 12/04/2011, DJe 18/05/2011)

CONFLITO VIS ATRATIVA EXCEÇÃO


Conflito de competências
CRIME DO JÚRI e COMUM TRIBUNAL DO JÚRI constitucionais, EXEMPLO: crime
eleitoral
LOCAL DA INFRAÇÃO MAIS GRAVE:
EXEMPLO: ROUBO e FURTO
roubo.
INFRAÇÕES PUNIDAS COM A
PREVENÇÃO
MESMA PENA
EXEMPLO: 02 ROUBOS EM SP e 01 LOCAL DO MAIOR NÚMERO DE
ROUBO EM GUARULHOS INFRAÇÕES
JURISDIÇÕES DE CATEGORIAS TRIBUNAL DO JÚRI determinará a
DISTINTAS. EXEMPLO: crime de juiz e
A CATEGORIA MAIOR: TJ, que atrai e separação obrigatória, por se tratar de
escrevente, concurso entre o TJ e a 1a.
julga os dois. competência constitucional, tanto
instância. quanto a prerrogativa de foro.
A JURISDIÇÃO ESPECIAL, como JUSTIÇA ELEITORAL não atrai a
JURISDIÇÃO COMUM e JURISDIÇÃO
regra, EXEMPLO: a justiça eleitoral competência do TRIBUNAL DO JÚRI,
ESPECIAL
atrai tudo. são duas competências constitucionais.

2.8.3.5 EXCEÇÕES À REGRA DO “PROCESSO ÚNICO” (“SIMULTANEUS


PROCESSUS”) (CPP, ART. 79)

(a) No júri, se o crime for inafiançável, a pronúncia deverá ser feita por
citação pessoal, não pode edital: SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA, em razão da
CRISE DE INSTÂNCIA. Também sem a presença em plenário e pela recusa
peremptória.

(b) concurso entre Justiça comum e Justiça militar: os processos são separados.
Exemplo: estupro cometido por militar e civil dentro do quartel: a Justiça militar julga o
militar enquanto a comum julga o civil. As conseqüências são totalmente díspares, nesse
caso (penas diferentes, regime prisional diferente etc.). Numa visão constitucional isso
não pode ocorrer. Jurisprudência correspondente: **STJ: “O parágrafo único do art. 9º do
CPM, com as alterações introduzidas pela Lei nº 9.299/96, excluiu do rol dos crimes
militares os crimes dolosos contra a vida praticado por militar contra civil, competindo à
Justiça Comum a competência para julgamento dos referidos delitos.” (CC 113020/RS,
Rel. Ministro OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 23/03/2011, DJe
01/04/2011)

(c) concurso entre Justiça comum e Vara da Infância e Juventude: um maior e um


menor praticam um roubo: os processos são separados. A vara comum julga o maior,
enquanto a Vara de Infância e Juventude julga o menor.

(d) superveniência de doença mental em relação a um co-autor: por força do art.


152 do CPP, separam-se os processos. Para o doente mental o processo fica paralisado.
Para os demais prossegue.

(e) nos crimes da competência do júri, em caso de co-autoria: se um está preso


enquanto o outro está foragido, o processo fica paralisado (depois da pronúncia) para
este último (prossegue quanto ao primeiro).

(f) no plenário do júri, em caso de dois acusados com advogados distintos:


havendo divergência na recusa de jurado (um aceitou enquanto o outro recusou): há
separação dos processos, salvo se o MP fizer a recusa como dele. Logo que se constata
a divergência entre os advogados, cabe ao MP manifestar-se para admitir ou não a
recusa daquele jurado como dele. Sendo positiva a postura do MP, o jurado é afastado e
a divergência se desfaz.

“Art. 469. Se forem 2 (dois) ou mais os acusados, as recusas


poderão ser feitas por um só defensor.
§ 1º A separação dos julgamentos somente ocorrerá se, em razão
das recusas, não for obtido o número mínimo de 7 (sete) jurados para
compor o Conselho de Sentença.
§ 2º Determinada a separação dos julgamentos, será julgado em
primeiro lugar o acusado a quem foi atribuída a autoria do fato ou, em
caso de co-autoria, aplicar-se-á o critério de preferência disposto no art.
429 deste Código.”

Rol não taxativo: as hipóteses de separação dos processos não são unicamente
as estudadas. Há outras: quando um co-réu é citado por edital, o processo fica paralisado
(CPP, art. 366); para o outro, o processo prossegue; pode haver suspensão condicional
do processo para um co-réu, prosseguindo-se para outro etc. O rol do art. 79 não é
taxativo.

Separação facultativa dos processos: nos termos do art. 80 do CPP, havendo


motivo relevante, o juiz pode determinar a separação dos processos. Exemplo: número
excessivo de réus. Ou ainda: um está preso enquanto o outro está foragido. Fundamental
é que o juiz sempre fundamente o motivo relevante que justifica a separação dos
processos. Não pode transformar isso em ato arbitrário.
Jurisprudência:

“O Supremo Tribunal Federal firmou orientação, no sentido de que é facultativa a


“separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias
de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e para
não lhes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante (CPP, art. 80 )” (HC
92.440, da relatoria da ministra Ellen Gracie). Na mesma linha: HC 103.149, da relatoria
do ministro Celso de Mello. (RHC 106755, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Segunda
Turma, julgado em 25/10/2011, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-084 DIVULG 30-04-2012
PUBLIC 02-05-2012)

2.8.3.6 PERPETUAÇÃO DA JURISDIÇÃO (“PERPETUATIO JURISDICTIONIS”)


(CPP, ART. 81):

Nos casos de conexão ou continência, se o órgão jurisdicional (competente para o


julgamento de todos os crimes ou todos os réus) já começou o julgamento, deve terminá-
lo. Fala-se aqui em perpetuação da jurisdição. Exemplo: juiz e escrevente acusados de
corrupção devem ser julgados pelo Tribunal de Justiça (julgamento unido dos dois). Ainda
que o TJ venha a absolver o juiz, deve prosseguir o julgamento em relação ao escrevente.
Jurisprudência correspondente:

***STJ: Na hipótese de conexão entre crime de desobediência de servidor federal


e crimes ambientais, em que existiu atração do processamento/julgamento para a Justiça
Federal, sobrevindo prescrição do crime contra a Administração Pública, desaparece o
interesse da União, devendo haver o deslocamento da competência para a Justiça
Estadual. (HC 108350/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA
TURMA, julgado em 04/08/2009, DJe 24/08/2009)

“Na hipótese de conexão entre crime de descaminho e de receptação, em que existiu


atração do processamento/julgamento para a Justiça Federal, sobrevindo a extinção da
punibilidade do agente pela prática do delito de descaminho, desaparece o interesse da
União, devendo haver o deslocamento da competência para a Justiça Estadual. (CC
201000416436, MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, STJ - TERCEIRA SEÇÃO, DJE
DATA:04/06/2010.)

No júri, se houver desclassificação do crime do júri no julgamento pelo Tribunal do


Júri (tentativa de homicídio desclassificada para lesão), quem julga o crime conexo (um
estupro, v.g.)?

Não há dúvidas, manda para o juízo competente.

Há discussão: mas o júri irá julgar o conexo, nos termos do artigo 81,
caput, CPP. É regra de perpetuatio jurisdicionis. Entendimento de
Quando o conselho desclassifica o crime do Tourinho Filho. É MINORITÁRIO
júri
Há discussão: aplica-se o artigo 492, § 2º, o juiz presidente retoma o
julgamento pelos desclassificados e conexos. (DOMINANTE)
Quando o conselho absolve ou condena pelo
Não há dúvida: o júri irá julgar o conexo, porque firmou competência
crime do júri
Se for na fase de pronúncia (judicium accusationis), o processo é remetido ao
Juízo competente nos termos do PU do art. 81 do CPP: “Havendo desclassificação da
infração do júri na fase de pronúncia, os autos do processo devem ser remetidos para o
juízo competente.”

Doutrina: Pacelli, sem citar qualquer julgado, afirma que “A jurisprudência de


nossos tribunais, geralmente, não aceita a desclassificação em outra oportunidade que
não a fase decisória. O raciocínio parece ser no sentido de se tratar de manifestação
direta sobre o mérito do caso penal; daí por que somente deveria ser realizada após a
superação da fase instrutória.” No entanto, Pacelli discorda desse entendimento, visto
que, pra ele, a desclassificação não passa de mero juízo de subsunção do fato à norma,
um exercício racional simples que pode ser feito pelo julgador a qualquer tempo,
independentemente, da instrução ou não, estando ou não o processo na fase decisória
própria.

2.8.3.7 AVOCAÇÃO DOS PROCESSOS (ART. 82 DO CPP):

No caso de conexão ou continência, instaurando-se processos em varas distintas,


o juiz da jurisdição prevalente deve avocar todos os processos. EXEMPLO 01: um roubo
em SP e 05 furtos em Guarulhos; SP deve avocar tudo por ter força atrativa. EXEMPLO
02: o juiz prevento deve avocar os processos.

E se não avocar? Não há nulidade. No crime continuado, se o juízo com força


atrativa NÃO avocar os processos, cabe à vara das execuções RECONHECER o crime
continuado, porque lá irá se juntar tudo o que foi feito nos juízos isolados, esse pedido
nas execuções se chama de PEDIDO DE UNIFICAÇÃO DE PENAS.

6º CRITÉRIO DE FIXAÇÃO DE COMPETÊNCIA: COMPETÊNCIA POR


PREVENÇÃO (ART. 83 DO CPP):

Concorrendo dois ou mais juízes igualmente competentes, o que tiver antecedido


aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, torna-se
prevento. A competência, como se vê, firma o juízo competente (a vara competente).

Hipóteses de prevenção do juízo:


(a) pedido de explicações em juízo (Art. 144, CP);
(b) busca e apreensão;
(c) pedido de fiança;
(d) distribuição do inquérito policial etc.

Não previnem o juízo:


(a) o habeas corpus em 1º grau (contra autoridade policial, v.g.);
(b) art. 40 CPP (envio de cópias ao Ministério Público não previne o
juízo);
(c) comunicação da prisão em flagrante etc.

Jurisprudência referente:

**STJ

“O relator que originariamente conhece de habeas corpus, mandado de segurança e de


recurso em relação à uma determinada ação penal fica prevento para todos os futuros
recursos, tanto da ação quanto da execução, referentes ao mesmo processo, a teor do
artigo 71 do RISTJ.” (CC 116122/DF, Rel. Ministro HAROLDO RODRIGUES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/CE), TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
27/04/2011, DJe 02/06/2011)

***STF

“Prevento é o juízo da 1ª Vara Federal Criminal de São Paulo, por ter, antes de qualquer
outro, despachado, determinando a quebra do sigilo bancário de co-réus em processo
conexo anterior, o que impede a livre distribuição de denúncias posteriores. Excluída a
competência originária do STJ para proceder à perquirição, em razão da prerrogativa de
função do réu, ante o cancelamento da Súmula/STF 394.” (HC 80717, Relator(a): Min.
SEPÚLVEDA PERTENCE, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno,
julgado em 13/06/2001, DJ 05-03-2004 PP-00015 EMENT VOL-02142-05 PP-00707)

2.9 ALGUMAS HIPÓTESES ESPECIAIS DE COMPETÊNCIA EM MATÉRIA


PENAL

(a) Crime cometido fora do país: capital do local onde o acusado morava (no Brasil). E se
não morava no Brasil: capital federal (Distrito Federal). (art. 88, CPP). Crime cometido fora do
Brasil NÃO é necessariamente da JUSTIÇA FEDERAL. Essa situação se enquadra ao art. 7º do
CP, II, “b”

(b) Crime cometido a bordo de navio: competência da Justiça Federal (local de


onde partiu o navio ou onde ele atracou). (art. 89, CPP)

(c) Crime cometido a bordo de avião: competência da Justiça Federal (local de


onde partiu ou onde ele pousou). (art. 90, CPP)

(d) Em caso de dúvida: CPP, art. 91: firma-se a competência por prevenção.

(e) Lei penal nova mais favorável: a competência para sua aplicação é do juiz do
processo (se o processo está em primeira instância); do tribunal (se o processo está no
tribunal) ou da vara das execuções (se já houve trânsito em julgado – Súmula 611 do
STF).

Outras hipóteses especiais:

1.Execução da multa penal: competência da vara da fazenda pública (não vara


das execuções penais);
2.Crime cometido por militar contra outro militar fora do serviço: Justiça
comum;
3.Posse de arma de uso privativo das forças armadas: Justiça comum; [Vide
pág. 16 – item 2.5.1.1]
“O crime de porte ilegal de armas de uso privativo das Forças Armadas não
tem o condão de atrair, por si só, a competência da Justiça Federal, mormente
quando não foi praticado em detrimento de bens, serviços ou interesses da
União.” (HC 35.809/PR, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA,
QUINTA TURMA, julgado em 17/08/2004, DJ 13/09/2004, p. 273). Obs.: O
prof. Renato Brasileiro (LFG) faz a diferenciação, nesse assunto, quanto ao
crime de furto, receptação e porte ilegal de arma de fogo de propriedade da
Polícia Federal: O porte seria de competência da Justiça Estadual, mas como
o furto e a receptação atentam contra bens da União de competência da
Justiça Federal, acaba havendo conexão entre os crimes, os quais deverão
todos ser julgado pela Justiça Federal (Súmula 122/STJ).

4.Habeas corpus contra turmas recursais: antigamente era o STF (Súmula 690
do STF – Compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal o julgamento de
habeas corpus contra decisão de turma recursal de juizados especiais criminais), mas
mudou de orientação sem, no entanto, cancelar a súmula. Cabe ao Tribunal
respectivo.

“O Tribunal, por maioria, mantendo a liminar deferida, declinou da sua


competência para o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, a fim de que
julgue habeas corpus impetrado contra ato da Turma Recursal do Juizado
Criminal da Comarca de Araçatuba - SP em que se pretende o trancamento
de ação penal movida contra delegado de polícia acusado da prática do crime
de prevaricação — v. Informativo 413. Entendeu-se que, em razão de
competir aos tribunais de justiça o processo e julgamento dos juízes
estaduais nos crimes comuns e de responsabilidade, ressalvada a
competência da Justiça Eleitoral (CF, art. 96, III), a eles deve caber o
julgamento de habeas corpus impetrado contra ato de turma recursal de
juizado especial criminal. Asseverou-se que, em reforço a esse entendimento,
tem-se que a competência originária e recursal do STF está prevista na
própria Constituição, inexistindo preceito que delas trate que leve à conclusão
de competir ao Supremo a apreciação de habeas ajuizados contra atos de
turmas recursais criminais. Considerou-se que a EC 22/99 explicitou,
relativamente à alínea i do inciso I do art. 102 da CF, que cumpre ao Supremo
julgar os habeas quando o coator for tribunal superior, constituindo paradoxo
admitir-se também sua competência quando se tratar de ato de turma
recursal criminal, cujos integrantes sequer compõem tribunal”. HC 86834/SP,
rel. Min. Marco Aurélio, 23.8.2006. (HC-86834)

Outros julgados envolvendo Juizado Especial Criminal:


***STJ

“Somente após a apresentação da exordial acusatória (no Juizado Criminal) é


que poderia ser remetido os autos ao Juízo comum para se proceder à
citação editalícia, conforme dispõe expressamente o artigo 78, § 1º, da
referida lei. (9.099/95) (CC 104225/PR, Rel. Ministro HAROLDO RODRIGUES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/CE), TERCEIRA SEÇÃO, julgado
em 25/05/2011, DJe 13/06/2011)

“De acordo com a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, apesar da


previsão de pena alternativa de multa, o critério eleito pelo legislador para
definir a competência dos Juizados Especiais Criminais é o quantum máximo
da pena privativa de liberdade abstratamente cominada. 2. O preceito
sancionador do delito descrito no art. 7º, inciso II, da Lei nº 8.137/90 comina
pena privativa de liberdade superior a um ano ou multa. 3. Consistindo a pena
de multa na menor sanção penal estabelecida para a figura típica em apreço,
é imperiosa a aplicação do art. 89 da Lei nº 9.099/95. 4. Ordem concedida,
acolhido o parecer ministerial, em parte a fim de que o Ministério Público do
Estado de São Paulo se manifeste acerca da proposta de suspensão
condicional do processo.” (HC 125850/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE
ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 31/05/2011, DJe 08/06/2011)

5.HC contra inquérito policial instaurado por requisição do MP Federal: TRF;


[Vide pág. 26 – item 2.5.1.8]

6.Lesão corporal culposa e participação em competição não autorizada


(“racha”): Justiça comum (Juizados criminais);

7.HC contra juiz do trabalho: TRT [Vide pág. 23 – item 2.5.1.5]

8.Crime ambiental: em regra Justiça estadual, salvo quando envolve


patrimônio da União;

9.Crime conexo ao homicídio quando há desclassificação do crime principal


para culposo: Aqui depende! Se a desclassificação for feita pelo próprio Tribunal do
Júri, ou seja, jurados, continuam eles competentes para os demais delistos conexos;
caso a desclassificação seja feita pelo juiz instrutor do procedimento, antes do corpo
de jurados avançar no mérito, cabe remessa dos autos ao juízo competente. (art. 81,
CPP)

10. HC contra decisão dos juizados especiais criminais (juiz singular):


turma recursal;

11. Homicídio contra policial rodoviário federal em serviço: Tribunal do


Júri federal;
12. Crime praticado contra patrimônio de sociedade de economia mista:
Justiça comum estadual (exemplo: crime contra o Banco do Brasil);

13. Crime contra índio envolvendo questão indígena: Justiça federal; (vide
súmula 140 do STJ)

14. Aplicação de penas substitutivas após o trânsito em julgado: Juiz


federal que condenou (competência funcional), salvo se houver ato normativo
atribuindo a uma Vara federal;

15. Militar de São Paulo que cometeu crime na Bahia: Justiça militar de
SP;

16. Recurso contra a justiça militar da União de 1ª instância: Superior


Tribunal Militar;

17. Recurso ordinário em caso de crime político: STF; (art. 102, II, “b” da
CF/88)

18. Crime militar praticado por policial militar do DF: competência da


auditoria militar do DF (com recurso para o TJ do DF);

19. Estelionato contra particular: Justiça estadual, ainda que tenha sido
utilizado documento público como meio – Súmula 107 do STJ;

20. Falsificação de moeda corrente: Justiça federal; Exceção: falsificação


grosseira (súmula 73 do STJ);

21. Cobrança de honorários por médicos do SUS: Justiça Estadual (STF,


RE 429.171).

2.10 CONFLITO DE COMPETÊNCIA

O CPP denomina Conflito de Jurisdição previsto nos Arts. 113 a 117 do CPP.

Princípio da competência sobre a competência (Kompentz kompetnz) – “todo juiz


tem competência para apreciar sua competência para examinar determinada causa”
(Marinoni, pág. 51). Essa análise não vincula os demais juízes, porque possuem idêntica
prerrogativa. Para surgir, é necessário que os órgãos judiciários se manifestem sobre
competência, assim é considerado quando a manifestação do membro do Ministério
Público. Quando surge um conflito de competência entre os órgãos judiciários, “o exame
do conflito competirá sempre a um tribunal de maior hierarquia em relação a ambos os
órgãos envolvidos (ainda que nem sempre vinculado ao mesmo ramo do Poder
Judiciário)” (Marinoni, pág. 57)
Espécies de conflito de competência:

 Positivo – quando dois ou mais órgãos do Judiciário, juízes ou tribunais, se


consideram competentes para o processo e julgamento do mesmo fato criminoso;
 Negativo – quando aquelas autoridades judiciárias se afirmarem
incompetente para o conhecimento da causa pena;
 Art. 114 (omissis), III do CPP – quando entre elas surgir controvérsia sobre
unidade de juízo, junção ou separação de processos.

Competência para decidir o conflito:

CF/88, Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a


guarda da Constituição, cabendo-lhe: (...) I - processar e julgar, originariamente: (...) o)
os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais,
entre Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal; [TEM QUE
ENVOLVER NECESSARIAMENTE UM TRIBUNAL SUPERIOR – STJ, TST, TSE e
STM]

CF/88, Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: (...) I - processar e


julgar, originariamente: (...) g) os conflitos de atribuições entre autoridades
administrativas e judiciárias da União, ou entre autoridades judiciárias de um Estado e
administrativas de outro ou do Distrito Federal, ou entre as deste e da União; [o STJ
decide os conflitos envolvendo órgãos judiciários distintos, desde que não esteja
envolvido]

CF/88, Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: (...) I -


processar e julgar, originariamente: (...) e) os conflitos de competência entre juízes
federais vinculados ao Tribunal; [pode decidir também entre Juiz Federal e Juiz
Estadual, desde que esse esteja no exercício da jurisdição delegada nos termos do
Art. 109, § 4º da CF/88 – Súmula n.º 03 do STJ]
“Súmula n.º 3 do STJ (DJU DE 18/05/1990) – Compete ao Tribunal
Regional Federal dirimir conflito de competência verificado, na respectiva
Região, entre Juiz Federal e Juiz Estadual investido de jurisdição federal.”

Quando se tratar de conflito de competência existente entre juízes vinculados ao


mesmo tribunal, a solução será dada por este.

***Jurisprudência

“Divergência dos Promotores Públicos de Estados-membros diversos ao suscitarem,


perante os respectivos Juízos, a incompetência para o oferecimento da denúncia: inexiste
dispositivo legal que atribua ao Procurador-Geral da República o poder de dirimir conflito
de atribuições entre Promotores de Estados diferentes; compete a cada um dos Juizes
decidir acerca da questão suscitada. 2. Se Juizes de comarcas situadas em Estados-
membros diversos, acolhendo manifestações dos respectivos membros do Ministério
Público, decidem no sentido da incompetência dos seus Juízos, o que se configura é
conflito de jurisdição e não de atribuições entre órgãos do Ministério Público de
Estados diferentes. 3. Hipótese em que não remanesce dúvida quanto à inocorrência
de conflito federativo (art. 102, inciso I, alínea ‘f’, da CF). A competência para dirimir
desavença é a prevista no art. 105, inciso I, alínea "d", da Carta Política.” 16

“ A competência originária do Supremo Tribunal Federal, a que alude a letra "f" do


inciso I do artigo 102 da Constituição, restringe-se aos conflitos de atribuições entre
entes federados que possam, potencialmente, comprometer a harmonia do pacto
federativo. Exegese restritiva do preceito ditada pela jurisprudência da Corte. 3.
Presença de virtual conflito de jurisdição [quando acolhem a manifestação do
Ministério Público] entre os juízos federal e estadual perante os quais funcionam os
órgãos do Parquet em dissensão. Interpretação analógica do artigo 105, I, "d", da
Carta da República, para fixar a competência do Superior Tribunal de Justiça a fim de
que julgue a controvérsia. Conflito de atribuições não conhecido.” 17

Em relação ao conflito de atribuições entre os membros do Ministério Público sem


que passe pelo crivo dos respectivos órgãos judiciários, a competência será do STF e não
do STJ. O STJ não aceita a aplicação analógica do Art. 105, I, “g” e o STF ampliou o
alcance do Art. 102, I, “f” que trata do conflito federativo:

Conflito de Atribuições e Competência Originária do Supremo

“Compete ao Supremo Tribunal Federal dirimir conflito de atribuições entre os Ministérios


Públicos Federal e Estadual, quando não configurado virtual conflito de jurisdição que, por
força da interpretação analógica do art. 105, I, d, da CF, seja da competência do Superior
Tribunal de Justiça . Com base nesse entendimento, o Tribunal, resolvendo conflito
instaurado entre o MP do Estado da Bahia e o Federal, firmou a competência do primeiro
para atuação em inquérito que visa apurar crime de roubo (CP, art. 157, § 2º, I).
Considerou-se a orientação fixada pelo Supremo no sentido de ser dele a competência
para julgar certa matéria diante da inexistência de previsão específica na Constituição
Federal a respeito, e emprestou-se maior alcance à alínea f do inciso I do art. 102 da CF,
ante o fato de estarem envolvidos no conflito órgãos da União e de Estado-membro.
Asseverou-se, ademais, a incompetência do Procurador-Geral da República para a
solução do conflito, em face da impossibilidade de sua interferência no parquet da
unidade federada. Precedentes citados: CJ 5133/RS (DJU de 22.5.70); CJ 5267/GB (DJU
de 4.5.70); MS 22042 QO/RR (DJU de 24.3.95). Leia o inteiro teor do voto do relator na
seção Transcrições deste Informativo.Pet 3528/BA, rel. Min. Marco Aurélio, 28.9.2005.
(Pet-3528)

Jurisprudência sobre CONFLITO DE COMPETÊNCIA:

**STJ

16
Petição 623-2/RS, Pleno, Min. Maurício Corrêa, DJ 11.12.1995
17
Pet 1503/MG, Pleno, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA, julgado em 03/10/2002, DJ 14-11-2002 PP-00014
“Inexiste conflito de competência entre Tribunal de Justiça e Turma Recursal de Juizado
Especial Criminal no âmbito do mesmo Estado, tendo em vista que este não se qualifica
como Tribunal. 2. No caso, conquanto não haja conflito, configura-se constrangimento
ilegal a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo que, ao não conhecer do recurso em
sentido estrito interposto contra decisão de Juízo Comum de Vara Estadual, determinou
sua remessa dos autos ao Colégio Recursal, sob o argumento de ser o delito de menor
potencial ofensivo.” (CC 200901800860, OG FERNANDES, STJ - SEXTA TURMA, DJE
DATA:17/06/2010.)

**STJ

“A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça consagrou o entendimento de que


compete ao Juízo da Vara das Execuções Penais da comarca onde se situa o
estabelecimento penitenciário onde o condenado cumpre pena, mesmo sendo esta
imposta por Juízo de outro Estado, decidir sobre os incidentes de execução.” (CC
33186/AM, Rel. Ministro VICENTE LEAL, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/11/2001, DJ
04/02/2002)

“Trata-se de recurso submetido ao regime do art. 543-C do CPC e Res. n. 8/2008-STJ em


que se discute se, no curso da execução penal, todas as saídas temporárias anuais
podem ser autorizadas de maneira automática a partir de uma só decisão do juízo da
execução. A Seção, por maioria, entendeu que deve ser afastada a concessão de saídas
automatizadas, para que haja manifestação motivada do juízo da execução, com
intervenção do Ministério Público, em cada saída temporária, ressalvando, nos termos do
art. 124 da LEP, a legalidade da fixação do limite máximo de 35 dias por ano. Consignou-
se, entre outros fundamentos, que a autorização das saídas temporárias é ato
jurisdicional da competência do juízo das execuções penais, que deve ser motivada com
a demonstração da conveniência de cada medida (art. 124 da LEP).” REsp 1.166.251-RJ,
Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/3/2012. STJ – info 493

“Quando os motivos que fundamentaram a transferência do condenado para presídio


federal de segurança máxima persistirem, justifica-se o pedido de renovação do prazo de
permanência, ainda que não tenha ocorrido fato novo. A Lei n. 11.671/2008 dispõe que o
período de permanência é renovável excepcionalmente, quando solicitado motivadamente
pelo juízo de origem, não exigindo novos argumentos. Assim, tendo sido aceitos pelo juízo
federal os fundamentos no momento do pedido de transferência, é suficiente, para a
renovação do prazo, a afirmação de que esses motivos de segurança pública ainda
permanecem. Ressaltou-se, também, que não cabe ao juízo federal discutir as razões do
juízo estadual ao solicitar a transferência ou renovação do prazo em presídio federal, pois
este é o único habilitado a declarar a excepcionalidade da medida. Ademais, trata-se, na
hipótese, de preso integrante de organização criminosa que exerce função de liderança
dentro do presídio. Nesses termos, a Seção, por maioria, conheceu do conflito e declarou
competente o juízo federal, devendo o apenado permanecer no presídio de segurança
máxima. Precedentes citados: CC 106.137-CE, DJe 3/11/2010, e CC 118.834-RJ, DJe
1º/12/2011. CC 122.042-RJ, Rel. originário Min. Gilson Dipp, Rel. para acórdão Min.
Marco Aurélio Bellizze, julgado em 27/6/2012. STJ info 500
***STF:

“Não há conflito de jurisdição ou de competência entre o Tribunal Superior Eleitoral, de um


lado, e o Tribunal Regional Federal, de outro, se, no primeiro, está em andamento
Recurso Especial contra acórdão de Tribunal Regional Eleitoral, que determinou
investigação judicial para apuração de ilícitos eleitorais previstos no art. 22 da Lei de
Inelegibilidades; e, no segundo, isto é, no T.R.F., foi proferido acórdão denegatório de
"Habeas Corpus" e confirmatório da competência da Justiça Federal, para processar ação
penal por crimes eleitorais e conexos. 2. Sobretudo, em se verificando que tais julgados
trataram de questões, de partes e de finalidades inteiramente distintas. 3. É caso, pois, de
não se conhecer do Conflito, por inexistente.” (...) (CC 7033, Relator(a): Min. SYDNEY
SANCHES, Tribunal Pleno, julgado em 02/10/1996, DJ 29-11-1996 PP-47156 EMENT
VOL-01852-01 PP-00116)

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