Roteiro de aula 05
1 JURISDIÇÃO
1.2 Conceito
Lei processual que altera a competência e sua aplicação: lei que altera a
competência tem aplicação imediata aos processos em curso? É bem verdade que o
critério de aplicação da lei processual é a aplicação imediata (art. 2º, CPP: “A lei
processual penal aplicar-se-á desde logo...”). A lei que altera a competência tem
aplicação imediata para os fatos praticados após sua vigência; porém, para a
jurisprudência, lei que altera a competência tem aplicação imediata inclusive aos
processos em andamento, salvo se já houver sentença relativa ao mérito, hipótese
em que o processo deverá seguir na jurisdição em que a decisão foi prolatada (STF,
HC 76.510). No sentido de que a criação de vara especializada provoca o
deslocamento da competência para processamento e julgamento da vara comum
para a vara especializada, HC – 86.660 (STF – Plenário) e HC-85060 (STF - 1ª
Turma).
2 COMPETÊNCIA
2.1 CONCEITO
Competência é o poder conferido (pela Constituição ou pela lei) a cada juiz para
conhecer e julgar determinados litígios. Em outras palavras, competência é a medida, é o
limite, da jurisdição, detro dos quais o órgão jurisdicional pode dizer o direito.Todos os
juízes devidamente investidos no cargo contam com jurisdição. Mas só podem dirimir os
conflitos dentro da sua respectiva competência. Em resumo: constitui um limite da
jurisdição.
2º) Sendo fixada a nacional, qual é a jurisdição competente. Pode ser a especial
(Militar ou Eleitoral) ou a comum (Federal ou Estadual).
ELEITORAL
ESPECIAL TRABALHISTA
JUSTIÇA MILITAR: estadual e federal
ESTADUAL
COMUM
FEDERAL
ÓRGÃO COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA (tribunais)
HIERÁRQUICO 1a. INSTÂNCIA
FORO
JUÍZO
JUIZ
TURMA RECURSAL
TJ
Turma recursal
ÓRGÀO RECURSAL TJ
TRIBUNAIS SUPERIORES TRIBUNAIS SUPERIORS: STJ e STF
CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS
HUMANOS
TPI
O Estado, como regra, não pode exercer a sua soberania fora do território
nacional (componente espacial do Estado, é a porção sobre a qual o Estado exerce a
sua jurisdição): território real ou território restrito e território por extensão ou território por
ficção jurídica.
Juiz do trabalho – não possui jurisdição criminal. Há uma exceção – Vide item
2.5.1.5
2.4.1.1 Justiça militar estadual (art. 125, CF): a justiça militar dos Estados é
composta:
Não existe conexão entre crime militar e crime comum. Há separação obrigatória
dos julgamentos.
A EC 45 deu à justiça militar dos estados, atribuição não penal, não-criminal. Juiz
auditor militar julgará ações contra atos disciplinares. Artigo 125, § 4º, CF – neste caso, a
justiça militar dos estados não julga matéria criminal, mas lato sensu cível.
Sua competência está regida por dois critérios conjugados: ratione materiae e
ratione personae. Militar que mata civil dolosamente: competência do Tribunal do Júri
(Justiça comum). Militar que comete outros crimes contra civil: competência do juiz auditor
(competência singular) (EC 45/04).
A EC/45 (artigo 124, § 4o.) afirma que a Justiça Militar Estadual tem competência para
julgar matéria NÃO criminal quando fala em ATOS DISCIPLINARES MILITARES. A justiça militar
não julga os crimes dolosos contra a vida. A justiça estadual militar NUNCA pode julgar o civil,
a federal pode, nos termos da CF/88.
O PM quando pratica crime militar será julgado no Estado de sua corporação (Súmula 78,
STJ).
Súmula 172, STJ: “compete à justiça comum processar e julgar militar por abuso
de autoridade, ainda que praticado em serviço”. O abuso de autoridade não está previsto
no Código Penal Militar, razão pela qual nunca é da competência da justiça militar.
**STJ
***STF
OBS: Já em relação aos crimes contra a Justiça Eleitoral (que não se confunde
com os crimes eleitorais), compete à Justiça Federal processar e julgar em detrimento da
administração da Justiça Eleitoral, por isso não se trata de crime eleitoral. A circunstância
de ocorrer o falso depoimento em processo eleitoral não estabelece vínculo de conexão
parar atrair a competência da Justiça Eleitoral, afetando seu processo e julgamento à
Justiça Federal. (Roberto Luis Luchi Demo, in RJ 328/97-117). Idem para Justiça
Trabalhista.
COMPETE A JUSTIÇA FEDERAL DE PRIMEIRO GRAU PROCESSAR E
JULGAR CRIMES COMUNS PRATICADOS CONTRA JUIZ DE DIREITO NO EXERCICIO
DA JURISDIÇÃO ELEITORAL. (CC 7431/BA, Rel. Ministro VICENTE LEAL, TERCEIRA
SECAO, julgado em 02/03/1995, DJ 27/03/1995, p. 7126)
Não tinha competência criminal, mas agora julga o HC de sua jurisdição (EC/45).
Antes, o HC contra juiz do trabalho iria para o TRF, agora vai para o TST. Cuidado: na
ADIn 3684 o STF entendeu que a EC nº45/2004 não atribuiu competência criminal
genérica à Justiça do Trabalho, mas só a específica já vista neste item.
Considerações Introdutórias
A competência penal da Justiça Federal se divide pelos incisos IV, V, V-A (quando
a causa se tratar de crime), VI, VII, IX e X a XI do Art. 109 da CF/88. Segundo Pacelli, “o
critério utilizado pelo constituinte pode ser explicado a partir da busca de um
dimensionamento mais ou menos preciso das questões que poderiam afetar, direta ou
indiretamente, os interesses federais e os interesses nacionais”.
3
Súmula n.º 38 do STJ (DJU DE 27/03/1992) - Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de
verdadeira norma de exclusão de competência). Na hipótese de conexão ou
continência com crime de competência da Justiça Federal, prevalece a regra
constitucional, indicando a necessidade de desmembramento do processo. Frise-se
que o conceito de infração de menor potencial ofensivo nos crimes de competência da
Justiça Federal não abrange as contravenções penais. Obs.: Há exceção, a
contravenção será julgada pela Justiça Federal quando seu autor tiver foro por
prerrogativa de função em algum TRF, como no caso de um Juiz Federal que pratique
uma contravenção de jogo do bicho.
CONEXÃO CONSEQUÊNCIA
conexão federal é remetida à justiça estadual
Procurador denuncia o crime, tira cópias e remete para a
crime contravençã
justiça estadual a contravenção
federal o Não pode denunciar crime federal e esquecer a contravenção
penal.
Desvio de verbas dos municípios: a União repassa valores aos Municípios mediante
uma contrapartida deles. A competência para julgamento de crime contra o prefeito em relação
aos valores dependerá da incorporação ou não ao patrimônio municipal, nos termos das súmulas
208 e 209 do STJ.
1988, o processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou
de suas entidades.
ajuste ou outro instrumento congênere nos termos art. 71, VI da CF/88]
**STJ
Hipótese em que foi instaurado inquérito policial para apurar a suposta prática do
crime de estelionato, consistente na implantação fraudulenta de empréstimo consignado
em folha de pagamento de proventos de aposentadoria pagos pelo Instituto Nacional do
Seguro Social - INSS a determinada beneficiária, perante instituição financeira privada. 2.
Considerando-se que o delito não foi cometido em detrimento de bens, serviços e
interesses da União ou sua entidade autárquica, mas sim contra particulares (aposentada
e instituição financeira privada), não há que se falar em competência da Justiça Federal.
(CC 200802476599, JORGE MUSSI, STJ - TERCEIRA SEÇÃO, DJE DATA:20/05/2010.)
***STF
Quanto aos serviços, ainda devemos fazer uma análise de algumas questões fáticas:
I) desenvolvimento clandestino de telecomunicação (é a rádio pirata), prevista na Lei 9.472/97.
Quem julga este delito? o raciocínio é o seguinte: a quem compete explorar os serviços de
telecomunicações? À União, conforme o art. 21, XI, CF. Assim, crime contra serviço da União é
crime de competência da Justiça Federal.
II) crime de receptação clandestina de TV a cabo: é considerado furto de energia (sinal de TV a
cabo), sendo, portanto, um crime patrimonial, de modo que o dano é contra a TV a cabo, razão
pela qual a competência é da justiça estadual.
III) crimes praticados em programas de televisão: são da competência da justiça estadual.
Pode abranger tanto a hipótese de crimes cometidos contra ou por seus servidores
públicos ou então por particular (apresentação de um documento falso perante o serviço público
federal): 1. O crime de uso de documento falso foi praticado no intuito de burlar a fiscalização
realizada pelos agentes da Polícia Rodoviária Federal, que constitui serviço da União. 3. Conflito
conhecido para declarar a competência do Juízo Federal. CC 41195/RS, 3ª Seção, Rel. Ministro
ARNALDO ESTEVES LIMA, julgado em 27.04.2005, DJ 22.06.2005 p. 222
RE Criminal: Competência da Justiça Comum e SUS. “(...) deferiu habeas corpus de
ofício para anular o processo e reconhecer a competência da justiça comum estadual para o
julgamento de administrador e de médico de hospital privado acusados da suposta prática do
crime de concussão contra paciente vinculado ao Sistema Único de Saúde - SUS.
Precedentes citados: HC 81912/RS (DJU de 13.9.2002); HC 56444/SP (DJU de 28.12.78); HC
71849/SP (DJU de 4.8.95); HC 77717/RS (DJU de 12.3.99).(RE 429171/RS, rel. Min. Carlos
Britto, 14.9.2004. RE-429171)
**STJ
A Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça vem decidindo que compete à
Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsificação de documento público, consistente na
omissão de anotação de período de vigência do contrato de trabalho de único empregado, tendo
em vista a ausência de lesão a bens, serviços ou interesse da União, consoante o disposto na
Súmula 62/STJ. (CC 200802093406, JORGE MUSSI, STJ - TERCEIRA SEÇÃO, DJE
DATA:03/08/2009.)
5
Súmula n.º 147 do STJ (DJU DE 18/12/1995) – Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados
contra funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da função.
Súmula 254 do TFR – Compete à Justiça Federal processar e julgar os delitos praticados por funcionário público
federal, no exercício de suas funções e com estas relacionadas.
Súmula n.º 165 do STJ (DJU DE 23/08/1996 - REP EM 03/09/1996) – Compete à Justiça Federal processar e julgar
crime de falso testemunho cometido no processo trabalhista.
DIPP, STJ - TERCEIRA SEÇÃO, DJE DATA:01/12/2010.)
Idêntico raciocínio pode ser aplicado quando o particular se passar por servidor público
federal para cometer crime contra particular. - a pratica de delito por particulares que se
passam por agentes rodoviarios federais, contra passageiros de onibus de turismo, por si
so, não justifica o deslocamento da competencia para a justiça federal. (CC 21.822/PR, 3ª
Seção, Rel. Ministro FELIX FISCHER, julgado em 13.05.1998, DJ 29.06.1998 p. 22)
Obs.: O mesmo STF parece manter esse seu entendimento ATUALMENTE, senão
vejamos: Compete ao Supremo a solução de conflito de atribuições a envolver o Ministério
Público Federal e Ministério Público estadual – Petição nº 3.528-3/BA, Tribunal Pleno, relator
Ministro Marco Aurélio, Diário da Justiça de 3 de março de 2006. CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES –
SERVIÇO DA UNIÃO. Versando os fatos sobre prática contrária ao bom serviço federal – da
Receita – (apresentação de DARF supostamente irregulares), incumbe ao Ministério Público
Federal atuar, cabendo, da mesma forma, à Polícia e ao Juízo federal a atividade a ser
desenvolvida, pouco importando a existência, ou não, de dano patrimonial. ((Pet 4680, Relator(a):
Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 29/09/2010, DJe-069 DIVULG 11-04-2011
PUBLIC 12-04-2011 EMENT VOL-02501-01 PP-00075)
Não obstante, achei esse julgado também em sentido inverso acerca da falsificação de
documento público:
E M E N T A: "HABEAS CORPUS" - FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO -
FATO DELITUOSO, QUE, ISOLADAMENTE CONSIDERADO, NÃO OFENDE BENS, SERVIÇOS
OU INTERESSES DA UNIÃO FEDERAL, DE SUAS AUTARQUIAS OU DE EMPRESA PÚBLICA
FEDERAL - RECONHECIMENTO, NA ESPÉCIE, DA COMPETÊNCIA PENAL DA JUSTIÇA
ESTADUAL PARA O PROCESSO E JULGAMENTO DO CRIME TIPIFICADO NO ART. 297 DO CP
- USO POSTERIOR, PERANTE REPARTIÇÃO FEDERAL, PELO PRÓPRIO AUTOR DA
FALSIFICAÇÃO, DO DOCUMENTO POR ELE MESMO FALSIFICADO - "POST FACTUM" NÃO
PUNÍVEL - CONSEQÜENTE FALTA DE COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL,
CONSIDERADO O CARÁTER IMPUNÍVEL DO USO POSTERIOR, PELO FALSIFICADOR, DO
DOCUMENTO POR ELE PRÓPRIO FORJADO - ABSORÇÃO, EM TAL HIPÓTESE, DO CRIME
DE USO DE DOCUMENTO FALSO (CP, ART. 304) PELO DELITO DE FALSIFICAÇÃO
DOCUMENTAL (CP, ART. 297, NO CASO), DE COMPETÊNCIA, NA ESPÉCIE, DO PODER
JUDICIÁRIO LOCAL - PEDIDO INDEFERIDO. - O uso dos papéis falsificados, quando praticado
pelo próprio autor da falsificação, configura "post factum" não punível, mero exaurimento do
"crimen falsi", respondendo o falsário, em tal hipótese, pelo delito de falsificação de documento
público (CP, art. 297) ou, conforme o caso, pelo crime de falsificação de documento particular (CP,
art. 298). Doutrina. Precedentes (STF). - Reconhecimento, na espécie, da competência do Poder
Judiciário local, eis que inocorrente, quanto ao delito de falsificação documental, qualquer das
situações a que se refere o inciso IV do art. 109 da Constituição da República. - Irrelevância de o
documento falsificado haver sido ulteriormente utilizado, pelo próprio autor da falsificação, perante
repartição pública federal, pois, tratando-se de "post factum" impunível, não há como afirmar-se
caracterizada a competência penal da Justiça Federal, eis que inexistente, em tal hipótese, fato
delituoso a reprimir.(HC 84533, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em
14/09/2004, DJ 30-06-2006 PP-00035 EMENT VOL-02239-01 PP-00112 RTJ VOL-00199-03 PP-
01112)
“De uma maneira geral, sempre que houver uma norma autorizando a gestão,
administração ou fiscalização de qualquer atividade ou serviço, por órgão da Administração
Pública Federal, estará caracterizado o interesse público federal.” (Paccelli, pág. 236)
CRIMES AMBIENTAIS CONTRA A FAUNA (a súmula 91, STJ, que diz ser
competência da JF, foi cancelada; até 2000, entendia-se que os animais da fauna nacional
eram bens da União, mas os crimes contra a fauna nacional são de competência da justiça
estadual) e
O IBAMA possui uma lista de animais em extinção. Os crimes cometidos contra esses
animais são de competência da JF para julgamento, de acordo com a jurisprudência, apesar do
cancelamento da súmula.(interesse da União em preservar os animais e animais sob tutela do
IBAMA).
Todavia, é importante observar que o entendimento do STJ ainda não é adotado pelo
TRF1, apesar seguido pelo TRF4 e TRF5:
***TRF1:
1. Não existe dispositivo constitucional fixando a competência da Justiça Federal para julgar os
crimes ambientais. Competência residual da Justiça Comum. 2. A simples presença de um órgão
federal não é elemento determinante para a fixação da competência, se não for demonstrado um
prejuízo direto. 3. Pesca praticada em rio que não é do domínio da União Federal. (RCCR
2004.43.00.001370-7/TO, Rel. Desembargador Federal Tourinho Neto, Terceira Turma,DJ p.31 de
01/10/2004)
Logo, pelo teor dos julgados, pode-se observar que para que a competência do crime
ambiental resvale na JF, deve estar presente situação atinente à regra acima: bem da União,
interesse tutelado pela União, etc.
***TRF5:
***TRF4:
“1. Compete à Justiça Federal processar e julgar ação penal que tenha por objeto crime ambiental
envolvendo espécie da fauna em perigo de extinção, tendo em vista o manifesto interesse do
IBAMA, já que lhe incumbe, além de elaborar o levantamento e a listagem dos animais em vias de
extermínio, a concessão de autorização prévia para a captura e criação de tais espécimes (art. 57
da Lei nº 9.985/00).” Precedentes do STJ. (...) (Classe: ACR - APELAÇÃO CRIMINAL Processo:
2005.71.00.040396-0 UF: RS Data da Decisão: 28/03/2007Orgão Julgador: OITAVA TURMA).
**STJ
“De regra, compete à Justiça Estadual o processo e julgamento de feitos que visam à apuração de
crimes ambientais. Contudo, tratando-se de possível venda de animais silvestres, caçados em
Reserva Particular de Patrimônio Natural - declarada área de interesse público, segundo a Lei n.º
9.985/00 - evidencia-se situação excepcional indicativa da existência de interesse da União, a
ensejar a competência da Justiça Federal. (...) Ressalva de que os responsáveis pelas
orientações técnicas e científicas ao proprietário da reserva, incluindo-se aí a elaboração dos
Planos de Manejo, Proteção e Gestão da unidade são o CONAMA, o Ministério do Meio Ambiente
e o IBAMA, sendo que este ainda detém a administração das unidades de conservação – tudo a
justificar o interesse da União.” (CC 35476/PB, Rel. Ministro GILSON DIPP, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 11/09/2002, DJ 07/10/2002, p. 170)
“Apenas o fato de ser de propriedade da Marinha do Brasil, o produto tóxico transportado, sem
observância das normas de segurança (art. 56 da Lei n. 9.605/1998), não tem o condão de
deslocar a competência da ação penal para a Justiça Federal, já que o bem jurídico tutelado é o
meio ambiente. No caso dos autos, laudo emitido pela ABACC (Agência Brasileiro-Argentina de
Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares) informando que o material poderia ser
transportado por qualquer meio de transporte, exceto por via postal, não requerendo cuidados
adicionais. O Min. Relator reiterou o entendimento consolidado na Terceira Seção de que a Justiça
estadual é competente para julgar as ações penais relativas a crime ambiental (Lei n. 9.605/1998),
salvo se evidenciado interesse jurídico direto e específico da União, suas autarquias e fundações
(art. 109, IV, da CF). Precedentes citados: CC 39.891-PR, DJ 15/12/2003, e REsp 437.959-TO, DJ
6/10/2003. AgRg no CC 115.159-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 13/6/2012. STJ – info
499”
***STF
“Não é a Mata Atlântica, que integra o patrimônio nacional a que alude o artigo 225, § 4º, da
Constituição Federal, bem da União. - Por outro lado, o interesse da União para que ocorra a
competência da Justiça Federal prevista no artigo 109, IV, da Carta Magna tem de ser direto e
específico, e não, como ocorre no caso, interesse genérico da coletividade, embora aí também
incluído genericamente o interesse da União. - Conseqüentemente, a competência, no caso, é da
Justiça Comum estadual”. (RE 300244, Relator(a): Min. MOREIRA ALVES, Primeira Turma,
julgado em 20/11/2001, DJ 19-12-2001 PP-00027 EMENT VOL-02054-06 PP-01179)
Em que pese se tratar de matéria de Direiro Penal, vale mencionar que há alteração
legislativa desmembrando os dois delitos, vejamos como ficou:
Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela
saída ou pelo consumo de mercadoria (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
§ 1o Incorre na mesma pena quem: (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei; (Redação dada pela Lei nº
13.008, de 26.6.2014)
II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho; (Redação dada pela Lei nº 13.008, de
26.6.2014)
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência
estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe
ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por parte
de outrem; (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
Contrabando
Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida: (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos. (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando; (Incluído pela Lei nº 13.008, de
26.6.2014)
III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação; (Incluído pela Lei
nº 13.008, de 26.6.2014)
IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio
ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira;
(Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
Outras situações:
FGTS é um patrimônio do trabalhador (art. 7º, III da CF/88), mas administrado pelo
Governo Federal através de um Conselho Curador (Art. 3º da Lei 8.036/90), cabendo à Caixa
Econômica Federal (CEF) o papel de agente operador.
***STJ
***STF
Compete ao MPF investigar desvio irregular de verbas do Fundef.O ministro
Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), reconheceu na Ação Cível
Originária (ACO 911) a competência do Ministério Público da União (MPF) para investigar
suposto desvio e emprego irregular de verbas do Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef). A
ação, que procura solucionar um conflito negativo * de atribuições, foi proposta pelo MPF
que, ao receber o procedimento de investigação, remetido pelo Ministério Público de São
Paulo (MP-SP), declarou-se incompetente para prosseguir nas investigações. Parte da
verba do Fundef é de origem da União, por isso, segundo o MP-SP, deve ser fiscalizado
pelo Tribunal de Contas da União (TCU). “Cabendo a fiscalização ao TCU, a competência
para processar e julgar, dentre outras, questões relativas à regularidade da aplicação das
verbas do Fundef, é da Justiça Federal”, disse o órgão estadual. Na decisão,
Lewandowski ressaltou que havia competência fiscalizatória concorrente entre os entes,
os estados e a União, e, nesse caso, “é prevalente a competência federal para conhecer e
julgar a ação penal respectiva, nos termos do artigo 78, IV, do Código de Processo Penal”
Ainda: (HC 100772, GILMAR MENDES, STF) “ATENÇÃO”: o STF fazendo uma distinção
entre a competência CRIMINAL e a CÍVEL: “O art. 102, I, f, da Constituição da República
recomenda que o presente conflito de atribuição entre os membros do Ministério Público
Federal e do Estado de São Paulo subsuma-se à competência do Supremo Tribunal
Federal . 3. A sistemática de formação do FUNDEF impõe, para a definição de atribuições
entre o Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual, adequada delimitação
da natureza cível ou criminal da matéria envolvida 4. A competência penal, uma vez
presente o interesse da União, justifica a competência da Justiça Federal (art. 109, IV,
CF/88) não se restringindo ao aspecto econômico, podendo justificá-la questões de
ordem moral. In casu, assume peculiar relevância o papel da União na manutenção e na
fiscalização dos recursos do FUNDEF, por isso o seu interesse moral (político-social) em
assegurar sua adequada destinação, o que atrai a competência da Justiça Federal, em
caráter excepcional, para julgar os crimes praticados em detrimento dessas verbas e a
atribuição do Ministério Público Federal para investigar os fatos e propor eventual ação
penal. 5. A competência da Justiça Federal na esfera cível somente se verifica quando a
União tiver legítimo interesse para atuar como autora, ré, assistente ou opoente,
*
O conflito negativo ocorre quando os dois órgãos declaram-se incompetentes. De outra forma, o conflito positivo
verifica-se quando ambos consideram-se competentes.
conforme disposto no art. 109, inciso I, da Constituição. A princípio, a União não teria
legítimo interesse processual, pois, além de não lhe pertencerem os recursos desviados
(diante da ausência de repasse de recursos federais a título de complementação),
tampouco o ato de improbidade seria imputável a agente público federal. 6. Conflito de
atribuições conhecido, com declaração de atribuição ao órgão de atuação do Ministério
Público Federal para averiguar eventual ocorrência de ilícito penal e a atribuição do
Ministério Público do Estado de São Paulo para apurar hipótese de improbidade
administrativa (ilícito civil), sem prejuízo de posterior deslocamento de competência à
Justiça Federal, caso haja intervenção da União ou diante do reconhecimento ulterior de
lesão ao patrimônio nacional nessa última hipótese. (ACO 1109, Relator(a): Min. ELLEN
GRACIE, Relator(a) p/ Acórdão: Min. LUIZ FUX (art. 38, IV, b, do RISTF), Tribunal Pleno,
julgado em 05/10/2011, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-047 DIVULG 06-03-2012 PUBLIC
07-03-2012)
**STJ
“compete a justiça federal de primeiro grau processar e julgar crimes comuns praticados contra
juiz de direito no exercicio da jurisdição eleitoral.” (CC 7431/BA, Rel. Ministro VICENTE LEAL,
TERCEIRA SECAO, julgado em 02/03/1995, DJ 27/03/1995, p. 7126) (JE é serviço da União)
“Aos olhos do Relator, há de ser restritiva a interpretação da cláusula "em detrimento de bens,
serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou de empresas públicas",
constante do art. 109, IV, da Constituição. 2. Por isso mesmo, o ato praticado por delegado de
polícia federal – tendo como vítima médica em hospital – quando não se encontrava no exercício
da função não é bastante para se fixar a competência da Justiça Federal.” (HC 200800555097,
NILSON NAVES, STJ - SEXTA TURMA, DJE DATA:14/06/2010.)
“Ofende diretamente interesse da União Federal, atraindo a competência da Justiça Federal (art.
109, IV da CF), a conduta de Policiais Federais que mesmo fora do exercício funcional, mas
vestindo a farda, portando o distintivo da corporação, as identidades e as armas e no uso de
viatura oficial da DPF, praticam crimes contra pessoas alheias à Administração Pública”. (RESP
200802629616, NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, STJ - QUINTA TURMA, DJE
DATA:06/12/2010.) (Interesse da União evidenciado pelo uso do irregular de seu serviço)
“O sistema de repasse previsto no programa de resposta aos desastres e reconstrução, tem por
finalidade específica o atendimento da população desabrigada por situações de calamidade
pública e resulta em termo de compromisso assinado pelos entes federados com o Ministério da
Integração Nacional. Estando o ato sujeito à verificação e fiscalização do Governo Federal, é de
se ter como presente o interesse da União e, portanto, a competência da Justiça Federal, nos
termos da aplicação analógica do Enunciado n.º 208 desta Corte.” (CC 114566/RS, Rel. Ministra
MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/12/2010, DJe
01/02/2011)
“A competência para processar e julgar crimes praticados contra a honra de promotor de justiça do
Distrito Federal no exercício de suas funções é da Justiça comum do DF, visto que, embora
organizado e mantido pela União, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios não é órgão
federal. Isso porque o MPDFT faz parte da estrutura orgânica do DF, entidade política equiparada
aos estados-membros (art. 32, § 1º, da CF). Assim, não incide, na hipótese, o enunciado da Súm.
n. 147/STJ, a qual se refere apenas aos crimes praticados contra servidores públicos federais no
exercício de suas funções. Portanto, eventual ofensa à honra de membro do MPDFT não atrai a
competência da Justiça Federal, visto que não há violação de interesse, bem ou serviço da União,
não se enquadrando, assim, nas hipóteses do art. 109 da CF.” Precedente citado: CC 36.929-DF,
DJ 24/3/2003. CC 119.484-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/4/2012. STJ – info
496
*Telecomunicações/Radiodifusão
**STJ
“A Lei 9.472/97 não teve efeito ab-rogatório sobre a Lei 4.117/62, mas apenas de
revogação parcial, de modo que permanecem inalteráveis os preceitos relativos aos
delitos de radiodifusão, de acordo com o constante no art. 215, I, da Lei 9.472/97.
Precedente. II – Hipótese na qual se trata de competência para o julgamento de recurso
relativo à sentença que condenou o réu pela exploração clandestina de serviço de
radiodifusão na frequência de 106,5 MHz, sem qualquer tipo de autorização da União. III –
Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo da Segunda Turma do Tribunal
Regional Federal da 3.ª Região, o suscitado”. (CC 201000857642, GILSON DIPP, STJ -
TERCEIRA SEÇÃO, DJE DATA:12/11/2010.)
“A conduta do réu de clonar telefones celulares não se subsume ao tipo penal do artigo
183 da Lei nº 9.472/1997, eis que não houve o desenvolvimento clandestino de atividades
de telecomunicação, mas apenas a utilização de linha preexistente e pertencente a outro
usuário, com a finalidade de obter vantagem patrimonial indevida às custas deste e das
concessionárias de telefonia móvel que exploram legalmente o serviço, já que possuem a
obrigação de ressarcir os clientes na hipótese de tal fraude, inexistindo, portanto,
quaisquer prejuízos em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, a ensejar a
competência da Justiça Federal. Precedentes.” (CC 113443/SP, Rel. Ministro MARCO
AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 28/09/2011, DJe 07/12/2011)
CF/88, Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) IV - os
crimes políticos (omissis);
CF/88, Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) V - os
crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução
no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
“Assim, é preciso que, além de ter sido previsto um tratado ou convenção internacional, a
sua execução tenha se dado no país e o resultado ocorrido (ou devesse ocorrer, na hipótese de
tentativa) no estrangeiro, ou reciprocamente. Em outras palavras, é preciso a presença de uma
relação de internacionalidade, em que a conduta e resultado se realizem entre dois ou mais
Estados (isto é, entre duas ou mais soberanias” (Paccelli, pág. 241 – modificado)
***Em relação aos crimes cometidos por intermédio da Internet, existem duas posições:
1ª) Todo crime cometido pela Internet seria de competência da JF ante o caráter mundial
da rede de computadores;
**STJ
“A Seção entendeu que compete à Justiça estadual processar e julgar os crimes de injúria
praticados por meio da rede mundial de computadores, ainda que em páginas eletrônicas
internacionais, tais como as redes sociais Orkut e Twitter. Asseverou-se que o simples fato de o
suposto delito ter sido cometido pela internet não atrai, por si só, a competência da Justiça
Federal. Destacou-se que a conduta delituosa – mensagens de caráter ofensivo publicadas pela
ex-namorada da vítima nas mencionadas redes sociais – não se subsume em nenhuma das
hipóteses elencadas no art. 109, IV e V, da CF. O delito de injúria não está previsto em tratado ou
convenção internacional em que o Brasil se comprometeu a combater, por exemplo, os crimes de
racismo, xenofobia, publicação de pornografia infantil, entre outros. Ademais, as mensagens
veiculadas na internet não ofenderam bens, interesses ou serviços da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas. Dessa forma, declarou-se competente para conhecer e julgar o
feito o juízo de Direito do Juizado Especial Civil e Criminal.” CC 121.431-SE, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, julgado em 11/4/2012. (info 494 - STJ)
***STF
“Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes cuja consumação se deu em território
estrangeiro (art. 109, V, CF). II - O crime tipificado no art. 241 do Estatuto da Criança e do
Adolescente, consubstanciado na divulgação ou publicação, pela internet, de fotografias
pornográficas ou de cenas de sexo explícito envolvendo crianças ou adolescentes, cujo acesso se
deu além das fronteiras nacionais, atrai a competência da Justiça Federal para o seu
processamento e julgamento.” (HC 86289, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira
Turma, julgado em 06/06/2006, DJ 20-10-2006 PP-00062 EMENT VOL-02252-02 PP-00296)
“I - Hipótese em que o paciente foi seguido por policiais federais, tendo sido preso logo após ter
entregado uma mala preta contendo cocaína a uma co-denunciada, configurando a hipótese de
flagrante impróprio ou quase-flagrante, equiparável ao flagrante próprio para o efeito de prisão. II -
O simples fato de a substância entorpecente ter sido adquirida em cidade brasileira que faz
fronteira com a Província de Letícia, na Colômbia, não permite presumir que a mesma tenha sido
adquirida naquele país, apto a caracterizar o tráfico internacional de drogas.III - Não demonstrada
a internacionalidade do tráfico de entorpecentes, afasta-se a competência da Justiça Federal,
declarando a nulidade do feito desde o recebimento da denúncia, com a remessa dos autos à
Justiça Estadual.” HC 38.510/PA, 5ª Turma, Rel. Ministro GILSON DIPP, julgado em 18.11.2004, DJ
13.12.2004 p. 400
“1. O uso e o eventual tráfico de lança-perfume constituem prática doméstica, pois o entorpecente
em referência é produto de venda livre em seu país de origem.” CC 32.458/SP, 3ª Seção, Rel.
Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, julgado em 14.02.2005, DJ 02.03.2005 p. 182
CF/88, Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) V-A as
causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo; (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral
da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações
decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja
parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do
inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça
Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
**STJ
CF/88, Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) VI - os
crimes contra a organização do trabalho (omissis)
O Plenário do STF (INFO 450) sedimentou que quaisquer condutas que violem
não só o sistema de órgãos e instituições que preservam, coletivamente, os direitos e
deveres dos trabalhadores, mas também o homem trabalhador, atingindo-o nas esferas
em que a Constituição lhe confere proteção máxima, enquadram-se na categoria dos
crimes contra a organização do trabalho, se praticadas no contexto de relações de
trabalho. Concluiu-se que, nesse contexto, o qual sofre influxo do princípio constitucional
da dignidade da pessoa humana, informador de todo o sistema jurídico-constitucional, a
prática do crime em questão caracteriza-se como crime contra a organização do trabalho,
de competência da justiça federal (CF, art. 109, VI).
“I. Hipótese em que a denúncia descreve a suposta prática do delito de aliciamento para o
fim de emigração perpetrado contra 3 (três) trabalhadores individualmente considerados.
II. Compete à Justiça Federal o julgamento dos crimes contra a organização do trabalho
desde que demonstrada a lesão a direito dos trabalhadores coletivamente considerados
ou à organização geral do trabalho. III. Conflito conhecido para declarar a competência da
Justiça Estadual.” (CC 200901566737, GILSON DIPP, STJ - TERCEIRA SEÇÃO,
18/10/2010)
“1. A jurisprudência desta Corte é no sentido de que compete à Justiça Federal processar
e julgar o crime do art. 149 do Código Penal, que se insere na categoria dos crimes contra
a organização do trabalho, aplicando-se, quanto aos conexos, o enunciado nº 122 da
Súmula do STJ. 2. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo da 3ª Vara
Federal da Seção Judiciária do Estado do Mato Gosso, órgão integrante da área de
jurisdição do suscitado.” (CC 110.697/MT, Rel. Ministro HAROLDO RODRIGUES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/CE), TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
08/09/2010, DJe 21/09/2010)
CF/88, Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) VI –
(omissis) , nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem
econômico-financeira;
É bom observar que tais crimes só são julgados pela Justiça Federal nos casos
determinados por lei. “Quanto ao disposto no inc. VI do art. 109 da CF, ainda que o
presente recurso não o tenha por fundamento, cumpre ressaltar que nem todos os crimes
praticados contra o sistema financeiro nacional e a ordem econômico-financeira são de
competência da Justiça Federal, mas somente aqueles definidos em lei, por força da
exigência constitucional (art. 109, inc. VI), que limita expressamente essa competência
aos “casos determinados por lei”.” (trecho retirado do RE 454.735/SP, 2ª Turma, rel. Min.
Ellen Gracie, 18.10.2005) 7.
7
Competência da Justiça Estadual e Crime contra a Ordem Econômica [Informativo 406 do STF]
Tratando-se de crime contra a ordem econômica, a regra de competência aplicável é a do inciso VI do art. 109 da
CF (“Aos juízes federais compete processar e julgar: VI – os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos
determinados em lei, contra sistema financeiro e a ordem econômico-financeira”), não a do inciso IV do mesmo
dispositivo (“os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesses da
União”). Desse modo, somente à falta de previsão legal expressa atribuindo à Justiça Federal a competência para o
julgamento do aludido delito, essa competência será da Justiça Estadual. Com esse fundamento, a Turma não
conheceu de recurso extraordinário interposto pelo Ministério Público Federal, em que se pretendia o
reconhecimento da competência da Justiça Federal para processar inquérito relativo a crime de comercialização de
combustível que se encontra fora dos padrões exigidos pela Agência Nacional de Petróleo - ANP (Lei 8.176/91, art.
1º, I). Precedente citado: RE 198488/SP (DJU de 11.12.98). RE 454735/SP, rel. Min. Ellen Gracie, 18.10.2005.
(RE-454735)
***Doutrina:
Pacelli tem a seguinte opinião acerca do assunto – “dos crimes contra a ordem
econômico-financeira, atualmente somente a Lei n. 8.176/91, prevê o crime de
competência federal, o disposto em seu art. 2º, no qual se diz constituir crime contra o
patrimônio, na modalidade de usurpação, produzir bens ou explorar matéria prima
pertencente à União sem autorização legal. Observe-se, porém, que a referida lei
pretende regulamentar apenas os crimes contra a ordem econômica, não fazendo
referência ao que seja ordem econômico-financeira. Outra observação se impõe, já em
relação ao delito previsto no art. 1º da citada lei. Embora não haja previsão expressa da
competência da Justiça Federal para o julgamento de fatos relativos à aquisição,
distribuição e revenda de derivados de petróleo, gás natural, suas frações recuperáveis,
em desacordo com as normas estabelecidas em lei (art. 1º, Lei n. 8.176/91), não nos
parece haver dúvidas de que se trata de competência federal, dado o alcance do
interesse envolvido na proteção de tais valores econômicos, de âmbito
desenganadamente nacional. Ressalte-se ainda que a mesma legislação, em seu art. 4º,
institui o Sistema Nacional de Estoques de Combustíveis, cujos gerenciamentos e
fiscalização são atribuídos a organismo da Administração Pública Federal, o que, a nosso
juízo, reforça o entendimento no sentido de que se cuidaria de questão de interesse
nacional.” Obs.: o próprio Pacelli afirma que a jurisprudência ainda não chegou a um
consenso quanto a essa tese defendida por ele, Pacelli.
CF/88, Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) VI –
(omissis) , nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro (omissis)
Lei 7.492/86, Art. 26. A ação penal, nos crimes previstos nesta lei, será
promovida pelo Ministério Público Federal, perante a Justiça Federal.
Aqui a competência não está levando em conta o interesse público federal, mas
sim o interesse nacional na higidez do sistema financeiro. EXEMPLOS: gestão temerária
ou gestão fraudulenta no BB é competência da JF; crimes praticados contra o sistema
financeiro no Banco Econômico ou no Banco Santos é da competência da JF; desvio de
financiamento oferecido pelo BB é da competência da JF.
“2. A Lei 7.492/86 equipara ao conceito de instituição financeira a PESSOA JURÍDICA que capta
ou administra seguros, câmbio, consórcio, capitalização ou qualquer tipo de poupança, ou
recursos de terceiros. 3. Encontrando-se a conduta tipificada, ainda que em tese, em dispositivo
da Lei 7.492/86, a ação penal deve ser julgada na Justiça Federal. 4. Havendo interesse da União
na higidez, confiabilidade e equilíbrio do sistema financeiro, tem-se que a prática ilícita configura
matéria de competência da Justiça Federal.” CC 41.915/SP, 3ª Seção, Rel. Ministro ARNALDO
ESTEVES LIMA, julgado em 13.12.2004, DJ 01.02.2005 p. 404
“1. A caracterização do crime previsto no art. 16, da Lei n° 7.492/86, exige que as
operações irregulares tenham sido realizadas por instituição financeira.2. As empresas
popularmente conhecidas como factoring desempenham atividades de fomento mercantil,
de cunho meramente comercial, em que se ajusta a compra de créditos vencíveis,
mediante preço certo e ajustado, e com recursos próprios, não podendo ser
caracterizadas como instituições financeiras.3. In casu, comprovando-se a abusividade
dos juros cobrados nas operações de empréstimo, configura-se o crime de usura, previsto
no art. 4°, da Lei n° 1.521/51, cuja competência para julgamento é da Justiça Estadual.
(CC 98.062/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
25/08/2010, DJe 06/09/2010)
Lei 1.521/51 – trata dos crimes contra a economia popular, sendo da competência
da justiça estadual (S. 498, STF).
Lei 8.137/90 – quanto aos crimes contra a ordem tributária, como sonegação de
imposto, é preciso observar quem está sofrendo a lesão. Assim, se o tributo é federal, a
competência será da justiça federal; por outro lado, se o tributo for municipal, a
competência será estadual. Nesta lei também está previsto o crime de formação de
cartéis, que, em regra, é da competência da justiça estadual. Todavia, se em virtude da
magnitude do grupo econômico ou do tipo de atividade desenvolvida, se houver a
possibilidade de que o delito abranja vários estados da federação ou o fornecimento de
serviços essenciais, a competência será da justiça federal (STJ, HC 117.169).
**STJ
“Na esteira de julgados da Terceira Seção desta Corte, o tipo penal do art. 19 da Lei
7.492/86 exige para o financiamento vinculação certa, distinguindo-se do empréstimo que
possui destinação livre. 2. No caso, conforme apurado, os contratos celebrados mediante
fraude envolviam valores com finalidade certa, qual seja a aquisição de veículos
automotores. A conduta em apreço, ao menos em tese, se subsume ao tipo previsto no
art. 19 da Lei nº 7.492/86, que, a teor do art. 26 do mencionado diploma, deverá ser
processado perante a Justiça Federal. (CC 201000892425, OG FERNANDES, STJ -
TERCEIRA SEÇÃO, DJE DATA:16/09/2010.)
“Consoante dispõe o art. 108, I, "d", da Constituição Federal, compete aos Tribunais
Regionais Federais a apreciação e julgamento de habeas corpus impetrado contra ato de
Procurador da República.”RHC 15.132/SP, 5ª Turma, Rel. Ministro FELIX FISCHER, julgado em
09.03.2004, DJ 19.04.2004 p. 212
Compete ao TRF da 1ª Região, com base no art. 108, I, a, da CF, processar e julgar,
originariamente, os membros do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios que
atuem em primeira instância. (Note que aqui, o crime ou o ato ilegal/abusivo, é praticado
pelo membro, ao contrário da hipótese onde o membro do MPDFT é vítima de crime,
onde a competência é do TJDFT) Com base nesse entendimento, a Turma reformou
acórdão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios que afirmara a sua
competência para processar e julgar habeas corpus em que a coação fora atribuída a
membro do Ministério Público daquela unidade da federação. Inicialmente, salientou-se a
orientação firmada pelo STF no sentido de que a competência para o julgamento de
habeas corpus contra ato de autoridade, excetuado o Ministro de Estado, é do Tribunal a
que couber a apreciação da ação penal contra essa mesma autoridade. Asseverou-se que
o MPDFT está compreendido no MPU (CF, art. 128, I, d) e que a Constituição ressalva da
competência do TRF somente os crimes atribuíveis à Justiça Eleitoral, não fazendo
menção a determinado segmento do MPU, que pudesse afastar da regra específica de
competência os membros do MPDFT. Rejeitou-se, portanto, a incidência da regra geral do
inciso III do art. 96, da CF, com a conseqüente competência do Tribunal local para julgar o
caso concreto. Ressaltando que, embora se reconheça a atuação dos Promotores de
Justiça do DF perante a Justiça do mesmo ente federativo, em primeiro e segundo graus,
similar à dos membros do MP perante os Estados-membros, concluiu-se que o MPDFT
está vinculado ao MPU, a justificar, no ponto, tratamento diferenciado em relação aos
membros do parquet estadual. RE provido para cassar o acórdão recorrido e determinar a
remessa dos autos ao TRF da 1ª Região. Precedentes citados: RE 141209/SP (DJU de
10.2.92); HC 73801/MG (DJU de 27.6.97); RE 315010/DF (DJU de 31.5.2002); RE
352660/DF (DJU 23.6.2003); RE 340086/DF (DJU 1º.7.2002).
RE 418852/DF, rel. Min. Carlos Britto, 6.12.2005. (RE-418852)
No mesmo sentido:
“Não cabe ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal, mas ao Tribunal Regional Federal da
1ª Região, conhecer de habeas corpus contra ato de membro do Ministério Público do
Distrito Federal.” (RE 467923, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Primeira Turma, julgado
em 18/04/2006, DJ 04-08-2006 PP-00056 EMENT VOL-02240-07 PP-01310 LEXSTF v.
28, n. 334, 2006, p. 496-522) Obs.: Pacelli entende que a prerrogativa seria do TJDFT em
razão da autonomia do MPDFT em relação ao MPU, apesar de integrar esse órgão. ps.
205 e 206.
***STF:
Navio:
**STJ
CF/88, Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) X - os
crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, (omissis);
“1. Constitui crime permanente a conduta delituosa prevista no art. 338 do CP, de
reingresso de estrangeiro expulso, aplicando-se as regras de fixação de competência
previstas nos arts. 71 e 83 do CPP. 2. Conflito conhecido para declarar competente o
Juízo Federal da 3ª Vara Criminal da Seção Judiciária do Estado do Rio de Janeiro,
suscitado. 9
9
CC 40.338/RS, 3ª Seção, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, julgado em 23.02.2005, DJ 21.03.2005 p. 213
irregular: (aqui, creio que a conduta seja de terceiro)
Pena: detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e, se o infrator for estrangeiro,
expulsão.
XIII - fazer declaração falsa em processo de transformação de visto, de
registro, de alteração de assentamentos, de naturalização, ou para a
obtenção de passaporte para estrangeiro, laissez-passer, ou, quando
exigido, visto de saída (aqui tbm creio que a conduta seja de terceiro)
Pena: reclusão de 1 (um) a 5 (cinco) anos e, se o infrator for estrangeiro,
expulsão.”
CF/88, Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) XI - a
disputa sobre direitos indígenas.
Este inciso justifica a competência cível e penal relativa aos direitos indígenas.
Para ser da competência da Justiça Federal, o crime contra ou praticado por indígena
deve possuir uma conotação transindividual, envolvendo a disputa sobre direitos
indígenas, tais como a terra, sua cultura, sua existência e etc.. Para ter uma noção do que
são os direitos indígenas, ler o artigo 231, CF.
10
CC 39389/MT, 3ª Seção, Rel. Ministra LAURITA VAZ, julgado em 10.03.2004, DJ 05.04.2004 p. 200
11
HC 81827/MT, 2ª Turma, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA, julgado em 28/05/2002, DJ 23-08-2002 PP-00115
O Tribunal, por maioria, negou provimento a recurso extraordinário interposto contra
acórdão do STJ que, resolvendo conflito de competência suscitado nos autos de inquérito
policial instaurado com o objetivo de apurar a prática dos crimes de ameaça, lesão
corporal, constrangimento ilegal e/ou tentativa de homicídio, atribuídos a índios, concluíra
pela competência da Justiça Comum Estadual, aplicando o Enunciado da Súmula 140
daquela Corte. Prevaleceu o voto do Min. Cezar Peluso, primeiro na divergência, que
afirmou sua inclinação no sentido de acompanhar os fundamentos do voto do Min.
Maurício Corrêa, quanto ao alcance do art. 109, XI, da CF, no julgamento do HC
81827/MT (DJU de 23.8.2002), qual seja, de caber à Justiça Federal o processo quando
nele veiculadas questões ligadas aos elementos da cultura indígena e aos direitos sobre
terras, não abarcando delitos isolados praticados sem nenhum envolvimento com a
comunidade indígena (CF: “Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:... XI
- a disputa sobre direitos indígenas.”). Para o Min. Cezar Peluso, a expressão “disputa
sobre direitos indígenas”, contida no mencionado inciso XI do art. 109, significa: a
existência de um conflito que, por definição, é intersubjetivo; que o objeto desse conflito
sejam direitos indígenas; e que essa disputa envolva a demanda sobre a titularidade
desses direitos. Asseverou, também, estar de acordo com a observação de que o art. 231
da CF se direciona mais para tutela de bens de caráter civil que de bens objeto de
valoração estritamente penal (CF: “Art. 231. São reconhecidos aos índios sua
organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre
as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e
fazer respeitar todos os seus bens.”). Esclareceu, no entanto, que a norma também inclui
todo o crime que constitua um atentado contra a existência do grupo indígena, na área
penal, ou crimes que tenham motivação por disputa de terras indígenas ou outros direitos
indígenas. Acentuou, por fim, que essa norma, portanto, pressupõe a especificidade da
questão indígena. Ou seja, o delito comum cometido por índio contra outro índio ou contra
um terceiro que não envolva nada que diga singularmente respeito a sua condição de
indígena, não guarda essa especificidade que reclama da Constituição a tutela peculiar
prevista no art. 231, nem a competência do art. 109, XI. Afastou, assim, a possibilidade de
se ter uma competência “ratione personae” neste último dispositivo. RE 419528/PR, rel.
orig. Min. Marco Aurélio, rel. p/ o acórdão Min. Cezar Peluso, 3.8.2006. (RE-419528)
Genocídio e Competência - 3
“Inicialmente, asseverou-se que o objeto jurídico tutelado imediatamente pelos crimes
dolosos contra a vida difere-se do bem protegido pelo crime de genocídio, o qual consiste
na existência de um grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Assim, não obstante a
lesão à vida, à integridade física, à liberdade de locomoção etc. serem meios de ataque a
esse objeto jurídico, o direito positivo pátrio protege, de modo direto, bem jurídico
supranacional ou coletivo. Logo, no genocídio, não se está diante de crime contra a vida
e, por conseguinte, não é o Tribunal do Júri o órgão competente para o seu julgamento,
mas sim o juízo singular. Desse modo, não se negou, no caso, ser a Justiça Federal
competente para a causa. Ademais, considerou-se incensurável o entendimento conferido
pelas instâncias inferiores quanto ao fato de os diversos homicídios praticados pelos
recorrentes reputarem-se uma unidade delitiva, com a conseqüente condenação por um
só crime de genocídio. Esclareceu-se, no ponto, que para a legislação pátria, a pena será
única para quem pratica as diversas modalidades de execução do crime de genocídio,
mediante repetições homogêneas ou não, haja vista serem consideradas como um só
ataque ao bem jurídico coletivo. Ressaltou-se, ainda, que apesar da cominação
diferenciada de penas (Lei 2.889/56, art. 1º), a hipótese é de tipo misto alternativo, no
qual, cada uma das modalidades, incluídos seus resultados materiais, só significa distinto
grau de desvalor da ação criminosa.
RE 351487/RR, rel. Min. Cezar Peluso, 3.8.2006. (RE-351487)
Genocídio e Competência - 4
“Em seguida, entendeu-se que a questão recursal não se esgotaria no reconhecimento da
prática do genocídio, devendo ser analisada a relação entre este e cada um dos 12
homicídios praticados. Nesse sentido, salientou-se que o genocídio corporifica crime
autônomo contra bem jurídico coletivo, diverso dos ataques individuais que compõem as
modalidades de sua execução. Caso contrário, ao crime mais grave, aplicar-se-ia pena
mais branda, como ocorrera no caso. No ponto, afastou-se a possibilidade de aparente
conflito de normas. Considerou-se que os critérios da especialidade (o tipo penal do
genocídio não corresponderia à soma de um crime de homicídio mais um elemento
especial); da subsidiariedade (não haveria identidade de bem jurídico entre os crimes de
genocídio e de homicídio) e da consunção (o desvalor do homicídio não estaria absorvido
pelo desvalor da conduta do crime de genocídio) não solucionariam a questão, existindo,
pois, entre os diversos crimes de homicídio continuidade delitiva, já que presentes os
requisitos da identidade de crimes, bem como de condições de tempo, lugar e maneira de
execução, cuja pena deve atender ao disposto no art. 71, parágrafo único, do CP.
Ademais, asseverou-se que entre este crime continuado e o de genocídio há concurso
formal (CP, art. 70, parágrafo único), uma vez que no contexto dessa relação, cada
homicídio e o genocídio resultam de desígnios autônomos. Por conseguinte, ocorrendo
concurso entre os crimes dolosos contra a vida (homicídios) e o crime de genocídio, a
competência para julgá-los todos será, por conexão, do Tribunal do Júri (CF, art. 5º,
XXXVIII e CP, art. 78, I). Entretanto, tendo em conta que, na espécie, os recorrentes não
foram condenados pelos delitos de homicídio, mas apenas pelo genocídio, e que o
recurso é exclusivo da defesa, reconheceu-se incidente o princípio que veda a reformatio
in pejus. Os Ministros Carlos Britto, Marco Aurélio e Sepúlveda Pertence ressalvaram seu
entendimento no tocante à adoção da tese de autonomia entre os crimes genocídio e
homicídio quando este for meio de execução daquele.
RE 351487/RR, rel. Min. Cezar Peluso, 3.8.2006. (RE-351487)
**STJ
“Compete à Justiça Federal o processo e julgamento de feito criminal onde vítimas e réu
são índios de facções da Nação Indígena Kiriri, em razão de disputas sobre as terras
pertencentes à comunidade indígena, se evidenciado o envolvimento de interesses gerais
dos indígenas. Motivos/causas dos delitos contra a pessoa provenientes, em tese, de
discordância entre grupos rivais frente à disputa de terras dentro da reserva.
Inaplicabilidade da Súm. nº 140 desta Corte.” (CC 31134/BA, Rel. Ministro GILSON DIPP,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 18/02/2002, DJ 25/03/2002, p. 172)
Aplica-se o princípio tempus regit actum, de forma que, caso a autoridade deixe
de exercer o cargo que lhe assegure o foro por prerrogativa de função, os autos serão
enviados para 1ª instância, sendo válido todos os atos praticados. Igual entendimento é
inteiramente aplicável se houver deslocamento de competência em razão da mudança de
cargo (Ex: era Governador – STJ e assumiu o mandato de Senador – STF)
As pessoas dotadas de foro por prerrogativa de função não podem se valer dos
recursos ordinários (apelação ou recurso em sentido estrito). Somente podem impugnar a
decisão por meio de RECURSO ESPECIAL ou RECURSO EXTRAORDINÁRIO.
Atenção: é cabível o ajuizamento da ação de HC. Aqui, importante a ressalva de que o
STF já se posicionou no sentido de que pessoas com foro por prerrogativa de função não
tem direito ao duplo grau de jurisdição, aí compreendido como a possibilidade de reexame
integral da sentença (matéria de fato e de direito) por órgão jurisdicional diverso e de
hierarquia superior (RHC 79.785, STF). A interposição de RE e REsp não é entendida
como duplo grau, porque eles não devolvem a instância ad quem o conhecimento da
matéria de fato.
2ª) crime cometido durante o exercício das funções: é julgado pelo foro
especial. E depois de cessada a função? A competência especial em face do cargo
também cessa e todos os atos então praticados são tidos como válidos.
*A Lei 10.628/02, que alterou o Art. 84 do CPP, estendeu o for por prerrogativa de
função para os atos funcionais após o término do exercício da função. Além disso,
estendeu o foro especial também para os casos de improbidade administrativa (que
retrata situações de má gestão da coisa pública). A história dessa lei começou com o
ajuizamento de ações de improbidade contra FHC, pelo MPF. Com a preocupação em
relação à prisão de FHC foi publicada a lei.
Em verdade, a lei reativou parcialmente a súmula 394, do STF, que havia sido
cancelada pelo STF (INQ 287). Essa súmula foi cancelada em 11/2001e possuía a
seguinte redação:
3ª) crime cometido após o exercício das funções: não há que se falar nesse
caso em foro especial (Súmula 451 do STF).
4ª) Não importa o local da infração nos casos de competência originária dos
tribunais: o sujeito será sempre julgado pelo seu juiz natural (isto é, pelo seu Tribunal
natural). Juiz de direito de São Paulo que comete crime no Maranhão: será julgado pelo
TJ de SP.:
“Súmula n.º 704 do STF – Não viola as garantias do juiz natural, da ampla
defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do
processo do co-réu ao foro por prerrogativa de função de um dos
denunciados.”
“Em exceção de incompetência, co-réu com prerrogativa de função teve seu processo
desmembrado pela continência (CPP, arts. 77, I, 78, III, 79, caput, e 80). No caso, se
houvesse a necessidade da cisão, seria no âmbito do mesmo órgão jurisdicional
competente para processar e julgar todos os co-réus e não em instâncias
diferentes. Desse modo, proveu-se o recurso para que o co-réu seja processado no TRF
da 4ª Região, por força da obrigatoriedade da união de processos e julgamento pelo
órgão judiciário de maior graduação.” Precedentes citados do STF: HC 70.688-SP, DJ
10/12/1993; do STJ: Inq 282-RJ, DJ 12/11/2001. RHC 17.377-PR, Rel. Min. Arnaldo
Esteves Lima, julgado em 13/9/2005.
Jurisprudência:
***STJ:
***STF
“O Plenário iniciou julgamento da ação penal acima referida (AP 470-MG – Mensalão). A
princípio, por maioria, rejeitou-se questão de ordem, suscitada da tribuna, em que
requerido o desmembramento do feito, para assentar-se a competência da Corte quanto
ao processo e julgamento dos denunciados não detentores de mandato parlamentar.
Prevaleceu o voto do Min. Joaquim Barbosa, relator. Lembrou que o tema já teria sido
objeto de deliberação pelo Pleno em outra ocasião, na qual decidido que o Supremo seria
competente para julgar todos os réus envolvidos na presente ação, motivo por que a
questão estaria preclusa. Destacou o Enunciado 704 da Súmula do STF (“Não viola as
garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por
continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um
dos denunciados”), a demonstrar que o debate, sob o prisma constitucional, já teria sido
realizado. O Min. Luiz Fux observou que o exame de ações conexas teria por escopo a
aplicação de 2 cláusulas constitucionais: devido processo legal e duração razoável do
processo. Considerou não haver, nas causas de competência originária da Corte, duplo
grau obrigatório de jurisdição. Atentou para a possibilidade de o eventual julgamento
isolado de alguns dos réus, em contexto de interdependência fática, levar à prolação de
decisões inconciliáveis. Afirmou que, da ponderação entre as regras do Pacto de São
José da Costa Rica e da Constituição, prevaleceriam estas, emanadas do Poder
Constituinte originário. (...) O Min. Cezar Peluso salientou o que discutido a esse respeito,
ainda, nos autos do Inq 2424/RJ (DJe de 27.11.2008). Ressaltou o risco de o
desmembramento provocar decisões contraditórias, à luz de imputações relativas a
crimes de quadrilha, bem como de delitos atribuídos a título de coautoria. Advertiu,
também, que eventual remessa dos autos a outro juízo provocaria excessiva demora no
julgamento, dada a complexidade da causa e a quantidade de informações envolvida. (...)
O Min. Gilmar Mendes sublinhou que, se o presente caso fosse desmembrado, sua
complexidade levaria à prescrição da pretensão punitiva. (AP 470/MG, rel. Min. Joaquim
Barbosa, 2 e 3.8.2012. – Info 473) – Ou seja: o entedimento da Corte continua firme no
sentido da atração do corréu ao foro por prerrogativa de função, sendo plenamente
aplicável a súmula 704.
*Ministro de Estado:
Não confundir quando o cargo for equiparado ao de Ministro de Estado, pois não
tem direito ao foro por prerrogativa de função.Eis o caso:
***Doutrina:
*Governador:
Jurisprudência:
Doutrina:
***Jurisprudência:
“A 1ª Turma concedeu habeas corpus para cassar decreto de prisão expedido por juiz de
direito contra deputado estadual. Entendeu-se que, ante a prerrogativa de foro, a vara
criminal seria incompetente para determinar a constrição do paciente, ainda que afastado
do exercício parlamentar. Em caso de prerrogativa de foro, todo e qualquer ato de
constrição há de ser praticado pelo Tribunal competente.” (HC 95485, MARCO AURÉLIO,
STF) (informativo 628)
“CF/88, Art. 96. Compete privativamente: (...) III - aos Tribunais de Justiça
julgar os juízes estaduais e do Distrito Federal e Territórios, bem como os
membros do Ministério Público, nos crimes comuns e de responsabilidade,
ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.”
*Prefeitos:
(a) crime de responsabilidade (=infração político-administrativa): são julgados pela
Câmara Municipal (com sujeição à cassação do cargo), previstos no Art. 4º do do DL
201/67.
(b) crime comum: Tribunal de Justiça, inclusive os crimes de responsabilidade
impróprios previsto no art. 1º do DL 201/67.
(c) crime contra a União: T.R.F.
(d) crime eleitoral: T.R.E.
*Vereador: não tem foro por prerrogativa de função. Exceção: Estado do Piauí,
v.g., porque há previsão na Constituição local (STF, HC 74.125-8, DJU de 11.04.97, p.
12.186). Jurisprudência: Cinge-se a controvérsia em verificar se vereador possui foro
especial por prerrogativa de função em ação penal na qual se apura crime cometido em
município diverso de sua vereação. Em princípio, ressaltou-se que, embora a CF não
estabeleça foro especial por prerrogativa de função no caso dos vereadores, nada obsta
que tal previsão conste das constituições estaduais. O Min. Relator destacou que,
segundo o STF, cabe à constituição do estado-membro prever a competência dos seus
tribunais, observados os princípios da CF (art. 125, § 1º). In casu, sendo o acusado titular
de mandato de vereador de município mineiro, apenas a constituição do respectivo estado
poderia atribuir-lhe o foro especial. Porém, o art. 106 daquela Constituição não prevê foro
especial para vereador, devendo, nesse caso, prevalecer a regra de competência do art.
70 do CPP. Assim, como a prisão em flagrante ocorreu em município diverso daquele de
sua vereação, por estar o vereador supostamente mantendo em sua residência um
veículo objeto de furto, compete ao juízo desse local processar e julgar o feito.
Precedentes citados do STF: ADI 541-PB, DJ 6/9/2007; do STJ: HC 86.177-PI, DJe
28/6/2010, e HC 57.340-RJ, DJ 14/5/2007. CC 116.771-MG, Rel. Min. Sebastião Reis
Júnior, julgado em 29/2/2012. STJ – info 492.
COMUM STF
PROCURADOR-GERAL DA
REPÚBLICA RESPONSABILIDA SENADO FEDERAL
DE
PARLAMENTARES
RESPONSABILIDA CASA
DE CORRESPONDENTE
MINISTROS DE ESTADO E OS
COMAMANDANTES DA MARINHA, DO
EXÉRCITO E DA AERONÁUTICA RESP. CONEXO
SENADO FEDERAL
COM PRESIDENTE
MINISTROS TRIBUNAIS
SUPERIORES (STJ, TSE, STM, TST) E COMUM/
STF
DIPLOMATAS RESPONSABILIDADE
TRIBUNAL DE CONTAS DA
UNIÃO
MEMBROS DOS TRT/ TRE/ TCE/ COMUM/
TCM E TRFs STJ (ART. 105, I, “a”)
RESPONSABILIDADE
COMUM/
JUÍZES FEDERAIS TRF (ART. 108, I, “a”)
RESPONSABILIDADE
PROCURADOR-GERAL DE
JUSTIÇA
RESPONSABILIDA PODER LEGISLATIVO
DE ESTADUAL OU DISTRITAL (ART.
128, § 4º)
RESPONSABILIDA
Art. 78, Lei 1.079/50
DE COM GOVERNADOR
COMUM/
DESEMBARGADORES ELEITORAL/ STJ (ART. 105, I, “a”)
RESPONSABILIDADE
RESPONSABILIDA
CÂMARAS DOS
DE (INFRAÇÕES POLÍTICO-
PREFEITOS VEREADORES (ART. 31)
ADMINISTRATIVAS)
RESPONSABILIDA
DES IMPRÓPRIAS TJ
(INFRAÇÕES PENAIS)
O STJ, de acordo com o artigo 105, I, a, da CF, julga originariamente pela prática
de crime comum as seguintes autoridades:
13
Rcl 511/PB, Pleno, Rel. Min. CELSO DE MELLO, julgado em 09/02/1995, DJ 15-09-1995 PP-29506
Governadores – o artigo 105, I, a – só diz governador. Não diz vice-
governador. Ele é julgado pelo Tribunal de Justiça se assim a Constituição
Estadual determinar. A constituição estadual pode estabelecer prerrogativa de
foro a autoridades.
Desembargadores (crimes comuns e de responsabilidade);
Conselheiros dos Tribunais de Contas dos Estados e dos Municípios,
onde existirem;
Juízes dos seguintes Tribunais:
o TRF
o TRE - 27
o TRT – 24
1) Membros do Ministério Público da União que oficiem perante
Tribunais. Procurador de justiça é julgado pelo TRF, salvo se for procurador de
justiça do MP do DF e territórios – são julgados pelo STJ (fazem parte do
Ministério Público da União).
Aqui não se seguiu o princípio da simetria. Foi questão política que determinou
que essas autoridades fossem julgadas pelo STJ.
PRINCÍPIO DA REGIONALIDADE
TJ
TRF
Juízes Federais
Juízes do Trabalho
Procuradores da República
Promotores do Ministério Público do Distrito Federal e
Territórios/MPDFT [Embora possuam funções equivalentes aos Ministérios
Públicos Estaduais, pertencem ao Ministério Público da União, excepcionando a
regra geral prevista no art. 96, III da CF/88 – Vide item 2.5.1.9]
Procuradores do Trabalho
Prefeitos e deputados estaduais – pela prática de crimes federais: no
artigo 29, CF, está estabelecido que compete ao TJ julgar prefeitos, mas se forem
crimes federais, em razão da simetria, devem ser julgados pelo TRF (Súmula
702, do STF). Se o crime for eleitoral, o prefeito será julgado pelo TRE
“CPP, Art. 85. Nos processos por crime contra a honra, em que forem
querelantes as pessoas que a Constituição sujeita à jurisdição do Supremo
Tribunal Federal e dos Tribunais de Apelação, àquele ou a estes caberá o
julgamento, quando oposta e admitida a exceção da verdade.”
Note-se que o órgão de prerrogativa não julga a ação criminal, mas somente a
exceção da verdade, nos termos do artigo 85, CPP. Se se provar que tudo que foi dito
contra a autoridade estiver provado na exceção da verdade, será julgada procedente a
exceção.
Essa exceção da verdade que vai para o TRIBUNAL vale somente para o
crime de CALÚNIA. Em caso de difamação, a exceção da verdade é julgada
pelo próprio juízo da comarca. Não se aplica o art. 85 fora dos casos de
calúnia.
***STJ:
“Trata-se de pedido formulado pelo réu, após a inclusão do feito em pauta, de que este
Superior Tribunal reconheça sua incompetência para julgar a ação penal e remeta os
autos ao juízo de 1º grau, em razão de ter pedido exoneração do cargo de conselheiro de
Tribunal de Contas estadual (TCE). A Corte Especial, por maioria, indeferiu o pedido,
porque não há, nos autos, notícia da eficácia do ato de exoneração; pois, para tal, é
necessário o deferimento, a publicação e a aprovação pelo TCE. Assim, manteve a
competência deste Superior Tribunal para julgar ações penais contra conselheiro de
Tribunal de Contas estadual (CF/1988, art. 105, I, a).” QO na APn 266-RO, Rel. Min.
Eliana Calmon, em 5/5/2010. STJ info 452
***STF:
“O art. 400 do Código de Processo Penal, com a redação dada pela Lei 11.719/2008,
fixou o interrogatório do réu como ato derradeiro da instrução penal. II – Sendo tal prática
benéfica à defesa, deve prevalecer nas ações penais originárias perante o Supremo
Tribunal Federal, em detrimento do previsto no art. 7º da Lei 8.038/90 nesse aspecto.
Exceção apenas quanto às ações nas quais o interrogatório já se ultimou. III –
Interpretação sistemática e teleológica do direito. (AP 528 AgR, Relator(a): Min.
RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 24/03/2011, DJe-109 DIVULG 07-
06-2011 PUBLIC 08-06-2011 EMENT VOL-02539-01 PP-00001 RT v. 100, n. 910, 2011, p.
348-354 RJSP v. 59, n. 404, 2011, p. 199-206)
“O que o art. 86, § 4º, confere ao Presidente da República não é imunidade penal, mas
imunidade temporária à persecução penal: nele não se prescreve que o Presidente é
irresponsável por crimes não funcionais praticados no curso do mandato, mas apenas
que, por tais crimes, não poderá ser responsabilizado, enquanto não cesse a investidura
na presidência. 2. Da impossibilidade, segundo o art. 86, § 4º, de que, enquanto dure o
mandato, tenha curso ou se instaure processo penal contra o Presidente da República por
crimes não funcionais, decorre que, se o fato é anterior à sua investidura, o Supremo
Tribunal não será originariamente competente para a ação penal, nem conseqüentemente
para o habeas corpus por falta de justa causa para o curso futuro do processo. (HC
83154, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em
11/09/2003, DJ 21-11-2003 PP-00008 EMENT VOL-02133-03 PP-00554)
“Renúncia de mandato: ato legítimo. Não se presta, porém, a ser utilizada como
subterfúgio para deslocamento de competências constitucionalmente definidas, que não
podem ser objeto de escolha pessoal. Impossibilidade de ser aproveitada como
expediente para impedir o julgamento em tempo à absolvição ou à condenação e, neste
caso, à definição de penas. Questão de ordem resolvida no sentido de reconhecer a
subsistência da competência deste Supremo Tribunal Federal para continuidade do
julgamento. 10. Preliminares rejeitadas. 2. No caso, a renúncia do mandato foi
apresentada à Casa Legislativa em 27 de outubro de 2010, véspera do julgamento da
presente ação penal pelo Plenário do Supremo Tribunal: pretensões nitidamente
incompatíveis com os princípios e as regras constitucionais porque exclui a aplicação da
regra de competência deste Supremo Tribunal. 4. O processo e o julgamento de causas
de natureza civil não estão inscritas no texto constitucional, mesmo quando instauradas
contra Deputado Estadual ou contra qualquer autoridade, que, em matéria penal, dispõem
de prerrogativa de foro 7. A pluralidade de réus e a necessidade de tramitação mais célere
do processo justificam o desmembramento do processo. (396 RO , Relator: Min.
CÁRMEN LÚCIA, Data de Julgamento: 28/10/2010, Tribunal Pleno, Data de Publicação:
DJe-078 DIVULG 27-04-2011 PUBLIC 28-04-2011 EMENT VOL-02510-01 PP-00001)
Art. 70 do CPP. É critério relativo (não absoluto). Não se pode confundir local da
consumação do crime com o local do exaurimento (fato previsto no tipo penal que ocorre
após a consumação. Exemplo: na extorsão, o recebimento do dinheiro é mero
exaurimento do crime, não consumação). O crime de extorsão é formal e consuma-se no
momento e no local em que ocorre o constrangimento para se faça ou se deixe de fazer
alguma coisa. Súmula nº 96 do Superior Tribunal de Justiça. 2. Hipótese em que a vítima
foi coagida a efetuar o depósito, mediante ameaça proferida por telefone, quando estava
em seu consultório, em Rio Verde/GO. Independentemente da efetivação do depósito ou
do local onde se situa a agência da conta bancária beneficiada, foi ali que se consumou o
delito (em Rio Verde). Precedentes. (CC 115006/RJ, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE
ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 14/03/2011, DJe 21/03/2011)
Quando os limites territoriais são incertos, o CPP (Art. 70, § 3º) determina que deve
lançar da PREVENÇÃO (primeiro ato decisório) (medidas cautelares no curso do IP). Ex.:
Fazenda entre os municípios de Itarana e Itaguaçu. A apreciação de HC na fase de inquérito,
tendo como o delegado como autoridade coatora, não previne o juízo. Manter o flagrante também
não previne o juízo.
Nos crimes formais (extorsão, v.g.), onde se dá a conduta; nos crimes materiais
(homicídio, v.g.), onde se dá o resultado; nos crimes omissivos próprios (omissão de
socorro, v.g.), onde se dá a omissão; nos crimes omissivos impróprios (babá que deixa a
criança cair do edifício), onde se dá o resultado; nos crimes culposos, onde se dá o
resultado etc.
Hipóteses especiais:
(b) cheque sem fundos: local da recusa do pagamento (Súmula 521 do STF).
(EXEMPLO: cheque emitido em SP, a conta sacada fica em RS, o beneficiado apresentou
em MS, será competente o juízo do RS); quando o crime for cometido mediante
falsificação do cheque, aplica-se a regra contida no estelionato caput, ou seja, local da
obtenção da vantagem indevida.
(c) falso testemunho por precatória: juízo deprecado (local onde se deu o fato). O
crime se consuma no momento em que restou prestado o falso no juízo deprecado, se a
JF depreca para a JE e a testemunha mente na JE, a competência será da JF.
“Não se deve confundir, prima facie, juízo competente para apreciar o crime de uso de
documento falso e o juízo que julgava a causa previdenciária, onde o documento falso
instruiu o feito, cuja regra de competência subsume-se ao disposto no art. 109, § 3º, da
Carta da República. 2. O uso de documento falso tinha por escopo obter benefício
previdenciário em prejuízo do INSS, autarquia federal, impondo-se a competência da
Justiça Federal, nos termos do art. 109, inciso IV, da Constituição da República . 4. A
remessa dos autos para a Justiça Federal não implica a declaração de nulidade de todos
os atos judiciais praticados, conforme pretende o impetrante, mas tão-somente dos atos
decisórios proferidos pelo juízo incompetente, nos termos do art. 567 do CPP.”14
15
RHC 83181/RJ, Pleno, Rel. p/ Acórdão Min. JOAQUIM BARBOSA, julgado em 06/08/2003
***Competência. Perpetuatio jurisdictionis. Criação de Vara Criminal Especializada
Jurisprudência:
***STF
**STJ
“Na hipótese de crime contra a honra praticado por meio de publicação impressa de
periódico, deve-se fixar a competência do Juízo onde ocorreu a impressão, tendo em vista
ser o primeiro local onde as matérias produzidas chegaram ao conhecimento de outrem,
nos moldes do art. 70 do Código de Processo Penal. Remanesce, na prática, o resultado
processual obtido pela antiga aplicação da regra de competência prevista na não
recepcionada Lei de Imprensa. 3. Crimes contra a honra praticados por meio de
reportagens veiculadas pela internet ensejam a competência do Juízo do local onde foi
concluída a ação delituosa, ou seja, onde se encontrava o responsável pela veiculação e
divulgação de tais notícias. “(CC 106625/DF, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 12/05/2010, DJe 25/05/2010)
“A competência para processar e julgar suposta prática de crime descrito no art. 7.º, inciso
IX, da Lei n.º 8.137/90 é do foro em que estiver situada a empresa responsável pela
comercialização dos bens ou produtos impróprios para o consumo e não daquela
responsável pelo respectivo processo de produção e embalagem.” (CC 200901711251,
MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, STJ - TERCEIRA SEÇÃO, DJE DATA:04/06/2010.)
Domicílio (local onde o sujeito reside com ânimo definitivo); residência: não se
exige ânimo definitivo.
Foro optativo: na ação penal privada, pode o querelante (que vai propor a queixa)
optar entre o local da infração ou domicílio do réu. Chama-se isso de foro optativo ou foro
de eleição.
Esse critério fixa o juízo competente (não o foro). Em muitas comarcas, há varas
especializadas (de tóxicos, de acidentes, de trânsito etc.). Nesses casos, fixa-se a
competência em razão da matéria.
CORTE INTERAMERICANA = São José da Costa Rica. Ela julga os Estados, por
falta de jurisdição, ou seja, por impunidade.
Natureza jurídica: é critério que altera a competência. A rigor, não fixa, altera.
Conexão é o nexo, a dependência recíproca que os fatos guardam entre si. Existe
quando duas ou mais infrações estiverem entrelaçadas por um vínculo, um nexo, um
liame que aconselha a junção dos processos (CONEXOS).
(a) continência por cumulação subjetiva: ocorre quando duas ou mais pessoas
são acusadas de uma mesma infração. Não se pode confundir, portanto, a continência
subjetiva (crime único cometido por várias pessoas) com a conexão intersubjetiva (vários
crimes).
(a) concurso entre competência do júri e outro órgão da jurisdição comum: a força
atrativa é do júri. Estupro em conexão com homicídio: tudo vai para julgamento pelo
Tribunal do Júri.
Vereador que mata uma pessoa será julgado pelo Júri (não pelo TJ). Essa
competência, como já dito, não pode ser derrogada por norma estadual, ainda que
constitucional em face do Poder Constituinte Decorrente. Júri é previsão constitucional.
(c) concurso entre jurisdições de categorias distintas: foro por prerrogativa atrai.
Ex.: se um juiz é acusado de corrupção juntamente com um escrevente, prepondera a
competência originária do juiz (Tribunal de Justiça no caso, que irá julgar os dois, em
razão da continência). Concurso entre crime da Justiça estadual e Justiça Federal:
prepondera esta última (Súmula 122 do STJ).
Aqui retirei a jurisprudência que falava – mais uma vez – da súmula 122; evitar
repetiçãod e idéiais e tentar enxugar esse ponto.
(a) No júri, se o crime for inafiançável, a pronúncia deverá ser feita por
citação pessoal, não pode edital: SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA, em razão da
CRISE DE INSTÂNCIA. Também sem a presença em plenário e pela recusa
peremptória.
(b) concurso entre Justiça comum e Justiça militar: os processos são separados.
Exemplo: estupro cometido por militar e civil dentro do quartel: a Justiça militar julga o
militar enquanto a comum julga o civil. As conseqüências são totalmente díspares, nesse
caso (penas diferentes, regime prisional diferente etc.). Numa visão constitucional isso
não pode ocorrer. Jurisprudência correspondente: **STJ: “O parágrafo único do art. 9º do
CPM, com as alterações introduzidas pela Lei nº 9.299/96, excluiu do rol dos crimes
militares os crimes dolosos contra a vida praticado por militar contra civil, competindo à
Justiça Comum a competência para julgamento dos referidos delitos.” (CC 113020/RS,
Rel. Ministro OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 23/03/2011, DJe
01/04/2011)
Rol não taxativo: as hipóteses de separação dos processos não são unicamente
as estudadas. Há outras: quando um co-réu é citado por edital, o processo fica paralisado
(CPP, art. 366); para o outro, o processo prossegue; pode haver suspensão condicional
do processo para um co-réu, prosseguindo-se para outro etc. O rol do art. 79 não é
taxativo.
Há discussão: mas o júri irá julgar o conexo, nos termos do artigo 81,
caput, CPP. É regra de perpetuatio jurisdicionis. Entendimento de
Quando o conselho desclassifica o crime do Tourinho Filho. É MINORITÁRIO
júri
Há discussão: aplica-se o artigo 492, § 2º, o juiz presidente retoma o
julgamento pelos desclassificados e conexos. (DOMINANTE)
Quando o conselho absolve ou condena pelo
Não há dúvida: o júri irá julgar o conexo, porque firmou competência
crime do júri
Se for na fase de pronúncia (judicium accusationis), o processo é remetido ao
Juízo competente nos termos do PU do art. 81 do CPP: “Havendo desclassificação da
infração do júri na fase de pronúncia, os autos do processo devem ser remetidos para o
juízo competente.”
Jurisprudência referente:
**STJ
***STF
“Prevento é o juízo da 1ª Vara Federal Criminal de São Paulo, por ter, antes de qualquer
outro, despachado, determinando a quebra do sigilo bancário de co-réus em processo
conexo anterior, o que impede a livre distribuição de denúncias posteriores. Excluída a
competência originária do STJ para proceder à perquirição, em razão da prerrogativa de
função do réu, ante o cancelamento da Súmula/STF 394.” (HC 80717, Relator(a): Min.
SEPÚLVEDA PERTENCE, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ELLEN GRACIE, Tribunal Pleno,
julgado em 13/06/2001, DJ 05-03-2004 PP-00015 EMENT VOL-02142-05 PP-00707)
(a) Crime cometido fora do país: capital do local onde o acusado morava (no Brasil). E se
não morava no Brasil: capital federal (Distrito Federal). (art. 88, CPP). Crime cometido fora do
Brasil NÃO é necessariamente da JUSTIÇA FEDERAL. Essa situação se enquadra ao art. 7º do
CP, II, “b”
(d) Em caso de dúvida: CPP, art. 91: firma-se a competência por prevenção.
(e) Lei penal nova mais favorável: a competência para sua aplicação é do juiz do
processo (se o processo está em primeira instância); do tribunal (se o processo está no
tribunal) ou da vara das execuções (se já houve trânsito em julgado – Súmula 611 do
STF).
4.Habeas corpus contra turmas recursais: antigamente era o STF (Súmula 690
do STF – Compete originariamente ao Supremo Tribunal Federal o julgamento de
habeas corpus contra decisão de turma recursal de juizados especiais criminais), mas
mudou de orientação sem, no entanto, cancelar a súmula. Cabe ao Tribunal
respectivo.
13. Crime contra índio envolvendo questão indígena: Justiça federal; (vide
súmula 140 do STJ)
15. Militar de São Paulo que cometeu crime na Bahia: Justiça militar de
SP;
17. Recurso ordinário em caso de crime político: STF; (art. 102, II, “b” da
CF/88)
19. Estelionato contra particular: Justiça estadual, ainda que tenha sido
utilizado documento público como meio – Súmula 107 do STJ;
O CPP denomina Conflito de Jurisdição previsto nos Arts. 113 a 117 do CPP.
***Jurisprudência
**STJ
16
Petição 623-2/RS, Pleno, Min. Maurício Corrêa, DJ 11.12.1995
17
Pet 1503/MG, Pleno, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA, julgado em 03/10/2002, DJ 14-11-2002 PP-00014
“Inexiste conflito de competência entre Tribunal de Justiça e Turma Recursal de Juizado
Especial Criminal no âmbito do mesmo Estado, tendo em vista que este não se qualifica
como Tribunal. 2. No caso, conquanto não haja conflito, configura-se constrangimento
ilegal a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo que, ao não conhecer do recurso em
sentido estrito interposto contra decisão de Juízo Comum de Vara Estadual, determinou
sua remessa dos autos ao Colégio Recursal, sob o argumento de ser o delito de menor
potencial ofensivo.” (CC 200901800860, OG FERNANDES, STJ - SEXTA TURMA, DJE
DATA:17/06/2010.)
**STJ