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2a prova de IEC II – 29/11/2011 – Resposta para a 3a questão – Marina Calçavara

Podemos ter pressuposta a noção de que toda obra literária é demarcada pelo contexto de sua
produção, mesmo aquelas que, em seu enredo, fazem referência a tempos passados ou vindouros. Assim,
consideraremos que as três obras aqui a serem referidas ( “Édipo Rei”, Sófocles; “História das Guerra
Pérsicas”, Heródoto; “História da Guerra do Peloponeso”, Tucídides) convergem em alguns aspectos por
serem obras do período clássico grego. Teremos então, mesmo que eles só possam ser cumpridos
sumariamente, dois objetivos: destacar os aspectos de convergência e explicitar a função dos prefácios na
historiografia a partir da análise da relação desses com trechos célebres das obras, no caso de Heródoto, o
encontro entre Creso e Sólon, e em Tucídides, a “Oração Fúnebre de Péricles”.

Ao lermos o prefácio herodiano, além de econtrarmos a usual apresentação do autor e o objetivo da


obra, vemos , acima de tudo, uma visão de mundo que percorrerá o que depois leremos: “(...) Persuadido de
que a felicidade humana nunca permanece firme no mesmo ponto, mencionarei por igual umas e outras [as
cidades]”1. Podemos considerar este entendimento como uma conclusão do historiador feita após suas
investigações já estarem encerradas (sabemos que estão encerradas pelo termo escolhido para inaugurar a
obra, “Está é a exposição”, e também pelo objetivo de estudar as causas da guerra, explicitadores da
finalização do trabalho), e, assim sendo, os demais fatos que serão narrados funcionarão como exemplos
comprovadores daquilo que já foi inicialmente anunciado.

O encontro entre Creso e Sólon, que pela cronologia histórica sabemos ser fictício, torna-se, então,
um recurso literário que se enquadra de forma exata nessa categoria exemplificadora - na verdade, ele
rotoma o conceito dado e o expande. Temos um diálogo entre o rei lídio e o sábio ateniense sobre quem
seria o homem mais feliz da Terra que é terminado com a seguinte máxima: “É necessário ver o fim de cada
coisa como se vai concluir. É que a muitos deixa ver o deus a felicidade e depois abate sem apelo” 2, ou seja,
além de termos reinterada a idéia de que a felicidade não é perene, vemos acrescentada a noção de que a
compreensão humana é limitada perante a do deus – estamos hierarquicamente abaixo deles – assim nossa
felicidade depende também de algo circunstancial, que não entendemos.

É interessante notarmos que essa mesma análise da condição humana é feita por Sófocles em sua
tragédia Édipo Rei. O herói sofocliano é o maior paradigma do homem que se presume feliz e que,
entretanto, é abatido por não conhecer todos os aspectos que regem sua vida. Além disso os versos finais,
proferidos pelo coro, são praticamente uma paráfrase da conclusão contida na última fala de Sólon, aqui já
citada. Cremos que essa visão compartilhada entre os autores – que, cabe destacar, eram amigos - remete à

1
HERODOTO. História das Guerras Pérsicas, Livro I. Tradução J. R. Ferreira, M. de F. Silva. Lisboa: Edições 70,
2002, p. 53.
2
Ibidem, p. 77
demanda crítica de uma sociedade que, devido a um crescente de racionalidade, passa a se julgar
demasiadamente segura de si.

Tucídides também critica sua sociedade, porém, quanto a aspectos mais pragmáticos, como a política.
Contudo, o trecho que analisaremos - o discurso proferido por Péricles na ocosião da celebração fúnebre em
honra aos primeiros mortos da guerra do Peloponeso - não se revela uma crítica, mas um elogio a Atenas e
seus cidadãos, usado estrategicamente para justificar o sacrificío dos falecidos e acalentar os ânimos dos que
os perderam.

Ressaltamos que esse discurso vale-se de uma estratégia retórica que quebra a espectativa dos ouvintes e
torna mais próximo o orador, antes colocado em um pedestal ( “[cidadão] considerado o mais qualificado
em termos de inteligência e tido na mais alta estima política”3): é posta a dificuldade de elogiar os mortos da
forma vista como justa por todos. Sendo a dificuldade superada com maestria, há a comprovação da
qualidade do orador, e também a consagração de um procedimento típico de Tucídides: frisar o obstáculo
para posteriormente superá-lo. Já em seu prefácio - durante a metodologia - encontramos marcada a
dificuldade de reproduzir os discursos ouvidos, os quais, entretanto, ele reproduz. Além disso, a mesma
metodologia nos leva a ver que se os discursos são de terceiros, suas formulações dentro da obra e coesão
são méritos inteiramente do historiógrafo, tal qual esse trecho demonstra:

“Quanto aos discursos que cada uma das partes pronunciou, quer nas vésperas da guerra, quer no
seu decorrer, reproduzir-lhes as palavras exatamente era difícil para mim quando os ouvira
pessoalmente, para os outros quando me transmitiam o que tinha ouvido de qualquer fonte; como me
parecia que cada orador teria falado o que cabia sobre as situações sucessivas, atendo-me o mais
próximo possível do sentido geral das palavras realmente pronunciadas, assim vão formulados.”
4
(grifo nosso)

Desse modo, devemos considerar a peça retórica de Péricles um reflexo da qualidade do próprio
Tucídides, e, assim, temos comprovada sua autoridade, algo sempre demandado pelo gênero historiográfico.

Concluimos, por fim, que os prefácios historiográficos carregam em si os modelos de direcionamento de


toda a obra, sintetizando o que virá depois, seja somente no conteúdo - Heródoto - ou tanto no conteúdo
quanto na organização textual - Tucídides - . Não nos esquecendo também que, independente do assunto
abordado, as obras estão interligadas pelo seu período de produção.

3
TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso, Livro II. Tradução M. da G. Kury. Brasília, Editora Universidade
de Brasília, 1986, p. 107.
4
TUCÏDIDES. História da Guerra do Peloponeso, Livro I. Tradução A. L. de A. Prado. São Paulo, Martins Fontes,
1999, p. 29.

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