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Nono Encontro

Texto extraído de gravação de palestra proferida por Luiz Fuganti, em 27/05//99, na Role Playing
Pesquisa e Aplicação - São Paulo. Texto não revisado e reprodução não autorizada pelo
palestrante.

A gente pode junto com a interpretação de Deleuse dizer que o projeto mais geral da filosofia de
Nietzsche é instaurar em filosofia o conceito de sentido e de valor. Essa idéia de instaurar os
conceitos de sentido e valor nascem de uma preocupação permanente em Nietzsche com a
crítica... Nietzsche, ele tem uma visão que Kant ao se propor fazer a crítica dos valores
estabelecidos não levou a crítica a cabo, não foi a fundo no que o Nietzsche entende ser uma
autêntica crítica por não ter entendido o elemento genealógico do valor e do sentido. Então o
Nietzsche vai instaurar uma nova imagem da filosofia, do filósofo, do pensamento e vai dizer que o
objeto do pensamento é o sentido e o valor. O sentido e o valor são elementos que fazem uma
desmontagem da máquina semiológica ou seja sentido e valor liberam o espírito, liberam o
pensamento, o significante ou dos sistemas finalistas que a razão ocidental inventou para tudo que
é estrutura representativa que faz do pensamento uma máquina a serviço das piores forças
reativas e uma vontade de negar a vida e o mundo. O Nietzsche coloca então esses elementos de
sentido e valor como elementos não só genealógicos do ponto de vista de uma crítica que é
necessário se detectar a origem dos valores, mas também do ponto de vista de um modo de vida e
de pensamento, do ponto de vista da criação. Então o criador é aquele que interpreta o sentido e
que avalia o valor. O criador, o pensador é um artista, é um medico, é um fisiólogo, é um legislador.
Em que sentido que ele diz essas coisas todas do pensador ou essa nova imagem que ele faz do
pensamento? Nietzsche se apercebe logo no início das suas análises na medida em que ele é um
filólogo que interpreta os textos dos pré-socráticos que no começo da filosofia grega, a filosofia é
grega, há uma imagem a onde você encontra uma unidade fundamental, uma unidade essencial
entre vida e pensamento. A vida se relaciona com o pensamento e o pensamento se relaciona com
a vida de modo ativo e afirmativo. A vida ativa o pensamento e o pensamento afirma a vida e ela é
uma relação complexa e positiva, ora parte de um ora parte de outra, ora a vida desterritorializando
ou arrancando o pensamento dos lugares comuns, dos valores estabelecidos com os seus devires,
com a sua hibris, com os seus excessos no desejos, nos afetos, ora o pensamento arrancando a
vida de uma situação orgânica cômoda, por que a vida pode cair em comodismos orgânicos, como
por exemplo alimentação, um estômago satisfeito pode ser uma arapuca terrível para o corpo...
todos os órgãos satisfeitos são uma arapuca... então o órgão ele sedentariza o pensamento e
sedentariza a vida... então o pensamento nesse caso tem a função de arrancar a vida daquele
entorpecimento orgânico, então há uma ligação direta, uma aliança complexa e direta entre a vida
e pensamento onde essa interelação sempre faz com que a vida e o pensamento andem para
frente, afirmem e ativem o devir, o devir no corpo e o devir no pensamento. Então afirmação e
atividade são as qualidades essenciais do devir e o devir nesse pensamento, nesses filósofos é
afirmado na sua plenitude. A filosofia traz exatamente um modo de ver que ao mesmo tempo que é
crítico é antes de tudo criador. Na medida em que o pensamento interpreta o sentido de um
fenômeno ou de um sintoma, esse mesmo pensamento avalia o valor desse sentido, o
pensamento detecta a direção dos sintomas, se é uma direção ativa ou se é uma direção reativa,
se é algo que rompe com os limites ou se é algo que se submete aos limites, e ao mesmo tempo o
pensamento valoriza isso, diz isso é mais importante que aquilo e ao valorizar, se expressar na
valorização ele abre novas formas de vida, novas perspectivas para a vida, ou seja, ao avaliar você
abre horizontes e ao interpretar você detecta o sentido e a direção de algum fenômeno, de algum
sintoma ou de alguma força em relação.
Então o Nietzsche ao recuperar essa imagem antiga da filosofia ou do filósofo ou do pensamento,
ele ao mesmo tempo diz que é essa a imagem do pensamento e do filósofo do futuro por que essa
imagem ou esse modo de viver pré-socrático se perdeu no momento em que se inaugurou a
decadência da filosofia com Sócrates que interrompeu esse processo, houve um corte dessa bela
aliança e se forjou uma nova aliança, uma aliança niilista que a partir daí se desenvolveu sob
várias formas e aspectos, o aspecto histórico, psicológico, moral, religioso, lógico, metafísico,
estatal, legal...
Então você tem esse resgate da forma pré-socrática de viver e de pensar e Nietzsche vai então
relacionar ou aproximar a imagem desses pensadores pré-socráticos à imagem de um fisiólogo ou
de um médico que interpreta os sintomas, que vê fenômenos como sintomas, sintomas de alguma
força que os produz. Então você liga o sintoma a uma força... você não liga um sintoma a um
signo, você não liga um sintoma a um significante, você liga um sintoma a uma força, é essa a
grande sacada do Nietzsche, ou seja ele leva a razão para fora da razão, ele diz que o
pensamento é o fora, o pensamento sempre tangência os seres, ele está sempre fora, a
interioridade é uma invenção cristã, o interior nasce com que o Nietzsche chama de má
consciência que é uma das figuras do niilismo.
E ao mesmo tempo que o filósofo tem essa imagem de medico ou fisiólogo que interpreta os
fenômenos como sintomas e os liga a forças, ele também é artista e o artista ele avalia a
importância dos sentidos, ele hierarquiza os sentidos, tal sentido é mais importante que o outro
sentido para aquele momento da vida, então ele abre perspectivas, ele cria condições da vida fugir
de certas prisões, de certas amarras ou se ele for impotente para isso ele encurrala ainda mais a
vida. Então essa relação que o pensamento tem de criar as condições e abertura pelo desejo fluir é
uma condição que o Nietzsche liga ao modo do artista, então o filósofo é também essencialmente
um artista. E essas duas figuras, a do médico e do artista, o Nietzsche vai ligar duas formas de
expressão, a forma da expressão do aforismo... o aforismo ele interpreta o sentido, ele já é uma
interpretação, ele interpreta uma coisa e ao mesmo tempo ele é uma coisa a ser interpretada. E o
sentido de uma coisa é sempre plural nunca uma coisa tem um sentido único... o sentido único de
uma coisa é sempre uma ilusão de uma coisa que a domina naquele momento, que dá o sentido
único para ela naquele momento, mas existe uma coexistência de outros sentidos nessa mesma
coisa a ser interpretado, então o intérprete tem que ser muito sutil. O Nietzsche debocha da
dialética hegliniana por ser uma coisa grosseira, por ser uma interpretação obtusa do real e fictícia
do real, onde há diferenças, anuncias e sutilezas a ser interpretadas e avaliadas, a dialética só vê
oposição, negação e contradição... o fruto é antítese da folha, é isso que fala a dialética, um
exemplo grosseiro da dialética... o amor cristão é antítese do ódio judaico... o Nietzsche diz que é
engodo, no fundo a coroação do ódio judaico é o amor cristão... então onde existe nuâncias e
correlações de forças e sentidos a serem interpretados, a dialética vê oposição, contradição a
partir de um princípio de negação do real... a negação está no fundo e no princípio de toda
interpretação dialética da realidade.
Então o Nietzsche ao dizer que a filosofia é essencialmente genealógica, ele quer atingir o
elemento produtor de realidade e o modo como a realidade se apresenta que é através do sentido
e do valor. Então a interpretação de dá através da forma de aforismo que é sempre fragmentária,
plural, múltipla e interpreta uma correlação de forças, sendo que uma é dominante e essa força
pode estar mais a fim com a essência da coisa ou menos a fim... então há uma hierarquia de
sentidos aí... e quanto mais afinada a força estiver com a coisa mais livre essa coisa é, e quanto
menos afinada mais submetida a coisa é.
E por outro lado você tem o artista avaliando, pesando, valorizando, abrindo perspectivas, criando
perspectivas, que é exatamente a avaliação através da forma de expressão poema,...
o poema é a expressão ou a forma de expressão que o filósofo ou que o artista lança mão para
avaliar o valor dos sentidos. Então sentido e valor, aforismo e poema são os elementos e
instrumentos que o pensador lança mão para interpretar e criar o real.
O Nietzsche diz que a genealogia só é genealogia na medida em que detecta a origem do valor,
ela tem que atingir onde aquele valor nasceu, ou seja, ele não acredita em valores eternos, o valor
tem data de nascimento e local... certas correlações e forças de poderes geram, criam valor... que
forças que poderes inventaram aquele valor? em que local, sob que condições? quem queria
aquele sentido e aquele valor? e o que queria ao querer aquilo? aí está a genealogia... então mais
ainda do que remeter o valor a sua origem, mais do que isso ainda é também ver o valor da
origem... o que vale aquela origem? o que vale aquele valor? é aí que Nietzsche descobre o valor
genealógico propriamente dito. O elemento genealógico é um elemento diferencial que a gente vai
entender na medida em que a gente souber como funciona a correlação de forças, o que é a
vontade de potência em Nietzsche, ... mas esse elemento genealógico falando de uma maneira
breve, resumida, ele é a diferença na origem e a diferença na origem é exatamente a postura, o
modo de vida e de pensamento que você tem na medida em que você age ou reage com o mundo,
com a coisa ou consigo próprio... essa maneira, essa postura o Nietzsche vai dizer é alta ou baixa,
nobre ou vil, elevada ou rasteira, leve ou pesada, trabalhosa ou lúdica... e ao dizer isso Nietzsche
está liberando uma interpretação ou uma maneira de ver a causa, o que gera os valores e os
sentidos a partir de um modo de vida que dá unidade aos pensamentos, as ações e aos
sentimentos... Nietzsche diz nós temos as ações, as reações, os sentimentos, os pensamentos que
merecemos segundo o nosso modo de vida... a natureza é imediatamente justa, não há distância
entre a justiça e o nosso modo de vida... bem entendida a filosofia de Nietzsche, diz única e
exclusivamente respeito a justiça.
E a justiça em Nietzsche está ligada a interpretação da existência. No fundo diz ele o problema das
religiões, da moral, das filosofias, da ciência, das artes é um só... é qual é o sentido da existência...
a existência é o que atravessa o que está na origem de todas as concepções teóricas e práticas do
real. E o que salta imediatamente aos olhos nessa questão é algo que invade a existência na
medida mesma em que os homens não são livres... quanto menos livres são os homens mais eles
sofrem, mais dores eles tem e mais absurdo e irracionalidade eles vêem na dor... então a dor e o
sofrimento estão aí para dar a existência uma interpretação geralmente negativa. A dor e o
sofrimento fazem com que a existência seja interpretada como algo criminoso e expiatório. A
existência ou o devir ou a matéria ou a multiplicidade ou a diversidade dos seres das coisas das
ações das paixões das idéias dos pensamentos... esse acaso onde os seres estão mergulhados
nas suas relações, geram uma quantidade tão grande de dor, na medida mesmo em que o homem
é incapaz de entender o sentido da dor, que os leva a interpretar a existência como algo que
rompe a justiça do ser, que invade ou ultrapassa ou transgride os limites da vida, e cria ou gera
injustiças, e nessa medida mesmo se sofre, se tem dor e a dor está aí justamente para nos dizer
que ela é castigo dessa hibris ou desse ultrapassamento dos limites que a vida impõe.
Então a questão de se interpretar a existência como algo sempre de faltoso, de criminoso, de
excessivo ou de desordenado e nessa mesma medida você explica a origem e a existência da dor,
você também por esse mesmo elemento, você faz com que a existência seja expiada, seja
resgatada da sua queda, da sua falta, da sua imprudência, da sua transgressão... esse resgate se
dá exatamente pela dor... quanto mais você sofre mais você expia a sua culpa... daí as fábricas de
culpa que Nietzsche chama de imundas, as fábricas imundas de multiplicação da dor... por que a
vida deve ser resgatada e deve ser santificada... a vida para esses moralistas, para esses ministros
não é suficientemente santa para se afirmar por si mesma na sua mais plena inocência... a vida é
culpada, é criminosa, ela precisa ser resgatada e expiada e você resgata, santifica, expia a culpa
que ela tem através exatamente da multiplicação da dor e do sofrimento. Então os mecanismos de
fabricação e multiplicação de dor vão ser os mais variados e nós temos aí uma bagagem boa e
experimental do que são esses mecanismos.
No nosso caso aqui é a máquina cristã de fabricação da dor e atualmente a máquina edipiniana da
neurose moderna e da introjeção do estado.
Agora, o Nietzsche diz é aí que se começa a interpretar a existência como sendo algo que deve
ser julgado, condenado e resgatado. E a visão dele é que isso é um sintoma da decadência, essa
interpretação e essa avaliação já é sintoma de impotência, de cansaço, de doença, de escravidão,
de paralisia da vida e do pensamento, ou seja, é uma atitude própria de quem está fixado por uma
força mais poderosa que a dele e não consegue mais reagir e na medida mesmo que não reage
ressente, fica delicado, melindroso, choroso, piedoso, tem pena de si, tem pena de tudo que sofre
e condena nessa mesma atitude de ressentimento toda a atividade, por que toda a atividade vai
gerar e aumentar mais a sua dor. Então o homem impotente, fixado, ressentido é incapaz de
admirar a atividade, ele é incapaz de amar, de ter liberdade sobre o acaso das relações, a
multiplicidade, a diversidade, ele não tem alegria com isso, ao contrário ele entristece... quanto
mais houver diversidade, quanto mais singularidades houver, quanto mais atividade, quanto mais
afirmação da vida... mais triste ele fica... é o homem das paixões tristes por excelência.
...-...-...ao denunciar a razão, Nietzsche denuncia a razão como sendo uma teia de aranha
produzida por um espírito vingativo, por uma aranha vingativa, uma tarântula... por que ela cria a
sua teia como arapuca para exercer a sua vingança... o Nietzsche diz o homem inventou essa
razão que é exatamente a razão da causalidade... platônica, aristotélica fundamentalmente, onde
se divide o sistema de causas em quatro causas e se estabelece toda uma relação entre princípio,
meio e fim. O princípio sendo as causas livres da ficção do livre arbítrio originada na consciência
como a gente viu em Espinoza, o fim também sendo uma ilusão que a consciência fabrica para si,
que o Nietzsche vai detectar e chamar de imagem invertida na origem, lá no elemento genealógico,
ele vai dizer lá existe uma inversão hierárquica, a reatividade se sobrepõe à atividade, a negação
se sobrepõe à afirmação... essa inversão que a consciência produz que dá esse efeito míope
sobre a realidade e que vai interpretar toda a ação ou atividade dos outros seres como sendo
ações que devam ser reguladas por uma atividade, elas devem servir a mim... quanto mais
impotente, ou servil, ou mais fraco eu for, mais eu preciso que as ações externas estejam
orientadas para suprimirem a minha impotência, mais eu preciso da utilidade, do bom censo das
ações, do senso comum dos seres, da orientação final, da intenção nas ações... então a
intencionalidade, a causa final que eu interpreto na ação do outro, ela é nociva ou útil... essa noção
interesseira do ponto de vista da impotência é o que vai ser a fonte da organização racional que o
Nietzsche chama de teia de aranha vingativa e ao mesmo. tempo a fonte de acusação da vida por
que essa atividade e a vida definida pela atividade... essa atividade ou ela está regulada através de
códigos que servem a uma demanda preestabelecida que vem preencher as minhas
necessidades, as minhas demandas ou ela é nociva, é má na medida mesma que ela não
preencher a minha utilidade, ela me fere, ela me destroi e eu só posso viver na medida que eu sou
fraco, que eu sou reativo, que eu sou impotente sob a proteção de um sistema mediador que
regule essas atividades senão eu sou destruído.
...-...-... a estrutura do mecanismo inconsciente e consciente do niilismo que se expressa sobre as
figuras do ideal acético do ressentimento que dão a consciência, levam Nietzsche a dizer que é
preciso ser psicólogo, um psicólogo sutil, não um psicólogo da simples psique, mas um psicólogo
da própria natureza, um psicólogo cósmico que detecta o que está por traz de um fenômeno ou de
um sintoma, qual é o sentido e o valor daquele elemento que domina aquela coisa naquele
momento e naquele lugar. Então esse olhar genealógico, esse olhar do que ele chama de
psicologia, ele diz eu inventei a grande psicologia,... esse olhar é um olhar de legislador... ele diz
Kant dizia que o filósofo era um legislador, o filósofo autêntico e verdadeiro é um legislador por que
ele interpreta, avalia e legisla... e Nietzsche diz o legislador só pode nascer da figura do artista e do
médico juntos... esse filósofo do futuro, esse filósofo ou esse pensador ou desse ser que tem o
olhar voltado para o elemento genealógico que gera sentidos e valores e é exatamente esse
elemento genealógico que revela a diferença na origem... por que essa diferença é tão importante
na origem? Por que o Nietzsche vai fazer uma distinção entre vontade e força. Para Nietzsche tudo
que existe na natureza são forças. Não há sequer uma força que não esteja em relação com outra
força, nenhuma força é isolada, isso é impossível... é necessário que uma força esteja sempre em
relação. E é aí que Nietzsche pretende ultrapassar a interpretação atomista, por que a força ela
traz uma diferença na origem. E o que é essa diferença na origem da força? a força é uma
quantidade de energia e ao mesmo tempo ela é uma qualidade, mas qual é essa qualidade? ou
como essa qualidade se expressa na força? A força em relação com outra força se chama
vontade... vontade é exatamente a relação de uma força com outra, então vontade em Nietzsche
nunca é um elemento antropomórfico e antropológico... a vontade não é psíquica, a vontade é
ontológica, ela é a relação de um campo de força, ela é a própria relação, ela é a virtualidade na
relação da força, e diz Nietzsche que a vontade é sempre vontade de potência, não por que a
vontade que queira o poder fora de si ou a potência fora de si, mas a potência da vontade é
exatamente o que quer a vontade... então é na realidade é potência de vontade ou a potência é o
querer na vontade... e a vontade é o querer, é o desejo, e em Nietzsche isso é ontológico, é
fundado na natureza eterna das coisas. Então só existem forças em relação ou forças e vontade
de potência que é a mesma coisa.
A força na relação com outra força sempre estabelece uma dominação ou uma submissão. Do
ponto de vista de uma força você tem uma submissão através de outra ou um comando em cima
de outra força. A foça que domina é a força ativa, a força que é dominada é a força reativa e a
vontade é sempre a vontade de manter essa relação... manter uma relação de afirmação da
diferença da força ativa e de obediência da força reativa. A gente pode falar, se ajudar, do que o
Espinoza chamava de potência e a sua relação característica e os elementos subsumidos por essa
relação característica. Na medida em que a potência através da sua relação submete os elementos
você tem uma força ativa dominando a reativa, aí você tem a hierarquia sadia, a hierarquia
afirmativa da vida. Você tem na origem uma diferença essencial entre força ativa e força reativa e a
função da força reativa é regular, é conservar, é manter, é uma função nobre enquanto força
reativa desde que ela se mantenha no lugar de força reativa e a força ativa inventa, ela cria, ela
ousa, ela avança, ela estabelece o devir... a força ativa é essencialmente devir e a força reativa
seria a condição do devir. Nós vamos entender isso melhor quando falarmos da tipologia
nietzschiana, por que Nietzsche vai fazer distinção essencial entre os tipos... então o niilismo em
Nietzsche vai ser muito mais do que um acidente, um acontecimento histórico, do que uma figura
de psicologia ou de psique ou de inconsciente... o niilismo vai estar imerso na origem da história,
como princípio da história, na interrupção da atividade da cultura, no nascimento do estado,
nascimento da psicologia, no nascimento da razão, na religião, na moral... o niilismo é base e
princípio para todas essas funções... não é que ele é um acidente de percurso do homem... o
Nietzsche vai tão longe que ele diz que a constituição do homem se dá através do niilismo... o
homem é essencialmente ressentido e tem a culpa dentro de si, tem a má consciência... o
ressentimento e a má consciência constituem a essência do homem e é por isso que depois da
morte de Deus, o niilismo vai atingir a morte do homem... como morte da forma homem, esse
homem inventado pelo niilismo... o niilismo criou um Deus e um homem, o próprio devir desse
niilismo vai gerar a morte de Deus e a morte do homem. No fundo essas figuras do niilismo
nietzschiano são categorias do inconsciente, são dramas que se desenvolvem no inconsciente
humano, ainda que isso seja imperceptível em nós.
Seguindo então... o elemento genealógico vai se dar exatamente nessa diferença entre força ativa
e força reativa e a vontade tem dois princípios ou duas qualidades essenciais também que são
afirmação e negação. Então a vontade que afirma, ela afirma a diferença da força ativa e a vontade
que nega, ela nega a partir da força reativa o que a força reativa não é, ou seja, essa é a relação
essencial da dialética, você nega o que você não é... a origem da dialética é sempre essa... o fruto
nega a folha, o amor cristão nega o ódio judaico... são exemplos que a gente encontra em
Nietzsche, eu só estou repetindo... mas se vocês estudarem Hegel e até o movimento hegleriano,
vocês vão observar esse falso movimento da dialética, essas interpretações grosseiras do real e
essa tentativa de resgatar propriedades que estão alienadas inicialmente numa consciência
alienada que devolveriam a liberdade humana... o Hegel quer resgatar as propriedades alienadas...
só que o Nietzsche diz, vocês já se perguntaram se a gente quer resgatar essas propriedades?
qual é a natureza delas? não foram elas produzidas pelo próprio niilismo? e por que agora carregar
essas propriedades? isso se dá num momento particular da morte de Deus, quando o homem
toma o lugar de Deus e não mais se deixa carregar por Deus mas agora voluntariamente se põe
nos ombros todo o peso dos valores estabelecidos pelo niilismo, sejam valores velhos, divinos,
sejam valores novos do homem.
Então a crítica em Nietzsche ela toma esse aspecto radical, ele vai dizer Kant quis empreender a
verdadeira crítica e no fundo Kant diz, sim nós precisamos separar domínios por que a moral
invadiu a razão, a razão invadiu a religião, a religião invadiu a moral e vice versa, ou seja há
mistura de domínios, precisamos purificar os domínios, precisamos determinar o que é da razão, o
que é da moral, o que é da religião e nós precisamos ver então o que é a verdadeira razão, a
verdadeira moral, a verdadeira religião... o Nietzsche diz, ficou intacto, ele não criticou a moral, a
religião e a razão, ele deu novo vigor a elas, ele limpou aquilo que atrapalhava o bom exercício da
moral, da razão e da religião... Então o Nietzsche diz a verdadeira religião... mas o que vale a
verdadeira religião? e o que quer ela? aí está o elemento genealógico, a verdadeira razão sim, ... o
que quer a verdadeira razão? a verdade? ela quer o conhecimento?... mas essa verdade e esse
conhecimento não são exatamente valores estabelecidos que a priori a consciência apreende
como intactos, eternos e transcendentes na vida e na natureza? não estariam esses valores
exatamente para separar o pensamento da sua atividade? a vida do que ela pode? que crítica é
essa? Então Nietzsche diz, a crítica só é crítica na medida em que ela vai não só remeter esse
valores que em Kant são os famosos valores transcendentais em si, não só remete esses valores
então à sua origem como vai avaliar qual é o valor dessa origem... o valor desses valores... então é
aí que empreende a verdadeira crítica, mas isso não se faz sem criar novos valores, novas
perspectivas, novos modos de vida... Então o elemento genealógico ele no fundo só é crítica por
uma conseqüência, ele é crítica como efeito por que na medida mesma que você o atinge você já
está no elemento criador... você já é um criador... em Nietzsche o essencial não é a crítica, o
essencial é a criação, é a afirmação e um dos modos entre a pluralidade de modos que a
afirmação tem é a negação. Então a idéia de oposição entre negação e afirmação, atividade e
reatividade não são relações duais em Nietzsche... aquele que se apressar em interpretar dualismo
em Nietzsche, se equivoca imediatamente na medida em que a afirmação em Nietzsche é sempre
plural, ela é o elemento genealógico por excelência, ela é o que cria tudo e a negação é apenas
uma das suas modalidades entre as infinitas modalidades que tem a afirmação a negação é uma
delas que necessariamente acontece na medida em que a criação de valores destroi os velhos
valores estabelecidos... destroi necessariamente, é necessário destruir... então é uma destruição, é
um assassinato, é um crime inocente, por que o objetivo do artista ou do elemento criador não é
destruir o outro, é afirmar a vida... e na medida que ele afirma a vida ele vai destruir
automaticamente ou necessariamente o que nega a vida, os valores estabelecidos que negam a
vida... então é necessário e por conseqüência há essa negação... nunca há dialética em Nietzsche
mesmo na Origem da Tragédia que é um dos primeiros livros dele, a onde ele ainda sob influência
de Shopenhaurer e Vagner, ele ainda interpreta a existência e a relação entre Dionísio e Apólo de
uma forma conflituosa, aí mesmo ele já tem vislumbres do verdadeiro inimigo... o verdadeiro
inimigo não é Apólo, ou seja não há uma oposição entre Apólo e Dionisio, e o maior inimigo não é
nem Sócrates, por que Sócrates é exatamente o que faz morrer a tragédia influenciando
Eurípedes... Eurípedes mata a tragédia grega através da dialética, ele dialetiza a tragédia, ele
introduz o drama e espalha acusação da vida em cima do herói, então o herói trágico passa a ser
culpado... mas o Nietzsche diz assim, não é ainda aí que está o maior inimigo, por que os gregos
ainda são demasiados gregos, digamos assim, os gregos ainda não tem má consciência, eles não
introjetaram a culpa, eles não tem pecado, ... é culpável o herói mas é preciso que um Deus o
tenha cegado, que um Deus o tenha enlouquecido... a responsabilidade da culpa não é a do herói,
não é do elemento humano, a responsabilidade da culpa é jogada para um Deus... então os
deuses estão lá para assumir a responsabilidade da culpa, já existe o bacilo da vingança, já existe
a interpretação de que há um crime, já existe uma acusação ali mas não tem a responsabilização...
a responsabilidade e daí o elogio constante de Nietzsche à alegre irresponsabilidade, ele diz que é
preciso ser alegremente irresponsável para ser um criador, um dançarino, um artista, por que a
responsabilidade tem exatamente esse aspecto, é ela que vai fazer a captura da vontade, da
potência ou do desejo em cima da acusação das outras forças... Então há um processo de
acusação e de responsabilização, na medida em que essa responsabilidade é inferiorizada, aí a
coisa afunda de fato... e Nietzsche vai interpretar como sendo o momento supremo, o nascimento
do cristianismo. Ele vai ver então não mais Sócrates contra Dionísio, ou Dionísio contra Sócrates,
mas agora é Dionísio contra crucificado... então Cristo é a figura que encarna na sua mais alta
forma o niilismo... O niilismo é essencialmente uma visão da dor e do sofrimento gerados pela a
atividade ou pela vida ou pelo devir ou pela existência que é interpretada como aquilo que
denuncia exatamente esse elemento de hibris que a vida traz, esse elemento excessivo, esse
elemento criminoso, é por que a vida sofre que ela é culpada, a dor é interpretada como um signo
de culpa... mas não se suportaria isso se não tivesse um sentido para a dor, e daí o sentido que os
niilistas vão dar para a existência que era a questão inicial do Nietzsche, o sentido da dor é expiar
a culpa... se é culpado por que se sofre e se sofre para expiar a culpa, é a máquina imunda que o
cristianismo inventou...-...-... isso está em tudo, inclusive no elemento biológico submetido ao
homem... é só ver o que ocorre com as florestas... a onde houver o homem niilista atuando vai
haver um devir reativo da terra, da vida, dos animais, do que você imaginar...-...-... onde há um
sentido que negue a vida, não importa que seja ou matriarcal ou estado... você já introduz uma
instância exterior a vida que julga a vida... Sócrates no momento que inventou o ideal ele diz o
ideal é o universal real e aqui em baixo só tem adversidade, o múltiplo e o particular, e esse
particular em relação ao ideal ele é um simples material, é uma simples aparência em relação a
essência, é uma simples cópia em relação ao modelo... nesse mesmo movimento você está
destituindo a vida do ser pleno... a vida é uma simples aparência, é uma imagem, é uma cópia, ela
é um devir, ela não é ser, então o Sócrates inventou um uno, um bem, um ser e uma necessidade
que iam contra a multiplicidade, o devir e o acaso. O Nietzsche diz, os gregos e Anaximandro
talvez foi o mais explícito deles,... por que ele diz o seguinte: os seres são uma injustiça saídas do
infinito ou do aperon, e eles pagam, expiam uns aos outros a injustiça do original que eles
cometem e em última instância com a morte, ou seja a morte aí já é um signo de interpretação da
expiação, da culpa... e ele diz então que já nos pré-socráticos você encontra alguma coisa nesse
sentido, mas Heráclito é o único que afirma com todas as letras que a natureza é absolutamente
justa, o fogo primordial e a luta dos contrários ou dos elementos diferenciais é uma luta
essencialmente justa de justiça e uma luta entre inocentes... ele diz mais, ele diz o aion, o tempo é
uma criança que brinca movendo as peças do jogo para cá e para lá, brinquedo de criança... o
tempo é um jogo... então Nietzsche resgata também essa idéia de Heráclito e diz que o jogo
supera a hibris, o bom jogador supera a hibris e o bom jogador é aquele que afirma o acaso inteiro
como inocente... nenhuma parte do acaso deve ser acusada, julgada ou resgatada... o acaso é
santo inocente por si só...-...-...-... o acaso afirma o que lhe acontece,... há uma necessidade no
acaso, há um ser no devir e há um uno no múltiplo... o jogador é exatamente aquele que vive em
dois tempos, ele se lança no acaso, no múltiplo e no devir e ao mesmo tempo ele afirma o ser do
devir, o uno do múltiplo e a necessidade do acaso... então como o Nietzsche diz, o lance de dados
e o resultado dos dados são afirmados, é objeto de uma dupla afirmação, o bom jogador é aquele
que é capaz de afirmar duplamente e aí Nietzsche vai introduzir uma outra imagem, não é mais
Dionísio e Apólo, agora é Dionísio e Ariadne... Dionísio afirmação do múltiplo, do acaso e do devir,
Ariadne afirmações do ser do devir, do uno do múltiplo e do acaso do acaso, afirmação da
afirmação e é só nessa dupla afirmação que você tem não o retorno da coisa mas o retorno do
lance de dados, o retorno do jogo... e isso é a essência do eterno retorno de Nietzsche.
O eterno retorno em Nietzsche é afirmar e só afirmando o devir, o acaso e o múltiplo de modo
pleno e total de uma única maneira, sem repartir ou inventar probabilidades de ganho... eu vou
lançar várias vezes os dados para ver se em uma delas vai dar o número que eu quero... não, o
bom jogador não espera, o bom jogador não se programa antecipadamente e diz eu preciso de tal
resultado, de tal coisa... o bom jogador é aquele que mergulha inteiro no acaso e o resultado na
medida que ele afirmou plenamente, que o seu querer foi inteiro, o resultado necessariamente é
vitorioso, é a fatalidade, é o amor factu, é o destino, ou seja ame o destino, ame o fatal, ame a
necessidade que está no acaso. ...-...-...
...-... na sorte há uma necessidade... há sorte, há acaso, há fortuna...-...-... se você é tarado,
sortudo, não... o Nietzsche diz é o escravo que pensa assim... é o escravo que fica esperando
prêmios ou castigos dos encontros...-...-...-... a hibris que é a desmesura... desmedida... excessivo,
fora de medida... que excede, que ultrapassa, que transborda... a hibris, esse transbordamento,
esse excessivo, na medida em que você joga e afirma inteiramente esse processo como inocente,
você obtém uma síntese dela, então você não tem o caos... quer dizer você tem o caos que ao ser
afirmado ele te dá uma síntese, ele te dá o um a partir do múltiplo, ele te dá o ser a partir do devir,
ele te dá uma necessidade a partir do acaso... então, esse ser, esse uno e essa necessidade nada
mais são do que o reclamar... só retorna essa energia sempre de modo diferenciado ... retorna a
condição do jogo... a necessidade do jogo...-...-...-... o planejamento é exatamente uma longa
experimentação, um longo exercício do jogo... é uma sabedoria de saber jogar... saber afirmar, na
medida em que você sabe jogar, você necessariamente tem um lado vitorioso... o lance vitorioso é
número único, o número de dados que cair... aquele número diz Nietzsche, eu cozinho todo o
acaso... bem vindo e vinde a mim o acaso por que eles são como as criancinhas... inocentes como
as criancinhas... isso é uma paráfrase de Jesus Cristo... Jesus diz, vinde a mim as criancinhas... ...
Nietzsche diz, vinde a mim o acaso por que ele é inocente como uma criança... ... ... eu cozinho
todo o acaso, múltiplo e devir na minha panela, a minha panela é a minha dobra, o meu passado, é
a minha pele, é a minha duração... ele diz em alguma passagem do Zaratustra... é preciso um
longo tempo para que em um poço profundo saiba-se o que caiu nele... é preciso um longo tempo
para digerir isso... então o acaso tem que ser afirmado e digerido... ele diz, nós precisamos de uma
faculdade que está esquecida, que é a faculdade de ruminar... o filósofo se assemelha muito mais
a uma vaca do que a um moralista, ... é muito mais importante ser uma vaca... precisamos ruminar,
digerir o acaso, sintetizar, e é a partir daí que todo o acaso é bom...
O Espinoza diz de uma outra forma... é preciso atingir as noções comuns e ampliá-las de uma
maneira tal até atingir a essência das coisas, as potências intuitivas... na realidade é mais ou
menos a mesma coisa que está sendo dito...
O Nietzsche inventa um jogo lúdico que ele opõe ao modo cristão, dialético e ocidental de viver...
ele diz o dialético, o cristão, ele trabalha o afirmador, ele dança, ele brinca... o dialético busca a
verdade, o artista cria valores que fazem com que a vida e o pensamento se ultrapassem a si
mesmo...-...-...-... a quebra dos valores é remetê-los a sua origem e ver o que produz esses
valores, remetê-lo ao seu elemento genealógico, na medida mesmo que você remete os valores ao
seu elemento genealógico, você mesmo habita o elemento genealógico e ao habitá-lo você produz
valores... então ele diz, a vida não deve ser julgada por nenhum valor por que ela é que cria os
valores, é a partir dela que os valores nascem... então os valores são criados, instaurados e
destituídos... os valores são como que regras de passagem... são como que regulações para a
expansão da vida e não para julgar a vida, diminuí-la, ou impedi-la do que ela pode... -...-... os
valores são móveis, em devir... ou seja, o artista ele não acredita na substância dos valores, ele
não acredita no valor em si... valor em si é uma ilusão que tem a consciência, a consciência da
finalidade e do princípio que cria o valor em si...-...-...
ele opõe aquele trabalho dialético, cansado, pesado, estéril do dialético, o jogador, brincalhão,
alegre, leve, inocente...-...-...-...
Agora eu vou levar a questão da afirmação ao terceiro elemento que eu só falei de dois até agora,
Dionísio e Ariadne, ou o devir e o ser do devir, o múltiplo e o uno do múltiplo, o acaso e a
necessidade do acaso...-...-...
Então na medida mesma que você afirma o devir e afirma o ser do devir, você mergulha e ao
mesmo tempo se afasta e contempla o resultado, nessa mesma medida você individua algo em
você, você cria uma singularidade em você e isso em Nietzsche já é o super homem. O super
homem é o resultado dessa afirmação... é um modo afirmativo, não é uma entidade, um indivíduo,
uma forma pessoal, ...-... exatamente ao contrário de herói... não é uma ficção, não é o ideal...-...-
...-... até tem um ideal mas é um ideal corpóreo, terreno, é imediato, é o ideal da afirmação, essa é
a perspectiva dele... é uma afirmação da sua diferença...-... é o ideal da inocência... então ao
mesmo tempo que você afirma o devir e afirma o ser, você fabrica a sua subjetivação... se é que se
pode usar esse termo em Nietzsche... por que aqui não tem interioridade mais, por que essa
interioridade é uma dobra, eu fabrico o meu passado e o meu passado é sempre inocente, o meu
presente e o meu futuro, sempre radicalmente inocente na medida mesmo em que eu afirmo.
Bom, então o Nietzsche ao fazer a crítica ele vai denunciar o que contagiou a vida e o pensamento
no nosso mundo, que é exatamente o niilismo por que ele é essencialmente uma acusação, uma
depreciação da existência. O niilismo é uma nadificação, é um nada de realidade para esse
mundo, é um nada de realidade para o meu pensamento, para a minha existência e a busca de um
outro mundo...-... é o vazio da vontade de potência... é o nada da vontade de potência... a vontade
de potência que nega em primeiro lugar a atividade do outro, a força reativa vai acusar o outro, é o
ressentimento... a culpa é tua... a culpa é tua pelas minhas infelicidades, pela minha dor, pelo meu
sofrimento, pela minha miséria... isso é o ressentimento... e isso se espalha de uma forma tão
genérica e daí Nietzsche vai personalizar isso no povo judeu, o ressentimento judaico é a forma
que toma o ressentimento material por que ele diz, o ressentimento ele está inseminado em todos
os povos, mas a forma do ressentimento ocidental vai ser dado pelo ressentimento judaico, ... ele
começa por acusar os egípcios... a culpa da infelicidade dos judeus e depois eles vão espalhando
isso de outra forma até não ter mais quem acusar, até essa acusação se generalizar tanto que daí
já é o momento cristão que vai dizer a culpa é minha... não tem mais o que acusar... você muda,
você reverte, ao separar a força ativa do que ela pode denuncia-se um devir reativo nela e uma
acusação em cima dela, mas essa acusação ao ser levada a cabo faz com que essa mesma força
volte-se contra si próprio e daí o aprofundamento da interioridade, é a energia que essa força ativa
tinha em mim que agora volta-se contra mim mesmo e cria a minha má consciência, a minha culpa,
a minha máxima culpa, daí a invenção do confessionário cristão, o confessionário é o que vai dar a
forma da subjetividade ocidental, a forma da má consciência, a forma do pecado original que
depois a psicanálise copia o modelo, o divã virou esse confessionário para introjetar o édipo, ao
menos a psicanálise ortodoxa..
Então essa seria a segunda figura do ressentimento, mas é uma figura que já está presente
nessas duas atitudes. Se a existência ou esse mundo é culpado e é imperfeito, faltoso, é por que
há um plano perfeito, há um plano de realidade que não este mundo, e esse plano é o outro
mundo... isso é o ideal acético que é uma vontade de negar esse mundo e se dirigir para outro
mundo, aí Sócrates, Platão, as religiões, os estados que fazem esse mesmo movimento, o
movimento das alturas... dirige o desejo e a vontade para as alturas e nega esse mundo... então
este mundo ele é um mundo indecente, é um mundo indigno por que tem a dor, é por isso que o
Nietzsche diz na Genealogia da Moral, depois de dez mil anos de anestesia viraram todas umas
maricas afeminadas que qualquer dor a gente geme, sofre, ressente, não agüenta, a gente acusa o
que causou essa dor em mim, quando na realidade o Nietzsche diz, por que se perdeu o que
exatamente os selvagens, os primitivos sabiam muito bem, é o sentido externo da dor, a dor é
sempre o prazer de alguém... a dor é sempre o prazer de alguma entidade e é o prazer dessa
cidade ou de alguém que algo de novo, algo de afirmativo se impõe. Então esse prazer de alguém,
no fundo, no momento em que você liberta o indivíduo, está no próprio indivíduo... a dor em mim é
o prazer meu também... há uma superioridade do prazer em relação a dor ou de uma maneira mais
rigorosa, há uma superioridade da afirmação em relação a negação. Então se a dor existe é para
que ela tenha um sentido exterior e não de interiorização da culpa, exteriorizar uma atividade,
inventar uma nova maneira, lapidar um modo de expressão do ser e não se ressentir com a
atividade de outros e acusar o outro, ou acusar a si próprio pela sua infelicidade, pela sua miséria.
Então o segredo de todo nietzschiano é esse, detectar se em qualquer atitude, em qualquer
pensamento, em qualquer sentimento existe ressentimento... onde houver ressentimento há que se
denunciar-se agressivo, não vingativo, agressivo... Nietzsche ensina a agressão e não a
vingança... a vingança é uma má idéia, idéia de escravo, de impotente, de gente fraca... a vingança
é idéia de gente que precisa tomar o poder... a agressividade é a atividade natural de quem afirma
a sua própria diferença, é uma agressividade natural, então é necessário ser agressivo com o
ressentimento, com a má consciência, com o ideal acético...-...-... ela é mulher e ama somente os
guerreiros... é um aforismo do Assim falou Zaratustra que Nietzsche vai interpretá-lo na terceira
dissertação da Genealogia da Moral que é um livro que tem três dissertações... na última
dissertação é sobre a origem do ideal acético... e aí ele inicia essa dissertação com esse aforismo,
e é por isso que o aforismo é algo que tem que ser interpretado, e isso já é uma interpretação e ao
mesmo tempo é a própria coisa a ser interpretada e aí Nietzsche faz aquela dissertação inteira
para interpretar exatamente esse aforismo. ...-...-...-...violentos, zombeteiros, assim os querem a
sabedoria, ela é mulher e ama somente os guerreiros...
Então aqui a terceira figura do niilismo. A quarta figura do niilismo é o momento da morte de Deus.
Os homens não suportam mais os valores que Deus ou os estados ou essas instâncias
transcendentes, impõe sobre os seus ombros... na medida mesma que eles são levados a carregar
esses valores, a vida deles acaba num deserto, a vida deles e esses valores também, ambos vão
para esse deserto e o Nietzsche aqui ele tem uma figura chamada leão, ele diz é o momento do
leão, mas pode ser o momento do ressentimento introjetado também... no caso da morte de Deus,
Nietzsche tem pelo menos 15 versões da morte de Deus... esse acontecimento também é um
sintoma plural que merece ser interpretado de várias formas diferentes de acordo com a visão da
força que se apodera desse acontecimento.
O homem cansado, impotente, ressentido e culpado ao se cansar desses valores divinos e ao
matar Deus, na realidade isso já é uma herança de Lutero ao fazer a reforma que elimina os
sacerdotes, introjeta os sacerdotes dentro de si, não precisamos mais de padres, o padre já está
dentro de mim e daí Nietzsche vai dizer que Lutero é o avô de Kant, por que Kant faz exatamente
isso com Deus e o dever, mata-se Deus mas não se elimina o lugar e põe-se no lugar o homem,
ele passa a ocupar o lugar de Deus e cria os valores próprios agora da estatura humana... então
não mais valores do bem, da eternidade, do além, mas agora felicidade, evolução, progresso,
valores humanos, demasiados humanos eu diria...-... a serviço do estado com certeza e desse
devir reativo que o niilismo introduziu...-... então esse seria como o quarto momento do niilismo...
mas Nietzsche diz que isso não se detém por que na natureza tudo tem devir... então o próprio
niilismo está em devir também e não se detém... na medida mesma que ele avança o produto
dessa reatividade niilista é exatamente o homem superior, é o que Kant, Hegel chamam de homem
superior. Só que o homem superior não sabe afirmar, jogar, brincar, pensar, ele é moralista, ele
perdeu o sentido do real a ponto tal que ele não apreende mais nem a realidade divina, por que ele
matou Deus e eliminou esses valores divinos e nem a realidade humana por que esses valores
humanos e essa forma humana já eram produto daquele Deus niilista e vingativo, então essa
forma humana também é real e as propriedades que o Hegel quer nos devolver através da
desalienação do exercício da dialética, essas propriedades mesmas já são produtos do negativo,
são irreais ou tem a realidade que esse homem merece e esse homem acaba num deserto ainda
maior, o deserto cresce até chegar o último dos homens e dizer, tudo é vão, nem Deus nem o
homem... e esse último dos homens é só ver os filmes do retrato do homem do tédio, aí você
segue com esse movimento e há o momento da transvaloração ou da transmutação de todos os
valores que Nietzsche diz, o niilismo vencido por ele mesmo, que é exatamente o momento de, o
homem que quer morrer...
tem o último homem e o homem que quer morrer, é a quinta figura do niilismo... na medida que
esse homem quer morrer ele afirma a vontade de negar, nega a própria negação e é onde o
niilismo é eliminado por ele mesmo. Só que no fundo isso se dá... isso é um drama inconsciente
que se passa em nós... então são figuras do inconsciente nietzschiano, que o homem ao se libertar
ele geralmente passa por esses processos ainda que ele não tenha conhecimento ou interpretação
clara disso.
Então o objetivo fundamental da crítica nietzschiana é exatamente levar o niilismo a esse ponto de
mutação, esse ponto onde tudo muda de sentido e de valor, onde o devir reativo das forças muda
para um devir ativo das forças e onde a vontade de negar é substituída pela vontade de afirmar
plural das coisas e se instaura a roda que gira por si mesma que é exatamente a roda do eterno
retorno ou a autonomia do pensamento e do corpo.
...-...-... o Nietzsche diz que o niilismo não é um simples acontecimento histórico, não é um simples
estado psicológico, não é um simples estado biológico, ele está no princípio de todos os devires
reativos da história, ele diz mais, como toda história não é dialética é um niilismo...
a história nasce no momento em que nasce o estado e no momento que nasce o estado o niilismo
se instaura na terra, então é exatamente no momento do nascimento da história, a história é a
escrita do estado, é a escrita do ponto de vista dessa entidade superior a vida e a natureza que
narra os fatos e os acontecimentos segundo a ótica do resgate, segundo a ótica do sentido reativo
da dor e da salvação. Então há um sentido histórico interpretado por essa ótica histórica que é o
sentido niilista... então Nietzsche diz, o niilismo não é um fato da história, é o princípio da história...
princípio e fim da história... então há de se ter uma outra história em uma outra natureza que não
essa história inventada através do niilismo.
Então é necessário ir além e ver uma tipologia nietzschiana... o Nietzsche diz que existem tipos
ativos e tipos reativos, tipos afirmativos e tipos negativos, não como estados gestantes mas como
devires, como processos... então você pode ser atingido de uma maneira tal pelo niilismo que
nunca mais você se recupera dele e morre nele... e você pode ser atingido de uma forma tal que
você reage também de outra forma tal que ele passa na tangente em você, ele não te pega... você
se sabe inocente, se sabe afirmador, se sabe jogador... livre...-...-... o Nietzsche diz mais, que ele
só acontece uma vez... aliás isso é uma interpretação do Zaratustra doente e aí é que ocorre uma
série de outros intérpretes que andam falando por aí muitas besteiras sobre o Nietzsche que dizem
que o eterno retorno é o eterno retorno do mesmo... na realidade mesmo é o retorno, o único
mesmo é o retorno, é o retornar, é o mesmo para todos os seres...
o que é o mesmo, o idêntico, o uno, o ser, o necessário para todas as diferenças? é o retornar...
isso que é o único mesmo e não o eterno retorno das mesmas coisas, o que retorna é sempre uma
coisa diferente mas o mesmo retornar para todos.
...-...-... Zaratustra adoece na medida mesma em que ele acredita na ladainha dos animais... a sua
águia e a sua serpente passam a idéia ilusória de que o eterno retorno é um ciclo, é aquele ciclo
grego, aquele ciclo das estações, ciclo dos anos... isso no fundo é só o efeito do eterno retorno,
isso é efeito da repetição do retornar enquanto retornar mas não que as coisas se repetem em si e
daí o mito também... o mito ele tem a função e é por isso que Platão interpretou o ciclo como se
opondo ao múltiplo, Nietzsche diz, no fundo ciclo não se opõe ao múltiplo, essa idéia circular que
vem se impor a matéria e ao devir, que vem impor um início ao devir e ao múltiplo e ao acaso, se
opunha a esse acaso e tinha que resgatar esse acaso e que essa idéia tinha pena da matéria, era
piedoso, essa matéria caótica sem forma sem realidade...
o Nietzsche diz, esse fio que leva para as alturas, esse fio da moral... enforque em você, por que o
afirmador não precisa de nenhum fio, ele desce a caverna, ele entra no labirinto sem nenhum fio...
ele vai lá encontrar Dionísio... ele não quer ser vil, ele vai lá no Dionísio por que nasce uma ação
plena e ele tem necessariamente um retorno...
...-...-... a individuação é a mesma coisa que dizer a dor do parto... e ele usa esse termo... a dor do
parto é alegre... por que um novo ser veio a luz... ele diz que é o trágico, por isso é que os gregos
e os modernos não entenderam o trágico...-...-... é clinamem do Epicuro e Lucrécio, essa
diferenciação, essa distância... Nietzsche diz, eu vos ensino o amor ao distante e não o amor ao
próximo... distante é exatamente o elemento diferencial que faz com que a potência fique ligada ao
que ela pode... essa distância é o que faz ela diferente de uma outra coisa senão seríamos todos
átomos, daí a distinção dele em relação ao atomismo... essa diferenciação, essa distância... o
amor ao próximo é um mau amor por vós mesmos... você só pode ajudar o próximo se você tiver
super abundância de força e de energia... ele diz a vontade de potência não é nunca uma vontade
que quer o poder, é sempre uma vontade dadivosa, a vontade que dá, que excede, que sobra, que
sofre sim e aí uma outra dor, sofre de super abundância de vida... é o que fala Espinoza, aumentar
a capacidade de ser afetado, levar a abrir o máximo o limiar, essa amplitude da potência de ser
afetado, de ser modificado, é sofrer de super abundância de vida e aí Espinoza diz assim, é por
isso que aqueles que deixam de sofrer deixam também de viver...
...-...-... ele diz essa máscara da filosofia... filosofia amigo da sabedoria... estranha amizade essa...
por que o amigo é sempre um terceiro entre eu e mim... e esse amigo no fundo é o elemento de
crueldade e a sabedoria, essa amizade que a filosofia tem, que o pensamento estabelece com a
sabedoria, na realidade nada mais é que uma máscara que ele veste, a máscara do sacerdote
inicialmente para não ser destruído, na medida que a filosofia é uma invenção nova, mas que na
realidade quer demolir aqueles valores estabelecidos que são tidos como a sabedoria... a
sabedoria nesse caso tem uma interpretação de valor estabelecido, que essa amizade com estes
valores estabelecidos são uma máscara que o filósofo lança mão exatamente para demolir a
martelada os ídolos com os pés de barro como diz o Nietzsche... ele diz, a você que acredita em
ídolos é melhor ver se eles não são feitos de barro, eu já mostrei bem onde chegam os ídolos com
pés de barro... a filosofia dele é a filosofia feita a marteladas... esse é o golpe da crítica, é o golpe
ao fio da agressividade nietzschiana que não tem nada a ver com ressentimento, tem a ver
justamente com essa alegria plural e afirmativa da destruição dos valores estabelecidos que vem
pesar e carregar a vida e deixá-la ligada no espírito de gravidade... o Nietzsche diz, nem sequer
soube avaliar qual é a vontade da terra... a terra quer se tornar leve... ela quer se tornar solta,
dançarina... então o espírito de gravidade é exatamente o espírito do demônio, é o espírito da
negação, é o espírito da acusação da vida... o macaco de Zaratustra é o espírito de gravidade de
Zaratustra...
...-...-...-... as vezes você tem a agressividade aparente apenas travestindo um ressentimento de
base... então a pedra de toque de um nietzschiano é saber se ele entendeu bem ressentimento na
consciência do ideal cético, assim com a pedra de toque, diz Nietzsche, do heracletiano é saber o
que ele fez com a hibris, o que se entende pela hibris e o qual é a solução de Heráclito em relação
a hibris que é exatamente a sabedoria do jogo... então precisa ver se esses que se dizem
nietzschianos, que se servem de Nietzsche não estão simplesmente se utilizando de uma crítica
para vomitar mais o seu ódio e salivar mais a sua gosma vingativa...-...-...-... o Espinoza dizia aos
que acusavam as paixões humanas, os teólogos, os moralistas, os políticos, os filósofos... ele dizia
assim, ora riem-se dela, ora dizem que há uma irracionalidade nas paixões, ora há um deboche,
ora há uma acusação, uma depreciação mas ninguém que eu saiba até hoje entendeu a natureza
dos afetos, do que eles podem, do que eles não podem... então o homem que não tem
ressentimento ele entende, é um homem de entendimento, ele pensa e o homem que não entende
ele moraliza e o que moraliza acusa e se acusa ressente, separa do que pode, precisa suprir essa
falta, esse deserto com valores sutis que são os calmantes, os venenos que a consciência inventa
para si.
...-...-...-... filosofia não depende de linguagem, essa é uma visão tremendamente equivocada,
semiológica, significante, é a filosofia que está tecida de signos...-...-... a universidade é um
instrumento a serviço do estado... a universidade é o lugar onde o pensamento é proibido...-...-...-...
"eu penso a partir do meu ponto singular "... se você acredita que o pensamento tem uma fundação
e uma autorização em alguma instituição, em alguma autoridade, você fique com essa
submissão... você é escravo disso, eu não... agora isso não é uma atitude que é uma exceção,
isso é regra na universidade... as vezes você vê uma tese que tem muito mais citações que uma
palavra sua... é como se você fosse um débil mental... como se você fosse incapaz de ter um
pensamento, isso é o cúmulo da destruição... a universidade reproduz isso como uma máquina
abusada...-...-... a filosofia na USP é uma vergonha, que tem de ranço, de burocratas, de espírito
lá, de funcionário do estado lá...-...-...-... a produção de capital ela tem uma condição que é sempre
negativa, sem a qual o capital não se reproduz, então essas máquinas de anti produção ou de
reprodução da dor, da culpa, da falta ou da negação são condições si ne qua non para o capital se
reproduzir e se expandir...-...-...-...
...-... Nietzsche resgata a idéia de criação agora sob o ponto de vista de uma vida livre... a vida livre
cria a realidade e não faz ao modo de Lacan que diz, o meu acesso ao real é impossível, o real se
tornou impossível... Nietzsche diz, isso é mais uma figura do niilismo, é esse homem que matou
Deus, que botou os valores humanos no lugar e que acaba se apercebendo que isso tudo é vazio,
é ficção... e se tudo isso é ficção e ele se identifica com essa forma homem, para ele o real se
tornou impossível... tudo bem, o azar é dele... ou sorte dele ou fatalidade dele... não importa, a
questão é você novamente cavalgar o elemento genealógico que te habita, esse elemento
diferencial de sentido e de valor e produzir realidade... a realidade é produzida, é criada e não algo
a ser adaptado, submetido... Darwin dizia que os seres se adaptam ao meio e que eles evoluem
assim... o Nietzsche diz, há um devir reativo nesse evolucionismo darvinista... ele teve uma idéia
muito interessante, a da evolução, mas na medida em que ele submete a evolução a adaptação
reativa do meio ele dá um atestado de incompetência e de impotência de vida para criar as
condições da sua própria existência, quando na realidade a vida cria suas próprias condições...
Lamark foi muito melhor que Darwin nesse sentido, por que ele diz, há o princípio ativo plástico em
cada modo do ser, em cada ser vivo e esse princípio ativo é mais forte do que a condição do meio,
então você se adapta sim, mas a adaptação é uma relação secundária com a sua criação... mais
que um ser adaptado é um ser que cria, que inventa, por que se não fosse assim o peixe não teria
saído do mar e o réptil não teria se erguido e o homem não estaria aqui como animal ereto... por
que a vida ousa, ela inventa, ela cria realidade, é assim que as coisas se produzem e emergem...-
...-...-...
...-...-... como elemento genealógico você tem o seu desejo, a sua potência ou a sua vontade de
potência com essas forças... é esse campo genético das coisas, é o desejo... o desejo não tem que
ser interpretado, ele não significa nada, ele já é, ele é uma força, uma potência, uma energia... só
que ele é sempre em relação... se ele é em relação ele tem sempre um sentido e um valor para
esse sentido... esse valor e esse sentido é o valor e o sentido do momento, mas há uma
pluralidade de sentidos e de valores que coexistem nele por que o desejo é complexo, ele não é
unitário, ele é sempre complexo, diferencial... o que é unitário sempre é o retornar... isso é a
condição da individuação, mas o princípio da individuação é sempre diferencial, então você tem a
diferenciação no retornar, você afirma e você se torna cada vez mais distante de você mesmo... e
o Nietzsche quer a forma superior de tudo que é, e qual é a forma superior de tudo que é? é
aquela que se identifica com a afirmação plena daquele ser, é a sua forma de expressão mais
singular, é a roupa justa do seu ser, a única roupa que serve para ele, que não serve para nenhum
outro ser mais... essa forma expressiva que é a forma superior de tudo que é... e essa forma
expressiva singular afirma plenamente essa essência, na medida que ela afirma plenamente,
inteiramente, absolutamente, com velocidade absoluta ela tem o eterno retorno seletivo... aí o
segredo do eterno retorno de Nietzsche, ele é sempre seletivo... é por isso que não se deve amar
todas as diferenças de modo diferenciado só por que é diferente, ... Ah! é diferente é legal... Ah! é
singular é legal... tudo que é diferença tem que ser respeitada, mesmo as mais medíocres, mais
idiotas, mais reativos, mais vingativos,... Ah! é diferente tem que respeitar... como respeitar?... a
afirmação da vida por si só ela desmancha aquilo como a noite é desmanchada pelo sol, aquilo
desaparece... então não tem respeito nenhum aquilo, simplesmente some com a afirmação de
alguma coisa, então é necessário sim ter um amor e uma seleção da diferença e não uma relação
indiferenciada como todas ... o Nietzsche diz, só a diferença leva o seu querer na sua plenitude
que é uma diferença plena, é uma diferença que tem o retorno, que é uma diferença que retorna,
só retorna quem afirma plenamente, ... aquele que tem meio querer, meio desejo, meias vontades,
esse não retorna... também para que?...-... é um tédio... -... - ... a forma superior de tudo que é, é a
afirmação plena ou seja, é isso que é afirmar o acaso na sua totalidade e não recortar entre bem e
mal... você cozinha o acaso exatamente para filtrá-lo, digeri-lo e apreender tudo que ele tem de
afirmativo, e é isso que Deleuse fala na Lógica dos Sentidos que é não querer o acontecimento
mas querer algo no que acontece... o seu esplendor neutro, o seu esplendor eterno...-...-... de um
acontecimento fatal... um tiro e a paralisia... faz uma obra de arte... aquele acontecimento existia
antes de mim... ele estava ali... nasci para encarná-lo... isso que é o amor facti... olha que beleza...
nenhuma acusação, nenhum ressentimento... diz o Deleuse, se a moral tem alguma coisa a nos
dizer é isso e só isso, sermos dignos do que nos acontece... só isso... então ao invés da gente ver
no acontecimento a nossa infelicidade, a nossa miséria... não, é ver a melhor oportunidade, a
única, a fatal oportunidade de você ser pleno e afirmativo... a fatalidade é a forma de eliminar o
remorso...-...-...
...-...-... a arte é tudo para Nietzsche... a arte é a salvação, a redenção... se é que se pode falar em
salvação e redenção para Nietzsche... não tem nada para ser salvo ou ser resgatado mas em fim é
pela arte que a vida se expressa, é o modo superior da vida, onde tudo quieta...-...-...-...-... é por
que a arte não moraliza e é a estética contra a moral... a estética é a afirmação plena do acaso do
múltiplo do devir...-... o Nietzsche diz, que do ponto de vista da paz que é uma visão moralista e
acética... ele diz que a vida é essencialmente guerra... mas aí que está... existe muita confusão em
cima do que ele fala... a hora que ele diz que a natureza é guerra, ele quer dizer que a natureza é
puro devir e um devir inocente... então não é uma guerra criminosa feita pêlos estados, pelas
morais e pelas religiões, não é guerra santa, não é guerra de salvação, humanitária... é a luta dos
elementos, o que falava Heráclito... ou o que fala Espinoza, na existência você tem uma potência
ou uma forma expressiva que é a sua relação singular própria, que subsume uma infinidade de
elementos, só que esses elementos são também passíveis de se compor com outros que estão
subjugados numa outra forma singular, uma outra potência... necessariamente na existência isso
pode entrar em choque e luta, só que não tem nenhuma negatividade nisso, é o jogo da
existência... e ao se perder a existência não se perde nada por que ao se ganhar a existência não
se ganhou nada também... é mais um dos infinitos modos que o ser tem de se expressar... é por
isso que os existencialistas também se equivocam ao se prender e se agarrar demais aos valores
existenciais, por que a existência é de passagem também... a existência é um modo da essência...-
...-...
...-... o problema do budismo é o niilismo... é o nada... é a vontade de nada... nada de vontade é a
figura do último homem... aliás Zaratustra é um profeta persa, zoroastro que foi o primeiro
moralista... e Nietzsche reverte até aí... mas existe vários sentidos para a palavra Zaratustra por
que também um sentido ele descobriu por acaso, 1883... em maio... ele diz assim ao escrever a
um amigo, descobri o significado de Zaratustra, quer dizer uma estrela de ouro... e isso na
simbologia nietzschiana é perfeito, por que ele diz, afirmar o devir, afirmar o ser do devir, esses
dois momentos da afirmação geram um terceiro momento que é a geração de uma estrela, a
geração de outra forma, você tem o lance de dados na terra e o resultado do lance de dados no
céu, o resultado é uma constelação, um conjunto de estrelas... quero gerar uma estrela dançante,
esse é o desejo extremo de Zaratustra, e ele descobre por acaso que essa palavra significa estrela
de ouro...-...-... na medida em que se recolhe do mundo e sublima a dor, dá um sentido para o ser
em si... o ser em si em Nietzsche é essa paz da morte, o nada, não existe o ser em si... o ser é
sempre em relação... se há ser em Nietzsche, que nunca se opõe ao devir, se há um uno que não
se opõe ao múltiplo e se há necessidade que não se opõe ao acaso ou a liberdade é exatamente
pelo fato de se afirmar o devir no uno e no múltiplo, ao se afirmar você elimina a suposta
contradição que uma consciência apreende na medida em que ela interpreta o seu estado de
impotência, de dor, de sofrimento como uma culpa e uma expiação, você reverte o processo, você
faz do uno, do ser e da necessidade o sentido único para todas as coisas, o gerador de
singularidades para todas as diferenças, o elemento sintetizador, a síntese da diferença, nunca
uma antítese da diferença, nunca dialético, sempre plural... o pluralismo, a diversidade é
plenamente afirmada aí... a experimentação...-...-...-...-... aí a idéia de metamorfose do Nietzsche,
das máscaras em Nietzsche, por que ele diz que não há ser que não tenha máscara e no momento
que se prende a uma máscara, ele perde exatamente a capacidade plástica, estética, artística dele
mudar, ele se moraliza, se fixa, ele se congela, ele fica impotente. Aliás essa interpretação da
mobilidade das máscaras, o Deleuse tem uma interpretação belíssima, ele diz o seguinte, no
momento em que cessou a mobilidade em Nietzsche é que a doença interrompeu a obra...

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