Roberta Mello
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irão trazer informação muito mais completa e precisa sobre a realidade de cada ente federativo”, projeta o vice-
presidente técnico do CFC. Ainda que com conteúdo basicamente igual às regras aplicadas a empresas privadas, as
novas normas para demonstrações contábeis de entes públicos têm suas particularidades. As três grandes diferenças
dizem respeito aos bens de uso público, à geração de receita sem contraprestação e à existência de parcerias público-
privadas: todas completamente impossíveis de serem aplicadas à realidade de organizações com fins lucrativos. O
contador, especialista em contabilidade pública, coordenador da comissão de contabilidade aplicada ao setor público
do CRCRS, Diogo Duarte, diz que é importante deixar claro que a contabilidade pública não se parece com a aplicada
às empresas privadas, mas ao padrão internacional. “O que aconteceu foi que a convergência das normas aconteceu
antes para essas organizações”, salienta. A grande parte dos países desenvolvidos e em desenvolvimento já
convergiram ou estão em fase de conversão às Ipsas. As principais exceções entre esse grupo são os países
europeus que criaram as EPSAS (normas europeias), usando como base o dispositivo internacional consolidado pelo
Ifac. Estão submetidos à norma os governos nacionais, estaduais, distritais e municipais e seus respectivos poderes,
incluindo os Tribunais de Contas, Defensorias e Ministério Público. Ainda, incluem-se órgãos, secretarias,
departamentos, agências, autarquias, fundações instituídas e mantidas pelo poder público, fundos, consórcios públicos
e outras repartições públicas congêneres da administração direta e indireta, abrangendo aí as empresas estatais
dependentes.
A contabilidade dos órgãos da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, no exercício de 2017, deverá
se basear na 7ª edição do Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (Mcasp). A publicação, que visa auxiliar
o processo de consolidação das contas públicas e a elaboração do Balanço do Setor Público Nacional (BSPN), foi
lançada pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN), neste início de ano, juntamente com as orientações para o envio
de dados para o Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro (Siconfi). O manual dá a
orientação técnica de forma detalhada, explicando como aplicar as novas regras na prática. O Mcasp está à disposição
de todos os estados e municípios. Além de estudar minuciosamente o manual, cursos de formação podem ajudar na
adequação às novidades. “É claro que, entre os funcionários públicos e gestores, a adoção das novas disposições do
CFC é mais do que uma opção. É uma reação à exigência da STN”, explica o contador Diogo Duarte. Entre os estados
brasileiros, o Rio Grande do Sul é um dos mais avançados, principalmente por contar com um Conselho Regional de
Contabilidade (CRCRS) atuante e com duas grandes consultorias para as entidades municipais: o DPM (Delegações
de Prefeituras Municipais Assessoria e Treinamento) e o Igam (Instituto Gamma de Assessoria a Órgãos Públicos). O
CRC realizou encontros e palestras sobre o assunto em cidades do Interior gaúcho e deve continuar fazendo nos
próximos cinco anos. Além disso, diz Duarte, os municípios gaúchos têm a vantagem de contarem, em sua maioria,
com corpo técnico profissional e concursado. “É muito comum nas regiões Norte e Nordeste que os municípios
terceirizem a função do contador, o que dificulta a adaptação e um trabalho continuado”, revela.
As mudanças nas normas internacionais de contabilidade caminham ao lado do Projeto de Lei (PLP) nº 295/2016, que
altera a Lei nº 4.320/1964, conhecida como Lei Geral dos Orçamentos (LGO). O projeto de lei em discussão no
Congresso Nacional pretende substituir a legislação vigente há mais de 50 anos e, em sua versão atual, afirma
textualmente que o padrão a ser utilizado para a elaboração da contabilidade pública são as Normas Brasileiras de
Contabilidade Aplicadas ao Setor Público. Conforme os especialistas, o texto não reflete os anseios da sociedade em
questões como transparência, eficiência e qualidade do gasto público. A Lei nº 4.320/1964 rege a contabilidade
brasileira, cuja interpretação, sob o ponto de vista do orçamento, prevê que os registros das receitas orçamentárias
sejam feitos pelo regime de caixa, ou seja, quando da entrada do recurso nos cofres dos entes. Desde o início da
internacionalização da contabilidade pública, em 2008, os aspectos relacionados à contabilidade patrimonial presentes
na Lei nº 4.320/1964 foram revistos e, além disso, os normativos reforçaram a aplicação do regime de competência. O
http://www.fenacon.org.br/noticias/setor-publico-comeca-conversao-as-normas-internacionais-1521/ 2/3
projeto propõe mudanças no processo orçamentário brasileiro. Além de alterar a Lei nº 4.320/1964, inclui alterações
04/04/2018 Setor público começa conversão às normas internacionais - Fenacon
nas Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar 101/00). O texto, que afeta normas adotadas por União,
estados, Distrito Federal e municípios, é a principal tentativa em discussão no Congresso para estruturar os
orçamentos públicos, que hoje contém normas dispersas em diversos documentos legais. A Lei de Responsabilidade
Fiscal estabelece, em regime nacional, parâmetros a serem seguidos relativos ao gasto público de cada ente
federativo (estados e municípios) brasileiro. As restrições orçamentárias visam a preservar a situação fiscal, garantir a
saúde financeira de estados e municípios, a aplicação de recursos nas esferas adequadas e uma boa herança
administrativa para os futuros gestores. Aprovado no Senado Federal, o projeto agora entra em análise na Câmara dos
Deputados. Na Câmara, um dos principais desafios será adequar o PLP 295 ao Novo Regime Fiscal, que limita os
gastos públicos por 20 anos a partir de 2017. Para o vice-presidente técnico do CFC, Zulmir Breda, a alteração ainda
deve levar um tempo, pois o governo federal já avisou que irá fazer substitutivos à matéria em tramitação.
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