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. principalmente sébre dois pontos, teu péso e tua cbr. Achar-te-io com certeza mut, to leve;e demais, arrebicado & estrangeira, o que em térmor téenicos de critica vem a significar — “obra de pequeno ca. bedal, descuidada, sem intuito literdrio, nem originalidade”. Ora pois nio'te envergonhes por isto. Eso livre de ten empo, 0 préprio filho déste século enxacoco e mazorral, que tudo aferventa a vapor, seja poesia, arte, ou ciéncia. Nada mais absurdo do que esperar-se do autor um livro ‘maduramente pensado e corrigido conforme o precelio ho. raciano — rmulta, dies et multa littura coercuit —- pare art réslo na voragem, dende sai todo ésse borratho do combun ftvel, que impele 0 trem do mundo. ny iintas cousae espléndias brotam hoje, moda, bales, livros, jornais, éperas, painéis, primores de téda a ¢ amanhi jd sto pa ou cisco? weate ane Em um tempo em que néo mais , se pode ler, pois o int Peto da vida mal consente folhear o livro, que 'd noite dei. xou de ser novidade ¢ caiu da voga; no meio désse turbilhéo que nos arrasta, que vinha fazer uma obra séria e refletida? Perea pois a critica ésse costume em que estd de exigit, em cada romance que the déo, wm pooma. Aur que 0 fies Se, carecia de curador, como um mr édis banjador de seus cabedais. Pee we Sern ees pont? 22 Prepara um banguete para vajanes de caminko de ro, que almocam a minuto, de relégio Buinchos da locomotiva. me na nor entre dois 51208 livros de agora nascem como flores de estufa ou alface le canteiro; guardasse a inspiragio de milho, come se ma com a semente; em precisando, é plantéla, e sai @ coun romance ou drama. Plante, ¢ sl a gee Tease: uma pequena operagio quimica, por meio la qual suprime-se 0 tempo, e obrigase a criagdo a. puler SONHOS D'OURO / BENCAO PATERNA 695 como qualquer acrobata. Diziam outrora os sdbios: — natu- ra non facit saltus; mas a sabedoria moderna tem 0 mais pro fundo desprézo por essa natureza lerda, que ainda cria pelo antigo sistema, com 0 sol e a chuva. Se isto que at-fica é verdade nos que fazem profissio de fabricar livros, dobrada razéo tém para nado improvisarem modelos e primores aguéles que aproveitam apenas umas aparas de tempo em rabiscar algum chécho volume, como outros em desenhar uma aquarela, Eo meu caso, Estes volumes sao folhetins avulsos, his- térias contadas ao correr da pena, sem cerimdnia, nem pre tensées, na intimidade com que trato 0 meu velho pitblico, amigo de longos anos e leitor indulgente, que apesar de 1d» das as intrigas que the andam a fazer de mim, tem seu fra- co por estas sensaborias. A razéo déste fraco, ndo é sento capricho; 0 povo, como 98 reis, esto no direito e uso de os ter. Estes fazem ministros de qualquer bipede, ¢' jd 0 houve, que féz senador um qua- dripede. Aquéle nao thes fica a dever; e, se a-histéria nio mente, féz um rei de uma mulher, e chamou-o Maria Teresa. ‘A suma de tudo isto.vem a ser que, se alguém porventura incomoda-se com éstes volumes, 0 modo de livrar-se da praga nao & decerto a serrazina de critica, para a qual 0 autor hd muito, por férca da consoante, féz orelhas moucas. Hé meio mais seguro e bem simples. Persuadam ao leitor que nao vé a livraria a cata déstes volumes. Em isto acontecendo, ié 0 editor ndo os pedir ao ‘autor, que por certo niio se meterd a abelhudo em escrevé-los. Assim todos lucramos. O literato que. ndo terd agasturas de nervos com @ noticia de mais um livro; o critico que salva-se da obrigagio de alambicar um centésimo resttlo de seu absin- tio-literdrig; 0 leitor que poupa o seu dinheiro; e finalmente © autor, que livre.e bem curado da obsessao literdria, pode- 14 sonhar com a riqueza, desde que fizer da sua pena um cévado, um tira-linhas, uma enxada, ou mesmo um estilete a vintém o pingo. Que fortuna para teu autor, livrinho, se Ihe tirassem esta querida ilusdo literdria, como jd the arrancaram 0 outro 696 JOSE DE ALENCAR / OBRA COMPLETA /VOL. 1 Puro entusiasmo da politica: essas duas cordas da pétria, essa gémea aspiragéo do belo e do grande, que afagava-the os so. has da mocidads ¢ tocavaas de luz esplindida ‘ornar-se-ia homem positive, sabendo o valor ao ter ‘medindo as palavras a péso, como fazem os grandes forne. cedores désse género, tao consumido nos arsenals do govérno. Arranjaria um pequeno monopdlio; montava-se num milhar de contos; ¢ esperava trangiiilo e sereno o baronato, que é a canonizagao dos bem-aventurados neste reino do Paraiso ter- restre. Quanto ao segundo defeito que te hito de notar, de ires um tanto desbotado do matic. brasileiro, sem aquéle picante sa- bor da terra: provém isso de uma completa ilusio dos criti. cos a respeito da literatura nacional. Eis uma grande questo, que por ai anda mui intrincada € de todo ponto desnorteada, apesar de tao simples e facil que é, Ld uns génios em Portugal, compadecendo-se de nos- ‘Sa pentiria, tomaram a si decidir o pleito, e decretaram que no temos, nem podemos ter literatura brasileira. A grande inteligéncia de Alexandre Herculano nos profeti- zara uma nacionalidade original, transfusio de duas natu- rezas, a lusa e a americana, o sangue ea luz. Mas os dita- dores no 0 consentem; que se hd de facer? Resignemo-nos. Este grande império, a quem a Providéncia rasga infindos ho. rizontes, é uma nacio dca; ndo tem poesia nativa, nem peru. me seu; hd de contentarsse com a manjerona, apesar de ali Siirem recenderdo na baica a baunitha o cacio ¢ 0 sas Os ordculos de cd, ésses querem que tenhamos uma litera: tura nossa; mas & aquela que existia em Portugal antes da descoberta do Brasil. Nosso Portugués deve ser ainda mais cerrado, do que usam atualmente nossos irmios de além-mar; sobretudo cumpre errigé-lo de hh e ¢¢, para dar-lhe 0 as. pecto de uma mata-virgem. Bem vés, livrinho, que uma questiio desta monta no é para 2 teu modesto topéte, ¢ sim para algum prélogo campanudo, obra de bom punho. Muito fards se te defenderes dos cri. ticos; e é s6 no. que penso agora. oo SONHOS D'OURO / BENCAO PATERNA 697 Aos que tomam ao sério estas futilidades de patriotismo, « professam a nacionalidade como uma religido, a ésses has de murmurar baixinho ao ouvido, que te ndo escutem pra- ‘guentos, estas reflexdes: “A literatura nacional que outra cousa é sendéo a alma da pitria, que transmigrou para éste solo virgem com uma raca ilustre, aqui impregnou-se da seiva americana desta terra que Ihe serviu de regaco; e cada dia se enriquece ao contacto de outros povos e ao influxo da civilizagao?” © periodo organico desta literatura conta jé trés tases. ‘A primitiva, que se pode chamar aborigine, so as lendas € mitos da terra selvagem e conquistada; sdo as tradig6es que embalaram a infancia do povo, e tle escutava como 0 filho a quem a mie acalenta no berco com as cangées da pitria, que abandonou. Iracema pertence a essa literatura primitiva, cheia de san- tidade ¢ enlévo, para aquéles que veneram na terra da pa- tria a mae fecunda — alma mater, ¢ néo enxergam nela ape- nas o chao onde pisam. O segundo periodo é histérico: representa 0 conséreio do povo invasor com a terra americans, qué déle recebia a cul- tura, ¢ Ihe retribuia nos eflivios de sua natureza virgem € nas reverberacées de um solo espléndido. ‘Ao corichego desta pujante criagio, a témpera se apura, toma alas a fantasia, a linguagem se impregna de médulos mais suaves; formam-se outros costumes, e uma existéncia nova, pautada por diverso clima, vai surgindo. Ea gestapio lenta do povo americano, que devia sair da estirpe lusa, para continuar no novo mundo as gloriosas tra- digdes de seu progenitor. Esse periodo colonial terminou com @ independéncia. A éle pertencem © Guarani e As Minas de Prata. Hd af muita e boa messe a colhér para 0 nosso romance histérico; mas néo exdtico e raquitico como se propés a ensind-lo, a nés bedcias, um escritor portugués. A terceira fase, a infancia de nossa literatura, comecada com a independéncia politica, ainda néo terminou; espera es- critores que Ihe déem os iiltimos tragos e formem 0 verdadeiro 698, JOS DE ALENCAR / OBRA COMPLETA / VOL: t g6st0 nacional, fatendo calar as pretensées ‘hoje tdo- acesas, de nos recoloniizarem:pela alma e pelo coracao, jd que'nao o podem -pelo: braco. - Neste pertodo a poesia brasileira, embora balbuciante aine da, ressoa, niio jé\sémente nos ruméres da brisa.e nds ecos da floresta, senio também nas singelas cantigas do povo e nos intimos serées da familia. ‘Onde .néio se propaga com rapidex a luz da civilizagao, que de repente cambia a cér local,’ encontra-se ainda em sua puc rea original, ‘sem. mescla, ésse. viver singelo de nossos pais, ‘radicbes, costumes linguagem, com ui sainete todo brasi- leiro. Ha, ,ndo..sdmente. no pats, .como nas grandes cidades, ‘até mesmo, na, cdrte, désses-recantos, que guardam intacto, ou-quase,.0 pasado. © Tronco do Ipé, o Til ¢ O Gaticho, vieram dali; embora; 10 primeiro sobretudo, se note jd, devido a Proximidade da corte &: data. mais. recente, a influéncia da nova cidade, que de dia‘em dia se modifica e se-repassa do espirito forasteiro. Nos grandes focos, especialmente na cérte, a sociedade tem @fisionomia indecisa, vaga e muiltipla, téo natural & idade da adolescéncia. Ba: efeito da transigéo que se opera; e também o.amileama-de elementos diversos. A importagao continua de idéias e costumes estranhos, que dia por dia nos trazem todos os povos do. mundo, devem por Yorca de comover uma sociedade nascente, naturalmente in: clinada a receber, @ influxo de mais adiantada civi izagac ‘Os povos tént,-na.virilidade, um eu proprio, que resiste ao prurido da tmitagio; por isso na-Eutopa, sem embargo da influéncia. que sucessivamente exerceram algumas nacées, des facam:se: ali: oscaracteres*bem atentuados de cada' raca & de cada familia ,Néo assim os povos nao feitos; éstes tendem como a'crian- $a-a0.arremédo; copiam tudo,-aceitam. 0 bom eo mau, o bela ¢, 0-ridiculo, ‘para: formarem o. amélgama indigesto, limo de que deve sair. mais tarde wma individualidade robusta. +: ~ Palkéta, ande.o. pintor-deita laivos-de céres diferentes, que jiuntas.e.meseladas. entre si; déo uma’ nova: tinta de tons. mais delicados, tal é a-nosta sociedade atualmente. Notam-se ty SONHOS D'OURO / BENCAO PATERNA 699 através do génio brasileiro, umas vézes embebendo-se déle, ‘outras invadindo-o, tragos de varia: nacionalidades adventi- cias; é a inglésa, a italiana, a espanhola, a americana, porém especialmente a portuguésa e francesa, que tédas flutuam, e @ pouco e pouco vo diluindo-se para infundir-se n’alma da patria adotiva, e formar a nova e grande nacionalidade bra- sileira. Desta luta entre o espirito conterrdneo e a invasdo estran- geira, sao reflexos Luciola, Diva, A Pata da Gazela, e tu, li- vrinho, que ai vais correr mundo com o rétulo de Sonhos D'Ouro. Tachar éstes livros de conjeicéo estrangeira, é, relevem os critics, ndo conhecer a fisionomia da sociédade fluminen- se, que gi esté a faceirar-se pelas salas e ruas com atavios parisienses, falando a algemia. universal, que é a lingua do progresso, jargéo errigado de térmos franceses, ingléses, ita- Tianos ¢ agora também alemdes. Como se hd de tirar a fotografia desta sociedade, sem the ‘copiar as feigées? Querem os tais arquedlogos literdrios, que $e deite sdbre a realidade uma crosia de classismo, como se Jaz com os monumentos e 0s quadros para dar-Ihes 0 tom @ 0 merecimento do antigo? Chame-se a partida de sarau; a recepgio, de agasalho; ao leio, de janota ou casquitho; aos salbes, de casas de boa com- ‘panhia; & pecadora, de rameira; @ reunidio, de assembléia; aos efreulos, de roda, et sic de coctera. Em vez de andarem assim a tasquinhar com dente de traca inos folhetinistas do romance, da comédia, ou do jornal, por causa dos neologismos de palavra e de frase, que vao intro- duzindo os novos costumes, deviam ios critics darem-se a outro mister mais itil, e era o de jocirar o trigo do joio, cen- surando'o mau, como seja o arremédo grosseiro, mas aplau- dindo @ aclimatagéo da flor mimosa, embora planta exdtica, trazida de remota plaga. Sobretudo compreendem os criticos a misstio dos poetas, escritores e artistas, nese periodo especial e'ambiguo da for- ‘magio de urna nacionalidade. Sao éstes os operdrios incum- bidos de polir o talhe @ as feigdes da individualidade que ‘ 700 JOSE DE ALENCAR / OBRA COMPLETA / VOL..1 se vai-esbogando, no viv®do povo. Palavra que inventa a multidao,, inovagio.que4adota 0 uso, caprichos que surgem no- espirito do idioa inspirado: tudo isto langa o poeta no seu cadinho, para escoimd-lo das fezes que. porventura the ficaram’do chao orde estéve, e apurar 0 ouro fino. E de quanta valia ndo & 0. modesto servigo de desbastar 9 idioma novo das impurezas que the ficaram na refuséo do idioma velho com outras linguas? Ele prepara a matéria, bronze ou mdrmore, para os grandes escultores da palavra que erigem os monumentos literdrios da pdtria. Nas literaturas-mies, Homero foi procedido pelos rapso- dos, Ossian pelos bardos, Dante pelos trovadores. Nas literaturas derivadas, de segunda formacio; Virgilio @ Horécio tiveram por precursores Enio e Lucrécio; Shakes- Peare ¢ Milton vieram depois de Surrey e Thomas Moore; Corneille, Racine ¢ Molire depois de Malherbe e Ronsard; Cervantes, Ercilla ¢« Lope de Vega depois dé Gonzalo de Berceo, Tigo de Mendoza e outros. Assim foi por téda a parte; assim hd de ser no Brasil, Vamos pois, nés, os obreiros da fancaria, desbravando 6 campo, embora apupados pelos literatos de rabicho, Tem= po vird em que suriam os grandes escritores para imprimir em nossa poesia o cunko do génio brasileiro, ¢ arrancando- Ihe os andrajos coloniais de que andam por, ai a vestir @ bela estétua americana, a mosirem ao mundo, em sua ma- jestosa.nudez: naked majesty, E agora, livrinho, 86 resta escrever-te o faciebat que os escultores antigos ccstumavam gravar no soco das estétuas, ao contrdrio de Arquelau que Ihe substtuin 0 pretensiaso it. Aquéle remate, se néles foi modéstia, para mim é uma con: fissio. As paginas que a andam com o meu‘ nome, jé 0 disse uma vez, e 0 repito, nada mais so do que provas tipo ardficas, a corrigir, para a tiragem, E nao pensem os eriticos, que é isso escusa para atenuar 4 severidade. Bem co contrério, achasse eu um meio de-a estimular; que decerto o empregaria, SONHOS D'OURO / BENCAO PATERNA 701 Quem mais. ganha com ésses rigores sou ew. Se provém do bom gésto.e da cultura literdria, sao ligées judiciosas, que se recebem, e mais tarde aproveitam. Se nascem da in- veja, do despeito, do desejo de celebrizar-se, ou de qualquer ‘outro Iédo interior, onde se gere essa praga, ainda assim tam serventia: revelam ao autor 0 apréco do piiblico, pelo desprézo a que séo lancadas essas clicantinas. Portanto, ilustres endo ilustres representantes da critica, ndo se consiranjam. Censurem, piquem, ou calem-se, como Thes aprouver. Nao alcangaréo jamais que eu escreva neste meu Brasil cousa que pareca vinda em conserva Id da outra banda, como a fruta que nos mandam em lata. Tinha bem que ver, se eu desse ao carioca, ésse parisiense americano, ésse ateniense dos trépicos, uma parédia insulsa dos costumes portuguéses, que entre nds saturam-se de dia em dia do génio francés. A aurea scintilla da raca latina, que a familia gaulesa herdou da romana, tem de a transmitir a nds, familia brasileira, futuro chefe dessa raca. ‘A manga, da primeira vez que a prova, acha-lhe o estran- geiro gosto de terebentina; depois de habituado, regala-se com ‘0 sabor delicioso. Assim acantece com os poucos livros real- ‘mente brasileiros: 0 paladar portugués sente néles um travo; ‘mas se aqui vive conosco, sob 0 mesmo clima, atraidos pe- los costumes da familia e da pdtria irmas, logo ressoam do- cemente aos ouvidas lusos 0s, nossos idiotismos brasileiros, que dantes thes destoavam a ponto de os ter em conta de sendes, E como no hd de ser assim, quando a espésa que thes halbucia as ternas confidéncias do amor feliz, e depois os lindos filhinhos que enchem a casa de rumor e alegria, thes ‘ensinam todos os dias em suas caricias essa linguagem, que, se ndo é cldssica tersa e castica, é a linguagem do coragao, da felicidade, da terra irma e hospedeira? E preciso coneluir, para que o faciebat ndo se torne mo- to-continuo; e como desejo dar a éste proémio um ar de gravidade que lhe supra a leveza do miolo, terminarei apre- sentando aos doutéres em filologia a seguinte importani{s- sima questo, que espero ver magistralmente debatida. ) C--

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