Esses versos expressam o senso de dever mediante o qual a vocação para a maturidade
deverá ser realizada. Os “jogos de outrora”, os folguedos da infância e adolescência
deverão ser deixados para trás, será preciso descer aos lugares “pálidos duros nus”, ou
seja, encarar a crueza cotidiana, na qual os sonhos não deixam de existir, mas o suor e o
sangue são reconhecidos como matéria-prima indispensável para sua concretização. A
crise dos vinte anos é um chamado para a maturidade.
Vivenciei essa crise como a maioria dos jovens brasileiros de classe média: a
angústia de ter de escolher um curso universitário, pelo qual me preparasse para uma
profissão. Essa escolha iminente colocou-me em cheque, trazendo a tona,
desconfortavelmente, uma realidade interior que preferiria ignorar: meu despreparo para
tomar decisões responsáveis. Em meio a esse desconforto, perguntas que me pareciam
essenciais para qualquer tomada de decisão minimamente consciente, surgiram como
dedos em riste, a apontar o vazio de minha ignorância: Que critérios utilizar para
minhas decisões? Que valores ou parâmetros existenciais deveriam pautar minha
conduta? O que é uma vida bem vivida? Que vida vale a pena ser vivida?
Em meio a essas perguntas que, àquela época, nem mesmo sabia formular com
clareza em meu diálogo interior, encontrei um livro, que considero minha iniciação
filosófica: Da brevidade da vida e Da vida feliz, do filósofo estoico Sêneca. Senti-me
magneticamente atraído àquele livro, impressionou-me a clareza, a propriedade e a
ordem com a qual aquele filósofo tratava de questões humanas como a felicidade e o
sentido da vida. As reflexões que fazia davam voz e forma às minhas angústias
existenciais, bem como caminhos pelos quais apaziguá-las e responde-las. Ao ler esses
livros, lembro-me de perguntar a mim mesmo: “o que alguém deveria estudar para
escrever a respeito das questões humanas com tamanha propriedade?” A resposta que
recebi do próprio Sêneca, através de seu livro, foi: a Filosofia. Minha crise de vestibular
despertou-me para o desconforto de aperceber-me ignorante. A filosofia, através de
Sêneca, apresentou-se como antídoto para minha ignorância existencial. A a ideia de
estudar mais profundamente a filosofia foi tomando corpo em meu interior, até que
decidi estuda-la através de um curso universitário. Não abri mão de minha ignorância,
nem fugi à escolha de faculdade, abracei ambas, por mais contraditórias que pudessem
ser. De minha faculdade, três fatos merecem atenção: meu encontro com a obra
platônica, meu encontro com o professor William Altman e minha experiência com a
docência.
Antes da faculdade de filosofia já tinha tido notícia de Platão através de meu pai.
Dizia ele: “Leia os clássicos! Leia Platão! Eles farão sua cabeça”. Portanto, a ideia que
tinha de Platão era a de um clássico cultural e isso, nos idos de meus quinze, dezesseis
anos, não me soava lá muito convidativo. Tendo entrado para a graduação de filosofia
aqui na Ufsc, logo de início fui iniciado à Platão, através da Apologia de Sócrates. A
leitura desse livro me foi marcante. Senti admiração pela figura de Sócrates, por sua
coragem frente à morte, sua fidelidade à verdade e sua argúcia argumentativa. Seduzido
pelo caráter de Sócrates, passei a ler outros diálogos platônicos (tanto por exigência de
disciplinas quanto por busca pessoal). O que mais me agradava (e, aliás, continua
agradando-me) nos diálogos de Platão é a arte e a ironia com as quais Sócrates refuta
aqueles que se julgam sábios. Com alegre surpresa, encontrei uma passagem na
Apologia onde o próprio filósofo afirma: “Mas então, por que algumas pessoas
apreciam passar muito de seu tempo em minha companhia? (...) Gostam de ouvir o
questionamento das pessoas que julgam serem sábias e não o são. Isto é divertido”
(Apologia de Sócrates, 33c).
1
Rep., 475 e.
O objetivo do terceiro capítulo é demonstrar de que maneira a ação pedagógica
de Sócrates, conforme observado no discurso de Alcibíades, configura uma descida e,
pela tradução prática dos ensinos de Diotima, faz dele um educador erótico.
1.1- Pessoal
1.2- Textual
1- Estratégia/estrutura da pesquisa
2.1 – Estrutura e métodos da dissertação
2- Resultados da pesquisa
3.1- Orientação moral pessoal
3.2 – Resultado bibliográfica