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Texto de arguição

Essa dissertação é mais um passo em minha jornada filosófica. Sendo assim,


para mim é importante fazer um exercício de anamnese, por meio do qual esse passo
seja assimilado e faça sentido em minha narrativa pessoal.

Minha jornada filosófica começou, de maneira mais autoconsciente, quando


tinha dezessete anos de idade. Naquela época, começava a experimentar o que alguns
chamam de crise dos vinte anos, que é, a meu entender, a percepção da iminência de um
sacrifício inevitável: o jovem adolescente, com sua miríade de possibilidades brilhantes,
terá de ser sacrificado, deixado para trás, em prol de um homem, que não nasce pronto,
que deverá fazer-se, construir-se (muitas vezes através de choques dolorosos com a
realidade). Amadurecer é escolher; escolher é renunciar; um sim à concretização de uma
possibilidade é, intrinsecamente, um não a milhares de outras. Aqui me lembro dos
versos de Adriano (imperador romano que precedeu Marco Aurélio, o filósofo); diz ele:

Pequena alma terna flutuante

Hóspede e companheira de meu corpo,

Vais descer aos lugares pálidos duros nus

Onde deverás renunciar aos jogos de outrora...

Esses versos expressam o senso de dever mediante o qual a vocação para a maturidade
deverá ser realizada. Os “jogos de outrora”, os folguedos da infância e adolescência
deverão ser deixados para trás, será preciso descer aos lugares “pálidos duros nus”, ou
seja, encarar a crueza cotidiana, na qual os sonhos não deixam de existir, mas o suor e o
sangue são reconhecidos como matéria-prima indispensável para sua concretização. A
crise dos vinte anos é um chamado para a maturidade.

Vivenciei essa crise como a maioria dos jovens brasileiros de classe média: a
angústia de ter de escolher um curso universitário, pelo qual me preparasse para uma
profissão. Essa escolha iminente colocou-me em cheque, trazendo a tona,
desconfortavelmente, uma realidade interior que preferiria ignorar: meu despreparo para
tomar decisões responsáveis. Em meio a esse desconforto, perguntas que me pareciam
essenciais para qualquer tomada de decisão minimamente consciente, surgiram como
dedos em riste, a apontar o vazio de minha ignorância: Que critérios utilizar para
minhas decisões? Que valores ou parâmetros existenciais deveriam pautar minha
conduta? O que é uma vida bem vivida? Que vida vale a pena ser vivida?

Em meio a essas perguntas que, àquela época, nem mesmo sabia formular com
clareza em meu diálogo interior, encontrei um livro, que considero minha iniciação
filosófica: Da brevidade da vida e Da vida feliz, do filósofo estoico Sêneca. Senti-me
magneticamente atraído àquele livro, impressionou-me a clareza, a propriedade e a
ordem com a qual aquele filósofo tratava de questões humanas como a felicidade e o
sentido da vida. As reflexões que fazia davam voz e forma às minhas angústias
existenciais, bem como caminhos pelos quais apaziguá-las e responde-las. Ao ler esses
livros, lembro-me de perguntar a mim mesmo: “o que alguém deveria estudar para
escrever a respeito das questões humanas com tamanha propriedade?” A resposta que
recebi do próprio Sêneca, através de seu livro, foi: a Filosofia. Minha crise de vestibular
despertou-me para o desconforto de aperceber-me ignorante. A filosofia, através de
Sêneca, apresentou-se como antídoto para minha ignorância existencial. A a ideia de
estudar mais profundamente a filosofia foi tomando corpo em meu interior, até que
decidi estuda-la através de um curso universitário. Não abri mão de minha ignorância,
nem fugi à escolha de faculdade, abracei ambas, por mais contraditórias que pudessem
ser. De minha faculdade, três fatos merecem atenção: meu encontro com a obra
platônica, meu encontro com o professor William Altman e minha experiência com a
docência.

Antes da faculdade de filosofia já tinha tido notícia de Platão através de meu pai.
Dizia ele: “Leia os clássicos! Leia Platão! Eles farão sua cabeça”. Portanto, a ideia que
tinha de Platão era a de um clássico cultural e isso, nos idos de meus quinze, dezesseis
anos, não me soava lá muito convidativo. Tendo entrado para a graduação de filosofia
aqui na Ufsc, logo de início fui iniciado à Platão, através da Apologia de Sócrates. A
leitura desse livro me foi marcante. Senti admiração pela figura de Sócrates, por sua
coragem frente à morte, sua fidelidade à verdade e sua argúcia argumentativa. Seduzido
pelo caráter de Sócrates, passei a ler outros diálogos platônicos (tanto por exigência de
disciplinas quanto por busca pessoal). O que mais me agradava (e, aliás, continua
agradando-me) nos diálogos de Platão é a arte e a ironia com as quais Sócrates refuta
aqueles que se julgam sábios. Com alegre surpresa, encontrei uma passagem na
Apologia onde o próprio filósofo afirma: “Mas então, por que algumas pessoas
apreciam passar muito de seu tempo em minha companhia? (...) Gostam de ouvir o
questionamento das pessoas que julgam serem sábias e não o são. Isto é divertido”
(Apologia de Sócrates, 33c).

Minhas leituras da obra platônica levaram-me, finalmente, àquela que muitos


consideram seu livro central: A República. A leitura desse diálogo platônico também
teve um grande impacto em minha formação. À diferença de alguns intérpretes dessa
obra, minha leitura levou-me a considerar como seu tema central não a política, mas sim
a educação. Afinal de contas, a construção da cidade ideal, ali relatada, não passa de um
estratagema para compreender a alma humana. Ela será, justamente, o objeto da
educação platônica, entendida como uma reviravolta da alma, conforme vemos na
alegoria da caverna.

Já interessado na obra platônica, encontrei, na Ufsc, o professor William


Altman, por ocasião de um mini-curso, cuja proposta era fazer uma releitura da
República. Inicialmente não fazia ideia da amizade que se desenvolveria entre nós e da
influência que ele teria em minha visão da filosofia platônica. O professor Altman foi o
primeiro e, por enquanto único, platônico que conheci em minha vida. Uso a palavra
platônico no sentido de uma assimilação profunda da obra de Platão e uma conduta de
vida construída a partir dessa assimilação. As aulas e conversas que tive a oportunidade
de ter com esse professor extraordinário, marcaram-me profundamente. Um dos pontos
centrais de sua interpretação é o sentido eminentemente educativo de toda obra
platônica. Segundo o professor William, Platão é um professor e seus diálogos,
integrados uns aos outros, formam seu currículo.

Concomitantemente aos meus estudos da obra platônica, tive a oportunidade de


trabalhar como professor de filosofia no ensino médio. Inicialmente através de um
programa de iniciação à docência e, mais ao final do curso, através dos estágios de
licenciatura. Essas experiências despertaram-me para a necessidade de tornar-me
filósofo para, então, poder dar aulas de filosofia. Diante dessa necessidade concreta, as
perguntas por o que é filosofia, quem é o filósofo e como formá-lo, ganharam tons
dramáticos. Cá estava eu, ocupando um lugar de autoridade dentro de uma sala de aula,
representando uma tradição milenar de conhecimento, sem ter uma resposta clara à
essas perguntas. Sendo assim, essa dissertação de mestrado conjuga o ensejo de
responder a essa pergunta, bem como o de aprofundar e dar continuidade aos estudos
platônicos que já vinha fazendo. Além dessa afinidade pessoal com a obra de Platão,
reconheço nela o local privilegiado para investigar o sentido original de filosofia, pois, a
meu ver, nela encontra-se o marco fundacional da filosofia ocidental, bem como o
retrato mais marcante do paradigma de filósofo: Sócrates.

Nesse sentido, minha pesquisa de dissertação deveria dar uma resposta às


questões pela filosofia, pelo filósofo e por sua formação. Em sentido mais amplo, ela
deveria conjugar educação e filosofia, dentro da filosofia platônica. Dois textos foram
importantes para dar a forma inicial ao meu projeto de pesquisa: um deles, intitulado
Eros, Paideia e Filosofia, do professor Franco Ferrari; e o outro um livro texto de
filosofia antiga de autoria do historiador da filosofia, Giovanni Reale. No artigo de
Ferrari, o que me marcou foi a perspectiva educativa pela qual o autor lia o diálogo
platônico o Banquete. Sua leitura despertou-me para os elementos educativos presentes
nesse diálogo, que, aparentemente, tinha por eixo central a questão de definir
filosoficamente o amor. No livro de Reale, o que me chamou atenção foi recorrência de
uma certa dinâmica, que o autor observara na obra platônica. A dinâmica de ascensão,
contemplação e descida como exercícios próprios ao filósofo platônico. A guisa de
exemplo dessa dinâmica, o autor comparava três passagens célebres de Platão: a
alegoria da caverna, presente no diálogo a República, a alegoria da biga, presente no
diálogo Fedro e a scala amoris, presente no diálogo Banquete. A alegoria da caverna
dispensa apresentações, no imaginário popular ela é quase sinônimo de filosofia. A
alegoria da biga narra a jornada pela qual a alma humana ascendeu, antes de encontrar-
se em um corpo, até a “campina da verdade”, local onde contemplou as ideias
verdadeiras, contudo, por ser composta de um cavalo desobediente e outro obediente
não pode lá permanecer e decaiu até essa forma encarnada, de onde sente saudades
daquelas verdades contempladas e pode até chegar a trazê-las à sua mente, através da
reminiscência. A scala amoris narra a ascensão, de degrau em degrau como em uma
escada, mediante a qual o amante deixa as belezas perecíveis para trás e torna-se capaz
de contemplar a beleza em si. Ciente de que a alegoria da caverna, com sua dinâmica de
ascensão, contemplação e descida, declaradamente trata do tema da educação filosófica,
vislumbrei, em sua similaridade com a scala amoris, a possibilidade de ler o Banquete
sob o viés da educação filosófica.

Iniciei, então, a construção da dissertação, tendo como elemento central a


analogia entre essas duas imagens platônicas. Entendendo a alegoria da caverna como
um símbolo construído por Platão com o intuito de ilustrar a educação filosófica;
concebi a possibilidade de encontrar, também na imagem da scala amoris, a ilustração
dessa educação. Além disso, através da comparação entre essas duas imagens, a
estrutura comum que delas emergisse poderia apontar-me com mais segurança na
direção da educação filosófica. A medida que fui estudando, essa perspectiva mostrou-
se fecunda, ao ponto de reconhecer na scala amoris uma síntese da educação filosófica,
assim como a alegoria da caverna o é.

Sendo assim, o objetivo geral da dissertação passou a ser a fundamentação dessa


leitura. Em primeiro lugar, é preciso definir esses dois termos: scala amoris e educação
filosófica. A scala amoris

O primeiro capítulo tem por objetivo introduzir o diálogo Banquete através da


exposição de suas três seções (introdução ao banquete; o banquete de Agatão e
fechamento do banquete). Procuramos seguir a linha dramática e argumentativa
conforme o próprio Platão a elaborou nesse diálogo. Entendemos essa introdução é
fundamental para que a scala amoris possa ser melhor compreendida e inserida na
argumentação do trabalho.

No segundo capítulo, o objetivo principal é construir uma leitura da scala


amoris, considerada o clímax do Banquete, como uma síntese da educação filosófica. A
construção dessa leitura inicia-se por uma comparação estrutural entre a scala amoris e
a alegoria da caverna, presente no livro VII d´A República. Considerando a scala amoris
e a alegoria da caverna como narrativas simbólicas, inseridas em contextos e expressas
por imagens diferentes, passamos a examinar aquilo que de comum se apresenta em
ambas: a educação filosófica, que tem por finalidade precípua formar o filósofo, isto é,
aquele capaz de ascender até a contemplação da Ideia. Partimos da definição segundo a
qual o filósofo platônico é aquele que ama “o espetáculo da verdade” 1.

1
Rep., 475 e.
O objetivo do terceiro capítulo é demonstrar de que maneira a ação pedagógica
de Sócrates, conforme observado no discurso de Alcibíades, configura uma descida e,
pela tradução prática dos ensinos de Diotima, faz dele um educador erótico.

Desse trabalho entendemos que tanto a scala amoris quanto a alegoria da


caverna são imagens simbólicas que sintetizam a educação filosófica. Essa educação
filosófica compõe-se de três momentos: ascensão, contemplação e descida. Nesse
sentido, o filósofo é aquele que pode dizer: “lá e de volta outra vez”, pois empreendeu a
jornada metafísica ao mundo suprassensível e retornou à pólis.

Como em todos os diálogos platônicos, ou pelo menos a grande maioria, é muito


difícil restringi-los a um só tema, dadas a riqueza e amplitude dos temas por eles
tratados. Nesse sentido, acreditamos que a atribuição de um tema central a um
determinado diálogo será sempre aproximativa e didática, possivelmente sacrificando
muitos detalhes e aspectos também importantes. Aliás, essa é uma das características
das grandes obras de arte: serem como um poço, cujas profundidades nunca poderão ser
completamente sondadas ou exauridas. Sem pretender esgotar os temas desse diálogo,
que consideramos uma obra de arte, nosso exame buscará ressaltar um de seus aspectos:
o aspecto educativo. Nesse sentido, procuramos construir uma interpretação em que se
possa ver o liame que une Eros, paideia e filosofia. Acreditamos que esse liame pode
ser visto na scala amoris.

1.1- Pessoal
1.2- Textual

1- Estratégia/estrutura da pesquisa
2.1 – Estrutura e métodos da dissertação
2- Resultados da pesquisa
3.1- Orientação moral pessoal
3.2 – Resultado bibliográfica

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