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PanceoS Rodolfo Nari GS Joao Wanderley Geraldi SEMANTICA Sumario 1. Os limites movedigos da semantica Algans pressupostos 2. A relagdo sujeito-predicado Um exemplo de construgio complexa. A ligagio sujeitorpredicado na graméiica ¢ na Wgica cldssica Snjeito, predicado.e inelusto de class ‘A relagdo sujelta-predicado ¢ 0 racioeinio A oracdo: aniilise fregeana Sujeita e verbo: predicada e argumentos Dols tipos de angumertos Sujeito superficial e casos profundes. ‘A deserigio de ages ‘A expressio de processos mentais ¢ relacionais_ 24 Gramatica dos papéit de partiipagio 26 3. Operagdes sobre construgdes complexas —_______28 A nogacko € 0 advérbio 28 A negagio segundo a gramitica 28 A negacéo e « relacao predicado-argumenios —30 Negagdo € unidades injormativas 34 Advérbio 38 4. Oposigdes semanticas_________4l Relagdes entre expressbey________41 Sinonimia e pardtrase —_______42 ‘Sinonimnia lexical —_12 Sinonimnia estrutural —____47 [A paréfrase: fendaveno lingtistico ou sitaacional?— 50 Conseqiténcia (acarretamento) & hiponimia_ $1 Comradigie © antonimia 34 Duplicidade de sentido; ambigtidade & polissemia 37 Pressupesiao 59 5. Significago e contexto 6 © papel da situagio 64 Déixis 64 Atos de fala oo Implicaturas. 15 Fendmenos escalares. 7 Operadores argumentativos. 78 Bacneridade e estrotura da lingua 80 6. Conclusao 84 7. Vocabulario critico. 86 8, Bibliografia comentada 9 1 Os limites movedicos da semantica Alguns pressupostos Espera-se de um livro de iniciagao sobre qualquer disciplina que comeve por uma ow mais definicdes da dis- ciplina em questo, que delimite claramente 0 conjunto de fatos a que a disciplina se aplica, e que enumere ¢ ilustre seus conceitos centrais. Uma iniroducao a semintica cons- truida segundo exse modelo comecaria provavelmente por afirmagées genéricas como “a semintica é a cigncia que sluda a sigaificardo” © prosscguiria expondo um corpo de doutrina supostamente acabado. Duvidamos que esse enfoque seria realmente esclare- cedor para 0 leitor. As posicdes sobre o gue € siguificagio séo intimeray © extremamente matizadas © vio desde 0 realismo dos que acreditam que a lingua se superp6e como uma nomenclatura a um mundo em que as coisas existem objetivamente, até formas de relativismo exteemado, se- gundo as quais é a esjrutura da lingua que determina nossa capacidade de perceber 0 mundo; desde a crenga de que a sigoificaglo de uma expressio fica cabalmente caracteri- zada pela traducio em ovtea expresso, até a crenga de Consideremas, por fim, um exemplo em que 0 advér- bio € ambiguo quanto & sua classificacto: (32) Tristemente José morreu. fem que podemos ter dois significados: (32) a, José morreu de maneira triste, (advérbio de frase); b. Estou triste por informar que José morreu, (advérbio de enunciagao). ‘Tanto no tocante & negacio, quanto no tacunte aos advérbios, a nogio de escopo aos parece vtil para buscar respostas a iniimeras perguntas que ficam em aberto. Es- pperamos ter convencido o leitor de que as respostas deve ser buscadas pelo aprofuadamento da orieatagio geral deste capitulo: os aspectos problemsticos da negacdo € da incidéncia dos advérbios se esclarecem na medida em que enquadramos a oragio em esquemas abstratos, que vio além da observacio superficial das frases ¢ apontam para o processo de producto das mesmas. 4 Oposigdes semanticas Relagées entre expressées Nos capitulos anteriores, perguntamo-nos que signifi cacao corresponde de maneira regular a certas consirugdes gramaticais. Isto deve ter causado surprese, pois € cradi- ional apontar-se como amosira privilegiada da investigi- Gio semintica a desericto do sentido de palavras, tsl como 6 feita nos mais diferentes tipos de dicionérios, mas nunca © estudo do sentido das consirugdes graimaticais. Neste capitulo, vollar-nos-emos para temas seménti- cos mais tradiefonais: trataremos, entre outras, de nogdes como a sinonimia, a anionimia, hiponimia ou a dupli- cidade de sentido. Afastar-nos-emos, contudo, do tipo de tratamento que essas nogGes costumam teceber: por um ado, procuraremos vincular essas nogdes, que dizem res- peito @ palavras, com outras como as de pacdfrase, con- tradigao, conseqiléncia ¢ ambigtiidade, que dizem respeito a frases completas; por outro lado, mosiraremos que, além de descrever rolagies de sentido entre palavras, servem ‘com freqiiénein para reconhecer relagdes de sentido entre cconstrucées gramtaticais ou mesmo cfeitos de sentido orie ginados no contexte. 2 Sinonimia e paréfrase Consideremos as seguintes orayoes (1) Pegue 0 pano e seque 4 louga. (2) Pepue © pano © enxugue a louga. (3) F dificil encontcar esse Livro. (4) Este livso € dificil de encontrar. (5) Esta sala esti cheia de fumaga (6) Abra a jancla Intuitivamente, essas oraghes se retinem aos pares: (1) + 2), G) + 4), 5) + (6). O que nos autoriza, en- quanto locutores, a efetuar esses agrupamentos € a intui- gio de que as oragies de um mesmo par sao — num sentido que teremos de esclarecer — equivalentes quanto 20 seu signiticado: utilizadas num grande nimero de si- tuagdes priticas, elas “dizem a mesma coisa”, Essa relae lo tem sido chamada recentemente de pardjrase. (2) € (2) so parafrases porque empregam as pala- ras sindnimas secar ¢ envugar, (3) ¢ (4) sto pardfrases porque empregam as mesmas palavras € porque us cons: traces sintéticas, embora diferentes, preservam as mes mas relagdes de participagaa dos objetos no processo des- crito: (5) @ (6) S80 paréfrases nda porque as palayra sigaificum a mesma coisa, ou porque a construgto sinté- tica seja semelhante, mas porque, na situagio de uso, tra- duzem a mesma intencdo do locutor e visam obter os :mesinos resultados. Supomos com efvito que (5) serd en- tendida como um pedido para abrir as janelas se for pro- nunciada numa sala irrespirével, Sinonimia foxical © leitor tera observado que reservamos 0 termo sino= nnimia paca caracterizar pares de palavras como secar & a encuger, © que falamos, a propésito das varias frases, em pardjrase. A sinonimia lexical -— uma relacio estabele- cida entre palavras — aparece assim como um dos fatores possiveis pelos quais duas frases se revelam como paré: frases. Mas o que é sinonimia? Bssa pergumta vem intri- gando os esiudiosos ha séculos; hi uma resposta apenas aparentemente simples, segundo s qual sinonimia & iden- tidade de significacio. Hssa resposta precisou conviver sempre com um grande nimero de ressatvas: vamos con- siderar algumas. (a) Para gue duas palavras sejam sindnimas, nao basta que tenham 2 mesma extensio. Diz a lenda popular que, certa vez, 0 rei dos a mais mandow cortar a cabeca de todos 0s bichos de boca grande, Nessa ocasio, perderam a vida o sapo, 2 ra, 0 ipopétamo © 0 jacaré. Se o rei dos snimais tivesse man- dado matar os bichos que passam parte do dia em terra firme, e parte do dia no oharco, as witimas seriam exata- ‘menie as mesmas; mas a expresséo “bichos de boca gran- do” © a expressiio “bichos que passam parte do dia em terra firme e parte do dia no charco” ndo sto sindnimas. © exemplo mostra que, para que duas expressies sejam sinénimas, nao basta que denotem 0 mesmo conjunto de objetos (pessoas, aniantis, coisas); exige-se, além do mais, que os denotem por afusao a uma mesma propriedade, Assim, mesmo que as mocas mais bonitas do meu bairo fossem, por acaso, as filhas do gerente do Banco do Brasil, as duas expresses as mocas mais bonitas do mew bairro © as fithas do gerente do Banco do Brasil no seriam sind- imas, da mesma forma que nao o sao Vie-Ldctea © Ca minko de Sao Tiago (que se referem, entretanto, a0 mesmo conjunto de constelagies) nem Sdo Luts do Marankéio € & nica cidade caplial de Estado brasileiro que ndo fot fundada por portugueses. Em todos esses exemplos a referéncia das duas expresses & idéntica, as duas “4 4s expressdes so coextensivas (tém a mesma extensdo, de- notam os mesmos objetos), mas tém sentidos diferentes. ‘Alim de identidade de extensio, a sinonimia ¢ identidade, de sentido ou, como dizem também os semanticistas, de intenséo (grafado com s). Mas o que se deve entender pot identidade de sentido? (b) Para que duas palavras sejam sindnimas € pro- ise que facam, em todos os seus empregos, a mesma contribuigdo a0 sentido da frase. Saber 0 sentido de uma frase é ser capaz, em cir= cuntincias determinadas, de dizer se ela é verdadeira ou falsn, Duns frases que tém o mesmo sentido, quando refe- tidas 20 mesmo conjunto de fatos, tém de ser ambas ver~ dadeiras, ou ambas felsas. Entendendo que das palavras, siio sindnimas quando contribuem da mesma maneira para ‘9 sentido global das orucdes em que intervém, alguns au- tores desenvolveram um tesie de sinoninaia que pode ser emmuneiado como segue: (©) Duas palavras sao sindnimas sempre gue poder ser substituidas no contexto de qualquer frase sem que a frase passe de falsa a verdadeira, ou vice-versa. Em muitos casos, esse (este strte of efeitos desejados, ow seja, aponta-nos como sindnimas expresses que qualifica- riamos como sindnimas consultando apenas nossas intui- ies de falantes, ¢ declara nao-sinénimas expressdes entre as quais percebemos intuitivamente difercneas de sentido. Assim, calvo © coreca alternam nas frases (7) ¢ em inte meras outras que se poderia imaginar sem alterar a ver- dade ou falsidade das mesmas, confirmando nossa impres- so intuitiva de sinonimia: (7) a, Todo... sonha descer uma ladeira de bici- let com 05 cabelas soltos a0 vento, b. Por razies genéticas, os homens... siv mais numerosos do que as mulheres ©. Para um homem ... 0 maior risco é 0 da insolago, Ainda assim, & sempre possivel encontrar contexios de frase em que © principio (c) falha: sao principalmente contextos em que sc faz implicitamente alusio & forma da palavra, ou se atribuem crengas © conhecimentos a alguém, ou se relata indireta ou ditetamente seu discurso. Podemos, nesse sentido, imaginar frases cuja verdade ou falsidade € afetada precisamente pelo uso das_palavras cabvo e careca, que intuitivamente haviam parecido sind- nimas: (8) a. O Argemiro néo se ittita quando 0 chamam de calvo, mas niio suporta ser chamado de areca. b. © Argemiro nao se icrita quando o chamam de calvo, mas nfo suporta ser chamado de calvo. (8) a. A silaba ténica de “calvo” & a segunda b. A silaba ténica de “careca” ¢ a segunda. (10) a. A tia Felismina acha que Kojak é um calvo charmoso, . A tin Felismina acha que Kojak é um careca harmo. (A primeira orngao poderia ser falsa se “calvo" nao ¢ uma palavra do vocabulirio da tia Felis- mina.) () A sinonimia de palavras depende do contexto fem que sio empregadas, As observagies que acabamos de fazer sobre o prin- cipio (c) mostram que nfo & posstvel pensar a sinontmia de palavras fora do contexto em que sio empregadas; dito de outra maneira, a sinonimia € um fendmeno gradual, ¢ 0 diferentes contextos sia mais out menos exigentes quanto 20 principio (c). Num extremo, temos contexios como 6 (9), que envolvem o uso de aspas; trata-se de contextos extremamente exigentes, que obrigam @ tratar como no. sindnimas quaisquer palavras tradicionalmente apontadas ‘como excmplos de “mesmo sentido”: oftulmologista © né= dico de vista, cloreto de sédiv, ¢ sal de cozinha, aguarraz esséncia de terebentina; mum outro extiemo, temos con- textos como (7), em que @ substituicao nas condigies do critério (¢) € possivel. Essa € talver, a forma mais impressionante de de- peadéacia contextual da sinonimia, mes So & a dnica; nas linguas natucais, como o portugues (em oposigo as Jinguageas artficiais da infosmética}, palavras que sto presumidainemte sindnimes nunca ocorrem em combina- ges. de palavras exatamente iguais: € 0 que se pode ver nestes exemplos: (C11) medo/temor a. morrer de medo / (2) miorter de temor; b, temor panico / (2) medo pinico; ©. Fulano de tal tem um medo que se pela. / Fulano de tal tem um temor que se pele, (12) seco/enxuto a. Bla € 0 tipo da garota enxuta, / Bla 6 0 tipo da garota seca b. Ele € seco por dinhtiro. / Ele € emxuto por dinheiro. ¢. Mandou-nos a resposta numa carta uo estilo dele: eaxuta ¢ amivel, / Mandou-nos a res~ posta numa carta ao estilo dele: seca © amével. Se, como sugeriram virios autores, a significagso de uma palayra é 0 conjunto de contextos lingiisticos em ‘que pode ocorrer, entao € impossivel encontrar dois “sind cnimos perfeitos”. a (e) Palavras presumivelnente sindnimas sotzem sem- pre algum tipo de especializacdo, de sentido ow de uso. © que acabumos de dizer a respeito de contextos lin- guisticos remete a uma outre ressalva necesséria: presuii velmente equivalentes, as expresses sindnimas s#o, sinda assim, expresebes entre as quais os locutores escofhem: a eseolha & 0 caso, ume “procura da palavra exata” (como na pena do escritor que corrige um texto ja escrito), « mosirar que a3 duas expresses ndo so igualmente ade- ‘quadas. 405 fins visados; essa escolha traduz. teqiente- mente a preveupacto de evocar ou respeitar um determi- nado nivel de fala, um determinado tipo de interagio, ou ‘mesmo um certo jatgao profissional: o médico que, apés examinar um pacieate obviamente inculto, fala de edtncer usando a palawra carcinoma ao invés de ferida brava ow simplesmente cfincer esté fazendo uma de trés coisas, ov todas elas juntas: adota um nivel de fala elevado, préiprio de pessoas cultas; desenvolve um tipo de interagdo que coloca o interlocutor em situagdo de inferioridade e earac- terizaese como médieo pelo uso do jargio tipico de sua classe profissional As vezes, a “ousca da palavre cesta” tem objetivos de precisio; por exemplo, porque duas palavras que seriam tercambidveis em contextos informais ussumem sentidos especificas em eontextos téenicos. Assim, roubo aplica-se 4 crimes considetados mais graves pelo legislador do que furto; e, no vocabulério juridico, separagdo, desquite © di- vércia nto sio a mesma coisa, Sinonimia estraturat Dada « dificuldade de fornecer uma definicao sempre satisfatéria de sinonimia, compreende-se que muitos auto res, a0 falar de paniirase, prefiram propor excmplos como (3) E dificil encontrar cate livea. (4) Este Livro ¢ dificil de encontrar. ow scja, exemplos. de pardfrases com fundamento estrus tural. Tnfelizmente, & chamady “sinonimia estrutural” sofre Ge problemas iguais aos da “sinonimia lexical”. Antes de pasar a um comentizio, retomemos dit biblio- srafia Tingiifstica mais recente alguns exemplos de cons truco que garantiriam uma relago de pardfrase entre frases completas: (a) a relagao vor ativa/vor passive: Pedro matou Joo. /Joa foi motto por Pedro. (b) a constracdo de comparativo de igualdade: Pedro é tao bom guauto José./José € tao bom quanto Pedro. (c) a construgéo dos compatativos de superioridade f¢ inferioridade, formuladas nos dois sentidos: Pedro é mais esperto do que Joss./Jose & menos esperto do que Pedzo. (A) a construgao com ter/a construgao com ser de: Pedro tem Joao como amigo./Toa0 & amigo de Pedro. (c) canstrug3es_nominalizadas/consteugtes nio-no- ‘minalizadas: Primeito 0 coral cantou o hino, depois a banda execufou a marcha finebre./O canto do hino pelo coral foi seguido pela execugdo da marcha fiinebre pela banda, (D) construgies com mesmo: ‘Wladimir Zatopek corre 3 000 metros no mesmo tempo que 0 irmio do Jo80./0 imac do Joao conte os 3 000 metros no mesino teinpo que Wa dimir Zatopek A. fista poderia ser comsitcravelmente ampliada, Lembremo-nos upenas que sio possiveis pariifrases a0 ‘mesmo tempo lexicais ¢ estruturais, como (g) © cameld vendeu-me este descaseador de batates que nao funciona. /Comprei do camelé este des- caseador de batatas que nao funciona. ‘Como no easo da sinonimia lexicat, a escolha entre uas Frases sindnimas por razBes estruturais nunca 6 com- pletamente inovente. Assim, a0 passar da vor, ativa para a passiva, fica alterada & atribuigko aos varios petticipan- (8 dos papéis de tema e rema (veja-se 0 capitulo anterior 1 propésito dessas nogies): (13) Pedro matou Joao. uma frase a sespeito de Pedro, ou a respeito do crime cometido por Pedro: (14) Jose foi morto por Pedro. € uma frase a respeito de Joao, ou a respeito do crime de que Jodo foi vitima; (13) nao tem praticamente chance de ocorrer numa hist6ria que narra a vida de Jodo.e na quel Pedro ainda no foi mencionado; com (44) acon- tece o inverso. Alguns estudos de seméntica recente tém mostrado ‘que, embora veiculem 0 mesmo “contetide cognitivo”, (15) Pedro € mais esperto do que José e (16) José ¢ menos esperto do que Pedro. sto habitualmente empregadas para argumentar em sen- tidos contririos: (15) otienta 0 discurso no sentido da esperteza de Pedro; (16) orienta o discurso no sentido da inabilidade de José, (Ver Escalaridade estrutura da lingua.) Talvez o melhor exemplo da precariedade da chamada “sinonimia esicutural” & 0 faio de que frases como (17) © (18) nao nos soam contraditérias: (17) Nao foi o Zatopek que correu os 3.000 mettos no mesma, tempo que o irmdo de Jo%o; foi o immo de Jofio que correu os 3.000 metros no mesmo tempo que © Zatopek. (18) Nao fui eu que comprei este descascador de batatas do cameld; foi ele que me vendeu. (19) Nao fo Napolede que cometea o mesmo erro ‘que Hitler: for Hitler que comeicu © mesmo erro que Napoleao, Em todos esses casos, duas oragies que seriam nom malmente tomadas como pardirases uma da outra sio de- claradas distimas pelo uso do nao: assim, otienta-se 0 uvinte na busca de oposigles ao invés de insistir na iden- tidade de valores. A paréfrase: fenémeno lingdistico ou situacional? ‘Ao cabo dessas consideragdes, deveria ter fieado clara ao Icitor uma ambigiidade que nos parece ser a caracteris- tica mais marcante da pardirase enquanto fen6meno Tin agistico: ela tem um fundamento real em semelhangas de significagio das palavras ou das constragdes gramaticais, mas essas semelhangas nao sto nuinea completas; ao con- trario, revelam-se bastante precérias a uma andlise mais acuada, como aqueia que © semanticista tem obrigacto de fazer, Além disso. podem ser explicitamense negadas pelo falante (como nos exemplos (17) a (19). Assim, 0 re conhevimento de uma relagio de paréfrase corresponde sempre, em algums medida, a um spagumento de diferen- ‘gas que poderiam ser colocadas em relevo. em outros eon textos, ‘Ao examinar nossos exemplos de (1) a (6) € prom véyel que o feitor tenha achado 0 par (5)-(6) diferente dos dois anteriores, pela auséneia de um “fundamento Fine isto” dbvio na semelhanga de sentido dessas oragoes. 51 Questionando a relagao de sentido exemplificada em (1)- -(2) © 3)-(4), a situacio resulta invertida: tanto quanto (5) © (6), os exemplos anteriores dependem, para ser declarados sindaimos, de um juizo subjetive que declara irreievantes as diferengas existentes, ‘Nao aprofundaremos aqui esta nogio de pardtrase: © quc dissemos deveria bastar como intsoducdo aos es eritos de Catherine Fuchs sobre o tema, ¢ como resposta vidvel para as reagSes ambivalentes que a parifrase tem provacado: a parifrase € encarada ora como distoreao ora como esclarecimento exato ¢ pontual do sentido das ex- presses. Conseqiiéncia (acarretamento) ¢ hiponimia Consideremos agora outro conjunto de expressées: (20) Um sargenta da guarda rodoviaria nos pedia os documentos do Fiat, (21) Uw policial nos pedin os documenios do carro. (22) Mie, quebrei o vidro de geléia. (23) Mie, o vidio de geléia quebroa, . possivel estabeiecer relagdes de significagdo entre os pares desse conjunto. © falante que afirma (20) accita necessariamente a verdade de (21}, e€ o mesmo acontece vom © par (22)-(23). Tal selacdo tem sido denominada dc warretamento, © acarretamento entre (20) e (21) resulta da relacdo existenie entre “am sargento da guarda rodovidria” e “um policial”; e entre “Fiat” & “carro”, 1e- Jago esta que a semdntica moderna denominow de hipo- nimia, Também entre (22) © (23) ha acarretamento: note-se que quem aceita (22) como verdadeira ao pods deixar de admitir (23); entretanto a criangs que afirma (23), diferentemente daguela que afirma (2), consegue omitir sua participagdo no processo, O que fundamenta 2 4 relugio de acarretamenio entre (22) © (23) & 0 fato de que foi utilizado num caso o esquema gramatical pro- prio dos verbos transitivos na voz ativa em que a identifi cago do agenie & obrigatéria; no outro caso foi wiilizado © esquema da vo média, em que s6 € indispensével iden- tifiear o objeto afetada pela agio. Para indicar a relagao que intercorre entre “sargento da guarda rodovidria” € “policial", langamos mio da no- gio de hiponimia, A relacio hiponimia & aquela que ater corre enire expresses com sentida mais especifica © ex presses genézicas, por exemplo, entre geladeira, liquiditi- cador, batedeira de botos, ferro elétrico ete. e eletroda- méstico; 6 a relagio que intercorte entre pardal ¢ passa- rinko, € que verbalizamos dizendo que “todo pardal & um passarinho, mes nem todo passerinho é um pardal”. Nao h4 por que nao estender 0 conceito de hiponimia as construgdes complexas: a coustrucdo ativa exemplifi- cada em (22), na medida em que € mais exata do que a construgio média exempiificada em (23), € sua hip6aima, © mesmo podendo-se dizer de (24) em relagdo 4 (25): (24) A intitagdo de Pedro com a incompeténcia dos: funciondrios, (25) A iritagao de Pedro, @ de imimeros outros casos. A relacio de hiponimia estratura 0 voeabubirio da Jingua em grandes quadcos classificatSrios, mais ou menos hharmoniosos: os exemplos mais eélebres vem das ciéacias naturais, com suas classificagdes de animais e plantas: tums onca € um felino (€ a0 um ruminanze), portanto, cum mamifero (¢ nto um répril), porianio, um vertebrado (© nio um crustéceo), portanto, um animal (@ nao um vegetal). A hiponimmia afeta o discurso de varias maneiras: por ‘exemple, quando num discurso longo se sucedem dite rentes alusées a um mesmo individuo, & normal que esas, alusdes se.facam por meio de expresses cada vez. mais abrangentes: (26) Na entrada da garagem havia um Volkswagen sedan estacionado, encostado numa caminho- eie, Pela posiclo do carro, Pedro percebeu que néo conseguiria entrar em casa. Posse entéo a buzinar furiosamente, esperando que 0 proprietario do veiculo sparecesse Menos ficeis de compreender — e as vezes franca mente jncompreensiveis — sdo os discursos em que as diferentes alusdes a um mesmo objeto se fazem asando palavras na ordem inversa: do mais geral e abrangeate 20 mais especitico: (27) Na entrada da garagem havia um veieulo esta- cionado, encosiado numa caminhonete. Pela posicdo do carro, Pedro pereebeu que nao con- seguiria entrar em casa. Pés-se enitio a buzinar furiosamente, espetando que 0 proptietério do Volkswagen sedan aparevesse. Nao discutiremos aqui a dupla origem — situacional ‘ou Lingiistica — das relagdes de acarretumento que esta- belecemos entre oragbes: seria repetir em grande parte nossa discussio da sinonimia. Scja lingiistico ou situacio- nal o seu fndamento, a relagéo de conseqiiéncia entre oragdes € exiremamente importante: compreender corre- tamente uma frase & numa situaczo dada, saber enumerar todas as suas conseqiiéneias. Assim, de alguém que afir- masse (28) Visiter o capeléo militar da regio de Sao Paulo hé alguns dias. € negasse simultaneamente tet estado com um padre, po- deriamos pensar com razio que mentiu, fez um jogo de palavras ou simplesmente ndo conhece lingus. 34 Contradigéo € antonimia Para completar 0 quadro das relagies de sentido que se podem estabelecer entre oragies, falta considerarmos, 9 caso em que duas oragées tém sencidos incompativeis com a mesma situagio, Pode-se obter essa situacdo de incompatibilidade apro- ximando uma oragdo € a negagdo de sua sindaima; ow uma oraco ea negacio de uma de suas consequéncias: (29) Pedro € bigamo, mas nao é verdade que ete itenba duas mulheres (30) Sao Pedro era mais velho do que So Joao, mas ndo era verdade que tivesse nascido antes Mas 0 caso mais Sbvio de aproximagio de afiemativas incompativeis & aquele em que se predicam de um mesmo individuo propriedades opostas: (31) Rocky foi um cachorro manso mas foi muito feroz. (22) Napoledo gostava de pizza mas detestava pizza (3) Ovubo & 0 riome que o eélebre escultar chinés baiano Pong Ping dou a uma escultura oval em forma de cubo. A relacio que fundamenta essas incompatibilidades € a de antonémia, wim termo que tem sido aplicado a pares de palavras como branco/preto; coloride/incolor; bom/ /mau; chegar/partirs, abvir/fechar; nascer/morrer, todo/ /nembura, dificil explicitar © que fié de comum em todos esses ‘exemplos. Nesse sentido, ha muito pouco de aproveitivel fem definigdes tradicionais, coma aguelas que filam em “contratio” ou “oposto”, De fato, naxcer ¢ morrer no exprimem exatamente agdes contrérias: repcesentam antes 65 dois momentos extremos do process de viver: quem nasce “comeca a viver" e quem morre “termina de viver” 55 — uma oposicio que consiste em captar momentos dife- rentes de am mesmo processo, ¢ que se reproduz em partir © chegar (quem parte comeca a visjar, quem chega ter mina de viajar), adoceer/sarar, adormecer/acordar et. Com abrir e fechar a relagio é diferente: nio se trata, evidentemente, de momentos necessirios de um mesmo proceso (pode-se abrir um burseo na parede que, munca mais serd fechado), mas de protesios diferentes pela dire cdo € pelos resultados que implica; ¢ 0 mesmo caso de aproximar-se © afastar-se, subir © descer et. © caso de dar e receher & ainda diferente: reportan- do-nos & interpretagio das oragies como indicando “pe- qnenas eenas” (ver Sujeito superficial casos profundos), dar ¢ receber, lembre-se, poderiam set tomades como des- crigio de uma mesma cena, enxergada d¢ pontos de vista diferentes: a oposigdo se estabelece agora entre os papéis, conespondentes a0 sajeito gramatical: o sujeito de dar é fonte, o de receber é destinaticios esses dois paptis si0 apareniemente incompativels nas cenas em questto. ‘Ao invés de tentae sistematizar a nogo de antonimia, que nos levaria a uma discussdo intrineada, formulamos aqui duas observagées: ‘) raramente duas expresses em oposigto esto no mesmo pé de igualdade no uso corrente. Os lingiiistas cos- tumam dizer que uma das duas é marcada, e isto corees- ponde nao sé-a uma maneira peculiar de interagir com a negacao, mas também ao fato de que dois termos do par antonimico nao se utilizam com os mesmos fins nas pet- guntas, ¢ mio se prestam igualmente @ retomadas anafi- rieas: (34) © Sr. sen pai esté bom? (35) © Sr, sew pai esté mau? (36) Gostaria de saber a que distancia fica a base aérea, (31) Gostaria de saber a que proximidade fica a base aétea, (G8) Estamos pesquisando quio fortemente repercu- tiw nas vendas de nosso produto o lancamento de um produto coavorrente. (39) Bstamos pesquisando quao fracamente repetct- tig nas vendas de nosso produco o lancamento de um produto concorrente. (40) 0 hospital fica a 500 metros do local do aci- denic. Para cobric essa distincia, « ambulincia levou ume hora (415 © hospital fica a 500 metros do local do aci- dente. Para cobrir essa proximidade a ambu- Jancia levou uma hora 1b) a scgunda observaydo ¢ que nfo hi combinagio de informagées contradiaGrias que nio resista a um esforeo motivado de intecpretagéo, Como figuras de linguagem, ou interpretadas jocosamente, expresses como 9 higamo que do tem duas mulheres, Séo Joo mais novo mas nascido antes que Sao Pedro, 0 cachurro manso bravo ow a escul- ura exibica oval sao expresses accitéveis da linguagem cortente € acabam veiculando informagdes como gualquer combinagao de palavras ndo-contraditéria, Aqui, apace tomente, a eontradigao literal, que poderia ser peasada como um defeito irremedivel, capaz de inutitizar a exe pressio para qualquer fim comunjcative, &, a0 contritio, utilizada como indicio do caréter insélito da informagic que se pretende passar ¢ assim desempenha um papel posi- tivo nas estratégias verbais do locutor. Nao Fosse assim, ¢ nés no estariamos nos interro- gando até hoje sobre 0 sentido gue se quis dar no passada u frases como 0 tudo que & nuda, o particular & universal, © outras 3 Duplicidede de sentido: ambigitidade e polissemia Os exemplos (42) © cadiver foi encontrado perto do baneo, (43) Pedro pediu a José para sair. (44) José no cousegue passar perto de um cinema, compartilham a propriedade de ser ambignos, ou seja, de admitir interpretacbes (“leituras” diriam alguns) alterna- tivas, No caso de (42) a alternativa § que 0 encontro do cadaver pode ter-se dado nas proximidades de uma case banedria ou de um assento de Jardim, Aqui, 2 raiz da ambigiiidade 6, evidentemenie, a palavra Banco, cuja pro- nincia (e escrita) corresponde a dois sentides completa- mente independentes. Banco — estabelecimenio bancério — € banco ~~ assento para mais de ama pessoa, com ou sem encasto, sem bragos, tipico dos jardins — ‘so duas palavras homénimas € a homonimia é freqtientemente a raiz de uma ambigtidade oa dupia leituza de frases. No caso de (42), além de homonimia (uma x6 forma ¢ d seatidos completamente diferentes), ha também homogra- fia (uma s6 forma escrita). Em muitos outros casos, as palavzas homdnigias nfo sio homégrafas, isto é, escre- vem-se de maneiras diferentes. Fo caso dos dois exem- plos (45) © (46), que nao apresentam nentnma ambi- allidade em sua forma escrita, mas que se confundem na fala: (45) Margarida Mendes dronxe os ovos na sexta, (46) Margarida Mendes trouxe os ovos na cesta, A ambigiiidade de (43) nada tem a ver com pala- vias de duplo sentido: cada uma das expresses que a compiem é univoca, isto é, dotada de um sentido tinico; © que cria uma dupla possibitidade de interpretacio € a estrutura sintétiea: a0 passo que o verbo pedi tem um sujelto expresso, o infinitivo sair néo tem sujeita explicito, © pode ser referido tanto a Pedro quanto a José; (43) se poderia utilizar-se assim para relater qualqacr uma das duas histérias seguintes: (47) Pedro pediu permissio a José para sair um pouco. (48) Pedro pedin a José que fizesse 0 favor de sair tart pouto. Ambigiidades como 2 que acabamos de exemplificar (freqiientemente sio chamadas de “ambigiiidades estram- rais") combinamese. as vezes com ambiglidades de natu reaa homonimica. Eo que acontece em (49) Unia Touca leva © guard a) uma pessoa fora do juizo (= louca) car rega (=: leva) © guard, b) uma multidio (= ieva) louca o vigia (= guarda, verbo guardar) A ambigiiidade gue pretendemos ilustrat por meio de (44) mao diz respeito ao que (44) significa litergimente, mas as informagdes que o locutor poweria verossimilmente transmitir por seu intermédio sobre a maneira como José se relaciona com x ojtava arte: ao ouvie (44), parece-nos pouce provivel que o falante competente de lingua por- fuguesa se contente com © sentide literal (José ¢ fisica- mente incapaz de passar perto de um cinema). Sabéndo, ppor hipdtese, que José goza plenamente de sua vapacidade Fisica de caminhar, u ouvinte teataré extrair de (44) um sentido ndo-literal. Aqui, ama grande gama de alterns- tivas nao-literais so possiveis, mas algumas parecem privi- legiadas: (50) que José € fandtico por cinema, e mio conse- gue passar perto de um sem entrac e assistir 20 filene em cartar; (51) que José tem horror a cinemas (no consegue nem chegar perto de um) € que a simples pers pectiva de passar perto de um 0 leva a mudar de calgada. Jogando com indicias de virin ordem (que vio desde a entozeav até as indicagdes do contexto lingtiistico ¢ extrar Engiifstico e a lingiagem gestual), quem onve (44) orien= ta-se em diregdes altemaiivas. Trata-se de um tipo parti- cular de ambigiiidade — cujo fundamento ¢ situacional, nndo lingiistico; nem por isso se trata de um caso secune dirio ou negligencidvel. Voltaremos ao assunto a0 tratar- mos, mais adiante, das chamadas implicaturas conversa. cionais. Pressuposicao Outra relacdo de sentido que se pode estabelecer entre forages & exemplificada por (52) Pedro parow de bater na mulher. (53) Pedro batia na mulher, no passado, (54) Pedro no bate na muller, atualmente As oragies (53) e (54) verbalizam separadamente duas informagoes que aparecem juntas em (52) e repre- sentam cuas situagdes que sto Teferidas respectivamente 4 um anoinento pasado (Pedro batia na mulher) © 90 presente (Pedro nao bate na mulher). Nao ind divida de ‘que esse desdobramento se vinenla & presenga em (52) do verbo parar de: & por assim dizer, 0 verbo parar de, utilizado como auxiliar junto bater, que nos leva a dis- tinguir um momento pasado em que Pedro batia na mu- Ther © um momento presente em que isso no ocorte, ‘AS expressbes que, como o verbo parar de, nos levam # reconhecer duas informagées distintas numa mesma otagao so relativamente comuns; a identificacto dessas expresses havia Ievado, |& no perfode cldssico, & teoria chamada dos “exponiveis”, uma teoria segundo = qual certos enunciados contém dois ou mais “jufzos”, que uma oo andlise euidadosa pode “expor", ou seja, explicitar, Alguns, exemplos tipicos de andlise segundo a teoria dos exponi veis S80) (5) Jodo continua a irabalhar no bance. a. Joao trabalhava no banco (num tempo an~ terior & enunciacio) b. Jodo trabelli no baneo (no tempo da enun- iagio). (56) A empregada 56 tavou a louga a. A empregada layou a louca. b. A empregada mio fer os outros servigas (por exemple, eaxugar 4 louga, varter a corinha etc.) (57) Maria sabe que Pedro costuma malufar a. Pedro costuma malufar. b. Edo conhecimento de Maria que Pedro cos- tuma malufar. (58) Pedro certificow-se de que havia fechado a porta. a. Pedro havia fechado a porta 'b, Pedro. procusou comprovar se/que havia fechade a porta Numa linha de reflexdo que lembra a da teoria dos exponiveis, Frege observou no fim do século passado que, ao indagar sobre a verdade ou falsidade de oraotes coma (59) © deseobridor da forma eliptica da érbita dos planetas morreu na miséria admitimes implicitamente que existiv alguém que descobriu a forma eliptica da drbita dos planetas; desse modo, Froze aponta de mancira bastente precisa para a necessidade de desdobrar (59) em dois enunciados distintos: (59) a. Existin alguém que descobriu a forma elip- da érbita dos planetes, b, Esse algaém morréa na miséri, a Algin de apontar para o desdobramenio, Frege fez ‘na mesma ocasiio duos consideragies fundamentais: em primeico lugar, observou que quando negamos (59), a negacao afetn 0 comteide (59)6, mas née © contetido (59)a; em segundo lugar, considerando que a negacio afeta os contetidos declarados de uma senienca e que (59)a nao é afetado pela negagio de (59), concinin que (59)a no é um contetido deciarado. Ao conteddo (59)a de (59) Frege aplicou entio o nome de "pressuposigo” iniciando uma linha de discassao que constitui hoje um dos Principais capitulos da semintica l6gica ¢ lingtistica Seguindo 0 uso de Frege, diremos aqui que uma frase pressupde outra toda vez que tanto a verdade como a falsi- dlade da primeira acarzetam a verdade de segunda. E 0 que avontece com (52) em relage a (53) ((52) nio pode ser verdadeira nem falsa se (53) no for verdadeira); ¢ tam- bém 0 que ocorre com (55), (56) @ (57) em relagio aos contetidas a. Nao se pense, contudo, que ha pressuposicao toda vez que 0 contetide de uma oracio se desdobra: (60) nfo pressupde. (60)a: (50) Pedro eertificou-se de que havia fechado a porta. (60). a, Pedro havia fechado a porta embora (60) acarrete 2 verdade de (60)a; a negecio de (60) & petfeitamente compativel com uma situagdo em que (60) a fosse falsa, como mostra (61) Pedro nao se cettificou de que havia fechado a porta, ¢ de fato a porta tinha ficado aberta Comparando (60) com os outros exemplos discutidos, po- demos distinguir com preciso acarretamento © pressupo- sigdo: uma oracdo acarreta outra quando a verdade da pri- meiza toma inescapavel a verdad da segunda; € 0 caso de (60). Uma oracio pressupie outra quando a verdade ¢ a falsidade da primeira tornam inescapdvel a verdade da segunda, Eo caso de (52), (55), (57) © (59). Em rest: a ‘mo, € possivel definir pressuposigio como um tipo com pplexo de acarretamento, mas a pressuposicao & uma relacio incrinsecamente “mais forte’, j& que, por assim dizcr, resiste aos efeitos da negacao. Acrescentemos que 2 informacao pressuposta “resiste” nfo 6 fi negagio, mus ainda 3 interrogacae. Por exemplo, ra interrogativa correspondente 2 (52), (62) Pedro parou de ater na mulher? fica preservada a informagaio pressuposia de que Pedro batia na mulher no pasado. Qutra caracteristica da pres- suposigio & que, a0 encadear oragies que veiculam con- tetidos pressuposios, 0 nexo expresso pelos conectivos ma afeta nunca estes conteddos, Tome-se por exemple (63) Joo continua a trabalhat no banco porque nao encontrou outro servico. (63) pressupde que Joio trabathou no banco no passado; © declara (ou “pie”, termo que se Bxou para indicar as informacdes declaradas, passivcis de negagao, em oposicio as informagées pressapostas) que Jogo trabalha no banco atualmente. O fato de que ele nao encontrou outro servigo € motivo para ele trabalhiar no banco atualmente, para cou- tinmar bancério, ndo para ele ter trabalhado como bancario no. passado. E imeressante ter em mente que as “expressdes intro- Gutores de pressuposi¢ao” constituem um leque bastante variado, em que se incluem nao si advérhias (até, s6 ete.), conjuneses (a8 conjungdes concessivas ¢ temporais. na matoria de seus empregos) ¢ um bom atimero de verbos que regem subordinadas substantivas (esquecer que, adi- vinhar que, saber que, conseguir que ete.), mas ainda ver- dadeiras constragées gramaticais: uma dessas construcbes € a chamada “construgio de realee”: & gue. Damos a seguir algumas frases em que essus palavras introduzem pressu- posigdes: (64) Pedro gosta principalmente de mulheres. Pressuposto: Pedro gosta de mulheres. (65) Pedro adivinhou que a mulher o trata. Pressuposto: A mulher de Pedro o trafa, (65) Santos Dumont € que inventou o aviao. Pressuposto: alguém inveatou 0 avigo. © fendmeno da pressuposiglo — que tratamos até qui como um tipo de relagao entre oragées — tem sido objeto, em lingliistica, de dois outros enfoques, que con- vim apontar, No primeito desses enfoques, a informagiio pressuposia € uma condicdo de emprego da oraso que a pressupde, Isso quer dizer que o falante uZo estaria usando ‘apropriadamente nossa oracio (52) se nia confiasse na verdude de (53) ¢ se nio tivesse razdes para acreditar que (53) & de algum modo conhecida por seu interlocutor, Previamente ao uso de (52). No segundo enfoque, a pres- Suposigdo aparece como um mecanismo de atuago no dis- curso. Vatendo-se do fato de que as informagdcs pressu- ostas niio so passiveis de negagao, o locutor as utiliza para impor ao seu interlocutor um quadro em que o dis curso previsard desenvolver-se; nesse enfoque, a pressupo- sigio funciona como um recurso que o locutor, ativamsente, ‘caiprega para estabelecer limites 8 conversagao e para dire. ciond-la, Num sentido quase juridico do termo, como fala Duerot, a pressuposicdo é entGo utilizada para configurar, por tras das informagdes. passadas, uma “verdade™ que io pode ser contestada sob pena de bloquear 0 didlogo. Assim, 0 locutor que pronuncia (52) pode, de fato, estar impingindo @ seu interlocutor que Pedro bateu na mulher no passado; e uma refutacdo por parte do interlocutor equi vale a transformar a conversagio em polémica, Os tres cenfoques que enumeramos iluminam aspectos diferentes do fendmeno da pressuposigio, Esses enfoques tém sido motivo de debate acitrado, que néo reproduziremos aqui.

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