Prática Trabalhista – Da Resposta do Reclamado
1. Características
Uma vez notificado (citado) sobre a existência de um processo, como
decorrência dos princípios do contraditório e da ampla defesa (CF, 5º,
LV), o reclamado tem a faculdade de responder à pretensão posta em
juízo pelo reclamante, ou até mesmo se manter inerte. Se optar por
responder, poderá contestar, apresentar exceções ou reconvenção (até
mesmo as três, cumulativamente). A CLT disciplina a contestação no art.
847 e a exceção nos arts. 799 e ss. Outras modalidades previstas no CPC
são compatíveis com o DPT, como: reconvenção, ação declaratória
incidental e reconhecimento jurídico do pedido.
∆ O momento para apresentação da defesa é a audiência, no prazo de
20 minutos, de forma oral, depois da leitura da inicial, ou quando esta
for dispensada (CLT, 846 e 847). Se houver mais de um reclamado no
polo passivo, cada um deles terá 20 minutos para aduzir a resposta.
Nas varas que adotam o processo eletrônico, a contestação,
reconvenção ou exceção, e respectivos documentos, devem ser
encaminhados eletronicamente antes da realização da audiência
designada para a defesa.
2. Contestação
∆ Princípio da contestação específica: Não é permitida a
contestação genérica ou por negação geral. Cabe ao réu impugnar um a
um fatos narrados pelo autor, pois os fatos não impugnados são
presumidos verdadeiros (presunção relativa, que pode ser elidida por
prova em contrário). O que torna a questão controvertida, de modo a
suscitar a dúvida que reclama prova, é a impugnação precisa dos fatos
alegados – se o reclamado, desatento ao princípio da eventualidade,
impugna superficialmente a pretensão, apenas deduzindo não sendo
verdadeiras as afirmações do reclamante, deixando de contestá-las fato
por fato, parcela por parcela, reduz o campo da controvérsia e corre o
risco de sucumbir caso não venha a ser acolhida a primeira impugnação.
Incumbe ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações de fato
constantes da petição inicial, presumindo-se verdadeiras as não
impugnadas, salvo se: I - não for admissível, a seu respeito, a confissão;
II - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei
considerar da substância do ato; III - estiverem em contradição com a
defesa, considerada em seu conjunto. O ônus da impugnação
especificada dos fatos não se aplica ao defensor público, ao advogado
dativo e ao curador especial (CPC, 341).
∆ Princípio da eventualidade: incumbe ao réu alegar, na
contestação, toda a matéria de defesa, expondo as razões de fato e de
direito, com que impugna o pedido do autor e especificando as provas
que pretende produzir (CPC, 336).
--- Defesas processuais (ou defesas indiretas): são arguidas como
matéria preliminar. Não se dirigem diretamente aos pedidos do autor,
buscando a extinção da relação processual. Podem ser: a) dilatórias:
quando apenas dilatam o curso do processo, sem extingui-lo, como as
incompetências material e funcional; ou b) peremptórias: quando visam
a extinção do processo, como a coisa julgada, a perempção e a
litispendência. (CPC, 337) Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito,
alegar: I - inexistência ou nulidade da citação: a citação é pressuposto
de existência para o processo – se esta não se efetivar, a relação
jurídico-processual será nula; II - incompetência absoluta e relativa: a
Guilherme Udre
competência em razão da matéria e funcional são absolutas, devendo
ser invocadas em preliminar de contestação e, caso acolhida, deverá o
Juiz do Trabalho encaminhar o processo ao juízo competente em razão
da matéria – a competência em razão do lugar, relativa, deve ser
invocada por meio de exceção (a praxe e a jurisprudência têm admitido
tal exceção no bojo da própria contestação); III - incorreção do valor da
causa; IV - inépcia da petição inicial: nulidade insanável (TST, Sum 263),
“considera-se inepta a petição inicial quando: I- lhe faltar pedido ou
causa de pedir; II- o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses
legais em que se permite o pedido genérico; III- da narração dos fatos
não decorrer logicamente a conclusão; IV- contiver pedidos
incompatíveis entre si” (NCPC, 330, §1º); V- perempção: no DPT, em duas
situações: a) caso o reclamante dê ensejo a dois arquivamentos
seguidos pelo não comparecimento à audiência (CLT, 732) e b) tendo
apresentado ao distribuidor reclamação verbal, não se apresentar, no
prazo de 5 dias, à Vara para tomar a reclamação por termo (CLT, 733). A
ação trabalhista, ainda que arquivada, interrompe a prescrição somente
em relação aos pedidos idênticos (TST, Sum. 268); VI - litispendência; VII
- coisa julgada: quando se repete ação contendo as mesmas partes,
mesmo pedido e a mesma causa de pedir de uma ação anterior já
decidida de forma definitiva; VIII – conexão: quando for comum, a duas
ou mais ações, o pedido ou a causa de pedir. Pode ser reconhecida de
ofício pelo juiz; IX - incapacidade da parte, defeito de representação ou
falta de autorização; X - convenção de arbitragem; XI - ausência de
legitimidade ou de interesse processual; XII - falta de caução ou de outra
prestação que a lei exige como preliminar; XIII - indevida concessão do
benefício de gratuidade de justiça.
--- Defesa de mérito (ou substancial): deve ser deduzida
integralmente no corpo da contestação. Podem ser: a) direta: quando
atacar diretamente os fatos declinados na inicial, negando a existência
do fato constitutivo do direito do autor; ou b) indiretas: quando não
negar os fundamentos do autor, mas trouxer fundamentos novos ao
direito material (pagamento, prescrição etc.) ou aduzir fatos
modificativos, impeditivos ou extintivos do direito do autor.
Compensação ≠ Retenção ≠ Dedução: tanto a compensação
quanto a retenção só podem ser arguidas como matéria de defesa (CLT,
767), estando precluso esse direito se for invocado após a fase
defensiva. Compensação é forma de extinção das obrigações. No DPT,
ocorre: a) se duas pessoas, ao mesmo tempo, forem credora e devedora
uma da outra, extinguindo-se a obrigação até onde se compensarem; b)
dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis; c) é necessário o
requerimento do reclamado em defesa – não podendo ser conhecida de
ofício pelo Juiz. A compensação só poderá ser arguida com a contestação
(TST, Sum. 48). Exemplo: é possível o reclamado-empregador compensar
o aviso prévio não concedido pelo empregado, quando este pedir
demissão. Já a dedução, diferentemente, é a possibilidade de o juiz,
de ofício ou a requerimento, verificando os recibos e o pagamento de
partes das verbas postuladas, determinar que sejam abatidos, do total
da condenação, os valores já pagos, a fim de evitar o enriquecimento
sem causa do reclamante (portanto, matéria de ordem pública), podendo
ser alegada e conhecida em qualquer tempo. Exemplo: o reclamado-
empregador sendo condenado ao pagamento de horas extras, poderá
ser deduzida as horas extras já pagas. Retenção consiste em não se
devolver a coisa que se retém legitimamente, para compelir-se o
proprietário a um pagamento a que está obrigado. É o direito de o credor
conservar, sob sua posse, a coisa, de forma legítima, até que seja
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adimplida a obrigação. Exemplo: o empregado vendedor pracista, a
quem foi confiado um mostruário da empresa, pode recusar-se a
devolvê-lo enquanto o empregador não lhe pagar os salários atrasados.
“Depois da contestação, só é lícito ao réu deduzir novas alegações
quando: I- relativas a direito ou fato superveniente: o art. 462 do CPC
(342), que admite a invocação do fato constitutivo, modificativo ou
extintivo do direito, superveniente à propositura da ação, é aplicável de
ofício aos processos em curso em qualquer instância trabalhista (TST,
Sum. 394); II- competir ao juiz conhecer delas de ofício: o juiz pode
conhecer de ofício as chamadas matérias de ordem pública, que podem
ser invocadas a qualquer tempo, desde que propicie o contraditório
prévio, antes do trânsito em julgado da decisão – as hipóteses do 337
do NCPC, exceto convenção arbitral e incompetência relativa; III- por
expressa autorização legal, puderem ser formuladas em qualquer
tempo e grau de jurisdição” (NCPC, 342). Doutrina e jurisprudência tem
entendido que mesmo as matérias de ordem pública não podem ser
invocadas pela primeira vez nos recursos de natureza extraordinária
(recurso extraordinário, recurso especial, recurso de revista), em razão
da necessidade de prequestionamento da matéria no segundo grau de
jurisdição.
3. Exceções
As exceções são defesas dirigidas contra o processo, e não contra o
mérito, não visam à improcedência do pedido, mas sim a trancar o curso
do processo, provocando sua extinção sem resolução do mérito, ou a
dilatação do seu curso. São dilatórias quando distendem o curso do
processo, sem extingui-lo (por exemplo: exceção de incompetência, de
suspeição e de impedimento); e peremptórias quando visam à extinção
do processo (por exemplo: o rol de preliminares do 337 do CPC,
destacando-se a coisa julgada, a litispendência e a perempção). “Nas
causas da jurisdição da Justiça do Trabalho, somente podem ser
opostas, com suspensão do feito, as exceções de suspeição ou
incompetência; as demais exceções serão alegada como matéria de
defesa” (CLT, 799). As exceções peremptórias devem ser arguidas como
matéria de defesa (preliminar). Já as dilatórias devem ser invocadas
separadamente, com suspensão do feito – incompetência em razão do
lugar e suspeição.
∆ Impedimento: de acordo com o NCPC, art. 144. Há impedimento do
juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo: I - em que
interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou
como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como
testemunha; II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo
proferido decisão; III - quando nele estiver postulando, como defensor
público, advogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge ou
companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta
ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; IV - quando for parte no
processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou parente,
consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau,
inclusive; V - quando for sócio ou membro de direção ou de
administração de pessoa jurídica parte no processo; VI - quando for
herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das partes;
VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha
relação de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços;
VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu
cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta
ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por
Guilherme Udre
advogado de outro escritório; IX - quando promover ação contra a parte
ou seu advogado. § 1o Na hipótese do inciso III, o impedimento só se
verifica quando o defensor público, o advogado ou o membro do
Ministério Público já integrava o processo antes do início da atividade
judicante do juiz. § 2o É vedada a criação de fato superveniente a fim de
caracterizar impedimento do juiz. § 3o O impedimento previsto no inciso
III também se verifica no caso de mandato conferido a membro de
escritório de advocacia que tenha em seus quadros advogado que
individualmente ostente a condição nele prevista, mesmo que não
intervenha diretamente no processo.
∆ Suspeição: de acordo com o NCPC, art. 145. Há suspeição do juiz: I -
amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados;
II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa
antes ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das
partes acerca do objeto da causa ou que subministrar meios para
atender às despesas do litígio; III - quando qualquer das partes for sua
credora ou devedora, de seu cônjuge ou companheiro ou de parentes
destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive; IV - interessado no
julgamento do processo em favor de qualquer das partes. § 1o Poderá o
juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem necessidade de
declarar suas razões. §2o Será ilegítima a alegação de suspeição
quando: I - houver sido provocada por quem a alega; II - a parte que a
alega houver praticado ato que signifique manifesta aceitação do
arguido. #Atenção! Recebida a exceção de impedimento ou suspeição,
deverá o juiz suspender o feito. Se o juiz reconhecer o impedimento,
encaminhará o processo ao seu substituto legal. Caso mão reconheça,
quem deve julgar as exceções de impedimento e suspeição arguidas em
face de Juiz do Trabalho é o TRT, e não o juiz monocrático (revogado o
CLT, art. 802).
∆ Exceção de incompetência (relativa). Apenas a incompetência
relativa pode ser alegada por meio de exceção (a incompetência
absoluta deve ser alegada em preliminar de contestação, e sendo
matéria de ordem pública pode ser alegada a qualquer tempo). Sendo
relativa, deverá ser apresentada no prazo de resposta, não podendo
ser declarada ex officio. Não cabe no caso de uso, pelo trabalhador, da
faculdade prevista na CLT, 651, §3º. Com efeito, não havendo
requerimento no prazo da resposta, tem-se a prorrogação da
competência, ou seja, o juiz, inicialmente, incompetente, passa a ser
competente (TST, Súm 33). Apresentada a exceção de incompetência,
será concedido ao reclamante (exceto) o prazo de 24 horas
(improrrogáveis) para ter vista dos autos e manifestar-se; sendo a
decisão proferida na primeira audiência que se seguir (CLT, 800). A) se
rejeitada, o processo continua – não cabendo recurso de imediato; B)
sendo acolhida, os autos serão encaminhados ao juízo competente –
sendo remetido a TRT diferente do excepcionado caberá recurso
imediatamente (TST, Sum. 214, c).
4. Reconvenção
A CLT é omissa quanto à reconvenção, aplica-se o NCPC. Embora seja
uma modalidade de resposta do réu, é na verdade um contra-ataque,
onde o reclamado ajuíza ação em face do reclamante. O processo será
único, mas terá uma demanda originária e outra reconvencional. É mera
faculdade do reclamado, podendo este alegar a matéria em ação
autônoma.