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Resenha
Salih, S. (2012). Judith Butler e a Teoria Queer.
Belo Horizonte: Autêntica
Guilherme Bessa Ferreira Pereira 1
Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil
1Diante da atual relevância que o debate tanto com relação à sua formação, quanto
sobre as sexualidades humanas tem com seus escritos, de modo que, no
despertado nos círculos acadêmicos, decorrer da leitura, aos poucos, vamo-nos
políticos e midiáticos, vários são os familiarizando com as referências de Butler,
pensadores que têm se debruçado sobre a ao mesmo tempo em que melhor
tarefa de refletir a respeito dessa temática. A compreendemos suas principais ideias.
filósofa Judith Butler é uma dessas Além disso, o livro contém quadros
pensadoras e, desde o final dos anos 80 e explicativos de conceitos teóricos ou
início dos anos 90, tem sua produção movimentos filosóficos que são importantes
voltada para a reflexão das sexualidades e para a compreensão dos conteúdos, mas
seu papel na configuração de categorias de que não puderam ser devidamente
identidade. Tais questionamentos fizeram explicados ao longo do texto. Por fim, na
dela um dos ícones da chamada Teoria conclusão de cada capítulo que compõe a
Queer, que tem sido caracterizada com um segunda parte do livro, existe um sumário
conjunto, nem sempre coeso, de ideias que que resume as principais ideias abordadas
indagam os constructos supostamente no capítulo que se encerra, aspecto esse que
naturais que sustentam as categorias de explicita o caráter didático do livro.
identidade e de sujeito. O livro Judith Butler O primeiro eixo temático é composto
e a Teoria Queer, escrito pela linguista Sara por apenas um capítulo no qual somos
Salih e traduzido para o português por apresentados à Judih Butler. Já no início,
Guacira Lopes Louro, contribui para a descobrimos que ela é professora de
difusão da Teoria Queer e a compreensão retórica e literatura comparada, e que sua
sobre a obra de Butler ao mapear e explicar formação intelectual nem sempre esteve
de forma simples, porém nunca simplória, relacionada com os debates sobre gênero e
conceitos butlerianos e suas relações com a sexo que a fizeram famosa. Apesar disso,
teoria em questão. Salih deixa claro que a obra de Butler desde
Organizado em três grandes eixos o início esteve implicada, de uma maneira
temáticos, o livro narra a trajetória de Butler ou de outra, na discussão sobre formação
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Kristeva no qual propõe que a análise do sobre linguagem na obra butleriana, Salih
desejo devesse dar lugar a uma descrição explicita que, para a autora, a linguagem não
histórica e específica do corpo. A filósofa é um performativo efetivo. Isso significa
constrói uma genealogia da emergência do dizer que nomear algo nem sempre significa
sujeito, que resulta numa constatação da agir. Além disso, Sarih alerta que, para
homossexualidade e da heterossexualidade Butler, a pessoa que “fala” não o faz
como construções de lei, ou seja, a sozinha, mas está reproduzindo todo um
legitimidade, a naturalidade e a estabilidade aparato de poder que a constituiu como
das categorias de gênero são questionadas, sujeito. Nesse sentido, podemos questionar
criando a possibilidade de (re)significação a implicação das instituições legais ao
de todas as identidades de gênero. Desse censurar e punir ações “violentas” dirigidas
modo, Butler constata a possibilidade de às minorias. Segundo Salih, para Butler,
que determinadas práticas podem explicitar essas instituições são as criadoras dos
a instabilidade de tais identidades e revelar o sujeitos que agridem, atribuindo a eles uma
caráter construído que é dissimulado pela responsabilidade que é, na realidade, das
norma. instituições de poder, o que dificulta a
Conforme Salih expõe, sendo as responsabilização de uma ação dita violenta.
identidades de gênero construídas, realizou- Além disso, se o sujeito só pode ser
se um processo de afirmação de formado dentro da lei e, desse modo,
determinadas identidades e de ocultação de qualquer ação está de algum modo
outras. Nessa lógica, a hegemonia (re)produzindo essa lei, é incerto apontar
heterossexual tratou de se afirmar a partir quem são os agentes que podem produzir
de uma exclusão de identidades que não a mudanças semânticas nos discursos que
corroboram. A partir de suas leituras de constituem os “sujeitos”.
Austin e de Derrida, Butler apresenta as De fato, a sujeição à lei aparece como um
ideias de citacionalidade e de tema importante na obra butleriana.
performatividade para explicar a Partindo de teóricos psicanalistas,
configuração das identidades sexuais ao foucaultianos e althusserianos, Butler
mesmo tempo em que considera possível, a argumenta que o sujeito tem uma relação
partir desses conceitos, práticas que paradoxal com a lei que o sujeita e o
ressignifiquem o sexo e desestabilizem a constitui, posicionando-se de forma
heteronormatividade. Apesar da crença em ambivalente ante as estruturas de poder, o
práticas subversivas, a filósofa explicita que que atribui à psique um potencial de
é difícil identificar o que é efetivamente subversão por nunca se sujeitar
subversivo de práticas que, na verdade, efetivamente à norma. Além disso, Butler vê
estão reafirmando estruturas de poder já os discursos que fracassam na formação de
existentes. identidades como oportunidades de
Voltando sua atenção para as questões subversão, uma vez que permitem uma