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G. B. F.

Pereira 157

Resenha
Salih, S. (2012). Judith Butler e a Teoria Queer.
Belo Horizonte: Autêntica
Guilherme Bessa Ferreira Pereira 1
Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil

1Diante da atual relevância que o debate tanto com relação à sua formação, quanto
sobre as sexualidades humanas tem com seus escritos, de modo que, no
despertado nos círculos acadêmicos, decorrer da leitura, aos poucos, vamo-nos
políticos e midiáticos, vários são os familiarizando com as referências de Butler,
pensadores que têm se debruçado sobre a ao mesmo tempo em que melhor
tarefa de refletir a respeito dessa temática. A compreendemos suas principais ideias.
filósofa Judith Butler é uma dessas Além disso, o livro contém quadros
pensadoras e, desde o final dos anos 80 e explicativos de conceitos teóricos ou
início dos anos 90, tem sua produção movimentos filosóficos que são importantes
voltada para a reflexão das sexualidades e para a compreensão dos conteúdos, mas
seu papel na configuração de categorias de que não puderam ser devidamente
identidade. Tais questionamentos fizeram explicados ao longo do texto. Por fim, na
dela um dos ícones da chamada Teoria conclusão de cada capítulo que compõe a
Queer, que tem sido caracterizada com um segunda parte do livro, existe um sumário
conjunto, nem sempre coeso, de ideias que que resume as principais ideias abordadas
indagam os constructos supostamente no capítulo que se encerra, aspecto esse que
naturais que sustentam as categorias de explicita o caráter didático do livro.
identidade e de sujeito. O livro Judith Butler O primeiro eixo temático é composto
e a Teoria Queer, escrito pela linguista Sara por apenas um capítulo no qual somos
Salih e traduzido para o português por apresentados à Judih Butler. Já no início,
Guacira Lopes Louro, contribui para a descobrimos que ela é professora de
difusão da Teoria Queer e a compreensão retórica e literatura comparada, e que sua
sobre a obra de Butler ao mapear e explicar formação intelectual nem sempre esteve
de forma simples, porém nunca simplória, relacionada com os debates sobre gênero e
conceitos butlerianos e suas relações com a sexo que a fizeram famosa. Apesar disso,
teoria em questão. Salih deixa claro que a obra de Butler desde
Organizado em três grandes eixos o início esteve implicada, de uma maneira
temáticos, o livro narra a trajetória de Butler ou de outra, na discussão sobre formação

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da identidade e da subjetividade que são apresenta as influências de Butler que mais


construídas por nós e para nós dentro das se expressam em seus trabalhos.
estruturas de poder existentes. Embora no Inicialmente, há Hegel, cuja influência em
livro os conceitos de Butler fossem duas gerações de filósofos franceses no
apresentados de forma progressiva e coesa, século XX é o tema do primeiro livro de
Salih esclarece que na obra butleriana Butler e se faz essencial em seu método de
raramente há uma progressão linear de análise. Os franceses Michael Foucault e
ideias e que, por isso, pode ser uma leitura Jacques Derrida também aparecem como
exigente. A autora ainda alerta a influências significativas, em especial para as
importância de se ler as obras de Butler, discussões que Butler faz sobre gênero, sexo
considerando a relevância de tal trabalho no e sexualidade, bem como para a concepção
pensamento do final do século XX e no de poder descentralizado e criador que a
início do século XXI. autora utiliza para refletir sobre a criação de
A forma como Butler escreve serve de subjetividades, sempre pensando a
ponto de partida para Salih começar a formação do sujeito como um processo. A
explanação sobre as leituras e os escritos da psicanálise também perpassa a obra de
teoria em questão. A dialética, por exemplo, Butler, especialmente por meio de Sigmund
acaba se constituindo como um método de Freud, de Jacques Lacan e das teorias sobre
trabalho analítico e de escrita, de modo que o sexo e sexualidade humana que
as ideias presentes nos textos não fazem influenciaram autoras feministas, como
parte de uma linha de raciocínio com início Simone de Beauvoir, Monique Wittig, Luce
e fim identificáveis. Isso resulta na Irigaray e Gayle Rubin. Ainda na longa lista
inexistência de uma verdade absoluta, de influências, estão o Louis Althusser e J.
diferentemente da dialética hegeliana. Para L. Austin devido a seus trabalhos sobre a
Butler, a dialética é um processo sempre em linguagem, poder e formação do sujeito.
aberto e identificar teses e antíteses coesas e Butler dialoga com Althusser nas discussões
fechadas é pouco frutífero. Além disso, a sobre os aparelhos ideológicos de estado e o
síntese não pode ser única e absoluta, caso poder e, com Austin, reflete sobre
contrário seria antidemocrática. Nesse linguagem e subjetivação.
sentido, compreende-se que a naturalização A obra de Butler coloca foco na análise
de determinadas noções servem de de categorias de identidade, o que resulta
instrumentos para ideias hegemônicas e em uma desestabilização da categoria de
essas mesmas noções tomam centralidade “sujeito”. Tal aspecto facilita a aproximação
nas discussões da teórica feminista, que da filósofa com a Teoria Queer. Essa teoria
deixa termos naturalizados à mostra com o é tida como um resultado das teorias
intuito de interpretá-los e contextualizá-los, psicanalíticas, foucaultianas e feministas que
questionando seu status de “verdade”. orientaram reflexões ocorridas nos anos 80
Ainda no primeiro eixo, a autora sobre a categoria de sujeito. Nesse sentido,

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concebendo o sexo, não como resultado de faz sentido na obra butleriana.


uma determinação biológica, mas como Passando para o segundo eixo temático
resultado de processos discursivos que se do livro, há a análise, propriamente dita, dos
desenvolvem no desenrolar da história no livros de Butler. Sara Salih organizou esse
interior das culturas, tal teoria problematiza eixo por “ideias-chave” da obra butleriana.
as concepções de gênero, de sexo, de raça e Assim, temos discussões sobre “sujeito”,
outras categorias que criam identidades “gênero”, “sexo”, “linguagem” e “psique”
sobre as quais o “sujeito” se localiza. A desenvolvida, cada uma, em um capítulo do
palavra queer, até então usada para se referir eixo em questão. Cada ideia é trabalhada a
a pessoas que não se enquadram na norma partir da análise de um livro específico da
heterossexual e conferindo a elas um autora. Desse modo, a ideia de “sujeito” é
estatuto de “estranho” ou “bizarro”, passa a discutida se tomando como principal
ser (re)significada para afirmar pessoas cujas referência o livro Subjects of desire, de
subjetivações realizam, de uma maneira ou 1987, de “gênero” tem como principal
de outra, abalos nas estruturas referência o livro Gender trouble, de 1990,
normatizadoras de sujeito. de “sexo” é analisado a partir de Bodies that
Estando a autora preocupada com o matter, de 1993, de “linguagem” é
processo pelo qual o indivíduo vem assumir referendada pelo texto Excitable speech, de
seu lugar de sujeito, ela lança mão do 1997 e, por fim, de psique tem o livro The
método genealógico para analisar como as psychic life of power, de 1997, como
instituições, os discursos e as práticas principal referência.
formam o sujeito. Nesse sentido, práticas Entretanto, o trabalho de Butler não
discursivas não são realizadas por alguém pode ser simplificado e recordado em temas
antecedente a essa práticas, mas são elas específicos, já que as ideias presentes na
mesmas as criadoras dos sujeitos que as obra dialogam intensamente entre si. Assim,
praticam. Essa poderia ser uma definição por mais que Salin, ao discutir “sexo” para
resumida do conceito de performatividade Butler, concentre-se nas ideias presentes em
no qual Butler se refere às práticas Bodies that matter, ela invariavelmente
discursivas que criam ao serem retoma conceitos e considerações dos textos
(re)produzidas. precedentes a esse livro, situação essa que se
Apesar de sua evidente ligação com a repete na análise de todos os temas, ou seja,
teoria feminista, foucaultiana e queer, Butler o leitor é apresentado à análise de uma obra
rejeita qualquer definição teórica, por complexa, abrangente e desafiadora.
entender que isso poderia aprisionar e Ainda no segundo eixo, o leitor tem
limitar suas reflexões e seus trabalhos. De contato com os principais
fato, suas influências podem implicar numa desenvolvimentos teóricos de Butler.
classificação, como uma teórica pós- Inicialmente, Sarih apresenta o diálogo de
estruturalista, entretanto tal alcunha pouco Butler com Hegel, Foucault, Deleuze e

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Kristeva no qual propõe que a análise do sobre linguagem na obra butleriana, Salih
desejo devesse dar lugar a uma descrição explicita que, para a autora, a linguagem não
histórica e específica do corpo. A filósofa é um performativo efetivo. Isso significa
constrói uma genealogia da emergência do dizer que nomear algo nem sempre significa
sujeito, que resulta numa constatação da agir. Além disso, Sarih alerta que, para
homossexualidade e da heterossexualidade Butler, a pessoa que “fala” não o faz
como construções de lei, ou seja, a sozinha, mas está reproduzindo todo um
legitimidade, a naturalidade e a estabilidade aparato de poder que a constituiu como
das categorias de gênero são questionadas, sujeito. Nesse sentido, podemos questionar
criando a possibilidade de (re)significação a implicação das instituições legais ao
de todas as identidades de gênero. Desse censurar e punir ações “violentas” dirigidas
modo, Butler constata a possibilidade de às minorias. Segundo Salih, para Butler,
que determinadas práticas podem explicitar essas instituições são as criadoras dos
a instabilidade de tais identidades e revelar o sujeitos que agridem, atribuindo a eles uma
caráter construído que é dissimulado pela responsabilidade que é, na realidade, das
norma. instituições de poder, o que dificulta a
Conforme Salih expõe, sendo as responsabilização de uma ação dita violenta.
identidades de gênero construídas, realizou- Além disso, se o sujeito só pode ser
se um processo de afirmação de formado dentro da lei e, desse modo,
determinadas identidades e de ocultação de qualquer ação está de algum modo
outras. Nessa lógica, a hegemonia (re)produzindo essa lei, é incerto apontar
heterossexual tratou de se afirmar a partir quem são os agentes que podem produzir
de uma exclusão de identidades que não a mudanças semânticas nos discursos que
corroboram. A partir de suas leituras de constituem os “sujeitos”.
Austin e de Derrida, Butler apresenta as De fato, a sujeição à lei aparece como um
ideias de citacionalidade e de tema importante na obra butleriana.
performatividade para explicar a Partindo de teóricos psicanalistas,
configuração das identidades sexuais ao foucaultianos e althusserianos, Butler
mesmo tempo em que considera possível, a argumenta que o sujeito tem uma relação
partir desses conceitos, práticas que paradoxal com a lei que o sujeita e o
ressignifiquem o sexo e desestabilizem a constitui, posicionando-se de forma
heteronormatividade. Apesar da crença em ambivalente ante as estruturas de poder, o
práticas subversivas, a filósofa explicita que que atribui à psique um potencial de
é difícil identificar o que é efetivamente subversão por nunca se sujeitar
subversivo de práticas que, na verdade, efetivamente à norma. Além disso, Butler vê
estão reafirmando estruturas de poder já os discursos que fracassam na formação de
existentes. identidades como oportunidades de
Voltando sua atenção para as questões subversão, uma vez que permitem uma

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(re)significação de termos que outrora No último eixo também são apresentas


identificam os “sujeitos”. críticas de alguns teóricos a Butler no que
O terceiro e último eixo temático do diz respeito à suposta “destruição” do
livro é sobre as repercussões das ideias de sujeito que as teorias butlerianas parecem
Butler, as críticas que recebeu, os diálogos indicar. Sarih lembra que, para Butler,
com outros pensadores e os mais recentes desconstruir o sujeito não é o mesmo que
trabalhos da filósofa. Suas ideias destruí-lo, mas sim investigar seus processos
influenciaram acadêmicos e ativistas, em de construção e as implicações políticas de
especial aqueles envolvidos nas questões de tais processos.
gênero e de sexualidade, por contribuir para O livro oferece um panorama geral da
uma desestabilização das estruturas de obra de Butler, bem como alguns dos
nominação, tendo em vista a fragilidade no aspectos que fizeram dela uma autora tão
que tange a regulação das práticas sexuais. importante para a Teoria Queer. Passando
Sarih mostra que, mais recentemente, a obra pelas reflexões sobre desejo, gênero, sexo,
de Butler tem sido marcada por uma sujeito, linguagem e poder, o texto de Sarih
constante preocupação do impulso político situa o futuro leitor de Butler com relação a
e ético das teorias, apesar dos críticos da quais conceitos e quais proposições teóricas
teórica insistirem em uma suposto ele tomará contato. O livro tem um caráter
esvaziamento político em sua obra. Salih pedagógico e didático que facilita a
considera essa crítica um equívoco, já que “a compreensão de ideias complexas sem
política, a filosofia e a teoria estão implícitas torná-las superficiais, o que faz dele uma
na insistência de Butler de que o sujeito excelente introdução à obra butleriana e à
deveria assumir uma relação crítica com os Teoria Queer. Entretanto, como Salih
discursos e as normas de governo” (p. 192). explicita a leitura de seu trabalho não
Para Salih, Butler vê a própria linguagem substitui o estudo dos textos de Butler e
como uma arena política, de modo que as muito menos a apreciação de outros autores
críticas à pessoa de Butler, como sendo identificados com aquela teoria.
supostamente uma acadêmica que Ao situar Judith Butler como uma autora
efetivamente não tem uma ação política, engajada na reflexão sobre a formação de
parecem ser superficiais. É relevante sujeitos, bem como no questionamento do
salientar que Salih toma o cuidado de expor local que as identidades ocupam na
que uma proposta política universal faria sociedade, sendo umas marginalizadas
pouco sentido na obra de Butler, tendo em enquanto outras são privilegiadas, Salih
vista que as ações de subversão individuais mostra o peso político da obra de Butler,
seriam, para ela, uma maneira de não apenas para a militância feminista,
engajamento político que melhor repercute lésbica e gay, mas para todos que se
ante um modelo de poder difuso e propõem a questionar a lógica na qual uma
multifacetado, tal qual propõe Foucault. identidade é superior a outra, o que

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justificaria a opressão e marginalização.


Recebido em: 22/02/2013
Aceito em: 06/03/2013
Referências
Salih, S. (2012). Judith Butler e a Teoria Queer. Belo
Horizonte: Autêntica.

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