RESUMO
Este trabalho apresenta uma revisão sobre as Normas brasileiras existentes, referentes ao componente
janela, procurando identificar aquelas relacionadas à eficiência e ao conforto na edificação. Esta
revisão será uma das bases para a futura elaboração de uma matriz de auxílio para projetista na escolha
do componente janela da edificação.
Palavras-chave: Janelas, Normas Técnicas
1. INTRODUÇÃO
Elemento básico da linguagem arquitetônica, as janelas relacionam o interior das edificações com o
exterior, controlam as trocas térmicas, a passagem de luz, de ar e dos ruídos.
Suas dimensões, tipologia da abertura, características físicas dos materiais, dispositivos de
sombreamento e a sua orientação na edificação são determinantes para as condições de conforto
térmico e luminoso dos ambientes, assim como o consumo energético da edificação.
No Brasil, a maioria das edificações, pouco identificadas com os princípios bioclimáticos, são
dependentes de recursos ativos de resfriamento e iluminação. Janelas inadequadas podem ser
responsáveis pelo excessivo ingresso de radiação solar e conseqüente desconforto térmico e lumínico
do ambiente.
Como não existe uma estrutura normativa básica referente à eficiência energética e conforto das
edificações, as Normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), são os atuais
instrumentos de que dispõem os projetistas, para especificação deste componente.
Nesse contexto, este artigo apresenta um panorama das Normas e Projetos de Normas Técnicas
brasileiras, buscando identificar aquelas que incorporam prescrições que influenciam na eficiência
energética e conforto na edificação. Também serão apresentadas algumas Normas internacionais,
obtidas no levantamento dos parâmetros utilizados em outros países.
2. A NORMALIZAÇÃO NO BRASIL
2.1 A ABNT
A ABNT é o órgão responsável pela elaboração das Normas técnicas no Brasil. Foi fundada em 1940
visando fornecer a base necessária ao desenvolvimento tecnológico brasileiro.
É uma entidade privada, sem fins lucrativos, reconhecida como Fórum Nacional de Normalização –
Único – por intermédio da Resolução n° 07 do Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial (CONMETRO), de 24.08.1992.
O objetivo principal da ABNT é elaborar e fomentar o uso de Normas técnicas, conceder certificados
de qualidade e representar o Brasil em entidades internacionais de normalização técnica1, como a
International Organization for Standardization –(ISO) e International Electrotechnical Comission-
(IEC), bem como nas entidades de normalização regional2, como a Comissão Panamericana de
Normas Técnicas (COPANT) e Associação Mercosul de Normalização (AMN).
O processo de elaboração de uma Norma técnica, pela ABNT, é conduzido segundo procedimentos e
conceitos definidos pelo Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
(SINMETRO), do qual fazem parte o setor governamental e a iniciativa privada. O SINMETRO tem a
finalidade de dotar o País de infra-estrutura de serviços tecnológicos para a qualidade e produtividade.
São também observados alguns princípios da Organização Mundial do Comércio (OMC) e da ISO.
1
Normas destinadas ao uso internacional, estabelecidas por um determinado número de nações com interesse
comuns.
2
Normas destinadas ao uso por um limitado grupo de países de um mesmo continente.
Todo este processo tem duração média de dois anos.
3
Nome genérico dos componentes constituídos por perfis utilizados nas edificações.
4
É um indicador de desempenho quanto à atenuação sonora. Quanto maior o seu valor, maior a atenuação
sonora e, portanto, menor a quantidade de ruídos ou sons externos que adentram ao ambiente.
d.4) Basculante
d.5) Reversível
d.6) Correr
d.7) Guilhotina
d.8) Projetante-deslizante (maxim-ar)
d.9) Sanfona vertical (sanfona que se desloca no sentido vertical)
d.10) Sanfona horizontal (sanfona que se desloca no sentido horizontal)
e) A Norma apresenta ainda um Anexo “A” que prescreve o método de verificação da resistência às
operações de manuseio dos caixilhos dos diversos tipos de janelas reconhecidas por ela e o Anexo
“B” prescreve o roteiro de cálculo de pressão de ensaio para estanqueidade à água e resistência às
cargas uniformemente distribuídas, para casos especiais de exposição ao vento.
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Procedimento de fixação de chapas de vidro em aberturas ou elementos construtivos, previamente preparados.
• Vidro liso ou estirado. Vidro transparente que apresenta leve distorção das imagens, ocasionada
por características do processo de fabricação.
• Vidro float. Vidro transparente fabricado por processo de flutuação, permitindo visão sem
distorção das imagens.
• Vidro impresso (fantasia). Aquele que é obtido por meio de tratamento mecânico ou químico em
uma ou ambas as superfícies, com a finalidade de torná-lo ornamental
• Vidro espelhado. Aquele que sofreu processo de espelhação através de aplicação de uma camada
metálica em uma das faces da chapa de vidro.
• Vidro gravado. Aquele que é obtido através de tratamento mecânico ou químico em uma ou ambas
as superfícies, com a finalidade de torná-lo ornamental.
• Vidro esmaltado. Aquele obtido através de aplicação de esmalte vitrificável em uma ou ambas as
superfícies, com a finalidade de torná-lo ornamental.
c.1.3) Quanto à coloração
• Vidro incolor
• Vidro colorido
c.1.4) Quanto à colocação
• Em caixilhos. Aquela em que a chapa de vidro apresenta bordas embutidas.
• Autoportante. Colocação característica dos vidros de segurança temperados, em que a chapa,
fixada através de peças apropriadas, apresenta todas as bordas aparentes.
• Mista. Apresenta a combinação dos sistemas em caixilho e autoportante.
c.2) Projeto
c.2.1) Fixa as condições a serem obedecidas no projeto de envidraçamento, estabelecendo os
parâmetros a serem observados, considerando o critério de colocação do vidro especificado nesta
Norma, se do tipo em caixilho ou autoportante.
c.3) Manipulação e armazenamento
c.3.1) Estabelece as condições de manipulação e armazenamento das chapas de vidros.
c.4) Esforços solicitantes.
c.4.1) Estabelece os parâmetros de cálculo dos esforços atuantes nas chapas de vidro a serem
utilizados no cálculo da espessura das chapas de vidro, quais sejam:
• Pressão de vento (pv)
• Peso próprio por unidade de área. (pp}
• Pressão de cálculo. Expressão que considera o conjunto de cargas que atuam normalmente sobre o
plano da chapa de vidro.
c.5) Propriedades físicas a serem observadas pelos fabricantes de vidros:
• Módulo de elasticidade: E = (7500±5000)MPa
• Tensão de ruptura à flexão:
Vidro recozido: (40±5)MPa
Vidro de segurança: temperado: (180±20) MPa
• Coeficiente de poisson: 0,22
• Massa específica: (2500±50)kg/m³
• Dureza; Entre 6 e 7 na escala de Mohs.
• Propriedades térmicas:
Coeficiente de dilatação linear entre 20°C e 220°C: α = 9x10-6 °C -1
Coeficiente de condutibilidade térmica a 20°C: K = (0,8 a 1) kcal/m.h°C (vidro incolor);
Calor específico entre 20°C e 100°C: c = 0,19 kcal/kg°C
• Tensão admissível de flexão:
Para vidro recozido: σ = (13±2) MPa
Para vidro de segurança temperado: σ = (60±4) MPa
c.6) Dimensionamento: Estabelece os parâmetros de cálculo das chapas de vidro utilizados nos
envidraçamentos, onde são observados somente os critérios relativos aos esforços solicitantes
c.7) Disposições construtivas: Estabelece as condições a serem observadas pelos elementos que
compõem as janelas, quais sejam:
c.7.1) Caixilhos
• Disposições gerais
• Dimensões de rebaixo
c.7.2) Envidraçamentos
• Condições gerais
• Fixação dos vidros
c.8) Limpeza e conservação.
3. A NORMALIZAÇÃO INTERNACIONAL
Na maioria dos países, o objetivo principal das normas foi a Conservação de energia. Entre os
países pesquisados, aqueles cujas Normas de eficiência energética apresentam indicadores
que auxiliam, especificamente, no projeto das janelas são Portugal e Espanha .
De acordo com Lamberts (1996), considerando as similaridades climáticas, a norma em eficiência
energética australiana, Building Code of Australia - BCA, poderia ser exemplo a ser seguido pelo
Brasil. As prescrições de desempenho do componente janela são apresentadas em norma específica a
AS-2047 – 1999.
3.1 Espanha – Norma básica NBE – CT – 79, condições térmicas dos edifícios
Esta Norma, em vigor desde 1979, estabelece as condições térmicas a serem obedecidas pelos
edifícios residenciais e comerciais a serem construídos ou reformados.
6
Condições qualitativas que devem ser cumpridas pela habitação, a fim de que sejam satisfeitas as exigências do
usuário durante a vida útil de projeto. Qualificação esperada pelo usuário
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Conjunto de especificações e procedimentos que visam representar tecnicamente as exigências do usuário.
Estas condições devem ser alcançadas por meio da limitação do valor do índice de transmissão global
de calor do envelope do edifício (Kg, em W/m² °C), bem como do índice de transmissão de calor dos
elementos que formam o envelope do edifício (K, em W/m² °C). Estes índice, expressos em tabelas,
variam conforme a zona climática onde o edifício está localizado.
O coeficiente Kg, limita as perdas de calor de um edifício nas situações de inverno e estabelece limites
para os ganhos de calor no verão; no entanto, para os edifícios climatizados, são estabelecidas
recomendações específicas para limitar os ganhos de calor no verão.
Entre estas recomendações para as condições de verão, cabe ressaltar a determinação do ganho total de
calor permitido em fechamentos verticais.
O ganho total de calor de um edifício, através da superfície vertical (Q), será função dos diversos
componentes que compõem a fachada.
Consequentemente, os parâmetros pertinentes às janelas, tais como, coeficientes de transmissão do
vidro utilizado, área do fechamento transparente, fator solar do tipo de vidro empregado e o fator solar
da proteção eventualmente empregada na janela, são considerados na composição desse índice.
Esses parâmetros são expressos em tabelas específicas, onde são apresentados o desempenho térmico
do fechamento transparente e do tipo de proteção solar empregada.
Esta prescrição serve como um instrumento singular de auxílio na especificação das janelas do
edifício.
Pode-se verificar que esta Norma estabelece condições muito objetivas para determinação do
desempenho térmico do edifício, servindo como um guia de auxílio aos projetistas, inclusive
apresentando prescrições para dimensionamento e especificação das janelas, conforme demonstrado
no parágrafo acima. Evidentemente, o rigor do inverno europeu impõe-se como fator determinante na
composição das diversas prescrições dessa Norma.
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cada uma das partes do edifício dotadas de contador individual de consumo de energia e cujo direito de
propriedade seja transmissível autonomamente.
3.3 Austrália – Janelas em edifícios – seleção e instalação – AS 2047- 1999
O objetivo desta Norma é prover os projetistas e fabricantes de janelas de um código genérico,
delimitando as exigências de desempenho e especificações para o desenho e fabricação de todas as
janelas nas edificações, indiferentemente, dos materiais a serem utilizados.
4.1.1 PROCEL-EDIFICA
Segundo dados do PROCEL, as edificações são responsáveis por cerca de 48% do consumo de energia
elétrica no país, considerando-se os setores residencial e comercial. Grande parte dessa energia é
consumida na geração do conforto ambiental.
Tal situação é atribuída ao fato de não terem sido considerados, desde o projeto arquitetônico,
passando pela construção, até à utilização final, os importantes avanços ocorridos nas áreas de
arquitetura bioclimática, materiais, equipamentos e tecnologia construtiva vinculados à eficiência
energética.
Nesse contexto foi criado o programa PROCEL-EDIFICA, que prevê uma articulação entre diversas
entidades das áreas governamental, tecnológica, econômica e de desenvolvimento, para, por meio de
um enfoque multissetorial, promover a conservação e o uso eficiente da energia elétrica, reduzindo
desperdícios e impactos sobre o meio ambiente. No âmbito desse programa, , foi lançado em setembro
de 2003 o Plano de Ação para Eficiência Energética em Edificações. O plano, consoante a LEI
N°10.925/2001, que “Dispõe sobre a Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia e
dá outras providências”, tem por objetivo a promoção da conservação e do uso eficiente da energia
elétrica em edificações, reduzindo os desperdícios e impactos sobre o meio ambiente.
Este plano tem por base as linhas de ação já trabalhadas, anteriormente, pelo PROCEL, com a
incorporação de novas tendências. As ações foram divididas em projetos de pesquisa/desenvolvimento
a serem realizadas por diferentes instituições ou por grupos à elas relacionados. Uma das vertentes de
pesquisa trabalha na elaboração de uma Norma de Regulamentação de índices mínimos de Eficiência
Energética, referentes aos materiais situados no envelope (fachadas e coberturas) dos edifícios novos e
passíveis de reforma, considerando os usos das edificações e as diferenças climáticas, conforme as
experiências bem sucedidas de outros países.
Metas do Programa:
O Programa tem como metas o desenvolvimento de um conjunto de projetos visando :
• Reduzir o consumo de energia elétrica nas edificações;
• Estimular as ações de consumo racional de energia elétrica;
• Divulgar os conceitos de eficiência energética em edificações, inserindo o tema arquitetura
bioclimática;
• Disseminar o uso de energias renováveis;
• Utilizar tecnologias mais eficientes em projetos, equipamentos e na fabricação de materiais de
construção;
• Conscientizar profissionais que podem influenciar o planejamento de uma cidade, na concepção
de projetos e na construção de prédios eficientes;
• Elaborar guias técnicos, incluindo a revisão de publicações existentes;
• Apoiar a realização de projetos-demonstração; divulgar boas práticas nos projetos e construções
que agreguem conceitos de conforto ambiental e eficiência energética.
Ações em desenvolvimento:
• Capacitação dos Laboratórios de Conforto Ambiental das seguintes universidades: UFRJ, UFF,
UFPel, UFMG, UFRN e UFMS.
• Complementação dos laboratórios de Conforto Ambiental das seguintes universidades: UFAL,
UFRGS, UnB-FUB e UFSC-ARQ.
• Complementação dos Laboratórios de Eficiência Energética das Faculdades de Engenharia Civil
da UFBA e UFSC-LabEEE.
• Complementação do Laboratório de Sistemas Térmicos da Faculdade de Engenharia Mecânica da
PUC-PR.
• Convênio com a CPPETEC para construção do Centro de Energia e Tecnologia Sustentáveis –
CETS.
• Publicação da Segunda edição do livro “Eficiência Energética na Arquitetura”.
Investimento
Estão previstos investimentos na ordem de R$ 3.000,00 (três milhões de reais) para o biênio
2004/2005.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A maioria das edificações no Brasil desperdiça considerável parcela de energia, devido à não
incorporação, em seus projetos, dos novos conceitos arquitetônicos, materiais, equipamentos e
tecnologias construtivas, voltadas para eficiência energética.
O aparente rico potencial energético do país, não estimulava, em passado recente, o emprego das
técnicas e elementos naturais de promoção de conforto ambiental nos edifícios.
Tal fato talvez se deva ao conteúdo das Normas técnicas existentes, que não incorporam prescrições
que proporcionem eficiência energética e conforto ambiental.
Com a recente constatação da fragilidade de nossos recursos, que impôs racionamento de energia a
toda a população criou-se panorama favorável à criação de Normas Técnicas brasileiras, que
estabeleçam diretrizes visando o uso racional de energia.
Nesse contexto, a conclusão do processo de discussão do projeto de normalização em conforto
ambiental, e sua posterior homologação e publicação como Norma brasileira, será instrumento
essencial de auxílio aos arquitetos, na elaboração de projetos de edifícios. Cabe destacar ainda, a
importância da implementação do “Plano de Ação para Eficiência Energética em Edificação”,
sobretudo na vertente “Educação”, que tem entre seus objetivos a ampla divulgação dos conceitos de
eficiência energética, contemplando a formação dos futuros projetistas, bem como a atualização e
capacitação dos profissionais em atividade.
As informações levantadas representam dados preliminares para a elaboração de matriz que forneça
aos profissionais informações para a especificação do componente janela na edificação.
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