I. Câncer de pulmão........................................................................................................... 2
II. Empiema e drenagem pleural ........................................................................................ 5
III. Malformações pulmonares: .......................................................................................... 7
IV. Traumatismos torácicos:............................................................................................. 10
V. Broncoscopia: .............................................................................................................. 16
VI. Massas mediastinais: .................................................................................................. 20
VII. Doenças pulmonares cirúrgicas não-neoplásicas: ...................................................... 24
VIII. Doenças traqueais: ................................................................................................... 26
I. Câncer de pulmão
1. Introdução:
a) Epidemiologia:
- O carcinoma broncogênico é a principal causa de morte por câncer no mundo,
tanto para homens como para mulheres.
- A maior parte dos casos (80%) são classificados como células não pequenas.
Apesar de menos grave do que o carcinoma de células pequenas, apenas 25% dos
casos são operáveis quando diagnosticados.
2. Diagnóstico:
a) História e exame físico:
- Os achados dependem não só da localização, mas também da sua extensão
locorregional ou a distância. Tumores mais centrais mais frequentemente causam
tosse, hemoptise, atelectasias e pneumonia obstrutiva. Os tumores de localização
periférica mais frequentemente causam dor por extensão para as estruturas vizinhas
como parede torácica, coluna, plexo braquial e pleura (podendo causar também
derrame pleural).
- Os sintomas gerais como perda de peso, fadiga e anorexia são sugestivos de
metástases.
- O tumor cresce em “ice-berg”. Isso quer dizer que ele cresce pela parede
externa do brônquio. Por isso, quando visualizamos uma massa na broncoscopia essa
massa tende a ser muito maior na realidade. Além disso, é esse padrão de crescimento
que faz com que o tumor encontre outras estruturas adjacentes.
b) Radiografia de tórax:
- Pode criar uma suspeita clínica de câncer de pulmão. Esse exame, porém,
possui baixa especificidade.
- Podemos visualizar nódulos (que na tomografia vemos a partir de 2mm),
massas ou uma inespecífica atelectasia.
c) Tomografia:
- Possui mais especificidade e sensibilidade se comparada com a radiografia.
- O aumento de linfonodos é o único critério útil para a suspeita de
malignidade. Todos os linfonodos com tamanho ≥ 1cm devem ser considerados
anormais.
- O uso do contraste não é sempre necessário e, quando utilizado, é útil para
distinguir estruturas vasculares de linfonodos e também para identificar invasão de
mediastino por tumores centrais.
- Sempre que se fizer uma TC de tórax para investigação de CA de pulmão é
importante avaliar o terço superior do abdome em busca de metástases hepáticas e de
suprarrenal, locais comuns.
- O achado típico é uma massa sólida espiculada (as espículas são vasos
linfáticos peri-tumorais embolizados por células tumorais) e grosseiramente
arredondado. Uma parte possui cavitação central.
- Os tumores mais comuns são aqueles dos lobos superiores.
d) Metástases: os principais locais são ossos, fígado, adrenal e cérebro.
- Fígado e adrenal TC abdome superior
- Ossos cintilografia óssea
- SNC RNM
3. Estadiamento:
a) Tumor primário (T): é avaliado por TC e por broncoscopia.
Tx: não pode ser avaliado;
T0: sem evidência de tumor primário
Tis: in situ
T1: tumor < 3 cm no maior diâmetro, circundado por pulmão, sem evidência
broncoscópica de invasão do brônquio principal.
T2: 3 < tumor < 7 OU envolvimento do brônquio principal, invasão da pleura,
associação com atelectasia ou pneumonia obstrutiva.
T3: tumor > 7cm OU invasão da parede torácica, diagragma, nervo frênico, pleura
mediastinal, pericárdio ou tumor no brônquio principal, porém sem envolvimento da
carina.
T4: qualquer tamanho que envolva mediastino, coração, grandes vasos, traqueia,
laríngeo-recorrente, esôfago, corpo vertebral ou carina.
c) Metástases:
Mx: não avaliado
M0: ausência
M1: presença. Na presença de derrame pleural com células neoplásicas deve ser
classificado como M1.
d) Estadios:
4. Cenários especiais:
a) Tumor de Pancoast:
- Corresponde a 2-5% de todos os tumores de pulmão.
- Geralmente é um Carcinoma Espino Celular (CEC);
- O primeiro sintoma é a perda da força em membro superior.
- 40% desses tumores invadem o plexo braquial.
- 60% tem Síndrome de Horner: ptose, miose, enoftalmia e anidrose.
b) Invasão de VCS:
- Os tumores T4 (invasão de estruturas adjacentes) podem invadir VCS e causar
Síndrome de Veia Cava Superior.
- Clinicamente, a obstrução do retorno venoso pela VCS leva a um fáscies
pletórico e surgimento de uma rede venosa superficial.
II. Empiema e drenagem pleural
1. Introdução:
a) Definição: empiema pleural é uma infecção purulenta da cavidade pleural, na maior
parte das vezes secundária a um processo infeccioso do pulmão. Outras formas de
contaminação do espaço pleural também podem ocorrer: trauma penetrante, PO de
cirurgia torácica ou cardíaca, disseminação hematogênica, processos infecciosos
abdominais (transdiafragmática), mediastinite ou perfuração de esôfago.
- Empiema: é a coleção de pus em uma cavidade anatômica já existente.
- Abscesso: é a coleção de pus em uma cavidade neoformada por processo
patológico.
b) Etiopatogenia:
- A formação do derrame ocorre, incialmente, pela reação pleural decorrente
do processo infeccioso pulmonar. Ocorre, então, uma contaminação pela migração
bacteriana do pulmão ao espaço pleural levando à formação do empiema
propriamente dito.
- A evolução do empiema pode levar ao encarceramento pulmonar pela fibrose
sobre a superfície pleural, com redução volumétrica pulmonar e atelectasia.
- Outra intercorrência comum é a formação de áreas de necrose e fístula
pleuropulmonar, aumentando o padrão de tosse e de expectoração. Quando isso
ocorre para um brônquio ocorre a vômica (mais frequente no abscesso pulmonar).
- Os agentes etiológicos mais frequentes são S. aureus e S. pneumoniae
3. Tratamento:
a) Objetivos.
- Controle do quadro infeccioso que gerou o empiema
- Controle do quadro pleural com evacuação completa da cavidade e colocação
de um dreno;
- Garantir a reexpansão pulmonar
- Obliteração da cavidade pleural empiemática.
b) Epidemiologia:
- É duas vezes mais prevalente no homem do que na mulher, sendo os lobos
superior mais acometidos.
c) Quadro clínico:
- A maior parte das crianças é assintomática logo ao nascimento ou até 6 meses
de vida. As principais manifestações são taquipneia, cianose, retração da parede
torácica e sibilos.
- Infecções pulmonares de repetição e desvio de traqueia podem fazer parte. A
propedêutica de enfisema também é frequente.
- O lobo acometido infla cada vez mais e o ar passa a comprimir o coração e
outras estruturas mediastinais, além do outro pulmão.
d) Tratamento:
- É a lobectomia do lobo acometido.
- Um fato curioso desse procedimento é que ao abrir o tórax e descomprimir o
lobo acometido a criança melhora imediatamente com a expansão pulmonar.
3. Cisto broncogênico:
a) Introdução:
- São as malformações torácicas mais frequentes em crianças.
- É um cisto revestido por epitélio brônquico. É um desprendimento de parte da
árvore brônquica.
- A depender da sua localização são classificados como mediastinais (mais
comum) ou intrapulmonares.
b) Quadro clínico:
- Depende da sua localização. Os cistos intrapulmonares só serão sintomáticos
quando infectados.
- Os mediastinais, porém, frequentemente comprimem VA e causam tosse,
dispneia progressiva, cianose, sibilo e estridor. Além disso, dor ou desconforto torácico
também pode ocorrer por compressão de estruturas mediastinais.
- A radiografia é o exame de escolha e demonstra cistos. Desvio de traqueia,
sinais de hiperinsuflação, atelectasia são achados frequentes.
- Possuem alto potencial para complicações (cerca de 45%), como a ruptura,
atelectasia, infecção, hemoptise e malignização.
4. Sequestro pulmonar:
a) Introdução:
- É uma área de tecido pulmonar não funcionante, geralmente não conectada à
árvore traqueobrônquica e irrigada por uma artéria sistêmica anômala. Normalmente
essa artéria anômala é um ramo da aorta torácica, do tronco celíaco ou das
intercostais.
- Normalmente é unilateral.
- Pode ser extralobar ou intralobar. O extralobar possui um revestimento
pleural próprio e independente do restante do pulmão. Em geral são achados de
exame, sem a evidência de processos infecciosos ou sintomas.
- Frequentemente está associado com outras anomalias como defeitos
vertebrais, da parede torácica, duplicações do intestino grosso, doenças cardíacas
congênitas e principalmente hérnia diafragmática congênita.
b) Diagnóstico:
- Pode ser feito pré-natal por Doppler. Um sinal ultrassonográfico e
patognomônico dessa malformação é o reconhecimento de um fluxo da aorta para
uma massa pulmonar fetal.
- O diagnóstico pós-natal é feito com TC. É sempre importante buscar
anomalias acessórias.
- Uma queixa possível e que pode ajudar é hemoptise.
c) Tratamento:
- Lobectomia. É importante o cuidado com o tal ramo anômalo, que pode ser
calibroso. Outra abordagem possível é a embolização dessa artéria.
b) Diagnóstico:
- Pré-natal é feito com US. O prognóstico é pior quando verificamos lesões
bilaterais ou hidropsia fetal (derrame pleura, ascite e anasarca). É possível fazer a
abordagem intra-uterina se for necessário. Pode-se fazer a punção da lesão cística ou
ressecar a malformação.
- A radiografia de tórax mostra uma hiperinsuflação do lobo acometido e
rebaixamento do diafragma.
c) Tratamento:
- O alto potencial de malignidade é que exige o tratamento com a excisão
cirúrgica completa pós-natal com acompanhamento a longo por métodos radiológicos.
- Se não for feita a abordagem intra-uterina, isso deve ser feito antes dos 5
anos de idade.
IV. Traumatismos torácicos:
1. Introdução:
a) ABCDE do trauma: é a padronização feita pelo American College of Surgeons e
utilizada no ATLS (advanced trauma life support). Note que o tórax está diretamente
envolvido tanto em A como em B como em C.
A: Airway
B: Breathing
C: Circulation
D: Disability
E: Exposure
2. Traumatismos fechados:
- Os principais agentes causais são os acidentes automobilísticos.
Diagnóstico:
- À inspeção verificamos movimento paradoxal do tórax. À palpação podemos
verificar crepitações e intensa dor.
- A radiografia demonstra os arcos fraturados.
- A TC pode demonstrar a presença de intercorrências pleurais, laceração
pulmonar, pneumomediastino e outras.
Conduta:
- Novamente, é importante fazer uma sedação eficaz.
- Se o movimento paradoxal for muito evidente, podemos colocar um peso
sobre a região afetada, sendo um método apenas paliativo.
- Deve-se tratar as complicações pleurais presentes.
- A contusão pulmonar mencionada é causa de uma possível IRA. Nesse caso o
paciente apresenta um Síndrome do desconforto respiratório do adulto (SDRA). É
importante ter em mente que esse quadro é um processo inflamatório e, portanto,
demora de 12-24 horas para se manifestar.
c) Fratura de esterno:
A fratura do esterno por compressão anteroposterior do tórax pode estar associada
com contusão cardíaca. O principal mecanismo é a batida do tórax sobre o volante do
automóvel.
Diagnóstico:
- Dor intensa na parede anterior do tórax, com deformidade transversal do
esterno à inspeção (sinal do degrau).
- A radiografia demonstra a fratura em perfil ou em incidência própria para
esterno.
Conduta:
- Sedação da dor, investigação de contusão cardíaca, e fixação cirúrgica da
fratura quanto houver grande deformidade transversal ou muita dor.
- É importante ter em mente que a fratura do esterno isoladamente não é uma
emergência e deve aguardar a avaliação das demais lesões.
d) Hemotórax:
É sangue na cavidade pleural. Ocorre por lesões do parênquima pulmonar, de vasos da
parede torácica ou de grandes vasos (aorta, subclávia e pulmonar) ou mesmo do
coração.
- Apesar do hemotórax são significar, na maior parte das vezes, uma lesão
grave, todo paciente com derrame pleural no trauma (supostamente hemorrágico)
deve ser encarado como um doente de risco até o total esclarecimento do volume e
do mecanismo da lesão.
Diagnóstico:
- Choque hipovolêmico pode ocorrer a depender do volume retido no espaço
pleural. Além disso, dispneia, propedêutica de derrame pleural e radiografia revelando
linhas de derrame fazem o diagnóstico.
Conduta:
- Drenagem pleural. 80% dos casos resolvem apenas com drenagem em selo
d’água.
- Quando o volume drenado for superior a 1500mL ou se o estiver drenando
mais de 300mL/hora no período de 2 horas consecutivas a toracotomia está indicada.
e) Pneumotórax:
É ar na cavidade pleural. Os mecanismos envolvidos na formação do pneumotórax o
classificam em dois tipos.
- Pneumotórax aberto: existe uma comunicação do meio externo com o espaço
pleural. Não é, portanto, uma contusão, mas um trauma aberto.
- Pneumotórax fechado: ocorre uma laceração do pulmão pela compressão
aguda do tórax ou espícula óssea de uma costela fraturada, perfurando o pulmão.
Hipertensivo: quando existe a formação de uma válvula que faça com
que o ar saia para o espaço pleural e não retorne, esse ar pode se acumular no espaço
pleural e comprimir as estruturas torácicas. Isso leva a um desvio do mediastino para o
lado contralateral. Com isso ocorre uma torção dos vasos e choque. Isso é uma
emergência médica e deve ser imediatamente abordado com punção.
Diagnóstico:
- Clinicamente o paciente está dispneico, com abaulamento do hemitórax
afetado, hipertimpanismo à percussão e ausência/diminuição dos MV.
- Quando ocorre o pneumotórax hipertensivo ocorrem sinais de choque com
pressão venosa alta (clinicamente manifesta por estase jugular). É importante ter em
mente que todo pneumotórax é possivelmente hipertensivo. Assim, como não
sabemos, todos devem ser abordados.
- A radiografia mostra uma linha de pleura visceral afastada do gradeado costal.
Quando a clínica demonstra sinais de pneumotórax associada com choque, a conduta
deve ser imediata e não exige confirmação radiológica.
Conduta:
- No pneumotórax hipertensivo fazemos a punção para descompressão
(punção pleural descompressiva). Ou seja, puncionamos o tórax no 2o EIC na linha
hemiclavicular, provocando um pneumotórax aberto antes da colocação do dreno no
local apropriado. Em muitos casos de trauma o pneumotórax hipertensivo está
associado com o hemotórax.
- O dreno deve parar de borbulhar espontaneamente em até 10 dias. Caso isso
não ocorra está indicada a abordagem cirúrgica para sutura do pulmão.
- O borbulhamento muito intenso pode estar acompanhado de enfisema
subcutâneo. Nesse caso é importante pensar em ruptura traqueobrônquica.
k) Tamponamento cardíaco:
É a presença de líquido na cavidade pericárdica. Esse líquido exerce pressão e
comprime as câmaras cardíacas, restringindo a diástole. Pode ocorrer por ruptura
cardíaca ou de vasos sanguíneos pericárdicos.
Diagnóstico:
- O paciente se apresenta com uma fácies pletórica e estase jugular (pela
diminuição do retorno venoso, já que o AD é a câmara mais comprimida), hipotensão
arterial, bulhas abafadas, pulso paradoxal e ECG de baixa voltagem.
- A radiografia demonstra aumento da área cardíaca e o eco confirma
(swimming heart).
- Tríade de Beck: presente em menos de 10% dos pacientes. É hipotensão
arterial, hipertensão venosa e abafamento de bulhas.
Conduta:
- A punção de Marfan (punção pericárdica subxifoidea) confirma o diagnóstico
e alivia o tamponamento. Se ocorrer sangramento contínuo pelo dreno está indicada
toracotomia.
- No caso específico do trauma torácico, se houver tamponamento isso já é
indicação de toracotomia.
3. Traumatismos abertos:
a) Introdução: Diversos órgãos intratorácicos podem ser atingidos.
- As mais graves são as lesões da área cardíaca, do hilo pulmonar ou da aorta.
b) Pneumotórax aberto:
- Ocorre perda substancial da parede torácica, estabelecendo-se uma
comunicação entre o meio externo e a cavidade pleural. Nesses cenários forma-se
imediatamente um pneumotórax. O ar entra e sai pela baixa pressão nesse orifício,
competindo com a via aérea e fazendo com que o mediastino “dance”. Isso pode levar
a uma instabilidade súbita da mecânica respiratória.
Conduta: o ferimento deve ser imediatamente fechado com curativo de 3 pontas. Isso
transforma esse pneumotórax aberto em um pneumotórax fechado, ou seja, o ar sai,
mas não entra pelo orifício.
- Em seguida devemos fazer a drenagem pleural por outra via (o ferimento não
pode ser utilizado como via).
d) Ferimentos cardíacos:
- São lesões muito graves que colocam a vida do paciente em risco por choque
hipovolêmico e por tamponamento cardíaco, duas situações de baixo débito.
Conduta:
- Sempre que houver choque hipovolêmico com lesão na região cardíaca
devemos fazer a toracotomia.
V. Broncoscopia:
1. Introdução:
a) Definição:
- A broncoscopia é um procedimento invasivo com finalidade diagnóstica e
terapêutica.
- A broncoscopia evoluiu muito, chegando a locais antes inatingíveis com o uso
da broncoscopia flexível em oposição ao tubo rígido. O tubo rígido, porém, ainda
mantém as suas indicações para colocação de stents e desobstrução por lesões
tumorais e remoção de corpo estranho em crianças.
b) Considerações:
- Pelo seu caráter invasivo, a broncoscopia (tanto a rígida quanto a flexível)
exigem um certo grau de sedação, colaboração do paciente, reserva funcional
pulmonar e treinamento.
- A avaliação dos exames de imagem prévios do paciente faz parte do
planejamento da broncoscopia.
- Os broncoscópios flexíveis comuns chegam até brônquios de 4a (segmentares)
a
ou 5 (subsegmentares) ordem. Existem broncoscópios ultrafinos que podem chegar
além.
2. Indicações:
a) Com finalidade diagnóstica:
Sintomas e sinais:
- Dispneia de causa não esclarecida;
- Tosse persistente não esclarecida;
- Sibilo localizado
- Rouquidão/disfonia/estridor
- Hemoptise
- Escarro com citologia oncótica
- Pneumonias graves
- Diagnóstico e estadiamento de neoplasias primárias ou secundárias do
pulmão
- Estadiamento de neoplasias do esôfago
- Fístulas de VA
- Suspeita de lesão de VA
- Suspeita de aspiração de corpo estranho;
- Avaliação funcional das VA
Recolhimento de amostras: além de poder visualizar até os subsegmentos brônquicos
do pulmão, a broncoscopia permite recolher amostras de várias formas:
- Lavado brônquico: recolhe secreção (bom para infecção)
- Lavado broncoalveolar: lava um segmento ou subsegmento com soro e
recolhe por aspiração imediatamente após. Também é útil em quadros infecciosos.
- Escovado brônquico: escoria a superfície de tumores para recolher amostras
- Biópsia brônquica: com uma pinça faz biópsia de mucosa e tumores sob visão
direta
- Biópsia transbrônquica: recolhe fragmentos sem visão direta, saindo do
brônquio.
- Punção aspirativa de massas ou linfonodo: pode ser auxiliado com US
endobrônquico.
3. Realização e otimização:
a) Considerações:
- É necessária adequada e sucinta anamnese e exame físico pelo broncoscopista
e, pelo menos, uma radiografia recente de tórax em PA e perfil.
b) Anestesia:
- A sedação e a anestesia tópica são fundamentais para uma boa broncoscopia.
A sedação com BDZ (dormonid) ou propofol costuma ser suficiente para a maior parte
dos procedimentos diagnósticos.
- A anestesia geral é realizada para procedimentos de duração prolongada, em
crianças e em portadores de deficiência mental. A broncoscopia rígida é sempre feita
sob anestesia geral.
c) Via de acesso:
- Em geral é preferível a introdução por via nasal por geral menos reflexo de
náusea e para que o paciente não possa morder o equipamento.
d) Contraindicações:
Absolutas:
- Risco de morte por falta de condições clínicas do paciente (IAM instável
hemodinamicamente, angina instável, choque, AVC recente);
- Hipoxemia refratária à oferta de oxigênio nasal ou máscara. Isso pois o exame
pode causar uma redução na PaO2 de 30%.
- Hipertensão pulmonar grave caso haja intensão de biopsia
- Distúrbio de coagulação de qualquer natureza que não possa ser corrigido
antes do procedimento.
Relativas:
- Hipoxemia, hipercapnia ou insuficiência respiratória intermitente
- Broncoespasmo
- Falta de colaboração do paciente
- Pulmão funcionante único ou desfuncionalização de grande território
pulmonar
- Síndrome da veia cava superior (aumenta o risco de sangramento)
e) Complicações:
O índice de complicações é maior nos pacientes com ventilação mecânica.
- Sangramento e hemoptise após biópsia ocorrem em 0,6-5,4% dos casos.
- Pneumotórax ocorrem em 1-5%;
- Febre e bacteremia pelo lavado brônquico e/ou biopsia
- Broncoespasmo
- Perfuração das vias aéreas
- Trauma da VAS com epistaxe, edema de laringe ou laringoespasmo
- Hipoxemia por depressão respiratória medicamentosa
- Arritmia, IAM, hipotensão
- Broncoaspiração
- Trauma dentário
- Trauma de laringe
b) Conceitos:
Lesão central X periférica:
- Central: é a lesão que vai até os bronquíolos respiratórios. Ou seja, até os
bronquíolos de 4a ou 5a ordem.
- Periférica: além dos bronquíolos de 4a ou 5a ordem.
Cisto X cavidade:
- Cisto é recoberto de epitélio respiratório. A cavidade é um “buraco”, uma
caverna sem limites específicos e formado a partir de um processo de necrose do
parênquima pulmonar.
Imagem em vidro fosco: é uma imagem sugestiva de neoplasia. Não é visível na
radiografia de tórax, porém, é visível na TC.
Probabilidade pré-teste de malignidade: é a probabilidade, levando em conta idade,
hábito de tabagismo, localização da massa (câncer em geral acomete lobos
superiores), formação (espiculada fala a favor de câncer enquanto calcificação sugere
benignidade) antes da biópsia daquela massa ser maligna.
Sinal brônquico: é o sinal radiológico que sugere uma via para a realização da
broncoscopia.
Sinal da coluna desnuda: é o sinal do deslocamento do mediastino, deixando a coluna
mais visível do que o normal.
Tuberculose miliar: o diagnóstico deve ser feito a partir da secreção da lesão ou do
escarro. Isso pois a disseminação é hematogênica.
Traqueia em bainha de lâmina de sabre: é o aumento do diâmetro ântero-posterior da
traqueia, geralmente associado com doenças enfisematosas.
Nódulo X massa: nódulo é a lesão completamente circundada por pulmão aerado e
menor do que 4cm no seu maior diâmetro. A massa é maior do que 4cm.
c) Considerações:
- A broncoscpopia é sempre precedida de Radiogragia simples e TC. A
broncoscopia deve sempre ser realizada por ser o método mais barato de se obter o
diagnóstico.
VI. Massas mediastinais:
1. Introdução:
a) Definição:
- Mediastino é a região entre as duas pleuras, que vai da transição cérvico-
torácica (borda superior da primeira vértebra torácica), até o diafragma.
Conteúdo: coração e grandes vasos, esôfago (maior parte), traqueia e brônquios
principais, timo, tireoide e paretireoide (ambos eventualmente), nervos, vasos
linfáticos e inúmeros linfonodos. Importante mencionar que a tireoide também entra
no tórax com o avanço da idade e acentuação da cifose.
b) Timo
Hiperplasia tímica: é uma lesão que ocorre entre 1-15 anos. Pode comprimir
parênquima pulmonar, produzir tosse e dispneia.
Cistos tímicos: tumor benigno com tecido adiposo.
Timoma: na maior parte das vezes são tumores de origem epitelial.
- Possuem 2 picos de incidência. O primeiro ocorre com 18-20 anos e o segundo
com 50-60 anos.
- Não costuma acometer traqueia, mas comprimir grandes vasos pela sua
localização pré-vascular.
- A imagem radiológica clássica é a de chama de vela na TC;
- O estadiamento é feito pela classificação de Masaoka.
Associação com miastenia gravis: cerca de 30% dos casos estão associados com o
aparecimento de miastenia gravis. O tratamento com ressecção do timoma melhora a
miastenia. Além disso, todo paciente com miastenia deve ter timoma investigado.
Tratamento: quando extravasa a cápsula deve ser retirado junto com ampla ressecção
da gordura mediastinal adjacente.
- Tumores extensos que invadem estruturas vizinhas recebem QT e RT
neoadjuvante. Basicamente, se só pegou o timo tira logo, se pegou outra coisa tenta
reduzir e depois opera.
Seminomas:
- São tumores que tentam imitar um túbulo seminífero.
- São 4% de todos de todos os tumores mediastinais. Ocorre quase
exclusivamente em meninos e corresponde 1/3 de todos os seminomas.
- O diagnóstico é feito com dosagem de mercadores e com biopsia (é um dos
poucos tumores em que os marcadores podem até substituir a biópsia). Não eleva
alta-feto.
Tumores não seminomatosos:
- São os mais comuns de todos os tumores germinativos do mediastino.
- São tumores agressivos (em crescimento e invasão). 80% tem metástase no
momento do diagnóstico.
- Diagnóstico também por imagem + biópsia + marcador.
d) Linfonodos
Metástases
Doenças linfoproliferativas e inflamatórias: Os linfomas no mediastino anterior e
médio correspondem a 15% de todas as lesões primárias de mediastino.
- Podem causar sintomas locais por invasão de estruturas vizinhas: síndrome da
VCS, síndrome de Claude-Bernard-Horner, paralisia da laríngeo recorrente, tosse ou
dispneia.
- Tanto Hodgkin como não-Hodgkin podem dar no mediastino.
- Tem que fazer biópsia. Pode ser PAAF, agulha cortante, mediastinoscopia,
mediastinotomia anterior, videotoracoscopia ou toracotomia.
- Após o tratamento pode haver a presença de um linfoma residual. Se houver
dúvida deve ser retirado.
Linfangioma cístico
e) Paratireoides
Adenoma intratorácico.
f) Hérnia de Morgagni:
- É um defeito na parede diafragmática, ou seja, um defeito no fechamento da
parede do diafragma. Por esse pertuito passa lentamente o conteúdo abdominal. Essas
alças que passam podem necrosar ou obstruir.
g) Higroma cístico:
- É uma proliferação de vasos linfáticos (linfagioma). Pode causar quilotórax.
Por isso, deve ser retirado.
e) Lesões esofágicas
Leiomioma
Divertículo
Hérnia de hiato
b) Outras:
Mielomeningocele intratorácica: são herniações das meninges pela coluna vertebral e
que ocorrem por defeitos nos forames. A ocorrência de meningocele anterior é rara.
Podem aparecer como lesões císticas por serem preenchidas por líquor.
Tumores dos corpos vertebrais
VII. Doenças pulmonares cirúrgicas não-neoplásicas:
1. Bronquiectasia:
a) Conceito: é a dilatação irreversível dos brônquios.
- Os brônquios dilatados (por lesão da cartilagem, tração do parênquima ao
redor) acumulam secreção, dilatam mais e acabam perdendo a sua função e levando o
segmento todo a perder a sua.
c) QC:
- Tosse crônica com expectoração: em grandes volumes, frequentemente
associada com halitose
- Infecções pulmonares de repetição: mais de 2 no ano ou 3 na vida.
- Perda funcional por destruição pulmonar
- Hemoptise: importante lembrar que o sangue pode coagular dentro do
brônquio e causar obstrução. Pequenos volumes podem ter graves consequências.
2. Sequelas de Tuberculose:
a) Cavernas
b) Micetoma (bola fúngica)
c) Destruição pulmonar
d) Evolução com TB multi-droga-resistente.
3. Pneumotórax:
a) Espontâneo X traumático: o espontâneo tende a ser mais benigno.
b) Espontâneo: pode ser primário (pulmão sem defeitos, mas com algumas vesículas
de ar). Tem mais chance de aparecer em indivíduos muito longilíneos e com baixo IMC.
A quantidade de recidivas pode incomodar o paciente e justificar a retirada. O que se
faz após 2-3 episódios é retirar as bolhas e toda a pleura do ápice do pulmão.
4. Pneumonia:
a) Procedimentos:
- Punção transtraqueal
- Broncoscopia com lavado broncoalveolar e biópsia transbrônquica
- Biópsia cirúrgica. É importante não deixar para fazer quando o paciente está
muito grave pois o resultado demora e eles podem evoluir mal e muito rapidamente.
5. Enfismema bolhoso:
a) Definição: é a bolha que ocupa um espaço no pulmão. Com isso ela pode comprimir
o parênquima ao redor.
b) QC:
- O paciente pode se queixar de dor ao respirar (ao hiperexpandir a bolha).
- Pode ocorrer dor por pneumotórax secundário a ruptura da bolha.
c) Tratamento:
- Drenagem direta da bolha
- Bolhostomia
- Ressecção cirúrgica da bolha
VIII. Doenças traqueais:
1. Introdução:
a) Anatomia:
- É um órgão condutor de ar, levando o ar da orofaringe aos pulmões.
- Possui 12 cm (10-13cm) de comprimento, correspondendo a 18-22 anéis. 1/3
desse comprimento é cervical e 2/3 mediastinal.
- No adulto o formato é elíptico, enquanto na criança é circular.
- São os anéis traqueais (que correspondem a 2/3 da circunferência) os
responsáveis pela rigidez.
- O revestimento epitelial é do tipo pseudoestratificado cilíndrico ciliado.
- A irrigação é pobre, não possuindo artérias próprias. 1/3 depende da artéria
tireóidea superior e o terço inferior de ramos das artérias brônquicas. Todos as
artérias chegam à traqueia lateralmente, o que facilita a traqueostomia. Devemos ter
isso em mente em qualquer abordagem.
b) Relações importantes:
- O 2o anel traqueal possui uma relação anterior íntima com o istmo da tireoide.
- Toda a parte posterior (membranosa) da traqueia de relaciona com o esôfago;
- Os nervos laríngeos recorrentes correm no sulco traqueo-esofágico de ambos
os lados.
- Vasos: as veias são anteriores às artérias.
- Veia subclávia esquerda
- Tronco braquicefálico arterial
- Arco da aorta.
c) Radiografia:
- A traqueia é vista como uma imagem translúcida na linha média.
- Existe uma pequena inclinação fisiológica para a direita no terço inferior.
- Não existe uma nítida separação com as outras estruturas mediastinais.
b) Divertículo de traqueia
- É um saco de ar que se forma na traqueia. Normalmente é formado na parede
póstero-lateral, do lado direito ao nível da transição cérvico-torácica.
d) Síndrome de Mounier-Kuhn:
- É uma forma congênita de traqueomeglia. O defeito chega até o brônquio
principal. As vias aéreas periféricas mantêm o diâmetro normal.
- Nas traqueobronquiomegalias as secreções são mal mobilizadas e, por isso,
são queixas comuns a tosse crônica, dispenia, infecções de repetição, bronquiectasias
e fibrose pulmonar.
b) Histoplasmose
c) Paracoccidioidomicose
d) Mediastinite fibrosante:
- É uma doença inflamatória não tumoral, mas que simula tumores
mediastinais.
- É uma sequela de um conglomerado linfonodal que envolve a traqueia. A
biópsia do linfonodo é feita e não mostra agentes infecciosos.
b) Fisiopatologia:
- Ocorre pelo contato do balonete sobre a parede da traqueia. Essa pressão
leva a uma diminuição da pressão capilar e consequente isquemia. O processo
isquêmico evolui com necrose, ulceração e desabamento da cartilagem.
c) IOT X traqueostomia:
- A estenose no local do traqueostoma é raro.
- Quando ocorre na subglote (entre a cricoide e o 1o anel traqueal
diferenciado), sabemos que foi uma IOT. Isso pois esse local de estenose nos indica
que o processo isquêmico ocorreu por um contato da cânula com a parede, o que só
ocorre na IOT.
- A estenose traqueal não subglótica (que ocorre tanto na traqueostomia como
na IOT) é mais fácil de tratar.
d) Quadro clínico:
- Tosse, rouquidão, dificuldade respiratória e estridor em 45-60 dias de
intervenção deve ser investigado. A falta de ar começa de forma aguda.
e) Diagnóstico:
- Feito por TC ou broncoscopia. A broncoscopia tem a limitação de não ser
possível passar o broncoscópio quando há estenose importante pelo risco de asfixiar o
paciente.
- A TC avalia mal o grau de estenose, mas avalia bem a extensão da lesão.
f) Tratamento:
- Dilatação com vela ou balão
- Substituição por traqueostomia
- Uso de tubo T
- Traqueoplastia: só deve ser indicada 6-8 meses após a intervenção pois antes
disso ainda existe muita inflamação e o procedimento pode prejudicar
- Órtese traqueal: se a lesão for muito extensa pode ser difícil fixar.
g) Prevenção:
- A principal estratégia é o uso de balonetes modernos, de baixa pressão e alto
volume, mantendo uma pressão sempre inferior a 25mmH20.
- Algumas circunstâncias e cânulas especial permitem o uso de balonete
conectado a extensão do ventilador e uso de menor tração da extensão do ventilador.
6. Traqueostomia:
a) Definição:
- É uma solução de continuidade entre a traqueia e superfície corporal.
b) Indicações:
- Alívio de obstruções
- Aspiração de secreção por hipersecreção ou por sangramento
- Evitar broncoaspiração
- Manutenção de assistência respiratória por longo período. Além de evitar
estenose, é mais fácil manusear uma traqueostomia do que uma cânula orotraqueal.
c) Vantagens:
- Estenose de traqueia
- Edema de laringe
- Granuloma de prega vocal
- Erosão de laringe
- Estenose subglótica
d) Complicações precoces:
- Sangramento;
- Infecção
- Enfisema subcutâneo
- Obstrução da cânula
- Laceração da traqueia
- Lesão de laríngeo recorrente
- Pneumotórax e pneumomediastino
- PCR
- Formação de rolha de sangue ou de secreção.
e) Complicações tardias:
- Estenose traqueal
- Fístula com artéria inominada (tronco braquicefálico). Ocorre quando o cuff
fica na altura da passagem da artéria em frente à traqueia. Morre.
- Fístula traqueoesofágica: pode ocorrer também precocemente.
- Fístula traqueocutânea