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Damaris R.

Lopes da Silva – Feminização da Pobreza em Cabo Verde: ICIEG 2016

Oportunidades Económicas e Redução da Pobreza

“A Feminização da Pobreza em Cabo Verde”.

Nota Introdutória
O artigo pretende entender o fenómeno de feminização da pobreza em Cabo Verde através
da leitura de dados sobre as oportunidades económicas e pobreza das mulheres no país.
Para tal se procede a uma leitura detalhada de indicadores tais como o índice de
profundidade da pobreza, assim como de indicadores sobre as dinâmicas do mercado do
trabalho nacional, de forma a entender como as disparidades existentes a este nível abocam
a uma maior incidência da pobreza nas mulheres cabo-verdianas. O artigo está composto
para alem da nota introdutória e das conclusões, de três capítulos que contextualizam,
analisam e discutem a problemática.

A feminização da pobreza
As causas da pobreza são de ordem multidimensional, tendo raízes em muitos casos em
questões estruturais, levando consequentemente a que a pobreza atinja a pessoas em
situações de vulnerabilidade, especialmente as mulheres.

A Declaração de Pequim 1995, põem de manifesto que a proporção de mulheres em situação


de pobreza é cada vez maior, este fenómeno é conhecido como feminização da pobreza.
Neste contexto se tem impulsionado medidas que permitam a diminuição da pobreza de
forma geral, tendo um grande enfoque na diminuição das desigualdades de género
existentes.

Apesar dos avanços conseguidos neste âmbito e das reformas feitas e impulsionadas pela
Plataforma de Acção de Pequim e a implementação dos ODM, a situação de desigualdade
persiste. No continente africano as mulheres têm-se visto privadas do acesso igualitário em
dimensões tais como: (i) oportunidades económicas, (ii) desenvolvimento humano, (iii) acesso
a instituições e (iv) leis que protejam os seus direitos. Esta realidade tem levado a reprodução
dos ciclos de pobreza e exacerbado a situação de pobreza das mulheres.

Pobreza e género - análise da situação nacional


Segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas a população vivendo abaixo do limiar
da pobreza diminuiu, passando de 49% em 1990 para 26.6% em 2007, ilustrando uma
evolução da situação muito positiva. Contudo em 2007 o fosso de género entre pessoas
vivendo abaixo do limiar da pobreza agravou-se: as pessoas pobres eram
predominantemente do sexo feminino - das 111,219 pessoas pobres, 66,015 eram mulheres

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(56.3%) e 51,204 homens (43.7%), o que se traduz em um fosso de 12,6% a desfavor das
mulheres. O ICF1 era neste período de 1,28 pontos o que indica uma clara situação de
desigualdade relativamente as mulheres, com esta informação podemos constatar que esta
tendência leva a feminização da pobreza em Cabo Verde. Estes dados vão de encontro a
leitura feita pelo Banco Africano de Desenvolvimento relativamente as oportunidades
económicas, no referente as mulheres, no qual a performance do país, é menos boa que em
outros indicadores.2 Uma situação parecida se dá relativamente aos dados sobre agregados
familiares pobres segundo o sexo do representante, estes indicam que nesse ano 33% dos
agregados familiares representados por mulheres eram considerados pobres frente a
21,3% dos agregados representados por homens. O facto de que a pobreza afete
maioritariamente as mulheres e os seus agregados familiares tem consequências no que diz
respeito ao nível de conforto dos agregados representados por mulheres, recaindo
fundamentalmente nos indicadores de acesso a água e a eletricidade. O Inquérito
Multiobjectivo Contínuo de Estatísticas de Família e Condições de Vida (2014) aponta que
83,8% dos agregados chefiados por mulheres tem como principal meio de iluminação a
eletricidade frente a 85,1% dos homens. Relativamente a ligação do alojamento a rede
pública de água os dados indicam a um fosso de 5,8% a desfavor das mulheres. Estas
desigualdades se traduzem numa menor qualidadede vida e nível de conforto dos agregados
familiares representados por mulheres.

O índice de profundidade da pobreza, 3 nos ajuda a entender melhor o fenómeno de


feminização da pobreza em Cabo Verde. Os dados existentes indicam que no relativo a este
indicador atingimos a meta estabelecida pelos ODM, passando de 21% em 1990 a 8,1%
em 2007 (meta 10,4%). Contudo uma análise detalhada mostra que existem assimetrias e

1
O índice da Condição Feminina, exprime uma relação de proporcionalidade em razão do sexo, ou
seja o fosso entre a posição dos homens e das mulheres. Calcula-se dividindo o numero absoluto ou %
do dado relativo às mulheres pelo dos homens, mas se o indicador é negativo, como por exemplo
morte de mulheres a operação inverte-se. A escala classificativa do Índice vai de 0 a 1, sendo que 1
significa igualdade e os valores inferior a 1 apontam para uma situação de desigualdade em desfavor
das mulheres. Quando o índice é superior a 1 significa que o desequilíbrio é em desfavor aos homens.
Para classificar o valor do ICF, pode-se avaliar o índice de acordo com a seguinte escala: aceitável
(entre 1 e 0,91), Médio (entre 0, 90 e 0,81), Baixo (entre 0,80 e 0,61), Muito Baixo (entre 0,60 e 0,41)
e Critico (entre 0,40 e 0). Fonte: Relatório IDISA Cabo Verde 2012. O cálculo do ICF adota as
recomendações técnicas divulgadas no “Índice Africano de Desenvolvimento e de Género” (Adis
Abeba, 2004).
2
Empowering African Women: An Agenda for Action - GENDER EQUALITY INDEX 2015, pelo Banco
Africano de Desenvolvimento, 2014.
3 Este indicador mede, segundo Coudouel e Hentschel, a gravidade da situação dos pobres, o quão

abaixo do limiar de pobreza se encontram os seus níveis de despesas ou de rendimento. Esta medida
é usualmente designada por “gap” da pobreza, uma vez que, mede a insuficiência do rendimento em
relação ao limiar de pobreza. Segundo os autores referidos, esta medida especifica os recursos
necessários para que todos os pobres cheguem ao limiar de pobreza. Dito de outra forma, constitui o
montante mínimo para se erradicar a pobreza. Fonte: INE- Relatório Metodológico ODM.

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desigualdades entre homens e mulheres. Em 2007 o índice de profundidade da pobreza era


mais alto entre as mulheres (10,2%) do que entre os homens (6,2%). A dessegregação de
dados por meio de residência também nos indica assimetrias importantes. O índice de
profundidade de pobreza na população masculina era de 1,9% no meio urbano e 12,9% no
meio rural, enquanto que no referente a população feminina era de 5,2% no meio urbano e
15,8% no meio rural. O resultado para o cálculo do ICF para este indicador, é de 1,96, perto
dos 2 pontos, demostrando uma forte incidência da pobreza nas mulheres o que exacerba a
feminização da pobreza a nível nacional.

Como dito anteriormente a pobreza tem origem em causas estruturais atingindo


maiormente a população em situação de vulnerabilidade, neste caso a mulher. As razões
podem ser de diferente índole. Neste artigo exploraremos a relação entre a feminização da
pobreza em Cabo Verde e as dinâmicas do mercado de trabalho nacional, nomeadamente o
emprego, o subemprego, a informalidade entre outras.

O acesso a oportunidades económicas e a feminização da pobreza em Cabo


Verde
Diferentes relatórios internacionais apontam para a feminização da pobreza em Cabo
Verde, no relatório “Empowering African Women: An Agenda for Action - GENDER EQUALITY
INDEX 2015” elaborado pelo Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), que reflete a
situação atual das mulheres em África, se elaborou uma lista de países com melhor
performance no que concerne as questões de género. Cabo Verde encontrava-se no posto
número 9, demostrando os avanços conseguidos no país. Contudo o mesmo relatório aponta
a deficiências importantes no referente a oportunidades económicas, sendo esta a dimensão
que menos se tem observado avanços em Cabo Verde. Seguindo as mesmas tendências, os
dados do “Global Gender Report 2015” do Fórum Económico Mundial, indicam que o país
tem resultados muito positivos sendo que ocupa o lugar 50 de entre 145 países no que se
refere ao Indicador Global sobre Igualdade de Género, contudo ao fazer uma leitura dos
dados no referente a oportunidades económicas para mulheres, o país cai ao posto 115 de
145 países no mencionado relatório.

Estes relatórios parecem indicar que apesar dos esforços e avanços na promoção da mulher
e na promoção da igualdade e equidade de género que se observa em Cabo Verde, estes não
se refletem numa melhoria efetiva das condições de vida, da autonomia económica e da
redução da pobreza quando a questão concerne as mulheres. A literatura internacional nos
sugere que o estudo do mercado de trabalho poderia dar-nos pistas sobre os fatores que
levam a que existam desigualdades de género persistentes no relativo a redução da pobreza.

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No sentido de descortinar a origem destas desigualdades e melhor entender a situação das


mulheres em Cabo Verde, faremos uma análise detalhada no referente ao mercado de
trabalho, dado que sobre ele recai a importância do acesso a empregos com boas condições
laborais e a melhoria das condições de vida das mulheres entre outros. Para tal
abordaremos fundamentalmente os dados sobre a taxa de participação das mulheres na
força de trabalho nacional, o mercado de trabalho e dados sobre o desemprego.

Segundo Marone (2016), 4 em 2014 a taxa de participação da mulher na força de trabalho


era de 51,2% do total de mulheres em idade ativa e a dos homens de 65%, indicando um
fosso de género é de 13,8% a desfavor das mulheres. Este fosso esta relacionado com um
maior número de mulheres inativas (97.780) frente a homens inativos (63.811).

Apesar da maior inatividade das mulheres, quando analisados os dados referentes ao


mercado de trabalho publicados pelo INE no IMC 2014, estes indicam uma maior taxa de
desemprego entre os homens (16,3%) que entre mulheres (15,2%). Contudo uma leitura
mais aprofundada dos dados pode dar-nos informações pertinentes no referente a situação
da mulher neste campo:

(i) Os dados do INE indicam que a maioria da população empregada em Cabo Verde,
trabalha em profissões elementares, 5 sendo que destes um 56,6% são mulheres
e 43,4% são homens;

(ii) Nota-se uma maior taxa de desemprego entre mulheres de idade


compreendidas entre 15 e 34 anos de idade, oscilando entre valores de 42% a
15 %, frente aos homens na mesma idade com valores que oscilam entre os 30%
e 10%;

(iii) O desemprego em Cabo Verde afeta maioritariamente aos jovens, mas


fundamentalmente a mulheres jovens em idade reprodutiva;

Outros dos fatores geradores de desigualdades de género é o facto de que o mercado de


trabalho mostra uma acentuada segregação por sexo, existindo áreas predominantemente
masculinas.

4Demographic Dividend, Gender Equality in Labor Force Participation, and Economic Growth: The
Case of Cabo Verde
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Profissões elementares, serviços pessoais, proteção, segurança e vendedores.

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Tabela 1: Percentagem de empregos por grupo e profissões, desagregados por sexo 2014

Grupos de profissões M H
Total 47,5 54,3
Militares 0 100
Legisladores, executivos, diretores e gestores executivos 39,1 60,9
Especialistas em atividades intelectuais e científicas 56,2 43,8
Técnicos profissionais de nível intermédio 32,4 67,6
Pessoal administrativo 61,6 38,4
Serviços pessoais, proteção segurança e vendedores 63,2 36,8
Trabalhadores qualificados de agricultura, pesca e floresta 23,5 76,5
Trabalhadores qualificados de industria construção e artífices 18,1 81,9
Operadores de instalações, máquinas e montagem 7,5 92,5
Profissões elementares 56,6 43,4
Fonte: Mulheres e Homens – Factos e Números 2015; INE

Os dados indicam uma clara masculinização de certas profissões, com fossos importantes
no que se refere a profissões que exigem qualificação técnica, nomeadamente: (i) no grupo
de legisladores, executivos (…) nota-se um fosso de 21,8% a desfavor das mulheres, uma
situação parecida se identifica em outras profissões que exigem algum grau de qualificação
técnica. Estes grupos de profissões estão relacionados por um lado com melhores condições
laborais assim como estão associados a uma menor vulnerabilidade.

Apesar da taxa de desemprego ser menor entre mulheres que homens, as primeiras estão
em grupos de emprego que tem uma forte relação com a informalidade e, portanto, com
uma maior vulnerabilidade no referente a rendimentos estáveis e mais altos e melhores
condições laborais, como visto anteriormente estas fazem a maior parte do trabalho
elementar feito em Cabo Verde, assim como representam um 63,2 % dos empregos
relacionados com os serviços pessoais e vendedores.

O fraco acesso a trabalhos qualificados e a alta taxa de desemprego entre mulheres jovens,
cria maiores desigualdades entre homens e mulheres. A situação exacerba as desigualdades
existentes no referente a pobreza em Cabo Verde e ao acesso a melhores condições de vida.
A agenda política deveria tomar especial atenção a estes dados, no sentido a que levam a
continua feminização da pobreza. As políticas nacionais referentes a redução da pobreza,
incluir de forma efetiva as questões ligadas a situação das mulheres, na medida em que elas
não estão tem usufruído totalmente da melhoria das condições de vida no país, ligados aos
altos níveis de desenvolvimento económico-social que se tem dado.

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Damaris R. Lopes da Silva – Feminização da Pobreza em Cabo Verde: ICIEG 2016

Conclusões
Cabo Verde tem vivido avanços importantes no que concerne ao desenvolvimento
económico, social e cultural. Este desenvolvimento tem sido muito mencionado nos
diversos relatórios produzidos, que indicam que o país é um exemplo de sucesso em matéria
de desenvolvimento. Apesar dos avanços que se tem tido tanto no que concerne ao
desenvolvimento económico como na promoção dos direitos das mulheres, os dados
sugerem que as mulheres cabo-verdianas não têm conseguido usufruir totalmente destes
ganhos nacionais devido a que a desigualdade de género no que diz respeito á pessoas que
vivem em situação de pobreza é persistente.

Em Cabo Verde vivemos atualmente um processo de feminização da pobreza, ou seja, a


proporção de mulheres em situação de pobreza tem aumentado. Os dados de 2007 sugerem
um fosso de 12,6% a desfavor das mulheres no que referente a pobreza, o ICF era nesse
período de 1,28 pontos o que indica uma clara situação de desigualdade relativamente as
mulheres.

As mulheres em Cabo Verde são mais pobres e também são as mais afetadas pelo índice de
profundidade da pobreza sendo que este era mais alto entre as mulheres (10,2%) do que
entre os homens (6,2%). Esta situação está em grande medida relacionada com o acesso a
empregos de qualidade, que garantem uma estabilidade nos rendimentos, assim como
melhores condições de vida. Os dados no referente aos empregos por grupos de profissões
indicam uma masculinização de certos nichos de emprego, que coincidem com nichos de
empregos menos vulneráveis. As mulheres são as que tem maioritariamente profissões
elementares 56,6%, assim como de vendedoras (63,2%), estas profissões estão
relacionadas com uma maior vulnerabilidade no que diz respeito a rendimentos entre
outras questões. O fraco acesso a empregos de qualidade, tem aumentado a vulnerabilidade
das mulheres, abocando-as a condições de maior pobreza.

Para um maior desenvolvimento do país, as soluções têm que passar impreterivelmente,


por políticas que sejam capazes de aproveitar a força de trabalho das mulheres e promover
um melhor e maior acesso a empregos de qualidade de todos, mas em especial das mulheres.

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Damaris R. Lopes da Silva – Feminização da Pobreza em Cabo Verde: ICIEG 2016

Bibliografia
Declaração e Plataforma de Ação da IV Conferência Mundial Sobre a Mulher - Pequim, 1995;

Documento de Consulta para los Encargados de Comisionar el Análisis y para Profesionales


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Equipo para el Análisis y el Seguimiento de la Pobreza; Banco Mundial, División de
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Sfrican Development Bank 2015;

Feminino, Masculino e Questões de Género: Uma leitura com base no recenseamento geral
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Inquerito Multi-objetivo Continua 2014. Estatísticas do mercado de trabalho; Instituto


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Marone, Heloisa; IN:Demographic Dividend, Gender Equality in Labor Force Participation,


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Mulheres e Homens em Cabo Verde – Factos e Número; Instituto Nacional de Estatísticas de


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UNIFEM República de Italia Santiago de Chile, enero de 2004;

Concluding observations on the combined seventh and eighthObservações finais sobre o


relatório periódico combinado (sétimo e oitavo) Cabo Verde, Comité para a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, 2013;

Plano Nacional para a igualdade e equidade de género: Relatório de avaliação e actualização;


Instituto Cabo-verdiano para igualdade e equidade de género; Praia, Junho 2008;

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Damaris R. Lopes da Silva – Feminização da Pobreza em Cabo Verde: ICIEG 2016

Relatório Cabo Verde Beijing+20, Sobre a Implementação da Declaração e Plataforma de


Ação de Beijing, Instituto Cabo-verdiano para Igualdade e Equidade de Género, Praia, Junho
de 2014;

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