Ainda bem que neste exato momento muitas mulheres estão tendo este yinsight,
de perceber que são muito mais do que julgavam ser, que não são apenas um
corpo a satisfazer padrões, ou uma profissional workaholic, ou uma esposa, ou
uma mãe, ou uma amante, ou uma vítima dos acontecimentos, e que o conjunto
das faces da Deusa só vai existir em equilíbrio se a cura de determinadas
sombras for realizada.
A mulher que buscar o reconhecimento das suas forças interiores e a integração
dos atributos das deusas provavelmente vai parar de culpar a vida ou seus
amores fracassados pela sua infelicidade. Ela vai resgatar seus pedacinhos de
mulher, vai aproveitar e reciclar o que deve ser valorizado e vai se dar conta do
que deve amadurecer e deixar morrer... como a Grande Mãe faz na sábia
natureza.
Consigo mesma, na alegria e na tristeza - E assim pode surgir um novo
modo de SER, de onde pode surgir um jeito de amar novo, descentralizado - o
que não significa superficial. Mas para ter um relacionamento genuinamente
novo, tem que primeiro poder: muitas mulheres nas suas condições atuais
devem se questionar a respeito: "Será que sou capaz de ter uma postura
diferente, um amadurecimento emocional, ou só estou carente e com medo de
ficar sozinha?"
E, dependendo da resposta, antes de quererem amar e ser amadas, devem
buscar primeiro o setor de capacitação. Não é papo de RH: é buscar a
capacitação para poder relacionar-se bem com o ser amado sem torná-lo eixo
condutor da sua própria vida, coisa que muita mulher acaba fazendo sem querer,
porque vive na sombra das deusas e projetando a suposta solução desse vazio
interior no companheiro. Esse jeito de amar descentralizado consiste em manter
o "gráfico da vida" equilibrado, dividido em fatias mais ou menos parelhas, sem
separar fatias grandes demais para algo ou alguém, evitando assim a desilusão.
Quando constatamos que realmente tudo que faz parte da vida é transitório e
que não podemos segurar nada nem ninguém pra sempre conosco, conseguimos
perceber que a única permanência da vida somos nós mesmos. E então
percebemos que este eu mesmo que nos acompanhará eternamente vive melhor
se aprender a crescer, a se autoconhecer, a curar suas feridas, a perdoar, se
perdoar e libertar-se de medos e limitações antigas...
A mulher deveria pensar que, se ela está destinada a conviver consigo mesma,
na alegria e na tristeza, o ideal é que ela faça isso com a maior consciência
possível, o melhor é que ela esteja inteira e não esperando ser completada por
uma metade que na verdade não lhe pertence. As pessoas não se pertencem,
elas podem apenas se aproximar muito e interagir, ser companheiras e amarem-
se, mas a individualidade do outro é um fato intransponível que deve ser aceito,
como aceitamos que precisamos de ar para respirar. Amar é lindo, mas quem
sabe amar de um jeito lindo?
Só quem está muito consciente, muito íntegro, muito amoroso e, desta forma,
ama.
A cura do feminino na vivência do amor envolve uma tomada de consciência de
que talvez aquilo que pensamos ser amor seja outra coisa qualquer que nos
acomoda e nos conforta em nossas limitações. Envolve também a constatação
de que para mudar nossa vida e o que não dá certo nela, só mudando a nós
mesmas, sanando feridas, colocando um ponto final nos sofrimentos antigos e
orgulhos feridos que não servem pra mais nada. Os relacionamentos amorosos
vão dar um salto quântico quando a mulher e o homem amadurecerem de
verdade, porque envelhecer não é sinônimo de crescer, carência não é sinônimo
de amor, e estar junto não é sinônimo de amar.
Ir em busca da sabedoria da Deusa é a caminhada ancestral da mulher rumo ao
amor por si mesma. Há muito ainda para ser plantado no solo fértil da Deusa e,
somente com a própria taça transbordante, a mulher poderá brindar o amor junto
com o homem.
Carla Lampert
Disponível em http://femininoessencial.blogspot.com/2010/01/mulher-e-sombra-
do-feminino-na-vivencia.html. acesso em 05 jun 2010.