Disciplina: Pensamento Social Brasileiro Professor: Luís Cláudio R. H. de Moura Turma: 6º Semestre Data: 17/04/2018 Fichamento de Texto Referência: CARVALHO, José Murilo, Primeiros Passos. In. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 3ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002. pp. 45-64. No primeiro capítulo intitulado “Primeiros Passos” o autor José Murilo de carvalho dedica- se ao subtítulo “Direitos civis só na lei”, nessas páginas ele traz várias críticas entorno desse tema, decorrendo argumentos em torno de 4 eixos, a escravidão, a grande propriedade, a cidadania operária e os direitos sociais. O autor abre o assunto dizendo que “A herança colonial pesou mais na área dos direitos civis. O novo país herdou a escravidão, que negava a condição humana do escravo, herdou a grande propriedade rural, fechada à ação da lei, e herdou um Estado comprometido com o poder privado.” (Pág. 45). A Escravidão Segundo o autor, a escravidão fazia parte da sociedade brasileira de forma tão intrínseca, que não se discutiu muito esta questão até o final da guerra contra o Paraguai. Antes disso, em 1827, a Inglaterra exigiu, por meio de um tratado, a proibição do tráfico de escravos, entretanto, na prática, essa lei não teve efeito, já que o tráfico não extinguiu-se, surgindo, segundo o autor, a expressão “lei pra inglês ver”, expressão essa, usada pelo autor em outros momentos no texto em que essa configuração se repete. O governo só pôs fim ao tráfico de forma efetiva em 1850, quando “a Marinha Inglesa invadiu portos brasileiros para afundar navios suspeitos de transportar escravos.” (Pág. 46). Após esta medida, a escravidão só voltou a ser assunto do governo no fim da Guerra contra o Paraguai, pois afirma o autor que, “Durante o conflito, a escravidão revelara-se motivo de grande constrangimento para o país. O Brasil tornou-se objeto das críticas do inimigo e mesmo dos aliados. Além disso, a escravidão mostrara-se perigosa para a defesa nacional, pois impedia a formação de um exército de cidadãos e enfraquecia a segurança interna.” (Pág. 46). Como resultado dessa discursão, em 1871, foi aprovada a lei de libertação dos filhos de escravos nascido daquele ano em diante, os nascidos livres, chamados “ingênuos”, se viam, efetivamente, livres apenas a partir de seus 21 anos de idade. De acordo com o autor, o Brasil foi o último país ocidental, de tradições cristã a libertar os escravos, em 1884 iniciou no parlamento a discursão sobre o assunto, mas apenas em 1888, a abolição veio de fato. Desse ponto em diante, Surge uma indagação por parte do autor, ao analisar que em 1887, a população escrava era de 723 mil, que representava cerca de 5% da população brasileira, enquanto, às vésperas da guerra civil, nos Estados Unidos, haviam quase 4 milhões de escravos, “pode-se perguntar se a influência da escravidão não foi maior lá e se não seria exagerada a importância que se dá a ela no Brasil como obstáculo à expansão dos direitos civis.” (Pág. 47). Em resposta, o autor traz uma espécie de comparação, entre a difusão da escravidão, a conjuntura abolicionista e pós abolição, do brasil com os Estados Unidos da América, afim de analisar a real influência da escravidão na expansão dos direitos civis no Brasil. Afirma ele que, a difusão da escravidão se deu de forma diferente nos dois países, nos Estados Unidos a escravidão se limitava nos estados do sul, no resto do país não tinha escravos, sendo assim era uma questão geográfica, existia uma linha que separava a escravidão da liberdade. No brasil, em contra partida, existia escravidão em todo o país, portanto não havia para onde fugir. O abolicionismo se deu também de formas diferentes, enquanto nos Estados Unidos, possuía como princípio a religião e a Declaração de Direitos, no Brasil o principal argumento, era um chamado, razão nacional. “A razão nacional foi usada por José Bonifácio, que dizia ser a escravidão obstáculo à formação de uma verdadeira nação, pois mantinha parcela da população subjugada a outra parcela, como inimigas entre si. Para ele, a escravidão impedia a integração social e política do país e a formação de forças armadas poderosas. Dizia, como o fez também Joaquim Nabuco, que a escravidão bloqueava o desenvolvimento das classes sociais e do mercado de trabalho, causava o crescimento exagerado do Estado e do número dos funcionários públicos, falseava o governo representativo.” (Pág. 50-51). O autor apresenta a diferença existente na maneira em que ambos países trataram seus ex- escravos. Os Estados Unidos, “fizeram grande esforço para educar os ex-escravos. (...)Foram também distribuídas terras aos libertos e foi incentivado seu alistamento eleitoral.” (Pág. 52). Já no Brasil, “aos libertos não foram dadas nem escolas, nem terras, nem empregos. (...) muitos ex- escravos regressaram a suas fazendas, ou a fazendas vizinhas, para retomar o trabalho por baixo salário. (...)Outros dirigiram-se às cidades, como o Rio de Janeiro, onde foram engrossar a grande parcela da população sem emprego fixo.” (Pág. 52). Por fim, o autor conclui a parte sobre escravidão afirmando que, “As conseqüências disso foram duradouras para a população negra. Até hoje essa população ocupa posição inferior em todos os indicadores de qualidade de vida. É a parcela menos educada da população, com os empregos menos qualificados, os menores salários, os piores índices de ascensão social.” (Pág. 52). E mais, finaliza com a seguinte crítica: “A libertação dos escravos não trouxe consigo a igualdade efetiva. Essa igualdade era afirmada nas leis mas negada na prática.” (Pág. 53). A grande Propriedade Para o autor, a grande propriedade é outro obstáculo enfrentado pela expansão da cidadania, já que esta é ainda, uma realidade encontrada em várias regiões do país, o grande proprietário ou coronel, segundo o autor, “ainda age como se estivesse acima da lei e mantém controle rígido sobre seus trabalhadores.” (Pág. 54). Até 1930, O brasil era um país cuja a economia era focada na exportação agrícola, devido a isso na sociedade rural, eram os coronéis quem dominavam, já que estes eram os sustentadores da política. Essa atividade ceifou, de várias maneiras, o acesso aos direitos políticos da população rural, sobre isso o autor discorre, “O coronelismo não era apenas um obstáculo ao livre exercício dos direitos políticos. Ou melhor, ele impedia a participação política porque antes negava os direitos civis. Nas fazendas, imperava a lei do coronel, criada por ele, executada por ele. Seus trabalhadores e dependentes não eram cidadãos do Estado brasileiro, eram súditos dele.” (Pág. 56). Já sobre os direitos civis dessa mesma população, o autor afirma que, “A justiça privada ou controlada por agentes privados é a negação da justiça. O direito de ir e vir, o direito de propriedade, a inviolabilidade do lar, a proteção da honra e da integridade física, o direito de manifestação, ficavam todos dependentes do poder do coronel. (...)Não havia justiça, não havia poder verdadeiramente público, não havia cidadãos civis.” (Pág. 57) A cidadania operária Para Carvalho, com o surgimento da classe operaria, significaria a formação de cidadãos mais ativos e participativos, ainda em 1920, mesmo a classe operaria sendo pequena e recém surgida, já existia uma diversidade social e política. O autor, apresenta São Paulo e Rio de Janeiro como representação do país. Segundo ele no Rio de Janeiro, “havia maior diversidade de orientações. O operariado do Estado e de empresas públicas mantinha estreita ligação com o governo. Muitos operários do Estado votavam nas eleições. No setor não-governamental havia maior independência política. Os operários do porto não se negavam a dialogar com patrões e com o governo, mas eram bem organizados e mantinham posição de independência. Na indústria e na construção civil, encontravam-se as posições mais radicais, influenciadas pelo anarquismo trazido por imigrantes europeus.” (Pág. 59). Já em São Paulo, “o peso do anarquismo foi maior devido à presença estrangeira e ao pequeno número de operários do Estado. O movimento operário como um todo foi mais agressivo, culminando em uma grande greve geral em 1917. (Pág. 59). No que diz respeito a cidadania, o autor afirma que “o movimento operário significou um avanço inegável, sobretudo no que se refere aos direitos civis. O movimento lutava por direitos básicos, como o de organizar-se, de manifestar-se, de escolher o trabalho, de fazer greve. Os operários lutaram também por uma legislação trabalhista que regulasse o horário de trabalho, o descanso semanal, as férias, e por direitos sociais como o seguro de acidentes de trabalho e aposentadoria.” (Pág. 60). Os direitos Sociais Nesse último ponto tratado pelo autor, ele inicia lembrando sobre a precariedade dos direitos civis e políticos, como forma de enfatizar a dificuldade em se falar de direitos sociais, já que a assistência social estava quase que em sua maioria nas mãos das associações privadas. Nesse sentido, segundo o autor, “o governo pouco cogitava de legislação trabalhista e de proteção ao trabalhador. (...) Não cabia ao Estado promover a assistência social. A Constituição Republicana proibia ao governo federal interferir na regulamentação do trabalho. Tal interferência era considerada violação da liberdade do exercício profissional.” (Pág. 62). Quando ocorreu a primeira reforma na constituição, em 1926, o governo federal passou a ser autorizado a legislar sobre o trabalho, já sobre a legislação social poucas medidas foram adotadas, sobre isso o autor, destaca que “muitos operários vinham cobrando medidas que regulassem a jornada de trabalho, as condições de higiene, o repouso semanal, as férias, o trabalho de menores e de mulheres, as indenizações por acidente de trabalho. Em 1919, uma lei estabeleceu a responsabilidade dos patrões pelos acidentes de trabalho. (...) Em 1923, foi criado um Conselho Nacional do Trabalho que, no entanto, permaneceu inativo. Em 1926, uma lei regulou o direito de férias, mas foi outra medida "para inglês ver". O que houve de mais importante foi a criação de uma Caixa de Aposentadoria e Pensão para os ferroviários, em 1923. Foi a primeira lei eficaz de assistência social.” (Pág. 63) O autor, finaliza atentando ao fato de que todas essas medidas se deram no meio urbano, no campo o que existia de assistência social era “ofertada” pelos coronéis, o que segundo o autor ajuda a entender a prevalência do poder dos coronéis.