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Da arbitragem e seu conceito categorial }. Operant Jixcon Professor titular Gnico de Direito Adminis- trative da Faculdade de Direito da Univer. sidade de Sé0 Paulo SUMARIO 1. Introdugdo, 2. Historico. 3. Fundamento _mo- derno do instituto. 4. Arbitragem internacional de direito privado. 5. Arbitragem internacional de direito pudlico 6. A figura do “arditro”. 7. Conclusdo: elementos inte- grantes da definigdo, 1. Introdugéo TITO CARNACINI, professor titular de Direito Processual Civil, na Universidade de Bolonha, autor da Monografia Arbitrato Rituale, que se encontra no Novissime Digesto Italiano, publicado pela UTET (Unione Tipo- grafico-Editrice Torinese, 1958), traduzida para o castelhano por Santiago Sentis Melendo (Buenos Aires, 1961, Ediciones Juridicas Europa-América), inicia seu trabalho, salientando: “A leitura de recente sentenga, prolatada pelas Series Reunidas da Corte de Cassagfo, em 9 de maio de 1956, sob a presidéncia do jurista Brunelli (cf, Foro Haliano, 1956, vol. 1, pp. 847 ¢ seguintes), verdadeiramente notavel pelo profundo exame dos problemas ento tratados e pelo esforgo para resolvé-los de maneira orginica, levou um de nossos mais consagrados especialistas em processo a meditar sobre a superficialidade dos conhecimentos correntes, relativos ao tema da arbi- fragem a afirmar que se trata de matéria, na qual tudo esté ainda por fazer-se” (ct. TITO CARNACINI, Novissimo Digesto Haliano, sub voce “Arbitrato Rimale” ¢ a tradugio espanhola, citada, Arbitraje, p. 11). K. Inf, legis. Brositia ©. 25 m. 98 obs./jun. 1988 RW Poderiamos dizer que, trés décadas depois, em 1987, 0 instituto da Arbitragem, em nosso Pais, ainda ensaia os primeiros pasos, se bem que a literatura estrangeira a respeito oferega excelente material de trabalho para pesquisas ¢ colocagées juridicas, neste relevante capftulo do direito internacional Pretendendo contribuir, na construgo pétria, indagando a respeito da definigéo da Arbitragem, empreendemas prolongada busca bibliogréfica, a fim de atingir © passo inicial, neste complexo campo da ciéncia juridica, principiando por tentar a defini¢ao do instituto, quer no campo do direito internacional privado, quet no ambito do direito internacional péblico, para, como conelusdo, chegar a uma definigdo in genere, no comprometi- da com nenhum dos dois campos, mas que sitva para ambos. Lato sensu, em definigo categorial, que pretende abranger todas as espécies, definimos a arbitragem, ainda néo comprometida com nenhum ramo da ciéncia juridica, como “o sistema especial de julgamento, com procedimento, técnica e principios informativos especiais e com forga exe- cutéria reconhecida pelo direito comum, mas a este subtraido, mediante © qual, duas ou mais pessoas fisicas, ou jurfdicas, de direito privado ou de direjto publica, em conflito de interesses, escolhem de comum acordo, contratualmente, uma terceira pessoa, o drbitro, a quem confiam o papel de resolver-lhes a pendéncia, anuindo os litigantes em aceitar a decisao proferida”. 2. Historica Para que bem se compreenda o instituto da arbicragem, indispensivel 6 assinalar-he alguns dos pressupostos, a comegar por breve apanhado de sua evolugio, no tempo. Na mitologia grega, vamos encontrar o lendétio Péris, filho de Priamo e Hécuba, no monte Ida, funcionando como 4rbitro entre Atena, Hera € Afrodite, que disputavam a maga de ouro, destinada pelos deuses A mais bela, pleito decidido a favor de Afrodite, que subornou o érbitro, prome- tendo-the, em froca, o amor de Helena, raptada, depois, por esse juiz, ‘© que dew, como resultado, a guerra de Trdia. Outros exemplos encontram-se, ainda, na Grécia, como se vé, nos poemas de Homero ¢, em especial, na Hiada, Canto XIIL, vs. 486 (citagao de ANGHELOS C. FOUSTOUCOS, no livro L’Arbitrage Interne et Inter- national en Droit Privé Hellénique, 1976, p. 3, nota 1, mas que no coinci- de com o original de Homero), onde o juiz-érbitro se denomina “Istor”, 0 gue sabe, 0 sébio. Cite-se também o julgamento da Lei de Gortina (cf. L. GERNET, Droit et Société dans la Gréce Ancienne, Paris, 1964, pp. 108 @ 110). ie R. inf, lagicl, Grevilia @, 25 =. 98 abr/jun. 1988 O arbitramento, como acima se defini, de modo categorial, em tese, aparece em toda a Grécia cldssica, onde representa, em relago & justica do direito comum, concepgao diferente, mais antiga, ¢, no entanto, mais taépida, mais brilhante, “plus nuancée” (cf. U. E. PAOLI, no verbete DIETETI, inserto no Novissimo Digesto Ualiano, vol. V, 1960, pp. 604-603, citado por ANGHELOS C, FOUSTOUCOS, L’Arbitrage..., cit, p. 3, nota 5). Nas diferentes Cidades-Estados, ou “polis”, aparece a figura do drbilro, como no direito Stico, em que esse julgador, contrastando com o juiz esta- tal, que se prende as regras juridicas processuais, decide o litigio de modo , adotando, na integra, @ colocagio de unt dos contendotes, dizendo-se, na época, que o drbitro tinha a possibilidade ou faculdade de julgar, conforme a eqilidade, a “epieiquia”, ao passo que © juiz julgava cosforme a lei, ARISTOTELES, na Reférica (1, 15, 1374 b, 420), ressalta também que o drbitro visa & egitidade, enquanto que 0 juiz visa & lei, motive por que se criou o drbitro, para que se pudesse invocar a egilidade. Regra geral, em Atenas e nas demais Repdblicas helénicas, as fungdes do drbitro se repartiam por dwas fases, a fase da tentativa de conciliagdo, em que o julgador procurava resolver o litigio, e a fase puramente arbitral, em que a sentenca era proclamada (cl. ANGHELOS C, FOUSTOUCOS, L'Arbitrage. .., cit., p. 4). Se a prova apresentada por uma das partes era decisiva, incontestavel, © &rbitro pura € simplesmente acothia e dava o veredicto, confirmando 0 que tinha sido demonstrado. Em caso contrétio, a deciséo refletia a convic- so pessoal do julgador, que savramentaya a sentenpa por meio do jura- mento. DEMOSTENES, no Discurso contra Medius, faz referéncia ao insti- tuto que estamos expondo: “se as partes tém divergéncia, concernente a suas obrigagdes privadas, ¢ desejam escolher arbitro, € licito que designem quem entenderem, mas quando escolherem o arbitro, de comum acordo, é de rigor que se atenham rigidamente ao que ele decidiu, nao apelando da sentenga a outro tribunal, pois a deciséo deve ser definitiva, suprema” (cf. CHARLES CARABIBER, L’Arbitrage International de Droit Privé, 1960, p. 5). Entre os antigos hebreus, os litigios de diteito privado eram todos resolvidos pela arbitragem, havendo mesmo um colegiado, a Beth-Din, R Inf, legisl. Brositio 0. 25 9. 98 abs./jun. 1988 129 formada de trés drbitros, “doutores da lei”, dotados de competéncia, em todos os assuntos (cf. COHEN, Commercial Arbitration and the Law). Em Roma, a arbitragemt surge com a extensdo dos poderes do juiz € a “justitia bonae fidei”. O “receptum compromissum” e a “exceptio conventi” do dircito pretoriano, contraposto 20 jus civile, adaptam a “litis contestatio” as necessidades desta forma de solucdo dos litigios. Desse modo, no inicio da civilizagao, de onde recolhemos 2 dupla heranga, encon- tramos a implantacio da arbitragem (cf. CHARLES CARABIBER, L’Arbi- trage..., cit., p. 6). Para a concretizagio do pacio celebrado, o pretor outorgava as partes © emprego da “actio bonae fidei”: arbiter in causis bonae fidei. Sem ficar preso as formulas, o drbitro julga, conforme o que lhe pareca mais de acordo, adstrito & formula estabelecida, ao direito rigido, ao jus civile. CICERO, no Discurso em defesa de Roscio, ou Oratio pro Roscio Comocdo, procura tragar paralelo entre drbitro e @ juiz dizendo: “Uma coisa é o julgamento, outra a arbitragem. Comparece-se ao julgamento para ganhar ou perder todo o proceso. Tomam-se érbitros com a intengdo de nao perder tudo e de nao obter tudo”, SENECA, 0 filésofo, no De Beneficiis, III, 7, escreve: “Quando a causa é boa, prefere-se o magistrado a0 rbitro, porque o primeiro é preso & férmula ec encerrado em limites que nao pode ultrapassar, ao passo que © segundo é livre ¢ sem limites". Nao existe apelagio para as sentencas arbitrais. Na compilagdo de Justiniano, os principios cléssicos so alterados, Justiniano atribuiu valor intrinseco & sentenca arbitral, quando as partes se comprometem por jura- mento, conformando-se ao que for decidido, ao mesmo tempo que o Arbi- tro promete, sob juramento, também, desempenhar o mandato que Ihe foi outorgado. A parte, tendo tido ganho de causa. podia depois ajuizar acao real titil (“condictio ex lege ou actio in factum”), a fim de obter a interven- 80 do magistrado para executar a senienca, procedimento que se asseme- Tha de certo modo & ordem do exequatur do direito francés moderno, talvez 3¢ filiando este a0 que se fazia em Roma, na época justinianéia, mas Justi- iano nao conservou o sistema porque as partes cometiam perjirio, fre- qientemente, para anular o efeito da sentenca arbitral, decidindo que o magistrado s6 devetia intervir para fazer exccutar a sentenga, quando a convengao fosse acompanhada de sanc&o (cf, MARGUERITE LANDRAU, L’Arbitrage dans le Droit Anglais et Francais Comparés, 1932, pp. 11-12). © Apéstolo Sao Paulo, na Epistola aos Corintios, Capitulo 1, versiculo 6, assinala dois tragos tipicos, que devem estar presentes no juizo arbitral: a) a livre escolha feita pelas partes; 6) 0 tipo de Arbitro, que deve ser da mesma f€ (religido, classe, casta) ou que adote os mesmos princtpios dos 130 R. Inf, legisl, Brasilia 0, 25 litigantes. Assim, que infisis ou pagios julguem seus pares, cristios, que homens de fé julguem os figis, Um santo nunca deverd julgar o infiel, nem © infiel devera julgar o fiel (cf. MARGUERITE LANDRAU, L'Arbitra- ge..., cit, p. 21, ¢ CHARLES CARABIBER, L’Arbitrage..., cit., p. 6). “As partes, na arbitragem, so, de qualquer modo, juigadas por seus pates. E ainda, o que € mais, as partes devem escolher seus juizes, e basta isto para que a sentenca thes pareca mais jusia. Esta livre escolha do julgador pode ser considerada como importante prerrogativa, pois os que so ligados a uma [é ou a principios gostam de ser julgados por homens qtte perseguem o mesmo ideal” (ef. MARGUERITE LANDRAU, L’Arbi- trage..., cit., p. 21) O que imporia é que as partes tenham tido a vontade ¢ a convicgao de dar ao arbitro escolhido poder jurisdicional (cf. JEAN ROBERT e BERTRAND MOREAU, Droit Interne et Droit International de PArbi- trage, 5.9 ed., 1983, p. 1). Os paises da Europa, na Idade Média, conheciam o instituto da arbi- tragem, desde © século XII, sendo que os Repertérios consuetudindrios continham regras minuciosas a respeito do compromisso da arbitrage e, em especial, para a solugio das controvérsias familiares. A arbitragem, nos mercados € feitas, como também nos tribunais mari- timos locais, instalados nos portos, era freqiiente, como o demonstra 0 papel das Guildas, no século XEV, que tinham organizado o instituto entre os negociantes, membros a elas filiados. Achamas expressa refertncia & arbi- tragem, em 1347, nos Year Books, ¢, em 1583, 9 dircito costumeiro da Normandia assinalava o regutamento das contestagdes sobre a famoso “casamento futuro” (“mariage avenant”) das jovens, como compensagéo de sua exclusio da sucessdo paterna (cf, CHARLES CARABIBER, L'Arbi- frage..., cit., p. 21). 3. Fundamenio moderno do instituto ‘A expansio econémica nacional e mundial do comércio € responsdvel pela relevancia do instituto da arbitragem, em nossos dias, podendo-se, como conseqiigncia, afirmar que “nao & possivel a existéncia, hoje, de con- trato internacional sério, sem que ele tenha sido proporcionado por uma convencao de arbitragem” (TEAN ROBERT e BERTRAND MOREAU, Droit Interne et Droit International de l’Arbitrage, cit., p. 2 da Introducdo}. E, sem divida alguma, emt matéria de comércio internacional que a arbitragem aparece com toda sua pujanga, ou methor, afirmando sua indis- pensabilidade. 8, 98 abr./jun, 131 Na verdade, julgamento que vai produzir efeito além das fronteiras, onde se realizou, leva os contratantes a longa meditagZo, quando se trata de proceder & execugdo diante de sistemas jurisdicionais estrangeiros, com téonica e lingua estranhas. F até quando o julgamento é realizado, em seu pais, surge de imediato o problema de execugdo, no estrangeiro (cf. JEAN ROBERT ¢ BERTRAND MOREAU, Droit Interne et Droit Interna- tional de I’Arbitrage, cit., p. 2 da Introducao}. 4. Arbitragem internacional de direito privado A arbitrage internacional de direito privado tem sido definida, a priori, por todos os especialistas que cogitam do tema JEAN ROBERT e BERTRAND MOREAU definem a arbitragem, in genere, como “a institiigao que tem por objeto a solugdo de litigio, por autoridade privada, litigio que ¢, assim, subtraido a jurisdigao de direito comum” (cf. JEAN ROBERT ¢ BERTRAND MOREAU, Droit Interne et Droit International de UArbitrage, cit., Definigio, B1), definiczo que tam- hém se encontra em outro livro de [EAN ROBERT, Arbitrage Civil et Commercial en Droit Interne et International Privé, 4.* edigio, Paris, 1968. “Arbitragem & facuidade dada as partes de subtrair as controvérsias que as divider ao julgamento dos Tribunais do Estado, submetendo-as a juizes escolhidos por elas e que se denominam drbitras” (cf. GARSONNET, Traité Théorique et Pratique de Procedure Civile et Commerciale, 32 ed. atualizada por César-Bru, em L’Arbitrage dans le Droit Anglais et Frangais Comparés, cit, pp. 3-4, ¢ nota 1, de MARGUERITE LANDRAU). A arbitragem de direito privado {em de ser situada dentro do proceso de desenvolvimento do comércio, pois conseqiiéncia do fenémeno geral- mente aceito da denominada comercializasdo da atividade privada, ou, em outras palavras, da generalizagao das balizas jur(dico-mercantis, apresentan- dose, assim, como solugdo superadora de conflitos, que sai do rigoroso formalismo do procedimento judiciat para alcancar « satisfago de inte- resses que ficarem em situagao de colisio (cf. RAFAEL JIMENEZ DE PARGA, no Prélogo do livro Tratado de Arbitraje Privado Interno ¢ Inter- nacional, de {OSE MARIA CHILLON MEDINA e JOSE FREDERICO MERINO MERCHAN, Madrid, 1978). MEDINA ¢ MERCHAN, no capitulo 1V da obra citada, p. 87, na seco intitulada Construcao conceitual da arbitragem, principiam por acen- tuar que “o estudo da natureza juridica da arbitragem, tema controver- tido, no Ambito da doutrina, exige que, previamente, se demarque seu conceito para que, através deste, se possa sbordar e compreender as diver- 132 @ inf, legis]. Breviio a. 25. m. 98 obs-/jum. 1988 sas posturas sobre 0 cardter do instituto”, devendo considerar-se a arbi- tragem como “figura genérica, dentro da qual surgem pegas relacionadas, se bem que suscetiveis de serem analisadas, independentemente umas das outras”, concluindo por definir a arbitragem como “a instituigao juridica, mediante a qual duas ou mais pessoas estabclecem que certa controvérsia, especificamente determinada e existente entre elas, seja resolvida conforme procedimento legalmente estabelecido por terceiro ou terceiros, designados yoluntariamente, a cuja decisio expressamente se submetem, quer seja esta ditada conforme o direlto, quer seja dilada pela eqiidade” (cf. MEDINA MERCHAN, Tratado ..., cit.. p. 87). ANGHELOS C. FOUSTOUCOS, doutor em direito pela Universidade de Paris ¢ advogado na Corte de Atenas, em sua tese de doutorado, pre- faciada por Berthold Goldman, define a arbitragem, de acordo com a atual concepgao helénica, que, aliés, conhece apenas a forma voluntiria do instituto, do seguinte modo: “arbitragem de direito privado & 0 conjunto dos atos e operagdes que tem por finalidade resolver itigio de direito privado, em virtude de convengHo entre as partes interessadas, por juizes ptivados, no designados pela lei, mas escolhidos pelas paries” (cf. L’Arbi- trage ..., cit., pp. 29-30). RENE DAVID, o comparatista, no livro L’Arbitrage darts le Commerce International, Paris, 1982, define a arbitragem como “a técnica que tem por objetivo dar solugdo a questio que interessa is relagdes entre duas ou varias pessoas, confiando-a a uma ou mais pessoas, o arbitro ou drbitros, que tém poderes, derivados de convengio privada, ¢ que decidem, na base da convengio feita, sem estarem investidos, pelo Estado, nessa missio”. IRINEU STRENGER, criticando os que “acreditam na unicidade con- ceitual da arbitragem e formam, muitas vezes, convicgdes equivocas a Tes- peito de seu objeto”, define assim o instituto: “arbitragem € instincia Jurisdictional, praticada em fungaio de regime contratualmente estabelecido, pata ditimir controvérsias entre pessoas de direito privado e/ou piblico, com procedimentos préprios, ¢ forga executéria perante tribunais estatais” (Contratos Internacionais do Comércio, Séo Paulo, ed. da RT, 1986, Ppp. 196-197). 5. Arbitragem internacional de direito pitblico CELSO ALBUQUERQUE MELLO, estudando a arbitragem, no direito internacional piblico, principia o capitulo oferecendo a definigao categorial do instituto, conceituado pelo ilustre professor como “o modo pacifico de solugo dos litigios internacionais por meio de juizes escolhidos pelas partes litigantes” (cf. Direito Internacional Priblico, 8." edigo, Rio, Freitas Bastos, 1986, vol. II, p. 989). Re Inf, fegisl, Brasilia 0, 25 9. 98 ebr/jun. 1988 133 “O segulamento dos conflitos”, escreve LOUIS DELBEZ, “consiste no poder, reconhecido a um terceiro, de resolver a divergéncia com base no direito existente, por uma decisio juridicamente obrigatéria. Apresenta-se © regulamento jurisdicional sob duas formas: a forma arbitral ¢ a forma judicidria. Nao ha entre essas dues formas diferencas de natureza, mas apenas de organizacdo. A solugdo arbitral € confiada a um tribunal ou a um juiz do momento, constituido ov designado ad hoc, de pleno acordo entre as partes, a0 passo que a solugao judiciéria ¢ confiada a verdadeira jurisdicao, ou seja, a organismo pré-constituido, cuja composigao nao depen- de das partes. Nos dois casos, a sentenga tem autoridade ou valor de coisa julgada, impondo-se com forca obrigatéria absoluta, com a tinica reserva da apelagio ou da revisio, quando estas vias de recurso — excepcionais em direito internacional — foram organizadas” (cf. Manuel de Droit Inter- national Public, 1951, pp. 266-267). CHARLES CARABIBER, em sta monografia L’Arbitrage Internatio- nal de Droit Privé, cit., procura tragar o paralelo entre a arbitragem inter- nacional de direite piiblico ¢ a arbitragemt internacional de direito privado, xssinalando, primeiro, que “‘a cvolugdo de ambas caminha quase paralela- nente”, ndo obstanie “a diferenga entre os dois tipos de arbitragens © 0 dominio proprio de cada uma delas”. Em principio, a arbitragem “entre Estados” & arbitragem internacional plblica e a arbitragem “entre particulares”, no plano supranacional, € arbitragem internacional privada, mas a arbitragem entre Estados vis muitas yezes, a interesses privados, mas este ultimo tipo interessa prin palmente aos particulares ¢ 0 procedimento de endosso € ainda hoje neces- sério pata que os jurisdicionados de um pais possam fazer valer seus direitos perante outro Estado. “Examinando-se diversas arbitragens que deram lugar a processos entre Estados, verifica-se que se trata, na maioria dos casos, de interesses privados, cuja defesa o Estado tem tomado nas mios, em decorréncia do poder discriciondrio, que Ihe € inerente, tutela esta que tem suscitado criticas por causa da arbitrariedade que as caracte- riza” (CHARLES CARABIBER, L’Arbitrage..., cit., p. 3). “O que se convencionou denominar de arbitragem de direito publico nao merece esta denominagio a ndo ser por causa da interyengZo do Estado, quando este resolve defender interesses de seus jurisdicionados, avalizando-lhes as recla- mag6es (CHARLES CARABIBER, L’Arbitrage..., cit., p. 4). Tragando-se o paralelo entre os dois tipos de arbitragens, podemos, em sintese, assin: na arbitragem internacional de direito piiblico, os seguintes tragos: a) a grande repercussdo, impressionando os espititos, em todo mundo, j4 que se reveste de grande publicidade; b) as divergéncias principais so resolvidas pela via diplomética; c) mais formalista, por 134 Re Inf. tegist. Brosilia . 25 m, 98 obr./iun. 1988 motives impostos pelo dircito internacional ou pela politica governamental: d) a sentenga proferida pelo arbitto é irrecorrivel, tendo forca de coisa julgada, esgotando-se, assim, a via recursal; e) fundamenta-se na bona fides dos Estados, porguanto os meios de coagio sio eondenados pelo direito internacional. Caracteriza-se, a0 contrario, a arbitragent internacional de direito pri- vado como: a) sigilosa, nao tendo repercussfo, ¢ » auséneia de publicidade é traco positive ou de vantagem para 0 emprego do instituto; 6) as diver- jas entre particulares séo resoividas pelo drbitro; c) menes formafista, da, mais eficar; d) a sentenga proferida pelo arbitro é recorrtvel, estando, assim, a arbitragem sob a égide do Poder Judicidrio, tendo 0 pre- judicado, a seu dispor, toda a série de recursos que o direito the faculta; ©) apresenta niimero maior e mais importante de litigios a serem resolvi- dos; ) admite processos de execugdo, para efelivarse a sentenga, recor- sendo-se a forga, em caso de resisténcia. Pontos comuns, no entanto, existe entre ambos os tipos de arbitra- gens, distinguindo-se, como fundamental, a voluntariedade, nao a obriga- toriedade. E, em segundo fugur, a fivre escolha pelos litigantes. 6. A figura do “arbitro”” O Grbitro, quer no diteito interno, quer no dircito internacional pri- vado, € pessoa fisica, cidadio, classificando-se como juiz, cuja conduta deve revestir-se da maior serenidade, caracterizando-se, conforme esclarece LOUIS RENAULT, no Prefdcio que escreveu para a Coletinea das Arbi- fragens Internacionais, de LA PRADELLE e POLITIES, vol. I, p. X, como © “homem politico, o diplomata, o magistrado, o jurisconsulto de protissfio, imbufdo, no mais alto grau, dos interesses do pais em que nasceu, tendo conscigncia do papel que desempenha, pelo que deve munir-se de espirito judicidrio para apreciar a dificuldade que Ihe € confiada”. Onde recrutar 0 drbitro? Como assegurar a formagio perfeita de um colegiado de drbitros internacionais? © crescente nimero de arbitragens internacionais teve, como conse- qiiéncia, a necessidade urgente da formacao de étbitros qualificados, sele- cionados entre pessoas cultas, professores universitérios, advogados, jutzes, pesquisadores ligados a institutos tecnolégicos, a laboratérios, que s¢ satien- taram em suas respectivas especialidades. Pergunta-se, a respei magistrados, em exercicio, podem ou nao podem funcionar como 4rbitros? Chocar-se-ia a escolha com alguma disposi- gao legal? R. inf. fegist. Bros#ia a, 25 n, 98 abr/jun. 1986 135 Em muitos paises, como Grécia e Itélia, nao ha proibicdo de que o juiz, em exercicio, seja drbitro, mas, neste ultimo pais, a aceitago da fungao de Srbitro est4 subordinada & autorizagdo da justisa. Na Inglaterra, podem aceitar o papel de Arbitro os jufzes que se encon- tram sob o regime de tempo parcial (“part-time”), nfio os que se encontram em tempo integral ("full-time"), pois os primeiros podem advogat e, assim, nesta iiltima condigio, funcionam legalmente como Arbitros. A proibigao existe para os juizes dos Tribunals dos Condados, que nao podem ser arbitros, recebendo honorérios pela aiuagio realizada, Na Bélgica, o juiz pode, legalmente, aceitar as fungSes de drbitro, desde que nada receba pelo servico desempenhado. Na Espanha e na Holanda, a proibigdo ¢ total, sendo que, naquele primeiro pais, apenas os advogados em excrcicio podem exercer papel de érbitro, nas arbitragens de direito. Na Franga, o art. 378, alinea 8, do Cédigo de Processo Civil prescreve, como causa de recusa, o fato, para o magistrado em exercicio, de tet conhecido, como érbitro, litigio submetido & jurisdigao de que faz parte, ‘© que Ihe impede o direito de ser érbitro. Na Suica, é total a liberdade dos magistrados, em atividade, de aceitar fangdes de Arbitro. Quer na Franga, quer na Sufca, intimeros so os casos de magistrados, de diversos graus, que desempenharam, a contento, fungdes de Arbitros internacionais. © problema da formacao técnica de um corpo de érbitros internacio- nais € 180 importante que, na Inglaterra, foi criado o “British Institute of Arbitrators”, encarregado dessa tarefa (ef. a respeito CHARLES CARABI- BER, L’Arbitrage.. ., cit., pp. VINLIX do Prélogo). A existincia de uma justiga internacional de direito privado, diverse ¢ independente da justi¢a internacional de diteito comum, em todos os palses € razSo suficiente para que se instalem em todos os paises escolas de formagao de drbitros para conhecimento e solugéo do contencioso inter- nacional e, a respeito, no se encontrou melhor instrumento ainda do que a arbltragem. 7. Conclusiio: elementos integrantes da definigdo © objetivo deste trabalho foi o de conceituar a arbitragem, como categoria juridica, ow seja, captar, numa proposigao, o instituto, in genere, 136 R. Inf. legisl, Brosilio 9. 25 0. 98 obs./iun. 1988 pio comprometido ainda com nenhum ramo do direito, chegando, assim, a definigio obtida por abstragao, retirando de cada ramo os acidentes e caminhando no sentido de generalizagdo maxima. Arbitragem €, como dissemos, 0 sistema espectal de julgamento, com procedimento, técnica ¢ principios informativos proprios ¢ com forca exe- cutdria reconhecida pelo direito comum, mas a este subtraido, mediante o qual duas ou mais pessoas fisicas, ou juridicas, de direito privado ou de direito publico, em conjlito de interesses, escolhem de comum acordo, contratuaimente, uma terceira pessoa, o drbitro, a quem confiam o papel de resulverthes a pendéncia, anuindo os litigantes em aceitar a decisio proferida, Analisemos 0s elementos ou termos constantes da definic&o estruturada. — Sisiemu especial de julgamento, porque o érbitro tem o papel de distribuidor de fustica, “dando a cada um 0 que ¢ de direito”. — Procedimento, técnica e prinelpios, porque a arbitragem é sui gene- ris, no sendo “rograda” pelo direito comum. —~ Forga execut6ria, porque dotado de auto-executoriedade, passando da “teoria” A “‘pritica”’, assim gue proferida a decisio. — Recorthecida pelo direite comum, porque a Justiga do Estado leva em conta aquilo que foi decidido na justiga arbitral, como se observa nos diferentes Cédigos de Processa Civil dos Estados. — Direito comum, porque este € sempre ponto de referéncia, quando se conceitua a arbitragem, — Conflito de interesse, porque as partes que procuram a solugdo arbitral esto sempre em choque, ou discordincia, sobre um ou varios pontos de direito. — Escotha de comum acordo, porque 0 arbitro nao € “imposto” pelo Estado, mas resulta de livre escolha pot parte dos litigantes. — Contratuaimente, porque, nfo obitante a divergéncia entre 0s auto- res, a natureza juridica do juizo arbitral € contratual. — Arbitra, pessoa ou pessoas fisica(s), porque o julgador ou € drgio singular ou coletivo, Ro we, legis. Srasilig a. 25 9. 98 abr./jun. 1988 137 — Solugéo da pendéncia, porque, do mesmo modo que o juiz do direito comum, 0 drbitra procura fazer justica, “dando a cada um o que € de diteito”. — Aceitaga da deciséo, porque, como se disse acima, senda a arbi- tragem institato de cardter contratual, ndo podem as partes que, de comum acordo ¢ livremente, fizerem acordo romper « posteriori o que foi pactuado. BIBLIOGRAFIA BAPTISTA, Luis Olavo. Contratos Internactonais. RF, vol. 270, 1978. CARABIBER, Charles. L'Arbitrage International de Droit Privé. Paris, Li- byairie Générate de Droit et de Jurisprudence, R. Pichon et R. Durand- Auzias, 1960. CARNACINI, Tito. Arbitrato rituale. Novissimo Digesto italiano, Torino (UTET), 1958, Tradug4o espanhola de Santiage Sentis Melendo, sob 0 titulo Arbitraje, Buenos Aires, 1962. CHILLON MEDINA, José Maria e MERINO MERCHAN, José Frederico. Tra- tado de Arbitraje Privado interno e Internacional. Madrid, Civitas, 1978. DAVID, René. 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