INTRODUÇÃO
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Monografia de Lyell Vernon Heise, apresentada no cumprimento de um requisito do curso T60.0
Problemas em Teologia, do Seminário Teológico Adventista do Sétimo Dia de Andrews University,
Março 1975, não publicada.
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humana de Cristo, alguns se perguntaram se estas representavam uma
posição oficial de Ellen White, e se suas observações ao pastor Baker, na
Austrália, há oitenta anos, representavam uma forte polêmica contra um
ponto de vista decididamente heterodoxo. Outros se contentam em
deixar de lado a carta, e considerá-la como um enigma, e constroem o
ponto de vista de Ellen White fundamentados no que eles chamam de
fontes mais oficiais. Outros ainda vêm o conteúdo dessa carta como uma
contribuição à genuína Cristologia de Ellen G. White, e insistem no fato
de que deve ser dada suficiente importância em todo o exame da
natureza humana de Cristo.
Parece-me importante, à luz do interesse geral sobre o tema, que se
examinem as circunstâncias históricas em que a carta foi escrita; que a
carreira de Baker seja reconstruída tão detalhadamente como as fontes o
permitam, e que as influências que pesaram em sua carreira sejam
descobertas; que se realize uma análise literária e teológica da parte em
questão da carta, de mo do que se possa ver com clareza seu propósito
ainda que separada de outro material de Ellen White sobre o mesmo
tema.
O alcance deste trabalho será o seguinte: Apresentação de um
resumo da vida e carreira de Baker. De um material de quatro tipos
baseados num estudo realizado em todos os números do The Bible
Echo,5 de novembro de 1886 a abril de 1896. Relatórios sobre o trabalho
de Baker e artigos significativos escritos por ele, os quais lançam luz
quanto a seus interesses e atividades. Material proporcionado por Ellen
White, que mostra quais eram suas ocupações naquela época, e o
material que tanto obreiros como leigos tinham para ler; a importância da
obra de E.J. Waggoner nos editoriais, os artigos e as notícias (a
participação de Waggoner é significativa, uma vez que seu ponto de
vista sobre Cristologia era proeminente na Igreja após 1888, e foi uma
das causas do reavivamento do interesse nos anos 50 e sua continuação
até a atualidade); a influência de W.W. Prescott, que viajou pela
Austrália de setembro de 1895 a abril de I896, pregando em Instituições
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e Congressos. (Seus principais sermões foram publicados em The Bible
Echo.)
O contexto e os pontos principais da carta serão discutidos; e
finalmente será feita uma análise literária e teológica dos cinco
parágrafos que se referem a Cristologia. Como já mencionamos, este
trabalho referiu-se levemente a outros comentários de Ellen White sobre
a natureza humana de Cristo. O interesse do escritor limitou-se,
particularmente, no relevante material contido nesta carta. O trabalho de
relacioná-lo com a totalidade do material de Ellen White, fica como tema
de outro estudo.
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Estudos baseados no The Bible Echo, 1886-1896.
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O título, "Memorizando a Escritura", mostra seu interesse no valor do
estudo da Bíblia. Tem especial significado uma série de artigos escritos
por Baker intitulada: "Alguns Homens da Reforma". Esta série
demonstra grande investigação e interesse em estudos históricos. Baker
começa a perfilar-se como um homem mais erudito. De 1º de janeiro a
15 de julho de 1892, estes artigos apareceram ininterruptamente, Huss,
Jerônimo, Lutero, Calvino, Zwínglio, Tyndale, Latimer, e Knox, foram
temas de seus artigos.27 Após a conclusão dessa série, Baker foi
nomeado para ensinar na nova Escola de Treinamento Bíblico.28
Em meados de 1893, Baker realizou uma viagem a Tasmânia como
representante da Igreja e da Escola e dirigiu uma série de reuniões nos
finais de semana. "Nosso tema principal era o espírito de Cristo, sua
importância e como podemos obtê-lo".29 Baker informou no The Bible.
Echo, naquele mesmo mês, sobre o trabalho da Igreja Adventista em
Hamburgo, dando especial ênfase no desenvolvimento da reforma.30 Em
setembro vemo-lo escrevendo sobre os habitantes da Terra do Fogo, ao
Sul da América do Sul, e sobre os vários esforços feitos para alcançar
esse povo com o evangelho.31 Durante esse mês informa-se sobre a sua
visita às igrejas do interior de Victoria entre os períodos escolares, e
além disse escreveu um artigo sobre o progresso das missões em Java.32
Livingstone é o tema de um artigo de Baker aparecido em
novembro de 1893.33 Um batismo realizado em julho de 1894 mostrou os
frutos de seu trabalho.34
Um relatório de novembro conta da partida de Baker e Teasdale
para a Tasmânia, onde Launceston seria o cenário de seu trabalho por
alguns meses.35 The Bible Echo de 17 de dezembro de 1894, apresenta na
primeira pagina a história do início dessa missão e registra interessantes
comentários sobre considerações cristocêntricas dos evangelistas.36 No
entanto, essa primeira chama de sucesso logo feneceu. Para um homem
que se havia ocupado em tarefas de publicações e na obra educacional, e
no evangelismo apenas como assistente de outros, a experiência da
Tasmânia foi um cálice bastante amargo. Para mérito de Baker, deve
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dizer-se que apesar do trabalho ter sido árduo, um relatório no The Bible
Echo de abril de 1895, dizia que ele e Teasdale tinham visitado o distrito
e obtido alguns resultados.37
Com a partida de Teasdale em maio,38 Baker e sua esposa ficaram
sós. Em junho ele começou uma série de reuniões na pequena cidade de
Bishopbourne.39 Parece que essa campanha não logrou o sucesso que se
esperava, pois em fevereiro de 1896 ele estava bastante desanimado.
Baker, certamente, assistiu a uma ou outra das importantes reuniões
campais realizadas no final de 1895 em Melbourne e Hobart, e fez
contatos com Ellen White ali.40 Ela deve ter percebido seu desânimo e
exatamente dois meses mais tarde foi impressionada a escrever-lhe. A
carta referia-se ao fato de que Baker havia deixado a Tasmânia;41
provavelmente estava em Victoria na ocasião em que recebeu a carta.
Em abril de 1896 estava novamente dirigindo reuniões nos subúrbios de
Melbourne; Baker, certamente, deve ter sido beneficiado com as
instruções e encorajamento de Ellen White.42
Em todo o material publicado a respeito de Baker ou escrito por ele,
não existe nenhuma referência de que tenha apresentado temas sobre a
natureza de Cristo de forma tio controvertida a ponto de provocar uma
firme declaração de parte de Ellen White. É óbvio que necessitava de
conselho, mas o cuidadoso estudo que temos feito de suas atividades
mostra que seu interesse no tema estava dentro dos limites amplamente
aceitáveis.