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COLONIALISMO MENTAL E NACIONALISMO INGÊNUO


O atraso educacional e a mentalidade retrógrada da elite são as razões dos problemas institucionais brasileiros
por Marcos de Aguiar Villas-Bôas — publicado 18/05/2016 04h36, última modificação 18/05/2016 10h51

Estudantes protestam na Assembleia Legislativa de São Paulo: educação deveria ser o centro das
nossas preocupações

A expressão “colonialismo mental” é forte na obra do ex-ministro e professor de Harvard Roberto


Mangabeira Unger, que critica a atitude brasileira de achar quase tudo no exterior melhor.
Copiamos instituições americanas que não nos couberam bem ou que são simplesmente ruins, como
o impeachment, que até hoje ninguém sabe ao certo se é jurídico, político ou se os dois ao mesmo
tempo.
Copiamos também dos americanos o presidencialismo engessado, o federalismo pouco cooperativo
e a forma bizarra de nomeação dos membros da Corte Suprema pelo Presidente da República.
O direito, um modificador e estabilizador das instituições, foi copiado pelo Brasil, em regra, da
Europa continental, especialmente dos países de origem latina, que, com exceção da França, são
mais atrasados do que, por exemplo, os nórdicos, a Alemanha e o Reino Unido.
O colonialismo mental vem de uma cultura de subserviência, de sentimento enrugado de
inferioridade e ficou canonizado na expressão “complexo de vira-lata”. Nosso atraso institucional
não vem daí, no entanto.
O oposto do colonialismo mental pode ser chamado de “nacionalismo ingênuo”, manifestado no
desconhecimento das teorias e práticas mais avançadas existentes no planeta.
As atitudes proféticas podem criar ideias inovadoras, apesar de o sujeito estar distanciado do
mundo, mas isso é raro. Em se tratando de instituições (as estruturas sociais) e de políticas (os
projetos de modificação e sedimentação das estruturas), é importante conhecer as respostas
humanas a elas. É mais fácil a genialidade emergir de onde há um repertório do que de onde há
poucas informações.
Sem o conhecimento do que há de avançado, recai-se com frequência no nacionalismo ingênuo,
aquela falsa noção de que estamos bem servidos por aqui e não precisamos dos estrangeiros.
Nem o colonialismo mental, nem o nacionalismo ingênuo nos servem.
Parece evidente que não podemos ignorar todas as teorias e práticas existentes no mundo, sobretudo
em países mais desenvolvidos, onde o fomento à pesquisa e à inovação é maior. Não é à toa que
nunca conquistamos um Prêmio Nobel, em qualquer área, desde que ele foi criado, há mais de 100
anos.
Também não se deve desconsiderar que nossos problemas são os nossos problemas específicos, e
soluções de fora podem não nos servir. Contudo, o ser humano é ser humano em qualquer lugar e,
no mínimo, é possível realizar aproximações para efeito de comparação e ponto de partida.
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O brasileiro é capaz, trabalhador e criativo. Ele tem as capacidades para disputar com os
estrangeiros em praticamente todas as áreas, mas, para ser tão bom, precisa desenvolvê-las e
conhecer o que de melhor já foi produzido.
Talvez Mangabeira Unger não criasse tantas boas ideias, hoje discutidas mundialmente, se não
tivesse ido estudar em Harvard, se tornado professor da universidade mais importante do planeta,
estudado a história mundial da Filosofia, que não tem nenhum nome brasileiro muito relevante, e os
clássicos internacionais da Economia, da Sociologia etc., que também não têm nenhum brasileiro
como ícone.
Proponho uma visão pragmática, destituída de preconceitos, vaidades e orgulhos. Em se tratando de
instituições e políticas públicas, nós somos, em regra, periferia, o que não determina o nosso futuro.
Se nascemos colônia apenas em 1500, se ainda somos periferia em 2016, um país tentando se
desenvolver aos trancos e barrancos, isso não quer dizer que será sempre assim. Nós podemos
assumir a vanguarda já, mas não vai ser virando as costas ao mundo e achando que podemos
resolver tudo aqui dentro isolados.
Defendo, portanto, que o atraso institucional brasileiro decorre de dois grandes problemas, sem
prejuízo da existência de outros. O primeiro deles é o distanciamento do mundo. Temos um grave
problema educacional, pois a grande maioria das nossas crianças chega ao fim do ensino médio sem
conseguir interpretar um texto em português e realizar cálculos matemáticos simples.
Sem sequer digerir o português, como se conectarão com o restante do mundo, que hoje fala, em
sua maioria, mandarim, espanhol e inglês? O conhecimento mundial avançado está em inglês, mas
o Brasil sempre aparece como um dos piores países em avaliações da língua. A China oferece
múltiplas oportunidades de negócios, mas praticamente ninguém no Brasil fala mandarim.
É preciso atacar o problema emergencial da educação e buscar uma difusão do ensino de línguas
com muito mais qualidade. Proponho um programa de atração e organização de professores
estrangeiros que possam dar aulas de línguas de qualidade nos setores público e privado,
aproveitando para ensinar sua história e sua cultura, o que colaboraria imensamente na educação
dos brasileiros e os ajudaria a construir um sentimento de nacionalismo com pertencimento ao
mundo.
A língua é parte central da cultura de um país e apenas pode ser aprendida com qualidade quando se
adentra na própria cultura. O ensino de línguas estrangeiras no Brasil é pobre, pois pautado na
memorização e na tradução direta, sem explicação de aspectos pragmáticos que levem às
especificidades de cada língua.
Como ensina a Transdisciplinaridade, a globalização não permite que sejamos apenas cidadãos de
cidades, estados e países. Pertencemos a um mesmo planeta, que está interligado, em constante
comunicação. Quanto menos brasileiros participarem desse mundo, teremos menos relações
comerciais, intercâmbio científico, inovação e outros pilares para o sucesso de uma nação.
Quando conhecemos os outros, passamos a conhecer melhor a nós mesmos. Aproximar-se de outras
culturas é conhecer novos mundos, mas similares ao nosso, o que permite olhar para os caminhos
que levaram a resultados distintos e pensar se os nossos caminhos não poderiam ser melhorados. A
comparação é uma boa ferramenta cognitiva, mas ela carece de base a ser comparada.
O segundo problema brasileiro não está desvinculado do primeiro e é igualmente importante. Trata-
se da mentalidade conservadora e retrógrada da nossa classe dominante, o que gera a cópia daquilo
que existe de ruim no exterior. O problema do Brasil não é o colonialismo mental puro e simples,
pois, caso se copiasse tudo o que há de melhor no exterior, o nosso país já seria um dos mais
desenvolvidos do mundo.
Por falta de conhecimento, questões ideológicas e interesses, a classe dominante brasileira, que
financiava as campanhas eleitorais até outro dia e determina até hoje a pauta dos governantes, faz
escolhas que não são as melhores para a população, optando por instituições e políticas extrativas,
em vez de inclusivas.
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O problema brasileiro não é copiar os estrangeiros, mas copiar mal e, sobretudo, os americanos,
como lembra Jessé Souza, que são um dos países menos desenvolvidos entre os desenvolvidos,
apesar de o seu PIB enorme e outros fatores falsearem um suposto inigualável avanço.
Os Estados Unidos são o país mais desigual entre os desenvolvidos e repleto de problemas
semelhantes aos brasileiros, ainda que já tenham alcançado patamares mais avançados em vários
aspectos. A nossa elite não gosta de lembrar, por exemplo, que os Estados Unidos tributam muito
mais progressivamente do que o Brasil.
Se procuramos instituições e políticas mais avançadas, encontraremos naqueles com a melhor
qualidade de vida do mundo, como Austrália, Canadá e os nórdicos. Há pouquíssima informação
sobre esses países por aqui, no entanto.
O Brasil tem problemas grave e eles são, em sua maioria, conhecidos. Falta vontade, repertório de
soluções e imaginação institucional, de modo a podermos criar propostas arrojadas sob medida para
os nossos problemas.
É preciso ir além do colonialismo mental e do nacionalismo ingênuo. Para tanto, é preciso trabalho
árduo de aprofundamento nas teorias e práticas mais progressistas e avançadas do mundo e, então,
audácia na criação de propostas inovadoras e bem justificadas, que sejam capazes de vencer o
conservadorismo da nossa elite e dos nossos políticos.

Marcos de Aguiar Villas-Bôas, doutor pela PUC-SP, mestre pela UFBA, é conselheiro do Conselho Administrativo de Recursos
Fiscais do Ministério da Fazenda e pesquisador independente na Harvard Law School e no Massachusetts Institute of Technology

"TEMER ESTÁ DIZENDO QUE O POVO NÃO CABE NO ORÇAMENTO


PÚBLICO"
Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, analisa os possíveis cortes em investimentos na
educação brasileira
por Ingrid Matuoka — publicado 16/05/2016 04h59, última modificação 17/05/2016 09h28

Mendonça Filho tem largo histórico de posicionamento contra demandas sociais

O presidente interino Michel Temer mal ocupara o cargo com seus 24 ministros quando começaram
a surgir as primeiras notícias dos planos de seu escolhido, José Mendonça Bezerra Filho (DEM-PE),
para a pasta da Educação e Cultura -- no retorno a um modelo que vigorou de 1953 a 1985 no país.
Mendonça nunca demonstrou afinidade especial com nenhuma das áreas, e destacam-se em seu
currículo o voto a favor da redução da maioridade penal no ano passado, o apoio à candidatura de
Aécio Neves e a citação na lista da Odebrecht apreendida pela Polícia Federal durante a 23ª fase da
Operação Lava Jato.
Entre as medidas consideradas, está a possibilidade de reestabelecer a desvinculação das receitas da
União destinadas ao setor. "Querem desconstruir uma medida que foi recentemente aprovada pelo
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Congresso Nacional sem que os direitos tenham sido consagrados. Se tivessem, seria diferente,
daria para discutir se é possível cortar. Mas não foram", avalia Daniel Cara, coordenador-geral
da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
"Não dá para constituir uma nação que respeite os direitos de seus cidadãos com um governo que
chega reformando o financiamento dos direitos sociais", avalia o especialista. Leia a entrevista a
seguir.

CartaCapital: Como ficam as metas de pré-escola para todos, de alfabetização na idade certa entre
as outras metas do Plano Nacional de Educação com o corte dos 75% dos royalties para a
educação aventado por alguns dos novos ministros?

Daniel Cara: A situação é preocupante. O Brasil, ao longo dos anos, determinou um marco legal
para o financiamento dos direitos sociais. Primeiro foi a Constituição de 1988 que estabeleceu, no
artigo 212, que 25% das receitas de estados e municípios e 18% dos impostos da União deveriam
ser investidos em educação.
Na sequência, de 1994 para 1995, Fernando Henrique Cardoso edita a desvinculação das receitas da
União, retirando 20% desses 18% de investimento. Foi a primeira iniciativa de desconstruir o que a
Constituição tinha estabelecido.
Na gestão de Lula, em 2009, acaba esse mecanismo de desvinculação das receitas da União para a
educação. É muito recente a reincorporação dos valores e já tem senadores que querem
reestabelecer a desvinculação e querem criar também a desvinculação de estados e municípios,
cortando de 20% a 30% os 25% das receitas destinadas à educação. Isso acaba com toda a
previsibilidade da gestão dos recursos.
E agora querem desconstruir uma medida que foi recentemente aprovada pelo Congresso Nacional,
sem que os direitos tenham sido consagrados. Se tivessem, seria diferente, daria para discutir se é
possível cortar. Mas não foram.
Não dá para constituir uma nação que respeite os direitos de seus cidadãos com um governo que
chega reformando o financiamento dos direitos sociais.

CC: E de onde esse dinheiro pode vir se as vinculações forem reduzidas?

DC: Essas vinculações apontadas no artigo 212 já são insuficientes para as necessidades da
educação. Não são capazes de garantir o pagamento do piso, as melhorias na infraestrutura das
escolas ou a formação continuada dos professores. Está ruim, mas, se as vinculações forem
cortadas, a situação será dramática.
Se o Brasil quiser de fato investir adequadamente na educação será necessário vincular mais
recursos, além de manter o marco legal que já existe hoje, com as vinculações constitucionais e
petrolíferas e o Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação].
Para tanto, faz-se necessário editar o imposto sobre heranças e viabilizar a taxação de grandes
fortunas, que está previsto na Constituição, mas não está regulamentado, e rever as alíquotas
tributárias, fazendo com que a população que ganha mais, pague mais tributos.
A carga tributária brasileira não é alta considerada as demandas sociais brasileiras, mas incide sobre
quem não pode pagar. Os mais ricos pagam menos tributos e, quando podem, ainda criam offshores
para não pagar nada.
Pelas declarações, Temer não vê isso como uma possibilidade concreta, trata-se de um governo
vinculado aos interesses dos mais ricos e não da população geral.

CC: E como fica a qualidade da educação, quando ela não melhora se não subir o custo por
aluno?
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DC: Temos dois problemas na educação. O primeiro deles diz respeito à necessidade de expandir
muitas matrículas. Temos que construir pelo menos 3,4 milhões de matrículas em creches, quase
um milhão na pré-escola, 500 mil no ensino fundamental, e 1,5 milhão no ensino médio.
Se já parece muito, ainda faltam 2 milhões de matrículas nas universidades públicas e quase quatro
milhões nas escolas técnicas de nível médio. A demanda é enorme. Não tem como criar matrícula e
contratar professor se não aumentar o investimento.
A segunda questão é que é preciso qualificar as matrículas que já existem, e não tem como fazer
isso sem aumentar o investimento também. O cálculo que temos é que precisamos de 40 bilhões de
reais a mais por ano se considerarmos só as atuais 40 milhões matrículas na educação básica. E a
Constituição Federal e o PNE vão dizer que esse recurso deve vir do governo federal.

CC: O pastor Silas Malafaia pediu "cuidado" para Temer no momento de nomear alguém para a
Educação, em referência às discussões de gênero nas salas de aula. Essas e outras questões
atualmente em debate podem estar ameaçadas com José Mendonça Bezerra Filho (DEM-PE) na
pasta?

DC: O Mendonça Filho é do Democratas, partido dividido em dois grupos: um que é plenamente
liberal, tanto em termos econômicos quanto sociais. A outra parte é ultraliberal na área econômica,
mas conservadora em termos de direitos humanos, sociais e civis. É preciso saber qual é o grupo do
Mendonça Filho.
Os ataques aos direitos humanos, sociais e civis são inconstitucionais -- embora eles estejam sendo
feitos pelos neofascistas brasileiros, “neo” porque não são como os do século passado. Ou seja, os
ataques já acontecem no Congresso Nacional, pela coalização ultraconservadora.
A tendência é que esses ataques sejam judicializados e o Supremo Tribunal Federal (STF), por
aquilo que vem afirmando quando é questionado sobre o tema de direitos humanos, sociais e civis,
dê ganho de causa pela defesa. Se Mendonça Filho embarcar no ultraconservadorismo, certamente
vai perder na judicialização que será promovida e levada ao STF.
O Supremo pode cometer equívocos na pauta política, econômica, federativa, mas não tem falhado
em relação aos direitos e, pela composição dos ministros, dificilmente essa tendência mudará. Vale
frisar: não é que eles sejam progressistas, mas têm uma ideia básica de direitos humanos, sociais e
civis. É muito básico, não tem como ir contra.

CC: Em relação a seus antecessores, considerando seu histórico político, Mendonça Filho tem
preparação e conhecimento técnico para ser ministro da Educação e Cultura?

DC: Nenhum ministro que assumiu a pasta ao longo da história do Brasil tinha essa preparação.
Quem se aproximou mais disso foi o Renato Janine Ribeiro, mas que só conhecia ensino superior,
ele não tinha conhecimento do ensino básico, até por isso sua gestão durou pouco.
A realidade é que o Mendonça Filho é ator externo à área, não é educador, como também nenhum
outro ministro foi. Se for para adjetivar Mendonça Filho de despreparado, ele é tão despreparado
quanto seus antecessores.
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Para Daniel Cara, governo Temer é vinculado ao interesse dos mais ricos e não da
população (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

CC: A indicação de Mendonça Filho indica que rumo para a educação brasileira?

DC: Os assessores do presidente interino editaram dois documentos. Um eles tiveram coragem de
publicar, o outro, vazaram. O que tiveram coragem de publicar foi o “Uma ponte para o futuro”, e
isso só aconteceu porque quem patrocinou o processo de impeachment foi a elite empresarial
brasileira, que é altamente patrimonialista, pouco dedicada às questões públicas.
É orientada para o próprio umbigo e com um raciocínio extremamente retrógrado e curto. Ela só
quer se apropriar do que é público, mas não quer investir, construir empresas sólidas, produzir valor
e capital. É uma elite vampiresca, não é uma elite capitalista avançada. O Uma Ponte para o Futuro
defende os interesses desse grupo.
Michel Temer edita essa proposição econômica que diz, em outras palavras, que os direitos sociais
da Constituição Federal de 1988 não cabem no orçamento público. Quando afirma isso, ele está
dizendo que o povo não cabe no orçamento público.
Trata-se de uma experiência de liberalismo mais radical do que qualquer outra implantada no
Brasil, certamente até mais radical do que a do regime militar.
Ele vai fazer uma política contracionista de recursos para as áreas sociais com a desculpa de
reequilibrar as contas públicas, gerando prejuízo para milhões de brasileiros. Contudo, isso não é
uma história nova, é razoavelmente estabelecida na trajetória política social e brasileira.
A aproximação possível seria o governo FHC, de caráter neoliberal, mas certamente menos
agressivo do que outros países da região, e que não desconstruiu toda a pauta social, como pretende
Temer. FHC até deu bases para o trabalho que foi muito mais avançado e bem sucedido quando
liderado pelo presidente Lula e pelo menos durante o primeiro mandato de Dilma. Depois ela se
perde.
Quando se observa o Travessia Social, documento que foi vazado, vê-se que ele está subordinado
ao Uma Ponte para o Futuro. Ou seja, a política social de Temer só será possível se não chocar ou
constranger a proposta ultraliberal econômica.
Quando [Temer] diz que não haverá cortes em programas sociais, está dizendo que na prática não
vai tomar uma decisão radical de extinguir o programa, mas vai esvaziá-los, vai fazer uma
ultrafocalização com resultados dramáticos.
Isso porque estamos em uma situação recessiva. Ele está excluindo o fato de que milhões de
brasileiros estão perdendo emprego, muitos vão voltar para a extrema pobreza, e vão precisar das
políticas sociais, que correm o risco de serem desconstruídas.
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CC: Quais foram os principais avanços no governo Sarney, quando houve a separação das pastas, e
quais podem ser os retrocessos agora que elas voltam a ser uma só?

DC: A separação na época do Sarney foi um avanço. A política de cultura teve alguns momentos
que não foram tão brilhantes durante o lulismo, embora a impressionante força nos últimos 13 anos.
Foi uma pasta que ficou muito relevante e, sem dúvida, o Brasil produziu, incentivou e investiu
mais em cultura a partir de Sarney, especialmente de 1995 para cá e mais fortemente depois de
2003.

CONHEÇA AS PROPOSTAS DO PMDB PARA A EDUCAÇÃO


Bônus para professores e foco na diversificação do Ensino Médio estão entre as medidas anunciadas pelo documento
'A Travessia Social'
Thais Paiva - 10 de maio de 2016

Anderson Riedel/ Vice PR

Diretrizes genéricas a exemplo de “foco na qualidade do aprendizado e na sala de aula” e “dar


consequências aos processos e resultados das avaliações” norteiam as propostas do PMDB para a
Educação, segundo o programa A Travessia Social, elaborado pela Fundação Ulysses Guimarães,
previsto para ser lançado oficialmente caso o vice-presidente Michel Temer assuma a Presidência
no lugar de Dilma Rousseff.

O documento, espécie de cartilha com propostas do partido para a área social, diz, por exemplo, ser
prioridade a melhoria das séries iniciais da Educação Básica, mas pouco ou nada fala sobre os
procedimento que serão implementados para alcançar esse objetivo. No fim de 2015, o PMDB já
havia lançado o Uma Ponte para o Futuro, programa contendo as medidas econômicas que seriam
adotadas em um eventual governo Temer.

Pagamento de bônus para professores a partir da performance dos alunos e participação em


programas de certificação, reforma no Ensino Médio com reestruturação curricular que permita aos
alunos já se dedicarem ao ensino profissionalizante nesta etapa e um Pronatec focado nas
necessidades dos mercados locais e passível de avaliação de resultados são algumas das preposições
apresentadas pelo Travessia.

O teor do documento deixa claro que no governo Temer a questão econômica irá se sobrepor à
questão social, critica Daniel Cara, coordenador Geral da Campanha Nacional pelo Direito à
Educação. “Ficou claro que Uma Ponte para o Futuro é que definirá a agenda do Travessia. O
Travessia é um programa ultra-liberal, que não garante os direitos de todos os cidadãos”, observa.
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Para José Marcelino Rezende, presidente da Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da


Educação (Fineduca), o documento revela um olhar superficial sobre as pautas educacionais e, até
mesmo, um desconhecimento da área. “O documento fala que o Ensino Fundamental é
responsabilidade dos municípios quando, na verdade, é dos estados e municípios. Fica evidente
também sua desatualização: usam a nomenclatura ‘segundo grau’, que não existe mais, no lugar de
Ensino Médio e falam em séries em vez de anos”, aponta.

Além disso, todo o documento é permeado por um discurso de focalização, isto é, de que não é
possível atender a toda sociedade e, portanto, deve-se focar nas parcelas populacionais ou etapas
mais necessitadas. “Só que o Fernando Henrique fez isso com o Fundef (Fundo Estadual de
Manutenção e Desenvolvimento do Ciclo Fundamental e de Valorização do Magistério) que focou
os recursos públicos no Ensino Fundamental e o resultado disso foi a desgraça que virou o Ensino
Médio e o esquecimento da Educação Infantil”, lembra Rezende.

Entre as proposições mais polêmicas do documento está o pagamento de bônus para o professor. A
estratégia “meritocrática” não é novidade, já sendo adotada por diversas redes de ensino Brasil
afora, a exemplo de São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco e Ceará.

Para os especialistas em Educação, no entanto, as políticas de bonificação são ineficientes como


método para alavancar a qualidade do ensino, pelo contrário, acabam gerando uma competição
nociva entre os docentes e moldando a educação dentro de uma concepção mercadológica.

O modelo parte ainda do raciocínio de que o docente é o único responsável pelo sucesso ou fracasso
do aluno, mesmo que não tenha possibilidades reais de alterar as condições de precariedade da
escola em que leciona. “A bonificação tem por trás uma proposta de hiperresponsabilizar os
professores pelos resultados. Em algum grau, os professores são responsáveis pelas notas dos
alunos, mas não totalmente. Sabe-se que cerca 70% do desempenho acadêmico de um aluno é
influenciado pelo nível socioeconômico e escolaridade da família, por exemplo”, explica Ocimar
Alavarse, da Faculdade de Educação da USP.

Outro elemento é que, valendo-se das avaliações em larga escala, não há segurança estatística para
dizer que um professor merece bônus e outro não. Alavarse explica que, além de essas provas não
medirem tudo o que os professores trabalham em sala de aula, elas mensuram conhecimentos
acumulados, ou seja, um resultado feito por professores de anos anteriores também.

O professor aponta ainda que nas escolas públicas é bastante comum a rotação de alunos de uma
unidade para outra. Logo, quando um ano letivo chega ao fim, é possível que boa parte dos alunos
que ali estão na sala não estivessem no começo. “Em um mesmo resultado, então, você pode ter não
apenas o acúmulo do trabalho de vários anos, como também o de outros professores”.

Foto: Pedro Ribas/ ANPr


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Para Cara, o pagamento de bônus é um equívoco, pois a experiência já se mostrou um fracasso nos
países que a adotaram, por exemplo, nos Estados Unidos. “As avaliações em larga escala não têm
precisão estatística para atrelar uma coisa a outra. E o resultado disso em termos pedagógicos é
nulo”.

A bonificação mostra-se também como uma prática de “pseudovalorização” da carreira: oferece


pequenas melhoras no pagamento de poucos por meio de prêmios, mas mantém a maioria com os
baixos salários. “O que vem acontecendo no Brasil nas redes que adotam estratégias de
remuneração por resultado é que as redes baixam os critérios avaliativos para que todos consigam o
bônus. Então hoje, na verdade, o bônus é uma desculpa, pois são gratificações que não se
incorporam à remuneração integral do trabalhador porque isso resultaria obrigatoriamente em
destinar uma parte para a contabilidade previdenciária. Para evitar pagar melhores aposentadorias,
usa-se a remuneração por bônus”, explica Cara.

Outra proposta anunciada é a reforma completa do Ensino Médio com uma restruturação curricular
que permita ao aluno já se dedicar nessa fase ao ensino profissionalizante. Segundo o documento, a
atual estruturação do currículo pressupõe exclusivamente uma preparação para o Ensino Superior e
que, ao término da etapa, o aluno não se vê habilitado para muita coisa além de passar nos
vestibulares. O plano acrescenta que esse foco é equivocado já que a maioria dos alunos encerra aí
sua formação escolar.

“O Ensino Médio serve para concluir a Educação Básica, essa é a finalidade. Tem de acabar com
essa história de que o Ensino Médio não serve para nada. Se houver uma opção precoce pelo ensino
profissionalizante, adivinha qual será a camada social que a fará?”, diz Ocimar. “Não estou dizendo
que com isso não devemos repensar seu currículo. Mas não existe solução pedagógica para
problemas sociais”, acrescenta.

Na opinião de Cara, a reforma curricular no Ensino Médio é sim necessária, mas é preciso ver qual
referência a reestruturação vai assumir. “Não pode ser uma reforma para dizer que algumas pessoas
não têm condição de fazer Ensino Superior. Isso deve ser uma escolha do aluno, ir ou não para a
universidade”.

Outro ponto que chama atenção do documento é o fato de o Plano Nacional de Educação (PNE),
aprovado em 2014 por unanimidade pela Câmara dos Deputados, não ser citado em nenhum
momento pelo A Travessia Social. O plano reúne as 20 metas que deverão direcionar as políticas
públicas em Educação no próximo decênio.

Entre elas, estão a erradicação do analfabetismo, o incentivo à formação de professores, a


ampliação na oferta de Educação Integral e Infantil, além do aumento gradativo da destinação de
5,3% para 10% do PIB no ensino público. “No Travessia, se ignora totalmente o que foi aprovado
no Congresso Nacional, aliás, por um partido que naquele momento tinha a presidência da Câmara
e do Senado”, aponta Rezende.

Nenhuma referência também é feita ao Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da


Educação Básica), criado em 2007 para promover o financiamento da Educação Básica pública. No
sistema educacional brasileiro atual, o governo federal faz um investimento ínfimo. Com o fundo, o
quadro tornou-se um pouco mais equilibrado. Os estados e municípios alimentam o fundo com 20%
da receita proveniente de impostos e transferências, e a União aplica 10% do total dos recursos, o
equivalente a 0,2% do PIB. Mas o valor ainda não é suficiente.
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“Se esse repasse fosse maior, seria possível viabilizar o Custo Aluno-Qualidade inicial (CAQi),
valor mínimo previsto por legislação que deve ser investido por aluno para uma educação de
qualidade, que deveria entrar em vigor em junho deste ano”, questiona Rezende.

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