DOI: 10.1590/1982-3703000212014
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De Rose, Tânia Maria Santana; Afonso, Mariana Luciano; Bondioli, Ricardo Martinelli; Gonçalves, Endy-Ara Gouvea;
Prezenszky, Bruno Cortegoso (2016). Práticas Educativas Inovadoras na Formação do Psicólogo Escolar.
Abstract: In the Educational Psychology field identifying new professional practices is relevant for
adopting a preventive perspective compromised to school quality improvement. It is expected that
providing opportunities during training for experiencing innovative practices contribute to future
actions with teachers that aim at the improvement of teaching-learning process and at the enrichment
of students’ education in public schools. The teaching-learning method called cooperative learning
provides academic learning through cooperation between students in heterogeneous groups. It is
highlighted as an efficient educational practice that promotes students’ academic achievement,
socialization, cooperation and social skills. The present study consists of the report of an internship
experience in Educational Psychology aiming at the implementation of a cooperative learning
strategy with secondary students. The theoretical framework of cooperative learning is presented,
as well as the internship dynamics and interns impressions related to the challenges experienced on
promoting cooperation. Finally, it is discussed that cooperative learning demands the development
of a role that emphasizes mediation and observes student group functioning.
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somente por aprender o que é ensinado, mas também Segundo Johnson, e Johnson (2009), aprendizagem
por auxiliar os seus colegas a aprenderem. As ativi- cooperativa, tal como se conhece hoje, tem suas bases
dades são planejadas de maneira que cada membro teóricas fundamentadas em filósofos e psicólogos inte-
do grupo alcança seu objetivo de aprendizagem se e ressados em processos educacionais, que se preocu-
somente se os demais membros do grupo alcançarem param mais com os processos de aprendizagem do que
os seus. Um aluno só poderá ter sucesso em uma com seu conteúdo. O primeiro deles foi John Dewey,
tarefa se todos os membros do grupo tiverem sucesso, que defendia a importância de encorajar os estudantes
o que faz com que o sucesso de cada um seja depen- a serem sujeitos ativos e cidadão responsáveis em uma
dente do sucesso de todos. sociedade democrática. Seus pressupostos filosóficos
A aprendizagem cooperativa apoia-se no uso da levaram ao desenvolvimento de procedimentos para
cooperação como forma de interação entre os pares planejamento e investigação cooperativas em pequenos
para a promoção de aprendizagens acadêmicas, impli- grupos, baseado no que os estudantes estavam inte-
cando em um processo de ensino-aprendizagem para ressados em aprender. Esses procedimentos envol-
o qual é requerida a adoção de novos papéis tanto por viam os estudantes no planejamento cooperativo de
parte dos alunos como dos professores. A maioria dos todas as disciplinas escolares. Esta foi uma maneira
procedimentos de aprendizagem cooperativa inclui as efetiva de preparar os estudantes para, quando adultos,
seguintes condições: divisão da turma em equipes de engajarem-se de forma responsável no planejamento de
aprendizagem (de 3 a 6 membros), heterogêneas em soluções dos problemas da comunidade.
termos de rendimento acadêmico e que permanecem Na formulação das bases teóricas da aprendi-
trabalhando ao longo de um período; os alunos são zagem cooperativa encontra-se também Kurt Lewin,
incentivados a ajudarem os membros da sua equipe importante psicólogo social cujas ideias e métodos
na aprendizagem da tarefa proposta e são recom- ajudaram a projetar relacionamentos interpessoais
pensados pelo rendimento grupal, são estimulados eficazes dentro de grupos, melhorando assim a forma
a auxiliarem, discutirem e argumentarem uns com como os sujeitos em grupos se relacionam entre si
os outros, avaliando os conhecimentos e resolvendo durante a realização de objetivos coletivos. Assim
as lacunas de entendimentos com os colegas, tendo como Dewey, Lewin também acreditava que a apren-
em vista que cada um do grupo passe a dominar os dizagem é mais efetiva quando se trata de um processo
conceitos e conteúdos alvo. ativo para o sujeito, especialmente quando é condu-
Os grupos heterogêneos nesse modelo de apren- zida de maneira colaborativa. A relação prática entre as
dizagem criam oportunidades de discussão entre os ideias de Dewey e Lewin foi empreendida por Herbert
seus membros. Segundo alguns estudos, esse tipo Thelen, que desenvolveu um método em que estu-
de interação pode ser até mais eficaz do que a inte- dantes buscam aprender juntos, em pequenos grupos,
ração com adultos na aprendizagem da resolução de modo que os grupos solucionam problemas com
de determinados problemas, possibilitando que os êxito e tomam decisões baseados nas contribuições e
alunos aprendam a compreender e resolver conflitos. pontos de vista de todos os seus integrantes.
No que se refere a mudanças no papel do professor, No desenvolvimento teórico da aprendizagem
a aprendizagem cooperativa exige outras habilidades cooperativa merece destaque, por fim, o psicólogo
e atividades deste, como conhecer a diversidade social Morton Deutsch, aluno de Lewin. Deutsch
da turma para montar equipes, selecionar tarefas dedicou-se ao estudo de cooperação e conflito, defen-
estimulantes para a construção de conhecimento dendo que a cooperação estabeleceria confiança
naquele grupo, ensinar a cooperar e resolver conflitos, interpessoal, mantendo relações pessoais e grupais
prestar atenção ao progresso de cada aluno, explicar estáveis. Foi este autor quem teorizou a respeito de
claramente os critérios de avaliação – de modo que um importante conceito da aprendizagem coope-
os alunos os considerem justos –, resolver possíveis rativa: as relações de interdependência positiva,
contradições na concretização desses critérios, distri- que promovem situações em que cada integrante
buir oportunidades de protagonismo, proporcionar do grupo é responsável por contribuir com a apren-
reconhecimento e oportunidades para comprovar seu dizagem de todos os membros, e ao, mesmo tempo,
próprio progresso a todos os alunos (Díaz-Aguado, é enriquecido pelas contribuições do demais. Assim,
2000; Slavin, 1995; Johnson, & Johnson, 2009). os estudantes compartilham investigações sobre os
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temas propostos, descobertas e apoio mútuo. Dessa mento acadêmico tem sido encontrada para os mais
forma, a maneira como a interdependência positiva é variados tipos de conteúdos ou temas das diversas
estruturada guia a forma de as pessoas interagirem no matérias escolares (leitura e escrita, História, Geografia,
interior do grupo e influencia as consequências dessa Ciências, Matemática), para a realização de diferentes
interação (Johnson, & Johnson, 2009). tipos de tarefas: as que envolvem aquisição de conceitos,
As pesquisas sobre a aprendizagem cooperativa retenção e memorização, solução de problemas, julga-
desenvolvidas nas últimas décadas têm sido funda- mentos e predições (Johnson, & Johnson, 2009).
mentadas na teoria da Interdependência Social, sendo Um amplo e sólido conjunto de estudos condu-
os resultados deste método de ensino atribuídos ao zidos desde os anos 70 até os dias atuais têm compro-
favorecimento da ocorrência da interdependência vado a eficácia pedagógica alcançada pela utilização
positiva entre os alunos na medida em que suas ações da aprendizagem cooperativa. As investigações têm
promovem o alcance de metas comuns. verificado os efeitos advindos de situações de ensino
Os estudos destacam cinco elementos conside- com aprendizagem cooperativa, competitiva e indivi-
rados cruciais para ocorrência da cooperação entre os dualista sobre o aproveitamento e sucesso acadêmico;
alunos: interdependência positiva, responsabilidade qualidade dos relacionamentos (aproximação/estima
individual, interação estimuladora, competências entre os colegas e sentimento de contar com apoio
sociais e avaliação do grupo (Johnson, & Johnson, 2005, social), motivação e bem estar psicológico (índices
2009). A interdependência positiva, considerada a de saúde psicológica como autoestima e atitudes em
principal característica da aprendizagem cooperativa, relação a experiência escolar).Um sólido conjunto de
consiste na percepção que cada membro do grupo só evidências tem demonstrado que a aprendizagem
será bem sucedido se todos os outros também forem, cooperativa possibilita resultados positivos e múlti-
de modo que o trabalho de cada elemento beneficia o plos, destacando a obtenção de forma simultânea
grupo e o trabalho do grupo beneficia cada elemento. tanto de resultados acadêmicos como de resultados
A responsabilidade social individual e de grupo refere-se não acadêmicos tais como melhoria e sucesso acadê-
a cada aluno ser responsável por fazer a sua parte do mico, transferência de aprendizagem, motivação
trabalho, que é decidida pelo grupo. A interação esti- intrínseca, desenvolvimento social e cognitivo, apoio
muladora diz respeito ao fato de que cada aluno tem de social, afetividade, redução de estereótipos e precon-
se preocupar com o sucesso dos demais membros na ceitos, bem estar psicológico, autoestima, competên-
medida em que estão envolvidos na realização de uma cias sociais, internalização de valores (Slavin, 1995;
tarefa com objetivos comuns, requerendo fornecer Johnson, & Johnson, 2005, 2009).
ajuda para os colegas e se motivarem mutuamente. Outra vertente de investigações tem demons-
As competências sociais dos alunos, como liderança, trado a eficácia da aprendizagem cooperativa para
escuta ativa, comunicação e resolução de conflitos, a prevenção e remediação de diversos problemas
precisam ser estimuladas pois são necessárias para sociais relacionados à diversidade entre os alunos
que eles consigam cooperar. A avaliação do grupo (racismo, sexismo) e comportamento antisso-
envolve a análise feita pelos membros do grupo quanto cial (delinquência, abuso de drogas, violência)
ao cumprimento dos objetivos estabelecidos para uma (Díaz-Aguado, 2000; Johnson, e Johnson, 2007;
tarefa e para si próprios, determinando os pontos fortes Johnson, Johnson, & Stanne, 2000).
e fracos do funcionamento do grupo.
Os métodos cooperativos contribuem para reduzir Método e desenvolvimento
a competição e o individualismo entre os estudantes,
garantindo que cada aluno seja recompensado com O estágio: contexto e dinâmicas
base no desempenho de todos os colegas do seu grupo. O estágio cuja experiência é aqui relatada
Esses métodos podem ser aplicáveis para a aprendi- intitula-se “Aprendizagem Cooperativa: Ampliando
zagem de qualquer tipo de assunto abordado desde a a Formação de Alunos do Ensino Fundamental e de
pré-escola até a universidade, podem ser integrados e Estagiários e Psicologia”, foi realizado em uma escola
serem complementares às práticas já adotadas pelos estadual de porte médio que oferecia o segundo ciclo
professores em suas salas de aula. A eficácia da apren- do Ensino Fundamental (6º ao 9º anos), os alunos
dizagem cooperativa para o aprimoramento do rendi- permaneciam na escola em período integral. A escola
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era localizada na zona central da cidade, mas atendia, dades acadêmicas e dificuldades de adaptação ao
predominantemente, alunos moradores de bairros contexto escolar .
da periferia da cidade e provenientes de famílias de Em cada um dos anos, o estágio foi desenvol-
baixo nível socioeconômico. O atendimento integral vido ao longo de dois semestres, abrangendo, sema-
envolve um período dedicado à oferta das maté- nalmente, duas horas de supervisão, duas horas de
rias regulares e um segundo período que possibilita estudo e preparação das atividades práticas e uma
que a escola forneça oportunidades de ampliação hora de trabalho junto aos alunos da escola. As ativi-
da formação tradicionalmente oferecida, tornando dades de supervisão foram realizadas nas depen-
possível o envolvimento dos alunos em atividades dências da universidade, enquanto as atividades
diferenciadas, flexíveis e inovadoras dirigidas ao práticas desenvolvidas pelos estagiários, junto aos
enriquecimento de sua formação. alunos, ocorreram no período da tarde nas salas
O funcionamento da escola em período integral de aula da escola em que os alunos estavam matri-
pode representar uma condição favorável para oferta culados. As atividades desenvolvidas no estágio
de estágios inovadores em Psicologia Escolar, uma vez foram divididas em dois momentos: um primeiro
que há uma demanda da própria escola em propor e de formação teórica dos estagiários (dois meses
criar oportunidades de ensino e aprendizagem não iniciais) e um segundo de desenvolvimento de ativi-
convencionais que contribuam para o alcance da dades com os alunos (a partir do terceiro mês).
formação integral dos alunos. Os dois primeiros meses foram dedicados à
A supervisora proponente do estágio consultou fundamentação teórica e prática do método de
a escola sobre o interesse de ser fornecida a opor- ensino-aprendizagem a ser conduzido, por meio
tunidade a uma turma de alunos de vivenciarem de leitura dos textos-base (Díaz-Aguado, 2000;
métodos de ensino-aprendizagem cooperativa Monereo, & Gisbert, 2005) e ao planejamento geral
visando articular a oferta de estágio em Psicologia das atividades a serem desenvolvidas junto aos
Escolar a uma experiência de autonomia e de coope- alunos ao longo dos dois semestres. Essa formação
ração entre os alunos. Em um primeiro momento, buscou subsídios teóricos e práticos relevantes a tal
foi apresentada a proposta para a direção, a coorde- planejamento, que estruturou ações preparatórias e
nação e o conjunto de professores, sendo ressaltado de implementação da estratégia de aprendizagem
que aquela seria uma oportunidade dos estagiários cooperativa escolhida. As ações de implementação
vivenciarem um trabalho de estímulo a cooperação (desenvolvidas no segundo momento do estágio)
junto a um grupo de alunos. demandadas para a estratégia do Quebra-Cabeça,
Foi estabelecida uma parceria entre a escola e descrita adiante, incluíram a montagem de grupos
a área de Psicologia Escolar de um curso de gradu- heterogêneos, a escolha dos temas a serem estu-
ação em Psicologia para o desenvolvimento de dados, a preparação de materiais a serem dispo-
oficinas de cooperação junto a uma turma. Ao longo nibilizados aos alunos, a observação dos alunos e
de quatro anos consecutivos, um grupo de estagiá- ações juntos a eles por parte dos estagiários.
rios e a supervisora ficaram responsáveis por ativi- O período inicial do estágio foi dedicado a
dades semanais com a duração de uma hora junto ações preparatórias tais como: a discussão sobre
a uma turma de alunos do segundo ciclo do Ensino a importância do estabelecimento entre os esta-
fundamental (6º a 9º anos). Anualmente, o trabalho giários e os alunos de uma relação apoiadora e
na escola envolveu, em média, 9 estagiários e uma afetiva, identificação das informações sobre os
turma em média formada por 35 alunos dos 7º ou 8º alunos necessárias para a formação de grupos
anos, totalizando 33 estagiários e 140 alunos. A coor- que possibilitasse uma participação balanceada
denadora pedagógica da escola ficou responsável de membros com diferentes características acadê-
pela escolha da turma que, a cada ano, participaria micas e sociais, discussão acerca dos pontos prin-
das oficinas e o critério da escola para a designação cipais da fundamentação teórica da aprendizagem
da turma, em geral, consistiu em turmas heterogê- cooperativa, discussão sobre os elementos da
neas do ponto de vista acadêmico, com predomínio interação entre os alunos a serem estimulados de
de alunos com baixo aproveitamento acadêmico, forma a garantir a ocorrência da cooperação entre
baixo engajamento e motivação em relação as ativi- os alunos, discussão quanto as principais ações dos
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estagiários relevantes para a condução da estratégia tiva, agressiva e passiva de interação), gincana de
Quebra-Cabeça e das tarefas a serem realizadas habilidades e foram definidas as regras de convívio.
pelos alunos em cada uma das etapas da estra- Também foram desenvolvidas atividades indi-
tégia Quebra-Cabeça, dando condições às ações de viduais tendo em vista a obtenção de informações
implementação. sobre características acadêmicas e sociais a serem
A partir do terceiro mês, foram iniciadas as consideradas para que os grupos fossem compostos
atividades práticas semanais dos estagiários na por membros diferentes, mas cujas características
escola junto aos alunos, sendo os encontros de diferentes pudessem favorecer o aprender e ensinar
supervisão também semanais. Na supervisão era as tarefas acadêmicas, as habilidades sociais e a
feita uma avaliação do andamento e do alcance interação estimuladora entre os alunos. Foram
das atividades práticas realizadas pelos estagiários levantados dados por meio de observações acerca
com base nas informações resultantes da interação do aproveitamento acadêmico (no caso, as habili-
com e das observações do engajamento dos alunos dades de leitura e escrita dos alunos), das compe-
nas atividades e nas ações pertinentes ao funciona- tências sociais, do engajamento em atividades em
mento do grupo. A seguir, eram tomadas decisões grupo. Os dados sobre status sociométrico de cada
sobre os ajustes e objetivos a serem alcançados um dos alunos na turma foi obtido por meio da apli-
nas atividades da semana seguinte, era realizada cação do sociograma.
a elaboração de um planejamento das atividades Posteriormente, procedeu-se a formação dos
e a preparação dos materiais. Nestes encontros, grupos heterogêneos, que se iniciou com uma
eram discutidas as dificuldades dos alunos para ampla discussão entre os estagiários baseada no
engajarem-se nas atividades planejadas e as difi- conhecimento adquirido sobre cada aluno ao longo
culdades dos estagiários relativas a garantir a inter- das interações nas atividades iniciais, de natureza
dependência positiva entre os alunos, a respon- mais lúdica e menos estruturadas (em geral foram
sabilidade individual, a interação estimuladora realizados, nesse período, jogos e discussões de
e a apresentação das habilidades sociais. Eram dilemas morais). Procurou-se garantir um balance-
propostos ajustes na maneira de cada estagiário amento entre alunos: 1 - com alto, médio e baixo
mediar e dar feedback aos alunos, sendo em geral aproveitamento em leitura e escrita (em geral, mais
enfatizadas abordagens específicas em função de um terço dos alunos tinham acentuadas dificul-
das facilidades e dificuldades específicas de cada dades de leitura e escrita); 2 - mais e menos habili-
membro do grupo de estagiários de forma a favo- dosos socialmente (considerando-se as habilidades
recer o engajamento dos alunos nas atividades e o de ouvir o outro, esperar a vez de falar, e resolução
fornecimento de apoio e feedback específicos para de conflitos); 3 - com diferentes status dentro da
cada aluno e para o grupo como um todo. turma (alunos populares, rejeitados, tímidos, extro-
No terceiro e quarto meses, as atividades vertidos); e 4 - o de evitar o viés de amizades.
práticas visaram a aproximação e criação de Os temas de interesse indicados pelos alunos para
vínculos entre os alunos e estagiários e a criação serem estudados foram sexualidade na adolescência,
de oportunidades para os estagiários observarem a preservação do meio ambiente e fatores de risco e
dinâmica dos alunos ao realizarem atividades cole- protetivos para o uso de drogas. Para exemplificar a
tivas e obterem as informações necessárias para estratégia de ensino com aprendizagem cooperativa
formação de grupos heterogêneos balanceado, de do Quebra-Cabeça será relatado seu uso para o estudo
forma a aumentar a chance do grupo funcionar do tópico sexualidade na adolescência, tendo como
efetivamente, dos alunos aprenderem e a ensinarem base o livro Sexo Para Adolescentes (Suplicy, 1998).
uns aos outros. Nesse período, foram formados O segundo semestre foi dedicado ao planeja-
pequenos grupos (4 a 5 alunos) em função dos crité- mento e implementação das estratégias de aprendi-
rios estabelecidos pelos próprios alunos, sendo que zagem cooperativa e a elaboração do relatório de ativi-
cada grupo era acompanhado por um ou dois dos dades de estágio. O trabalho dos estagiários foi dirigido
estagiários. Com esses grupos foram desenvolvidas para a implementação da estratégia cooperativa
atividades lúdicas como a dinâmica do “pedido ao “Quebra-Cabeça” que visa favorecer que os membros
presidente” (no qual foram discutidas formas asser- das equipes passassem a trabalhar em grupo, coope-
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rando uns com os outros, tendo em vista o alcance alcance dos objetivos de cooperar com os colegas,
de metas de aprendizagem comuns voltadas para a no sentido de todos aprenderem sobre o tema e das
tarefa de estudar um tópico de uma matéria. Em geral, relações sociais entre eles, visando uma tomada de
foram necessárias em média 6 semanas para que decisões de ajustes e melhorias.
todas as etapas do Quebra-Cabeça previstas fossem
concluídas por todas as equipes. Os objetivos de Resultados e Discussão
aprendizagem, comuns para as equipes, envolveram Será apresentado um conjunto de observações
aprendizagem de conteúdos e questões relativas à: pertinentes a alguns desafios enfrentados pelos esta-
sexualidade na adolescência, ao meio ambiente e giários que emergiram, regularmente, ao longo das
sustentabilidade, e fatores de risco e protetivos envol- quatro ofertas de estágio e foram comuns às experiên-
vidos no uso de drogas. Na quarta oferta de estágio, cias dos diferentes grupos de estagiários. Estes desa-
nos terceiros e quartos meses de estágio foram desen- fios referem-se às demandas e exigências surgidas ao
volvidas atividades específicas para favorecer o apri- tentarem assumir os papéis de mediadores e obser-
moramento das habilidades sociais e de resolução de vadores de grupos de estudantes engajados em um
problemas interpessoais necessárias para garantir a trabalho de aprendizagem cooperativa.
aprendizagem de cooperação entre os alunos. As fontes destas observações acerca das dificul-
Inicialmente, os estagiários explicaram a dinâ- dades e facilidades percebidas pelos estagiários ao
mica do Quebra-Cabeça para as equipes hete- serem responsáveis por promover cooperação entre
rogêneas compostas por cinco membros, sendo os membros de grupos heterogêneos foram os rela-
proposto que as equipes trabalhassem com um tórios semanais, os relatos e as discussões ocorridas
tema que foi dividido em cinco subtemas (o tema nos encontros de supervisão acerca das dificul-
da sexualidade na adolescência, por exemplo, dades enfrentadas ao monitorarem o trabalho dos
foi dividido em: masturbação, menstruação, grupos cooperativos.
primeiro namoro, mudanças físicas e ritmos de Os estagiários demonstraram ser capazes de
mudanças) e a sequência de atividades previstas explicar a tarefa cooperativa para os alunos e o
para os alunos envolvidos no procedimento coope- significado da interdependência positiva, moni-
rativo “Quebra-Cabeça”. Os membros das equipes torar a aprendizagem dos alunos e intervir no
então reuniram-se e deram um nome para a equipe, grupo para fornecer assistência para a realização
decidiram quem da equipe ficaria responsável pelo da tarefa ou melhoria das habilidades sociais e de
estudo e ensino das diferentes partes do tema para grupo; avaliar a aprendizagem dos alunos e auxili-
os colegas do grupo. A seguir, os membros das á-los a examinarem seu funcionamento em grupo.
diferentes equipes responsáveis por um determi- No entanto, os estagiários relataram a necessidade
nado subtema reuniram-se em grupo de especia- uma experiência mais prolongada ou mais intensa
listas para estudarem e discutirem os diferentes para que as competências exercitadas fossem forta-
subtemas. Na sequência, eles retornaram para as lecidas e aprimoradas.
equipes originais e passaram a assumir a respon- Possivelmente, um conjunto de condições
sabilidade de ensinar sobre o que tinham apren- contribuiu para o processo de aprendizagem dos esta-
dido sobre o seu subtema para os seus colegas de giários tais como: discussões dos estagiários sobre a
equipe. Os membros apresentaram o subtema para vivência da própria prática com os alunos, o exercício
os colegas, sendo, portanto, estudados conjunta- de relacionar fundamentos teóricos e práticos da
mente as diferentes partes do tema geral. O procedi- aprendizagem cooperativa para auxiliar a interpretar
mento continuou com todos os membros da equipe e entender suas facilidades e dificuldades em assumir
respondendo individualmente a perguntas sobre papel de mediadores e de observadores dos grupos,
todas as subpartes. Foram computadas as pontu- bem como dos pontos fortes e fracos dos alunos para
ações individuais e estes pontos foram somados engajarem-se em um trabalho cooperativo e obterem
resultando na pontuação total do grupo, como a de êxito. No entanto, uma condição peculiar a este estágio
avaliação da equipe. Finalmente, foi dedicado um pode ter adquirido uma função de destaque: Os esta-
tempo para os membros do grupo refletirem sobre giários (em média, 8) estavam trabalhando simultane-
o processo do trabalho realizado, em função do amente com os diferentes grupos. Esta situação favo-
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recia que eles observassem as diversas maneiras dos a entender um pouco mais de cada um deles, as
colegas resolverem os desafios, acompanhassem o condições vivenciadas por eles dentro e fora da
andamento dos diferentes grupos cooperativos e obti- escola, e os fatores de vulnerabilidade e protetivos
vessem dicas e ajudas dos demais colegas de estágio. presentes em suas vidas que podem vir a influenciar
A partir das observações e discussões com o desenvolvimento .
os estagiários pode-se identificar algumas difi- Um dos desafios enfrentados pelos estagiários
culdades surgidas no processo de adoção de um foi o de estimular que os alunos desenvolvessem as
novo papel – o de serem mediadores – em função habilidades sociais necessárias para a ocorrência
do processo ensino-aprendizagem passar a ser da cooperação e do sucesso do grupo (encorajar a
centralizado nas interações entre os pares, sendo participação de todos os membros do grupo, ouvir
atribuído ao adulto, o papel de monitoramento o colega, esperar a vez de falar, resolver conflitos,
e fortalecimento das interações que favoreçam por exemplo). Procurou-se por meio da interação e
o aprendizado pela cooperação no âmbito das do diálogo com os alunos explicar, monitorar e dar
equipes. Uma das dificuldades enfrentada foi a apoio constante para a promoção das habilidades
falta de confiança demonstrada pelos estagiários na sociais requeridas para que eles funcionassem efeti-
possibilidade de os alunos aprenderem e ensinarem vamente enquanto grupo. Foi feito uso constante
uns aos outros e na forte tendência a adotarem o de observação e de feedbacks visando destacar os
papel tradicional, muito enraizado, que associa a avanços e aprimoramentos ainda necessários para
aquisição dos conhecimentos dos alunos à depen- os alunos individualmente e para o grupo como um
dência de sua transmissão por um adulto. Pode-se todo. Os estagiários procuraram constantemente
verificar que, ao longo do estágio, esta tendência vai estimular que os alunos ouvissem uns aos outros,
sendo alterada, de modo que os estagiários passam fornecessem explicações claras para os colegas,
a perceberem-se como mais seguros e capacitados evitassem distrações e se empenhassem em favo-
a conduzirem as práticas cooperativas. recer a participação e aprendizagem dos colegas.
Além dessas dificuldades, outra que pôde ser Nesse sentido, faz-se importante enfatizar
notada foi a dos estagiários garantirem de forma a atenção insuficiente que vem sendo dada pela
consistente que o manejo da turma e das equipes escola onde foi realizado o estágio à área de habili-
ocorresse, principalmente, por práticas positivas e dades sociais. Os alunos têm poucas oportunidades
com o mínimo de uso de práticas punitivas e coerci- de interagirem em situações de aprendizagem, de
tivas. Para tal, foi enfatizada a importância do esta- modo que seria desejável que o professor tenha
belecimento de uma relação com os alunos apoiada condições de promover habilidades sociais e quali-
em regras claras, criadas em conjunto com os adoles- ficar as relações interpessoais entre seus alunos.
centes, e buscando, a partir de discussões entre eles, Esse aspecto é relevante pois a literatura destaca
o consenso entre quais deveriam ser as regras vigentes que o êxito do trabalho cooperativo depende, em
durante os seus encontros. grande parte, da qualidade das relações interpes-
A aproximação e formação de vínculos com os soais estabelecidas em grupo (Johnson, & Johnson,
alunos e o entendimento da dinâmica da turma, 2009). Ressalta-se que, a partir desta preocupação,
dos grupos heterogêneos formados, bem como do no último ano de oferta do estágio foi realizado
potencial e das dificuldades de cada aluno tendo um trabalho específico voltado à resolução de
em vista a participação e alcance dos objetivos de problemas interpessoais. Considera-se que os resul-
um trabalho cooperativo foram continuamente tados deste trabalho foram relevantes no sentido de
aprimoradas ao longo de todos os meses de estágio. influenciar positivamente no êxito da experiência
As oportunidades dos estagiários de interagirem, de aprendizagem cooperativa.
de observar a própria interação entre si e com cada Outro desafio consistiu em uma constante busca
um dos alunos, podendo ouvir, perguntar, opinar, de maneiras de explicar aos alunos a importância da
comentar, mediar, dar feedback aos alunos indivi- interdependência positiva e da responsabilidade indi-
dualmente e em grupo possivelmente contribuíram vidual. Constantemente era necessário retomar para
para os estagiários perceberem que de fato criaram os alunos a ideia de que cada membro do grupo só
vínculos afetivos com os alunos e que passaram seria bem sucedido se todos os outros também fossem,
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de modo que o trabalho de cada elemento benefi- tiva com alguma regularidade poderiam valorizar
ciaria o grupo e o trabalho do grupo beneficiaria cada a oportunidade do aprender como fruto da inte-
elemento, enfatizando que cada aluno deveria ser ração e da cooperação com os colegas. E o professor
responsável por fazer a sua parte do trabalho, que é poderia assumir papéis diferentes do de trans-
importante para o êxito do grupo. missor de conhecimento.
Os relatos dos estagiários indicam que uma ou
duas experiências de participação na estratégia de Considerações Finais
Quebra-Cabeça não foram suficientes para uma Pode-se concluir que esta vivência de estágio
parcela dos alunos perceberem a importância da mostra-se promissora para fortalecer as competên-
interdependência positiva entre os membros do cias requeridas para estagiários garantirem a inter-
grupo e da responsabilidade individual. Possivel- dependência positiva, a responsabilidade social,
mente, esta percepção tornar-se-ia mais clara se os as competências sociais e a interação estimula-
alunos tivessem oportunidades mais frequentes de dora entre os alunos, bem como para possibilitar
engajarem-se em grupos cooperativos com a fina- o desenvolvimento de competências acadêmicas e
lidade de aprenderem determinados conteúdos e sociais entre alunos que experienciaram a vivência
verificassem que de fato é possível aprender com da estratégia.
e ensinar aos demais colegas. Os dados mostraram Tem sido destacado, nos contextos de segundo
pouca experiência dos alunos com atividades de ciclo do Ensino Fundamental de vários países, que
aprendizagem que envolvesse interação entre os o uso de procedimentos de aprendizagem coope-
alunos – a aprendizagem era centrada na exposição rativa já está incorporado à rotina do trabalho dos
do professor e estudo individual do aluno – e pouca professores e dos alunos. Em geral, os professores
experiência de trabalho em grupo. despendem um período das aulas, por pelo menos
A intensidade e frequência da assistência e duas vezes por semana, para os alunos envolverem-
do apoio fornecidos pelos estagiários para que os se em atividades desse tipo (Díaz-Aguado, 2000;
alunos percebessem a importância de assumirem a Johnson, & Johnson, 2009)
responsabilidade individual – dedicar-se a aprender Um psicólogo escolar que tenha experienciado
a parte do seu subtema e então empenhar-se em no decorrer da sua formação inicial uma experi-
ensiná-lo para os colegas variou em parte em função ência de implantação de prática educativa inova-
do domínio de leitura e escrita de cada aluno. Foi dora pode mostrar-se mais sensível e motivado a
dada assistência constante para os alunos que apre- compartilhar tal experiência com os professores.
sentavam dificuldades acentuadas de leitura para A aprendizagem cooperativa mostra-se particu-
que pudessem estudar e compreender o conteúdo larmente atraente e útil para o aprimoramento do
que era de sua responsabilidade. processo de ensino-aprendizagem na medida em
Das observações dos alunos no decorrer da que possibilita avanços acadêmicos e favorece a
vivência com o método Quebra-Cabeça, pôde-se melhoria das relações sociais entre os alunos.
verificar que uma parcela dos alunos engajou-se em A prática dos estagiários de monitorar os
várias das ações requeridas pelo trabalho coopera- comportamentos cooperativos e a aprendizagem
tivo alcançando os seus benefícios – aprenderam a dos alunos pauta-se, principalmente, em um
partir das explicações dadas pelos colegas, contri- processo de reflexão sistemática sobre as próprias
buíram para o funcionamento do grupo, para a ações dirigidas para os alunos, e de ajustes nas suas
cooperação entre os colegas e para que apren- ações em função do que observam ocorrer entre os
dessem. Outra parcela dos alunos ainda precisaria alunos nas equipes cooperativas. A experiência com
de mais oportunidades de vivência deste método este tipo de reflexão envolvida no ensinar, pode ser
de ensino para ter chance de desenvolver as habi- relevante para um trabalho com professores na
lidades requeridas para usufruir dos benefícios que medida em que, em geral, cabe ao psicólogo escolar
a aprendizagem cooperativa possibilita em termos auxiliar o planejamento pedagógico e o aprimora-
de aprimoramento das competências acadêmicas e mento das habilidades de ensino dos professores,
sociais. Possivelmente, se alunos do Ensino Funda- sendo este tipo de reflexão fundamental para o
mental experienciassem aprendizagem coopera- professor aprimorar suas práticas.
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Psicologia: Ciência e Profissão Abr/Jun. 2016 v. 36 n°2, 304-316.
Recebido: 19/02/2014
Reformulado: 15/09/2015
Aprovado: 01/04/2016
Received: 02/19/2014
Reformulated: 09/15/2015
Approved: 04/01/2016
Recibido: 19/02/2014
Reformulado: 15/09/2015
Aceptado: 01/04/2016
Como citar: Rose, T. M. S., Afonso, M. L., Bondioli, R. M., Gonçalves, E.-A. G., & Prezenszky, B. C. (2016). Práticas
educativas inovadoras na formação do psicólogo escolar: uma experiência com aprendizagem cooperativa.
Psicologia: Ciência e Profissão, 36(2): 304-316. doi: 10.1590/1982-3703000212014
How to cite: Rose, T. M. S., Afonso, M. L., Bondioli, R. M., Gonçalves, E.-A. G., & Prezenszky, B. C. (2016). Innovative
educational practices in the Educational Psychologist vocational training: An experience with cooperative
learning. Psicologia: Ciência e Profissão, 36(2): 304-316. doi: 10.1590/1982-3703000212014
Cómo citar: Rose, T. M. S., Afonso, M. L., Bondioli, R. M., Gonçalves, E.-A. G., & Prezenszky, B. C. (2016). Prácticas
educativas innovadoras en la formación del Psicólogo Educativo: Una experiencia con el aprendizaje cooperativo.
Psicologia: Ciência e Profissão, 36(2): 304-316. doi: 10.1590/1982-3703000212014
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