Para justificar o uso do termo “escravo” pelos europeus para qualquer tipo de
escravidão ou servidão africana, diz que essas línguas (europeias) sofriam de um vazio
linguístico que não equivalia ao diversificado vocabulário africano.
A partir dessas afirmações vemos função do casamento como agente integrador, assim
os recém-vindo (capturados, trocados, comprados) se tornavam um membro pleno do grupo.
Após fazer uma pequena analise histórica da palavra “cativo” e lembrar-vos que tanto
“cativo” quanto “escravo” nunca existiu no dicionário quimbundo, Isabel Henriques diz que
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“Estamos perante uma forma de gestão que não diz apenas respeito ao foto linguístico, na
medida em que se banalizou a ideia de que a África é um continente onde não só a escravatura
estaria generalizada, mas que apenas se mostraria capaz de produzir escravos”.
Por outro lado a forma de “escravidão” africana seguia uma linha muito ténue e
tinham prazos não tão longos, havia uma integração nas famílias. Segundo Isabel “O
parentesco permitia tornar flexível o sistema e repelir as formas mais violentas de dominação
e exclusão”. Para exemplificar essa “escravatura” mostra-se o mecanismo que permitia a um
homem ou mulher tornar-se escravo voluntariamente, o escravo também poderia trocar de
senhor se fosse exposto a situações violentas e também na situação de fome ou miséria, ou se
sentisse inútil.
A autora cita que no grupo banto há uma aldeia que possui uma construção chama
jango que era para acolhimento dos viajantes. Mostrando assim “a organização da forma de
parentesco que mantendo embora a hierarquia dos estatutos, não renunciam por isso a uma
tendência para a igualização. Se o acesso à terra é regulado por instituições religiosas é
evidente que dele depende toda produção agrícola, tal como dependem também a recolecção e
a caça.”
O comércio na África Central não era em nada parecido com os modelos europeus, por
mais que visassem o lucro, o uso de animais era muito raro e de meio fluviais também, além
de que o modelo estabelecido era o de trocas, segundo a autora “Encontramos na literatura do
século XIX a referência a caravanas, grandes inicialmente, menos pesados depois. Os
carregadores contam-se às dezenas de milhar, recebendo um pequeno salário em mercadorias
pago pelos europeus, não sabemos nós estimar o pagamento acaso feito pelos africanos.”
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Constata-se também que antes da moeda europeia entrar no cotidiano tshokwe, a
riqueza era principalmente representada por marfim, sal e “escravos”, sempre depois
substituída pela borracha (destinadas ao comércio com a Europa).
Nas sociedades africanas, o líder político era também o líder da família, a qual por sua
vez depende das regras de funcionamento. O que caracteriza maiormente as sociedades
africanas é a enorme elasticidade das situações, que implica em relações flexíveis entre as
estruturações sociais.
Após a analise dessas várias bibliografias Isabel Henriques chega a conclusão que
falar de sociedade africana é estar perante uma sociedade que não deixa de combinar formas
permanentes, com a gestão do circunstancial. Uma sociedade que da possibilidade de escolha
entre a dependência e a liberdade.