SINOPSE
Este trabalho tem como objetivo analisar o impacto dos investimentos na economia cearense
e as relações entre investimento público e investimento privado. A hipótese deste trabalho é que
não há crescimento econômico sustentável sem a existência de investimento público eficiente e
eficaz que atenda às demandas da economia estadual. Este trabalho verifica empiricamente a
existência de efeitos de complementariedade ou substituição entre investimentos privados e públicos,
considerando a hipótese de não-estacinariedade das séries econômicas. Ao mesmo tempo são
discutidas as co-integrações das séries de investimentos privados, investimentos públicos, popu-
lação economicamente ativa empregada, consumo do governo e taxa de inflação para equações
de curto e longo prazos do produto e investimento. São utilizados dados de séries temporais no
período de 1970/2001.
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o papel dos investimentos no estado do Ceará tem merecido
uma grande atenção para o crescimento econômico estadual. A partir de 1987, o gover-
no do estado buscou organizar suas finanças e a administração pública, além de focali-
zar as intervenções estatais na oferta de bens e serviços públicos e de infra-estrutura e
na criação de um ambiente favorável ao desenvolvimento do setor privado; realizou um
grande esforço para promover o crescimento econômico com base no setor privado.
Mesmo quando o Brasil foi afetado por crises fiscais e financeiras, a economia do Ceará
___________________________________________________
*
Economista/ Mestrando em Economia Rural – UFC; Bolsista da Funcap; e-mail: ricardocandea@ig.com.br
**
Ph.D em Economia Agrícola pela Universidade Estadual da Geórgia; Professor Titular do Departamento de
Economia Agrícola da Universidade Federal do Ceará; Bolsista do CNPQ; e-mail: saeed@ufc.br
continuou a crescer. De 19871 a 2001, o dito governo das “mudanças” atraiu novos
significativos investimentos privados na indústria e na formação de uma moderna in-
fra-estrutura, o que permitiu elevar o PIB do Ceará mais rapidamente (3,4% ao ano)
que o do Brasil (1,7% ao ano). Esses elementos caracterizam a importância do cresci-
mento econômico e os bons fundamentos macroeconômicos como condições necessári-
as, mas não suficientes, para resolver eficazmente o problema da pobreza não só nesse
estado, mas em todos os países em desenvolvimento.
Vasconcelos (1999) ressalta o êxito do volume de investimentos quanto à geração
de empregos e de interiorização do desenvolvimento industrial. Esse êxito foi obtido
principalmente pelo Programa de Incentivos ao Financiamento de Empresas (Provin),
pelo Fundo de Investimento do Nordeste (Finor), que, a partir de 1995, passou a ter um
fluxo de liberalização maior conforme dados da Sudene, pelo Fundo Constitucional de
Financiamento do Nordeste (FNE), que teve no período de 1990-1996 cerca de 19,1%
do total dos recursos contratados, e, por fim, pelo Banco Nacional do Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), que obteve no período de 1990-1996 9,57% dos desem-
bolsos realizados para o Nordeste e 1,49% para o Brasil.
Segundo Pinho (2001), os efeitos estruturais sobre a oferta apresentam-se ambí-
guos, por haver efeitos que podem levar a um aumento da oferta global, os quais po-
dem ser simultâneos a efeitos de diminuição dessa oferta global. O investimento públi-
co, ao utilizar recursos limitados e ao potenciar a produção de bens que sejam concor-
rentes ou substitutos dos bens produzidos pelo setor privado, pode levar a um efeito
crowding-out no investimento privado. O investimento público pode potenciar a produ-
ção de bens complementares aos produzidos pelo setor privado, como é o caso do inves-
timento em infra-estruturas sociais e econômicas, permitindo desse modo um aumento
da produtividade marginal do capital privado, do qual decorrerá um aumento do inves-
timento privado, produzindo-se, dessa forma, um efeito positivo sobre a oferta.
Como o investimento privado é uma variável endógena, a adoção de reformas
econômica voltadas para o mercado provoca o aumento da importância na formação de
capital agregado. Além disso, são relevantes o efeito da instabilidade macroeconômica
no nível de investimento privado e a relação de complementaridade ou de substituição
entre o capital público e privado (Melo e Junior, 1999).
A complementariedade ou substituibilidade entre investimento público e investi-
mento privado, e o conseqüente impacto sobre a oferta potencial da economia, não é
___________________________________________________
1
As políticas adotadas a partir desse ano conseguiram balancear as contas públicas do governo, promovendo uma
maior capacidade de investir (em virtude de uma geração de poupança) e atrair investimentos. A política de
contenção de gastos e de aumento das receitas e a contribuição da reforma administrativa permitiram um maior
fluxo de investimentos em infra-estrutura.
3 O impacto dos investimentos no estado do Ceará no período de 1970-2001 59
Y = A f (K , L, X ) (1)
onde A representa um fator de produtividade global da economia, K é a dotação de
capital da economia, L é a dotação de trabalho e X é um vetor que inclui outros os
fatores que afetam o crescimento do produto. A função de produção assume a forma:
Y= A K α Lβ X γ (2)
___________________________________________________
2
Com as contas públicas regulamentadas, o governo estadual, a partir de 1987, promoveu políticas de atração de
investimento nacional e internacional, expandindo o índice de participação relativa do Ceará no PIB do Brasil.
Esta característica da atuação do setor público é semelhante à análise da produtividade nos EUA, elaborada por
Aschauer que, no período 1949-85, concluiu que a diminuição da produtividade nos EUA se relaciona com a
diminuição da formação de capital público. No estudo de Aschauer (1989), o impacto do capital público no
produto do setor privado é superior ao impacto do capital privado.
60 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v.11, n.20, maio 2003
y = a + α1 kp + α 2 kg + β l + γ x , (5)
sendo as variáveis em minúsculas a representação dos logaritmos das variáveis referidas
anteriormente. Os coeficientes α1 , α 2 , β e γ são, assim, as elasticidades do produto
relativamente aos respectivos fatores.
No tocante à teoria neoclássica de determinação de investimentos, Jorgenson (apud
Melo e Junior, 1999) modelou que o estoque de capital desejado é função do custo do
capital e do nível da produção. O custo de utilização do capital, por sua vez, é determi-
nado pelo preço de capital, pela taxa de juros real, pela taxa depreciação e pelo nível de
impostos/subsídios incidentes sobre investimentos.
3 REVISÃO DE LITERATURA
Os trabalhos citados no Quadro 1 seguem outras teorias, além da neoclássica. A
primeira é a do Modelo Acelerador dos Investimentos, em que o investimento líquido é
proporcional à variação do nível de produto; a segunda é a teoria sobre investimentos
nos países em desenvolvimento, que sugere o setor público como grande responsável
pela formação bruta de capital e, por fim o Modelo Acelerador Flexível, que prevê a
formação de expectativas sob o nível de produto esperado, em que apenas aumentos
persistentes teriam efeito sobre o estoque de capital desejado. Nesse sentido, o lento
movimento do estoque de capital em direção ao nível desejado poderia ser associado ao
relacionamento de crédito e aos custos de ajustamento. Assim, o atraso no processo de
tomada de decisão e implementação dos investimentos ajustaria apenas parcialmente o
estoque de capital atual em seu nível desejado (Melo e Júnior, 1999).
No Quadro 1, que descreve características e resultados de cinco estudos economé-
tricos sobre o comportamento do investimento no Brasil, os quais servirão como refe-
rência para a elaboração da estimação da função de investimento para o estado do
3 O impacto dos investimentos no estado do Ceará no período de 1970-2001 61
NOTA: Os símbolos das variáveis indicam: produto interno bruto (Y), Investimento Privado (IP), Grau de Utiliza-
ção da Capacidade instalada (UTCAP), Estoque de Capital do Setor Público (KG), Investimento do Setor
Público (IG), Custo de Capital (U), Taxa Salarial (W), Custo de Matéria Prima (E), Taxa de Juros (R),
Créditos liberados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Taxa de
Variação do Índice Geral de Preços (IGPT). Os símbolos * e ** indicam a significância estatística respec-
tivamente de 1% e 5%.
Os resultados dos trabalhos de Ronci (1991), Studart (1992) e Rocha e Texeira (1996) foram retira-
dos de Melo e Júnior (1999).
ção na oferta também gera poupanças que podem induzir o aumento dos investimen-
tos, permitindo a ampliação da capacidade produtiva.
A ampliação endógena da demanda (em função do aumento da oferta) permite
nova ampliação da capacidade produtiva, favorecendo a continuação do processo. A
ampliação da demanda, aliada à maior disponibilidade de poupanças, cria condições
favoráveis à realização de novos investimentos. A realização de novos investimentos,
endógenos ou não, contribui para a ampliação da demanda uma vez que esses investi-
mentos se incorporam à capacidade produtiva, permitindo a continuação do processo.
Desse modo, a expansão da capacidade produtiva torna-se uma condição não apenas
necessária, mas suficiente para o crescimento econômico, dando ao investimento um
papel crucial como variável de desenvolvimento.
Conforme Jacinto e Ribeiro (1998), um reflexo positivo do investimento público
pode ser associado à geração de infra-estrutura (transporte, comunicações, energia elé-
trica), a qual auxilia no aumento da produtividade do capital privado. Como um com-
ponente da demanda agregada, induz o investimento privado, através do incremento
da demanda por bens e serviços desse setor, e o aumento da disponibilidade de recur-
sos, em razão dos efeitos positivos sobre o produto e poupança agregada, caracterizan-
do um efeito de complementariedade.
Por outro lado, o investimento por parte do setor público pode reduzir o investi-
mento privado, utilizando recursos físicos e financeiros que estariam disponíveis ao
setor privado. O exemplo clássico seria a elevação das taxas de juros, cuja finalidade é
financiar os gastos do setor público através de uma maior remuneração dos títulos pú-
blicos, contribuindo para a redução da disponibilidade do crédito para o setor privado,
reduzindo, também, o investimento desse setor e resultando no efeito substituição.
Conforme Telles (2000), entre outros, os gastos governamentais (Gt) significam exter-
nalidades positivas para investimentos do setor privado. Deve-se notar, porém, que,
diferentemente das teorias keynesianas, os gastos governamentais não buscam gerar
crescimento através de um impulso na demanda, mas, antes, os gastos são orientados a
fim de estimular a oferta.
4 METODOLOGIA
zes de guardar o máximo possível de analogia com a teoria econômica. As séries histó-
ricas do investimento governamental (IG t), taxas de juros reais (Jt), consumo do gover-
no estadual (Gt), investimento privado (IPt), população economicamente ativa empre-
gada (PEAt) e produto interno bruto a preço de mercado (PIB t) foram obtidos através
do Instituto de Planejamento do Estado do Ceará − Iplance −, sendo IG t,Gt IPt e PIB t
deflacionados expressos a preços constantes de 2002. Já as taxas de inflação foram
obtidas como o índice de preços do IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas − FGV − extraí-
dos de Ribeiro (2002). As variáveis IPt e IG t foram calculadas considerando a atuação do
capital na construção e na aquisição de equipamentos.
PIB t
= f (IP , IG ,G , PEA , DM , DR )
t t t t t (6)
IP t
= f ( PIB , IG , R , J )
t t t t t (7)
Em que:
IP = investimento bruto do setor privado;
PIBt = produto interno bruto a preço de mercado;
IGt = investimento bruto do setor público;
Jt = taxa real de juros (proxy para custo de utilização do capital);
G t = consumo do governo estadual (variável de controle para os ajustes fis-
cais);
PEAt = população economicamente ativa empregada;
DM = variável dummy para captar a influência da administração governo das
mudanças. Toma valor de zero no período 1970-1986 e valor um no
período de 1987-2001;
DR = variável dummy para captar a influência do Plano Real do governo fede-
ral. Toma valor zero no período de 1970-1994 e valor um no período
de 1995-2001;
Rt = taxa de inflação anual (proxy para instabilidade e incerteza).
A partir da expressão anterior (equações 6 e 7), estimou-se o seguinte sistema
econométrico para o período 1970/1995, com as variáveis expressas em logaritmo (ex-
64 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v.11, n.20, maio 2003
ceto a taxa de juros reais), de modo a obter diretamente as elasticidades das variáveis.
Produto e investimentos privados são variáveis determinadas simultaneamente. Perce-
be-se isso claramente através do modelo 1 (modelo de longo prazo) para o Ceará a
seguir:
L ( PIBt ) = β 0 + β1 L( IPt ) + β 2 L( IG t ) + β 3 L ( PEAt ) + β 4 L (Gt ) + β 5 DM + β 6 DR + υ t (8)
3
Os pressupostos do modelo clássico (Gujarati, 2000).
3 O impacto dos investimentos no estado do Ceará no período de 1970-2001 65
nula não for rejeitada, isso é consistente com a série possuir uma raiz unitária, isto é, a
série não é estacionária.
Nos testes ADF foram considerados até dois desfasamentos para ultrapassar a pos-
sibilidade de autocorrelação dos erros. Para evitar a possibilidade de sobrediferenciação
(overdifferencing), as variáveis foram, em primeiro lugar, convertidas em logaritmos (na-
turais) e testadas em nível: no caso de acusarem a presença de uma raiz unitária, são
calculadas e testadas as primeiras diferenças (ordinárias) das variáveis; caso voltem a
acusar a presença de uma raiz unitária, são obtidas e testadas as segundas diferenças.
Diferenças de ordem superior à segunda, devido a sua difícil interpretação econômica,
não são aconselhadas. Serão os resultados obtidos com os testes DF e ADF que determi-
narão a pertinência da inclusão da tendência.
Trabalhar com as séries em nível, integradas de primeira ordem, como as séries
temporais desta pesquisa, embora permitam captar as relações de longo prazo entre as
variáveis, produz muito provavelmente o fenômeno das regressões espúrias. Por outro
lado, a regressão utilizando a primeira diferença, uma vez que as séries temporais são
estacionárias em primeira diferença, embora elimine a possibilidade de regressões es-
púrias, provoca a perda da relação de longo prazo. Uma situação em que se pode traba-
lhar com o nível das séries sem correr o risco de regressões espúrias ocorre quando as
séries são co-integradas. Daí a importância da análise de co-integração, pois “um teste
para cointegração pode ser pensado como um pré-teste para evitar situações de ‘regres-
são espúria’”. (Granger apud Gujarati, 2000:732).
Conforme Engle e Granger (1987), a definição de co-integração é a seguinte: seja
xt um vetor (N x 1), os componentes de xt são ditos co-integrados de ordem (d, b),
denotado por xt ~ CI (d, b), se: 1) todos os componentes de xt são I (d); 2) existe um
vetor α ≠ 0 tal que zt = α xt ~ I (d - b), b > 0. O vetor α é chamado vetor de co-
integração.
Assim, a definição de co-integração requer, em primeiro lugar, que todas as variá-
veis do modelo sejam integradas da mesma ordem. A segunda condição é que a combi-
nação linear das variáveis do modelo resulte em uma série, cuja ordem de integração é
menor do que as das séries originais (Hendry e Juselius, 1999). Isso não basta, porém,
para garantir o equilíbrio de longo prazo entre as funções; é necessário que as duas
mantenham ao longo do tempo uma distância aproximadamente constante; elas de-
vem mover-se de forma sincronizada e, para que isso ocorra, o resíduo eðt tem de ser
integrado de ordem zero. Assim, se εt ~ I (0), os resíduos da regressão serão estacioná-
rios.
3 O impacto dos investimentos no estado do Ceará no período de 1970-2001 67
5 ANÁLISE DE RESULTADOS
___________________________________________________
4
O valor dessa estatística depende da presença ou ausência do termo “constante” e/ou “tendência”.
70 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v.11, n.20, maio 2003
integrado de grau 1, e não estacionário, que tem de ser diferenciado para se transfor-
mar em um ruído branco, isto é, numa variável estacionária.
___________________________________________________
5
Para N=31 e k=3, os valores críticos de DWl e DWu são, respectivamente, 1,023 e 1,425. E ao nível de significância
de 0,01.
6
Para N=31 e k=6, os valores críticos de DWl e DWu são, respectivamente, 0,834 e 1,698. E ao nível de significância
de 0,01.
3 O impacto dos investimentos no estado do Ceará no período de 1970-2001 73
que estes seriam integrados de grau zero, isto é, os resíduos do modelo 1 são estacioná-
rios.
Fonte: Estimativas próprias. Obs.: valores críticos do teste ADF (com constante e sem tendência): -
2,64(1%) e -1,95(5%). Os valores críticos ao 1% (*), 5%(**) e 10%(***) de nível de confiança
para o estatístico ADF.
R 2 = 0.718611
F de Breusch-Godfrey = 4.901704[0.016858
N = 31(1971 / 2001
F de White = 1.244447[0.372255]
DW = 1. 689424 F de Snedcor = 10.21520[0.000012]
Resultados da equação 12
Variável Coeficiente Desvio-padrão Estatística-t Prob.
C -0.018090 0.025873 -0.699178 0.4925
?LPIB 0.460837 0.276085 1.669187 0.1107
?LIG 0.101623 0.061410 1.654827 0.1136
?LR -0.009862 0.014962 -0.659118 0.5173
?J -2.39E-05 7.68E-05 -0.311879 0.7584
ϖ t −1 -0.056775 0.015326 -3.704523 0.0014
?LPIBt-1 0.467021 0.217307 2.149129 0.0440
?LPIBt-2 -0.457191 0.188522 -2.425134 0.0249
?LIP t-1 0.530154 0.195381 2.713433 0.0134
R = 0.552740
N = 29(1973 / 2001) F de Breusch-Godfrey = 3.408713[0.027223
F de White = 0.307155[0.970448
DW = 1.957071
F de Snedcor = 3.089593[0.019375]
Fonte: Estimativas próprias. Obs.: Os valores entre colchetes representam o nível de significância.
Tabela 7 - Testes ADF aplicados aos resíduos do modelo de curto prazo ou modelo 2
Variável τ -adf Coeficientes Desvio-padrão Defasagens
Fonte: Estimativas próprias. Obs.: valores críticos do teste ADF (sem constante e sem tendência): -
2,65 (1%) e -1,95 (5%). Os valores críticos ao 1% (*), 5% (**) e 10% (***) de nível de confiança
para o estatístico ADF.
Os valores do teste ADF dos resíduos do modelo 2 ( υ t−1 e ω t −1 ) mostram que esses
são estacionários, isto é, são integrados da ordem zero I (0). Dessa foram, as variáveis
são co-integradas e as estimativas dos parâmetros das equações 11 e 12 superconsisten-
tes, isto é, as séries são I (1), mas os resíduos são I (0); os estimadores dos parâmetros da
regressão de co-integração convergem para os valores verdadeiros a uma taxa mais
rápida do que se as variáveis fossem estacionárias, quando o tamanho da amostra au-
menta (Melo e Júnior, 1999).
As hipóteses de ausência de autocorrelação serial e de ausência de heterocedastici-
dade também são aceitas na dinâmica de curto prazo. O coeficiente do resíduo defasa-
do num período, obtido da equação de equilíbrio de longo prazo (modelo 1), represen-
ta a resposta do produto (equação 11) e investimentos privados (equação 12) a seus
desvios em relação ao equilíbrio. Se esse coeficiente não for estatisticamente significati-
vo, infere-se que estes não se ajustam para corrigir os desvios do equilíbrio. Os resulta-
dos do modelo 2 mostram que os coeficientes dos resíduos têm o sinal correto (negati-
3 O impacto dos investimentos no estado do Ceará no período de 1970-2001 77
vo), além de serem estatisticamente significativos em nível de 1%, indicando, com isso,
que as variáveis endógenas (PIB t, IPt) sempre se ajustam a seus níveis de longo prazo.
Com base no teste de co-integração e visando confirmar a hipótese formulada de
que PIB e IP como variáveis endógenas e de sua inter-relação, foi realizado o teste de
causalidade de Granger, cujos resultados são apresentados no Anexo A.
Com base nos resultados do teste, pode-se perceber que a hipótese nula de que
PIB não causa o investimento privado foi rejeitada de acordo com o valor F; da mesma
forma, também foi rejeitada a hipótese nula de que investimento privado não causa o
PIB. Isso confirma a causalidade percebida e garante a consistência da análise no pre-
sente estudo.
Para confirmação estatística dessa evidência, realiza-se, então, o teste de co-inte-
gração proposto por Soren Johansen (Banerjee et al., 1993). O Anexo B apresenta os
resultados deste teste.
Observa-se então, ao nível de 1%, que a hipótese nula de não co-integração é
rejeitada, existindo, portanto, uma relação de equilíbrio de longo prazo entre as variá-
veis endógenas e exógenas.
O modelo VAR foi estimado no período de 1972 a 2001, introduzindo um termo
constante e considerando apenas dois valores defasados de cada variável endógena da
equação, a saber: PIB e investimento privado. Os resultados obtidos estão apresentados
no Anexo C.
Por definição, o coeficiente de determinação, R2 mede a parte da variação amos-
tral da variável dependente explicada por variações nas variáveis independentes. Os
valores do R2 nesta estimação mostram que todas as equações do modelo VAR apresen-
tam um elevado grau de ajustamento. Segundo os resultados obtidos, as variáveis inde-
pendentes incluídas nas equações do modelo explicam entre 99.42% R 2 na equação do
PIB do Ceará.
Critérios de informação têm sido largamente aplicados em análise de séries tem-
porais para determinar o tamanho ideal da defasagem a ser usada no modelo. O menor
valor observado no critério de Akaike, AIC, indica o melhor modelo a ser utilizado em
termos de defasagem. No entanto, observou-se que, com uma amostra de apenas 32
observações, seria improdutivo usar esses critérios para definir a ordem das defasagens.
Assim, optou-se por um modelo que combinasse parcimônia do número de parâmetros
com poder de previsão. A condição necessária para que os estimadores obtidos pos-
suam as propriedades desejáveis é que as variáveis endógenas do VAR sejam estacioná-
rias. Caso contrário, a existência de raízes unitárias deve ser levada em consideração.
No entanto, essas regressões deveriam ser feitas com as diferenças das variáveis e não
78 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v.11, n.20, maio 2003
6 CONCLUSÕES
Neste trabalho foram analisados os efeitos da formação de investimento privado
sobre a produção da economia cearense no período 1970-2001.
A dinâmica do PIB t e dos IPt da economia cearense é tão complexa que o desenvol-
vimento deste artigo traz luz sobre alguns de seus aspectos. Embora existam várias
explicações teóricas para encarar a dinâmica de longo e curto prazo para PIB e investi-
mentos, são poucos os trabalhos dedicados a testar empiricamente essas explicações.
Os resultados obtidos estão, no entanto, condicionados quer pelos pressupostos
implícitos na formulação adaptada, quer pela não consideração de variáveis relevantes
na questão em análise.
Deste estudo, podem-se tirar algumas implicações. A primeira é que os investi-
mentos públicos no Ceará, no período analisado, têm reflexo positivo e complementar
que pode ser associado à geração de infra-estrutura (transportes, comunicações, ener-
gia elétrica), a qual auxilia no aumento da produtividade do capital privado. E como
um componente da demanda agregada, induz o investimento privado através do incre-
mento da demanda por bens e serviços desse setor e o aumento da disponibilidade de
recursos devido aos efeitos positivos sobre o produto e poupança agregada, caracteri-
zando um efeito de crowding-in. Segunda, a necessidade de serem observadas as suposi-
ções implícitas aos modelos econométricos estimados neste trabalho. Terceira, o inves-
timento público e o consumo do governo estadual de forma agregada apresentaram
significância estatística.
3 O impacto dos investimentos no estado do Ceará no período de 1970-2001 79
A variável dummy para perceber os efeitos do plano real na economia cearense foi
significante e apresentou um efeito negativo para a economia estadual. Da mesma for-
ma, a variável dummy para o governo das mudanças mostra que o ajuste fiscal inserido
pela administração afetou negativamente a economia do estado, porém o consumo do
governo estadual e os investimentos estaduais públicos se mostraram significantes e
positivos conforme o modelo de longo prazo.
Apesar das limitações, o estudo apresenta como contributivo significativo o fato de
se utilizarem diversas abordagens conduzindo a resultados semelhantes aos trabalhos
de Jacinto e Ribeiro (1998), Melo e Júnior (1999) e Pinho (2001). Como sugestão para
outro trabalho, seria de extrema relevância criar uma metodologia que permita avaliar
os impactos efetivos da política de planejamento sobre o crescimento econômico do
estado do Ceará.
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dez. 1999.
80 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v.11, n.20, maio 2003
LPEA não causa (no sentido de Granger) LIG 3.29707 0.08013 Sim
LIG não causa (no sentido de Granger) LPEA 0.28936 0.59488 Sim
LPIB não causa (no sentido de Granger) LIP 2.69175 0.11206 Sim
LIP não causa (no sentido de Granger) LPIB 0.70348 0.40872 Sim
LPEA não causa (no sentido de Granger) LIP 2.85568 0.10216 Sim
LIP não causa (no sentido de Granger)LPEA 0.26424 0.61125 Sim
continua...
82 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v.11, n.20, maio 2003
LPEA não causa (no sentido de Granger) LPIB 12.2813 0.00156 Não
LPIB não causa (no sentido de Granger)LPEA 2.80201 0.10528 Sim
5 Percent Critical
Eigenvalue Likelihood Ratio 1 Percent Critical Value Hypothesized No. of CE(s)
Value
0.874205 193.7495 124.24 133.57 None **
0.763648 131.5565 94.15 103.18 At most 1 **
0.696111 88.28345 68.52 76.07 At most 2 **
0.565402 52.55071 47.21 54.46 At most 3 *
0.361820 27.55066 29.68 35.65 At most 4
0.240857 14.07664 15.41 20.04 At most 5
0.176059 5.809690 3.76 6.65 At most 6 *
*(**) denotes rejection of the hypothesis at 5%(1%) significance level
L.R. test indicates 4 cointegrating equation(s) at 5% significance level
continua...
84 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v.11, n.20, maio 2003
LIP LPIB
LIP(-1) 0.661601 0.033250
(0.23488) (0.14651)
(2.81681) (0.22695)
C 4.636603 3.039182
(2.59329) (1.61759)
(1.78792) (1.87883)
LG 0.019885 0.003586
(0.01712) (0.01068)
(1.16150) (0.33580)
LR -0.017993 -0.022690
(0.03665) (0.02286)
(-0.49089) (-0.99243)
J 7.79E-05 -0.001921
(0.00182) (0.00113)
(0.04287) (-1.69450)
DR 0.011509 -0.110924
(0.22204) (0.13850)
(0.05183) (-0.80091)
DM 0.091612 -0.006565
(0.11318) (0.07060)
(0.80940) (-0.09300)
continua...
86 Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v.11, n.20, maio 2003
Fonte: Resultados obtidos através do pacote econométrico E-views 2.0. Nota: os valores entre parên-
teses são, respectivamente, erros padrões e estatísticas-t.
3 O impacto dos investimentos no estado do Ceará no período de 1970-2001 87
SYNOPSIS
The objective of this paper is to analyse the impact of investment in economy of Ceará and
the relationships between public and private investment using a econometric model. The hy-
pothesis of this work is that there is no sustainable economic growth without public efficient and
effective investments that, meet the demand of the state economy. This work verifies empirically
the existence of effect crowding-out or crowding-in among private and public investments, con-
sidering the hypothesis of non-stationary economic series. At the same time the co-integrations of
time series data of private and public investments, population economically activae, the govern-
ment consumption, and inflation rate, in short and long run, for product and investment
equations. Data used is for the period 1970/2001.
SINOPSIS