Luciele da Silva1-UDESC
Resumo
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Graduada em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria- UFSM; Especialista em Ensino de Filosofia
pela Universidade Federal de São Carlos-UFSCar e mestranda pelo Programa de Pós-graduação em Educação da
Universidade do Estado de Santa Catarina- UDESC. E-mail: luciele.filo@yahoo.com.br
ISSN 2176-1396
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Introdução
Ao refletirmos sobre o ensino na EJA é preciso considerar que por muito tempo esse
foi um campo visto como secundário pra o qual eram destinadas medidas compensatórias.
Para Haddad e Di Pierro (2000), somente na década de 1940 a EJA se firmou como um tema
de política nacional. Neste momento, um importante marco na história da educação de adultos
foi a criação da UNESCO (Organização das nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura)
em 1945, que tinha como missão denunciar as desigualdades entre países e alertar sobre o
papel da educação no processo de desenvolvimento das nações que eram chamadas
“atrasadas”. A imagem dos países que tinham altos índices de analfabetismo diante dos países
desenvolvidos motivou campanhas em favor da educação de adultos. Na ocasião da V
Conferência Internacional de Educação de Adultos (CONFITEA), realizada em 1997, foi
estabelecido na Declaração de Hamburgo
A educação de adultos torna-se mais que um direito: é a chave para o século XXI; é
tanto conseqüência do exercício da cidadania como condição para uma plena
participação na sociedade. Além do mais, é um poderoso argumento em favor do
desenvolvimento ecológico sustentável, da democracia, da justiça, da igualdade
entre os sexos, do desenvolvimento socioeconômico e científico, além de um
requisito fundamental para a construção de um mundo onde a violência cede lugar
ao diálogo e à cultura de paz baseada na justiça. (UNESCO, 1997, p.1)
perfil de bom aluno esperado pela própria escola.2 De toda maneira, os alunos que compõem
o público da EJA devem ser respeitados em seus direitos e em suas necessidades pedagógicas,
o que implica em necessidade de formação por parte dos professores e principalmente na
reflexão sobre as práticas educativas.
a experiência é aquela coisa que, ao acontecer a alguém transforma essa pessoa, que
já não é mais a mesma. É algo que atravessa seu pensamento, suas ideias e faz com
que já não possa mais ser o mesmo. Algo se passa, toca e é aprendido de forma
transformadora. A experiência filosófica é a experiência de fazer filosofia. É isso
que queremos proporcionar aos jovens: a experiência de filosofar (ASPIS;GALLO,
2009. p.16).
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De acordo com dado divulgado pelo Anuário Brasileiro da Educação Básica de 2015, no ano de 2013 foram
registradas 3.623.912 matriculas na Educação de Jovens e Adultos da rede pública.
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O professor que pensa certo deixa transparecer aos educandos que uma das
bonitezas de nossa maneira de estar no mundo e com o mundo, como seres
históricos, é a capacidade de intervirmos no mundo, conhecer o mundo. Mas,
histórico como nós, o nosso conhecimento do mundo tem historicidade. Ao ser
produzido, o conhecimento novo supera outro que antes foi novo e se fez velho e se
“dispõe” a ser ultrapassado por outro amanhã. Daí que seja tão fundamental
conhecer o conhecimento existente quanto saber que estamos abertos e aptos á
produção do conhecimento ainda não existente. Ensinar, aprender e pesquisar lidam
com esses dois momentos do ciclo gnosiológico: o em que se ensina e se aprende o
conhecimento já existente e o que se trabalha a produção do conhecimento ainda não
existente (FREIRE, 1996. p.31)
simplesmente mostrar o que já foi feito através da rica história da filosofia, mas dar ao aluno
instrumentos para que ele possa filosofar.
No livro Ensinar filosofia: um livro para professores (2009), Renata Aspis e Silvio
Gallo apresentam uma opção metodológica para o ensino de filosofia que é tomada aqui como
uma referência. Para os autores um curso ou uma aula de filosofia podem ser concebidos em
quatro etapas: sensibilização, problematização, investigação e conceituação.
Na primeira etapa o intuito é promover a sensibilização dos alunos, ou seja, promover
o interesse dos alunos para o tema escolhido para o trabalho. Esse movimento pode ser feito
através de um texto não filosófico, por exemplo, quadrinho, recorte de jornal ou revista,
fragmentos de filmes ou documentários, etc. Nesse momento o professor aproxima a filosofia
dos temas cotidianos, mostrando aos alunos que as questões filosóficas fazem parte da vida
deles.
A segunda essa etapa o momento é de problematizar o tema. Aqui é o momento de
formular questões sobre o tema. A aula deve ser fundamentada em um problema filosófico a
partir do qual os alunos devem adquirir o desejo por buscar soluções para esse problema. A
formulação do problema é central nesse processo, pois leva a etapa seguinte que promove a
investigação filosófica.
A etapa de investigação consiste no estudo de textos filosóficos previamente
selecionados pelo professor, objetivando o contato do aluno com a leitura filosófica. Aqui o
professor pode mostrar ao aluno que um mesmo tema foi abordado de maneiras diferentes por
vários filósofos ao longo da história.
E por fim a etapa de conceituação consiste em encontrar um novo sentido para os
conceitos que foram trabalhados nas etapas anteriores. Esse é o momento onde a escrita surge
como atividade necessária. A escrita é o momento de total autonomia do aluno, é onde ele
demonstra seu posicionamento, suas deficiências, suas habilidades e se mostra realmente
como estudante de filosofia.
Nesse processo a história da filosofia tem um papel fundamental, mas não central, pois
o objetivo é fazer com que os alunos adquiram autonomia para usar as ferramentas filosóficas
para que possam por sua vez filosofar. O uso do texto clássico tem aqui um papel
significativo, é através dele que os alunos têm o contato direto com o que os próprios
filósofos escreveram e podem assumir uma posição a partir da leitura que fizerem.
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No primeiro semestre de 2014 foi desenvolvido um trabalho filosófico com uma turma
do primeiro ano de Ensino Médio da EJA dentro da unidade temática de filosofia da arte, que
teve como objetivo geral analisar relação do homem com a arte e a cultura. Para isso, foi
selecionado como conteúdo principal a produção e a mercantilização da arte e da cultura. A
turma em questão era composta por alunos entre dezoito e cinquenta e quatro anos e muitos
tinham ficado alguns anos longe da escola. Muitos dos alunos da turma já tinham tido contato
com a filosofia nas etapas que correspondem aos anos finais do Ensino Fundamental 3, porém
para alguns aquele era o momento do primeiro contato com a disciplina.
Dentro dessa unidade temática quatro aulas foram destinadas a proposta de que aos
alunos que refletissem sobre o papel da arte na vida em sociedade. Com o objetivo de
sensibilizar e aproximar os alunos do tema, no momento inicial da primeira aula da unidade,
foi aberto um debate sobre o que os alunos entendiam como arte e depois foi exibido o
documentário Lixo Extraordinário (2010), que foi dirigido por Lucy Walker e retrata o
trabalho do artista plástico Vik Muniz no Aterro do Jardim Gramacho – RJ. O documentário
aborda a relação do artista, que vê o lixo como matéria prima para suas obras, com os
catadores, que veem no lixo uma forma de sustento de suas famílias. Entre outros temas a
filmagem trata da maneira como o lixo é produzido e descartado em nossa sociedade, da
relação do homem com esse lixo, da transformação do lixo em arte e da mercantilização da
arte.
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No município de São José-SC a disciplina de filosofia também está presente no currículo dos anos finais do
Ensino Fundamental da Educação de Jovens e Adultos-EJA.
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Considerando que cada aula de filosofia tem duração de quarenta e cinco minutos,
foram utilizadas duas aulas para a apresentação do documentário. Na terceira aula foi
proposto um diálogo com os alunos proporcionando a manifestação dos alunos sobre a
maneira como os alunos descartam o lixo, a geração de trabalho e renda a partir do lixo e as
possibilidades do lixo ser transformado em arte. A partir das falas dos alunos sobre o tema, foi
proposto a questão “Qual o papel da arte na vida em sociedade ?”
Para contribuir com a problematização foi feita a leitura de um fragmento da obra A
necessidade da arte escrita pelo filósofo Ernest Fischer que expressa
O fragmento foi lido individualmente e depois foi feita a leitura para a turma
acompanhada de uma contextualização histórica sobre o momento em que a obra foi escrita.
Considerando que filosofia pressupõe criação, isso implica em exercício de escrita, portanto
foi proposto os alunos se posicionassem a respeito daquilo que entenderam da leitura e que
em casa, eles escrevessem um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema buscando
responder a questão proposta.
Na aula seguinte, foi proposto que os alunos trocassem os textos entre eles para que
fosse feita a analise da posição dos colegas a respeito do tema. Desta forma eles perceberam
que uma mesma questão pode ser respondida de maneiras diferentes e que todas podem estar
corretas dependendo da maneira como o aluno argumentou e expôs a sua posição sobre o
tema. Considerando as atividades realizadas nas quatro aulas, os alunos foram avaliados pela
participação nos debates e discussões propostos e pelo exercício de escrita, onde eles puderam
se posicionar de maneira mais clara e incisiva.
Considerações finais
REFERÊNCIAS
ASPIS, Renata Lima; GALLO, Sílvio. Ensinar Filosofia: um livro para professores. São
Paulo: Atta Mídia e Educação, 2009.
FISCHER, Enerst. A necessidade da arte. Trad. Leandro Konder. Rio de Janeiro: Zahar,
1977.
WALKER, Lucy; HARLEY, Karen; JARDIM, João. Lixo Extraodinário. Reino Unido/
Brasil, 2010, 99 min, cor