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RONALD BE. BARKER & RGBERT ESCARPIT A FOME DE LER Tradugio de J. 3. Velga FGU — Institute de Dooumentagse Rditora da Fundagéo Gouio Vargas em sonvento com 2 Tastitita Nacional do 500 0 pabroriale do Pregras Departamento de Assunt: ie Cultural do toa Culturais = Ministério da Educacio © Culture, Rilo de Janelro — GB — 1075 Os hébitos de leitura sie mais dificels de ser estudadas do que os outros, A cbservacdo direta do comportamento 96 revela, o gesto e nf o ato de lez, e 0 gesto 6 apenas ume, aparénela, As estatisticas 8 nos dio o volume, 6 titino ¢ a disteibwigfo social do eansumo de material impress, mas consurio nfo signifiea necessariamente: Fletbure, Muitas vezes mm livro 6 comprado apenas pars. efeito decorativo, Os inguéritos revelam apenas indielos. subjetivos, que freqdentements néo passa de um aglo- merado de ilusdes. Quando o problema 6 atacado de varios dngulos simullaneamente e por uma variedade de meétodos, po- de-se fazer uma idéla do lugar que @ leltura coupa na. vida deste ou daquele grupo de pessoas ou no sistema. de comunicaggo deste on daquole setor social ou intelec- tual, snas nunea se rode saber se se trata do mesmo fendmeno em todos Gs casos. Neo existe uma espécie apenas de leltura, masdiversas, 6.1. Formas de Jeitura A primeiva vista parece que se pode definir a leitura 15 asian como o alo que consiste em deciirar um texto escrito, Mas isso nao diz multo, A decifragho pode ter lugar em J nivels muito diferentes e envolver wm ou mals dos mui cédigos que compdcm um texto, Reconhecer aa letras com seus Yalores exatos ¢ comiind-las em palavras pro- nuncidveis, mesmo tratando-se de uma lingua que ndo conhecemos, sera isso ler? Por outro lado, vamos deixar de considerar caro leitura as tentativas hesitantes de uma crianga, que, apoiada nes ilustragdes, identifice. no grafismo pontas gerais de uma histéria que ela sabe de cor? Em um caso a decifracdia dos signos nfo atinge o significado, no outro significado 6 percebido sem a declirago dos signos, Serla sem ditvida mals correto definir @ lelture como um ato completo de comunicagiia, Ela seria ent&o a contrapartida da escrita, © escritor coneebe um projeto que @ ao mesmo tempo pensamento e expresso e que 6 claborado simullaneamente como coneepefio de idéias, de imagens, de raciocinios ¢ como produgéio de objetas- palavras ¢ objetas-frases, Ao cabo desse processo de ela- boragiio, o projeto é codificado na texto que © documento impresso fixa ¢ autentica; mas esse texto 6 apenas ume amostra da imensa experiéncla vivida pelo autor. De qualquer modo, é parte de sua concepgio, atrarés da qual ele procura comunigar seus pensamentas, A leitura @ a reconstrugéo de uma obra nova pelo leitor a partir dessa amostra. ontra experitncia, que se caracteriza pelo eonfronto entre ag tmposigdes do texto ¢ & predisp 60 do leitor, Quanto mais fortes ¢ deter- minantes forem aa immposigées, mais “funcional” é a obra, e menos margem ela deixa & inieiativa do leltor, H 0 caso das obras diddtieas, técnicas e elentificas, Quan to maior a latitude deixada ao Jeifor para exereer sua predisposigao, mals “iiterdria” 6 a obra, Para o fim que temos em vista aqui, consideraremos gue sé a leitura direta, sem mediador, 6 Jeitura no 116 sentido pleno. # # leiturs silenelosa que modiliza todas #6 rapacidades da pessoa ¢ que ¢ uma atividade eriadera ho mesma sentide do escrever. ‘Mas um estude dos hdbitos de leitura nfo pode } se limiter exeiusivamente & leitura silenciosa, Isso seria mucilar o fenémeno ¢ subestimar sua dimensio social. est sozinho no munde quando esti JJendo, Em realidade ele estd_preso na imensa_rede-de conunicaedo que # vida social lanca em volia dele-tsta €particularimente vérdadeiro em nossa época, em que 8 vila € dominada pelo ensurdecedor “barulho de fando"™ dos melos audiovisuais, mas jé era verdade quando o documento escrito era um melo de comunieagia reser- vado a uma elite e o essencial da comunicagio passava. por outros eanais — palavra ou geato, A comunicagio tanto por meio de pelavras ¢ por gestos ten cerncteristicas muito diferentes da eomu- nicagio escrita, As Intengdes do erador ou do ator séo mito mais explicitas do que as do eseritor, Quand a comunteacao orel ou por gesta é feita diretamente, ¢ ndo por intermédio de um meio meednk ico, o destinataria — cuvinte ou espectador — tem a possibilidade (0 que nfio acontece com 0 leitor) de responder imedintamente A fontee mostrar sues reagées. Além disso, @ reeonstru- fio da obra na recepg&o raramente é um ato salitario © geralmente se dé no meio de uma coletividade onde as interagdes sfia numerosas e complexas, Por isso a comunicacdo oral e a comumicacdo por gesto tém sempre servido de reiais 4 comuniengio ¢s- erlta, ssa j4 era verdadeiro com 2 leitupa em yor alta praticada nos auditaria romanos e ¢ cada vez mais ver- dadeizo em nossa época, em que a contato com a. obra pode jr ao extremo de uma “Ieltura" visual na televisio. Nilo se trata de leitura proptiamente dite, mas de uma oxtensiia da leituta, de fendmenas que a prolongam e Ihe dio sua yerdadeira dimensio social. Quer se trate a7 de unia sociedade relativamente primiliva em que 8 palavra escrita, privilégia de um grupo restrito, € trans- mitida oralmente ou por gesto & populagéio, ou de uma socledade mutto evolufda em que tedo mundo 1é, mas também ouve e olba, leitura nfo pode ser encarada independentemente do sistema geral de comunicacio, A maiorla dos inquérites sobre Ieitura procure deter:ninar 9 quantidade ¢ a natureza, dos livros lidos por Jagio e & quantidade de tempo e dinhelzo gastos por cla com leitura, Com esses métodd3 pode-se Ohler resultados estatisticos do mala allo intevesse, que, no entanto, sto de utilizagao difietl, pots logo se pereebe que nfo se prestam generatizagao, Em seu livro Comunicagda de massa € desenvotvt- mento (Bloch Editozes, 170), Wilbur Schramm descreve duas familias em paises em desenvolvimento, Uma & Catzicang} e us comunicagées no selo dela so intensas, porém ¢le parece ignorar tudo 0 que se passa a mais de 16kn: de distancia, Uma das criangas esteve ne es- cola, mas por falta de prética esqueceu a leitura ¢ a eserita, uma vez que Ma sociedade am que vive née existem jormals nem livros. A outra familia é{aslébica,) Seus lagos com o mundo exterior séo mais numerosos € antigos, mas toda a estruture social e toda @ psicologia tradicionsl dos mais yelhes opdem-se a qualquer Inter- eamble de seéjas ¢ conhecimentos com o mundo exterior, de cuja existéncia a familia tem conhecimento ¢ ac mesmo tempo davida, A experitneia & elaborada im foco segundo as normas de wma sabedaria antiga que hé séculos ulilize @ expresso eserita nfio para difundir pensamento, mas para comservaels, 7 ee Que sentido pode ter a leiture nesses dois casos? Na primeira familia a alfabetizagio ¢ a escolariaagia podem levar a tmpasses, A custo de grandes esforgos pode-se ensinar pessoes da primeira familia a decifrar um texto eserito, mas a lettura mesmo sb ocorreré quando surgie 118 a necessidade, isto ¢, quendo surgir o desejo de_mu- danca. Na medida ein cue @ leltura 6 aproximactio com ‘outros, Tecrlagio de maaterisl ofereeido por outros, ela é busca de novidade, Para que ela tenha um sentido, € ‘preciso haver vontade tle inovagho, No ¢aso da farnilla ‘africana, isso pode ocorrer em conseqiéncia de uma educaghe prética em, ticnicas agricolas, e 03 primeiros passes podem vir da escuta de umn velhe receptor de radio, endo da abertura de um livro ou de wm jornal, Na familia astitice. é também 9 vontade de Inevar que deve motivar o desejo de let, Mas agut é mals pro- del que a leltura ieve a um chaque de geragies, com a entrada do elemento polities no quadzo. A uliltzngéo da comtnicagiio escrits dependerd em grande parte dos movimentos Ge oplnifie, da agiio das autoridades ¢ da iniclativa do mecaniswe de produgao e distribuicéio nes niveis nacional e regional. Em wh @ outro casa tempo da lelture chegar porque sé cla permite obter informacZo quando se.quet, pritica que forma um zomportamento e consalida novas normas de pensamenta € ago, Mas os melos pelos quals essas novas normas de pensamente ¢ agdo acabarlio se impondo serfio muito diferentes de uma situagéo a outra, e, em conseqiténcia, as insergdes da leitura na vida social também. serdo diferentes Compreende-se entéo que o “hébito de leltura’., que, nao signi POIsA Hem nos do! a ‘sideracos, Ta sentido dif tante de cidade em pels. geralmente uma pessoa. lavra eserita 6 por meio dela ¢ tio habituada a vecorrer a ela para obter informagito que Jd nem pereebe que 0 estd fazendo. Nao fazsndo mais parte de um processo yital, nem sendo motivada por uma necessidade social ‘gu psicoldgica, a leitura numa sociedade de consumo ‘Yorna-se uma atividade marginal, uma forma de consumo 119 Geseuldade, como mostra Richard Hoggar! em ihe uses of literacy (London, 1950}, Hm outras palavras, "no ler" néa significa a mesma colsa para um homeni qile Vive cir uit mundo” ém que ‘Dleltura néo fem lugar, nem objetivo, manents e _patao homem cuja vida, mesmo, que nem sempre © perceba, comporta uma imensa varied: de ch a atos dé leltura de toda espécle — jornal, publiektde, for mu instrugGes — ¢ para de livros é apenas um caso particular. 6.2. Saber Ter ¢ nifo ler ‘Um inquérito feito na Italia em 1992 mostron que entre 400 pessoas de todas as camacias socials 81 jamais tinhan ide umn livre ¢ 128 tinham deixado de ler — isto 4, 40% de nao leltores, Outro inquérita feito entre 2.277 pessoas na Hhngrla em 1964 reveloa $9,4% de nao leitores, Bit 1967 o Instituto Francés de Opinio Piiblica (IFOP) en« eontzou 639% de nda Teltores em uma populagao adulta de 6 868 pessoas, Mas essa clira, que escandalizou a opl- nifio francesa na. acasido, nao esta em eontiadlglo com dados obtidos em outyas partes, levando-se em conte as dlferengas de ctitérlos ¢ de métodos. B quase corto que mesmo nos paises mais desenvolvidos grande ntimero ée ppessons que sabern ler jamais Item livros, ou raramente 0 fazom, Paradoxalmente 2. praporgie 6 talvez maior nos patses desenvolvidos, onde a edvcagto universal institu. cionalizou a obrigatoriedade do apeendizade ca leitura, do que nes paises em que os pragressos da altabetizagio dio a medida do desenvolvimento, e em que os que sahem ler tém motivagties muito fortes para ler, Na Ho- landa, onde se 1¢ muito, um inquérito feito em 1960 mostrou que 40% dos conaultados nfo gostavam. de lex. Ja no Paquistéo Oriental, um inquérite entre 145 fam- lias de fumelondrios pitbilcos de todas 65 niveis em 120 1965/0 revelou apenas 53 nfo leitores em um total de 488 pessoas aclma de 12 anos, ou seja, 10,9% apenas A percentagem de néo leltores seria provavelmente ainda mais alta se a investigagtio se tivesse limitado a adultos acima da idade escolar, A falta de interes pela leiturs nfo ¢ to comum na furentude, Deis ingué rites sobre a leitura entre jovens recrutas, um fetto na Suga em 1960 c outta na Frans em 1962/63, doram pereentagens muito semelhantes e extraardinariamente baixas de mao leitores: 7% na Sufea, 8.9% na Franca, Por outro Indo, o inguérito do IFOP ji mencionado miosteou que no grupo de idedes de 18 a 19 anos a pro- poredo de no leltores fol de 18% apenas, Issa € contivmado pelo inquérito italiano também eitads anterlormente, Entre 400 pessoas entyevistades 160 eram Hao leitores, mas enquanto 31 disseram que famals se interessaram por leitura og 129 restantes de- clara‘am haver perdido o hdbito de ler, Esses tiltimas sham sido teitores quando jovens. E os 31 gue a leram nem quando ovens representam apenas 7,759 do grape entrevistado, © problema da n&o leitura surge entéo na vida adulta, principalmente entre os jovens adultos, que so mals sujeitos 2 recatr no “analfabetismo técnico! pela falta de prétiea da leitura, Trata-se de um fendutena geval, A alividade cultura! da infancia e da adolescéneia, apoinda pelo sistema educacional, é interrompida subite- mente quando termina a escolaridade @ frequentemente abandonada por alta de cutra forma qualquer de apolo, A edurapdo permanente esté ainda no iniclo e 33 pode dar algumas poueas respoatas, © problema da nao lek tura € apenas um aspecto das dificuldades eneontracias pelos ‘ovens adultos em seus esforgos por encontrarern lugar na sociedade. 14 uma das dificaldades mais graves, mas deve ser considerada como parte do complexo dé condicSes soclats, 124 ‘A idade em que se costuma perder # eapacidade de lex varia; quanto menos se Meqlentou a escola, mais ceria isso accntece, No inquérito entre jovens recrutas franceses a proporgao de nao leitores fol de 12,99 para. os que havinm ceixada a escola mais de sete anas antes, 6 Passo que, entre os que haviam deixado a escola me- nos de dois anos antes ou ainda continuavam estu- dando, nfio havla nfo leltores. Em toda parte os atu: antes silo, sem diivida, os lellores mais assfduos, mas, wna vez terminados os estudes, cles também se exper ao perlgo de se tornarem néo Jeitores. Bxistem mesmo Incicagées Ge que pessoas em altas posicdes e que sSo também diplomadas por universidedes Iéem menos do que a3 que osupam posigSes intermedidirias, Isso talver scja porgqie os primeitos estejam constanternente sub- metidos 45 pressées da vida moderna, enquanto que os segundos so protegides por uma legislagio social que hes garante horas de lazer obrigatério. Mas a fragilldade dos hébitos de leitura tem causas mais remotas, que reeuam A inténcia pré-escolar. & pro- vavelmente nessa dade que se formam as atitudes fm- damentais diante do livro. A crianga que toma contato com o livro pela primeira vea quando entra para a ja costuma associar a leitura com a situagde escolar, iespalriente se nao bi leitura aa mele familiar, Se 0 izxbalho escolar € dificil e pouco eompensador, a erlan- a pode adiguirir avezsio pela leitura e abandend-la, com- pletamente quando celxar a escola, % conventente entia que » livre enive pare 8 vidg da criange antes da idade cacolar © passe a fezer parte de seus brinquedos ¢ atin! dades gotidianas, Terminada a fase escolar, aumentam os obstaeulos a leilura, Embora eles sejem intimeros, podem ser resu- micios em. trés categeries: a) abstéculos fisieos, psico- Jégicos au sociais, com otigens no propric leitor; b} falas cc mecanisino de prodagéo e distribulgfio de livros; c} 422 obstdeules inerentes ee material de leitura e a seus abje- tives, Entre os obsidculos da primeira categoria, a falta de tempo & gerelmente o principal pretexto para nio ler. Na maioria dos casos «ssa desculpa agenas esconde uma averséo mais arraigada, embora wm Inquézito feito na Alemanha em 1964 tenha mostrado que existe mesmo uma cozrelagao entye tempo livre ¢ fregliéncla de Jeltura, B importante levar em eonta, o equilfbrio trabalho: lazer na medida em que o cansago é um dos motivos mais ¢itades come casa de néo leitura. Agui também € preciso cautela, Seo cansago fisico do trabaihador manual e © esgotamento mental do ditigente sao real- mente obstdiculos ao esiorgo que a lettura mnis leve 18 quer, veriticou-se também que grande niimero de pessoas (principalmente trabachadores intelectuais) declaram ao mesmo tempo que néo iéem muito porque estie cans sada, ou que em para deseansar, Parece entiio que a Jeitura requer uma cetta dispo- ibilldade,_e..que_essa_deponde no apenas das horas ¢ condigées de trabalho, mas também de ambiente geral do leitor: habitad, msid_familiar,-situagio—ccondmice, seguratiga. na emprego,.cte. 36a dispanibilidade nfo ésuficlente, ‘As desvantagens decorrentes da tendéncia a se A880- clax © livro com a es:0la sfio apenas um exemplo dos muitos esteredtipos seciais que impedem a pratica da jeitura, 4 descontiangs — © com ela o desdém — que se tinha antigamente oor uma ocupagiio que niio exigis ‘qualidades consideradas vizis pode ter sido atenuade hoje, pode ter assumido formas diferentes, mas ainda existe em estado latente em multos cfroulos, Outres estered- tipos culturais de data mais recente procuram valorizar @ leifura, mas nem sempre conseguem modificar em profundidade o antigo comportamente, Pessoas entrevis- fadas em Inquéritos gerelmente teconherem que “ler ¢ 123 bom", “ler ¢ wil", “ler @ necessdrio", mas costumam considerar-se excecdes — mesmo culpandowse as vezes — sob a alegaciio de que néo tém tempo, tém outras coisas a fazer, ou simplestnente por preferirem outras atividades, Quase ninguém mals diz hoje que "ler é bom para as mulheres”, mas ume atitude muito generalizada é considerar que “ler ¢ bom para os outros", e especial: mente — aqui uma nota sutil de hostilidade — para quem nao tem nada melhor a fazer. _Como toda leitura Gem certa medida ativa, ninguéns 1 se no quiser. Apesar da progresso © de difusio da “educagiio nos paises desenvolvidos, o livro ainda é estra- nho & grande matoria das pessoas, Em outtas palavras, o progresse técniee de cinch séculos apenas, que desde a invenglo e o desenvolvimento da tipogratla tornou pass\- Jo livro, nfo fol_acompanhado de um pro gresso comparavel_na_evolugéie das mentalldades. Ent nossas_sociedades “letradas” prevalecem, atitudes.“pré- Jctradas”, Em parte a forga dos meios eudiovisuals vers néio de serem eles “modernos" mas de se dirigirem a all- tudes ptimitivas ainda néio esqmuecidas, Isso pode levar a um enriquecimento do conhecimento se a leiture. for integrada nessa volta a um passado remoto, de maneire desompennhar 0 seu papel nessa volta As fontes. Se isso 6 verdade para paises de velha cultura escrita, ¢ mais verdadelro ainda para paises emergentes, que en- traram diretamente nos meios audlovisuals. Uma mudanga de atitude pressupSe agdo politics e social, assunto que nfio cabe nos objetivos deste livre. ‘Mas no serf fora de propésito dizer que o lugar da lei- tura em uma sociedade © 0 papel que ela pode ¢ deve desempenhet dependem em primeito lugar das esteu- turas da sociedade e das inslituigées que as refletem, {0 livro 66 6 estranho na inedida em que cerlas pessoas sio eatranhas a outras, 14 ‘Mesmo assim, se essa evolugie vai acontecer — e hd fortes indiclos de que aconteceré — devemos nos pre- parar pare. ela ¢ elaborar métodes de transpor as olsté= gules Wéenicos & leltura, A luz dos obstécules gerados polo sistema de produgéo ¢ distribuigda de tivros © das inerentes ao contetido e finalidade dos livros, dung perguntas impdem-se: Como levar o livre aa leltor? E eomo levar o leita ao livro? 6.3 Como levar o livre ao Ieitor? -Até data relativamente recente, 0 Livro era considerado artigo quase que exelusivamente de luxo, ou pelo menos artigo de consume destinado a uma minoria bem situeda econorticamente, Pessoa entrevistadas em liquéritos costumam reg- Ponder que nao compram livros por causa do prego, Como no caso da desculpa de falta de tempo para ler, essa justifieativa pode as vezes ser um protexto para hiéo ler, mas em muitos casos trata-se de um motivo vélldo; e o fato de ele ser apresentade reflete uma situae g6o antiga cujas repereussdes continuam até ho;e. © prego de um romance nfo equivale mais a 40 ow 50 ve#es 0 saliirio-hora de um operéric, como acontecia ne Europa Oefdental no comeco do século XIX, mas una navidade de livtaria em edigfio tradicional equlvale 4 quatro ou cinco voues o salario-hora de um trabalhacot Senni-espectalizado, Na Inglaterra do séeulo XVII e mals yecentemente no continente eurepeu, comecarai a apa reeer edigées a baixo prego, que se cesenvolveram pare~ Jelnmente com os meios Ge impresséo ¢ gue absorveram a literatura vondida de porta em porta, embora utilizando 08 mesmos mcios, Essa produgio popular néo deve sor subestimada, pois desempenhou papel essencial no pro- gresso socia) da Europa do sécula XIX, Nao obstante, essa literatura fleou sempre fore. da corrente yrincipal, 125 Bra fela de aspecto e néo convidava muito & Ieltura. O conlevdo, com algumas excecdes brilharites, era estereo- tloado, e na melhor das hipéteses eram obras ckissieas publicdas j4 uma centena de yezes. Nsses livres baratos, prodygides em massa, néo entravam no cixcuito econd- mice da Industria editorial que 56 trabalbava para um pilblico letvade que the permitia pesguisar @ inovar. Com a evclugio da soeledade industrial, editores da Franga, da Alemanha, do Reino Unido ¢ dos Estados Unides procuraram adaptar o livro &s novas exigencies pconémnicas ¢ estétiens. © sucesso dos livros de balsa ha década de 1930 pode ser considerado a primeira vie toria decisive nesse campo: livros de bos qualidade, bem apzesentados, vendldas por 1/20 do prego do livro tra- ietonal. ‘Testada no Reino Unido e na Alemaitha, a férmula cada ¢ desenvolyida nos Estados ‘Unidos, cujs sa capaeldade industrial transformeu o movimento em verdadelza revolugaio, que logo se estendeu a outros paises, No espaco de cerea @e 20 anes, Lvros de facil Jeitura sobre os mais varladas assuntos e vendidos a prego em muitos casos equivalente ao salério de uma hora de trabalao apareceram ho mande Intelro. Os paises socialistas, que chegatam a solugdes semelhantes segain- do Inhes paralelas, distribuem livros em quantidades paca ve majores a ptegos ineriveimente baixos. Os paises em desenvolvimento tatibém foram atingidos por essa vage, mas, devido ao mimero menar de Lettores, as condi: gdes nda sio tia fayordveis @ edigGes de bolso & baixo Dyege, que exigem grandes tiragens. Mas na india, per exemplo, 4 se consegulu produaiz livros de bolso em para serem vendidos a uma Tupia o exemplar havendo uma edigho recente aleangado 600 mil exem- plares, © problema do prego esté Higado eo de distribmigao, ¢ 6 a que esté a diflouldade, Livros baratos nfo 840 126 possivels sem distribuijfio em massa, compardvel ern ex- fensfin e efeito ao alcance dos meios de comunieacio de massa, que passam por cima de barrelzas econdmicas e socials. | és edigdey tradicionais sfio ha mutto distribuidas por ama rede adequada go quadro sociccultural, Gran- es Jivrarias montadas para servir e uma minoria culta, so geralmente lovalizadas nos eentros comerclais das cidades, néo freqiientados habitualmente por operarios ‘ou trabalhadores agritolas, Essas classes eram antiga mente servidas por vendedores ambutantes, mas ultima- monte as Jojas de departamentos vém oferecende mate- rial de leitura, porém concentrando-se mais em Jomais € publicagées de cizentopio em massa, Havia também. o problema do distanclamento psicalégico, Entre wma. 1l- wraria que 86 vende livros e uma loja que vende livros ¢ outras caisas mais, 0 operdrio preferia esta vltima por se sentir em ambiente mais familiar, Uma vex mals, mesino no terreno da disteikuigGo, o livro era tratade ecmo estrano, i: Seria um exagero de otimismo dizer que a situagio mugou completamente, mas é inegével que a revolute ‘do Livro tem-se manifestado na proliferagho de canals de venda inteiramente diferentes das livearias antigas. & fs livtaries até ganbaram com essa stibite expansio do mereado, A irrupgfo do livro na vida cotidions, deu as lvparias @ oportunidade de safrern do relativo isolamento sovial em que viviam e atingir wm publico nova, Nascido nos Estados Unidos, onde desde a déeada de 1950 uma imensa sede de mois de 100 mil postos de yenda se sobrepds act poucos milhares de livrarias de antes da guerra, 9 ferdmeno estendeu-se em menos de 16 angs & maioria das grandes nagées produtoras ¢ até i Buropa, onde a densidade de vrarias por habitante fra muito maior do que nos Estados Unidos. Nos paises ile economia de mereao o fendmeno caracterizou-se pelo apareeimento do livrs em novos tlpos de estabelechmentos 1a nérrico © soclal, eles podem ou ubllizar seus canals tra- dicionais de comunicagdo ou eriar outros navos sugerides pelo seu: desenvolvimento social e econémies, Na Africa ‘Ocicental, por exemple, é através do mercado de peri icos que 0 livre chega a regiées renotas, No Paquis ¥40 ale ¢ geralmente vendido nas antigas edigdes popu lores de bazar, das quals Labore € wm dos centros, Em Cuba, por outro lado, as organizagdes operdrias e as empresas coletivas tém alcangade resultados im nantes Nos pases em: desenvolvimento talvez seja preferived nesta fase abandonar o sistema de distribuicdo estétion atrarés de postos fixos. As vendas pelo vorreto estio-se destnvolvendo. Flas so adotadas ha mufto tempo na Julio Soviética, onde o sistema # muito eficiente @ pro- porciona Aquele imenso pais uma das reces de distri buigdo mais equiliiradas do mundo. Como jé dissemos anteriormente, o¢ clubes de llvro constituem outro sistema de distribuigdo, Um inquévito teito na Alemanha em 1904 mastrow que 85% das aqui- sigdes de livros nese pais sfio fellas por intermeédio de clubes, Os Estades Unidos e o Reina Unido também tem recortido muito aos elubes de livres e 4 venda pelo eoruet Qs clubes de livro tém a vantagem de criar um em- briflo de estrutura coletiva e de dar aa Jeitor alguns meio: de comunicagao que as livrarias tradicionnis of¢- teciam a seus clientes “letrados”. Outra vantagem da } arregimentagio de clientes através dos cubes 6 a possi bilidade de previsio de vendas, que permite tiragens programadas relatiyamente grandes e por conseguinte ‘a baixo prego. No momente og clubes s4e mals ow menos especializados tanto no que se refere aos utillaadoves como aos tipos de Livros que distribmem, Livres clentificos ede erudigdo obras sobre edueagie ou arte predominam na litraria tradicional, Assim funeionam trés eizeuites telativamente auténomos ¢ complementares, comeroiais, principalmente nes grandes magazines de muttas iliais. J4 em 1867, quando o movimento ainda nao havia alcangado o auge, um inquérito feito na Franca revelou que esses estabelecimentos vendiam 12% dos romanoes policiais, 15% das brochuras, 13% dos livros para crianeas @ 8% de todos og livros novos, A livraria tradicional ainda se encarregava da maior parte da alstribuleso, Essa modalidade de distribuigfio tem seu equiva. lente nos paises secialistas, mas em todos os paises 0 livra passot s ser vendido em locals de trabalho e de estudo 6 em centros de atividades colotivas de toda espécie, Na Roménia, por exemplo, além de 1 200 livravias havia em 1966, uma cadela de cerca de 15 600 quiosques de llvros em locas de traballio, dos quals cerca de 10 mil no meio rural, Abastecidos por uma organizagiio central espectalizada e servidos por pessoal cuja metade era formada de voluntarios, esses quiosques realizaramn 0% dag vendas de livros na Roménia, Ainda falta muito para que essa expansio da rede § de distribuigéo elirnine todos os desertes culturais onde @ linro nfo chega, & claro, por exemplo, que se compra potico Livro to meio rural, ¢ que as localidades maiares ¢ ahais prosperas s&0 as mais beni servidas, Isto é economia da distribuigo. Por outro lado, 08 tipos de distribalgao mencionados esto ligados a uma economia de prosperi. Gade © fazem parte da chamade soviedade de consumo ou pés-industrial, que pressupée estruturas econdmicas inexistentes na maioria dos paises em desenvolvimento. Mas no ha motive para, que esses paises, cuje maio-. ria entreu de corpo inteiro na era audiovisual, devam seguit as mesmds pasos dos paises que possi ume indistria e um coméreio de livros longamente estabele- cidos. Para chegar A distriuigiio de livros em massa ¢ atender dia a dla as novas demandas criadas pela alfa. betizagda, pela escolarizagéio e pelo desenvolvimento eco- 128 129 fs téenieas de yendas pelo correio & através de clubes esto progredindo rapidamente. As enciclopédias ef fastioulos, que esta se difundinco eada ves mals, re- presentam sem dtivida uma nova e importante etapa na histérla do tivro contemporanes, Tem havide também tentativas de instituigio de redes de distribuigdo em eseala imternacional partindo dos vézies tipos de distri- tuigdo existentes, inclusive a livraria tradicional. As yendas pelo correio so eplicaveis ma maioria dos paises em desenvolvimento, ¢, na Asia, varlos planos de bibliote- cas pare o Jar, destinadas & atingir grandes mimeros ee leltores por melo de edigées cuidadosamente plane- judas, 12m dado dtimos resultados Mas 0 problema da exlsténeia de material de lel. sure néo pode fleur redwaido apenas ao aspecto da venda. posse de Uma livre nfo Tnaplica Heeessarlamente a sua Ya, ¢ a leiura do depende hécessariamente da aqu: sigho individual do livros, Segunda um inquérite reall- zado i Holanda em 1980, de 1870 pessoas que decla- raram jamais ter comprado livres pessoaimente, 300 levavam Livros xegularmente ge varios tipes de biblisteca 4250 romavam livros emprestados de arnigos ow parenites. ‘Todos os especialistas concordam em que nfo pode never desenvolvimento da leitura sem um sistema ade- quado de bibliotecas piblicas, A necessidade de bibliotecas ptiblieas € reconheeida hG muito tempo, Existe o caso (€ verdade que excepcio- nal} de ume. biblieteee piblies fancicnando na Ingia- lerra jé no séeulo XV, Uma das primeires bibliotecas para uso do publice fai instalada em Filadélfia em 1731. yor Benjamin Franklin, mas sé a parti do séeulo XIX é que se nota um movimento geral nessa diregéo, estimu- Jaca pelos ideais humanisticos nascidos do movimento metodista, da Revolugéo Americana e da Revolugio Franveca. 130 Durante a primeva metade do século XIX foram instaladas bibllotecas publlcas em todas as grandes cl- dades da Europa © dos Estados Unidos. Bram geral- monte bibliotecas particulares de assinatura, 0 que lim! tava a freqiténela aos aetores mais prosperos da pequen burguesia. «As classes média ¢ superior eompravam seus aivros “A baixa do pregd do livre devida @ industrializacgéo e sobyetudo a processes mals barates de impressfio marcou ¢ declinio desse tipo de bibliotecs. Ao mesmo tempo a Adsia.de que aleltura Jeve sex ida_ come ‘ui Ser Figo ‘publieo.Iangau.raizes ng mentalldade colétlve. , 1849 um imposto estadual em New Hampshire, Estados Unidos, posstbiliteu © ‘uncionamento de bibliotecas gra- tuitas, as a Grii-Bretanha fol o primeizo pais a vatar ume Jei (1850) disponde soure « financlamento dé bi- blioteeas com y¥erbas pilblicas. A Bibliotece Publica de Manchester foi fundada em 1852, e em 1854 fol fun- dada nos Estados Unidos a Bibliotese Pitbilca de Boston, que 31 anos mais tarde seria uma das primetras do mundo a se instalar em edificio proprio, especificamente eonstrutdo para loca! de leitura publica, Copiande © exemplo americana, en 1862 0 Governo francés decidiu que cada escola devia ter uma biblioteca, Ao mesmo tempo og movimentos democréticos, conscientes da im- portincia da leitura para a. propagacdo de suas 1déias, fundacam bibliotecas sopulares de norte a sul do pais. Mas, exceto nos Estadds Unidas e no Reino Unido, onde 2s bibiiotecas muntcipals muito se expandiram gra- pas prinelpalmente a. Andrew Carnegie, os efeltos ime- diatos dessas Inovagées néo corresponderam as expecta tivas, O progresse foi meroso, @ houve muitos easos de fraeasso ou decadénela; os acervos das biblioteeas enve Theceram, ¢ 0 niimero de lelteres fol decainde principal mente porque os promiotores entuslastas, que erait pau- cos, no obtiveram apoio suficiente do grande publica. 181

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