Epopeia:
Natureza:
• Poema narrativo extenso:
• retrata acontecimentos mitológicos, lendários ou históricos e
ações heroicas;
• o protagonista da epopeia apresenta algumas afinidades com
os deuses ou os heróis mitológicos;
• essencial recurso ao maravilhoso;
• partes constituintes: Proposição, Invocação, Dedicatória
(opcional) e Narração in media res.
Estrutura da obra
• Estrutura externa:
• dez cantos;
• estâncias – oitavas;
• versos – decassilábicos (heroicos – acentuados na sexta e
décima sílabas);
• esquema rimático – abababcc
• Estrutura interna:
• Proposição – estâncias 1-3 – o poeta explicita o que se propõe a
cantar;
• Invocação – estâncias 4-5 – o poeta pede inspiração às musas
(Tágides) para escrever a sua epopeia (outras invocações
presentes na obra: C.III, est.1-2 - Calíope; C.VII, est. 78-87 – ninfas
do Tejo e do Mondego; C.X, est. 8-9 – Calíope);
• Dedicatória – estâncias 6-18 – o poeta dedica a obra a D.
Sebastião;
• Narração – a partir da estância 19 – a armada já se encontra no
Canal de Moçambique – narração in media res.
Estrutura da obra
• Quatro planos:
• Viagem – partida de Belém, paragem em Melinde, chegada
a Calecute e regresso a Portugal;
• Camões acredita que a obra tem um caráter didático, por isso veicula
valores cívicos, éticos e culturais nas reflexões do poeta (tendo em conta
que o país já está em decadência).
Recursos expressivos mais utilizados:
• a anáfora – repetição de uma palavra ou expressão no início de versos ou frases
sucessivos;
• a anástrofe - inversão da ordem natural das palavras na frase;
• a apóstrofe – chamamento a algo ou alguém;
• a comparação – consiste na relação de semelhança entre duas ideias ou coisas,
através de uma palavra ou expressão comparativa ou de verbos a ela equivalentes
(parecer, lembrar, assemelhar-se, sugerir).
• a enumeração - apresentação sucessiva de vários elementos.
• a hipérbole – recurso ao exagero.
• a interrogação retórica - questão retórica, isto é, não visa uma resposta, antes procura
dar ênfase e criar expectativa.
• a metáfora - consiste em usar um termo ou uma ideia com o sentido de outro com o
qual mantém uma relação de semelhança (ex.: o fogo da paixão); representação
simbólica de algo.
• a metonímia - emprego de um vocábulo por outro, com o qual estabelece uma relação
de contiguidade (o continente pelo conteúdo; o lugar pelo produto, o autor pela sua
obra, etc.)
• a personificação - atribuição de qualidades ou comportamentos humanos a seres que
o não são.
Visão Global
Canto I
– O poeta indica qual o assunto da obra (Proposição);
– Camões pede inspiração às Tágides (Invocação);
– O poeta dedica a obra a D. Sebastião (Dedicatória);
– Início da Narração:
– Consílio dos deuses no Olimpo a fim de decidirem o destino dos
portugueses;
– Baco opõe-se, mas Vénus e Marte apoiam a viagem dos portugueses;
– Profetiza-se a glória para os portugueses;
– As navegações chegam a Moçambique;
- Baco prepara uma armadilha, fornecendo aos portugueses um piloto que
os conduzirá ao porto de Quíloa;
– Intervenção de Vénus, que auxilia os portugueses a chegar a Mombaça;
– Final do canto – reflexão do poeta acerca dos perigos constantes que o
Homem enfrenta.
Visão Global
Canto II
– Influência de Baco:
Rei de Mombaça convida os portugueses a desembarcarem para os
destruir;
– Vasco da Gama aceita o convite julgando tratar-se de uma terra cristã;
– Vénus afasta as embarcações por saber da intervenção de Baco;
– Vasco da Gama percebe que correu perigo roga a Deus;
– Vénus solicita a proteção de Júpiter;
– Júpiter acede e profetiza o êxito para os portugueses;
– Mercúrio é enviado a terra e indica, através de sonhos, o caminho
até Melinde;
– Os portugueses são bem recebidos em Melinde;
– O rei de Melinde pede a Vasco da Gama que este lhe conte a história de
Portugal.
Visão Global
Canto III
– Invocação do Poeta a Calíope;
– Vasco da Gama começa a contar a história de Portugal ao rei de Melinde:
– Referência à situação geográfica do país;
– Lenda de Luso e Viriato;
– Formação da nacionalidade;
– Enumeração dos feitos dos Reis da 1ª Dinastia;
– Episódios de maior relevo:
– Egas Moniz e Batalha de Ourique – reinado de D. Afonso
Henriques;
– Formosíssima Maria, Batalha do Salado e Inês de Castro –
reinado de D. Afonso IV.
Pensamento sobre a força e os efeitos do amor.
Visão Global
Canto IV
– Continuação da narração de Vasco da Gama acerca da história de Portugal:
– História da 2ª Dinastia:
– Revolução de 1383-85:
– Batalha de Aljubarrota;
– Reinados de D. João I e D. João II:
– Expansão para África;
– Preparativos da viagem à Índia (desejo de D. João II, mas
realizado apenas por D. Manuel);
– Sonho profético de D. Manuel;
– Despedida das naus em Belém;
– Velho do Restelo (profecias pessimistas de um velho que se
encontrava a assistir à partida da Armada);
– Crítica à ganância e ao desejo desmedido de poder e fama.
Visão Global
Canto V
– Continuação da narração da história de Portugal;
– Relato da viagem de Lisboa a Melinde:
– Grande aventura marítima;
– O Cruzeiro do Sul;
– Fogo de Santelmo;
- Tromba Marítima;
– Capacidade de ultrapassar grandes perigos e obstáculos:
– Hostilidade dos nativos – episódio de Fernão Veloso;
– A fúria de um monstro – episódio do Adamastor;
– A doença e a morte provocadas pelo escorbuto;
– Crítica do Poeta aos que desprezam a Arte e a Poesia. Apologia dos feitos
heroicos.
Visão Global
Canto VI
– A Armada sai de Melinde com destino a Calecute;
– Baco pede auxílio a Neptuno para que os portugueses não cheguem à Índia;
– Neptuno, influenciado por Baco, convoca um Consílio dos Deuses
Marinhos:
– Éolo fica responsável por soltar os ventos e afundar a Armada
portuguesa;
– Os marinheiros ouvem despreocupadamente Fernão Veloso a contar o
episódio dos Doze de Inglaterra;
– Surge uma violenta tempestade:
– Vasco da Gama, apercebendo-se do perigo, invoca a proteção de Deus;
– Vénus ajuda os portugueses:
– As Ninfas seduzem os ventos a fim de dissipar a tempestade;
– As embarcações avistam Calecute;
– Vasco da Gama agradece a Deus;
- O Poeta reflete sobre o valor da fama e da glória conseguidas através de
grandes feitos – os meios para alcançar a fama.
Visão Global
Canto VII
– A Armada chega a Calecute;
– Elogio do Poeta à expansão portuguesa como evangelizadora:
– Crítica às nações que não seguem o exemplo português;
– Descrição da Índia;
– Primeiros contactos entre portugueses e indianos, através de um mensageiro;
O mouro Monçaide visita a nau de Vasco da Gama e descreve o Malabar;
– Os portugueses desembarcam:
– São recebidos pelo Catual e posteriormente por Samorim;
– O Catual visita a Armada;
– Pede a Paulo da Gama que lhe explique o significado da bandeira
nacional;
– Invocação às ninfas do Tejo e do Mondego;
– Louvor ao espírito de cruzada dos portugueses e crítica à desvalorização do
mérito e aos opressores e exploradores do povo;
Visão Global
Canto VIII
– Paulo da Gama explica a bandeira ao Catual;
– Intervenção de Baco contra os portugueses:
– Aparece em sonhos a um sacerdote brâmane, convencendo-o que os
portugueses têm como objetivo o roubo;
– Samorim interroga Vasco da Gama que regressa às naus;
– Vasco da Gama retido por Catual:
– O Catual só permite que os portugueses partam após estes terem
entregue todas as fazendas que traziam;
– O Poeta reflete sobre o vil poder do ouro.
Visão Global
Canto IX
– Os portugueses saem de Calecute, depois de vencerem algumas dificuldades;
– Início da viagem de regresso à pátria;
– Vénus prepara uma recompensa para os navegadores – Ilha dos Amores;
– A mando de Vénus, Cupido atinge as Ninfas para que estas recebam
amorosamente os portugueses;
– A Armada avista a Ilha dos Amores;
– Os navegadores desembarcam e encontram as Ninfas que se deixam
perseguir e seduzir;
– Tétis explica a Vasco da Gama o motivo daquele encontro;
– Vasco da Gama fica a conhecer as glórias futuras dos portugueses;
– Explicação da simbologia da Ilha;
– O Poeta reflete sobre a forma de alcançar a Fama.
Visão Global
Canto X
– Tétis e as Ninfas oferecem um banquete aos portugueses;
– O Poeta invoca Calíope;
– Uma Ninfa profetiza o futuro glorioso dos portugueses no Oriente;
– Tétis mostra a Máquina do Mundo a Vasco da Gama, indicando o futuro
alcance do Império Português;
– Despedida dos portugueses e regresso a Portugal;
– O Poeta termina esta epopeia, lamentando o seu destino de poeta infeliz e
incompreendido;
– Exortação ao rei D. Sebastião para continuar a glória dos portugueses.
A constituição da matéria épica:
O poeta canta:
Ä «As armas e os barões assinalados»:
Ä passaram ainda além da Taprobana;
Ä edificaram novo reino entre gente remota.
Ä «As memórias gloriosas/Daqueles Reis»:
Ä dilataram a Fé e o Império:
Ä andaram a devastar as terras não cristãs.
Ä Os que se vão libertando da lei da morte:
Ä (praticando) obras gloriosas.
Ä O peito ilustre lusitano.
Esquemas síntese
Invocação – Canto I, estr. 4 – 5
Esquemas síntese
(Tethis anuncia feitos futuros «Até qui, Portugueses, concedido/Vos é saberdes os futuros feitos/Que, pelo mar, que já deixais
sabido,/Irão fazer barões de fortes peitos»
â
Esta ação de Tethis mostra que os portugueses são os eleitos para conhecer o que só os deuses conheciam, existindo assim a
mitificação do herói que já tinha sido divinizado na Ilha dos Amores.
â
Despedida aos portugueses «Podeis vos embarcar, que tendes vento/E mar tranquilo, pera a pátria amada».)
Esquemas síntese
• com Vasco da Gama temos o reconhecimento do herói e a Ilha dos Amores é esse
reconhecimento:
• a recompensa existe porque os portugueses foram capazes de ultrapassar os
seus medos e atingir o conhecimento ao passarem pelo Cabo das Tormentas;
• Téthis revela a Vasco da Gama a Máquina do Mundo, o que possibilita a
mitificação do herói, o amor e o conhecimento – são estes últimos que
permitem a elevação do ser como pessoa e são o único caminho para o
futuro;
A Ilha dos Amores simboliza:
Intervenção pedagógica;
• o povo português revela indiferença e insensibilidade face à cultura e literatura,
desprezando e não dando valor ao poeta;
• perspetiva pessoal do desprezo que lhe é votado;
• tomando o seu exemplo, o desprezo e falta de reconhecimento face ao
seu esforço, nenhum escritor quererá louvar os feitos dos portugueses;
• os portugueses menosprezam a cultura e literatura, o que os poderá levar à
decadência;
• denúncia aos abusos dos poderosos e às injustiças que atingem o povo.
Canto VIII [est. 96-99]