INTRODUÇÃO
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Graduandos do 2º semestre de Direito do Centro Universitário de São Paulo – UNASP Engenheiro Coelho
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a greve e os impactos jurídico-sociais desse movimento, partiu-se de uma
metodologia dedutiva.
Primeiramente, descreve um breve histórico do Direito de greve percorrendo
os períodos entre a Primeira República até a Ditadura Militar, apontando as
Constituições como base para entender a legalidade ao molde das formas jurídicas
estabelecidas em cada época.
Posteriormente, visa o aprofundamento do contexto histórico que foi palco da
greve no ABC Paulista entre os anos de 1978 à 1980, apresentando as causas das
insatisfações que levaram as paralisações gerais e desencadeou movimentos com o
mesmo objetivo em grande parte do país.
Por fim, aborda as consequências da Greve no ABC no âmbito jurídico e na
esfera política, expondo as finalidades das paralizações que cominaram a ampliação
na efetivação dos direitos grevista aos trabalhadores.
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Art. 206. Causar, ou provocar, cessação ou suspensão de trabalho,
para impor aos operarios ou patrões augmento ou diminuição de
serviço ou salario:
Pena - de prisão cellular por um a três mezes.
§ 1º Si para esse fim se colligarem os interessados:
Pena - aos chefes ou cabeças da colligação, de prisão cellular por
dous a seis mezes.
§ 2º Si usarem de violencia:
Pena - de prisão cellular por seis mezes a um anno, além das mais
em que incorrerem pela violencia. (BRASIL,1890)
Após esse evento, passa a ser vigorada então a primeira Constituição Federal
Republicana em 1891. (PANDOLFI, 1999, p. 301). A partir de relatos do
documentário Deu n’a Plebe: a greve geral anarquista de 1917 (2007), sobre a greve
que ocorreu no ano de 1917 que se passou em um período em que eram nítidos os
reflexos da primeira guerra mundial no Brasil, onde as condições de trabalho e
também de vida eram extremamente precárias, o salário da classe operária eram
baixos que mal pagava as despesas básicas, havia uma frequente exploração no
trabalho, o uso da mão de obra infantil e um grande índice de desemprego.
E com a ajuda dos estrangeiros que participavam da classe operária,
começam a trazer ideias para que mudasse essa situação, em especial o grupo dos
anarquistas. Nas variadas visões “de congresso em congresso operário, o conceito
de greve geral foi se definindo como uma estratégia política de ação direta com
caráter revolucionário e expropriador” (LOPREATO, 2000, p. 22).
Com a morte de um trabalhador pela polícia, ocorrem revoltas entre os outros
trabalhadores e com a ideia de uma greve geral já formada, foi utilizada como
condição ideal da deflagração dela. Então, “o movimento foi ganhando adesões e,
em 11 de julho, 54 fábricas declararam ter suas atividades paralisadas. O número de
grevistas chegava a 20.000” (LOPREATO, 2000, p. 37).
E de acordo com Siqueira (2017, p. 49) em 1934, na era Varguista, foi
elaborada uma nova Constituição por reflexos da Revolução Constitucionalista, mas
a questão de greves não obtivera alteração alguma no Código Penal de 1890, pois
segundo o Decreto nº 22.213, de 14 de dezembro de 1932: “assim aprovada e
adotada, não revogará dispositivo algum da legislação penal em vigor, no caso de
incompatibilidade entre os textos respectivos” logo era defendida essa continuidade
do Código Penal na questão da greve, a partir de dois argumentos:
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O primeiro alegava que a greve não tinha por que existir, pois aquela
Constituição criava a Justiça do Trabalho, que serviria justamente
para dirimir os conflitos das relações trabalhistas; o segundo
defendia a constitucionalização do direito, pois esta garantia uma
“defesa real ao direito” (SIQUEIRA, 2017, p. 50).
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Art. 139. Para dirimir os conflictos oriundos das relações entre
empregadores e empregados, reguladas na legislação social, é
instituida a justiça do Trabalho, que será regulada em lei e á qual não
se applicam as disposições desta Constituição relativas á
competencia, ao recrutamento e ás prerogativas da justiça commum.
A gréve e o lock-out são declarados recursos anti-sociaes, nocivos
ao trabalho e ao capital e incompativeis com os superiores interesses
da producção nacional. (BRASIL, 1937)
Portanto, a greve:
De acordo com Siqueira (2017, p.124) foi no ano de 1946 que surgiu a
Constituinte, logo nesse mesmo ano houveram grandes crises econômicas e sociais.
Essas crises trouxeram consigo um disparo de tensões que promoveram as greves,
com isso os constituintes começaram a debater sobre os assuntos envolvendo a
vida social e política do país. Portanto:
De acordo com Felipe Cesar Michna (2005, p.12) ocorreu no ano de 1946 no
dia 15 de março a cessação do trabalho que foi regulamentada pelo presidente
Eurico Gaspar Dutra pelo decreto-lei 9.070. Logo,
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promulgou o decreto-lei nº 9.070, que tornou crime o aliciamento de
participantes em greve ou lockout. Diante das várias greves que
existiam, Dutra deixava claro qual era o posicionamento do governo
em relação a elas, criando mais um tipo penal. Considerando que
parte da legislação do Estado Novo ainda era vigente nesse período
“democrático”, novas restrições ao direito de greve eram criadas.
(SIQUEIRA, 2017, p.129)
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De repente, os trabalhadores, que raramente eram mencionados nos
jornais da chamada grande imprensa e que quando se faziam
presentes apareciam apenas nos cadernos de economia, passam a
ocupar as primeiras páginas de todos os periódicos, bem como o
noticiário do rádio e da televisão e, com as greves, naquele período,
conseguem se colocar – de um momento para outro – no centro das
atenções políticas do país inteiro. (RODRIGUES, 2002, p.142).
Em suma pode-se analisar que ao longo dos anos de 1978 e 1979 que
ocorreram as greves, os trabalhadores requeriam o aumento de salário, melhorias
nas condições de trabalho, entre outros benefícios, e isso era o que estavam
buscando desde o início. A greve mobilizou vários trabalhadores, chamou a atenção
nos noticiários como de rádio, se tornou capa dos principais jornais da época. A
princípio seria uma greve pacifica, mas algumas coisas saíram do controle e
confrontos com a polícia e prisões ocorrem. Após muito tempo de greve a situação
foi se ajustando, os patrões ofereceram um aumento salarial, portanto na
assembleia do dia 13 de maio de 1979 foi aceito o acordo proposto, por fim em 18
de maio a diretoria volta as funções na sede do sindicato, colocando um ponto final
na greve de 1979.
Rayani Vitória Amaro
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De acordo com Galvão (1996, p.34), no começo da década de 80 o número
de movimentos grevistas empresariais cresceu significativamente no país e o
Governo começou a reagir às greves "colocando a polícia e o exército nas ruas em
confronto com os trabalhadores, os dirigentes sindicais são presos”. (MOREL apud
ALMEIDA, 2014, p.1). No olhar de Eduardo G. Noronha (2009, p.140) com o fim dos
anos 1980 o direito dos trabalhadores estava sendo ampliados através da
legislação. Por isso, perante as greves da década de 80, se instalou no âmbito
econômico e passou para outro patamar: o político.
Para Euclides Andre Mance (2007, p.3) a partir do momento em que ocorreu
a reformulação partidária em 1980 e houve a criação de partidos políticos como: PT,
PMDB, PDT, PDS e PTB, o Brasil foi separado por duas concepções de movimentos
populares, tendo de um lado a concepção conservadora, com ideais de direita; e do
outro lado a concepção tática, com ideais de esquerda defendendo a democracia e
levando palavras de ordem as massas.
Para Moura (2012, p. 5) a fresta aberta pelas greves do ABC, soma-se a crise
econômica que aprofunda e intensa, sendo que a principal expressão da crise do
Regime foi à onda de mobilizações, greves, ocupações e piquetes que serão
desencadeadas a partir dos diversos locais de trabalho durante toda a década de
1980.
As movimentações em prol das greves se sucederam e, em julho de 1980, na
cidade de Taboão da Serra, houve um encontro abordando os movimentos
populares, assumindo a luta dos trabalhadores com a presença de grandes líderes
em ascensão de movimentos operários tendo um vasto núcleo de “representantes
de organizações sindicais, populares e eclesiais, participaram desse encontro Luís
Inácio da Silva, João Pedro Stedile, Frei Betto e Selvino Heck'' (MANCE, 2007, p.6).
O direito de greve foi reconhecido em 1946, mas com restrições, já com a
Constituição de 67 e a Emenda Constitucional de n°1/69 foram reproduzidas e
especificadas dentro de legislações ordinárias. A legislação da época era repressiva
e logo, o direito de fazer greve existia de modo que não “quebrasse” as restrições:
“se já não bastasse a Lei de Greve – melhor seria chamá-la de Lei Antigreve, pois
que na prática torna quase impossível sua ocorrência” (ANTUNES,1984, p.43).
Portanto, “a greve não foi considerada uma alternativa de luta, em virtude da postura
legalista dos dirigentes sindicais” (MOÍSES apud GALVÃO,1996, p. 31).
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Portanto, durante o ano de 1980, foi marcado por uma lei de repressão que
foi a LSN e vários movimentos que introduziam ideias progressivas de liberdade de
greve. Tendo em vista líderes notórios, por exemplo, o Lula, que analisando o
contexto histórico, foi um incrível revolucionário ao levantar cidadãos sedentos por
justiça no âmbito trabalhista em prol de outros cidadãos.
3 CONSEQUÊNCIAS DA GREVE
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[...] um conjunto de fatores combinou-se em São Paulo (incluindo-se
aí a região do ABC) em um momento histórico preciso, quando as
alternativas pareciam abertas e o futuro ainda não determinado. Uma
vez criado o partido, alterou-se o peso relativo de cada um desses
fatores. Sua própria existência tornou-se o elemento mais importante
para que sobrevivesse e aumentasse sua área de influência, não
ficando mais restrito aos locais onde fora inicialmente forte. (KECK,
2010, p. 109)
Portanto, através dos anos no cenário político legal do Brasil eram reprimidos
os direitos do trabalhador para a realização de movimentos que reivindicassem esse
direito negligenciado. É notório o avanço das massas no âmbito jurídico,
reivindicando e até formando um partido político que teria como objetivo trazer um
caráter democrático de liberdade a todos os tipos de classes trabalhadoras,
efetivando seus direitos e deveres, principalmente o direito à greve. Á busca pela
cidadania, melhorias nas condições salariais e voz ativa remete o vislumbre de um
povo que lutou e luta desde as mais remotas páginas escritas da história brasileira
simplesmente por liberdade de expressar seus direitos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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O artigo se propôs a compreender quais os efeitos da importância jurídica nas
greves do ABC Paulista entre os anos de 1978 à 1980 tendo em vista que atingiu as
vertentes de aspectos históricos, sociais, mas principalmente jurídicas.
Foi anexado um breve histórico do direito de greve durante os anos da
primeira república a ditadura, podendo destacar um descompasso em validar esse
direito como constitucional, sendo aplicável pena duras aos militantes que se
propusessem a fazer esses atos contrastando com exemplos de movimentos que
não se calaram apesar das repressões consequentes. Na linha do tempo histórica e
jurídica brasileira, foram formadas as Constituições como positivação dos direitos
previstos para cada cidadão. Ao examinar as configurações legais, pode-se notar
que o direito de greve era flutuante pois vivia na inconstância de ser legal ou ilegal,
analisando segundo os períodos entre a primeira república e a Ditadura Militar.
Analisou-se com cuidado o contexto histórico das greves de 1978 a 1980 que
em plena Ditadura Militar Brasileira houve um movimento majoritariamente
trabalhista que cruzam seus braços em forma de protesto as condições salariais, de
vida e direito, parando o centro de polo industrial mais importante no aspecto
automobilístico no Brasil situado no ABC Paulista em um período em que
manifestar-se contra era motivo de aplicação de sanção, à sombra de legislações
antigrevistas e Lei de Segurança Nacional controladora e conter os atos
revolucionários.
As consequências são nítidas ao se contemplar as vitórias alcançadas pelos
metalúrgicos do ABC que por anos sofreram com a exploração desenfreada de seu
trabalho ao conquistarem uma ativação da retomada de agentes políticos e ativos
que lutaram por direitos negligenciados e absolvidos pelo governo militar. As
intervenções não foram suficientes para dominar a classe base do modo de
produção vigente na sociedade brasileira que consequentemente fundou um partido
majoritariamente trabalhista sendo o representante no âmbito político com o objetivo
de lutar pelos interesses dos trabalhadores de qualquer gênero, pois se expandiu
em grande escada o grau de abrangência de representação do Partido dos
Trabalhadores.
Em suma, tendo em vista todas as consequências elencadas através da luta
grevista é importante observar que juridicamente a greve tomou rumos e formas que
levam a crer que sua busca se sucedeu em ganho nas garantias de liberdade ao
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expressar seu direito retraído pelo Governo Militar, que posteriormente era
desfavorável às manifestações. As consequências alcançadas pela Greve do ABC
(1978-1980) determinaram novos aspectos nos âmbitos jurídicos, políticos e sociais,
por legitimar o direito à liberdade de greve e criar um órgão político que almejou
patentear os interesses da massa trabalhadora que historicamente viveu sem
direitos à liberdade e cidadania.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Paula Alves de. Percorrendo o ABC paulista com Leon Hirszman:
ABC da Greve e Eles Não Usam Black-tie. In: 29ª REUNIÃO BRASILEIRA DE
ANTROPOLOGIA, 2014, Natal/RN. Disponível em:
http://www.29rba.abant.org.br/resources/anais/1/1401744487_ARQUIVO_Percorren
dooABCpaulistacomLeonHirszmanABCdaGreveeElesnaousamBlack-
tie_PaulaAlves_RBA2014.pdf . Acesso em: 24 out. 2017
ANTUNES, Ricardo Luiz Coltro. Crise e poder. 1ª edição. São Paulo, SP: Autores
Associados/Cortez, 1984.
13
__________.Constituição (1937). Constituição da República dos Estados Unidos
do Brasil: Rio de Janeiro, 1937. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm. Acesso em: 17
out 2017.
14
DEU n’a Plebe: a greve geral anarquista de 1917 (documentário inédito). Dirigido
por Fernando Puccini e João Ricardo, 2007. Disponível em: https://filmow.com/deu-
n-a-plebe-a-greve-geral-anarquista-de-1917-t224899/. Acesso em: 24 out. 2017.
15
MOURA, Alessandro de. Movimento operário do ABC paulista (1978-2010):
contestação, intermediação e colaboracionismo. São Paulo, 2010. P.58. Dissertação
de Mestrado. Universidade Estadual Paulista, UNESP-MARÍLIA. Disponível em:
file:///C:/Users/139820/Downloads/1230-4558-1-PB.pdf. Acesso em: 09 out. 2017.
16
SIQUEIRA, Gustavo Silveira. História do direito de greve no Brasil (1890-1946).
1ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2017. V.3 p.168.
TERRA, Paulo Cruz. Greve como luta por direitos: as paralisações dos cocheiros e
carroceiros no Rio de Janeiro (1870-1906). Revista Brasileira de História, v. 34, n.
68, 2014. Disponível em: http://www.redalyc.org/html/263/26335781012/. Acesso
em: 24 out. 2017.
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