Introdução
Processo executivo
Ponderação de interesses
Introdução
1. Tutela executiva
a) Execução singular
As acções condenatórias visam um duplo objectivo: o reconhecimento de um
direito a uma prestação e a condenação do réu no cumprimento dessa
prestação (art. 4º/2-a) b) CPC).
Perante a falta de cooperação e a indiferença deste perante eventuais meios
compulsórios (ex. art. 829º-A CC), a ordem jurídica, paralelamente à proibição
de justiça privada (art. 1º CPC), concede ao credor a possibilidade de obter a
satisfação efectiva do seu direito através de uma acção executiva (art. 4º/3
CPC). Esta acção enquadra-se na garantia do acesso aos tribunais para a
defesa dos direitos e interesses legítimos (art. 20º/1 CRP).
A execução pode ser entendida num sentido próprio, a execução é a
realização coactiva de uma prestação; e numa acepção ampla ou imprópria, a
execução é a actividade correspondente à produção de quaisquer efeitos
jurídicos.
A acção executiva refere-se apenas à execução em sentido próprio. A sua
finalidade é a realização coactiva de uma prestação que não foi voluntariamente
cumprida pelo devedor (art. 4º/3 CPC).
b) Tutela universal
Na acção executiva promove-se em geral a realização coactiva de uma única
prestação contra um único devedor, e apenas são penhorados e executidos os
bens do executado que seja suficiente para liquidar a dívida exequenda (arts.
828º/5, 833º/1, 836º/2-a CPC). Esta execução singular distingue-se do processo
de falência, que é uma execução universal, tanto porque nela intervêm todos os
credores falidos, como porque nele é atingido, em princípio, todo o património
deste devedor.
5. Forma do processo
O processo pode ser comum ou especial (art. 460º/1 CPC). O processo
executivo comum é subsidiário, pois que só é aplicável à pretensão exequenda
não corresponda qualquer processo executivo especial (art. 460º/2 CPC).
A forma da acção executiva comum pode ser ordinária ou sumária 1 (art. 465º
[1]
Processo executivo
6. Função jurídico-económica
O processo executivo faculta ao exequente a satisfação da prestação que o
devedor não cumpriu voluntariamente (art. 4º/3 CPC). Este processo procura
atribuir ao exequente a satisfação do seu interesse patrimonial, utilizando meios
coactivos contra o património do devedor2 . [2]
1[1]
Nunca é sumaríssima
2[2]
Como a penhora e a venda de bens.
O direito à execução não é um direito do credor contra o Estado, mas um
direito que não pode ser exercido sem o emprego dos meios coactivos do
Estado.
O exercício do direito de execução está sujeito a limites, quer nas relações
entre o exequente e o executado, quer nas relações entre o exequente e
terceiro. Expressão daqueles primeiros limites é a exclusão, quanto aos bens
penhoráveis, daqueles que apesar de pertencerem ao executado, não devam
responder pela dívida, porque, por exemplo, eles são impenhoráveis (art. 822º
CPC) ou porque as partes limitaram a responsabilidade do devedor a alguns dos
seus bens (art. 602º CC).
O direito de execução não dispensa o interesse processual do exequente. Na
acção executiva, este interesse configura-se mais como um pressuposto dos
actos processuais do que como um pressuposto processual, isto é, surge mais
frequentemente como uma condição de eficácia de um acto processual do que
como uma condição para a realização coactiva da prestação.
Ao Estado compete o exercício, através dos tribunais, da função jurisdicional
(art. 202º/1 CRP).
Sem recurso ao ius imperi do tribunal, o credor não poderia promover a
penhora dos bens do executado e não poderia realizar a venda desses mesmos
bens, porque isso constituiria uma violação de um direito de propriedade
constitucional (art. 62º/1 CRP).
8. Princípios constitucionais
- Cooperação intersubjectiva (art. 266º/1 CPC)
Na área da acção executiva, este princípio tem uma importante consagração
na possibilidade de o tribunal, perante a dificuldade séria do exequente na
identificação ou localização de bens penhoráveis do executado, determinar a
realização das diligências adequadas (art. 837º-A/1 CPC – ex. art. 519º-A/1
CPC).
Este dever3 desdobra-se, para esse órgão, em deveres essenciais: um é o
[3]
9. Características especiais
A especialização da acção executiva favorece a sua celeridade. Enquanto no
processo declarativo a celeridade é procurada através da sua concentração na
audiência preliminar e de discussão, não acção executiva a celeridade é
favorecida através da sua especialização, isto é, através da remissão das
questões controvertidas para os processos declarativos incidentais.
O processo executivo baseia-se num título executivo (art. 45º/1 CPC). A
apresentação deste título é suficiente para iniciar a acção executiva e justificar a
agressão do património do devedor através da penhora: mesmo na execução
baseada num título negocial, se não for manifesto, face aos elementos
constantes dos outros, a inexistência de factos constitutivos ou a existência de
factos impeditivos ou extintivos de conhecimento oficioso (arts. 811º-A/1-c; 820º
CPC) e se, nessa e em qualquer outra execução, não houver oposição do
executado, o tribunal não averigua sequer se a prestação exequenda realmente
existe.
O processo executivo português é um processo centralizado no tribunal. A
este órgão compete toda a actividade de natureza executiva, bem como, em
regra, a de preparação e julgamento dos respectivos processos incidentais. O
funcionário judicial que efectiva a penhora (arts. 832º/1; 840º; 848º/2; 849º/2;
850º/3 CPC) ou a entrega judicial da coisa (art. 930º CPC) não goza de
suficiente autonomia organizacional e funcional perante o tribunal para poder ser
considerado um órgão de execução.
Ponderação de interesses
10. Generalidades
Na acção executiva confrontam-se, com particular intensidade os interesses
do exequente e do executado, dado que a efectivação da pretensão do
exequente se verifica à custa do património do executado. Embora a finalidade
da acção executiva exija que os interesses do exequente prevaleçam sobre os
do executado, compreende-se onde o sacrifício imposto a este último não deve
exceder o estritamente indispensável à satisfação da pretensão do exequente e
não possa deixar de considerar as suas necessidade básicas. Quer dizer: a
natural prevalência dos interesses do exequente não dispensa o respeito dos
interesses atendíveis do executado.
a)Exequibilidade extrínseca
c)Exequibilidade intrínseca
D)Competência do Tribunal
F)Embargos de executado
g)Dedução e efeitos
a:
Exequibilidade extrínseca
B:
Sentenças condenatórias
16. Delimitação
As sentenças condenatórias que o art. 46º-a CPC qualifica como título
executivo são aquelas que impõem ao réu um dever de cumprimento de uma
prestação. Este comando corresponde ao pedido formulado numa acção
condenatória (art. 4º/2 CPC), mas às sentenças condenatórias são equiparadas
quanto à sua força executiva, os despachos e quaisquer outras decisões ou
actos de autoridade judicial que condenem no cumprimento de uma obrigação.
Porque não impõem qualquer comando de cumprimento de uma obrigação,
as sentenças proferidas nas acções de simples apreciação (art. 4º/2-a CPC) não
podem ser qualificadas como título executivo.
A diferença entre a acção de simples apreciação e a acção condenatória
assenta no comando de cumprimento de uma prestação que se obtém na acção
condenatória e que não se pode conter na sentença de mera apreciação. É por
isso que a procedência de uma acção de mera apreciação – quando seja
admissível – não dispensa uma posterior acção condenatória destinada a obter
comando de cumprimento da obrigação.
17. Requisitos
As sentenças provenientes de tribunais estaduais não levantam qualquer
problema quanto à determinação da sua nacionalidade: são sentenças
portuguesas, aquelas que são proferidas por um tribunal português, ou seja,
por um tribunal pertencente à jurisdição portuguesa.
As sentenças nacionais – estaduais ou arbitrais – são automaticamente
exequíveis, isto é, não necessitam de qualquer certificação de, que são título
executivo, nem da aposição de qualquer formula executória.
As sentenças estrangeiras, só podem servir de base à execução depois de
revistas e confirmadas (art. 49º/1 CPC) ou após a obtenção do exequatur 4 .
[4]
4
Estabelece-se assim um controlo prévio da exequibilidade das sentenças
estrangeiras, o que se compreende atendendo a que a atribuição de
exequibilidade a uma decisão constitui, em princípio, uma reserva de
competência de cada Estado.
No direito interno português, a revisão e confirmação de sentenças
estrangeiras consta dos arts. 1904º a 1102º CPC. Este regime é aplicável, quer
a decisões estaduais, quer a sentenças arbitrais (arts. 1094º, 1097 CPC).
Os arts. 1094º e 49º/1 CPC, abrangem tanto as arbitragens necessárias, ou
impostas pela lei do pais aonde se realizem, como as voluntárias, que no regime
anterior geralmente se consideravam dispensadas de revisão e confirmação, por
terem aspecto contratual.
Documentos negociais
5[4]
Exequatur: “que seja executado”; manifestação de reconhecimento de um
cônsul; atribuição de força executória a uma sentença estrangeira ou a uma
sentença arbitral.
C:
Exequibilidade intrínseca
5
22. Requisitos necessários
A obrigação exequenda deve ser exigível, certa e líquida (art. 802º CPC). A
exigibilidade da obrigação é uma condição relativa à justificação da execução,
pois que, se a obrigação ainda não é exigível, não se justifica proceder à
realização coactiva da prestação; a certeza e liquidação são condições
respeitantes à possibilidade da execução, dado que, sem se determinar e
quantificar a prestação devida, não é possível proceder à sua realização
coactiva. Admite-se, no entanto, uma execução sobre uma obrigação que é
parcialmente líquida e exigível (arts. 810º/1 e 3 CPC). A inexigibilidade, incerteza
e iliquidez da obrigação exequenda conduzem ao proferimento de um despacho
de aperfeiçoamento do requerimento executivo (art. 811º-B/1 CPC).
Exigibilidade da obrigação
23. Noção
A exigibilidade da obrigação tem um sentido específico na acção executiva,
algo distinto daquele que tem no plano substantivo. A obrigação exigível é
aquela que está vencida ou que se vence com a citação do executado e em
relação à qual o credor não se encontra em mora na aceitação da prestação ou
quanto à realização de uma contraprestação. Assim, o vencimento da obrigação
é sempre indispensável à sua exigibilidade, mas esta pode precisar de algo mais
do que esse vencimento.
26. Noção
A obrigação exequenda é certa, quando a respectiva prestação se encontra
determinada ou individualizada.
Do título executivo deve constar uma obrigação de prestar determinada ou,
pelo menos, determinável através dos elementos por ele fornecidos. A
impossibilidade de determinar o conteúdo da prestação exequenda, porque ela é
referida na decisão judicial ou no documento negocial de forma que não é
possível concretizar o seu objectivo, invalida o eventual negócio (art. 280º/1 CC)
e impede qualquer execução.
Liquidez da obrigação
27. Noção
As obrigações ilíquidas são aquelas cuja quantidade não está determinada. A
iliquidez recai, normalmente, sobre obrigações pecuniárias (como por exemplo,
a indemnização devida por um facto ilícito), mas também pode referir-se a uma
prestação de dare (como por exemplo, a entrega de uma quantidade, ainda
indeterminada de cereal).
D:
Competência do Tribunal
E:
8[7]
Vide DL 274/97, de 8 de Outubro, Acção executiva simplificada para
pagamento de quantia certa
41. Execução ordinária para entrega de coisa certa (arts. 928º segs.
CPC)
9[8]
Ainda que simbólica: art. 930º/3 e 4 CPC
Depois de realizada a liquidação, procede-se, por nomeação do exequente, à
penhora dos bens necessários para o pagamento da quantia apurada (arts.
931º/2; 863º-A; 351º CPC; arts. 1311º e 1315º CC).
44. Execução ordinária para a prestação de facto (art. 933º segs. CPC)
A execução ordinária para a prestação de facto é supletivamente regulada
pelas disposições respeitantes à execução para pagamento de quantia certa
(art. 466º/2 CPC).
O objecto da execução para a prestação de facto pode ser um facto positivo
ou negativo (art. 45º/2 CPC), ou seja, uma obrigação de facere ou non facere. O
facto positivo pode ser fungível (art. 828º CC; art. 933º/1, 1ª parte CPC) ou
infungível (art. 933º/1, 2ª parte CPC):
- O facto é fungível, quando para o credor, é jurídica e economicamente
irrelevante se ele é realizado pelo devedor ou por um terceiro;
- O facto é infungível, quando por razões jurídicas ou económicas, o
interesse do credor impõe a sua realização pelo devedor.
O facto negativo pode corresponder a uma obrigação de non facere em
sentido estrito ou a uma obrigação de pati:
- Na obrigação de non facere em sentido estrito, o devedor está
vinculado a uma mera omissão de actuação;
- Na obrigação de pati, o devedor está obrigado a tutelar uma
actividade do credor.
10[9]
Arts. 933º/2; 940º/2; 941º/2 CPC
numa execução para pagamento (arts. 942º/2 e 934º CPC), são-lhe aplicáveis
as especificidades previstas no art. 926º/2 e 3 CPC).
F:
Embargos de executado
46. Generalidades
Os embargos de executado são o meio de oposição à execução (arts. 812º;
926º/1; 929º/1; 933º/2; 940º/2 e 941º/2 CPC). Estes embargos são um processo
declarativo instaurado pelo executado (ou executados) contra o exequente
(exequentes), que corre por apenso à execução (art. 817º/1 CPC), e que
constitui um incidente desta. Isto significa que a acção executiva não comporta,
na sua própria tramitação, qualquer articulado de resposta ao requerimento
inicial do exequente, o que é uma consequência da sua função: a realização
coactiva da prestação exequenda e não a discussão sobre o dever de a prestar.
Os embargos de executado fundamentam-se num vício que afecta a
execução. Se eles forem julgados procedentes, a acção executiva deve ser
julgada extinta, no todo ou em parte (art. 919º/1 CPC).
Os embargos baseiam-se em fundamentos respeitantes à inexequibilidade do
título utilizado pelo exequente, à falta de pressupostos processuais da acção
executiva e ainda à inexequibilidade da obrigação que aquela parte pretende
realizar coactivamente (arts. 813º a 815º; 929º/1; 40º/2; 941º/2 CPC).
Os embargos de executado podem fundamentar-se em qualquer
circunstância susceptível de afectar a exequibilidade do título executivo ou da
obrigação exequenda. Mas eles não são os únicos meios processuais que
podem basear-se nessas mesmas circunstâncias.
Os embargos de executado podem basear-se em fundamentos que também
justificam o indeferimento limiar do requerimento executivo (arts. 811º-A/1; 813º-
a) c); 814º/1; 815º/1 CPC). Mas, como o executado não pode recorrer do
despacho de citação alegando qualquer desses fundamentos de indeferimento
(art. 234º/5 CPC), essa parte só pode invocá-los em embargos e, por isso, não é
possível qualquer situação de concurso.
G:
Dedução e efeitos
B)Função da penhora
C)Efectivação da penhora
D)Impugnação da penhora
A)
Limites objectivos
B)
Função da penhora
Função individualizadora
68. Generalidades
A penhora não incide globalmente sobre bens ou direitos do executado, mas
sobre bens ou direitos determinados desta parte a nomeação de bens à penhora
pelo executado ou exequente deve incidir sobre certos bens ou direitos (art.
833º/1 CPC), não podendo recair indistintamente sobre o património do devedor
ou de uma fracção deste. Isto significa que a penhora se destina a individualizar
os bens ou direitos que vão responder pelo pagamento da dívida.
Função conservatória
73. Generalidades
Além de determinar os bens ou direitos que correspondem pelo cumprimento
da obrigação, a penhora também realiza uma função conservatória. Como esses
bens ou direitos se destinam a ser vendidos ou adjudicados ou a ser exercidos
ou cumpridos a favor da execução, a penhora deve assegurar a sua
subsistência até essa venda, adjudicação, exercício ou cumprimento: é nisto
que consiste a função conservatória.
Função de garantia
C)
Efectivação da penhora
Penhora de bens
78. Generalidades
A lei distingue entre a penhora de bens imóveis (arts. 838º a 847º CPC), de
bens móveis (arts. 848º a 855º CPC) e de direitos (arts. 856º a 863º CPC).
Pretende-se definir não tanto o objecto da penhora, como o modo da sua
efectivação, ou seja, o procedimento subsequente à nomeação dos bens ou
direitos.
Penhora de direitos
D)
Impugnação da penhora
Violação dos limites objectivos
83. Generalidades
Se a penhora excede as seus limites objectivos — isto é, se incidir sobre bens
ou direitos que, embora pertencentes ao executado, não deviam responder pela
divida — os possíveis meios de reacção contra essa penhora ilegal são a
impugnação do despacho ordenatório da penhora, a incidente de oposição à
penhora e o requerimento avulso do exequente.
87. Generalidades
Os limites subjectivos da penhora são violados se forem penhoradas bens ou
direitos que não são do executado. Os meios de oposição à penhora
subjectivamente ilegal são o protesto imediato, a impugnação do despacho
ordenatório da penhora, os embargos de terceiro e a acção de reivindicação.
12
Execução da garantia patrimonial
B)Satisfação de créditos
A)
a) Certidão de ónus
Se a penhora dever ser registada (art. 838º/4, 1ª parte CPC), deve ser junta à
execução certidão dos direitos, ónus ou encargos que incidam sobre bens
penhorados (art. 838º/4, 2ª parte CPC). É por esta certidão que se verifica se há
credores que, por possuírem garantias reais sobre os bens penhorados, podem
reclamar os seus créditos na execução pendente e que, por isso, devem ser
citados (art. 864º/1-b CPC).
b) Citação dos credores
Pode ser pessoal ou edital (arts. 233º/2 – 864º/1-b, n.º 2, 2ª parte, 864º/1-d,
n.º 2, ª parte CPC).
A falta de citação dos credores produz as mesmas consequências da falta de
citação do réu (art. 864º/3, 1ª parte CPC). Adaptando a consequência
estabelecida no art. 194º-a CPC, essa falta implica a anulação de tudo o que se
tenha processado depois do momento em que aquela citação devia ter sido
ordenada.
c) Apenso de verificação e graduação
A reclamação, verificação e graduação dos créditos realiza-se numa acção
declarativa de carácter incidental, pois que todas as reclamações que forem
deduzidas pelos vários credores são autuadas num único apenso ao processo
de execução (art. 865º/4 CPC).
13
Da sentença de verificação e graduação de créditos reclamados cabe
apelação (art. 922º/1 CPC). Este regime não contém qualquer excepção: a
apelação é o recurso admissível da decisão sobre o mérito proferido em primeira
instância (art. 691º/1 CPC).
Se no despacho saneador tiverem sido reconhecidos alguns dos créditos
reclamados (art. 868º/1, 2ª parte CPC), dele cabe igualmente a apelação (art.
691º/1 CPC). Este recurso só sobre a final (art. 695º/1 CPC).
B)
Satisfação de créditos
99. Generalidades
A satisfação do crédito do exequente pode ser feito pela entrega de dinheiro,
pela adjudicação de bens penhorados, pela consignação dos seus rendimentos
ou pelo produto da respectiva venda (art. 872º/1 CPC); admite-se ainda o
pagamento em prestações da divida exequenda (art. 872º/2 CPC). Os créditos
reclamados podem ser satisfeitos pela entrega de dinheiro, a consignação de
rendimentos e o pagamento em prestações dispensam a venda executiva dos
bens penhoradas, ou seja, são obtidos sem a alienação desses bens.
14
Em relação aos móveis, os créditos devem ser, em princípio, graduados pela
seguinte ordem:
a) Créditos por despesas de justiça feitas no interesse comum dos credores
(arts. 738º/1 e 746º CC);
b) Créditos graduados por penhor ou direito de retenção, incidentes sobre
os respectivos móveis (arts. 666º/1 e 2; 749º e 758º CC);
c) Créditos por impostos sobre sucessões e doações referentes a
transmissão de móveis, sobre as quais gozem de privilégio especial (arts.
738º/2, 747º/1-a, 750º CC);
d) Créditos por impostos directos ou indirectos que gozem de privilégio
mobiliário geral, (art. 736º CC) bem como os créditos de IRS e IRC;
e) Créditos por impostos das autarquias que gozem de privilégio mobiliário
geral (arts. 736º, 747º/1-a CC; arts. 4º-a, 5º Lei 1/87), neles se incluindo os
créditos pelo imposto sobre veículos;
f) Créditos pelas contribuições do regime geral de previdência;
g) Créditos particulares com privilégio mobiliário especial pela ordem
indicada no art. 747º-b), c) d), e); arts. 739º e 742º CC, se se constituírem
anteriormente ao registo das garantias indicadas e à data da penhora;
h) Créditos garantidos por hipoteca ou consignação de rendimentos
incidente sobre imóveis sujeitos a registo (arts. 656º/1 e 86º CC);
i) Crédito exequendo ou outros apenas garantidos pela penhora (art. 822º
CC).
Em relação aos imóveis devem, em princípio ser graduados pela seguinte
ordem:
a) Créditos por despesas de justiça feitas no interesse comum dos credores
(arts. 743º e 746º CC);
b) Créditos pela SISA e imposto sobre sucessões e doações (arts. 744º/2,
748º-a CC), bem como pelo IRS e IRC;
c) Créditos pela contribuição predial (arts. 744º/1 e 748º CC);
d) Créditos por contribuições do regime geral de previdência, quando os
imóveis penhorados existirem no património do executado à data da
instauração do processo executivo.
e) Créditos garantidos por consignação de rendimentos, preferindo o do
registo mais antigo (arts. 656º e 751º CC).
f) Crédito exequendo ou outros apenas garantidos pela penhora (art. 822º
CC).
104. Generalidades
Quando a pagamento do credor exequente ou dos credores reclamantes não
puder ser conseguido através da entrega de dinheiro, ou através da consignação
de rendimentos ou do pagamento a prestações, há que proceder há venda dos
bens penhorados. Esta alienação permite que o exequente ou qualquer credor
graduado obtenha a satisfação do seu crédito através do produto da venda
desses bens ou da adjudicação deles (art. 872º/1 CPC).
[12]
Arts. 835º, 864º/1-b, 865º/1 CPC.
16[13]
Arts. 879º/1, 881º/4 CPC.
Das decisões sobre a fixação do valor dos bens a vender nunca cabe recurso
(art. 886º-A/5 CPC). Trata-se de uma hipótese de exclusão legal da
recorribilidade.
17[14]
Vide arts. 824º a 826º CC.
18[15]
Art. 896º CC.
19[16]
Vide arts. 1380º/1, 1409º/1, 1555º/1, 2130º/1, 116º/1, 183º/5, 421 CC.
A venda executiva produz os memos efeitos da venda realizada através de
um negócio jurídico: as obrigações de entrega da coisa e de pagar o preço (art.
879º-b), c) CC) e a transmissão da propriedade da coisa (art. 879º-a CC). Além
daqueles efeitos obrigacionais e deste efeito translativo comum a qualquer
venda, a venda executiva produz ainda outros efeitos: um efeito extintivo, um
efeito registral, um efeito repristinatório e um efeito sub-rogatório.
Segundo o art. 824º/2 CC, os bens alienados através da venda executiva são
transmitidos livres dos direitos de garantia que os oneram, bem como os demais
direitos reais que não tenham registo anterior ao do qualquer arresto, penhora
ou garantia, com Excepção dos que, constituídos em data anterior, produzam
efeitos em relação a terceiros independentemente do registo.
O efeito extintivo dos direitos de terceiros provocado pela venda executiva
determina que a inoponibilidade relativa dos actos de disposição ou oneração
dos bens penhorados (art. 819º CC) ou de extinção do crédito penhorado por
causa dependente da vontade do executado ou do seu devedor (art. 820º CC)
se transforma numa inoponibilidade absoluta.
Chama-se efeito repristinatório da venda executiva ao efeito que consiste
no renascimento de direito que se tenham anteriormente extinguido por
confusão.
A repristinação do direito só é admissível se for compatível com as regras
relativas à venda executiva (art. 724º/1 in fine CC). Isto significa que só
renascem os direitos que não hajam de se extinguir por força do regime do art.
824º/2 CC.
C)
Extinção dos créditos e da execução
114. Suspensão
A instância executiva suspende-se através de algumas das causas gerais de
suspensão da instância. É o caso do falecimento ou extinção de alguma das
partes (arts. 276º, 277º e 284º/1-a CPC) e do falecimento do mandatário judicial
numa execução em que o patrocínio seja obrigatório (arts. 276º/1-b, 278º e
284º/1-b CPC).
115. Interrupção
A instância executiva interrompe-se quando o processo estiver parado
durante mais de um ano por negligência das partes em promover os seus
termos ou os de algum incidente do qual dependa o seu andamento (art. 285º
CPC).
116. Anulação
Se a execução correr à revelia do executado — isto é, se o executado não
praticar qualquer acto na execução — e esta parte não estiver sido citada
quando o deva ser, ou houver fundamento para declarar nula a sua citação (arts.
195º, 197º e 198º CPC), pode o executado requer a todo o tempo, no processo
de execução, que seja anulada (art. 921º/1 CPC).
O mesmo regime deve valer nos casos em que a executado, em vez de ser
citado, deve ser notificado (art. 926º/1 e 4 CPC).
117. Extinção
A instância executiva extingue-se com a extinção da obrigação exequenda por
remissão da execução, por pagamento coercivo ou por causa extintiva (art.
919º/1 CPC). Enquanto não se verificar o pagamento integral do crédito
exequendo, a execução não pode ser julgada extinta e o exequente pode
nomear novos bens à penhora (art. 836º/2-a CPC).