THE KILLERS / OS ASSASSINOS - direção de ROBERT SIODMAK, 1946 – 103’ mt.

Importante produção de Mark Hellinger, cujo argumento tem como ponto de partir o conto de
Ernst Hemingway “The Killers”[1927], depois desenvolvido livremente pelo próprio Siodmak ,
com mais as contribuições de nomes decisivos como John Huston e Richard Brooks, no roteiro
final de Anthony Veiller.

A abertura do filme, re-escrita por John Huston [Falcão Maltês, Asphalt Jungle], transformou-se
num clássico do film noir: dois assassinos de aluguel chegam numa cidadezinha do
interior,Brentwood/New Jersey, para eliminar um traidor da gang.

Chegam à noite com a missão de matar Pete Lund, conhecido como “o Sueco”/Burt Lancaster.
Dirigindo-se diretamente à lanchonete local, ainda aberta [vide o clima de Edward Hopper],
rendem os funcionários e começam a indagar onde mora o Sueco. O boy-ajudante do Sueco no
posto-de-gasolina local, consegue escapulir e sai correndo para avisar seu amigo da chegada dos
assassinos. A cena paralela do rapaz fugindo e dos bandidos encaminhando-se para o clímax da
matança, ou melhor do “ajuste de contas” fatal, tornou-se num tour-de-force expressionista,
graças à câmera de Woody Bredell e à paisagem sonora de Miklos Rozsa.

O rapaz chega primeiro e avisa o sueco; porém, para seu espanto, o sueco que está deitado no
seu quarto da pensão/hotel não reage e diz que já sabia. Como a dizer “chegou a hora, não a
nada a fazer”. Os bandidos arrombam, a porta do seu quarto e o fuzilam barbaramente,
impiedosamente, com muitos tiros. Esse primeiro e radical personagem do sueco/Sweden
marcaria definitivamente a carreira de Burt Lancaster que então estreava. Vamos encontrar o
mesmo personagem “passivo”, apesar de seu queixo-quadrado e de toda a pose de machão –
“before all the heroics and jaw-thrusting bravado”como comenta o historiador Jonathan Lethem,
como que já destinado, condenado à passividade mórbida de Criss-Cross1949; e mesmo
décadas depois em seus papéis mais singulares, como The Swimmer1968 e Atlantic City1980.

A partir daí, o filme começa com um corretor de seguros [Edmond O’Brien], encarregado de
obter dados de amigos e familiares do sueco sobre a apólice de USD 25000 a que ele tinha
direito – em caso de morte violenta, procurando ou tentando rastrear sua vida singular. As
testemunhas contatadas começam a ir contando em partes, tudo em flash-backs das cenas
passadas desde a vinda do sueco, alias Ole Ardeson (ex-boxeur coma mão direita inutilizada
para lutas), que se apaixona por Kitty[Ava Gardner], da turma dos gangsters profissionais.

Mark Hellinger, estereótipo do jornalismo dos ’40, chamado “colunismo da Broadway” trouxe
para o cinema um acento jornalístico de realismo violento, da verdade nua e crua [daí a
proximidade com Hemingway?!] que lhe rendeu 3 filmes extraordinários entre 1946 e 1948:The
Killers, Brute Force e Naked City/Cidade Nua, respectivamente. Antes já produzira outros hit
filmes, como High Sierra, com Humphrey Bogart, mas nestes três deparou-se com R.Siodmak e
Jules Dassin, mais John Huston e Richard Brooks. Aí a química mudou tudo para mais forte. .