A Graça Comum
Introdução e definição
Um importante meio pelo qual Deus refreia o pecado naqueles que não
são seu povo é pela revelação geral, que tem um impacto sobre a
consciência de cada ser humano. A revelação geral é um termo teológico
que quer dizer a revelação que Deus faz de si mesmo por meio da
natureza, dirigida a toda a humanidade e cujo objetivo é a revelação de
suficiente conhecimento de Deus para tornar homens e mulheres
indesculpáveis quando não servem nem glorificam a Deus. Em sua carta
aos Romanos, Paulo descreve o papel da revelação geral no refreamento
do pecado:
Quando, pois, os gentios que não têm lei, procedem, por natureza, de
conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos.
Estes mostram a norma de lei gravada nos seus corações,
testemunhando-lhes também a consciência e os seus pensamentos,
mutuamente acusando-se ou defendendo-se (Rm 2.14-15).
Segundo, Paulo não diz que eles guardam a lei (o que requereria
conformidade interior tanto quanto exterior à lei) mas, apenas, que eles
fazem as coisas da lei, isto é, que fazem certas coisas exteriores prescritas
pela lei. Terceiro, diz que eles fazem as coisas requeridas pela lei por
natureza (phusei). A expressão por natureza descreve esses gentios como
eles são em si mesmos, à parte da graça rege-neradora e santificadora de
Deus. Mas as Escrituras ensinam claramente que, sem a graça
regeneradora, ninguém pode sequer começar a guardar a lei de Deus em
seu sentido interior (ver, por exemplo, Rm 8.7-8). Por conseguinte, o que
esses gentios são capazes de fazer por natureza necessaria-mente exclui a
possibilidade de verdadeira obediência interior à lei, reve-lando um tipo
de obediência que não é movida pelo amor a Deus, mas que apenas se
conforma exteriormente a certos preceitos da lei.
Literalmente traduzidas, as palavras leem: estes, não tendo lei, são para
si mesmos lei (houtoi nomon me echontes heautois eis in nomos). Em
outras palavras, embora esses gentios não tenham a lei de Moisés, há
dentro deles uma lei que eles devem reconhecer; nós podemos chamar
isso, se quisermos, de lei natural. Essa lei é o impacto da revelação geral
de Deus sobre a consciência deles. A evidência para isso é que eles
mostram a norma da lei [to ergon tou nomou, lit., “a obra da lei”] gravada
nos seus corações (v. 15). Paulo não diz que esses gentios revelam a lei
escrita em seus corações, como se diz do povo de Deus redimido (Jr
31.33), mas que eles mostram a obra da lei escrita em seus corações.
Sempre que os gentios fazem por natureza as coisas requeridas pela lei,
Paulo diz aqui, eles mostram que há em seus corações um efeito
produzido pela lei que os faz reconhecer certos tipos de conduta exterior
como boas e alguns outros tipos como más. Que lei é esta? A lei expressa
na revelação geral de Deus, que até aos gentios ensina que há uma
diferença entre certo e errado, e que o errado é punido e o certo é
recompensado.
Na última parte do verso 15, Paulo nos diz que esses gentios também
possuem uma consciência que julga seus atos à luz dos padrões morais
que eles reconhecem. Dessa forma, a consciência deles revela o impacto
da revelação geral de Deus sobre eles.
Um outro meio pelo qual Deus refreia o pecado na vida humana é por
meio dos diferentes tipos de punição ao erro impostas pelo governo
humano por meio de leis, códigos de conduta e medidas coercitivas pelas
quais se faz cumprir essas leis. Esse ponto já foi comentado acima.