Resumo
O texto constata que a maior parte das pesqui- Abstract
sas sobre habitação se dão no contexto da esfe- This paper shows that most studies on
ra do consumo, dimensionando-o e qualifican- housing are carried out in the context of
do-o. O Estado e as políticas públicas ocupam consumption, by dimensioning and qualifying
um papel central no conjunto desses trabalhos. it. The State and public policies play a central
Embora eles forneçam um quadro importante role in these studies. Although they provide
sobre a carência de moradias, a segregação ter- an important picture of the lack of housing,
ritorial, a exclusão social e as políticas institu- territorial segregation, social exclusion, and
cionais ignoram, frequentemente, a centralida- institutional policies, they often ignore the
de da produção na determinação do ambiente central role played by production in defining
construído. Em especial, chamam a atenção a the constructed environment. In particular,
produção acadêmica sobre arquitetura e urba- attention is drawn to the academic production
nismo que ignora a construção e a produção on architecture and urbanism that ignores
sobre tecnologia que ignora o trabalho. Essas construction and the technology production
características estão nas raízes da formação da that ignores labor. These features are at
sociedade brasileira – desprezo pelo trabalho, the very roots of Brazilian society – disdain
distanciamento entre discurso e prática. É pre- for work, and a gap between discourse
ciso reorientar o enfoque teórico da pesquisa and practice. It is imperative to change the
sobre habitação. theoretical framework of housing research.
Palavras-chave: habitação; teoria; constru- Keywords: housing; theory; construction;
ção; trabalho. work.
analisados por PMSP-Sebes (1975), Vaz tes núcleos de pobreza nas áreas centrais
(1986), Villaça (1986 e 1999), Ribeiro abandonadas pelo capital imobiliário, e que
(1991), Reis Filho (1994), Bonduki (1994), são objeto de planos oficiais de “renovação”,
Piccini (1999), Kohara e Caricari (2006), “reforma” ou “reabilitação” (ver Silva, 2000
entre outros. e 2007) quanto à heterogeneidade trazida à
Importantes estudos sobre a reprodu- periferia ampliada por uma nova forma de
ção da classe operária ou proletariado ur- ocupação do solo, pelos condomínios fecha-
bano que incluíram a formação da periferia dos de alta renda (ver, por exemplo, Caldei-
com a predominância do transporte sobre ra, 2000; Marques e Torres, 2005).
rodas, a autoconstrução, os loteamentos ile- O impacto da reestruturação produtiva
gais, a partir dos anos 1930 e 1940, foram capitalista e das políticas neoliberais é reco-
feitos por Sampaio (1972), Ferro (1972), nhecido como determinante desse espraia-
Lemos e Sampaio (1976), Maricato (1976 mento que “dilui” a cidade ou a metrópole
e 1979), Bonduki e Rolnik (1979), Vallada- na região, mas esse impacto pode ser visto
res (1980), Santos (1980), Bogus (1981), também como determinante do aumento da
Mautner (1991) e Souza (1999). A terra precariedade habitacional e urbana pelos au-
tem sido reconhecida como elemento central tores Observatório das Metrópoles (2005) e
do processo de exclusão e segregação urba- Davis (2006).
na, mas também tem sido frequentemente As análises das políticas públicas de
abordada segundo o enfoque da carência e habitação engendradas pelo Estado per-
fortemente relacionada à legislação.5 mitiram o desvendamento do seu caráter 35
As favelas, uma forma variante daquela de agente ativo do processo de segregação
referida acima, mereceram atenção especial territorial, estruturação e consolidação do
dos pesquisadores cujas cidades convivem mercado imobiliário privado, aprofunda-
com o fenômeno há mais tempo. Talvez o mento da concentração da renda e, por-
pioneiro e paradigmático estudo sobre fave- tanto, da desigualdade social. Tais análises
la seja o clássico Sobrados e mocambos, de foram desenvolvidas por Bollafi (1975),
Gilberto Freyre; no entanto, a produção de Serran (1976), Azevedo e Andrade (1982),
autores cariocas destaca-se pela abundância. Maricato (1987), Arretche (1994), Draibe
Desde meados do século XX, os estudiosos (1994), entre outros. Na extensa produção
da cidade do Rio de Janeiro dedicam im- de livros, documentos e relatórios contrata-
portantes estudos às favelas cariocas, co- dos pelo Ministério das Cidades, a partir de
mo mostra Lícia do Prado Valladares em sua criação em 2003, é possível encontrar
seu livro Repensando a habitação no Brasil dados atualizados sobre todos esses assun-
(Valladares, 1982). Ver ainda a síntese feita tos, incluindo o tema recém-adotado na es-
por Suzana Pasternak em sua tese Favelas fera governamental federal: regularização
e cortiços no Brasil: 20 anos de pesquisas e fundiária de habitação de interesse social.
políticas (Pasternak, 1993). Apesar do número significativo de es-
Estudos mais recentes abordam novas tudos críticos sobre o assunto, é notável o
formas de segregação socioespacial da po- desconhecimento do quadro geral da produ-
pulação. Eles se referem tanto aos crescen- ção e distribuição da habitação, que estamos
ignorado. As forças produtivas não incluem Além disso, os estudos que têm como
apenas máquinas, equipamentos, novas fon- objeto o urbano, a habitação, o financia-
tes de energia, novos materiais, novos pro- mento e a terra, raramente incorporam o
cessos químicos ou eletrônicos, mas também tema da construção em seu escopo. É muito
a organização do trabalho. Apenas para dar comum, nos estudos sobre o urbano, igno-
um exemplo, o taylorismo promoveu um rar-se a construção, abstraindo-se assim as
avanço significativo na produtividade indus- relações entre capital (fixo e variável) e o
trial americana a partir da reorganização do processo de trabalho. A desconsideração da
processo de trabalho baseado no estudo de construção como eixo da realização da arqui-
“tempos e movimentos”. A especialização tetura e da cidade foi criticada por diversos
que permitiu avanços significativos na in- estudiosos no Projeto de Pesquisa “A crise na
dústria manufatureira se baseou na divisão produção da habitação popular – tendências
do trabalho. Lembremos que boa parte dos de rearticulação do processo produtivo ”.9
canteiros de obras ignoram, no Brasil e no Essa também foi a polêmica que alimentou
princípio do século XXI, grande parte dessas a interlocução de Sérgio Ferro10 em relação
conquistas que datam do início do século XX. ao texto de Vilanova Artigas, “O Desenho”.11
A tradição marxista explica como a Portanto, a crítica materialista, de inspiração
produção material da vida parece ser orien- marxista, à abordagem da arquitetura como
tada – por meio da ideologia – pela esfera produto de ideias ou do desenho não é nova
do consumo, das necessidades, das ideias. entre nós. Embora ambos os textos sejam
38 Um universo de símbolos cumpre a função bastante festejados, a centralidade da polê-
de mascarar as relações sociais baseadas na mica é bastante ignorada pela produção aca-
exploração e apropriação do excedente de dêmica e profissional. O papel ideológico do
riqueza criado na produção. Mas, no Brasil, projeto como ferramenta para a exploração
é preciso reconhecer algumas especificida- e a dominação desse modo de produção, e
des que tornam essa constatação ainda mais sua capacidade de encobrir essas relações de
radical. A tradição escravista que marca a classe são destacados por Ferro, que vai ao
história do país, e de profundo desrespeito canteiro de obras para encontrar a lógica do
com o trabalho manual, também explica por processo – do produto e de sua distribuição –
que o ensino e as pesquisas na área de en- e também, portanto, do projeto ou desenho.
genharia abstraem as relações de trabalho Outro equívoco digno de figurar nes-
dos estudos sobre tecnologia. Há muito de sa lista, pela constância com que é repeti-
ideológico e pouco de científico em boa par- do, refere-se aos estudos ou à prática do
te dessa produção acadêmica marcada pelo planejamento urbano que tem a pretensão
preconceito. Não raramente, o canteiro de de controlar as cidades pela regulação le-
obras, com todos os desencontros e as ten- gal, ignorando as determinações presentes
sões decorrentes das relações de trabalho na produção social ou material do espaço
(cujo paradigma está na parceria mestre de e na disputa pelos lucros, juros, rendas e
obras e engenheiro), é pouco conhecido por salários que ela engendra. A prática do ur-
pesquisadores que escrevem sobre tecnolo- banismo é profundamente ideológica – e
gia de construção habitacional. vale dizer, pouco científica e mistificadora
1) A indústria da construção tem carac- empreendimento exige que uma nova parce-
terísticas diferenciadas do conjunto das la de terreno seja assegurada.
indústrias. Os proprietários têm uma espécie de mo-
nopólio sobre a terra e a liberam para a
3 Cada projeto é único (mesmo quando
construção após cobrar um preço para isso,
padronizado) porque cada terreno é único,
e esse preço depende da localização. A le-
o que dificulta a reprodutibilidade.
gislação urbanística também influi no preço
3 O processo de produção é marcado pela da terra.
sucessão e não pela simultaneidade. A cada
3h A propriedade fundiária e imobiliária
obra, as equipes que se sucedem são des-
constitui um objeto de valorização. Fortunas
montadas. Há dificuldade para a capacitação
podem ser amealhadas sem que, necessa-
contínua do trabalhador e a rotatividade no
riamente, haja envolvimento de um capital
emprego é alta.
produtivo no terreno objeto de valorização.
3h Nofim de cada empreendimento, a uni- Uma malha de expedientes jurídicos e de
dade de produção é desmontada ou, na me- registros cerca a propriedade da terra, que
lhor das hipóteses, deslocada. pode, dessa forma, funcionar como objeto
3h O processo de produção depende das de disputa de rendas, oferecendo obstáculo
condições climáticas. As chuvas, por exem- à produtividade na construção. O acesso à
plo, podem paralisar a produção. terra urbana é profundamente excludente a
grande parte da sociedade e constitui freio
3h Em que pese o avanço das análises geo- 41
ao aumento da produção.16
técnicas, o subsolo pode apresentar ocor-
rências inesperadas, exigindo a interrupção 3h Outra barreira à provisão de moradias
da produção e representando despesas não está na legislação urbanística excessivamen-
previstas. te detalhista e na legislação ambiental, que
tornam lentos os processos de aprovação
2) Os ganhos não são provenientes apenas
dos projetos, característica reforçada pela
da atividade produtiva, portanto, não existe
fragmentação presente na gestão urbana e
um apelo para a racionalidade industrial.
pelas características cartoriais do patrimo-
3h Na provisão habitacional, o capital pro- nialismo brasileiro.
dutivo não ocupa o lugar central, como no
restante das indústrias. A moradia é uma
mercadoria especial. Além do capital de
construção, o processo produtivo inclui um
Habitação, conflitos
financiamento ao consumo (habitação é um e Estado
dos bens mais caros de consumo privado
e como uma mercadoria especial exige um Ainda que reconhecendo as carências apon-
financiamento específico), um capital de in- tadas anteriormente, é notória a centra-
corporação e um agente especial – o pro- lidade do papel do Estado no processo de
prietário de terra – de quem depende uma produção e distribuição da moradia, e é nele
condição básica para produção. Cada novo que se concentra a maior parte dos estudos
para o meio ambiente, ou para a cidade renda, durante décadas de intensa migração
como um todo. O exemplo mais dramático para as cidades, geraram vários paradoxos,
e gigantesco de ocupação pobre, ilegal e como a imposição do consumo de bens mo-
ambiental/socialmente predatória, está na dernos antes que as necessidades básicas
ocupação das áreas de preservação dos ma- (alimentação, saúde, higiene, educação, ha-
nanciais ao sul da maior metrópole paulista, bitação) fossem atendidas.20
onde aproximadamente 1milhão e 700 mil A urbanização em países periféricos
de pessoas vivem nas bacias dos reservató- como o Brasil, que acompanha o proces-
rios de água Billings e Guarapiranga. Mas os so de industrialização com baixos salários,
governos, e seus diversos órgãos com poder apresenta várias características que a dife-
de polícia sobre o uso e a ocupação do solo, rencia da urbanização nos países capitalistas
simplesmente ignoraram esse processo du- centrais. Francisco de Oliveira considera o
rante muitos anos. terciário extensivo e descapitalizado, que
O conflito sobre a provisão da moradia muitos autores entenderam como “inchado”
foi, portanto, deslocado: a cidade hegemô- na comparação com o chamado primeiro
nica continua sendo construída sob regras mundo, uma parte intrínseca desse processo
do urbanismo e do mercado modernos, para de acumulação que combina o arcaico com o
uma população restrita. Resta para grande moderno (Oliveira, 1972).
parte da população o deslocamento para fo- A evolução da provisão da habitação
ra da cidade (legal ou formal), a ocupação popular desde o final do século XIX, com a
de áreas inadequadas, e, frequentemente, emergência do trabalhador livre, mostra a 43
ambientalmente frágeis. tendência de eliminar dos salários a parcela
Não são apenas as leis de uso e ocupa- referente ao pagamento da moradia. É evi-
ção do solo ou os planos urbanísticos que dente que essa condição é predatória à força
não são observados nos bairros ilegais. Ne- de trabalho. A construção da casa nos fins
nhuma legislação aí é aplicada e a resolução de semana durante horário de descanso, o
de conflitos obedece à “lei” do mais forte. longo tempo despendido nos transportes
A presença do Estado pode se restringir à deficientes (que está relacionado à ocupa-
troca de favores pontuais com finalidade ção precária da periferia) e a ausência de
eleitoral. De um modo geral, o Estado está serviços urbanos fundamentais contribuem
ausente e esse vazio é ocupado por um po- para desgastar a força de trabalho. A queda
der paralelo (Maricato, 1996). do crescimento econômico, verificada a par-
Mesmo contando com um mercado pri- tir dos anos 80, o aumento do desemprego,
vado excludente, por meio do qual a mer- o recuo das políticas públicas, foram alguns
cadoria moradia é acessível a apenas 30% dos fatores que radicalizaram o quadro aqui
da população, é preciso reconhecer sua sig- descrito, como veremos adiante.
nificativa dimensão, equivalente à população A importância da propriedade fundi-
da Itália (aproximadamente 56 milhões de ária numa sociedade patrimonialista como
pessoas). O significativo crescimento econô- a nossa explica, em boa parte, essa gigan-
mico (7% ao ano entre 1940 e 1979) e a tesca exclusão territorial ou segregação.
industrialização do país, sem distribuição de Como é sabido, há uma estreita relação
Ermínia Maricato
Arquiteta e Urbanista pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo. Professora Titular da área de Planejamento Urbano do Departamento de Projeto da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Coordenadora da Co-
missão de Pesquisa e Membro do Conselho de Pesquisa da Universidade de São Paulo (São
Paulo, Brasil).
erminia@usp.br
Notas
(1) Este trabalho foi inspirado no texto de Michael Ball, Housing analisys: time for a theoretical
refocus. Apesardolapsodetempoquenosseparadaredaçãodoartigocitado,queéde1986,
suacríticaàproduçãoacadêmicasobreotemadahabitaçãoganhoumaisimportânciacomo
passar do tempo.
(2)"Aestruturadeprovisãodehabitaçãodescreveumprocessohistóricodadodestinadoaprovere
reproduziraentidadefísicacasa,focalizandoosagentessociaisessenciaisaesseprocessoea
relaçãoentreeles"(Ball,1986,p.158).
(3)ParaumabibliografiaextensivadospioneirosnoestudodahabitaçãonoBrasilurbanizado,ver
Valladares,1982.
(4)OsconceitosdeDéficitHabitacionalQuantitativoeDéficitHabitacionalQualitativoenvolveram
váriospesquisadoresduranteadécadade1990.Taisdefiniçõesestãoexplicitadasnosestudos
sobre o Déficit Habitacional no BrasilelaboradospelaFundaçãoJoãoPinheiro,apedidodogo-
vernoFederal,apartirde1995(FundaçãoJoãoPinheiro,2004).
(5)DoCongressodoIABde1963,quandoapropostadeReformaUrbanafoiaprovadanodocumento
final,atéoEstatutodaCidadeem2001eaCampanhadePlanosDiretoresParticipativos,pro-
movidapeloMinistériodasCidadesem2006,otemadaterratemsidorecorrenteeabibliogra-
fiapordemaisextensaparasertratadaaqui.Dentreospioneirosquerelacionaramaterracom
aesferadaproduçãoedomercadoverBrandão(1980)eLefèvre(1979).Umapartedaprodu-
çãodoLincolnInstituteofLandPolicytambémsegueessaorientação.
(6)Nãotrataremosaquidotemadosmovimentossociaisurbanosedesuabibliografia,poisnosinte- 47
ressaconcentraraatençãonosconflitospresentesnaesferadaproduçãostricto sensu.Nãose
desconhece a relação entre a “práxis espacial”, conceito lefevriano, e a produção da cidade em
seuconjunto,masentendemosqueessesconflitostêmsidomaisconstantementeabordados
do que aqueles que queremos destacar aqui.
(7)Vamosconvencionarcomoclassemédiaasfamíliascujosrendimentosmensaisestãosituadosen-
tre5e12saláriosmínimos.Odéficithabitacionalestáconcentradofortementeentre0emenos
de5s.m.,perfazendoumtotalde92%(FundaçãoJoãoPinheiro,2004).
(8)Atémesmoaendêmicacorrupçãopresentenasobraspúblicas,fatoligadoespecialmenteao
financiamentodecampanhaseleitorais,nãopodeseraspectodesprezadonaspesquisasaca-
dêmicasnoBrasilquandoseestudamprodutividadeecustodahabitação.Essaobservaçãofoi
feitaporVargasemencontrointernacionaldaBISS–BarttletInternationalSummerSchool–na
cidadedoMéxicoem1987.
(9)OprojetocitadofoiapresentadoaoBNHem1986,exatamentenoanodesuamalexplicadaextin-
ção,queoinviabilizou.ParticiparamdeleosprofessoresJorgeOseki,NiltonVargas,PauloCésar
XavierPereira,SuzanaPasternak,YvonneMautnersobacoordenaçãodeErmíniaMaricato.
(10)Iniciadoentre1968e1969,“Ocanteiroeodesenho”seriaconcluídoem1975efinalmentepu-
blicadoem1979.
(11)Otextocitado(Artigas,1975),publicadooriginalmentepeloGFAU,foiapresentadopeloprofes-
soremmarçode1967comoAulaInauguraldaFAU-USP.
(12)Oprocessodetrabalho,grandeausentenaproduçãointelectualbrasileirasobrehabitação,tem
sido considerado como elemento-chave para a compreensão da produção do ambiente cons-
truídopelaBISS–BarttletInternationalSummerSchool–sediadanaUniversityCollegeLondon.
Ver a respeito seus Proceedings.
(13)Naprimeirametadedosanos70,osrecursosdoBNHdestinadosaobrasdeinfraestruturaur-
bana foram ampliados, enquanto que a construção de moradias perdeu espaço no orçamento.
Essemovimentodeveu-se,provavelmente,aopoderdeinfluênciadasempresasdeconstrução
pesada.Apartirde1976,omovimentoseinverte.VerarespeitoMaricato(1987).
(14)PalestraproferidanaFAU-USP,dia29/3/2007.
(15)Osautoresconsultadosparaaconstruçãodessequadro,alémdeNiltonVargas,foramLojkine
(1977),Topalov(1974),Lipietz(1988),Harvey(1982),Ball(1986),Balleoutros(1988).Dentreos
autores nacionais que abordaram a produção e ou a provisão da moradia levando em conside-
raçãoaconstrução,alémdeVargas,estão:Ferro(1972),Oseki(1982),Maricato(1984),Pereira
(1984),Tavares(1989),Mautner(1991),Ribeiro(1996)eCastro(1999).OprofessorCelsoM.
LamparelliintroduziuessaabordagemteóricanoCursodePós-GraduaçãodaEscoladeEnge-
nhariadeSãoCarlosaindanadécadade70.
(16)Nãopodemosesquecerquemesmoatuandocomofreioaoaumentodaproduçãodevidoàdis-
putaporrendasimobiliáriasapropriedadedaterranãoconstituiumairracionalidadeaomodo
deproduçãocapitalistacomoargumentaramalgunsautores.Éelaquepermiteaapropriação
dos lucros na produção da moradia assim como a propriedade dos meios de produção permitem
aapropriaçãodoslucrosindustriais(Martins,1983).
(17)SegundoBall,apredominânciadeumagentesobreosoutrosnoprocessodeproduçãosomente
48 seráidentificadaapartirdeanálisesespecíficassobrerealidadesconcretas.Nessesentido,Ball
discordadastesesdefendidasporintelectuaisfranceses,comoTopalov(1974)eLojkine(1977),
sobreasupremaciadeterminantedopromotorimobiliáriooudocapitalfinanceirosobreapro-
visãodasedificações(moradias,comércios,serviços).NoBrasil,opapeldosganhosrentistas
fundiárioseimobiliários(proprietáriosdeterraeincorporadores)têmumapredominânciasig-
nificativa,comoveremosadiante.
(18)NomesmotextoHarveylembraqueapropriedadedamoradiapodedividireoportrabalhado-
res, pois aqueles que a possuem interessam-se pela valorização do seu imóvel e os que não a
possuem interessam-se pelo seu barateamento.
(19)Nãotemososdadosrigorosossobreaproduçãoinformaldamoradia(favelas,loteamentosile-
gaisecortiços)nascidadesbrasileirasesabemosqueoIBGEsubdimensionaamediçãodamo-
radia“subnormal”.Algunsestudos,entretanto,permitemafirmarqueestamosdiantedamaio-
riaoudeaproximadamentemetadedosdomicíliosnasgrandescidades:Andrade(1998);Castro
eSilva(1997),Souza(1999).
(20)MaricatoePamplona,1977
(21)VerarespeitoBalletal.(1988).
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Recebido em dez/2008
Aprovado em mar/2009