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Por um novo enfoque teórico

na pesquisa sobre habitação


Ermínia Maricato

Resumo
O texto constata que a maior parte das pesqui- Abstract
sas sobre habitação se dão no contexto da esfe- This paper shows that most studies on
ra do consumo, dimensionando-o e qualifican- housing are carried out in the context of
do-o. O Estado e as políticas públicas ocupam consumption, by dimensioning and qualifying
um papel central no conjunto desses trabalhos. it. The State and public policies play a central
Embora eles forneçam um quadro importante role in these studies. Although they provide
sobre a carência de moradias, a segregação ter- an important picture of the lack of housing,
ritorial, a exclusão social e as políticas institu- territorial segregation, social exclusion, and
cionais ignoram, frequentemente, a centralida- institutional policies, they often ignore the
de da produção na determinação do ambiente central role played by production in defining
construído. Em especial, chamam a atenção a the constructed environment. In particular,
produção acadêmica sobre arquitetura e urba- attention is drawn to the academic production
nismo que ignora a construção e a produção on architecture and urbanism that ignores
sobre tecnologia que ignora o trabalho. Essas construction and the technology production
características estão nas raízes da formação da that ignores labor. These features are at
sociedade brasileira – desprezo pelo trabalho, the very roots of Brazilian society – disdain
distanciamento entre discurso e prática. É pre- for work, and a gap between discourse
ciso reorientar o enfoque teórico da pesquisa and practice. It is imperative to change the
sobre habitação. theoretical framework of housing research.
Palavras-chave: habitação; teoria; constru- Keywords: housing; theory; construction;
ção; trabalho. work.

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Teoria aos pedaços: De fato, o foco nas carências habita-


cionais e nos déficits de moradia tem sido
a ausência das a forma predominante dos órgãos públicos
determinações gerais1 tratarem a questão da habitação, por meio
de consultores contratados, como um pro-
No início deste trabalho, queremos chamar blema quantitativo e mais recentemente, nos
a atenção para uma questão de ordem teó- anos 90, também qualitativo.4 Os levanta-
rico-metodológica: o estreitamento do cam- mentos promovidos pela Finep, em "Inven-
po das pesquisas e da produção acadêmica tário da ação governamental no campo da
sobre o tema da habitação no Brasil, domi- habitação popular”, finalizado em 1979, e a
nadas principalmente pelas abordagens do posterior publicação de Habitação popular:
consumo – déficit, carência, má qualidade, inventário da ação governamental (Finep,
tipologia, formas de ocupação do domicílio e 1985), constituem um importante cadastro
do espaço – e da política habitacional prati- de documentos e bibliografia que compro-
cada pelo Estado. vam o que afirmamos aqui.
Deve-se reconhecer que tal produção Carência habitacional, periferização,
intelectual contribuiu para o conhecimen- segregação urbana são temas recorrentes
to da situação de precariedade habitacional que têm sido bem desenvolvidos, tanto nas
existente e dos desvios nas políticas públi- análises dos planos urbanísticos que têm iní-
cas, que se revelaram incapazes de sanar a cio com as “reformas urbanas” implemen-
34 carência das camadas mais pobres da popu- tadas no começo do século XX quanto nas
lação. No entanto, ela não contribuiu para análises da moradia e condições de vida da
desvendar uma leitura mais ampla sobre a classe trabalhadora no Brasil industrial, in-
produção da habitação ou mais propriamen- cluindo ainda a abordagem das dramáticas
te da estrutura de provisão de habitação, e generalizadas condições de periferização,
dos interesses e dos agentes envolvidos.2 A “guetização”, ilegalidade e favelização carac-
relação de estudos e autores utilizados para terísticos da chamada era da globalização.
representar essas tendências dominantes na As reformas urbanas que pretenderam
produção técnica e acadêmica não pretende dar às cidades brasileiras, na República re-
ser exaustiva mas apontar alguns pioneiros cém-proclamada, a imagem de progresso e
nos temas abordados. 3 Não se pretende modernidade visavam afastar o fantasma da
ainda fazer uma crítica a essa produção in- presença da escravidão recente, deslocando
telectual que compõe os autores citados na populações pobres de áreas centrais, e re-
relação inicial (ao contrário, reconhecemos a cuperar espaços para o mercado imobiliário.
importância desses estudos), mas sim desta- Estudos com esse sentido foram desenvol-
car a predominância da esfera do consumo vidos, dentre outros autores, por Sevcenko
e do Estado como temas dessa produção (1984), Andrade (1992), Leme e outros
acadêmica e a ausência de abordagens his- (1999).
tórico-estruturais que permitam reconhecer Os cortiços, como forma prioritária
a permanência ou a inovação nas determina- (e privada) de moradia da massa trabalha-
ções dessa parcela do ambiente construído. dora pobre no início do século XX, foram

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analisados por PMSP-Sebes (1975), Vaz tes núcleos de pobreza nas áreas centrais
(1986), Villaça (1986 e 1999), Ribeiro abandonadas pelo capital imobiliário, e que
(1991), Reis Filho (1994), Bonduki (1994), são objeto de planos oficiais de “renovação”,
Piccini (1999), Kohara e Caricari (2006), “reforma” ou “reabilitação” (ver Silva, 2000
entre outros. e 2007) quanto à heterogeneidade trazida à
Importantes estudos sobre a reprodu- periferia ampliada por uma nova forma de
ção da classe operária ou proletariado ur- ocupação do solo, pelos condomínios fecha-
bano que incluíram a formação da periferia dos de alta renda (ver, por exemplo, Caldei-
com a predominância do transporte sobre ra, 2000; Marques e Torres, 2005).
rodas, a autoconstrução, os loteamentos ile- O impacto da reestruturação produtiva
gais, a partir dos anos 1930 e 1940, foram capitalista e das políticas neoliberais é reco-
feitos por Sampaio (1972), Ferro (1972), nhecido como determinante desse espraia-
Lemos e Sampaio (1976), Maricato (1976 mento que “dilui” a cidade ou a metrópole
e 1979), Bonduki e Rolnik (1979), Vallada- na região, mas esse impacto pode ser visto
res (1980), Santos (1980), Bogus (1981), também como determinante do aumento da
Mautner (1991) e Souza (1999). A terra precariedade habitacional e urbana pelos au-
tem sido reconhecida como elemento central tores Observatório das Metrópoles (2005) e
do processo de exclusão e segregação urba- Davis (2006).
na, mas também tem sido frequentemente As análises das políticas públicas de
abordada segundo o enfoque da carência e habitação engendradas pelo Estado per-
fortemente relacionada à legislação.5 mitiram o desvendamento do seu caráter 35
As favelas, uma forma variante daquela de agente ativo do processo de segregação
referida acima, mereceram atenção especial territorial, estruturação e consolidação do
dos pesquisadores cujas cidades convivem mercado imobiliário privado, aprofunda-
com o fenômeno há mais tempo. Talvez o mento da concentração da renda e, por-
pioneiro e paradigmático estudo sobre fave- tanto, da desigualdade social. Tais análises
la seja o clássico Sobrados e mocambos, de foram desenvolvidas por Bollafi (1975),
Gilberto Freyre; no entanto, a produção de Serran (1976), Azevedo e Andrade (1982),
autores cariocas destaca-se pela abundância. Maricato (1987), Arretche (1994), Draibe
Desde meados do século XX, os estudiosos (1994), entre outros. Na extensa produção
da cidade do Rio de Janeiro dedicam im- de livros, documentos e relatórios contrata-
portantes estudos às favelas cariocas, co- dos pelo Ministério das Cidades, a partir de
mo mostra Lícia do Prado Valladares em sua criação em 2003, é possível encontrar
seu livro Repensando a habitação no Brasil dados atualizados sobre todos esses assun-
(Valladares, 1982). Ver ainda a síntese feita tos, incluindo o tema recém-adotado na es-
por Suzana Pasternak em sua tese Favelas fera governamental federal: regularização
e cortiços no Brasil: 20 anos de pesquisas e fundiária de habitação de interesse social.
políticas (Pasternak, 1993). Apesar do número significativo de es-
Estudos mais recentes abordam novas tudos críticos sobre o assunto, é notável o
formas de segregação socioespacial da po- desconhecimento do quadro geral da produ-
pulação. Eles se referem tanto aos crescen- ção e distribuição da habitação, que estamos

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aqui denominando provisão da habitação, Iniciava-se um longo período de ajuste fiscal


formado pelas diversas tipologias resultan- e corte nos gastos públicos com aumento do
tes de diferentes arranjos entre: o financia- desemprego (Maricato, 1988).
mento, a construção, a promoção, a comer- Toda família precisa de uma moradia.
cialização, a participação da força de traba- Todos moram em algum lugar, ainda que
lho e o lugar ocupado pela propriedade da seja numa mansão em condomínio fechado
terra no contexto da regulação instituída (e ou num barraco sob um viaduto. O estoque
praticada de forma discriminatória no Brasil de moradias é resultante dos diferentes ar-
e em toda América Latina) pela legislação de ranjos existentes no interior do conjunto
uso e ocupação do solo. O arranjo resultante formado pelo mercado privado, pela pro-
do encontro desses agentes envolve, eviden- moção pública e pela promoção informal (o
temente, muitos conflitos. Como conflito que inclui ainda arranjos mistos) em dife-
básico, podemos citar o interesse daqueles rentes situações históricas de uma dada so-
que precisam de uma moradia para viver e ciedade. A estrutura de provisão de mora-
aqueles que lucram com sua provisão. Mas dias se refere à construção, manutenção e
outros conflitos internos e externos a esse distribuição de um estoque, que se forma a
arranjo ou a esses agentes podem aparecer. partir de diversas formas de provisão de ha-
Por exemplo: conflitos entre promotores e bitação: promoção privada de casas, aparta-
construtores, conflitos entre a força de tra- mentos ou loteamentos, promoção pública
balho e os construtores, conflitos entre to- de casas ou apartamentos, autoconstrução
36 dos os agentes que compõem o capital imo- no lote irregular ou na favela, autopromo-
biliário e a política macroeconômica. Enfim, ção da casa unifamiliar de classe média ou
estamos tratando de antagonismos que po- média alta, loteamento irregular, entre ou-
dem acontecer ou não, dependendo de uma tros. Apenas essa abordagem ampla, que
dada correlação de forças definida histori- toma a moradia como um produto social e
camente e dos arranjos que podem ocorrer histórico, pode explicar o desaparecimento
entre esses agentes (Harvey,1982).6 de certas formas de provisão em algumas
Num dos poucos momentos em que cidades. É o caso das vilas populares ou
constatamos a mobilização dos trabalhado- carreiras de pequenos sobrados resultantes
res da construção civil contra os baixos sa- da ação de um pequeno promotor, nas pri-
lários e as péssimas condições de trabalho, meiras décadas do século XX, nas cidades
em diversas capitais brasileiras, o que acon- de Rio de Janeiro e São Paulo, que desa-
teceu no final dos anos 70 e início dos 80 pareceriam na segunda metade do século
(quando a construção civil estava a todo o (Ribeiro, 1996).
vapor), foi possível acompanhar as mudan- Produtos semelhantes podem resultar
ças significativas na organização do trabalho de diferentes formas de provisão da mora-
no canteiro de obras, além do atendimento dia. Uma casa de alvenaria em uma favela
das reivindicações (Valladares, 1982). Infe- pode parecer idêntica, visualmente, a uma
lizmente, esse movimento de mudança não casa de alvenaria em um loteamento regular,
se sustentou devido ao drástico recuo nos mas a participação do componente terra é,
investimentos públicos a partir de 1983. em geral, muito diferente: num caso, a terra

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é invadida (embora a partir dessa primeira Tecnologia que ignora


ação ela possa ser vendida informalmente)
e no outro ela é comprada, sendo objeto de
o trabalho, arquitetura
um contrato de compra e venda registrado e urbanismo que ignoram
em cartório. A condição jurídica é diferente, a construção
embora possa apresentar muitas variantes,
dependendo da condição de propriedade da A precariedade das pesquisas na área de ha-
terra que é vendida ou invadida. bitação não se esgota nessa ausência de uma
As diversas formas de provisão da visão de conjunto; na medida em que igno-
moradia (o que inclui a moradia de alu- ram a provisão (produção e distribuição),
guel, obviamente) constituem um conjunto ainda que de uma forma específica de mora-
contínuo e interdependente: se o mercado dia, incorrem também em equívocos. Vamos
é muito restrito às camadas de mais altas lembrar algumas ausências no escopo de
rendas, como acontece no Brasil, e o inves- trabalhos que terminam por comprometer
timento público é escasso, a produção in- sua cientificidade.
formal fatalmente se amplia, pois, como já O estudo da técnica e da tecnologia da
foi destacado, todos moram em algum lu- construção frequentemente ignora a orga-
gar. A abordagem da promoção pública ou nização e o processo de trabalho, como se
das políticas públicas, isoladamente, como é estes fossem irrelevantes para o nível de
tradição em nosso meio acadêmico, impe- produtividade. Nos estudos sobre tecnologia
de a compreensão sobre sua inserção nessa da construção ignora-se, frequentemente, o 37
estrutura geral de provisão das moradias, papel da terra e da renda fundiária na deter-
prejudicando o entendimento da realidade minação do atraso na construção civil.
e a formulação de propostas. Não há como Faz parte do senso comum a ideia mis-
responder às demandas de moradia da po- tificada, também presente em grande parte
pulação de baixa renda (ainda que hipoteti- da produção acadêmica, de que materiais de
camente exista interesse governamental) se construção “milagrosos” tornarão a constru-
o mercado não responde às necessidades da ção de casas muito mais barata e eficiente.
classe média.7 No Brasil, a classe média não Nilton Vargas tem desenvolvido experimen-
tem sido atendida pelo mercado privado, tos paradigmáticos em canteiro de obras
especialmente a partir do recuo dos inves- desde início dos anos 80, reafirmando a
timentos do Sistema Financeiro da Habita- centralidade do processo de trabalho e da
ção, a partir de 1980. A consequência da condição urbana ou mais propriamente da
falta de resposta à necessidade de moradia renda fundiária e do acesso a um pedaço de
da classe média, a partir dessa data, é o terra urbanizada, para definir os patamares
acirramento da disputa com as camadas de da produtividade na construção.8 É de 1983
baixa renda pelo acesso aos subsídios públi- a primeira formulação dessas ideias publica-
cos. Considerando-se que esses subsídios ti- das em livro (Vargas, 1983). Porém, como
veram uma queda drástica, tornou-se lugar se constata em grande parte dos estudos
comum encontrar domicílios com famílias financiados pela Finep sobre tecnologia de
de classe média em favelas. construção, esse autor permanece bastante

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ignorado. As forças produtivas não incluem Além disso, os estudos que têm como
apenas máquinas, equipamentos, novas fon- objeto o urbano, a habitação, o financia-
tes de energia, novos materiais, novos pro- mento e a terra, raramente incorporam o
cessos químicos ou eletrônicos, mas também tema da construção em seu escopo. É muito
a organização do trabalho. Apenas para dar comum, nos estudos sobre o urbano, igno-
um exemplo, o taylorismo promoveu um rar-se a construção, abstraindo-se assim as
avanço significativo na produtividade indus- relações entre capital (fixo e variável) e o
trial americana a partir da reorganização do processo de trabalho. A desconsideração da
processo de trabalho baseado no estudo de construção como eixo da realização da arqui-
“tempos e movimentos”. A especialização tetura e da cidade foi criticada por diversos
que permitiu avanços significativos na in- estudiosos no Projeto de Pesquisa “A crise na
dústria manufatureira se baseou na divisão produção da habitação popular – tendências
do trabalho. Lembremos que boa parte dos de rearticulação do processo produtivo ”.9
canteiros de obras ignoram, no Brasil e no Essa também foi a polêmica que alimentou
princípio do século XXI, grande parte dessas a interlocução de Sérgio Ferro10 em relação
conquistas que datam do início do século XX. ao texto de Vilanova Artigas, “O Desenho”.11
A tradição marxista explica como a Portanto, a crítica materialista, de inspiração
produção material da vida parece ser orien- marxista, à abordagem da arquitetura como
tada – por meio da ideologia – pela esfera produto de ideias ou do desenho não é nova
do consumo, das necessidades, das ideias. entre nós. Embora ambos os textos sejam
38 Um universo de símbolos cumpre a função bastante festejados, a centralidade da polê-
de mascarar as relações sociais baseadas na mica é bastante ignorada pela produção aca-
exploração e apropriação do excedente de dêmica e profissional. O papel ideológico do
riqueza criado na produção. Mas, no Brasil, projeto como ferramenta para a exploração
é preciso reconhecer algumas especificida- e a dominação desse modo de produção, e
des que tornam essa constatação ainda mais sua capacidade de encobrir essas relações de
radical. A tradição escravista que marca a classe são destacados por Ferro, que vai ao
história do país, e de profundo desrespeito canteiro de obras para encontrar a lógica do
com o trabalho manual, também explica por processo – do produto e de sua distribuição –
que o ensino e as pesquisas na área de en- e também, portanto, do projeto ou desenho.
genharia abstraem as relações de trabalho Outro equívoco digno de figurar nes-
dos estudos sobre tecnologia. Há muito de sa lista, pela constância com que é repeti-
ideológico e pouco de científico em boa par- do, refere-se aos estudos ou à prática do
te dessa produção acadêmica marcada pelo planejamento urbano que tem a pretensão
preconceito. Não raramente, o canteiro de de controlar as cidades pela regulação le-
obras, com todos os desencontros e as ten- gal, ignorando as determinações presentes
sões decorrentes das relações de trabalho na produção social ou material do espaço
(cujo paradigma está na parceria mestre de e na disputa pelos lucros, juros, rendas e
obras e engenheiro), é pouco conhecido por salários que ela engendra. A prática do ur-
pesquisadores que escrevem sobre tecnolo- banismo é profundamente ideológica – e
gia de construção habitacional. vale dizer, pouco científica e mistificadora

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da realidade – e frequentemente ignora os na mídia, que de tempos em tempos apre-


conflitos presentes na produção da cidade, senta experiências de casas construídas
tomando-a como um palco ou arena que com materiais reciclados, como garrafas de
apenas dá suporte às relações sociais, ainda plástico, ou renováveis, como bambu, que
que elas possam ser tomadas como confli- prometem um barateamento definitivo e
tuosas (Arantes et al., 2000). sustentabilidade.
A dispersão do conhecimento já produ- Não se pretende negar a importância
zido no Brasil, constantemente suplantado das pesquisas com novos materiais ou novos
por supervalorizadas referências estrangei- usos para velhos materiais, especialmente
ras, já foi constatada por conhecidos estu- em se tratando da reutilização de rejeitos
diosos da sociedade brasileira, como Celso industriais, fundamental para diminuir seu
Furtado, Florestan Fernandes e Roberto descarte e os impactos sobre o meio am-
Schwarz, entre outros. Somos estrangeiros biente. A Antac – Associação Nacional de
em nossa própria pátria e frequentemente Tecnologia do Ambiente Construído – tem
nos vemos diante de uma história virtual. se detido nesse tema. O que se critica aqui,
Estamos sempre recomeçando. entretanto, é a ignorância dos demais fato-
Para resumir, é realmente sur- res que são determinantes na produção da
preen den te que um setor que absorve carência habitacional.
historicamente 6% da PEA e que é respon- Por diversas vezes o Banco Nacional de
sável por 13,5% do PIB nacional (relativo Habitação (BNH) promoveu a construção de
ao setor de construbusiness, sendo 8% da canteiros de obras com protótipos de edi- 39
construção propriamente dita) esteja au- fícios destinados à habitação apresentando
sente da maior parte dos trabalhos sobre novos materiais de construção, novas tecno-
o urbano e a habitação. Em particular, é logias, novos equipamentos ou novas máqui-
notável a ausência do tema do trabalho, nas. O primeiro grande seminário que apre-
nos estudos sobre tecnologia, como já foi sentou uma extensa mostra de protótipos
mencionado.12 se deu em Salvador, em 1978, que levou o
título de “Simpósio sobre o Barateamento
da Construção Habitacional”. O Brasil esta-
va no momento de maior investimento em
O lugar da construção nas habitação de toda sua história e era notável
pesquisas sobre moradia a pressão das empresas de construção pesa-
da e das empresas estrangeiras, detentoras
A ideia de que novos materiais ou novos mé- de patentes sobre novas tecnologias e pro-
todos construtivos possam resolver ou cons- cessos construtivos, para entrar no setor de
tituir a principal alavanca para a solução de edificação residencial nacional de promoção
problemas habitacionais é dominante há dé- pública.13 Vale lembrar que os anos 70 fica-
cadas, tanto nas instituições promotoras de ram conhecidos como do “milagre brasilei-
políticas públicas quanto nas pesquisas so- ro”, em que as altas taxas de crescimento do
bre a construção civil ligada à produção de PIB contribuíram muito com a manutenção
moradias. Essa ideia é dominante também do Regime Militar, fortemente apoiado pela

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classe média. Entre 1968 e 1973, o PIB as barreiras ao aumento de produtividade,


cresceu 11,5 % ao ano impulsionado prin- diminuição de custos e ampliação de acesso
cipalmente pela construção civil (Maricato, não estariam aí.14 Além de apontar as difi-
1987). culdades que persistem no planejamento e
Outros dois seminários, acompanhados gestão do processo de trabalho e nos de-
da apresentação de protótipos subsidiados mais fatores que disputam a renda fundiária
pelo BNH, deram-se na cidade de São Paulo: urbana, Vargas lembra que a indústria da
um no Jardim São Paulo (1985) e o outro construção tem características específicas
em Heliópolis (1987). Após 1980, entre- em relação às demais indústrias e nela a im-
tanto, com o impacto do ajuste fiscal sobre ponderabilidade é muito alta.
a economia nacional, os contratos do BNH Em seu mestrado, desenvolvido na
para o financiamento de moradias têm uma Coppe/ UFRJ em 1979, e depois reedita-
queda drástica. Até 1983, constata-se um do como capítulo de livro já citado, Nilton
movimento de construção de moradias sob Vargas explicita, em primeiro lugar, as ca-
promoção pública ainda significativo graças racterísticas específicas da indústria da
aos contratos assinados em anos anterio- construção, que a diferenciam das demais
res. A maior parte dessa produção seguiu indústrias: é manufatura, mas também tem
modelos muito criticados em trabalhos aca- máquinas pesadas características da grande
dêmicos: a localização sempre distante das indústria. Além disso, os lucros da atividade
áreas já urbanizadas alimentou um mercado de construção ligada à indústria imobiliá-
40 fundiário desorganizador do uso sustentável ria não são apropriados apenas pelo capital
do solo urbano e as construções frequente- produtivo, mas também por outros capitais,
mente deixaram a desejar do ponto de vista em especial os financiadores, os promotores
de conforto ambiental. imobiliários e os proprietários da terra ou
Durante vários anos, portanto, o pa- imóveis. Na medida em que os lucros não
radigma de avanço tecnológico esteve rela- provêm apenas das atividades produtivas,
cionado a novos processos, novos materiais mas também de atividades fortemente es-
ou novos componentes. Foram fomentadas peculativas, a produtividade no processo
tentativas de industrialização de componen- de produção passa a não ser central para
tes, experiências de moldagem de concreto ampliar os ganhos. A partir dessas conside-
armado in loco, propostas de utilização de rações e tendo em vista características que
novos materiais como solo cimento, madei- embasam o poder na sociedade brasileira,
ra mineralizada, palha de arroz prensada, como o patrimonialismo e a captação de
resíduos de processos industriais, estrutura rendas imobiliárias, conclui-se facilmente o
metálica, entre outros. porquê de o mercado privado no Brasil ser
Segundo Vargas, após todas essas ex- tão elitista e restrito ao produto de luxo
periências, podemos afirmar que, entre nós, (Instituto Cidadania, 2000).
a alvenaria armada tem se mostrado ainda Agregando às argumentações expostas
como tecnologia construtiva de melhor de- algumas formulações de outros autores, po-
sempenho – no que se refere a custo, qua- demos, muito resumidamente, definir essa
lidade e produtividade – e que, portanto, tese da seguinte forma:15

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1) A indústria da construção tem carac- empreendimento exige que uma nova parce-
terísticas diferenciadas do conjunto das la de terreno seja assegurada.
indústrias. Os proprietários têm uma espécie de mo-
nopólio sobre a terra e a liberam para a
3 Cada projeto é único (mesmo quando
construção após cobrar um preço para isso,
padronizado) porque cada terreno é único,
e esse preço depende da localização. A le-
o que dificulta a reprodutibilidade.
gislação urbanística também influi no preço
3 O processo de produção é marcado pela da terra.
sucessão e não pela simultaneidade. A cada
3h A propriedade fundiária e imobiliária
obra, as equipes que se sucedem são des-
constitui um objeto de valorização. Fortunas
montadas. Há dificuldade para a capacitação
podem ser amealhadas sem que, necessa-
contínua do trabalhador e a rotatividade no
riamente, haja envolvimento de um capital
emprego é alta.
produtivo no terreno objeto de valorização.
3h Nofim de cada empreendimento, a uni- Uma malha de expedientes jurídicos e de
dade de produção é desmontada ou, na me- registros cerca a propriedade da terra, que
lhor das hipóteses, deslocada. pode, dessa forma, funcionar como objeto
3h O processo de produção depende das de disputa de rendas, oferecendo obstáculo
condições climáticas. As chuvas, por exem- à produtividade na construção. O acesso à
plo, podem paralisar a produção. terra urbana é profundamente excludente a
grande parte da sociedade e constitui freio
3h Em que pese o avanço das análises geo- 41
ao aumento da produção.16
técnicas, o subsolo pode apresentar ocor-
rências inesperadas, exigindo a interrupção 3h Outra barreira à provisão de moradias
da produção e representando despesas não está na legislação urbanística excessivamen-
previstas. te detalhista e na legislação ambiental, que
tornam lentos os processos de aprovação
2) Os ganhos não são provenientes apenas
dos projetos, característica reforçada pela
da atividade produtiva, portanto, não existe
fragmentação presente na gestão urbana e
um apelo para a racionalidade industrial.
pelas características cartoriais do patrimo-
3h Na provisão habitacional, o capital pro- nialismo brasileiro.
dutivo não ocupa o lugar central, como no
restante das indústrias. A moradia é uma
mercadoria especial. Além do capital de
construção, o processo produtivo inclui um
Habitação, conflitos
financiamento ao consumo (habitação é um e Estado
dos bens mais caros de consumo privado
e como uma mercadoria especial exige um Ainda que reconhecendo as carências apon-
financiamento específico), um capital de in- tadas anteriormente, é notória a centra-
corporação e um agente especial – o pro- lidade do papel do Estado no processo de
prietário de terra – de quem depende uma produção e distribuição da moradia, e é nele
condição básica para produção. Cada novo que se concentra a maior parte dos estudos

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e pesquisas. O Estado pode participar dire- terra, as empresas imobiliárias, etc.)


tamente na produção, como também pode ou indiretamente (como os intermediá-
financiar e contratar a construção. Ele é ain- rios financeiros ou outros que investem
da, em geral, o agente regulador da terra, em propriedades simplesmente visando
das relações trabalhistas, das regras do fi- uma taxa de retorno); 2) uma facção do
nanciamento privado, além de poder promo- capital procurando juros e lucro atra-
ver a implantação da infraestrutura e abrir vés da construção de novos elementos
novos espaços para o investimento imobiliá- no meio construído (os interesses da
rio privado em acordo com proprietários de construção); 3) o capital "em geral" que
terra. A construção de novas centralidades encara o ambiente construído como um
dreno para o capital excedente e como
urbanas, como resultado de um pacto entre
pacote de valores de uso e com vistas
o capital imobiliário e a aplicação dos fundos
ao estímulo da produção e acumulação
públicos, tem também sua face simbólica,
de capital; 4) a força de trabalho que
marcada pelo luxo e distinção, e ocorre em
se utiliza do ambiente construído co-
praticamente todas as grandes cidades.
mo um meio de consumo e como meio
A atuação do Estado responde ao nível
de sua própria reprodução. (Harvey,
dos conflitos entre os diversos interesses
1982, p. 6)18
em jogo na disputa pelos ganhos já citados:
salários, rendas, juros e lucros. De tal dispu-
ta participam inclusive os usuários de clas-
42 se média ou até de baixa renda, enquanto
Modernização conservadora:
proprietários privados que também se apro-
priam de alguma renda com a valorização
a informalidade como ardil
de seus imóveis. Essas lutas e conflitos de-
finirão as mudanças ou não na estrutura de No Brasil, como nos demais países perifé-
provisão da habitação.17 ricos, os conflitos em torno da provisão da
Além de Michael Ball (1978, 1981 e moradia foram relativamente esvaziados
1986), outro autor que adota uma visão graças a um ardil responsável por grande
menos determinista e economicista sobre a impacto social e territorial: a provisão infor-
produção do espaço, ao enfatizar a esfera mal da moradia. A maior parte da população
da política, é David Harvey, para quem a urbana “se vira” para garantir moradia e um
produção do espaço é consequência de for- pedaço de cidade, combinando o loteamento
tes conflitos e do confronto de tendências, irregular ou a pura e simples invasão de ter-
resultantes de tensões e contradições ine- ra, com a autoconstrução.19 Essa forma ile-
rentes ao sistema (Harvey, 1982). Para o gal e pré-moderna de provisão da moradia
autor, os principais conflitos que emergem esvaziou o conflito e contribuiu para o bara-
teamento da força de trabalho, especialmen-
nesse processo envolvem:
te durante o período de maior crescimento
[...] 1) uma facção do capital que pro- industrial. Sabemos todos as consequências
cura a apropriação da renda, quer di- predatórias dessa produção de grande parte
retamente (como os proprietários de do espaço urbano, seja para essa população,

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para o meio ambiente, ou para a cidade renda, durante décadas de intensa migração
como um todo. O exemplo mais dramático para as cidades, geraram vários paradoxos,
e gigantesco de ocupação pobre, ilegal e como a imposição do consumo de bens mo-
ambiental/socialmente predatória, está na dernos antes que as necessidades básicas
ocupação das áreas de preservação dos ma- (alimentação, saúde, higiene, educação, ha-
nanciais ao sul da maior metrópole paulista, bitação) fossem atendidas.20
onde aproximadamente 1milhão e 700 mil A urbanização em países periféricos
de pessoas vivem nas bacias dos reservató- como o Brasil, que acompanha o proces-
rios de água Billings e Guarapiranga. Mas os so de industrialização com baixos salários,
governos, e seus diversos órgãos com poder apresenta várias características que a dife-
de polícia sobre o uso e a ocupação do solo, rencia da urbanização nos países capitalistas
simplesmente ignoraram esse processo du- centrais. Francisco de Oliveira considera o
rante muitos anos. terciário extensivo e descapitalizado, que
O conflito sobre a provisão da moradia muitos autores entenderam como “inchado”
foi, portanto, deslocado: a cidade hegemô- na comparação com o chamado primeiro
nica continua sendo construída sob regras mundo, uma parte intrínseca desse processo
do urbanismo e do mercado modernos, para de acumulação que combina o arcaico com o
uma população restrita. Resta para grande moderno (Oliveira, 1972).
parte da população o deslocamento para fo- A evolução da provisão da habitação
ra da cidade (legal ou formal), a ocupação popular desde o final do século XIX, com a
de áreas inadequadas, e, frequentemente, emergência do trabalhador livre, mostra a 43
ambientalmente frágeis. tendência de eliminar dos salários a parcela
Não são apenas as leis de uso e ocupa- referente ao pagamento da moradia. É evi-
ção do solo ou os planos urbanísticos que dente que essa condição é predatória à força
não são observados nos bairros ilegais. Ne- de trabalho. A construção da casa nos fins
nhuma legislação aí é aplicada e a resolução de semana durante horário de descanso, o
de conflitos obedece à “lei” do mais forte. longo tempo despendido nos transportes
A presença do Estado pode se restringir à deficientes (que está relacionado à ocupa-
troca de favores pontuais com finalidade ção precária da periferia) e a ausência de
eleitoral. De um modo geral, o Estado está serviços urbanos fundamentais contribuem
ausente e esse vazio é ocupado por um po- para desgastar a força de trabalho. A queda
der paralelo (Maricato, 1996). do crescimento econômico, verificada a par-
Mesmo contando com um mercado pri- tir dos anos 80, o aumento do desemprego,
vado excludente, por meio do qual a mer- o recuo das políticas públicas, foram alguns
cadoria moradia é acessível a apenas 30% dos fatores que radicalizaram o quadro aqui
da população, é preciso reconhecer sua sig- descrito, como veremos adiante.
nificativa dimensão, equivalente à população A importância da propriedade fundi-
da Itália (aproximadamente 56 milhões de ária numa sociedade patrimonialista como
pessoas). O significativo crescimento econô- a nossa explica, em boa parte, essa gigan-
mico (7% ao ano entre 1940 e 1979) e a tesca exclusão territorial ou segregação.
industrialização do país, sem distribuição de Como é sabido, há uma estreita relação

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entre propriedade patrimonial e poder produtiva de construção, em detrimento dos


econômico, político e social na história do ganhos rentistas.
Brasil. A elite brasileira se apropriou de
vastas áreas de terras devolutas por todo
território nacional, recorrendo a um sem
número de ardis relacionados a fraudes
O impacto da globalização
nos registros de terra (Costa Neto, 2006). na provisão de moradias
Além disso, essa mesma elite cercou-se de
uma imensa teia de organismos e buro- Com o fim do welfare state houve um recuo
cracia (além da ajuda do judiciário) para generalizado dos investimentos em habita-
impedir que a maior parte da população, ção, revelando um colapso no volume de
especialmente os trabalhadores pobres, ti- moradias produzidas. Nos países capitalistas
vesse acesso à propriedade fundiária. O la- centrais, o espetacular movimento de cons-
tifúndio permanece intocável durante todo trução que se seguiu à segunda guerra mun-
o período de modernização e industrializa- dial minimizou fortemente a carência habita-
ção do país, apesar das polêmicas alimen- cional. Apesar das características específicas
tadas pela proposta liberal de substituição desse processo em cada país, alguns aspec-
dos escravos pela colonização branca du- tos podem ser generalizados:21
rante o século XIX. A privatização de ter-
ras devolutas ainda é uma prática vigente
Período pós-guerra – produção
44 em pleno início do século XXI.
fordista:
Como aconteceu em outros momentos
da história do país, o Brasil conta, a partir
3hh produçãoem massa, grande volume de
da promulgação do Estatuto da Cidade, em
unidades habitacionais;
2001, com uma legislação bastante avança-
da, que regulamenta a função social da cida- 3hh investimentopúblico garante mercado
de e da propriedade. O Estatuto da Cidade solvável, com forte subsídios;
restringe, objetivamente, o direito de pro- 3hhinvestimento em infraestrutura, grandes
priedade. Pode-se dizer que o direito à mo- projetos de renovação urbana ou construção
radia é absoluto, já que previsto na Consti- de cidades novas;
tuição Federal, e o direito à propriedade não 3hh Estado
intervém no mercado de terras
o é. No entanto, a implementação da lei está ou cria uma agência de terra;
enfrentando muita dificuldade, reafirmando
3hhpromoção da habitação de aluguel social;
uma característica da sociedade brasileira:
3hh modernizaçãoda produção – pré-fabri-
de que a lei se aplica de acordo com as cir-
cação, investimentos em capital fixo, gran-
cunstâncias (Maricato, 1996).
des canteiros;
Aqui também constatamos nossas di-
ferenças em relação ao capitalismo central, 3hh grandes sindicatos conferem poder à

em que as reformas sobre a terra urbana força de trabalho nos conflitos;


foram feitas no final do século XIX ou come- 3hhqueda na especialização da força de tra-
ço do século XX para fortalecer a atividade balho, imigração visando o barateamento.

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Com a reestruturação produtiva e o 3hhh flexibilização


na provisão – diversidade
início das políticas de cunho neoliberal, a de tipologias, fragmentação da demanda e
produção subsidiada de moradias pelo Es- da localização, ênfase nos aspectos especu-
tado teve uma queda drástica. O patrimô- lativos;
nio público formado por extensos conjuntos 3hhh novos mercados priorizam reformas,
habitacionais foi transformado com a ven- renovação e manutenção;
da em patrimônio privado. E novas regras, 3hhhfortalecimento da casa própria ;
mais adaptadas a uma solução de mercado,
3hhh flexibilização do trabalho, formas indi-
foram impostas. Apesar dos movimentos
retas de emprego.
sindicais, que com prolongadas greves ten-
No Brasil, como nos demais países do
taram se opor aos ganhos conquistados com
capitalismo periférico, com seus diversos
o Welfare State, as reformas foram imple-
graus ou características de evolução ou in-
mentadas, atingindo inclusive o mundo do
volução, o recuo nas políticas públicas e o
trabalho e com isso enfraquecendo o poder
baixo crescimento econômico, a partir dos
sindical. Um resumo das características que
anos 80, tiveram consequências dramáticas
provisão de moradias assumiu na Europa e
devido à herança histórica de desigualdade
nos Estados Unidos com a reestruturação
e informalidade. Apesar de não contarmos
produtiva já pode ser diagnosticado nos
com estudos sobre o impacto detalhado da
anos 70:
globalização na produção do ambiente cons-
truído, podemos afirmar que o aumento 45
de favelas cresceu radicalmente a partir da
Período pós-1970 – reestruturação
queda do financiamento habitacional, por
capitalista global:
volta de 1981. O IBGE mostra que enquan-
to a população brasileira cresceu 1,9% ao
3hhh queda
nos investimentos públicos, que- ano entre 1980 e 1991, e 1,6% ao ano en-
da no volume de construção; tre 1991 e 2000, a população moradora de
3hhh dificuldades com financiamentos, difi- favelas cresceu, respectivamente, 7,65% e
culdades com terra; 4,18%. O município de São Paulo tinha ape-
3hhhaumento da taxa de juros; nas 1,2% da população morando em fave-
las em 1970. Em 2005, São Paulo registra
3hhh flexibilização
na produção, terceiriza-
11% da população em favelas, ambos dados
ção, queda no investimento de capital fixo,
da Prefeitura Municipal. Com a débâcle do
fortalecimento do planejamento do canteiro,
BNH e aumento do desemprego, o mercado
gerenciamento de fluxos e controle contábil;
privado formal também apresentou queda
ênfase nos componentes leves para
3h h
significativa (Castro, 1999).
montagem; Além da constatação do impacto ne-
3hhh enfraquecimento
do poder sindical, de- gativo da chamada globalização e das po-
semprego, contrato por tarefas; líticas neoliberais na piora na qualidade
3hhh projetos
de menor porte, perdas da da moradia urbana no Brasil, pouco pode-
economia de escala; mos avançar no detalhamento sobre suas

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consequências nos processos produtivos, quando se buscam alternativas de solução


como mostra o estudo de Ball e outros para a nossa realidade.
(1988) para a Europa e Estados Unidos. Por fim, um alerta necessário. A par-
Esse exemplo mostra como a orientação tir de 2005, os investimentos na área de
adequada da pesquisa acadêmica pode nos habitação foram ampliados, tanto para o
conduzir para uma compreensão mais am- mercado privado quanto para a promoção
pla e científica da realidade. Não dispomos pública. Com o PAC – Plano de Aceleração
de conhecimento que permita caracterizar do Crescimento –, lançado pelo Governo Fe-
as mudanças na estrutura de provisão da deral em 2007, essa tendência será reforça-
moradia, sua evolução e adaptação à nova da pela previsão de investimento de R$106
(des)ordem internacional. Esse desconhe- bilhões. Considerando-se que as principais
cimento fragiliza o esforço na definição de fontes de recursos são onerosas – aliás, as
políticas para o enfrentamento de proble- mesmas que alimentaram o Sistema Finan-
mas tão graves como, por exemplo, os que ceiro da Habitação: SBPE e FGTS – e que
as nossas metrópoles apresentam. os recursos para subsídios são diminutos, é
Se insistimos em fazer essa abordagem previsível que as camadas de mais baixa ren-
teórica e metodológica, é para incentivar os da dificilmente sejam atendidas na propor-
pesquisadores brasileiros a esse desafio. E, ção necessária. Entretanto, o movimento na
apesar de parte da reflexão aqui feita ter se produção de moradias tende a aumentar, o
inspirado em autores que pensaram o capi- que já é visível, na segunda metade da déca-
46 talismo central, nossa convicção é de que as da iniciada em 2000, com repercussões na
assimetrias entre os países centrais e peri- estrutura de provisão de moradias. Esse é
féricos são essenciais, acentuaram-se com mais um motivo para adotar um novo enfo-
a globalização e não podem ser ignoradas que na pesquisa sobre habitação no Brasil.

Ermínia Maricato
Arquiteta e Urbanista pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo. Professora Titular da área de Planejamento Urbano do Departamento de Projeto da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Coordenadora da Co-
missão de Pesquisa e Membro do Conselho de Pesquisa da Universidade de São Paulo (São
Paulo, Brasil).
erminia@usp.br

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por um novo enfoque teórico na pesquisa sobre habitação

Notas
(1) Este trabalho foi inspirado no texto de Michael Ball, Housing analisys: time for a theoretical
refocus.­­ Apesar­do­lapso­de­tempo­que­nos­separa­da­redação­do­artigo­citado,­que­é­de­1986,­
sua­crítica­à­produção­acadêmica­sobre­o­tema­da­habitação­ganhou­mais­importância­com­o­
passar do tempo.

(2)­­"A­estrutura­de­provisão­de­habitação­descreve­um­processo­histórico­dado­destinado­a­prover­e­
reproduzir­­a­entidade­física­casa,­focalizando­os­agentes­sociais­essenciais­a­esse­processo­e­a­
relação­entre­eles"­(Ball,­1986,­p.­158).

(3)­­Para­uma­bibliografia­extensiva­dos­pioneiros­no­estudo­da­habitação­no­Brasil­urbanizado,­ver­
Valladares,­1982.

(4)­­Os­conceitos­de­Déficit­Habitacional­Quantitativo­e­Déficit­Habitacional­Qualitativo­envolveram­
vários­pesquisadores­durante­a­década­de­1990.­Tais­definições­estão­explicitadas­nos­estudos­
sobre o Déficit Habitacional no Brasil­elaborados­pela­Fundação­João­Pinheiro,­a­pedido­do­go-
verno­Federal,­a­partir­de­1995­(Fundação­João­Pinheiro,­2004).­

(5)­­Do­Congresso­do­IAB­de­1963,­quando­a­proposta­de­Reforma­Urbana­foi­aprovada­no­documento­
final,­até­o­Estatuto­da­Cidade­em­2001­e­a­Campanha­de­Planos­Diretores­Participativos,­pro-
movida­pelo­Ministério­das­Cidades­em­2006,­o­tema­da­terra­tem­sido­recorrente­e­a­bibliogra-
fia­por­demais­extensa­para­ser­tratada­aqui.­Dentre­os­pioneiros­que­relacionaram­a­terra­com­
a­esfera­da­produção­e­do­mercado­ver­Brandão­(1980)­e­Lefèvre­(1979).­Uma­parte­da­produ-
ção­do­Lincoln­Institute­of­Land­Policy­também­segue­essa­orientação.­

(6)­­Não­trataremos­aqui­do­tema­dos­movimentos­sociais­urbanos­e­de­sua­bibliografia,­pois­nos­inte- 47
ressa­concentrar­a­atenção­nos­conflitos­presentes­na­esfera­da­produção­stricto sensu.­Não­se­
desconhece a relação entre a “práxis espacial”, conceito lefevriano, e a produção da cidade em
seu­conjunto,­mas­entendemos­que­esses­conflitos­têm­sido­mais­constantemente­abordados­
do que aqueles que queremos destacar aqui.

(7)­­Vamos­convencionar­como­classe­média­as­famílias­cujos­rendimentos­mensais­estão­situados­en-
tre­5­e­12­salários­mínimos.­O­déficit­habitacional­está­concentrado­fortemente­entre­0­e­menos­
de­5­s.m.,­perfazendo­um­total­de­92%­(Fundação­João­Pinheiro,­2004).

(8)­­Até­mesmo­a­endêmica­corrupção­presente­nas­obras­públicas,­fato­ligado­especialmente­ao­
financiamento­de­campanhas­eleitorais,­não­pode­ser­aspecto­desprezado­nas­pesquisas­aca-
dêmicas­no­Brasil­quando­se­estudam­produtividade­e­custo­da­habitação.­Essa­observação­foi­
feita­por­Vargas­em­encontro­internacional­da­BISS­–­Barttlet­International­Summer­School­–­­na­
cidade­do­México­em­1987.­­­

(9)­­O­projeto­citado­foi­apresentado­ao­BNH­em­1986,­exatamente­no­ano­de­sua­mal­explicada­extin-
ção,­que­o­inviabilizou.­Participaram­dele­os­professores­Jorge­Oseki,­Nilton­Vargas,­Paulo­César­
Xavier­Pereira,­Suzana­Pasternak,­Yvonne­Mautner­sob­a­coordenação­de­Ermínia­Maricato.­

(10)­Iniciado­entre­1968­e­1969,­“O­canteiro­e­o­desenho”­seria­concluído­em­1975­e­finalmente­pu-
blicado­em­1979.

(11)­O­texto­citado­(Artigas,­1975),­publicado­originalmente­pelo­GFAU,­foi­apresentado­pelo­profes-
sor­em­março­de­1967­como­Aula­Inaugural­da­FAU-USP.

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ermínia maricato

(12)­O­processo­de­trabalho,­grande­ausente­na­produção­intelectual­brasileira­sobre­habitação,­tem­
sido considerado como elemento-chave para a compreensão da produção do ambiente cons-
truído­pela­BISS­–­Barttlet­International­Summer­School­–­sediada­na­University­College­London.­
Ver a respeito seus Proceedings.

(13)­Na­primeira­metade­dos­anos­70,­os­recursos­do­BNH­destinados­a­obras­de­infraestrutura­ur-
bana foram ampliados, enquanto que a construção de moradias perdeu espaço no orçamento.
Esse­movimento­deveu-se,­provavelmente,­ao­poder­de­influência­das­empresas­de­construção­
pesada.­A­partir­de­1976,­o­movimento­se­inverte.­Ver­a­respeito­Maricato­(1987).­­

(14)­Palestra­proferida­na­FAU-USP,­dia­29/3/2007.

(15)­Os­autores­consultados­para­a­construção­desse­quadro,­além­de­Nilton­Vargas,­foram­Lojkine­
(1977),­Topalov­(1974),­Lipietz­(1988),­Harvey­(1982),­Ball­(1986),­Ball­e­outros­(1988).­Dentre­os­
autores nacionais que abordaram a produção e ou a provisão da moradia levando em conside-
ração­a­construção,­além­de­Vargas,­estão:­Ferro­(1972),­Oseki­(1982),­Maricato­(1984),­Pereira­
(1984),­Tavares­(1989),­Mautner­(1991),­Ribeiro­(1996)­e­Castro­(1999).­O­professor­Celso­M.­
Lamparelli­introduziu­essa­abordagem­teórica­no­Curso­de­Pós-Graduação­da­Escola­de­Enge-
nharia­de­São­Carlos­ainda­na­década­de­70.­

(16)­Não­podemos­esquecer­que­mesmo­atuando­como­freio­ao­aumento­da­produção­devido­à­dis-
puta­por­rendas­imobiliárias­a­propriedade­da­terra­não­constitui­uma­irracionalidade­ao­modo­
de­produção­capitalista­como­argumentaram­alguns­autores.­É­ela­que­permite­a­apropriação­
dos lucros na produção da moradia assim como a propriedade dos meios de produção permitem
a­apropriação­dos­lucros­industriais­(Martins,­1983).

(17)­Segundo­Ball,­a­predominância­de­um­agente­sobre­os­outros­no­processo­de­produção­somente­
48 será­identificada­a­partir­de­análises­específicas­sobre­realidades­concretas.­Nesse­sentido,­Ball­
discorda­das­teses­defendidas­por­intelectuais­franceses,­como­Topalov­(1974)­e­Lojkine­(1977),­
sobre­a­supremacia­determinante­do­promotor­imobiliário­ou­do­capital­financeiro­sobre­a­pro-
visão­das­edificações­(moradias,­comércios,­serviços).­No­Brasil,­o­papel­dos­ganhos­rentistas­
fundiários­e­imobiliários­(proprietários­de­terra­e­incorporadores)­têm­uma­predominância­sig-
nificativa,­como­veremos­adiante.

(18)­No­mesmo­texto­Harvey­lembra­que­a­propriedade­da­moradia­pode­dividir­e­opor­trabalhado-
res, pois aqueles que a possuem interessam-se pela valorização do seu imóvel e os que não a
possuem interessam-se pelo seu barateamento.

(19)­Não­temos­os­dados­rigorosos­sobre­a­produção­informal­da­moradia­(favelas,­loteamentos­ile-
gais­e­cortiços)­nas­cidades­brasileiras­e­sabemos­que­o­IBGE­subdimensiona­a­medição­da­mo-
radia­“subnormal”.­Alguns­estudos,­entretanto,­permitem­afirmar­que­estamos­diante­da­maio-
ria­ou­de­aproximadamente­metade­dos­domicílios­nas­grandes­cidades:­Andrade­(1998);­Castro­
e­Silva­(1997),­Souza­(1999).­­­

(20)­Maricato­e­Pamplona,­1977

(21)­Ver­a­respeito­Ball­et­al.­(1988).

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Recebido em dez/2008
Aprovado em mar/2009

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