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A transposição do rio Mosa

Cláudio Ricardo Hehl Forjaz *

Resumo
O presente artigo versa sobre a transposição do rio Mosa pela 7a Divisão Blindada (panzer), durante a Guerra
Relâmpago (blitzkrieg) alemã na campanha da França, em 1940. Desse caso histórico da Segunda Guerra Mundial tiramos
ensinamentos acerca de liderança, dos princípios de guerra e de outros aspectos importantes para os estudiosos de assuntos
de defesa.
Palavras-chave: Segunda Guerra Mundial. Transposição de curso d'água. Divisão blindada.

1 Introdução Quando a guerra começou, em setembro de 1939, o

O Século XX foi marcado por significativas
transformações em todos os campos do poder. No
âmbito militar, a 2a Guerra Mundial (1939/1945), maior
conflito da História da Humanidade, foi também o
que mais deixou reflexos profundos não só na
Estratégia e na Tática, como também na Doutrina de
todas as forças armadas do planeta. Dentre as muitas
batalhas que ocorreram nesse evento, as do Teatro
de Operações da Europa Ocidental merecem
especial atenção por se destacarem as operações
ofensivas, em especial as que se caracterizaram pelo
aproveitamento do êxito e na perseguição.
efetivo do Exército alemão só era superado pelo das
forças aliadas. Nos meses que se seguiram, a
Alemanha invadiu e conquistou a Polônia, Dinamarca e
Noruega, sem contudo, ser ameaçada em suas
fronteiras.
A 10 de maio de 1940, a Wehrmacht (Forças Armadas
Alemãs) iniciaria sua ofensiva geral contra a França,
Bélgica, Holanda e Luxemburgo (Mapa 1). Com seu
esforço principal partindo das Ardenas, as forças
germânicas infletiriam até o Canal da Mancha pelo
flanco exposto do adversário, cortando ao meio o
dispositivo aliado e isolando o grosso das forças
francesas e britânicas na Bélgica.

Mapa 1: Plano de ataque alemão

Fonte: MacKsey (1974).

O sucesso da operação dependia de uma manobra

* O Ten Cel Cláudio Ricardo Hehl Forjaz é Mestre História
Militar pela ECEME e em Operações Militares pela Escola
de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO). Formado em
Engenharia pela AMAN, Turma de 1986. Na EsAO
desempenhou as funções de Instrutor da SECODAS e de
Comandante do Curso de Engenharia. Atualmente é o Chefe
da Seção de Pós-Graduação.
rápida através do maciço florestal, surpreendendo o
inimigo com uma bem sucedida transposição do rio
Mosa. A surpresa definiria o destino da campanha.
No contexto da manobra do Grupo de Exércitos A,
responsável por aquela parte da zona de ação

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germânica, estava a 7a Divisão Blindada (Panzer),
enquadrada no XV Corpo Blindado, do General Hoth,
que por sua vez estava enquadrada no 4° Exército de
Campanha germânico. A missão da divisão era realizar uma
marcha para o combate através das Ardenas, passando
por Luxemburgo e pela Bélgica, a fim de realizar um
ataque coordenado na linha do rio Mosa, capturando
regiões de passagem entre as localidades de Givet e
Namur. Em seguida, romperia o centro do dispositivo do
IX Exército de Campanha francês, conquistando a
região do platô de Greuse, próximo à cidade de Flavion,
e, em aproveitamento do êxito a partir de Flavion,
atingiria Phillipeville e outros objetivos
objet mais
profundos, em perseguição aos remanescentes do
exército aliado cercado.
2 Operações
estratégica cidade de Liege e balizada pelo rio Our.
Prosseguiu avançando pela porção setentrional desse
país em direção ao seu primeiro objetivo: a localidade
belga de Dinant. Essa marcha para o combate
assegurou aos atacantes vantagens que facilitariam as
operações futuras contra os aliados.
Na jornada seguinte a 7a Divisão Panzer travou seu
primeiro combate, ao realizar uma travessia de
oportunidade no Rio Outhe, varrendo a ligeira
oposição belga, dispersando
rsando os remanescentes. Isso
possibilitou-aa alcançar Dinant, a 12 de maio, para
surpresa e consternação dos que a defendiam. Ali a
divisão divisou o Rio Mosa (ou Meuse). Estava diante
do seu primeiro grande desafio na campanha. Teria
que enfrentar agora as divisões do IX Exército de
Campanha francês do General Corap e cujo posto
de comando estava em Vervins.

Às 5 horas e 32 minutos
de 10 de maio, depois de
realizar uma marcha
administrativa por fer-
rovia da Turíngia, região
ocidental da Alemanha
para perto da tríplice
fronteira belgo-germano-
luxemburguesa, na movi-
mentada e boscosa re-
gião das Ardenas, a 7a Di-
visão Panzer partiu em
marcha para o combate
rumo ao oeste.

Ela era composta por ele-

mentos blindados [25° Fotografia 1: Alemães avançam por Luxemburgo após realizarem uma travessia de
Regimento de Carros de oportunidade.
Fonte: Williams (1974).
Combate (a 3 batalhões
de carros de combate) e
o 37° Batalhão de Reco-nhecimento],
nhecimento], de infantaria (6a 2.2 A batalha do Mosa
e 7' Regimentos de Infantaria Blindados e o 7° Batalhão
(13 a 15 de maio de 1940)
de Motociclistas),
s), de artilharia [78° Regimento
Re de
Artilharia de Campanha (a 3 batalhões, cada a 3
Na noite de 11 para 12 de maio o grosso dos elementos
baterias) e 42° Batalhão de Artilharia Anticarro]
Anti e de
engenharia (58° Batalhão de Pioneiros). da força de cobertura do exército de campanha
francês (1'' e 7 Divisões de Cavalaria francesas) foi
acolhido no limite anterior da área de defesa avançada
do IX Exército lançada para defender o corte do Rio
2.1 Marchando para o combate Mosa.

Violando a neutralidade da Bélgica, essa grande

grand Antes do esperado a pressão dos blindados alemães
unidade atravessou a fronteira belgo-alemã
alemã ao sul da se fez sentir. Principalmente porque o Alto Comand
Comando

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francês contava que sua força de cobertura tunidade. Percebendo o impasse que havia em seus
retardasse os alemães por quatro ou cinco jornadas, homens e o custo do atraso para a manobra geral do
mas eles só o fizeram em duas. corpo de exército que compunha, o general teutônico
foi até a linha de contato onde, após um breve
Tomando conhecimento da real situação das tropas
reconhecimento, descobriu um local ideal para
francesas empenhadas na defesa do corte do Rio
travessia, um caminho através de uma represa, ele
Mosa, os comandantes alemães resolveram tentar
estava a 6 Km ao norte da barragem da eclusa Nr 5,
uma travessia de oportunidade. Devidamente
perto da ilha de Houx.
autorizados, receberam ordem para atacar ao
amanhecer do dia 13 de maio. Como os elementos que defendiam a passagem, uma
companhia do 66° Regimento de Infantaria francês,
A experiência em combate lhes ensinara que um haviam detido a vanguarda do 7° Batalhão de Moto Moto-
ataque precipitado comportava certos inconvenientes, ciclistas, o chefe germânico ordenou que se ateasse
mas estes seriam compensados pela surpresa em si fogo a algumas casas, de modo que a fumaça sse trans-
mesma e pela intervenção maciça dos bombardeios de formou numa cortina de proteção, suficientemente
mergulho que dariam um excelente apoio de fogo capaz de cegar os observadores avançados de ar ar-
adicional. O tempo era tão limitado para transmissão de tilharia.
ordens que alguns generais, desarquivaram
sarquivaram ordens de
operações de exercício e somente mudaram as datas e Percebendo que os motociclistas estavam se infil infil-
as zonas de ação de seus elementos subordinados.
subor trando pela barragem da eclusa, o comando da 18'
Rommel empregou em primeiro escalão os dois Divisão coordenou fogos com a grande unidade
regimentos de infantaria blindada, o batalhão de vizinha, a 5' Divisão de Infantaria Motorizada. 1.200
reconhecimento divisionário e o de motociclistas,
moto granadas lançadas sobre a eclusa finalmente a
devidamente apoiados pelo 78° Regimento de destruiu. Restava agora à 7a divisão tentar transpor o
Artilharia de Campanha, mantendo na reserva seus Mosa em outro lugar.
carros de combate.
Assim, cada vez mais infantes alemães iam transpondo o
curso d'água e conquistando as primeiras linhas de altura
na margem inimiga. Isso propiciava proteção suficiente
2.3 A travessia do rio Mosa aos engenheiros para construírem portadas e pontes.
Na manhã de 13 de maio, tão logo perceberam a
intenção dos pequenos grupos de elementos de reco-
reco
nhecimento da 7a Divisão Panzer em transpor o rio,
os poucos elementos do 2°
Corpo de Exército francês
que faziam frente à divisão
de Rommel tomaram posição
e abriram fogo sobre o
adversário. O pesado fogo de
artilharia dos aliados impediu as
diversas tentativas de
transpô-lo com infantaria em
botes de assalto.
Desde os instantes iniciais da
invasão da bélgica, rommel
conduziu e incentivou seus
guerreiros do seu posto de
comando tático localizado
junto aos elementos de pri- Fotografia 2: Alemães transpõe o rio Mosa.
meiro escalão. Isso o permitiu Fonte: Simpson (1987).
decidir com acerto e opor-

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Logo alguns blindados atravessaram o caudal, Tão logo conseguiu um poder de combate compatível,
apoiando pela infantaria do 7° Regimento de Infantaria Rommel contra-atacou com carros de combate,
Blindada e pelo 42° Batalhão Anti-Carro na conquista de apoiados pela infantaria blindada, e venceu o oponente. Se
Bouvignes, abrindo caminho para o platô de Houx. Ao reagrupando na região de Bouvignes, ela limpou a área
meio dia, os teutônicos se infiltravam nos bosques de do platô oeste do rio com seus fuzileiros e
Grange e de Survinvaux. A cabeça de ponte já motociclistas, na primeira metade do dia 14 de maio.
alcançava cinco quilômetros de largura por quatro de A 18' Divisão de Infantaria francesa, sua oponente,
profundidade. foi praticamente que aniquilada. Poucos remanes-
centes conseguiram alcançar as novas linhas de
Como a 7a Divisão Panzer foi a primeira grande
defesa, mais a oeste. Desse modo, em meados
unidade alemã a transpor o Mosa, foi também a
daquela tarde a 7' Divisão Panzer havia consolidado
primeira a sofrer um contra-ataque de vulto levado a
sua cabeça de ponte.
cabo pelos defensores. Inicialmente foram elementos
do 2° Batalhão do 129° Regimento de Infantaria, A construção de pontes de equipagem nas cercanias
reforçados pela reserva do corpo de exército, o 14° de Dinant pelos pontoneiros do 58° Batalhão de
Regimento de Dragões. Engenharia alemão possibilitou uma nova região de
passagem, onde transitou o restante dos blindados e
Ao saber que sua ponta de lança fora detida, Rommel o apoio logístico da divisão. A transposição do Rio
reviu sua situação e resolveu intervir. Caso os
Mosa pela 7a Divisão Panzer foi concluída nas pri-
blindados franceses que haviam detido os desgastados meiras horas do dia 15 de maio.
infantes alemães em Greuse os vencesse, estariam
prontos a investir pelo vale do Mosa, recalcando suas Rommel e seus homens haviam rompido as linhas
tropas de volta à linha de partida. A solução seria francesas e penetrado fundo no dispositivo aliado.
empregar a reserva. Restava agora o aproveitamento do êxito.

Rommel imediatamente ordenou que todo o 25°

Regimento de Carros de Combate fosse transposto 2.4 A 7a Divisão Panzer parte para o
para a segunda margem ainda à noite, bem como seu
aproveitamento do êxito
batalhão de canhões anti-carro. Para constituir uma
nova reserva, o chefe teutônico hipotecou um batalhão
Na noite de 13 para 14 de maio, diante da situação o
de infantaria blindado e foi com seu posto de comando
comandante do citado exército de campanha aliado
tático para a segunda margem.
decidiu evacuar suas posições defensivas no corte do
O amanhecer do dia 14 de maio começou com um Mosa e retrair cerca de 24 Km para o oeste, para nova
feito das armas francesas que mostrou que se linha de defesa localizada a leste de Phillipeville, a que
tivessem lutado resolutamente, provavelmente o chamaram Linha de Deter Intermediária Phillipeville -
destino da campanha tivesse sido outro. O regimento Mariembourg. A 1 Divisão Leve de Cavalaria faria a
a

de dragões atacou elementos do batalhão de ação retardadora.

motociclistas, maltratando-os o suficiente para
Ao perceberem a intenção dos franceses, os alemães
expulsá-los dos bosques de Greuse e seguir no encalço rapidamente os atacaram com seus carros de
dos remanescentes. combate, rompendo as posições de bloqueio do rival
e penetrando no seu fraco dispositivo defensivo.
Ao chegarem perto do rio, os franceses descobriram Impulsionado por seu comandante, a divisão chegou
onde os alemães se encontravam. Ato contínuo, à localidade de Onhaye, conquistando-a.
ordenaram a sua artilharia para concentrar fogos ali,
obrigando Rommel a abandonar a posição com Abriu-se então um descampado que atraía os mais
pesadas baixas. O próprio comandante germânico foi audazes. E não poderia ser diferente. Os subordinados
ferido no rosto e quase capturado pelos franceses. de Rommel aproveitavam a oportunidade e
aumentaram a pressão sobre o inimigo. Aos poucos
Mas os defensores não conseguiram prosseguir no os defensores foram sendo desbordados e envolvidos.
contra-ataque face à resistência a eles imposta pelos
soldados alemães. Isso possibilitou que continuassem O movimento retrógrado foi aos poucos se trans-
transpondo seus carros de combate. formando em debandada, em especial pela ação

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eficaz de elementos da Força Aérea teutônica sobre
as tropas em marcha, sobre os reforços e sobre as
intermináveis colunas de refugiados que congestio-
navam as vias de acesso. Em aproveitamento do êxito, a
7a Divisão Panzer começou a passar por material
abandonado em número cada vez maior, bem como
a capturar quantidade substancial de inimigos.
O General Rommel então determinou que sua
vanguarda (25° Regimento de Carros de Combate)
rapidamente se livrasse das unidades adversárias
espalhadas, deixando a missão de vencer os bolsões
de resistência com a infantaria que compunha a força
de acompanhamento e apoio e rumasse rapidamente
para Phillipeville.
Seguindo na esteira dos boinas negras de Rommel iam
a 5a Divisão Panzer e a 32a Divisão de Infantaria,
aproveitando as regiões de passagem recém
consolidadas. Tendo a 7a Divisão Panzer ao centro,
como ponta de lança e um dia à frente das demais, os
carros de combate de Rommel lideravam o
aproveitamento do êxito. Assim rapidamente os
blindados do XV Corpo de Exército Panzer foram
ganhando terreno e numa série de movimentos através
dos eixos de progressão foram se infiltrando no meio
do dispositivo do desorganizado IX Exército de
Campanha francês.
Comandando de seu posto de comando tático localizado
o mais próximo possível da vanguarda, o general

germânico adotou linhas

de controle, que chamou
de Stosslinie para poder
melhor coordenar sua
manobra. Quando iden-
tificava uma resistência,
determinava que todas as
armas disponíveis concen-
trassem fogo sobre ela antes
de a assaltar, reduzindo
assim o tempo gasto na
ação e o número de baixas,
pois o fogo diminuía muito o
poder de combate do ad-
versário.

Outras inovações que de-

ram ritmo novo ao seu a-
vanço foram o de des-
centralizar o apoio de fogo,

Mapa 2: A 7ª Divisão Panzer parte em aproveitamento do êxito

Fonte: Simpson (1987).
Avançando a uma velocidade média de 40 Km por hora, a
7a Divisão Panzer surpreendeu seu oponente, chegando a
6,5 Km de Phillipeville. Nessa altura a coluna de
reconhecimento da divisão teve um combate de
encontro em seu eixo de progressão.
A luta foi rápida e os motociclistas galeses foram
aniquilados, tendo seus remanescentes se rendido. Os
outros focos de resistência organizados com elementos
da 4' Divisão de Infantaria Norte Africana, da la Divisão
Leve de Cavalaria e da 18' Divisão de Infantaria em
Anthée e em Morville, só caíram no final da jornada.
tanto terrestre como aéreo,
e ode simplificar ao máximo
suas ordens, de modo
a ser ter um entendimento claro da missão e dar aos
elementos subordinados liberdade para terem
iniciativa nas suas ações e condutas, muitas delas
obrigadas a serem tomadas sem condições de uma
orientação do escalão superior (SIBLEY; FRY, 1976, p.
51).
O corpo de exército blindado de Hoth avançava com duas
coluna, a 7a divisão seguia pelo eixo de progressão ao
norte, enquanto a 5a ia pelo sul. No caminho
encontraram a la Divisão Couraçada francesa, do
General Bruneau, cuja missão era proteger o flanco
exposto do IX Exército aliado.

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Seguindo para Flavion, os blindados de Rommel
dizimaram a la meia-brigada desta divisão francesa.
Alertado sobre a presença dos carros de combate
inimigos, Bruneau determinou que sua 2a meia-brigada
detivesse os carros de combate alemães que rumavam
para Phillipeville.
Ao meio dia de 15 de maio, o contra-ataque do que
restou da divisão francesa havia acabado, pois os
blindados de Rommel o fixaram enquanto as demais
grande unidades do corpo panzer desbordavam as
posições adversárias, flanqueando-as e obrigando os
aliados remanescentes a retraírem. Diante de tanta
confusão, a infantaria inimiga simplesmente aban-
donou seu armamento e debandou em todas as
direções.
Mais uma vez a sorte acompanhou os audazes. Além
de vencer divisões de cavalaria e de infantaria, a 7a
Divisão Panzer havia batido uma similar em campo
de batalha, no que ficou registrado como o primeiro
grande encontro de carro de combate no Front
Ocidental.
No final do dia, os boinas negras de Erwin Rommel
findaram a ocupação de Phillipeville sem problemas.
Avançando em aproveitamento do êxito, a 7a Divisão
Panzer rompeu, perto de Sivry, próximo à fronteira
franco-belga, uma linha defensiva aliada apres-
sadamente estendida e alcançou as cercanias de
Avesnes, perto de 15 Km a sudoeste de Sivry. Estava
aberto o caminho para a perseguição.
2.5 Perseguição até a Linha
Maginot
Aos poucos as ordens deixavam de ser baseadas em
missões táticas para descambarem para o desespero
como resistir a qualquer custo. Temendo pelo pior, o
comandante-em-chefe aliado destituiu Corap e para o
seu lugar designou o General Giraud, que assumiu o
comando do IX Exército em meio ao mais dantesco
caos, no final da jornada de 15 de maio.
Enquanto os aliados tentavam salvar seu exército de
campanha do aniquilamento, os alemães corriam para
Lidernça Militar
cercá-lo e dar cabo aos seus remanescentes antes
que reforçassem a Linha Maginot, numa típica ação
de perseguição.
Em Phillipeville, Rommel recebeu ordens para abrir
passagem pelas fortificações da Linha Maginot que
existiam a oeste dessa localidade. Nessa posição
fronteiriça entre a Bélgica e a França, mais pre-
cisamente entre os dois conjuntos do setor fortificado
de Maubeuge e a floresta de Saint-Michel, havia três
passagens através da zona boscosa que eram
particularmente importantes: as de Solre-Le-Château, a
de Trelon e a de D'Anor. Competiria à 7' Divisão
Panzer arremeter sobre a primeira delas, localizada a
cerca de 10 Km a oeste de Sivry.
Para os germânicos, se conquistassem essas regiões de
passagem certamente destruiriam o IX Exército de
Campanha francês, bem como outras unidades aliadas
que se encontrassem no bolsão do Mosa. Ciente
disso, o Alto Comando do Exército (Oberkommando der
Heer - OKH), responsável por coordenar o
aproveitamento do êxito até o Atlântico, ordenou que
as divisões blindadas, dentre elas a 7a, liderassem a
perseguição.
Mais uma vez, como a velocidade dos carros de com-
bate alemães era maior que a reação dos franceses,
nem todas as casamatas foram devidamente
ocupadas pelos aliados. Mesmo assim, essas posições de
bloqueio, aliados ao terreno montanhoso e aos
bosques existentes, forçavam os alemães a em-
pregarem toda a sua astúcia e disciplina para vencer
esses obstáculos e o fogo que lhes acrescia o valor.
Foi então que o general alemão resolveu empregar um
estratagema original. Determinou que seus veículos
seguissem pelas estradas penetrantes sem disparar e
com as tripulações acenando com bandeiras brancas.
Os franceses ficaram tão espantados e descon-
certados com aquela cena que não se aperceberam
do perigo que corriam. Sem qualquer reação do
adversário os teutônicos ultrapassaram as primeiras
defesas do inimigo e conseguiram se posicionar de
forma a assaltar as casamatas com pioneiros empre-
gando lança-chamas e cargas colocadas nos orifícios
das canhoeiras para desalojar os defensores.
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mas o crescente número de

prisi
prisioneiros e de material
capturado, bem como o
estado moral da tropa, era
indício suficiente para
demonstrar que os aliados
não estavam em condições
psicológicas para arreme
arreme-
terem contra a divisão,
justificando assim sua de de-
cisão de prosseguir no apro
apro-
veitamento do êxito.
O General Erwin Rommel
estava certo, pois nessa ação
ele perdeu somente 35
soldados mortos e teve 59
feridos, tendo sua divisão
capturado mais de 10.000
franceses, 100 carros de
Fotografia 3: Uma granada explode próxima à viatura do General Rommel, enquanto combate, 30 viaturas blinblin-
esse estava em perseguição aos franceses remanescentes. dadas e 27 canhões.
Fonte: MacDonald (1989).

O apoio de fogo da artilharia e dos carros

car de combate
selou o destino dos defensores de Solre-Le-Château,
Solre
bem como dos focos de resistência localizados nas
aldeias vizinhas. O IX Exército de Campanha francês
deixara de existir.
Restava agora para os alemães administrar levas e
levas de prisioneiros de guerra, de material salvado e
capturado e de refugiados. Quanto aos bravos
combatentes blindados de Rommel, novas missões e
novas glórias ainda os esperavam no vale do rio do
Sena e nas praias do Atlântico.
3 Conclusão
Em dois dias a divisão havia percorrido cerca de 80
Km. Suas comunicações estavam muito distendia,
grande parte delas cortando as posições aliadas. Os
espaços entre suas unidades eram preenchidos cada
vez mais por grupos de franceses desmoralizados e
prontos para se renderem.
Ao perceber que haviam ultrapassado a infantaria e a
distância máxima do apoio logístico, os oficiais mais
convencionais do estado-maior
maior da 7a Divisão Panzer
alertaram seu comandante sobre os riscos que corria,
Graças à atuação das divisões blindadas germânicas,
em particular
icular da 7a, agora chamada de "Divisão
Fantasma" pelos aliados, graças a sua habilidade de
aparecer onde e quando era menos esperada, bem
como desaparecer de repente, foi possível aniquilar
todo um exército de campanha francês em prati prati-
camente quatro dias.
Partindo de uma total surpresa estratégica ao avançar
pela floresta das Ardenas e da surpresa tática, ao
aproveitar-se
se dela ao transpor o Mosa, sem estar nas
condições doutrinárias ideais, mas bem empregando
os princípios de guerra, doss fatores da decisão e das
operações combinadas, os alemães decidiram o
destino da campanha praticamente no seu início.
Com divisões volatizadas desde as primeiras linhas de
defesa até as últimas zonas de reunião, com
soldados perambulando sem destino e se sem comando,
com chefes incapazes de decidirem ou de se
aperceberem da situação in loco, os aliados perderam um
exército de campanha naquela faixa do front, sem contar
que os holandeses já tinham deposto armas e os belgas
já cambaleavam vacilantes diante das arremetidas
germânicas. Mas, na França, essa primeira fase da
campanha acabara com méritos para o atacante, mas seria
no seu prosseguimento que a estrela de Rommel
brilharia ainda mais, em especial por que a 7a

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Divisão Panzer conquistaria nos campos de batalha a
reputação de melhor grande unidade do Exército
Alemão.
O presente caso histórico da ofensiva alemã foi
escolhido por guardar semelhanças físicas do terreno
escolhido: o Maciço das Ardenas com a Serra da
Mantiqueira e o Vale do Mosa com o Vale do
Paraíba. Assim, em ambos há um terreno mo-
vimentado, com muitas áreas boscosas; poucas, mas
boas penetrantes; e localidades de pequeno e médio
porte.
No aspecto operacional, há associação dos feitos da
7a Divisão Panzer alemã com a 5' Brigada de Cavalaria
Blindada, pois serve de parâmetro para nosso exercício,
onde esta grande unidade realiza um
aproveitamento do êxito e perseguição.

The crossing of the Mosa River

Abstract
This article discusses the 7th Armored Division (Panzer) crossing of the Mosa River during the 1940 German
Blitzkrieg in the French Campaign. From this WW II case history, we derive lessons learned regarding
leadership, the Principles of War and other aspects important to the conduct of the defense.

Keywords: WW II. Military River Crossing. Armored Division.

Referências

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