2014
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Direito Comparado
1. Visão Panorâmica
1.1. Inglaterra
i. Sir Edward Coke
ii. Supremacia do Parlamento
1.2. EUA
i. Desconfiança no Legislador
ii. Caso Marbury vs. Madison – 1803
iii. Controle Difuso e Incidental
iv. Princípio da Nulidade
1.3. França
i. Valor Político da Constituição
ii. Desconfiança no Juiz (originalmente)
iii. Controle Político e Preventivo
iv. Questão Prioritária de Constitucionalidade
2. Caso Inglês
2.1. Lord Edward Coke
Lord Edward Coke, no caso Bonham (início do séc. XVII), entende que o
Common Law é superior às leis, que serão nulas se contrárias àquele.
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Coke entende que a lei contrária à Common Law é nula, o que é a base do
controle de constitucionalidade. Ocorre que durante a Revolução Gloriosa foi firmado
o entendimento de que a supremacia é do Parlamento. Portanto, o que o Parlamento
estabelecesse teria hierarquia superior.
A supremacia do Common Law aqui não significa que as leis são nulas se
contrárias ao Common Law, mas que este deve ser formado pelas leis e decisões
judiciais.
Chega-se à conclusão de que não há um mecanismo de controle de
constitucionalidade na Inglaterra. Exatamente porque não há a ideia de supremacia da
Constituição, mas sim supremacia do Parlamento.
Logo, o modelo inglês clássico não prestigia o controle de constitucionalidade. É
muito comum alguns livros afirmarem que na Inglaterra há uma ausência de controle.
Apesar de a Inglaterra não possuir modelo próprio de controle de
constitucionalidade, o modelo de Coke vai influenciar sobremaneira a doutrina
estadunidense.
Portanto, conclui-se que não há tradicionalmente um mecanismo próprio de
controle de constitucionalidade na Inglaterra. Entre os principais motivos estão a
supremacia do Parlamento e o fato de a Constituição inglesa ser não escrita e ser
flexível. De fato, a rigidez constitucional é pressuposto do controle de
constitucionalidade.
Atualmente, afirma-se que na Inglaterra existe o controle de comunitariedade,
que é a verificação da compatibilidade entre as normas inglesas e o direito
comunitário europeu, isto é, aquele emanado da União Europeia.
As normas inglesas devem estar em consonância com aquelas dos Estados-
soberanos membros da União Europeia.
3. Modelo Americano
3.1. Colônias Inglesas
As colônias eram regidas por Cartas e poderiam elaborar suas próprias leis,
desde que razoáveis e não contrárias ao Direito inglês.
Ideia de que as normas elaboradas pelas colônias deveriam guardar
compatibilidade com o direito inglês.
3.2. Supremacia do Parlamento Inglês
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lógica era que o partido pudesse se manter forte na política, ainda que sem a
presidência.
Adams determina a seu Secretário de Estado, John Marshall, que preencha
esses cargos. Na véspera da mudança de governo, Marshall vai nomear simpatizantes
para ocupar os cargos recém-criados.
Ocorre que os nomeados na véspera da mudança de governo acabam por não
tomar posse. Dentre os nomeados e não empossados estava Willian Marbury.
Com a mudança de governo, Thomas Jefferson – o novo presidente – nomeia
James Madison para ser o secretário de Estado. Madison não empossa os nomeados
pelo governo anterior. Dentre eles estava Marbury, que propõe ação contra Madison
perante a Suprema Corte americana.
Um detalhe que agrava a situação é que, pouco antes da mudança de governo,
ficou vaga a presidência da Suprema Corte americana. O então presidente Adams
nomeou seu ex-secretário de Estado, John Marshall, para presidência da Suprema
Corte1.
Portanto, quando da mudança de governo, Marshall era o presidente da
Suprema Corte. Quando o caso Marbury v. Madison vai ser decidido, quem está
presidindo a Suprema Corte é Marshall, que, no passado, quando era Secretário de
Estado do governo de John Adams, havia nomeado Marbury.
Ao observar as implicações políticas que poderiam surgir, o presidente Thomas
Jefferson se manifesta no sentido de exercer pressão sobre a decisão da Suprema
Corte.
Chega, então, o momento de Marshall decidir.
3.6.2. A decisão de Marshall
Marshall separa sua decisão em três partes, que correspondem a três
perguntas: (i) Marbury tem direito a tomar posse e entrar em exercício? (ii) Existe
alguma ação para proteger seu direito? (iii) É a Suprema Corte americana competente
para julgar o caso?
Às duas primeiras perguntas, a respostas é afirmativa. Portanto, Marbury tinha
o direito e existia ação para proteger esse direito. A resposta à terceira pergunta é
negativa e se afigura mais relevante.
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Nos EUA o presidente da Suprema Sorte é denominado Chief Justice, sendo o cargo de livre nomeação
pelo presidente da República.
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Quando Marbury propõe a ação contra Madison, isso é feito com base numa lei
que ampliou a competência da Suprema Corte americana. Marshall vai defender a tese
de que a competência da Suprema Corte é definida pela Constituição, não podendo a
lei infraconstitucional ampliá-la. Portanto, a lei estaria contrária à Constituição,
afrontando-a.
Antes de chegar à conclusão, Marshall vai desenvolver duas linhas de raciocínio
antagônicas.
A primeira tese sustenta que o juiz aplica a lei e não a Constituição. Logo, se a
lei é contrária à norma constitucional, deveria ser aplicada a lei em detrimento da
Constituição. Então, significa que o Legislativo é superior aos demais Poderes e
superior à própria Constituição.
Em suma, dizer que o juiz deve aplicar a lei em detrimento da Constituição
significa dizer que a lei se sobrepõe à Constituição;
Já a segunda tese desenvolvida por Marshall sustenta que não é possível
conceber a ideia de que o legislador se sobrepõem aos demais Poderes e à própria
Constituição.
Portanto, o juiz aplica a Constituição porque é norma de hierarquia superior. Se
uma lei é inferior e viola a Constituição, então esta lei é nula.
Com a força dessa segunda tese, Marshall decide que a lei que ampliou a
competência da Suprema Corte era inconstitucional. Logo, a Suprema Corte era
incompetente para julgar.
Com base no caso Marbury v. Madison, o controle de constitucionalidade se
torna judicial.
Observação: não se trata de tese original. Hamilton, no Federalista n. 78, já
esboçava esse segundo argumento. Mesmo não sendo tese original, é o primeiro caso
que adota a tese vencedora, conforme pontos centrais abaixo delineados.
3.6.3. Pontos Centrais
i. Controle Difuso: realizado por qualquer juiz no âmbito de sua regular
competência e independentemente de sua posição na estrutura do judiciário.
ii. Controle Incidental ou Concreto: análise da matéria constitucional no
contexto de um caso concreto.
iii. Princípio da Nulidade: norma inconstitucional é norma nula na origem (ab
ovo).
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4. Modelo Francês
4.1. Revolução Francesa
A revolução marca a superação do absolutismo monárquico pela supremacia do
Parlamento e consagra a ideia de que o poder é limitado pela lei (estado de direito) e
que a lei é emanada da vontade do povo (democracia).
A força predominante, que era a monarquia, passa a ser o Parlamento francês.
Essa ideia de democracia encontra sua manifestação orgânica na Assembleia
Nacional.
4.2. Substituição do Rei pela Assembleia Nacional
Se a lei é elaborada na Assembleia Nacional, ela é resultado da vontade da
maioria e deve prevalecer sobre os demais poderes.
A Assembleia Nacional é composta de representantes do povo. A lei é fruto da
vontade popular e deve ser superior.
4.3. Desconfiança em relação ao juiz: subordinação à lei
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Como um juiz, que não é eleito pelo povo, pode invalidar uma lei elaborada
pelos representantes do povo?
Diferentemente da realidade nos Estados Unidos em que a desconfiança
repousa sobre o legislado, na França essa desconfiança recai sobre o juiz, seja pelos
traços aristocráticos dos juízes, seja pela sua não eletividade.
Razão pela qual se informa a subordinação do juiz à lei, não lhe sendo
outorgado o poder de se opor ou reconhecer sua nulidade por invalidade.
4.4. Judiciário Francês (antes da Revolução)
O Judiciário constituía uma classe aristocrática, cujos cargos eram comprados
ou herdados (modelo do Ancien Régime).
O juiz do antigo regime não tem a devida imparcialidade que o cargo reclama.
4.5. Juiz como Boca da Lei
O Juiz deve ser a boca da lei, o que significa que não tem poder para interpretá-
la ou declarar a sua nulidade.
Se a lei é fruto da vontade da maioria e se há desconfiança no juiz, o
magistrado deve apenas ser a boca da lei.
Importante destacar que a França aplica o modelo dual, composto pela Justiça
comum e pela Justiça administrativa. Trata-se de realidade diferente do modelo inglês
(jurisdição uma), adotado pelo Brasil.
Na França a Justiça comum e a administrativa não poderiam exercer controle
de constitucionalidade, ante a falta de legitimidade.
Observação: hoje é impossível conceber a ideia de que um juiz não pode
interpretar uma lei. Todavia, deve ser feita uma leitura daquele momento histórico na
França, em que se entendia que o juiz deveria apenas ser a boca da lei.
4.6. Legislativo
Diante do exposto, somente o Legislativo tem o poder de criar o Direito.
Na hipótese de conflito entre normas, ausência ou obscuridade, caberia ao
legislativo a realização da interpretação autorizada.
Enfim, somente o Legislativo poderia criar e interpretar as normas.
4.7. A Lei
As leis deveriam ser claras, objetivas e completas, para evitar a interferência do
juiz (as leis deveriam ser a prova de juízes).
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5. Modelo Austríaco/Europeu
O modelo foi desenhado a partir da influência de Hans Kelsen, sendo a
Constituição da Áustria de 1920 a primeira a adotar o modelo.
5.1. Concepção formalista
Kelsen defende uma teoria escalonada do ordenamento jurídico2, segundo a
qual o ordenamento jurídico está estabelecido em camadas hierárquicas em que cada
norma busca seu fundamento de validade na norma imediatamente superior.
A validade do ordenamento jurídico é autopoiesis, que significa que o direito
deve ser estudado e compreendido dentro do próprio ordenamento jurídico.
A norma é juridicamente válida se for compatível com a norma superior, tendo
como ápice a Constituição. Caso contrário, a norma deve ser expurgada do
ordenamento jurídico.
Acima da Constituição haveria a norma hipotética fundamental, que é
pressuposta, não escrita. É uma ordem: cumpra-se a Constituição.
Trata-se de concepção formalista e positivista do direito.
No modelo austríaco, a declaração de inconstitucionalidade equivale a uma
função de legislador negativo, função esta eminentemente política, de acordo com
Kelsen. Portanto, qual o órgão legitimado para exercer o controle de
constitucionalidade? Kelsen afirma ser a Corte Constitucional.
5.2. Corte Constitucional
Como órgão competente para verificação da compatibilidade entre as leis e a
constituição, cria-se a Corte Constitucional, estabelecendo o sistema concentrado.
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O estudo aprofundado da teoria de Kelsen será realizado ao longo do curso, na etapa de Teoria da
Constituição.
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