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Parte 01

A EXIGÊNCIA
DA CRIATIVIDADE
E DA INOVAÇÃO
NO MUNDO
DO TRABALHO
Tema

03
01
CRIATIVIDADE
PARA A INOVAÇÃO
Caro estudante, seja bem-vindo aos es-
tudos sobre criatividade e inovação. Nesta pri-
meira parte vamos compreender a necessidade
da criatividade no mundo globalizado. Primei-
ramente, iremos esclarecer a tendência, cada
vez mais frequente dos indivíduos, precisarem
desenvolver o potencial criativo e inovador na
personalidade e no comportamento profissional.
Também, vamos apresentar as aborda-
gens da filosofia, biologia, psicologia e sociolo-
gia sobre o conceito de criatividade e como esses
conceitos foram se estabelecendo em cada épo-
ca. Na sequência, trataremos de discernir entre
criatividade e inovação e, por fim, apresentare-
mos alguns motivos e objetivos para você treinar
a criatividade pessoal.
O conjunto de conteúdos, aqui descrito,
servirá para ajudá-lo a desenvolver uma postu-
ra criativa no ambiente de trabalho e a percep-
ção da sua própria capacidade e potencialidades
criativas.
1.1 O indivíduo e a criatividade num mundo globali-
zado: habilidades e competências

Atualmente, vivemos em um mundo de contradições em que a mídia


anuncia o desemprego, ao mesmo tempo em que divulga vagas para postos de
trabalho, que dificilmente são preenchidas. Esse fenômeno tem sido considera-
do uma tendência mundial para qualquer que seja a área de atuação profissio-
nal, o que demonstra uma situação, no mínimo desafiadora, para os profissio-
nais ingressantes no mercado.
Resguardando-se às especificidades do cargo ou área profissional das
quais se trata cada uma dessas vagas ociosas, visto que a formação acadêmica
deverá ter dado conta dos conhecimentos e habilidades necessárias, devemos
seguir em busca de um diferencial que possa incrementar o perfil do candidato.
Isto é: quando um avaliador ou recrutador de pessoas tem em mãos currículos
muito parecidos nos requisitos notas e disciplinas, a diferenciação deverá ser
obtida em cima de outros critérios, como o comportamento proativo e a dispo-
sição para o enfrentamento de problemas.
O comportamento de um profissional se reflete na sua postura diante
das situações cotidianas quando o imprevisto e a agilidade na tomada de deci-
sões são primordiais para o sucesso da empresa.
Profissionais que conseguem lidar com o stress e os conflitos no dia
a dia são sempre bem quistos em qualquer ramo de atividade. E, no convívio
social, pessoas bem humoradas e solícitas são queridas por seus familiares e
amigos.

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As qualidades descritas acima como adjetivos do comportamento pes-

CRIATIVIDADE PARA A INOVAÇÃO


soal e profissional estão diretamente relacionadas com a capacidade criativa do
ser humano.
Para compreendermos melhor como reconhecer a capacidade criati-
va, vamos começar entendendo o valor da criatividade no mercado globalizado1
onde atuam as empresas.
Uma empresa, independente de ser uma indústria, comércio, ONG,
sindicato ou prestadora de serviços, deverá apresentar um desempenho admi-
nistrativo capaz de enfrentar as atribulações do mercado, onde interferem regu-
ladores, consumidores, concorrentes e, influenciadores de opinião.
Sabe-se que no mercado globalizado, como é o caso da atual situação
econômica mundial, são exigidos das empresas grandes investimentos em tec-
nologia e know-how2. Para conseguir uma vantagem competitiva as empresas
precisam sair na frente, isto é, precisam inovar em máquinas e equipamentos/
softwares, mas também em processos.
Hoje, as empresas que querem se tornar referência e/ou continuar ga-
rantido seu posicionamento no mercado sabem que precisam preservar:
1) Seu capital estrutural: bens imóveis e equipamentos;
2) Seu capital de relacionamento: clientes, fornecedores e população;
3) Seu capital humano: seus colaboradores;
4) Seu capital intelectual: sua capacidade de gerar conhecimento e ino-
vação no mercado onde atua.

1 Globalização é o nome dado ao conjunto de transformações de ordem econômica, social, cultural


e política que se iniciou no final do século XX. Este fenômeno se intensificou devido à inserção das
novas tecnologias que melhoraram a qualidade dos transportes, facilitando a locomoção rápida de
pessoas pelo mundo e, permitiram a circulação de grande número de informações em tempo real.
Atualmente a globalização permite que os mercados consigam interagir intensamente aproximando
pessoas e mercadorias transformando o mundo em uma “Aldeia Global”.
2 Know-how (inglês) conjunto de conhecimento especializado e colocado em prática. Geralmente este
tipo de conhecimento é resultante da experiência e da habilidade na execução de determinado serviço
(processos, fórmulas ou técnicas) que são construídos ou adquiridos por profissional ou uma empresa.

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Neste momento, percebemos a importância do capital humano, isto é,
da necessidade que as empresas têm de contratar colaboradores qualificados,
comprometidos e empenhados em melhorar ou gerar novos processos e produ-
tos para as companhias onde trabalham.
Começamos pela formação tradicional, aquela que congrega o título
adquirido para exercer uma carreira profissional emitido por uma universidade
reconhecida, como sendo um requisito básico para ter sucesso no mundo glo-
balizado.
Na sequência ou simultaneamente, temos o que chamamos de quali-
ficação profissional, que é formada por um conjunto de conhecimentos adqui-
ridos, como forma de complementar a formação, de maneira a buscar outros
tipos de conhecimento, diferentes dos já aprendidos na trajetória estudantil.
Conforme a área de atuação, a valorização do profissional poderá ser
maior de acordo com os seus conhecimentos teóricos, técnicos e operacionais.
A maioria das empresas aprecia cursos de idiomas, informática e, alguns setores
específicos, o marketing, a logística entre outros.
Geralmente, o setor de recursos humanos considera o currículo e o
portfólio3 como os principais documentos no momento da seleção de pessoal.
Cursos de idiomas, de extensão universitária e, até cursos livres, são comprova-
ções legítimas de autorização para exercer postos de trabalho.
Ao mesmo tempo, essas certificações são primordiais para agregar co-
nhecimentos complementares que precisam ser atualizados frequentemente. O
volume de informações e conhecimentos liberados, a cada dia, é muito grande
e manter-se informado das tendências e novidades da sua área de atuação é
quase que uma exigência que aumenta, quando mais aumenta a demanda de
profissionais no mercado.
Sempre existiu e existirão empresas que investem em capacitação con-
tínua para os colaboradores, como uma maneira de garantir que seus profissio-
nais sejam melhores que os do concorrente. Antes, somente, os profissionais
liberais eram responsáveis por se manter atualizados através de cursos; hoje,
independentemente do modo de atuação, se espera que todo colaborador de-
monstre interesse em estudar sempre.

3 Aqui, portfólio se refere a uma coletânea de todos os trabalhos desenvolvidos no decorrer da expe-
riência de um profissional como projetos, campanhas publicitárias, devidos registros de trabalhos
técnicos entre outros.

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Dessa forma, podemos entender que a qualificação profissional pode

CRIATIVIDADE PARA A INOVAÇÃO


ser percebida em atributos e características que cada indivíduo tem e utiliza
para se destacar no mercado de trabalho. Com isso, é preciso ter compromisso
com o aprimoramento de suas habilidades, como especializar-se em determi-
nadas áreas ou assuntos para executar suas tarefas da melhor forma possível.
A qualificação profissional é um tema de interesse público. Os gover-
nos, de forma geral, criam políticas públicas como forma de alcançar dados es-
tatísticos para elevar o número do nível de escolaridade da população, o que
interfere positivamente em crédito do país e, também, em garantias para em-
préstimos no mercado global.
A qualificação profissional está atrelada ao crescimento econômico4,
que se refere ao aumento da riqueza do país, pois aumenta o nível competitivo
de produtos e serviços, mas também está relacionada ao desenvolvimento eco-
nômico. O desenvolvimento econômico nos interessa em particular para poder-
mos compreender a importância da criatividade e da inovação.
O desenvolvimento econômico tem a ver com a melhoria de vida das
pessoas, isto é, o acesso à saúde, educação, moradia e outras coisas essenciais
que melhorem a qualidade de vida dos indivíduos. O desenvolvimento econô-
mico é para todos e se alcança através de uma construção ou uma parte de um
processo para se atingir um determinado desenvolvimento.
De acordo com Souza (1995), o crescimento econômico, se observado
como uma simples variação quantitativa da renda, não define o desenvolvimen-
to econômico de um país. Este último envolve transformações qualitativas no
modo de vida das pessoas, nas instituições e nas estruturas produtivas. Con-
tudo, o crescimento econômico sucessivo, que resulta no aumento da renda da
população em ritmo superior ao crescimento demográfico e acompanhado de
mudanças de estruturas e melhoria de indicadores econômicos e sociais por in-
divíduo, é o que determina o desenvolvimento econômico.
Os níveis de renda precisam ser considerados não só em termos de
indivíduos (renda per capita), mas também precisam significar mais renda para
um maior número de pessoas. Esse movimento possibilitará que uma maior
parcela da população tenha melhores escolas, segurança, saúde, moradia e ali-
mentação, que são as qualidades de um país desenvolvido.

4 Utiliza-se o PIB (Produto Interno Bruto) para quantificar a atividade econômica de uma região. ele
representa a soma em valores de todos os bens e serviços produzidos no país

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Inevitavelmente, no atual sistema econômico, um elemento que in-
fluencia no nível de renda das pessoas é, com certeza, o rendimento que
provém do trabalho executado por pessoas em diferentes segmentos da ati-
vidade econômica.
A UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ci-
ência e a Cultura; a ONU – Organização das Nações Unidas, o Banco Mundial
e o FMI – Findo Monetário Internacional controlam as políticas públicas mun-
diais para a educação, isto é, determinam parâmetros que devem ser seguidos
principalmente pelos países (193 países-membros da ONU) com a finalidade de
minimizar as desigualdades sociais nem que seja qualificando, minimamente,
a mão-de obra para o mercado capital. No Brasil as influências dessas normati-
vas podem ser identificara no nosso maior documento legislativo educacional a
LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional5.

[...] as Edições Unesco Brasil editou Educação: Um Tesouro a Descobrir.


Relatório da Comissão Internacional sobre a Educação para o Século
XXI, coordenado por Jacques Delors. As teses desse importante docu-
mento não somente foram acolhidas com entusiasmo pela comunida-
de educacional brasileira, como também passaram a integrar os eixos
norteadores da política educacional (WERTHEIN apud MORIN, 2000,
p. 11).

O Relatório em formato de livro de Jacques Delors (1999) descreveu


os quatro pilares da educação contemporânea: aprender a ser, a fazer, a viver
juntos e a conhecer afirmando que estas quatro diretrizes são os principais ele-
mentos que constituem aprendizagens indispensáveis e que devem ser perse-
guidas de forma permanente pela política educacional de todos os países. O
autor critica o ensino da época por estar baseado no aprender a conhecer e, em
menor escala, no aprender a fazer, afirmando que os modelos de aprendizagem
direcionados para aquisição de conhecimentos, raciocínio e execução tem que
ser consideradas, partindo-se de outros domínios mais complexos.

5 Esta legislação estrutura a administração, declara princípios e procedimentos; regulamenta os currí-


culos, o calendário escolar, os conteúdos programáticos e, também a duração dos cursos em território
brasileiro.

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Segundo Delors (1999) ‘aprender a conhecer’ é o tipo de aprendizagem

CRIATIVIDADE PARA A INOVAÇÃO


que tem como objetivo estimular o estudante a compreender e descobrir:

Este tipo de aprendizagem que visa não tanto a aquisição de um reper-


tório de saberes codificados, mas antes o domínio dos próprios ins-
trumentos do conhecimento pode ser considerado, simultaneamente,
como um meio e como uma finalidade da vida humana (DELORS, 1999,
p. 90-91).

Neste caso, a recomendação do autor se concentra em valorizar a auto-


nomia dos indivíduos para que se tornem pessoas capazes de estabelecer relações
entre os conteúdos aprendidos para utilizá-los nas situações vividas. Com isto, as
pessoas poderiam ser levadas a pensar e re-significar o conteúdo aprendido.
No caso de adultos, a universidade deveria servir de estímulo para os
estudantes darem continuidade aos estudos: pós-graduação, mestrado, douto-
rado e pós-doutorado. Como consequência, estas pessoas seriam mais críticas e
analíticas devido ao avanço intelectual.
O segundo pilar ‘aprender a fazer’ é indissociável do primeiro, ou seja,
um depende do outro. Neste tipo de aprendizagem é preciso ensinar o indivíduo
a por em prática os seus conhecimentos e também adaptar seus conhecimentos
ao trabalho futuro:

Aprender a fazer não pode, pois, continuar a ter o significado simples


de preparar alguém para uma tarefa material bem determinada, para
fazê-lo participar no fabrico de alguma coisa. Como conseqüência[sic],
as aprendizagens devem evoluir e não podem mais ser consideradas
como simples transmissão de práticas mais ou menos rotineiras, em-
bora estas continuem a ter um valor formativo que não é de desprezar
(DELORS, 1999, p. 93).

Como dito anteriormente, em face das rápidas mudanças da sociedade,


não se entende mais a formação profissional como definitiva e exclusiva para
que um indivíduo possa realizar determinada função; porque esta função pode-
rá sofrer alterações ou se extinguir.

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O terceiro pilar ‘aprender a conviver’, segundo Delors (1999), é um dos
maiores desafios da educação do século XXI. A impossibilidade da convivência
e da administração de conflitos está marcada por guerras na da história da hu-
manidade. Para o autor, é necessário idealizar uma educação capaz de promover
a convivência entre os diferentes grupos e ensiná-los a resolver suas diferenças
de maneira pacífica.

É de louvar a ideia de ensinar a não-violência na escola, mesmo que


apenas constitua um instrumento, entre outros, para lutar contra os
preconceitos geradores de conflitos. A tarefa é árdua porque, muito na-
turalmente, os seres humanos têm tendência a supervalorizar as suas
qualidades e as do grupo a que pertencem, e a alimentar preconceitos
desfavoráveis em relação aos outros (DELORS, 1999, p. 97).

No seu sentido mais amplo, o quarto pilar “aprender a ser”, evoca o con-
ceito de educação ao longo de toda a vida, isto é, a educação deve contribuir para
o desenvolvimento humano, tanto no aspecto profissional como no pessoal.

Mais do que preparar as crianças para uma dada sociedade, o pro-


blema será, então, fornecer-lhes constantemente forças e referências
intelectuais que lhes permitam compreender o mundo que as rodeia
e comportar-se nele como atores responsáveis e justos. Mais do que
nunca, a educação parece ter, como papel essencial, conferir a todos os
seres humanos a liberdade de pensamento, discernimento, sentimen-
tos e imaginação de que necessitam para desenvolver os seus talentos
e permanecerem, tanto quanto possível, donos do seu próprio destino
(DELORS, 1999, p. 97).

Podemos compreender que ‘aprender a ser’ se refere mais uma vez a


possibilidade da educação fornecer ao indivíduo um nível de autonomia que lhe
permita construir o próprio juízo de valor perante as situações do cotidiano, e
que esse indivíduo tenha competência de escolher alternativas fundadas na sua
visão de mundo.

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Seguindo a mesma abordagem, no ano 2000, a UNESCO publicou a

CRIATIVIDADE PARA A INOVAÇÃO


obra de Edgar Morin, intitulada “Os sete saberes necessários à educação do fu-
turo”, a qual compactua com os ideais (neo)liberais6 e a função social da escola,
aliadas às pedagogias pautadas no lema aprender a aprender.
O referido livro está organizado em sete capítulos. Pela ordem: As ce-
gueiras do conhecimento: o erro e a ilusão; Os princípios do conhecimento per-
tinente; Ensinar a condição humana; Ensinar a identidade terrena; Enfrentar as
incertezas; Ensinar a compreensão; e A ética do gênero humano.

[...] é impressionante que a educação que visa a transmitir conheci-


mentos seja cega ao que é conhecimento humano, seus dispositivos,
enfermidades, dificuldades, tendências ao erro e à ilusão e não se pre-
ocupe em fazer conhecer o que é conhecer (MORIN, 2000, p. 14).

Morin (2000, p.14) também declara o conhecimento como necessidade


primeira do indivíduo como forma de enfrentar os riscos permanentes de erro e
ilusão, inclusive do próprio pensamento em si: “Trata-se de armar cada mente
no combate vital rumo à lucidez”.
A crítica do conhecimento fragmento está baseada no modelo educa-
cional que apresenta os conteúdos em disciplinas isoladas e deve ser substituído
por um modo capaz de operar o vínculo entre as partes e a totalidade dos fenô-
menos em seu contexto. “[...] existe um problema capital, sempre ignorado, que
é o da necessidade de promover o conhecimento capaz de aprender problemas
globais e fundamentais para neles inserir os conhecimentos parciais e locais”
(MORIN, 2000, p. 35).
Na sequência, é preciso entender o ser humano “[...] a educação do
futuro deverá ser o ensino primeiro e universal, centrado na condição humana
[...]. Conhecer o humano é, antes de tudo, situá-lo no universo, e não separa-lo
dele” (MORIN, 2000, p.47). A consequência consiste na necessidade de ensinar
o indivíduo a reconhecer sua identidade terrena. A história planetária “[...] que
se inicia com o estabelecimento da comunicação entre todos os continentes no
século XVI, [...], sem, contudo, ocultar as opressões e a dominação que devas-

6 Segundo Cotrin (2005) neoliberalismo pode ser explicado como um discurso econômico e político
que sugere uma economia com liberdade absoluta de mercado e, que restringe as intervenções do
Estado na economia.

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taram a humanidade e que ainda não desapareceram” (MORIN, 2000, p.15).
Edgar Morin (2000, p. 15) também faz questão de lembrar as incerte-
zas da situação atual: “Seria preciso ensinar princípios de estratégia que per-
mitissem enfrentar os imprevistos, o inesperado e a incerteza, e modificar seu
desenvolvimento, em virtude das informações adquiridas ao longo do tempo”.
O autor enfatiza a necessidade de ensinar a compreensão entre os povos: “[...] o
que significa que o caminho da compreensão entre culturas, povos e nações pas-
sa pela generalização das sociedades democráticas abertas”. Por fim, propõe a
antropoética: uma ética propriamente humana, ou seja, como base para ensinar
a ética do futuro que deve ser considerada como a ética da cadeia de três termos:

[...] indivíduo/sociedade/espécie são não apenas inseparáveis, mas co-


-produtores um do outro. Cada um destes termos é, ao mesmo tempo,
meio e fim dos outros. Não se pode levar em absoluto nenhum deles e
fazer de um só o fim supremo da tríade; esta é, em si própria, rotativa-
mente, seu próprio fim (MORIN, 2000, p. 105).

As duas obras partiram de iniciativas da UNESCO e surgiram como


parte de um conjunto de reflexões da referida instituição com o objetivo de indi-
car parâmetros para a educação no contexto do século XXI em escala mundial.
Há uma relação intencional entre as duas obras que é explicar o que
significa ensinar e aprender no século XXI. São constituídas por eixos comuns
que abrem pressupostos para pensar uma educação integral dos indivíduos.
Vejam que para Morin (2000) e Delors (2999) tanto as instituições como
cada indivíduo em particular são responsáveis pelo processo educativo. Para o
sistema educacional caberia a tarefa de fornecer subsídios de forma a preparar os
cidadãos para atuarem dentro de uma dinâmica social na qual os conhecimentos
se tornam cada vez mais provisórios, pois podem ser superados a qualquer mo-
mento. Ao indivíduo, caberia uma mobilização da própria vontade de conhecer e
aprender e uma próatividade em relação a sua busca de superação intelectual ao
longo da vida e, também, como parte da realização profissional.

A capacidade de adaptação e de aprender a aprender e a reaprender,


tão necessária para milhares de trabalhadores que terão de ser recon-
vertidos em vez de despedidos, a flexibilidade e modificabilidade para

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Tema | 01
novos postos de trabalho vão surgir cada vez com mais veemência.

CRIATIVIDADE PARA A INOVAÇÃO


Com a redução dos trabalhadores agrícolas e dos operários industriais,
os postos de emprego que restam vão ser mais disputados, e tais pos-
tos de trabalho terão que ser conquistados pelos trabalhadores prepa-
rados e diferenciados em termos cognitivos (FONSECA, 1998, p. 307) .

Fica claro, como as preocupações com as constantes mudanças na eco-


nomia global refletem na formação de recursos humanos e, por consequência,
nas competências exigidas pelo mercado de trabalho. Contudo, podemos per-
ceber que na perspectiva de fazer a diferença como profissional no século XXI
envolve descobrir o próprio potencial e a força criativa, tão necessários para o
exercício do ‘aprender a aprender’. Essa abordagem do mercado de trabalho,
tanto para empresários como para os trabalhadores, traz um conceito voltado
para a formação da capacidade adaptativa dos indivíduos.
Segundo Fonseca (1998), o êxito do empresário e do trabalhador no
século XXI terá muito a ver com a maximização das suas competências cogniti-
vas e isso está diretamente relacionado à capacidade de produção que envolve a
complexidade e compromissos de cidadãos com suas técnicas e inventos.
Bem por isso, investir na qualificação pessoal se torna essencial, para
que se possa ter as habilidades necessárias para acompanhar as demandas do
mercado: trabalhar em conjunto com outras pessoas, ser proativo, saber resol-
ver conflitos, ter flexibilidade para agir adequadamente com as novas situações
e, nisso, enquadra-se a emergência da criatividade e da inovação.
No próximo conteúdo iremos saber por que o conceito de criatividade
é multidimensional.

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1.2 A evolução do conceito de criatividade

[...] O principezinho não podia atinar para que pudessem servir, no céu,
num planeta sem casa e sem gente, um lampião e o acendedor de lam-
piões. No entanto, disse consigo mesmo:
- Talvez esse homem seja mesmo absurdo. No entanto, é menos absur-
do que o rei, que o vaidoso, que o homem de negócios, que o beberrão.
Seu trabalho ao menos tem um sentido. Quando acende o lampião, é
como se fizesse nascer mais uma estrela, mais uma flor. Quando o apa-
ga, porém, é estrela ou flor que adormecem. É uma ocupação bonita. E
é útil, porque é bonita.
Quando abordou o planeta, saudou respeitosamente o acendedor:
- Bom dia. Por que acabas de apagar teu lampião?
- Eu executo uma tarefa terrível. É o regulamento - respondeu o acen-
dedor - Bom dia.
-Que é o regulamento?
-É apagar meu lampião. Boa noite. E tornou a acender.
- Mas por que acabas de o acender de novo?
- É o regulamento, respondeu o acendedor.
- Eu não compreendo, disse o principezinho.
- Não é para compreender, disse o acendedor. Regulamento é regula-
mento. Bom dia. E apagou o lampião - Em seguida enxugou a fronte
num lenço de quadrinhos vermelhos
- Eu executo uma tarefa terrível. Antigamente era razoável. Apagava de
manhã e acendia à noite. Tinha o resto do dia para descansar e o resto
da noite para dormir...
- E depois disso, mudou o regulamento?
- O regulamento não mudou, disse o acendedor. Aí é que está o dra-
ma! O planeta de ano em ano gira mais depressa, e o regulamento não
muda!

Fonte: EXUPÉRY, Antoine de Saint. O Pequeno Príncipe. 48. ed. Rio de


Janeiro: Agir, 2001.

22 Criatividade e Inovação
Tema | 01
O texto não explica o que é criatividade, mas é capaz de apontar para as

CRIATIVIDADE PARA A INOVAÇÃO


consequências na vida de um ser humano que se conforma com os problemas e
não produz diante das adversidades. Seguramente, ele nos ajuda a reconhecer
que a criatividade é no mínimo necessária para que possamos pensar de forma
aberta, livre de pré-conceitos e saber que esta atitude vai provocar algum tipo
de mudança.
Definir criatividade é uma tarefa bastante arriscada, porque toda vez
que definimos alguma coisa impomos limites e acabamos por reduzir e perder
sua riqueza e complexidade. Ainda, podemos afirmar que de acordo com a audi-
ência, o assunto criatividade pode se tornar polêmico e até gerar contestações e
muitas controvérsias: devido a opiniões divergentes que acabam brotando des-
tas discussões.
Há bastante tempo o tema criatividade vem sendo debatido e sobre
ele recai considerações sociais, psicológicas e, mais recentemente, têm surgi-
do alguns pensadores e teóricos que se referem a criatividade pela abordagem
cognitiva do processo criativo, não havendo consenso universalmente acei-
to para a criatividade.
Assim, considerando a importância das contradições, mas buscando
um caminho que possa nos ajudar a encontrar um entendimento para dar base
aos nossos estudos, vamos procurar o conceito de criatividade seguindo algu-
mas ideias que foram sendo elaboradas a este respeito ao longo do tempo.
Uma das mais velhas concepções da criatividade é sua origem divina.
Começando pela abordagem filosófica da criatividade, Platão, filósofo grego que
viveu por volta de 427/28 a.C, discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles,
acreditava que nem o conhecimento nem o aprendizado eram importantes para
os poetas. Platão defendia que os poetas criavam seus poemas porque estavam
possuídos por musas, por uma inspiração divina.

Com efeito, o poeta é uma coisa leve, alada, sagrada, e não pode criar
sem sentir inspiração, de estar fora de si e de perder o uso da razão.
Enquanto não receber este dom divino, nenhum ser humano é capaz
de fazer versos ou de proferir oráculos (PLATÃO, 1988, p. 51).

23
Desta forma, Platão quer afirmar que o poder criativo depende do reco-
nhecimento de um inconsciente ou um pré-consciente espiritual.
Na antiguidade também era comum associar a criatividade com a lou-
cura, isto porque o processo criativo parece estar ligado a uma aparente espon-
taneidade ou irracionalidade do indivíduo.
Cesare Lombroso (apud Souza, 2001, p. 15) alegou que “[...] a natureza irra-
cional ou involuntária da arte criadora deve ser explicada patologicamente”. Algumas
pesquisas recentes também relacionam inspiração ao frenesi da loucura. A semelhança
aparece porque em ambos os casos os indivíduos criativos e indivíduos esquizofrênicos
apresentam baixo nível de inibição e são mais receptivos a estímulos externos.
No Renascimento, a criatividade começa a se relacionar com a geniali-
dade. Como exemplo, temos Rafael, Vasari, Telésio, Miquelangelo e Leonardo
da Vinci. Todos foram reconhecidos como gênios criadores e intuitivos. Leonar-
do foi considerado um gênio universal, devido a sua inteligência e ampla imagi-
nação. Foi artista, pintor, escultor e deixou um legado de conhecimento para a
matemática, ergonomia, arquitetura, filosofia e, também, estudou música.
Kant, na sua obra “Crítica ao Juízo”, escreveu que a criatividade é um
processo natural com regras próprias e imprevisíveis concluindo que ela não
poderia ser ensinada. Com isto, Kant influenciou as teorias filosóficas moder-
nas sobre criatividade, já que colocou a criação humana como uma forma sau-
dável e altamente desenvolvida da intuição.
O homem criativo seria aquele que intui imediatamente enquanto o
indivíduo “comum” demoraria muito tempo para chegar ao mesmo resultado.
Outro ponto desta teoria é que a criatividade não poderia ser ensinada7 por ser
um processo natural que tem suas próprias regras e que obedece a leis próprias
e imprevisíveis, tornando o criador uma pessoa rara e diferente.
Se levarmos em consideração que a criatividade é um procedimento
mental de descobrir novas maneiras de resolver problemas de subsistência e
os existenciais, desde os primórdios a criatividade foi a grande propulsora da
perpetuação da espécie humana.
Sabemos que nos últimos 100 vêm ocorrendo a cada dia uma nova su-
peração tecnológica, mas devemos nos lembrar dos nossos ancestrais desde a
pré-história – que por necessidade utilizaram da criatividade para inventar o
fogo, a roda, utensílios de caça e a fabricação de abrigo.

7 É importante lembrar que Kant se referia aos padrões de educação da sua época.

24 Criatividade e Inovação
Tema | 01
Na perspectiva da abordagem biológica criatividade é considerada como

CRIATIVIDADE PARA A INOVAÇÃO


uma força vital este pensamento está baseado na teoria da evolução de Charles
Darwin (1809-1882)8 visto que consideram “[...] manifestação de uma força ine-
rente a vida”, pois esta “[...] se organiza e regula a si mesma e porque está continu-
amente originando novidades” (SINNOTT apud SOUZA, 2001, p.15-16).
Se assim pensarmos, a vida é criativa porque organiza e regula a si
mesma: a natureza se transforma juntamente com o meio ambiente e o homem
se modifica ao encontrar novas soluções para seus problemas.
Alfred North Whitehead (1861-1947), um filósofo e matemático britâ-
nico e renomado pesquisador na área da filosofia da ciência, principalmente no
que diz respeito aos fundamentos da matemática, trouxe para a criatividade o
conceito de “força cósmica”. Sua teoria consiste em afirmar que a criatividade é
universal e imanente a tudo que existe, pode ser rítmica ou cíclica: as entidades
nascem, vivem e morrem. Dessa maneira, tudo que existe se renova continua-
mente e para manter-se deve adaptar ou substituir seus próprios componentes
(BARRETO, 2004).
Com o desenvolvimento da psicologia, no século XIX, a criatividade
passou a receber um tratamento pelo viés científico. As principais contribuições
neste campo vêm do Associativismo, a teoria da Gestalt e da psicanálise.
No século XX surgiu um movimento da psicologia denominado Asso-
ciacionismo que se formou da união dos pensadores iluministas franceses e os
empiristas. Para o Associacionismo, o pensamento é a capacidade de associar
ideias que surgem por derivação da experiência e, segundo a frequência que
ocorre, isto é quanto mais frequente e intensivamente relacionarmos as ideias,
mais ideias surgirão das possibilidades de relação entre as mesmas.
O Associacionismo9 foi considerado um marco porque representou a
ruptura entre a filosofia e a psicologia. Dessa forma, a mente teria o poder de
gerar ideias, independentemente da estimulação sensorial, isto significa que o
ponto de partida para a criatividade está naquilo que a mente já contém. Ou,
melhor dizendo, através de um processo de tentativa e erro, na combinação de
velhas ideias é que surge um arranjo de novas ideias.

8 Desenvolveu a teoria da Seleção Natural, que defende que os organismos mais bem adaptados têm
maiores chances de sobreviver e deixar um número maior de descendentes, portanto são adequados
ao ambiente em que vivem.
9 JOHN LOCKE (1632-1704)-fundou o empirismo britânico e acreditava, assim como Aristóteles, que
as ideias estariam ligadas ordinariamente por conexões naturais e os princípios associacionistas são
úteis para explicar as conexões inusitadas do pensamento.

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Em pouco tempo, surgiram criticas contundentes ao Associacionismo.
De acordo com Keller (1978), dificilmente o associativismo seria o caminho para
a criatividade, pois não seria fácil dizer que é criativa uma ideia produzida por
conexões entre ideias de uma experiência pregressa. Nesse tipo de situação, em
lugar de respostas originais, as respostas seriam previsíveis e comuns.
Neste caso, além da associação de ideias, é preciso acrescentar o que
Keller (1978) chamou de quatro dimensões ou categorias da criatividade:
1. A criatividade depende da pessoa que cria, em termos de fisiologia
e temperamento, inclusive atitudes pessoais, hábitos e valores.
2. A criatividade pode ser explanada por meio dos processos mentais
– motivação, percepção, aprendizado, pensamento e comunicação
– que o ato criador mobiliza.
3. A terceira dimensão focaliza o contexto: influências ambientais e
culturais.
4. E, finalmente, a criatividade pode ser entendida conforme sua apli-
cação enquanto produtos/tecnologia, invenções científicas, artes
em geral.

A criatividade se apresenta como um processo complexo e multifacetado


porque envolve desde a redefinição do problema, com a combinação do conhecimen-
to preexistente, dentro de uma nova perspectiva, ou melhor dizendo: aplica ideias
anteriores em novas situações ou aplica conhecimentos antigos de forma inovadora.
A teoria da Gestalt surgiu como um movimento na área da teoria da for-
ma. Como resposta de Max Wertheimer ao estruturalismo10 de Wilhem Wundt, a
Gestalt foi introduzida na psicologia e filosofia contemporânea por Christian von
Ehrenfels. O desenvolvimento da Gestalt foi profundamente influenciado por gran-
des pensadores, como Immanuel Kant, Ernst Mach e Johann Wolfgang von Goethe.
Esta teoria sustenta que a mente conforma, através de diversas leis, os
elementos que chegam a ela mediante a memória/inteligência e a percepção. A
máxima da psicologia da Gestalt afirma que o todo é mais do que a soma das
suas partes e, somente através da percepção da totalidade, é que o cérebro pode
de fato perceber, decodificar e assimilar uma imagem ou um conceito. 

10 Movimento intelectual das ciências humanas que que apreende a realidade social como um con-
junto formal de relações. O estruturalismo acredita em um sistema no qual cada um dos elementos só
pode ser definido pelas relações de equivalência ou de oposição que mantém com os demais elemen-
tos. Atingiu seu apogeu na década de 1960.

26 Criatividade e Inovação
Tema | 01
A criação tem seu início com uma configuração problemática, que, de

CRIATIVIDADE PARA A INOVAÇÃO


certa forma, se mostra incompleta, porém permite ao criador uma
visão sistêmica da situação. A partir das dinâmicas, das forças e das
tensões do próprio problema, são estabelecidas linhas de tensão seme-
lhantes na mente do criador. Para “fechar” a Gestalt, deve-se restaurar
a harmonia do todo. Nas palavras do próprio Wertheimer, “o proces-
so todo é uma linha consciente de pensamento. Não é uma adição de
operações díspares, agregadas. Nenhum passo é arbitrário, de função
conhecida. Pelo contrário, cada um deles é dado com visão de toda a
situação”. (WERTHEIMER apud SOUZA, 2001, p.17)

De acordo com a teoria da Gestalt, o indivíduo percebe os fenômenos


ao seu redor a partir de um campo estrutural funcionalmente organizado que se
constitui de figura e fundo, de tema e campo temático ou, ainda, de formas que
se projetam como unidades ou totalidades.
A teoria da Gestalt considera os fenômenos psicológicos como um con-
junto autônomo, indivisível e articulado na sua configuração, organização e lei
interna. A teoria da Gestalt não consegue explicar como surge a configuração
inicial da ideia, ou como se chega ao problema, mas é eficiente para demonstrar
como se processam os estímulos mentais e como o cérebro percebe os estímulos
externos. A Gestalt estuda as relações existentes entre percepção e pensamento.
Profissionais das áreas de comunicação como design gráfico e web de-
sign frequentemente recorrem as Leis da Gestalt11 como recursos para que as pes-
soas assimilem e entendam melhor as mensagens que precisam ser veiculadas.
Já na teoria psicanalítica de Sigmund Freud (1856-1939), a criativi-
dade está diretamente relacionada à imaginação. A criança produz um mundo
imaginário através das brincadeiras e dos jogos com os quais interage e manipu-
la de várias maneiras. Na vida adulta, o mundo imaginário é fantasiado em de-
trimento da realidade e o que motiva esta fuga seriam os desejos não satisfeitos
ou reprimidos. (ALENCAR, 1993)
A psicologia humanística surgiu como contraponto a esta imagem limi-
tada do ser humano (como refém do inconsciente), atribuída pela psicanálise.

11 São oito as leis da Gestal para saber mais leia: GOMES FILHO, João. Gestalt do objeto: sistema de
leitura visual de forma. 8. ed. São Paulo: Escrituras, 2008.

27
Maslow, Rollo May e Carl Rogers irão dar maior ênfase ao valor intrínseco do
indivíduo, que é respeitado como fim em si mesmo, o potencial humano para
desenvolver-se e as diferenças individuais. Nessa perspectiva, a criatividade se
torna uma possibilidade do homem se atualizar e poder concretizar suas poten-
cialidades, mas para isso deveria:

[...] possuir três características: abertura à experiência, a qual implica


ausência de rigidez, uma tolerância à ambiguidade[sic] e permeabili-
dade maior aos conceitos, opiniões, percepções e hipóteses; habilida-
de para viver o momento presente, com o máximo de adaptabilidade,
organização contínua do self e da personalidade; confiança no orga-
nismo como um meio de alcançar o comportamento mais satisfatório
em cada momento existencial.” (ROGERS apud ALENCAR, 1993, p. 50)

Segundo Alencar (1993, p. 53), assim como Rogers, Abraham Maslow


enfatiza a originalidade e a singularidade, a relação do sujeito com o meio e a
sua própria individualidade. Maslow também vai apontar que está aberto às
experiências , é uma característica auto realizadora da criatividade. O psicólo-
go Rollo May (1909-1994) identificou a criatividade como uma necessidade da
saúde emocional e, como os demais humanistas, também considerou a intera-
ção pessoa-ambiente como fundamental para o processo de criação, além do
impulso para a auto realização: “também as condições presentes na sociedade,
as quais devem possibilitar à pessoa liberdade de escolha e ação”, fazem parte
do processo criativo.
Kubie (1996) evidencia que, na etapa pré-consciente, encontram-se
as fontes do pensamento intuitivo e da flexibilidade, cujo papel seria libertar
a mente da rigidez que pode bloquear o processo criativo. Além disso, flexibi-
lidade e intuição, principais aspectos relacionados à obra de Kubie, são com-
plementares às teorias do pensamento divergente e do pensamento lateral de
Bono (1994). (KUBIE, 1996; ALENCAR, 1993, e de BONO, 1994, apud, TUDDA;
SANTOS, 2011, p. 120).
De maneira bastante resumida, poderíamos dizer que o pensamento
convergente seria aquele pensamento que se move em direção a uma respos-
ta determinada, condicionada ou convencional, seguindo um sistema de regras
preestabelecidas de pensamento (raciocínio lógico-dedutivo). O pensamento

28 Criatividade e Inovação
Tema | 01
divergente, ao contrário, tende a ocorrer quando o problema ainda é desconhe-

CRIATIVIDADE PARA A INOVAÇÃO


cido ou quando não existe método definido para resolvê-lo.
Segundo Kubie (apud, Tudda; Santos, 2011, p. 120) é possível afirmar
que a criatividade acontece em duas etapas, que ocorrem em momentos dis-
tintos do processo criativo e são identificadas pela teoria psicanalítica como
inspiração e a elaboração. A primeira, realizada pelo sistema pré-consciente; a
segunda pelo consciente.
Os representantes da Psicologia Humanista são também reconhecidos
pelas suas incursões sobre as condições necessárias para a expressão da criati-
vidade. Eles alegam que é indispensável um ambiente que propicie a liberdade
de escolha e de ação, com reconhecimento e estimulação do potencial para criar
de cada indivíduo.
Entre os estudiosos contemporâneos, é recorrente afirmar que a criativi-
dade é inerente à natureza humana e, portanto, todos os seres humanos têm poten-
cialidades para serem criativos. O que vai variar de pessoa para pessoa é o nível de
criatividade que poderá ser desenvolvida. Seguindo esta mesma linha, se ressalta
que o processo criativo é seriamente obstruído quando falta o conhecimento ou
experiência a respeito do objeto ou fenômeno sobre o qual se quer exercer o pensa-
mento criativo e pela falta de motivação do indivíduo agente da criatividade.

A partir da década de 1950, encontram da criatividade com ênfase nos


diferentes aspectos a ela relacionados: o pensamento criativo e os pro-
cessos mentais envolvidos; a análise das fases envolvidas no criativo;
a análise de características individuais de personalidade, traços inte-
lectuais e cognitivos, presentes em indivíduos considerados criativos
ou bloqueios individuais presentes; a análise de fatores ambientais
e culturais, como facilitador manifestação da criatividade. (TUDDA;
SANTOS, 2011, p.118)

Atualmente, novos conceitos relacionados ao conhecimento científico


que se referem à inteligência vêm impulsionando as pesquisas sobre criativida-
de. Esses estudos relacionam as influências ambientais e culturais ao fenôme-
no da criatividade nos indivíduos, onde os processos mentais de pensamento,
aprendizado, motivação, comunicação e percepção podem ser desenvolvidos ou
aprimorados por treinamento. (ALENCAR, 1996; de BONO, 1994)

29
Destacando-se a abordagem das ‘inteligências múltiplas’ proposta por
Gardner (1995) e a criatividade como construção proposta por Piaget
(1985) que apontam para a possibilidade de atuação por meio de es-
tímulos que possam favorecer o aumento e a manifestação dessas in-
teligências, em diferentes fases do desenvolvimento humano. (TUDDA;
SANTOS, 2011, p.118)

Dessa maneira, nos cabe considerar que o comportamento do indivíduo


é o resultado da soma de valores pessoais que foram sendo inculcados na perso-
nalidade como a maneira de sentir, pensar e agir. Esses comportamentos são pas-
síveis de mudanças e implicam num processo complexo para os quais são impres-
cindíveis novas estratégias de pensamento, maturação, flexibilidade e capacidade
de adaptação às mudanças, o que demanda uma revisão abrangente do contexto.
Vejam que cada área desenvolveu uma abordagem diferente quanto ao
conceito e condições para o desenvolvimento do processo criativo e há diferen-
tes paradigmas que orientam a busca por respostas nesse campo, quais sejam:
“o místico, o psicoanalítico, o pragmático, o psicométrico, o cognitivo e o que
envolve questões sociais e de personalidade”.
Sternberg (2008 apud, Pereira at al, 2011, p. 113), por sua vez, destaca
os enfoques psicométrico e cognitivo com as investigações relativas à capacida-
de de produzir e conhecer; “o enfoque na personalidade e motivação do indi-
víduo que cria, onde o indivíduo se encontra: enfoque social e histórico e, fim,
uma confluência envolvendo alguns ou todos eles.”
Buscando uma maneira de sintetizar o que há de comum nos diversos
conceitos de criatividade, Eunice de Alencar (1993, p, 15) afirmou o seguinte:
“que uma das principais dimensões da criatividade implica na emergência de
um produto novo, seja uma ideia ou invenção original, seja a reelaboração e
aperfeiçoamento de produtos ou ideias já existentes.”
Considerando que existem diferentes conceitos, vamos buscar enten-
der o pensamento criativo e os processos de criação como sendo inerentes ao ser
humano na tentativa de produzir ou reestruturar ideias, objetos ou descobertas
originais, que serão aceitas como inovações valiosas nos domínios das Ciências,
da Tecnologia e da Arte. É importante lembrar que tanto a originalidade como
a função e o valor são atributos de um produto criativo, embora esses mesmos
atributos possam variar ao longo do tempo.

30 Criatividade e Inovação
Tema | 01
Percebam que os conceitos aqui expostos da filosofia, biologia, psico-

CRIATIVIDADE PARA A INOVAÇÃO


logia e sociologia mostram a complexidade do termo criatividade. Em geral, a
qualidade de ser criativo está associada a uma pequena parcela da população
mundial.
Alguns especialistas vão afirmar que a escassez da criatividade é uma
consequência aos baixos investimentos e a sua pouca promoção na maioria dos
sistemas educativos. Desde os anos setenta aparece um esforço para mudar esta
situação e o assunto criatividade passou para a pauta da educação, mas ainda
falta organizar programa para o desenvolvimento desta habilidade nos ambien-
tes escolares.
Vejam que o entendimento da trajetória do conceito criatividade, nos
permite afirmar que, como a inteligência, mas de maneira intensificada, a cria-
tividade é uma característica, em que se combinam os efeitos das capacidades
cognitivas com efeitos relativos ao temperamento e ao carácter. Portanto, a cria-
tividade deve ser compreendida como um aporte integrado de toda a persona-
lidade nos aspectos que se referem ao rendimento das capacidades humanas.
No próximo tópico, iremos conhecer as relações conceituais entre cria-
tividade e inovação que são considerados termos indissociáveis, no entanto não
são sinônimos.

31
1.3 Relações conceituais entre criatividade e inovação

Na antiguidade, por não se poder dar uma explicação científica sobre


os processos mentais que envolviam a criatividade, ela ficou associada à práxis
dos “poetas”, isto é, no modo como eles se inspiravam para compor seus versos.
Depois, no iluminismo, a criatividade foi relacionada aos homens visionários,
aqueles que carregavam por um dom divino a genialidade de pensamento.
Assim, por não se saber ao certo quais eram os processos mentais que
se relacionavam à criatividade, as pessoas de maneira geral começaram a vin-
cular o fenômeno a uma situação inusitada de um momento mágico, como um
sopro da inspiração divina, um instante de iluminação da mente. Até mesmo
hoje, quando pensamos nas grandes invenções12 da humanidade, como a roda
ou a lâmpada elétrica, seguimos a tendência de achar que foram criadas com
facilidade, esquecendo que o salto qualitativo de pensamento é precedido por
um trabalho que envolve pesquisa e várias tentativas desacertadas.
A célebre frase: criatividade é 1% de inspiração e 99% de trans-
piração do inventor da lâmpada elétrica Thomas A. Edison não é lembrada
porque o senso comum insiste em destacar somente o momento final da des-
coberta, o ato mágico e brilhante da criação. Calcula-se que, por isso, a criati-
vidade seja sempre representada por uma lâmpada ou por um raio. Podemos
aprender, também, com outra frase do referido cientista: “O primeiro requisito
para o sucesso é a habilidade de aplicar incessantemente suas energias física e
mental a qualquer problema, sem se cansar”.
Com isso, reafirmamos que a criatividade é o resultado de muita persis-
tência e resiliência por parte de uma pessoa ou até de um grupo de pessoas. Al-
gumas invenções demoraram muito tempo para serem aperfeiçoadas, elas foram
consequência de muito trabalho e da contribuição isolada de várias pessoas ao
longo de anos. Por vezes, nessas situações, sendo necessário também o avanço de
várias áreas do conhecimento para se chegar a uma solução mais adequada.

12 A invenção, de modo geral, consiste na criação de uma coisa até então inexistente, a descoberta é a
revelação de uma coisa existente na natureza.. Ele explica que descobrir é o ato de anunciar ou revelar
um princípio científico desconhecido, mas preexistente na ordem natural, e inventar é dar aplicação
prática ou técnica ao princípio científico, no sentido de criar algo novo, aplicável no aperfeiçoamento
ou na criação industrial. (Gama Cerqueira Apud. Requião, Rubens. Curso de Direito Comercial. São
Paulo, Saraiva, 19 a ed, 1 o vol., 1989, p.223.)
Disponível em http://www.fapema.br/patentes/site/Principal.php?str_link=txt_Modelo.php

32 Criatividade e Inovação
Tema | 01
Se pensarmos a partir do século XVI a tecnologia sempre esteve pre-

CRIATIVIDADE PARA A INOVAÇÃO


sente nas relações da criatividade com a inovação no percurso da história. Nes-
te século, as grandes descobertas científicas contribuíram de forma bastante
acentuada para a identificação dos fenômenos naturais, como as descobertas
de Galileu, Newton, que impulsionaram outras grandes descobertas e inovações
empresariais dos séculos seguintes.
Entre os séculos XVIII e início do século XIX aconteceu um grande
conjunto de inovações de extrema relevância nos seguimentos dos transportes e
das telecomunicações que influenciou e ajudou a melhorar o nível da qualidade
de vida naquele tempo. Muitas inovações se fundamentaram, essencialmente,
a partir de dois grandes nomes: Albert Einstein (1879-1955) que contribuiu
com suas pesquisas para a compreensão da dimensão do universo, do tempo,
do espaço e Thomas A. Edison, para o desenvolvimento da indústria eletrônica.
Do século XIX também vem o legado sobre o sistema que prevê o re-
gisto de patentes e marcas, com a finalidade de respeitar o reconhecimento in-
telectual e, por sua vez, amadurecer a compreensão do processo de inovação.
Foi somente no final do século XIX e início do século XX que as descobertas
científicas e os avanços tecnológicos, sobretudo descobertas no campo da física,
dos sistemas de produção em massa, as telecomunicações, fotografia, televisão,
entre outras começaram a ser comercializas pelas indústrias. 

33
34 Criatividade e Inovação
Tema | 01
CRIATIVIDADE PARA A INOVAÇÃO
A denominada Nova Era - Era da Informação, teve seu início a partir
da década de 80 do século XIX adentrando ao século XX que foi qualificado
especialmente pelo nível crescente e elevado da ciência técnica, da informação,
da ciência, da arte e da linguagem, o que facilitou o aceleramento da inovação e,
por consequência, a otimização do desempenho e do sucesso empresarial.
Do século XX ao XXI foi possível verificar uma descentralização do
processo de aquisição do conhecimento causado pela fragmentação de infor-
mação, criando um processo de terceirização impulsionado pela Internet: as
grandes empresas passaram a investir recursos no trabalho em rede que ficou
caracterizado pela inovação aberta.
Nas últimas duas décadas com a massificação da informação, a ino-
vação se tornou uma experiência contínua baseada num processo estrutural,
previsível e rentável para as organizações. Com isso, foi possível verificar uma
difusão maior da informação criando, por assim dizer, uma inteligência empre-
sarial que tem possibilitado potencializar novas descobertas.

35
Com o passar do tempo, temos verificado uma tendência mundial das
organizações, no sentido de atender mais e melhor às demandas de seu público,
conduzindo a um aumento acentuado da concorrência, o que poderá ter susci-
tado sentimentos de renovação e uma necessidade quase imperativa de inovar.
Como resposta a esta situação, hoje, muitos governos adotam políticas
públicas no que concerne à inovação, manifestadas em critérios que vão desde
o estado da inovação, a infraestruturas necessárias para alcançar os resultados
almejados. 

A OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económicos),


conjunto de 30 países representados por governos democráticos e
economias de mercado, é um exemplo desta aplicação. A Organização
desenvolve no seu interior políticas de inovação e fornece as orienta-
ções que servirão de base para os estudos, pesquisas e benchmarking
dos Estados-membros. Outro exemplo, no ano de 2000, o Conselho
Europeu de Lisboa criou o SIE (Sistema Europeu de Inovação), visan-
do apoiar a União Europeia através da criação de uma economia mais
competitiva e fundada no conhecimento. Outros países como a China e
o Irão estão igualmente a apostar na exploração dos sectores emergen-
tes como as redes petrolíferas e o desenvolvimento da alta tecnologia,
com vista à redução do nível de dependência do exterior e consequente
melhoria da qualidade de vida dos seus cidadãos. Nos E.U.A. e na Índia
promove-se a criação de organizações que ajudem a compreender os
modelos de inovação. (GUPTA, 2000, p. 67)

Vale ressaltar que a própria tecnologia é, ao mesmo tempo, resultado


e caminho para a criatividade e inovação. A tecnologia, por estar em constante
mudança, é uma ferramenta para inovarmos. A relação do homem com a tec-
nologia abre novas perspectivas para a mente, ajudando a conectar ideias e a
mediar nossa relação com o mundo que nos cerca.
Como todo instrumento, a tecnologia pode ser um veículo de transfor-
mação, mas ainda assim continua sendo apenas um instrumento. Os hardwares
e softwares ficarão ultrapassados em questão de meses. Por ser um recurso que
se atualiza frequentemente, devemos nos preocupar em buscar informações para

36 Criatividade e Inovação
Tema | 01
saber quais serão as tecnologias mais úteis para o desenvolvimento do nosso tra-

CRIATIVIDADE PARA A INOVAÇÃO


balho. Pesquisar, explorar seu potencial, fazer testes, enfim, é preciso que exista
um envolvimento efetivo para decidir pela adequação às nossas necessidades.
Por ser interativa, a Internet é uma ferramenta útil e pode ser um apoio
e um estímulo para a criatividade. Vale ressaltar que nada substitui a observa-
ção, a pesquisa em outras fontes de dados e a experiência.
Uma das inovações mais comentadas que ocorreu recentemente e se
beneficiou da Internet foi o iPhone da Apple: uma tecnologia que reúne várias
tecnologias (captura, arquiva e transmite dados nos formatos: som, imagem,
texto em um único aparelho) e ainda utiliza um sistema de interatividade que
permite ao usuário exercer influência sobre o conteúdo ou a forma da comuni-
cação e, ainda, conta com um design (interface13/estética) que dá conta da aces-
sibilidade e da ergonomia física e visual. A Apple trouxe ao mercado mudanças
tecnológicas no aparelho, que deixou de ser telefone para se tornar smartpho-
nes, mas também mudou a forma como a tecnologia é vendida, preocupando-se
em oferecer, através do layout das suas lojas, a experiência do usuário com os
seus produtos.

13 De acordo com Bonsiepe o termo as vezes é utilizado para designar tanto uma coisa, uma parte, ou
um aspecto de um artefato (a interface de um software, por exemplo) Para o autor a reinterpretação
do conceito ‘interface’ na computação leva ao cerne do design: a relação entre usuário e artefato na
qual a dimensão operacional é constitutiva.
Ver: BONSIEPE, 1997, p.15.

37
Seria imprudente não se lembrar da criatividade por trás das invenções
que incorporam o nosso cotidiano: clips, tesoura, post it, velcro, entre outras
tantas coisas triviais, mas que são indispensáveis no nosso dia a dia.
Vejam, então, que é possível reconhecer nas artes, no design, no arte-
sanato, na indústria, no comércio, no entretenimento em vários outros setores
da atividade humana valiosas expressões de criatividade.
A criatividade se manifesta em diversas situações e, bem por isso, vai
receber significados distintos para diferentes grupos de profissionais e segun-
do a delimitação da área de diferentes disciplinas, como: artes plásticas, letras,
música, dança, teatro, design gráfico, design de moda, design de produto, arqui-
tetura, marketing, engenharia, administração etc.
Dentro de uma perspectiva que atenda a todos esses campos de atua-
ção, a criatividade pode ser determinada como o processo mental de geração
de novas ideias por indivíduos ou grupos. E, essa nova ideia, pode ser um novo
produto, um novo serviço, uma nova peça publicitária, um novo método ou a
solução de um problema.
Quando optamos por esse entendimento a criatividade começa a ser
percebida como processo e, como tal, pode ser estudada, compreendida e aper-
feiçoada. Sobre essa definição recai a compreensão da criatividade aplicada,
visto que ser criativo nesta perspectiva é ter habilidades para gerar ideias origi-
nais e úteis para solucionar os problemas do dia-a-dia.
Então criatividade é o mesmo que inovação?
Seguramente a resposta é não.
Segundo Kotler e Bes (2012), a criatividade tem mais a ver com a arte
de lidar com impossibilidades do que com a capacidade de solucionar proble-
mas, para este último as mentes mais analíticas obtém melhores resultados.
Antes de prosseguirmos para a conceituação da inovação, vamos deixar
claro o que seria a criatividade “genuína”, isto é, sem a pretensão da inovação.
Como visto anteriormente, a criatividade pode impulsionar ideias dife-
rentes, mas se não existir um mercado que se interesse por elas não temos o que
chamamos de inovação. Veja três exemplos:

38 Criatividade e Inovação
Tema | 01
CRIATIVIDADE PARA A INOVAÇÃO
Desta forma, a criatividade é um estado mental que produz pensamen-
tos novos. A inovação é o resultado de um processo criativo que precisa gerar
um bem que reconhecidamente tenha valor para um grupo de pessoas.
A inovação é a implementação de algo novo ou significativamente me-
lhorado que pode ser um produto, serviço ou procedimento14 que serão utiliza-
dos para gerar receita e/ou melhoria na qualidade de vida de pessoas, grupos ou
organizações. A atitude de implementar é significativa para a inovação, este é o
marco que faz com que a criatividade se transforme em valor.

[...] inovação é a habilidade de transformar algo já existente em um


recurso que gere riqueza. “[...] Qualquer mudança no potencial produ-
tor-de-riqueza de recursos já inexistentes constitui inovação...” (DRU-
CKER, 1987, p. 40).

Para que se possa implantar um novo produto, serviço ou procedimento


temos que enfrentar a tomada de decisão, utilizar o discernimento para distinguir
quais são as ideias válidas. Com isso, o registro e a organização de todo o processo
criativo é de extrema importância para, no futuro, poderem vir a ser incorporadas.

14 Vale ressaltar que utilizaremos os termos produto, serviço e procedimento de maneira generaliza-
da, embora sabendo que cada campo de atividade humana: indústria, governo, medicina, comércio,
etc tem a respeito deles suas próprias concepções.

39
Para nos aproximarmos de maneira segura das relações conceituais
entre criatividade e inovação, devemos nos posicionar dentro de um sistema or-
ganizacional administrativo que, por sua vez, se insere dentro do contexto eco-
nômico e social globalizado. Isso porque neste tópico nos cabe discorrer sobre
um tipo de criatividade que não é aquela criatividade despretensiosa ou lúdica
a ponto de se transformar em fantasia, como quando começamos a sonhar. A
criatividade que nos interessa, aqui, é aquela que assume a forma da inovação e
interessa ao mundo do trabalho e dos negócios.
O fenômeno da criatividade tem mobilizado o interesse das organiza-
ções visto que sua utilização no mercado é justificada em razão do atual cenário,
que não comporta as mesmas e velhas respostas para problemas emergenciais.
Atualmente, a situação requer uma adaptação ou a criação de novos dos
modelos organizacionais que sejam capazes de promover a sustentabilidade, o de-
senvolvimento social e econômico, além das preocupações com o meio ambiente.
A mudança nos mercados e no mundo do trabalho, vista de uma pers-
pectiva global, tem sido dirigida por forças influentes e interconectadas, como
por exemplo:
1. O rápido avanço das inovações tecnológicas, organizacionais e no
próprio modelo de negócios e sua difusão mundial;
2. A intensificação da concorrência nos mercados internacionais,
3. E mais recente, as incertezas das alterações climáticas e os riscos
ambientais, provocados por atividades humanas, com a urgente
necessidade de aperfeiçoar a gestão da energia e dos resíduos sóli-
dos.

De acordo com especialistas, a globalização, o envelhecimento da po-


pulação, a busca pela qualidade de vida, as novas tendências sociais e as no-
vas tecnologia aplicadas aos negócios deverão criar vários nichos de mercado e
oportunidades para várias profissões, que ainda não existem:

Essas mudanças são acompanhadas pelo desenvolvimento e aplicação


de novos conhecimentos e pela valorização das competências huma-
nas de maneira mais abrangente, que inclua as competências técnicas
e comportamentais demandadas pelas organizações. (TUDDA; SAN-
TOS, 2011, p. 117)

40 Criatividade e Inovação
Tema | 01
Nesse contexto de mercado, em que incidem grandes movimentações

CRIATIVIDADE PARA A INOVAÇÃO


financeiras, processos horizontalizados e estruturas de trabalho em redes, as
várias atividades profissionais que estão envolvidas, como administração, en-
genharia, arquitetura, design entre tantas outras deverão saber lidar com o au-
mento da demanda por diferenciação para sustentar a competitividade do mer-
cado capitalista.
A criatividade produtiva e direcionada a inovação, a qual nos dirigi-
mos, é aquela que reúne um grupo de processos cognitivos capazes de encontrar
variações em um arranjo de conceitos, isto é obter novas formas de agrupamen-
to dos mesmos, explorando-os de maneira inédita ou utilizar conceitos como
nunca foram usados antes. Isto quer dizer que a inovação nem sempre é resul-
tado de uma criação totalmente original, na maioria das situações é derivada da
combinação inédita de coisas já existentes.
A combinação de três tecnologias: o aprimoramento das ferramentas
de comunicação, combinando o uso do telégrafo elétrico, a radiação eletromag-
nética e o telefone com fio teria como resultado a invenção do rádio15. No ano
de 1901, patenteado pelo físico italiano Guillermo Marconi; dada a importância
do feito, esse cientista acabou sendo agraciado com o prêmio Nobel de Física.
Outras inovações consistem de novos usos para objetos e/ou tecnolo-
gias já existentes. Outro exemplo é o uso da Internet pela educação, permitindo
aos estudantes o acesso direto aos conteúdos, video aulas, sala de chats e pod
cast.
O raciocínio lógico, a persistência e a busca constantes por conheci-
mento e informação são fatores fundamentais para a inovação, pois raramente
as boas ideias ou insights surgem ao acaso.
Segundo Peter Drucker (1987, p. 41), “a eficácia da inovação está ligada
à sua simplicidade e concentração, caso contrário poderia ser confusa ou sim-
plesmente não funcionar, o que a tornaria inútil”.
Com isso, a inovação seria uma busca por mudança de forma delibe-
rada e organizada, sendo que, para sua implementação, é preciso analisar sis-

15 Contrariando esse registro oficial, temos um grupo de entusiastas gaúchos que atribuem a invenção
do rádio a um padre católico chamado Roberto Landell de Moura. Segundo relatos, no dia 3 de junho
de 1900, esse padre reuniu figuras da imprensa, políticos e outras personalidades para a demonstra-
ção de seu invento em plena Avenida Paulista. Sem utilizar fios, o padre conseguiu transmitir a voz
humana e sinais telegráficos à incrível distância de oito quilômetros
Disponível em: http://historiadomundo.uol.com.br/idade-contemporanea/landell-de-moura-o-
-inventor-do-radio.htm

41
tematicamente oportunidades que possam oferecer mudanças positivas, tanto
econômica como social.
De acordo com Gupta (2000) apesar das inúmeras metodologias apli-
cadas à área da inovação, ainda é necessário desenvolver ferramentas, práticas
e procedimentos que estimulem, de forma progressiva, o pensamento inovador.
Também é preciso ter em conta que todo o processo deve ser contínuo, inten-
cional e previsível. O autor acredita ser recomendável que as pessoas envolvi-
das no processo de inovação tenham experiência no assunto sobre o qual se
está buscando inovar, porque podem produzir um pensamento de maneira mais
assertiva e estabelecer uma correspondência de informação mais rápida e efi-
caz. Propondo que esta aceleração do pensamento seja um catalisador essencial
para a criação e estímulo da otimização do valor da inovação.
No próximo tópico iremos identificar alguns motivos e objetivos para
treinar a criatividade pessoal.

42 Criatividade e Inovação
Tema | 01
1.4 Motivos e objetivos para treinar a criatividade

CRIATIVIDADE PARA A INOVAÇÃO


pessoal

Algumas pesquisas e reportagens com especialistas procuram apontar


onde estarão as oportunidades de negócio e de emprego nos próximos anos,
mas é impossível encontrar uma resposta pragmática até porque se trata de
uma previsão e não de uma adivinhação. Pelo menos alguns dos estudiosos da
área conseguem prognosticar o mercado de trabalho e oferecer seus posiciona-
mentos e prováveis direcionamentos.
Nas análises desses especialistas sempre são considerados os fatores
do mercado globalizado, das tendências sociais como o envelhecimento da po-
pulação, as novas tecnologias que estão surgindo, os problemas ambientais e os
novos modelos de negócios, como fenômenos responsáveis por indicar as pro-
váveis oportunidades para diversas profissões que surgirão com denominações
ainda não existentes. (CHALLENGER, 2005; PATERSON, 2002, apud WRI-
GHT at al, 2010).
Hoje, ninguém mais ouve falar daquele profissional que ficava respon-
sável por colocar os pinos de boliche de volta no lugar, depois de cada arremesso
do jogador. O nome designado para esta função era “armador de pinos” e foi
substituído por uma máquina computadorizada que, automaticamente, recolhe
os pinos e os coloca no devido lugar.
Lembram-se do “acendedor de lampiões”, que ilustrou nosso texto no
conteúdo 1.2, extraído do livro “O Pequeno Príncipe”? Pois bem, essa profissão
já foi considerada imprescindível no início do século XX, mas que deixou de
existir depois da invenção da luz elétrica e o seu uso na iluminação pública.
As organizações, por sua vez, precisaram acelerar a sua produção com
a finalidade de aumentar a competitividade frente às empresas estrangeiras. Na
indústria, destacamos, principalmente, os profissionais que atuam na linha de
montagem que estão sendo trocados, paulatinamente, por equipamentos capa-
zes de fazer pequenas e grandes montagens.
As mudanças, que já mencionamos anteriormente no mercado globa-
lizado, provoca uma ruptura parcial em várias cadeias produtivas, fragilizando
importantes setores de atividade econômica que insistem em não se atualizar
para a competitividade, além de impulsionar o surgimento de uma nova classe
operária possuidora de nível mais elevado de formação para exercer um traba-

43
lho qualificação, até porque são profissionais que deverão lidar com a tecnologia
implementada.
Isso faz com que o conhecimento do indivíduo se torne um fator de
maior relevância no momento atual, pois as indústrias precisarão de pessoas
qualificadas que operem essas máquinas, o que continuará gerando novas e,
cada vez mais, sofisticadas especializações.
Se pensarmos bem, até 20 anos atrás não precisávamos da profissão de
webdesigner, assim como ainda, não existia a possibilidade de se poder cursar
uma graduação a distância com aulas via computador. Vejam que a tecnologia
eliminou alguns postos de trabalho, mas também criou outras tantas profissões.
Dessa forma, para arriscar qualquer prognóstico sobre quais seriam as
profissões mais requisitadas, ou para onde se dirige o mercado de trabalho nas
próximas décadas, precisamos projetar sobre o que já está acontecendo hoje:
urbanização intensa, aumento populacional e do número de idosos e a popula-
rização da ciência.
Segundo Crosby (2002), o Relatório da divisão de Estatísticas do De-
partamento do Trabalho dos Estados Unidos 2002 afirmava que:

[...] os trabalhos de amanhã serão encontrados significativamente no


setor de serviços, particularmente relacionados à saúde, comunicação
e Internet. Áreas relacionadas à estética, cuidados com a saúde e via-
gens também serão especialmente férteis. Associado ao mercado de
trabalho, um outro fenômeno relevante pode ser identificado: o do em-
preendedorismo. CROSBY (apud WRIGHT at al, 2010, p. 173)

Pelo que está posto, é possível perceber que há uma expectativa no


aumento da participação em atividades empreendedoras no mundo do tra-
balho no futuro, as quais deverão conviver com as profissões de conteúdos
inovadores.
No Brasil, o trabalhador está gradativamente deixando de ser um as-
salariado formal para assumir funções típicas do empreendedor e, também,
assumir os riscos de uma atividade empreendedora. O Brasil é considerado
pela pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor um país em transição, entre
um modelo orientado da eficiência para um modelo orientado para a inovação.

44 Criatividade e Inovação
Tema | 01
A pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor determinou nove con-

CRIATIVIDADE PARA A INOVAÇÃO


dições chave para empreender e o Brasil apresentou um quadro acima da média
da América Latina e Caribe em todos os itens, à exceção dos impostos, regula-
mentação e infraestrutura física, itens também verificados como hiato em rela-
ção à média total dos países pesquisados.
A população economicamente ativa (TEA) no Brasil, em 2013, foi es-
timada em 123 milhões de indivíduos entre 18 e 64 anos. Em relação aos em-
preendimentos,  21 milhões (17,1%) são iniciais (17ª posição no ranking GEM)
e 19 milhões (15,5%) estão estabelecidos (8ª posição – GEM). Tais percentuais
são superiores à média mundial de 7,9% e 6,7%, respectivamente. (GLOBAL
ENTREPRENEURSHIP MONITOR, 2013)
Um ponto comum entre as fontes pesquisadas é de que estamos en-
trando na era da confiança absoluta na ciência, como nunca antes havíamos fei-
to e certamente algumas profissões irão continuar a existir, mas não nos moldes
com as conhecemos hoje.
A ênfase dessa diferenciação já começa incidir na maneira como as em-
presas e o próprio mercado seleciona seus profissionais, que eu resumo em duas
dimensões: a do ter e do ser.
Para melhor exemplificar, podemos dizer que além do profissional ter
necessidade de um alto nível de formação e especialização, os especialistas em
Coaching and Developing Employees - um tipo de orientador para desenvolvi-
mento pessoal e/ou profissional – recomendam aos seus clientes a se preocupa-
rem com a saúde física, mental e emocional.
Em psicologia existe um conceito que descreve capacidade de sentir,
entender, controlar e modificar estados anímicos próprios e alheios, que se de-
nominou inteligência emocional.
Charles Darwim é a referência mais antiga da designação de inteli-
gência emocional. Embora seu trabalho enfatize os aspectos cognitivos como
memória e resolução de problemas, o autor considerou a expressão emocional
importante para a sobrevivência e adaptação da espécie.
O termo inteligência social, de Thorndik, surgiu em 1920 e foi utili-
zado para descrever a capacidade de compreender e motivar pessoas.
Em 1940, David Wechsler, apresentou a influência dos fatores não-
intelectuais sobre o desempenho da inteligência emocional e ainda defendeu
que os nossos modelos de inteligência não estariam completos, até que fatores

45
como: como autoconhecimento, flexibilidade mental e equilíbrio emocional não
pudessem ser adequadamente identificados.
Segundo Howard Gardner (1995, 1998), em sua teoria das inteligên-
cias múltiplas, os indicadores de inteligência como o QI16 não são capazes de
explicar completamente a capacidade cognitiva. Para ele, os testes e suas corre-
lações deveriam ser abandonados, o correto era partir para observar as fontes
de informações de como as pessoas, no mundo todo, desenvolvem capacidades
importantes para seu modo de vida. Ainda Gardner (1998) teorizou as sete in-
teligências:
Inteligências Linguísticas: característica relativa à capacidade de
manipular a linguagem, seus significados e as suas aplicações e de usar as pala-
vras de forma eficiente tanto no modo oral como no modo escrito.
2. Inteligências Lógico-Matemática: capacidade lógica e matemá-
tica;
3. Inteligências Espacial: capacidade de formar um mundo espacial
e de ser capaz de manobrar e operar utilizando modelos
4. Inteligência Musical: possuir acuidade musical;
5. Inteligência Corporal-Sinestésica: capacidade de resolver pro-
blemas ou elaborar produtos utilizando o corpo e seus cinco sentidos.
6. Inteligência Interpessoal: capacidade de compreender outras
pessoas;
7. Inteligência Intrapessoal: capacidade correlativa, voltada para
dentro. Capacidade de formar um modelo acurado e verídico de si mesmo e de
utilizar esse modelo para atuar efetivamente na vida.
8. Inteligência naturalista – relativas às inteligências originais no
que se refere à habilidade de reconhecer e classificar os minerais, a fauna e a
flora devido às suas contribuições para uma maior compreensão do meio am-
biente.

16 QI significa Quociente de Inteligência e foi proposto por William Stern em 1912 para avaliar as
capacidades cognitivas de um indivíduo em comparação com o grupo da sua faixa etária.

46 Criatividade e Inovação
Tema | 01
CRIATIVIDADE PARA A INOVAÇÃO
O psicólogo Daniel Goleman (1994; 1995) apresentou suas ideias sobre
um novo conceito de inteligência que denominou de Inteligência Emocional17.
O referido autor afirmou que a inteligência emocional era a capacidade de iden-
tificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de
gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos.
Segundo ele, a Inteligência Emocional pode ser categorizada em cinco
habilidades:
• Autoconhecimento Emocional - reconhecer as próprias emo-
ções e sentimentos quando ocorrem; (intrapessoal);
• Controle Emocional - lidar com os próprios sentimentos, ade-
quando-os a cada situação vivida; (intrapessoal);
• Automotivação - dirigir as emoções a serviço de um objetivo ou
realização pessoal; (intrapessoal);
• Reconhecimento de emoções em outras pessoas - reconhe-
cer emoções no outro e empatia de sentimentos; (interpessoais);
• Habilidade em relacionamentos interpessoais - interação com
outros indivíduos utilizando competências sociais. (interpessoais).

17 Alguns autores vão criticá-lo pela redundância do termo visto que a inteligência é uma só, pois o
cérebro é único e funciona como um todo integrando os aspectos cognitivos e emocionais. Mas o que
nos interessa nessa teoria é a valorização dos aspectos emocionais da inteligência.

47
As duas últimas são habilidades requisitadas para a organização de
grupos e negociação de soluções: habilidades essenciais para desenvolver
a liderança e o reconhecimento da liderança para uma cooperação espontânea
de equipes de trabalho, que envolve iniciativa e coordenação de esforços de um
grupo, característica do mediador, prevenindo e resolvendo conflitos.
Os testes tradicionais utilizados para medir o QI: Multi-factor Emotio-
nal Intelligence Scale - MEIS (Escala Multifatorial de Inteligência Emocional,
1998) e o Mayer-Salovery-Caruso Emotional Intelligence Test - MSCEIT (Teste
de Inteligência Emocional de Mayer-Salovey-Caruso, 2002). Já para medir a in-
teligência emocional os testes utilizam interpretações subjetivas do comporta-
mento. É um método que enfrenta problemas quando se trata de criar critérios
para avaliar as respostas que poderiam ser consideradas as ‘emocionalmente
mais inteligentes’.
Daniel Goleman (1995) acredita que a maneira mais fácil de tornar
as pessoas mais inteligentes emocionalmente é começando a educá-las, desde
cedo, quando ainda são crianças. No caso de adultos, para melhorar sua própria
inteligência emocional, a primeira tarefa eliminar hábitos contrários às cinco
habilidades.
A PwC – PricewaterhouseCoopers18, é uma network global de firmas
separadas e independentes que trabalha de forma integrada na prestação de
serviços de Assessoria Tributária e Empresarial e de Auditoria que realiza várias
pesquisas no mundo inteiro, visando monitorar o mercado econômico. Essas
pesquisas mostraram que as competências mais desejadas pelas empresas bra-
sileiras de grande porte são capacidade de realização, ética e criatividade.
De acordo com Olga Colpo (2015) diretora da PwC já participaram de
pesquisa da Pricewaterhouse a Alcoa, Grupo Algar, Amro Real, Grupo Camargo Cor-
rea, Coca-Cola, Kraft Lacta Suchard, Natura, Novartis, Rhodia e Santista Textil. As ca-
racterísticas mais valorizadas nos profissionais: Capacidade de realização (70%), Ética
(57%), Criatividade (54%), Iniciativa (48%), Motivação (41%), Energia e dinamismo
(35%), Quociente Emocional (34%), Autonomia (29%), Solução de problemas (26%),
Relacionamentos (25%).
Todas essas empresas utilizam o modelo de competências para gerir
talentos e estabelecer estratégia de negócios.

18 Informações retiradas do site Oficial da PwC


Disponível em: www.pwc.com.br/pt/quem-somos.html. Acesso em 10/09/2015

48 Criatividade e Inovação
Tema | 01
Em termos práticos significa que, quando dois profissionais concorrem

CRIATIVIDADE PARA A INOVAÇÃO


para uma mesma vaga, seja ela um emprego ou uma concorrência de prestação
de serviço, serão as competências especiais (citadas acima) que irão contar mais
porque é um tipo de capacidade da personalidade que é construída ao longo da
vida e diferentemente de conteúdos ou de informações técnicas que podem ser
passadas mais rapidamente.
Vejam que a criatividade passa ser uma qualidade esperada no perfil
profissional a partir da necessidade das competências especiais.
Mesmo com o risco de cair no lugar comum, é preciso ressaltar que
numa organização grande parte do trabalho consiste em solucionar ou ajudar a
solucionar problemas para os quais não foi contratado. São situações que extra-
polam questões técnicas da sua área de atuação e envolvem fatores humanos de
relacionamento e sistemas de regras existentes em um dado contexto.
No mundo das novas profissões, aqueles que souberem articular di-
ferentes áreas do conhecimento, passam a ser mais solicitados e, por consequ-
ência, mais bem remunerados. A articulação do pensamento está diretamente
ligada a capacidade criativa, que é exatamente a qualidade do que pensamos e
do que sentimos e percebemos.
Conforme Goleman (1998), a capacidade de compreender a si e aos
outros, somado a capacidade de apreciar os próprios sentimentos e motivações,
resultará no valor atribuído aos nossos pensamentos ou respectivamente seria a
inteligência emocional e nosso consciente intelectual se influenciando recipro-
camente. Em que a mediação do consciente intelectual está representada pelo
ambiente e contexto das situações e a inteligência emocional representada pela
capacidade de agir sobre as condições preestabelecidas.
Algumas políticas públicas brasileiras buscam incentivar a criatividade
e a inovação em incentivos financeiros para estudos e projetos e, também, in-
centivos fiscais. A Financiadora de Estudos e Projetos – Finep direciona todos
os anos recursos para serem direcionados às instituições de pesquisa e de ensi-
no, assim como para empresas inovadoras, instaladas em incubadoras. Entre
outras instituições financeiras, o BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento
oferece linhas de crédito para empresas que utilizam a inovação em produtos,
serviços, tecnologias digitais e desenvolvimento sustentável. E de acordo com
estes órgãos muitos desses incentivos deixam de ser aplicados pela ausência
de projetos, ou seja, ausência de criatividade para a inovação. Bem por isso, é

49
necessário que se insira no país uma cultura de inovação que se inicia com uma
educação diferente da tradicional e racionalista.
Cada indivíduo, colaborador, empresário, profissionais precisa priori-
zar o criativo, ser incentivado para descobertas, a curiosidade, a buscar o novo.
Esta educação pode ser estimulada pela escola formal ou pode ser instituciona-
lizada dentro da própria empresa: através de uma educação  corporativa.
Para as empresas que pretendem trabalhar com inovação já se foi o
tempo em que a qualidade de um produto era responsabilidade de um inspetor
que ficava no final da linha de produção para só então examiná-lo e dar a ga-
rantia ou não de sua qualidade. Hoje, a qualidade passou a ser responsabilidade
de todos na empresa e incorporada aos processos e atividades como um todo
integrado.
Você precisa ser criativo no trabalho:
• para resolver problemas de difícil solução, que necessitam de um
número maior de alternativas;
• para atender a uma necessidade inédita e específica do cliente que
está fora do escopo do projeto; para selecionar seus colaboradores;
• para melhor explorar o potencial de cada uma das pessoas da sua
equipe; para identificar oportunidades de melhoria em alguma ati-
vidade ou processo;
• para identificar ameaças em alguma atividade ou processo e,
• para achar argumentos para aprovar uma ideia ou para negociar
melhores contratos com os fornecedores e parceiros.

Ser criativo no mundo das artes em geral, do design, da arquitetura


e, da publicidade já era esperado. Inclusive, muitas pessoas escolheram essas
áreas para atuar profissionalmente ou porque são ou porque alguém as achava
uma pessoa criativa.
Mas todos nós queremos pessoas criativas do nosso lado: pais criati-
vos, filhos criativos, namorados criativos, amigos criativos, enfim se espera que
todos sejam criativos, pois pessoas criativas são positivas, bem humoradas, in-
teressantes e até surpreendentes.

50 Criatividade e Inovação
Tema | 01
A criatividade pode e deve ser dirigida também para nós enquanto in-

CRIATIVIDADE PARA A INOVAÇÃO


divíduos nosso dia a dia ‘não profissional’. Você precisa ser criativo na sua vida:
• para encontrar outras rotas e sair de um congestionamento de
trânsito;
• para escolher um presente diferente e surpreender alguém que
você gosta;
• para fazer as perguntas certas e buscar informações de forma achar
rapidamente o que procura;
• para defender um ponto de vista durante uma conversa informal,
enfim, até para programar um fim de semana ou férias inesquecí-
veis.

Muitas pessoas não são criativas e se viram muito bem, mas por outro
lado, a criatividade ajuda as pessoas a se destacarem da multidão. Como foi
descrito, o pensamento criativo pode ser aplicado em várias situações da vida
profissional ou pessoa,l com o intuito de ampliar as possibilidades e alternativas
de ação de forma a se diferenciar dos demais.
Quando desenvolvemos nossa capacidade criativa, estamos nos posi-
cionando em perspectiva diferente dos demais, ao invés de ficarmos nos per-
guntando “o que é” , seguimos identificando “o que poderia ser”.
De acordo com De Bono (1994) a criatividade não é exclusivamente ex-
pressa para criar surtos inventivos de produtos com tecnologia revolucionária,
a criatividade mais importante é a que acontece em pequenos saltos, pequenas
mudanças e melhorias que possuem na sua simplicidade a essência do pensa-
mento criativo.
Atualmente, os temas criatividade e inovação parecem emergentes e
desafiadores tanto para o âmbito pessoal como para o profissional.
O século XXI não depende apenas da capacidade de enxugar  custos,
diminuir despesas ou somente incluir atributos físicos nos produtos; neste novo
cenário competitivo a sobrevivência das organizações está atrelada à necessida-
de de criarem condições que favoreçam o surgimento de ideias novas, fomen-
tando o espírito inovador das pessoas.
Os problemas complexos da sociedade contemporânea pedem por
ideias corajosas e inovadoras que nos ajudem a resolver diferentes questões
econômicas, sociais e ambientais que ainda não foram equacionadas e causam

51
as mazelas do século: injustiça, pobreza, conflitos e guerras.
Este é o momento  das pessoas e das organizações escolherem entre a
inércia ou a ruptura com os procedimentos antigos que não servem mais. Agora,
a criatividade e a inovação passam a ser consideradas valores essenciais para as
empresas em substituição à qualidade (de seus, produtos/serviços) que é consi-
derada um requisito básico, certo e que já foi garantido pelo direito do consumi-
dor e, portanto, obrigação mínima de qualquer negócio.
Aqui foram apresentados alguns argumentos para o desenvolvimento
da criatividade no trabalho e na profissão que agora vão ser somadas a impor-
tância de desenvolver a criatividade para o âmbito da própria pessoa. As teorias
a respeito da criatividade e inovação nos indicam o caminho a seguir, mas é
preciso coragem e ousadia para segui-lo.

52 Criatividade e Inovação
Tema | 01
CRIATIVIDADE PARA A INOVAÇÃO
RODA VIVA. Edgar Morin. Vídeo, 2000. Disponível em https://www.
youtube.com/watch?v=ptITr1Zl9UQ
Assista o vídeo: Roda Viva Edgar Morin (2000)
Entrevista com o filósofo, sociólogo, antropólogo e historiador francês
Edgar Morin defende que o sistema de educação não produz apenas co-
nhecimento e elucidação. Produz também ignorância e cegueira. Edgar
Morin insiste que a reforma do pensamento é uma necessidade-cha-
ve da sociedade. É a reforma do pensamento que permitiria o pleno
emprego da inteligência, de forma que os cidadãos possam realmente
entender e enfrentar os problemas contemporâneos. É a ideia de um
pensamento não fragmentado.

FREITAS, Rosana Faria. Descubra se você tem mente conver-


gente e divergente para obter mais sucesso e qualidade de
vida. UOL, em São Paulo 24/07/2012. Disponível em: http://noticias.
uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2012/07/24/descubra-
-se-voce-tem-mente-convergente-e-divergente-para-obter-mais-su-
cesso-e-qualidade-de-vida.htm?mobileDev
Leia: Descubra se você tem mente convergente e divergente para obter
mais sucesso e qualidade de vida.
Os conceitos introduzidos pelo psicólogo americano Joy Paul Guilford
(1897-1987) são tradados forma clara e prática. Para Guilford, a criati-
vidade está ligada à forma de pensar e não ao nível de inteligência. Para
chegar a uma ideia original é preciso abandonar, caminhos já trilhados
e pensar de modo diferente. 

GUPTA, Praveen. Inovação empresarial no século XXI. Porto:


Vida Económica - Editorial, SA 2009.
Leia: Inovação Empresarial no Século XXI

53
O objetivo deste livro é oferecer uma abordagem abrangente dos pro-
cessos relacionados a inovação e um novo enquadramento da inova-
ção, um enquadramento que é sustentável na geração da Internet e na
era do conhecimento.

GARDNER, Howard. Inteligências – múltiplas perspectivas.


Editora Artes Médicas, 2010.
Leia: Inteligência Emocional
A ideia central do livro gira em torno das relações entre Inteligência
emocional e consciência intelectual, quociente intelectual (ambiente) e
quociente emocional (ação).

Foi possível compreender que, diante de um contexto marcado por


uma dinâmica social complexa e mutante, a educação se volta para a
formação integral do indivíduo. Ao mesmo tempo ocorre uma mudan-
ça na perspectiva do mercado de trabalho sobre os recursos humanos
que começa a exigir uma constante qualificação profissional para o
mundo do trabalho. Entretanto, para desenvolver as competências e
habilidades apontadas para a educação e mercado de trabalho no sé-
culo XXI, que tem como base o conceito do “aprender a aprender”, a
disciplina criatividade e inovação se torna emergente.

As abordagens filosóficas, biológicas, psicológicas e sociológicas sobre


a criatividade nos levaram a refletir sobre de onde vem a criatividade.
Ao contrário do que pensa o “senso comum” sobre a criatividade ser
um dom, os autores nos mostram que ela pode ser apreendida em va-
riados níveis e estimulada por meio das atividades adequadas. A cria-
tividade é um atributo dos seres humanos e tem como característica
combinar os efeitos das capacidades cognitivas com efeitos relativos ao

54 Criatividade e Inovação
Tema | 01
temperamento e ao caráter. Portanto, devemos entender a criatividade

CRIATIVIDADE PARA A INOVAÇÃO


como um elo integrador da personalidade aos aspectos do rendimento
cognitivo, isto é, da capacidade de conhecer.

Buscamos, ainda, relacionar a inovação e seus produtos ou tecnologias


com as teorias existentes sobre o assunto e compreender a necessidade
da reinvenção dos processos de negócios e a criação de novos merca-
dos inexplorados que atendam às necessidades vigentes. E, por fim,
apresentamos alguns tipos de incentivos e motivações próprias para
encorajar e estimular o desenvolvimento da criatividade através da
consciência intelectual e da inteligência emocional, para que cada um
seja vetor de ideias e de transformação para o seu entorno.

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