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Por Tatiana Carlotti - 12/11/2017, 20:31

A esquerda também precisa ler


Judith Butler
Temos de pensar sobre essas ideias de liberdade e justiça
incluindo liberdade de gênero, igualdade racial, igualdade
econômica.
Por Tatiana Carlotti
A opressão ao livre pensamento orquestrada por grupos reacionários, antes e
durante a passagem da filósofa norte-americana Judith Butler pelo Brasil,
culminou em mais uma agressão contra a pensadora no aeroporto de
Congonhas na manhã da última sexta-feira (10/11).

Durante dez minutos, a filósofa foi perseguida e insultada por uma mulher que
empunhava um cartaz com sua imagem desfigurada. A atriz Danieli Lima, que
interferiu em defesa da filósofa, sofreu insultos racistas e registrou um boletim
de ocorrência na delegacia do aeroporto por racismo. O vídeo da agressão a
ambas pode ser conferido aqui.

Na terça-feira (7/11), outro vislumbre de Inquisição pode ser testemunhado na


capital paulista. Em meio a palavras de ódio, um grupo de reacionários queimou
uma boneca com a foto de Butler durante a abertura do seminário Os Fins da
Democracia, realizado no Sesc Pompeia, na capital paulista.

O exercício do ódio, banhado no lodo da homofobia, foi municiado durante


semanas por notícias falsas, desinformação e uma campanha caluniosa contra a
pensadora – acusaram-na de disseminar a “ideologia de gênero” no país -, o
que revela, além do oportunismo, a mais completa ignorância desses grupos
sobre as ideias da pensadora.

Tamanha violência apenas revela o quanto é necessária a difusão das ideias


Judith Burtle no Brasil. Professora do departamento de Literatura Comparada na
Universidade da Califórnia, em Berkeley (EUA), militante pelos direitos LGBTQ,
seus estudos abrangem várias questões no campo da filosofia política, ética,
feminismo e teoria queer.

Um mundo que nunca mais voltará

Em vídeo disponibilizado pela editora Boitempo (confira abaixo), Judith Butler


comentou sobre os ataques contra sua vinda ao Brasil. Destacando a crescente
força do pensamento feminista e LGBTQ no mundo, ela avaliou a “política
sexual reacionária” como uma tentativa dos grupos conservadores “para nos
levar de volta a um mundo que nunca mais voltará”.

“Nosso lado é o lado da maior aceitação, maior compreensão e oferece mais


reconhecimento a mais pessoas. As pessoas querem viver com liberdade e
alegria. Elas não querem viver com vergonha e censura. Nós temos a alegria e
a liberdade do nosso lado e é por isso que vamos vencer”.

Durante o seminário do SESC Pompeia, Butler lembrou que o estudo de gênero


está consolidado em praticamente todas as instituições de pesquisa. “Não há
como ter um substantivo intelectual na universidade sem esse campo de estudo
permeando todos os demais campos: economia, sociologia, demografia, filmes,
literatura”.

De forma muito didática, ela exemplificou o que poderia ser compreendido


como “ideologia de gênero”:

“Se uma ideologia é algo fixo que te diz, por exemplo, que você nasceu fêmea e
então precisa permanecer mulher; que nasceu no gênero feminino e então tem
que ser heterossexual, casar com um homem, fazer sexo com esse homem, ter
filhos e reproduzir em uma família heterossexual, então, estamos falando de
uma ideologia de gênero. Porque isso é ideologia de gênero, certo?”.

Os Fins da Democracia

Os ataques contra Butler ressaltam, também, a pertinência das discussões


travadas no seminário Os Fins da Democracia realizado Sesc Pompeia. Ao longo
de três dias (7 a 9 de novembro), foram debatidos temas como a escalada do
fascismo, do autoritarismo, da supremacia branca; a diluição das democracias
liberais; diferentes tipos de populismos; movimentos revolucionários; a relação
umbilical entre autoritarismo e neoliberalismo (leia também “Neoliberalismo e a
escalada do fascismo”); entre outras questões. Colocar link após publicação da
matéria.
O seminário foi organizado pelo Convênio Internacional de Programas de Teoria
Crítica da Universidade da Califórnia (International Consortium of Critical
Theory Programs - ICCTP)junto ao Departamento de Filosofia da USP e em
parceria com o SESC São Paulo.

O encontro, inclusive, é parte de um dos vários projetos do ICCTP que está


promovendo uma série de conferências em vários países, reunindo
pesquisadores de diversos saberes no campo de estudos da Teoria Crítica, em
um exercício colaborativo de imaginação política.

Foi, portanto, dentro desse espírito de debate que se deu a discussão sobre os
fins da democracia, no sentido duplo do termo. O formato da conferência, aliás,
foi uma verdadeira aula de confrontação de ideias, estimulada por mediadores
encarregados de problematizar as questões apresentadas.

Na condição de co-diretora do ICCTP, Butler não participou como palestrante,


mas comoorganizadora do evento, junto a Natalia Brizuela (UC, Berkeley) e
Vladimir Safatle (USP).

Que século é este?

“Em diferentes partes do mundo, as pessoas estão se questionando que tempos


são estes politicamente? Que século é este?”, salientou Butler, ao mencionar a
escalada do autoritarismo, da supremacia branca, do fascismo, em vários
países do mundo. “Nós achávamos que havíamos superado essas forças
políticas há tempos, mas elas não foram totalmente vencidas. A luta contra elas
é uma constante”, avaliou.

Destacando a desconfiança crescente das pessoas em relação à ideia de


progresso, Butler apontou que ele deve ser pensando forma mais complexa e
não como algo linear ou dentro de concepções deterministas. Em sua avaliação,
o “choque” e as “desorientações caraterísticas do tempo que vivemos” nos
obriga a “refletir sobre as contradições históricas nas quais nos encontramos.
Essa a tarefa fundamental da Teoria Crítica”.

Ela também comentou a centralidade da representação na vida democrática,


lembrando que apesar do crescimento da representação formal pelo voto, em
todo o globo, as pessoas passaram a ser muito menos franqueadas por essas
representações.

“Há uma diferença entre representação e empoderamento (...) A Teoria Crítica


precisa trabalhar no limite da representação formal. O que acontece com uma
população que conquista a representação formal, é livre perante a lei, mas essa
liberdade e equidade não são reais? As pessoas não são livres, nem iguais.
Como essa não liberdade e não equidade são articuladas politicamente quando
essas pessoas se sentem fracassadas ou traídas pela representação formal?”,
questionou.

Durante suas considerações sobre a conferência, a pensadora também passou


um recado a setores da esquerda:

“Alguns amigos disseram ´nós cometemos um erro, porque focamos em


questões de gênero, de raça, em sexualidade, nos direitos das pessoas
especiais, nos indígenas. Todas essas questões são questões de identidade e
refletem nossa tensão em relação aos problemas econômicos e sociais, mas não
devemos nos desviar em assuntos identitários e sim voltarmos às questões
macroeconômicas´. Essa foi a fala da esquerda”.

Crítica a essa concepção, Butler questionou:

“Quem é o pobre? Quem é diretamente o pobre? São as mulheres, os índios, os


negros, os que não têm acesso à saúde adequada. Quem está sofrendo
economicamente? Esta não é uma pergunta importante? Eu gostaria de sugerir
que o feminismo e sua relação com os gêneros, teoria queer, a questão com a
sexualidade levantada em estudos, isso não se trata de políticas identitárias. É
uma mentira caracterizá-los como política identitária”.

“Ao argumentarmos sobre liberdade de gênero, a liberdade de se desenvolver


como gênero que você é, mudar seu gênero ou como transgênero, nós estamos
levantando aspectos sobre liberdade e igualdade e, também, argumentos sobre
como uma democracia deve ser”, afirmou.

E complementou:

“Democracia não tem nenhum significado se não houver liberdade de gênero e


se as minorias e os negros não tiverem igualdade social. Temos de pensar
sobre essas ideias de liberdade e justiça incluindo liberdade de gênero,
igualdade racial, igualdade econômica. Não digam que vocês estão fazendo
coisas particularistas ou se afastando do objetivo mais importante. Todas são
lutas por liberdade, igualdade e justiça”.

O que ler de Judith Burtle


Nessa passagem pelo Brasil, sua segunda vez no país, Butler lançou dois
livros: Caminhos Divergentes: Judaicidade e crítica do
sionismo (Boitempo, 2017), conflito entre Israel e a Palestina, publicado
originalmente em 2012; e A vida psíquica do poder: teorias da
sujeição(Autêntica), de 1997, onde reflete sobre as relações entre sujeito e
poder.

O lançamento de Caminhos Divergentes aconteceu no último dia 6 de


novembro, na Unifesp. Durante o evento, Butler ministrou a palestra “Por uma
convivência democrática radical”, disponível neste link. Vale também conferir a
íntegra de sua conferência magna durante o I Seminário Queer realizado em
Salvador (BA), em 2015.

Naquele ano, durante sua primeira visita ao Brasil, foram lançados dois
livros: Quadros de Guerra: quando a vida é passível de Luto (Civilização
Brasileira, 2015), publicado originalmente em 2009, com ensaios da filósofa
sobre a guerra do Iraque; e Relatar a si mesmo (Autêntica, 2015), lançando
em 2005 nos Estados Unidos e que traz a questão: “o que significa ter uma vida
ética?”.

Também estão traduzidos no Brasil O Clamor de Antígona: Parentesco


entre a Vida e a Morte (UFSC, 2014), publicado originalmente em 2000.
Nesta obra, Butler utiliza a tragédia de Sófocles para refletir sobre a crise
contemporânea da noção de parentesco.

E, obviamente, o clássico Problemas de gênero: feminismo e subversão da


identidade(Civilização Brasileira, 2003), primeiro livro de Butler traduzido no
Brasil. Lançada nos Estados Unidos em 1990, a obra é considerada um marco
do feminismo, sem dúvidas, leitura fundamental a todos os progressistas e de
esquerda que, de alguma forma, atuam como formadores de opinião.

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