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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE

DO SUL FACULDADE DE EDUCAÇÃO


DEPARTAMENTO DE ESTUDOS BÁSICOS

Disciplina: EDU01004 - História da


Escolarização Brasileira e Processos
Pedagógicos e EDU01052 - HISTÓRIA
DA EDUCAÇÃO DO BRASIL I
Professor responsável: JORGE ALBERTO
ROSA RIBEIRO 1º sem. 2014

Trechos retirados da obra de Gomes, Laurentino.


“O Imperador Tropical”. In 1889. Ed.Globo. 2013.
p.65-74.

3. O IMPÉRIO TROPICAL

No ano da proclamação da República, o Brasil


tinha cerca de 14 milhões de habitantes, 7% da
população atual. De cada cem brasileiros, somente
quinze sabiam ler e escrever o próprio nome. Os
demais nunca tinham frequentando uma sala de
aula. Entre os negros e escravos recém-libertos, o
índice de analfabetismo era ainda maior, superior a
99%. Só uma em cada seis crianças com idade
entre seus e quinze anos frequentava a escola. Em
todo o país havia 7.500 escolas primárias com 300
mil alunos matriculados¹. Dos estabelecimentos
secundários, o número cai de forma dramática:
apenas 12 mil estudantes. Oito mil pessoas tinham
educação superior/ uma parte cada grupo de 1.750
habitantes². A agricultura respondia por 70% de
todas as riquezas nacionais, e a imensa maioria da
população se encontrava no campo. Oito entre dez
brasileiros moravam na zona rural. O café
dominava a pauta de exportação. Sozinho, o Brasil
fornecia cerca de 60% da produção mundial.

Desde a época da independência o país tinha


feito progresso significativo, embora ainda muito
aquém de suas necessidades em alguns itens. As
fronteiras estavam definidas e consolidadas, com
exceção de um trecho na região do Rio da Prata e
do estado do Acre, que em 1903 seria comprado da
Bolívia por 2,9 milhões de libras esterlinas em
negociação conduzida pelo barão de Rio Branco.
Ao manter intacto um território pouco inferior à
soma de todos os países europeus, os brasileiros
haviam alcançado uma façanha que nenhum dos
seus vizinhos conseguiria realizar. O Brasil se
mantivera unido, enquanto a Antiga América
Espanhola se fragmentara nas guerras civis do
começo século. Revoltas nacionais e rebeliões
separatistas, que até metade do século XIX
ameaçara a integridade territorial, tinham sido
superadas com muito sacrifício. Como se isso não
fosse suficiente, o país tinha ainda passado por
outra experiência traumática, a Guerra do Paraguai,
maior de todos os conflitos armados da história da
América do Sul.

Iniciada em novembro de 1864, a Guerra do


Paraguai foi travada por mais de 5 anos, até março
de 1870. Ceifou a vida de centenas de milhares de
pessoas, das quais 33 mil brasileiros. O preço mais
alto coube, obviamente, ao Paraguai, o país
derrotado. A população paraguaia, estimada em
406 mil habitantes no começo da guerra, reduziu-se
à metade. O custo econômico também foi altíssimo.
Só do lado brasileiro foram gastos 614 mil contos
de réis, 11 vezes o orçamento do governo para o
ano de 1864, agravando um déficit que já era
grande e que o Império carregaria até sua queda.³

O Brasil se viu formado a entrar no conflito


pela inabilidade política e pela ambição desmedida
do ditador paraguaio, Francisco Solano López.
Determinado a ampliar o poder de seu país na
região do rio da Prata e reconstruir uma saída para
o Atlântico, Solano López aprisionou em Assunção
um navio brasileiro sem prévia declaração de
guerra, invadiu o norte da Argentina e a cidade de
Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, e ocupou a
região de Corumbá, no Pantanal mato-grossense.
Sem opção de resolver as diferenças por via
diplomática, restou ao Brasil resolver seus
interesses no campo de batalha. A guerra seria mais
longa e desgastante do que se previa. No inicio dos
combates, o exército brasileiro era reduzido e mal
organizado. Suas tropas somavam 18 mil homens
contra um contingente paraguaio de 64 mil
soldados forçado pela retaguarda de veteranos
calculados em 28 mil reservistas. O cenário
desfavorável mudou graças a uma aliança até então
considerada improvável, reunindo rivais históricos
- Brasil, Argentina e Uruguai – contra o inimigo
comum. A chamada Tríplice Aliança aniquilou as
esperanças de sucesso de Solano López. Nos anos
finais da guerra, no entanto, os brasileiros lutaram
praticamente sozinhos, sobre o comando do mítico
Luís Alves de Lima e Silva, futuro duque de
Caxias, uma que argentinos e uruguaios, às voltas
com rivalidades internas, pouco puderam
contribuir.

Internamente, a guerra produziu alguns efeitos


colaterais importantes. Nunca antes tantos
brasileiros haviam juntando forças em torno de
uma causa comum. Gente de todas as regiões
pegou em armas para defender o país. Calcula-se
que pelo menos 135 mil homens foram
mobilizados. Mais de um terço desse total, cerca de
55 mil, fazia parte do corpo de Voluntários da
Pátria, compostos de soldados que se alistaram
espontaneamente. Nos campos paraguaios,
brasileiros de cor branca lutaram ao lado de
escravos, negros e mulatos, índios e mestiços.
Ribeirinhos da Amazônia e sertanejos do nordeste
encontraram-se pela primeira vez com gaúchos,
paulistas e catarinenses. O Imperador Pedro II,
chamado de o “Voluntário Número Um”,
transferiu-se pessoalmente à frente de batalha,
enfrentando o frio e intempérie numa barraca de
campanha. Tudo isso havia produzido um
sentimento de unidade nacional que o país não
conhecera nem mesmo no tempo da sua
Independência. Os símbolos nacionais foram
valorizados. O hino era tocado no embarque das
tropas. A bandeira tremulava frente dos batalhões e
nos mastros dos navios.

Finda a Guerra do Paraguai, o país entrara


numa fase decisiva de transformações. No campo
político, reavivou-se a campanha abolicionista, em
favor da libertação de todos os escravos. A
resistência dos fazendeiros e barões do café, que
dependiam da mão cativa para cultivar suas
lavouras, fora enorme, mas, também neste caso,
brasileiros de todas as cores e regiões acabaram se
unindo em torno de uma mesma aspiração, que
levou milhares de pessoas as ruas na fase final da
jornada. O resultado tinha sido a lei Áurea, que,
assinada pela princesinha Isabel no dia 13 de maio
de 1888, colocara fim a quase quatro séculos de
escravidão. Ainda como decorrência da guerra, o
exercito se fortalecera. A presença dos militares
como força política nas décadas seguintes seriam
um fator decisivo para a queda da Monarquia e a
Proclamação da República.

Em 1889, as regiões mais distantes, por muito


tempo isoladas devido à dificuldade de acesso,
tinham sido mapeadas, ocupadas e integradas,
graças em boa parte às novas tecnologias de
transporte e comunicação. Haviam 9 200
quilômetros de ferrovias em funcionamento e
outras 9 mil em construção. O volume de cartas
despachadas pelos correios triplicou entre 1881 e
1889. Neste ano, 55 milhões de cartas da
correspondência oficial e privada transitavam pelos
correios, número que chegaria a 200 milhões dez
anos mais tarde. 4 O telégrafo, inventados em
meados do século, permitia enviar e receber
mensagens instantâneas a qualquer distancia. O
total de linhas telegráficas quintuplicara em uma
década e meia saltando de 3469 quilômetros em
1873 para 18 mil em 1889.5 O número de
mensagens telegráficas despachadas anualmente
saltara de 233 em 1861 para 528.161 em 1887,
anos m que os brasileiros trocaram 7 milhões de
palavras por este meio de comunicação.6 A
navegação costeira a vapor, inaugurada em março
de 1838, reduzira a menos da metade o tempo de
viagem entre Rio de Janeiro e Belém, no Pará.

O contato com o resto do mundo também fora


alterado de forma expressiva. Na década dos barcos
a vela, uma viagem entre Brasil e Europa,
demorava cerca de dois meses. Tinha sido este o
tempo que a frota do príncipe regente dom João
levara para cruzar o Atlântico em 1808, de Lisboa a
Salvador, fugindo das tropas do Imperador francês
Napoleão Bonaparte. Agora com os navios a vapor,
era possível ir ao Rio de Janeiro a Liverpool, na
Inglaterra, com exatos 28 dias a bordo dos ágeis e
confortáveis Packet Boats ingleses, nome que,
traduzido para o português, passou a ser chamado
de paquete. Segundo o historiador Luiz Felipe de
Alencastro, a viagem era feita com tal precisão e
regularidade que o bom humor carioca associou o
nome paquete ao ciclo menstrual feminino,
igualmente de 28 dias, em média.7 Marco desta
integração com o mundo havia sido a inauguração
no dia 22 de junho de 1874, o primeiro cabo
submarino ligado do Rio de Janeiro à Europa.
Instalado no prédio da Biblioteca Nacional, o
imperador Pedro II celebrou o acontecimento
despachando telegramas ao papa Pio IX, à Rainha
Vitória, da Inglaterra, ao imperador Guilherme da
Alemanha, ao rei Victor Emanuel, da Itália, ao
presidente dos Estados Unidos, Ulysses Grant e ao
presidente da França, Marechal Mac – Mahon.

Em meados do século, pouco antes da Guerra do


Paraguai, o Brasil havia testemunhado ainda
algumas mudanças no seu mapa político. O
Amazonas, desmembrado do seu vizinho Pará, se
tornara província autônoma em 1850. No sul, o
Paraná, até então a Quinta Comarca de São Paulo,
também ganhara autonomia em 1853. Outras três
províncias ganharam novas capitais: em Alagoas,
Maceió foi promovida a cede do governo em 1839;
no Piauí, Vila Nova do Poti substituiu o Oeiras em
1852, sendo rebatizada com nome de Terezinha em
homenagem a imperatriz Teresa Cristina, mulher
de dom Pedro II; E, por fim no Sergipe, Aracaju
tomou o lugar de São Cristóvão em 1855.

Capital do Império, com 522.651 habitantes, o Rio


de Janeiro aumentara sua população nove vezes
desde a chegada de dom João e a família real
portuguesa. O porto carioca era o mais
movimentado do Brasil. A renda de sua alfandega
representava 32% da arrecadação geral do Império.
A cidade que mais crescia em 1889, no entanto, era
São Paulo, que chegaria a 239.820 habitantes no
senso de 1900. Sua população se multiplicaria por
dez em apenas 50 anos, impulsionada em grande
parte pelos novos imigrantes estrangeiros, que
chegaram ao Brasil para substituir nas lavouras a
recém-abolida mão de obra escrava. Salvador,
capital colonial até 1763, tinha 174.412 habitantes
e apresentava crescimento estável, enquanto no
Recife, com 111.556, a população declinava em
razão da crise da lavoura açucareira.

Na Amazônia, Um fenômeno a ser observado era o


crescimento de Belém, que registraria 96.560
habitantes de 1900, impulsionava pela febre da
borracha. Desde que o americano Charles Goodyer
inventara o processo de vulcanização, em 1839, o
produto era usado na fabricação de mangueiras,
chapéus e capas de chuva, correias industriais e
outros artigos. Sua procura aumentaria ainda mais
nos anos seguintes, com o surgimento da indústria
automobilística, transformando os seringais da
Amazônia brasileira em um imenso eldorado
verde.8 Nas grandes capitais, a paisagem urbana se
transformara por completo. Em algumas delas, as
ruas centrais eram iluminadas por lampiões a gás,
mas eficientes do que as antigas lanternas a óleo de
baleia, de manutenção difícil e funcionamento
incerto. O telégrafo contribuíra para a proliferação
dos jornais e a circulação mais rápida de notícias. A
imprensa, que chegara tardiamente ao Brasil com
dom João em 1808, passara por uma fase de rápida
expansão nas décadas seguintes. Entre 1872 e 1895
também foram instaladas redes de trafego urbano
em Salvador, Rio de Janeiro, São Luiz, Recife,
Campinas e São Paulo. Em 1877, 7 linhas de bonde
transportavam 1, 5 milhão de passageiros por ano
na capital paulista.10

O Rio de Janeiro era a vitrine de todas as


mudanças. A cidade recebera arborização em 1820,
calçamento com paralelepípedos em 1853,
iluminação a gás em 1854, bondes puxados a burro
em 1859, redes de esgoto em 1862, abastecimento
domiciliar de água em 1874. Os primeiros bondes
elétricos chegariam em 1892. O nome bonde vinha
da palavra inglesa bond, cupons em papel que as
concessionárias emitiam para driblar a falta de
troco no pagamento das passagens. Eram empresas
estrangeiras, como a americana Botanical Garden
Rialroad Company, cujos carros ligavam o centro
da cidade ao largo do Machado. Ao desembarcar
no Rio de Janeiro, em 1883, vindo do sul, o
jornalista Carlos von Koseritz, diretor do jornal
Gazeta de Porto Alegre, ficou impressionado a
observar que, ali, todo mundo andava de bonde
incluindo ministros, deputados, senadores, varões e
viscondes. “Não creio que exista outra cidade no
mundo que haja tantas linhas de bonde” anotou
Koseritz. “É mesmo incrível como milhares e
milhares de pessoas aqui viajam de bonde. Toda a
cidade, desde Santa Teresa até a Tijuca é, durante
léguas, cortada com linhas de bonde em todas as
direções, e em todas elas se encontram bondes de 5
em 5 minutos, e estão sempre completamente
cheios.”¹¹

Maçom e arguto observador da realidade brasileira,


Koseritz tinha chegado ao Brasil 1851 como
mercenário contratado para lutar na guerra contra o
ditador argentino Juan Manoel de Rosas. Quando o
navio atracou no porto de Rio Grande no litoral
Gaúcho, desembarcou fingindo-se de doente. Em
seguida desertou e a pé caminhou 3 dias até
Pelotas, onde se estabeleceu como editor de livros
didáticos e de um jornal voltado para a colônia
alemã. Naquele tempo Pelotas era a mais rica das
cidades gaúchas. No mercado local, arrematavam-
se 300 mil bois gordos por ano. A carne, salgada e
curtida nas charqueadas, servia de alimento para
escravos nas lavouras de café de São Paulo e Rio
de Janeiro. Graças à prosperidade trazida pelas
charqueadas, a cidade tinha caixa-d’água importada
da França, ruas calçadas e servidas por rede de gás
encanado. Numa população de 20 mil pessoas, 9
mil eram escravas. Em 1883, já na condição de um
prestigiado editor e escritor, Koseritz teve a
sensação de adentrar outro mundo ao chegar à
capital do Império. Ali, nada tinha a ver com a
realidade acanhada e relativamente modesta
observada na província onde morava. “Tudo roda e
trepida pelas ruas, fazendo sobre o calçamento dos
paralelepípedos um barulho infernal”, para o qual
contribuem com seus pregões os “vendedores de
frutas, de jornais, de bilhetes, engraxates”,
observou o jornalista alemão. “Nas ruas mais
movimentadas”, onde transitam as pessoas
elegantes, ouve-se “falar quase tanto francês como
o português”. Koseritz ficou também
impressionado com o caráter alegre e
despreocupado do povo carioca. Apesar da
escravidão e da pobreza, que ainda dominavam a
paisagem, nas ruas cantava-se e ria-se o tempo
todo. As festas e os batuques eram frequentes. A
observação levou-o a uma curiosa conclusão
sociológica. Segundo ele, numa terra de clima tão
generoso e ameno, dificilmente haveria espaço para
revoluções sociais: “Um povo relativamente bem
vestido e alimentado ao qual o clima do país
permite, em caso de necessidade, dormir sobre um
banco do jardim público, não atira dinamite, mas ri
facilmente, faz boas e más pilhérias e não respeita
muito as majestades terrenas”.

O Rio de Janeiro surpreendeu Koseritz pelo


aspecto cosmopolita. As mulheres, até algum
tempo antes proibidas de sair de casa, eram vistas
nas ruas com vestidos longos, chapéus e
sombrinhas coloridas. A Confeitaria Carceler
vendia sorvete ao preço de 320 réis o cone,
produziu em fábrica de gelo importada dos Estados
Unidos. A rua do Ouvidor concentrava as casas de
comércio mais elegantes. Era um espelho da
Europa nos trópicos, como indicavam os nomes de
algumas de suas lojas: La Belle Amazone, Notre
Dame de Paris, Wallerstein et Masset e Desmarias.
Os homens se vestiam pelo figurino inglês. As
mulheres, pelo francês. Um anúncio da empresa
Buarque & Maya, de propriedade dos engenheiros
Manuel Buarque de Macedo e Raimundo de castro
Maya, colocava à venda uma novidade
revolucionária, as “machinas de escrever”,
comercializadas nos Estados Unidos desde 1987:

Com estas machinas de escrever três vezes mais


depressa do que a mão. O seu uso é hoje geral em
toda a União American, de onde toda a
correspondência vem escrita à machina, o que por
si só constitui uma prova irrefutável de sua grande
vantagem.12

Outro anúncio, de 1851, divulgava o leilão, na


rua Direita, de seis cavalos europeus,
“perfeitamente ensinados para sela, sem defeitos
nem vícios, mansos a ponto de poderem servir para
a monitoria de senhora”. Um deles, chamado
Waterloo, era vencedor de corridas no hipódromo
de Somerset, na Inglaterra.13

Almoçava-se às dez horas da manhã e jantava-se


às quatro da tarde. À noite, uma ceia, por volta das
oito horas. Nos restaurantes mais populares, a
refeição custava 600 réis. Um copo de refresco saía
por 200 réis. O cafezinho, por 60 réis. Um copo de
refresco saía 200 réis. O cafezinho, por 60 réis. Um
prato típico era composto de sopa, bife, arroz com
galinha, feijão, farinha, marmelada ou doce de figo,
frutas. A vida noturna era animada. Os teatros,
sempre lotados, faziam parte do circuito de
companhias e astros internacionais, como a cantora
lírica italiana Adelaide Ristori, a mais famosa da
época, que se tornou amiga e confidente do
imperador Pedro II até a morte.14

“Das cidades que tenho visto, não conheço


nenhuma tão barulhenta como o Rio”, escreveu Ina
von Binzer, professora alemã contratada para
educar os filhos de um rico cafeicultor do Vale do
Paraíba, em carta à amiga, vencedores de jornal
(...), vendedores de balas, cigarros, de sorvetes;
italianos apregoando peixe; realejos e outros
instrumentos, não se levando em conta os inúmeros
pianos soando janelas afora, tudo isso atroa pelas
ruas estreitas, onde os sons estridentes se
prolongam indefinidamente. (...). Completo essa
festa dos ouvidos com o crepitar dos foguetes
queimados dia e noite. (...) Além do barulho
ensurdecedor, (...) a sujeira e a desordem. As
calçadas, principalmente nos bairros comerciais,
são tão sujas como o leito das ruas.”15 Também no
Rio de janeiro funcionava a escola mais importante
do Brasil. Era o Imperial Colégio Pedro II, criado
em 1837. Tinha a prerrogativa exclusiva de conferir
ao aluno o valioso título de bacharel em Letras, um
diploma difícil de obter, mas que dava o direito a
entrar automaticamente em qualquer das raras
escolas de ensino superior existentes, como as
prestigiadas faculdades de Direito de São Paulo e
do Recife. Era, portanto, a chave que dava ingresso
ao restrito grupo social frequentador dos salões da
Monarquia. Em 1887, dos 569 alunos do Pedro II,
só doze receberam a láurea de bacharel. O diploma
era tão precioso que o imperador acompanhava
pessoalmente as provas. “Era como se saísse do
Imperial Colégio um pequeno príncipe." Com
direito a todos os acessos que dependessem da
inteligência aprimorada pelo saber humano”,
escreveu o sociólogo pernambucano Gilberto
Freyre.16

Gomes, Laurentino. “O Imperador Tropical”. In


1889. Ed.Globo. 2013. p.65-74.
A sociedade brasileira era conservadora e
patriarcal, fenômeno que se observava com mais
nitidez longe das capitais. A vida social se regulava
pelas missas, procissões, cerimônias e feriados
religiosos. Até 1852, os dias santos somavam 41
feriados ao longo do ano. A aristocracia rural
mandava em tudo. A realidade nacional nos anos
que antecederam a abolição da escravidão e a
Proclamação da República podia ser resumida em
uma frase atribuída ao senador gaúcho Gaspar
Silveira Martins: (pág.78, 2º parágrafo).

A construção desse país de sonhos estava confiada


a uma aristocracia relativamente pequena, que
mandava seus filhos estudar na França ou na
Inglaterra, tinha contato com as ideias liberais
discutidas em universidades europeias, mas tirava
sua riqueza da exploração da mão de obra cativa e
do latifúndio. Leis e rituais da Monarquia
procuravam imitar o pensamento e o ambiente dos
salões europeus, mas a moldura real compunha-se
de pobreza e ignorância. “A Elite era uma ilha de
letrados num mar de analfabetos”, definiu o
historiador mineiro José Murilo de Carvalho.²

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