Cismogênese foi o nome dado por Gregory Bateson à cadeia de ações e reações
consequente às relações entre “nós” e “eles” ou, nas palavras de Norbert Elias, dos
“estabelecidos” e dos “outsiders”. As ações e reações vão aumentando em força e, ao
longo do tempo, o controle sobre a situação vai se perdendo. Para esse autor, há dois
tipos de cismogênese: simétrica e complementar.
Na cismogênese simétrica, os dois grupos têm força o bastante para reagirem à
altura um do outro. Isso significa dizer que, a cada manifestação de poder de um lado, o
outro procura ser ainda mais determinado e poderoso em busca de superar o primeiro
grupo. Tal tipo de cismogênese produz a autoafirmação dos dois lados e entrava a
possibilidade de um acordo racional.
O outro tipo de cismogênese proposta pelo autor, apesar de levar aos mesmos
resultados, desenvolve-se a partir de pressupostos opostos. Nesse caso, o poder e
determinação demonstrado por um dos grupos é apoiado sobre a fraqueza do outro.
Enquanto o primeiro grupo tende a aumentar a sua autoconfiança, o segundo tende a se
submeter ainda mais.
Por fim, Bauman trata de um terceiro modo de interação, a reciprocidade, em
que há a neutralização das tendências destrutivas. Nesse tipo de relação, cada interação
é assimétrica, mas não da mesma forma, fazendo com que haja um equilíbrio a longo
prazo, porque os dois grupos têm algo a oferecer ao outro, que o necessita. Contudo,
continua-se a correr o risco de se transformar em relação simétrica ou complementar,
levando ao processo de cismogênese.
Bauman cita alguns autores, como Michel Foucault e Jacques Derrida, para
defender a ideia de que não há um núcleo fixo de identidade; ou seja, não há uma
essência própria e imutável de nenhum grupo. A identidade é, portanto, relacional, e os
elementos que utilizamos para formar nossa identidade são decorrentes dos recursos
extraídos do mundo ao nosso redor, dos grupos que fazemos parte e aqueles aos quais
nos opomos. A identidade então se forma a partir de uma oposição entre “nós” e “eles”
que, interdependentes, acabam se sedimentando em uma relação antagônica, o que
fornece a unidade e a coerência necessária a cada grupo. Dessa forma, o extragrupo é a
oposição imaginária que o intragrupo necessita para estabelecer sua identidade, além de
solidariedade interna e segurança emocional. Tais oposições são essenciais para nos
localizarmos no mundo social.
Exemplos: estabelecidos x outsiders de Elias // classe, gênero e nação como
exemplos de grupos grandes e dispersos (comunidades imaginárias)
A concepção ator-rede vem de uma teoria que surgiu no âmbito dos estudos de
ciências e tecnologia. Trata-se de uma nova teoria social ajustada para incorporar os
“não humanos” na análise, visto que eles têm influência significativa. Para que esses
“não humanos” sejam inclusos no corpus da pesquisa, devem ter um papel atribuído, ou
seja, devem ser atores e não meras projeções simbólicas. Na descrição da ANT (ator-
network theory), o social não permanece estável – é um estudo que visa reagregar o
social, ao invés de fixá-lo em um discurso fechado que o paralisa. Essa teoria enfatiza a
concessão de espaço para os atores se expressarem pois eles, segundo Latour, já faziam,
raciocinavam, teorizavam, etc., antes do pesquisador aparecer para investigá-los. É
relativista por inteiro, pois propõe que uma coisa suporta diversos pontos de vista. O
ator na ANT é central e “faz diferença”, não é visto como um ser substituível dentro de
uma estrutura. A ANT deve ser pensada não como simplesmente “atores em rede”, mas
primeiramente como um método, um “pincel” com que se descreve as “coisas”, e não o
objeto. Além de estar conectado, interconectado e ser heterogêneo, o que importa é o
trabalho, movimento, o fluxo, as mudanças; como as ações fluem de um para o outro;
como a rede (“net”) é trabalhada (“work”).