RIO DE JANEIRO
2009
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ii
FOLHA DE APROVAÇÃO
iii
AGRADECIMENTOS
período de execução desse trabalho: Débora, Roberta, Sabrina, Felipe Prota, Felipe Ornellas,
Helber, Tatiana, Raquel, André, Viviane, Verônica, Maicon, Jaqueline, Miriam, Tiago,
Ricardo, Monique, Miquéias e Anna Carolina. Obrigada pelos ensinamentos e por fazerem do
nosso local de trabalho um ambiente tão agradável. Em especial à Raquel, pela amizade,
pelo carinho.
Aos professores Carmen Cabanelas, Jennifer Lowe e Maurilo Leite pela participação
Aos meus pais, agradeço pelo apoio, dedicação, incentivo, paciência e carinho.
A meus irmãos, Cristina e Fabrício, obrigada pela paciência, amor e por acreditarem
em mim.
A meu sobrinho e afilhado, Antonio, por ser minha luz e alegria todos os dias.
viii
Aos amigos especiais Gabriela, Jovanka, Renata e Helber, obrigada pela incrível
RESUMO
Pacientes com mutações no gene que codifica o canal de cloreto CFTR apresentam o quadro
conhecido como fibrose cística. Estes indivíduos não apresentam disfunções renais
importantes, mas estudos recentes mostraram que estes pacientes apresentam redução da
capacidade de concentração urinária. O objetivo deste trabalho é verificar se a expressão do
CFTR é modulada por fatores envolvidos com a concentração urinária tais como AVP e
hipertonicidade extracelular em células MDCK. A análise estatística deste estudo foi feita por
por ANOVA univariante (pós-teste de Newman-Keuls). Diferenças foram consideradas
significativas quando p<0,05. Foram utilizadas células MDCK, derivadas de rim canino. Pela
técnica de Western blot, foi observado que o tratamento com AVP, 10-8 M por 24 h a 370 C,
induziu um aumento na expressão da proteína CFTR em relação às células controle
(0,44±0,09; n=3; p<0,05). Pelo uso de PCR semi-quantitativo também foi observado que o
AVP induz um aumento na expressão do RNAm do CFTR em relação as células controle
(1,14±0,35, n=4, p<0,05). Células também foram tratadas com AVP juntamente com
antagonistas dos receptores V1 ([Pmp1,Tyr(Me)2]AVP) ou V2 (OPC-31260) a 10-5 M e
somente os grupos tratados com antagonistas V2 tiveram a inibição do aumento da expressão
do RNAm promovido pelo AVP, indicando que este receptor esteja envolvido na modulação
do CFTR (n=4, p<0.05). A análise do estímulo da região promotora do CFTR foi realizada
através da cotransfecção das células com plasmídeos contendo o promotor do gene do CFTR
e outro com um promotor associado ao gene da β-galactosidase (controle interno). Foi
observado um estímulo da região promotora quando as células são tratadas com AVP 10-8M e
10-9 M (0,21±0,03 e 0,19±0,05, respectivamente, n=4, p<0,01). Quando as células foram
tratadas com meios hipertônicos (NaCl 480 mOsm, ureia 480 mOsm, sacarose 480mOsm,
NaCl 560 mOsm, ureia 560 mOsm e sacarose 560 mOsm) foi possível observar um aumento
da expressão da proteína CFTR, presente na membrana plasmática das células, tanto por
microscopia confocal 0,62±0,11; 0,79±0,16; 0,61±0,12; 0,70±0,18; 0,54±0,18 e 0,64±1,44,
respectivamente quanto por ensaio de biotinilização de superfície (1,58±0,34 para NaCl
480mOsm 1,24±0,34 para ureia 560 mOsm) em comparação às células controle (n=7,
p<0,05). Os resultados obtidos sugerem que tanto o AVP, via receptor V2, quanto o choque
hiperosmótico são capazes de estimular a expressão do CFTR sugerindo, desta forma, que
fatores envolvidos com o processo de concentração urinária podem estar envolvidos com a
modulação do canal CFTR nos rins.
x
ABSTRACT
Patients carrying a mutation on the gene that codifies the CFTR chloride channel are affected
by a disease known as Cystic Fibrosis. These individuals do not present major renal
dysfunctions, but recent studies have shown that these patients present a reduction of the urine
concentration ability. The aim of this work is to verify if the CFTR expression is modulated
by factors involved in the concentration of the urine like AVP and extracellular hypertonicity
in MDCK cells. Statistical analysis was performed by One Way Analysis of Variance
followed by Newman-Keuls post-test. Differences were considered significant when p<0,05.
It was utilized MDCK cells, derived from canine kidney. Through Western blot technique, it
was observed that the treatment with 10-8 M AVP for 24 h, at 37o C, induced a CFTR protein
expression increase compared to control cells (0,44±0,09; n=3; p<0,05). By semi-quantitative
PCR, it was also observed that AVP induces a CFTR mRNA expression increase compared to
control cells (1,14±0,35, n=4, p<0,05). Cells, also treated with AVP, but now with V1 receptor
antagonist ([Pmp1,Tyr(Me)2]AVP) or V2 receptor antagonist (OPC-31260) in the
concentration of 10-5 M, only the groups treated with V2 antagonists had the inhibition of the
promoted AVP mRNA increase, indicating that this receptor is involved in the CFTR
modulation (n=4, p<0.05). The analysis of the CFTR promoter region stimulus was made
through cells cotransfection with plasmids containing the CFTR gene promoter and another
plasmid containing the β-galactosidase gene (internal control). It was observed a promoter
region stimulus when the cells are treated with 10-8M and 10-9M AVP (0,21±0,03 e
0,19±0,05, respectively, n=4, p<0,01). When cells are treated with hypertonic mediums (480
mOsm NaCl, 480 mOsm urea, 480 mOsm sacarose, 560 mOsm NaCl, 560 mOsm urea e
560mOsm sacarose) it was possible to observe a CFTR protein expression increase in the
plasmatic membrane through confocal microscopy (0,62±0,11; 0,79±0,16; 0,61±0,12;
0,70±0,18; 0,54±0,18 e 0,64±1,44, respectively) and through surface biotinylation (0,20±0,02
for 480 mOsm NaCl and 0,17±0,04 for 560 mOsm urea) when compared to control cells
(n=7, p < 0,05). The obtained results suggest that either AVP via its V2 receptor or
hyperosmotic shock are able to stimulate the CFTR expression suggesting that factors
involved in the urinary concentration process may be involved with the CFTR channel
modulation in the kidneys.
xi
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS.......................................................................................................vii
RESUMO.............................................................................................................................ix
ABSTRACT..........................................................................................................................x
LISTA DE ILUSTRAÇÕES..............................................................................................xiv
LISTA DE TABELA.........................................................................................................xvi
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................1
1.2 Os Rins..................................................................................................................................2
2 JUSTIFICATIVA.............................................................................................................33
xii
3 OBJETIVOS....................................................................................................................34
4 MATERIAL E MÉTODOS.............................................................................................35
5 RESULTADOS................................................................................................................45
5.1 Estudo da ação do hormônio AVP sobre a expressão do RNAm do canal de cloreto CFTR
em células MDCK-I por RT-PCR.……………………………………………………………45
5.2 Análise da Expressão da Proteína do CFTR em Células MDCK-I após tratamento com
AVP por Western Blotting........................................................................................................46
5.3 Estudo da ativação da região promotora do CFTR pelo AVP em células MDCK-I..........47
5.4 Estudo da participação dos receptores de AVP na expressão do RNAm do CFTR em
células MDCK-I por RT-PCR...................................................................................................48
5.5 Análise da expressão da proteína total do GFP-CFTR por Western Blotting em células
MDCK GFP-CFTR...................................................................................................................48
5.6 Análise da expressão de GFP-CFTR na membrana plasmática por microscopia
confocal.....................................................................................................................................50
5.7 Análise da expressão da proteína GFP-CFTR por biotinilização de superfície..................52
xiii
6 DISCUSSÃO...................................................................................................................53
7 CONCLUSÕES...............................................................................................................58
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................59
xiv
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
distal..........................................................................................................................................13
coletor........................................................................................................................................15
AVP é sintetizado; da hipófise posterior, onde este hormônio é liberado e de seu local de ação
no néfron...................................................................................................................................29
confocal.....................................................................................................................................51
biotinilização.............................................................................................................................52
xvi
LISTA DE TABELA
actina.........................................................................................................................................38
xvii
AC – Adenilato ciclase
AQP - Aquaporina
DAG – Diacilglicerol
cotransporter”)
ORCC – Canal cloreto retificador de condutância para fora (do inglês “outwardly rectifying
chloride channel”)
pb – Pares de base
Pi – Fosfato inorgânico
PIP3 – Fosfatidilinositol-3,4,5-trifosfato
PLCβ - Fosfolipase Cβ
ROMK – Canal de potássio da medula externa renal (do inglês “renal outer medullary
potassium channel”)
T3 - Triiodotironina
T4 – Tiroxina
UT – Transportador de ureia
1
1. INTRODUÇÃO
deste fluido dentro de faixas estreitas de variação de volume e composição é essencial para a
balanço entre a absorção intestinal e/ou reabsorção e secreção renal de sais e água. Esta
também do FEC. Alterações na ingestão de cloreto de sódio (NaCl) ou dos mecanismos que
levem à retenção deste sal constituem os processos responsáveis pela expansão do volume do
FEC podendo estar relacionadas com a gênese da hipertensão entre outras patologias
podem modular a excreção urinária e/ou intestinal de NaCl através da ação sobre seus
transportadores iônicos presentes no epitélio desses órgãos. Nesse sentido, vários processos
aumentam a eliminação de sódio (Na+), ou seja, natriuréticas (fator atrial natriurético, lis-
fluido intersticial varia entre 95 e 105 mM. Desta forma, é valido postular que os mecanismos
cloreto filtrado pelo glomérulo é reabsorvida juntamente com o sódio ao longo do néfron por
entendimento dos mecanismos através dos quais esse órgão manipula as cargas filtradas tanto
1.2 Os Rins
composição do fluido extracelular dentro dos limites fisiológicos compatíveis com a vida.
Eles fazem essa manutenção do meio interno regulando o volume de água do organismo e o
variando dentro de estreitos limites fisiológicos, enquanto que a urina deste indivíduo pode ter
A depuração renal indica o volume virtual de plasma que fica livre de certa
substância em determinada unidade de tempo. Este processo além de se dar pela filtração
glomerular pode também ser feito pela secreção tubular, já que o sangue que passa pelos
glomérulos e não é filtrado vai para a rede capilar peritubular. Por outro lado, há a reabsorção
tubular onde substâncias filtradas voltam ao sangue que percorre os capilares peritubulares e
entram na circulação sanguínea sistêmica pela veia renal (BRENNER et. al, 2007).
de cada lado da coluna vertebral. Em humanos, os rins situam-se entre a terceira vértebra
lombar e a vigésima vértebra torácica. Eles possuem uma borda convexa e outra côncava e,
nesta última, localiza-se o hilo. É por ele que passam o ureter, a artéria renal, a veia renal,
vasos linfáticos e um plexo nervoso. Envolvendo este órgão, existe uma cápsula fibrosa de
medular contém 8 a 18 pirâmides de Malpighi, cujos lados e bases estão em contato com a
zona cortical e os vértices fazem projeções nos cálices renais. Essas projeções são as papilas
que contem, cada uma, uma área cribiforme. Esta área apresenta orifícios que correspondem à
desembocadura dos ductos coletores papilares. Cada papila renal é envolta por uma extensão
membranosa da parte superior do ureter, a pélvis renal, formando os cálices menores. Estes se
cápsula renal. Estão nesta região, além dos vasos sanguíneos, glomérulos, túbulos proximais,
túbulos distais e as alças de Henle e os ductos coletores dos néfrons mais superficiais. A
região medular possui vasos sanguíneos, os segmentos retos proximais, as alças de Henle e os
ductos coletores apenas dos néfrons mais profundos (Figura 1) (AIRES et. al, 2008).
4
Cápsula
C órtex Medula
Ductos Papilares
de Bellini
Papilas
Artéria Renal
Cálices
milhão e 400 mil néfrons. (NYENGAARD & BENDTSEN, 1992). O néfron é formado pelo
glomérulo e por uma estrutura tubular (figura 2). Este primeiro é formado de capilares
capilar formado a partir de uma arteríola aferente, que se divide em 5 a 8 ramos e, por sua
vez, subdividem-se em 20 a 40 alças capilares. Estas são sustentadas por células mesangiais e
sua matriz. Estas células fagocitam agregados moleculares presos à parede capilar e possuem
eferente. O endotélio dos capilares glomerulares é fenestrado e pode ser atravessado durante a
entre elas há o espaço de Bowman, que é ocupado pelo filtrado glomerular. As células da
5
parede interna da cápsula de Bowman são os podócitos, estes emitem projeções chamadas de
barreira de filtração entre o sangue e o espaço urinário não permite a passagem de elementos
figurados do sangue e é composta pelo epitélio fenestrado do capilar, pela membrana basal
que conferem carga negativa à barreira de filtração. Este glicocálix contribui para as
com poros funcionais e é constituída de uma rede de fibrilas. Ela também é carregada
túbulo distal e ducto coletor. O túbulo proximal é constituído por um segmento convoluto e
outro reto. Com base em diferenças anatômicas ele ainda pode ser dividido em três
segmentos: S1, S2 e S3. S1 se estende até metade da porção convoluta, S2 inclui a parte final da
porção convoluta e metade da inicial reta e S3 corresponde ao restante da parte reta e pode
Após o túbulo proximal, inicia-se a alça de Henle, que possui três segmentos:
ramo fino descendente, ramo fino ascendente e ramo grosso ascendente. A alça de Henle
penetra na medula renal e a sua configuração em forma de alça tem importante papel na
concentração urinária que será explicada mais adiante (AIRES et. al, 2008).
6
seguida o túbulo distal reto e ducto coletor cortical. Segmentos de conexões de vários néfrons
drenam para um mesmo ducto coletor cortical. A partir daí, o fluido caminha sequencialmente
pelos ductos coletores medulares, cálices, pélvis, ureteres e bexiga. Os ductos coletores
localizados próximos à área cribiforme são chamados de ductos papilares de Bellini. São
espesso ascendente até o ducto coletor medular (AIRES et. al, 2008).
aos rins são filtrados graças à pressão hidrostática do sangue nos capilares glomerulares. Os
80% de plasma restantes que não foram filtrados se dirigem para a circulação capilar
peritubular.
passagem dessas substâncias com alto peso molecular e/ou carregadas negativamente. Após
ser formado, o filtrado caminha pelos túbulos renais e sua composição e volume são
modificados pelos mecanismos de reabsorção e secreção ao longo do néfron até que a urina
A secreção e a reabsorção dos solutos através do epitélio renal são feitas por
membranas das células tubulares. Esses mecanismos são interdependentes e atuam no sentido
quantidade de solutos que são excretados na urina final (AIRES et. al, 2008).
orgânicos e sais de sódio. Todos esses solutos são transportados para o interior da célula
através de transporte ativo secundário dirigido pelo gradiente eletroquímico gerado pela
eletroneutro de Na+/H+ (pelo trocador NHE3) e cotransporte eletroneutro de sódio com ânions
8
e saem por difusão pela membrana basolateral, acoplados ou não ao sódio, e vão para o
sangue peritubular. Este transporte de sódio nesta primeira fase da reabsorção proximal gera
disso, sua via paracelular (entre as células) é permeável ao sódio e ao cloreto. A diferença de
sódio que foi reabsorvido pela via transcelular difunde-se de volta para o lúmen pela via
principalmente, à reabsorção de NaCl. Nesta fase, o cloreto está concentrado na luz tubular,
a diminuir e a concentração de NaCl vai aumentando até ser maior que a do espaço
diferença de potencial lúmen positiva faz com que o sódio seja reabsorvido pela via
paracelular, enquanto que o gradiente químico entre lúmen e espaço peritubular promove uma
força motriz para a reabsorção de cloreto. Portanto, NaCl é reabsorvido pela via paracelular e
9
nesta fase. Além da diferença de potencial lúmen positiva, o NaCl é reabsorvido por solvent
drag, onde as moléculas de NaCl são transferidas pelo efeito do fluxo de água.
Cl -
Na+
Glicose ou
Aminoácidos
3Na+
2K+
Na+
NHE3
H+
ClC-2 Cl-
Na+
Glicose,
Ânions aminoácidos,
orgânicos ânions orgânicos
sódio. Isso pode acontecer por transporte não acoplado (canais de sódio) ou por transporte
parte da reabsorção de cloreto é transcelular. O cloreto entra na célula pelo trocador NHE3,
pelo trocador Cl--OH- (Slc26a6) e por cotransporte eletroneutro de NaCl. (SINDIC et. al,
10
2007). Ele sai pela membrana basolateral via co-transportador K+-Cl- (KCC). As proteínas
KCC1, KCC3 e KCC4 são todas expressas nos rins. O cloreto também sai da célula pela
membrana basolateral por canais de cloreto. Eles são funcionalmente análogos ao CFTR, são
canais de cloreto da família ClC. No caso dos túbulos proximais, são os canais ClC-2
(PLANELLES, 2004).
Cl-
Na+ 3Na+
NHE3
H+ 2K+
Cl-
Cl-
Slc26a6
ClC-2
OH-
Na+ K+
KCC
Cl -
Cl-
NaCl
+
H2O
Figura 4. Representação esquemática dos principais mecanismos de transporte da segunda fase da reabsorção
proximal. O sódio e o cloreto são reabsorvidos, sendo transportados pela membrana luminal por transporte
ativo secundário. A Na+/K+-ATPase é quem gera o gradiente eletroquímico para o transporte secundário. O
sódio vai para os capilares peritubulares pela Na+/K+-ATPase e o cloreto pelo cotransportador KCC ou por
canais de cloreto ClC-2. Nesta fase, o cloreto e o cloreto de sódio são reabsorvidos paracelularmente por
difusão passiva. Figura original
1.3.2 Transporte nos Ramos Finos Descendente e Ascendente da Alça de Henle
abundantemente aquaporina-1 (AQP-1) fazendo com que ele seja permeável à água. Ele
Porém, neste segmento, esses solutos são secretados de modo passivo e paracelular e não
11
que essas células não fazem transporte ativo. As células desta parte do néfron estão expostas a
O fluido que chega ao ramo fino ascendente tem uma alta concentração de
sódio e cloreto devido ao equilíbrio osmótico estabelecido no segmento anterior. O ramo fino
também de modo passivo e transcelular. O cloreto atravessa a célula por canais de cloreto do
reabsorvida por canais de ureia UT2 também presentes em ambas as membranas. O fluido que
chega à dobradura da alça de Henle está bastante concentrado e vai diluindo-se na porção fina
NaCl (cerca de 30% do NaCl filtrado). Do total de sódio reabsorvido neste segmento, metade
atravessa o epitélio pela via paracelular e a outra metade pela transcelular. Da carga filtrada
potássio e cloreto são cotransportados pela membrana apical pelo cotransportador tríplice
simultânea desses três íons. O transporte de sódio e cloreto são mutualmente codependentes e,
12
por sua vez, dependem da presença de potássio. Desta forma, os canais apicais de potássio
(ROMK2) são necessários para o contínuo funcionamento do NKCC2 (WANG et al., 1997).
crítica para a reabsorção de sódio, potássio, cálcio e magnésio neste segmento. Ela faz com
que estes íons sejam reabsorvidos pela via paracelular, atravessando as tight junctions. A
permeabilidade à água no ramo grosso ascendente é extremamente baixa. Esse fato, associado
entrada de sódio, potássio e cloreto via NKCC2. O sódio sai da célula pela membrana
por canais específicos. O potássio utiliza os canais tipo ROMK2 e o cloreto utiliza canais da
3Na+
Na+ 2K+
K+ NKCC2
2Cl-
ROMK K+
K+ ROMK
ClC Cl-
Figura 5. Representação esquemática dos principais mecanismos de transporte no ramo grosso ascendente da
alça de Henle. O sódio, o cloreto e o potássio são transportados pelo transportador tríplice na membrana
luminal por transporte ativo secundário. O sódio sai da célula pela Na+/K+-ATPase, o cloreto pelo canal ClC e
o potássio pelo canal ROMK2. Parte do potássio volta para a luz tubular, também através de canais ROMK2,
e retroalimenta o transportador tríplice. Figura original.
13
filtrada e de cerca de 5% da de cloreto. Esses íons são co-transportados para dentro da célula
pelo cotransportador NCC presente na membrana apical. O canal epitelial de sódio (ENaC)
membrana luminal. O sódio vai para o espaço peritubular ativamente pela Na+/K+-ATPase e o
cloreto passa passivamente por canais de cloreto da família ClC, provavelmente, por ClC-K2.
cotransportador de K+-Cl-, KCC4, por onde são reabsorvidos o potássio e o cloreto para o
espaço peritubular. As vias paracelulares neste segmento são pouco permeantes (Figura 6).
Na+
Cl- 3Na+
2K+
Na+ ENaC K+
KCC4
Cl -
Na+
NHE2 ClC Cl -
H+
Figura 6. Representação esquemática dos principais mecanismos de transporte no túbulo distal. A partir do
gradiente eletroquímico gerado pela Na+/K+-ATPase, sódio e cloreto são reabsorvidos pelo cotransportador
apical NCC. O sódio também pode ser reabsorvido pelo trocador NHE2 e pelo canal de sódio ENaC. Na
membrana basolateral a saída do sódio se dá pela Na+/K+-ATPase e a do cloreto pelo cotransportados KCC4.
Figura original.
14
No ducto coletor, a reabsorção de água, sódio, cloreto e outros íons pode variar
dependendo das necessidades do organismo. Nas células principais, a entrada de sódio pela
membrana apical se dá por canais de sódio altamente seletivos, os ENaCs. Essa absorção
seletiva de cargas positivas gera uma diferença de potencial lúmen-negativa de -20mV. Essa
eletronegatividade é crítica para a secreção de potássio por canais apicais de potássio e para o
(GÖGELEIN, 1988; STRANGE et al., 1996; FRANCIOLINI & PETRIS, 1990; FONG &
JENTSCH, 1995) (HIKI et al, 1999). Há duas vias principais para a reabsorção de cloreto: a
dirigida pela diferença de potencial lúmen-negativa que possibilita que o cloreto passe através
paracelular. Ela se dá pela entrada de cloreto nas células intercalares β pelo trocador apical
Cl--HCO3- e pela sua saída por canais de cloreto basolaterais. As células adjacentes
ClC para que o cloreto passe para o espaço peritubular. Assim, menos de 1% da carga filtrada
de cloreto é excretada na urina (ROCHA & KUDO, 1990; SINGH et al., 1995). Todos esses
Cl-
CI β
H+
Cl-
HCO3-
ClC Cl-
CI α
HCO3-
Cl-
H+
K+
Figura 7. Representação esquemática dos principais mecanismos de transporte no ducto coletor. Nas células
principais (CP), há reabsorção de sódio através dos canais ENaCs presentes na membrana luminal. Esta
reabsorção acontece devido ao gradiente eletroquímico gerado pela Na+/K+-ATPase. Nas células intercalares
β (CI β), há reabsorção de cloreto pelo trocador apical Cl--HCO3-. Nas células intercalares α (CIα), há
secreção ativa de próton e secreção de cloreto e reabsorção de bicarbonato. Figura original.
técnicas de biologia molecular, muito desses genes de canais têm sido clonados, permitindo o
estudo dos mecanismos reguladores tanto da expressão de seus RNAs mensageiros (RNAm)
como das proteínas transportadoras codificadas por eles, contribuindo assim para o
canal está localizado ao longo do néfron e está envolvido no fluxo de cloreto através do
epitélio renal e na regulação de outras condutâncias de outros canais também neste tecido
transportados pelas proteínas da família ABC incluindo açúcares, aminoácidos, íons, drogas,
últimos, elas têm ampla distribuição nos tecidos. No genoma humano já foram identificados
17 das 48 proteínas ABC estão ligadas a doenças genéticas. Entre estes pode-se destacar o
17
pertence à subfamília ABCC. Ele é um canal que tem como função permitir a passagem dos
quando completamente glicosilada (CHANG et al., 1991; MORALES et al, 2000; SOUZA
-MENEZES & MORALES, 2009). A partir da porção N terminal, possui um conjunto de seis
um primeiro domínio de ligação de nucleotídeos (NBD-1), o qual possui sítios de ligação para
ATP. Um grande domínio regulatório (domínio R) segue o NBD-1, rico em sítios de ligações
SHEPPARD et al., 1999; MORALES et al, 1999; AMES et al., 1990; HYDE et al., 1990)
(Figura 8).
A estrutura primária deste canal permite que ele seja classificado entre os
da hidrólise de ATP para transportar substratos através das membranas celulares (HYDE et
al., 1990; HIGGINS, 1992; DEAN & ALLIKMETS, 1995). Riordan e colaboradores (1989)
uma estrutura para a proteína baseada em comparações entre o CFTR e outros membros da
O CFTR tem características distintas dos outros canais da sua família: uma
baixa condutância entre 6 e 10 pS, a relação corrente-voltagem (I/V) é linear (BERGER et al.,
18
1991; TABCHARANI et al., 1990), ele é seletivo para ânions, tem abertura independente de
Extracelular
R
BD1
N
NH2
R D2
Intracelular NB
COOH
Figura 8. Modelo bidimensional do canal de cloreto CFTR, onde são indicados os principais domínios da
proteína: sítios de ligação de nucleotídeos (NBD1 e NBD2) e sítios de ação de proteínas cinases (Domínio R).
Também são mostrados os dois domínios transmembranares da proteína. Adaptado de Gadsby & Nairn,
cinase e fosfatase da célula e pelos níveis de ATP celular. A fosforilação dos resíduos de
PKA regula a atividade deste canal, mas ela também pode ser regulada por PKC (CHEN &
HWANG, 2008). Uma vez que o domínio R é fosforilado, a abertura do canal é regulada por
um ciclo de hidrólises de ATP nos NBDs. Quando ATP liga-se aos NBDs, eles se aproximam
unindo os ATPs na interface entre NBD-1 e NDB-2. Essa interação transmite, então, um sinal
que abre o canal através de seu domínio transmembranar. Este sinal se mantém até que haja a
NBD-2 e eles se separam. O fim do sinal permite que o canal se feche, encerrando o fluxo de
19
ânions até que o ATP ligue-se aos NBDs de novo (ANDERSON et al., 1991a; GADSBY et
al., 2006).
transporte iônicos. Este fato é importante para os epitélios que apresentam intenso transporte
de íons e fluido, como o epitélio pulmonar e renal. Por exemplo, o CFTR é capaz de estimular
al. 1995) e inibir canais epiteliais de sódio (ENaC) (KUNZELMAN et al., 2001).
importância do CFTR nos rins e sua interação com outros transportadores têm sido
2007; MORALES et al., 1996; MORALES et al., 2000; MORALES et al., 2001).
(RIORDAN et al., 1989; MORALES et al., 1996). A proteína do CFTR foi detectada em
túbulo proximal, ramo fino da alça de Henle e na membrana luminal de túbulo distal, ducto
coletor cortical e ducto coletor medular por imunocitoquímica (CRAWFORD et al., 1991).
Análises de patch-clamp também confirmaram sua presença nos túbulos proximal e distal e
nos ductos corticais medulares (STANTON, 1989; SEGAL et al., 1993; HUSTED et al.,
expresso, principalmente, na área apical das células tubulares proximais. Sua distribuição é
20
No rim humano, a proteína do CFTR foi detectada em túbulo proximal, ramos finos da alça
de Henle, túbulos distais e ductos coletores (MORALES et al., 1996; CRAWFORD et al.,
organelas intracelulares ao longo das vias endocíticas e secretórias do túbulo proximal. Neste
local, ele pode estar agindo como um regulador do pH das vesículas importando cloreto para
1999).
regulador de outras condutâncias pode ter outro papel nos rins. Ele pode estar também
de camundongos revelou que possa haver um envolvimento deste canal com a endocitose de
proteínas de baixo peso molecular (JOURET et al., 2007). Recentemente, esta hipótese teve
maior embasamento com a utilização de camundongos knockout para CFTR utilizados para
caracterizar o papel do CFTR no rim (JOURET & DEVUYST, 2008). Análises urinárias e
plasmáticas desses animais revelaram que a função renal desses animais era normal. No
2006). Uma ligação de alta afinidade da megalina com a região N-terminal da cubulina já foi
demonstrada in vitro, o que sugere que a megalina participa não apenas da endocitose e do
membrana plasmática (MOESTRUP et al., 1998). Nos camundongos Cftr-/- foi observado um
CFTR no rim não está relacionada com mudanças na biossíntese de cubulina, e sim, com um
aumento significativo da excreção urinária de cubulina. Já a megalina, não teve sua expressão
renal nem sua excreção urinária alteradas (JOURET et al., 2007). Esses dados sugerem que a
falta do CFTR no túbulo proximal pode induzir uma instabilidade da cubulina na borda em
escova e isto levaria ao seu aparecimento na urina (JOURET & DEVUYST, 2008).
O modo como o CFTR age nas células de túbulo proximal ainda não está claro
até este momento. Ele pode estar contribuindo, junto com outras proteínas, para a acidificação
causam uma endocitose errônea das proteínas de baixo peso molécula e tem por consequência
uma proteinúria dessas proteínas, como descrito na doença de Dent (JENTSCH, 2008;
também pode regular a atividade de outros transportadores como o canal de cloreto retificador
de corrente para fora (ORCC – outwardly rectifying chloride channel), o canal epitelial de
sódio (ENaC – epithelial sodium channel) e o canal de potássio da medula externa (ROMK -
Os canais de cloreto CFTR e ORCC são canais distintos, porém, são ligados
(SCHWIEBERT et al. 1995), enquanto outros estudos sugerem que, na verdade, o CFTR seja
uma canal duplo capaz de transportar Cl- e ATP (REISIN et al., 1994; ABRAHAN et al.,
1997). Uma vez fora da célula, o ATP pode interagir e ativar receptores purinérgicos P2U que,
depois de ativados, podem estimular ORCC. Essa ativação pode ser por acoplamento direto
do receptor P2U com o ORCC ou por uma via de sinalização acoplada à proteína G deste
GUGGINO, 1994): 1) ATP e Cl- passam pelo poro do CFTR; 2) ATP passa por algum canal
diferente do CFTR, porém, regulado por este; 3) vesículas contendo ATP fusionam-se na
membrana com o CFTR, seguidas de liberação exocitótica de ATP via gradiente osmótico de
o dos rins, intestino e vias aéreas. Ele é essencial para a reabsorção eletrogênica de eletrólitos
nesses epitélios e é inibido quando o CFTR está ativado. Estudos recentes mostram que a
luminal diferente do CFTR, como também inibe ENaC. Vários modelos são sugeridos para a
interação do CFTR com o ENaC como a interação direta entre as proteínas (BERDIEV et al.,
CFTR que se ligaria a uma proteína ligadora de domínio PDZ (KUNZELMAN et al., 2001).
23
AT
+ PCl- + -
Apical
Cl- K+ Na+
N
ORCC CFT
CFTR ROMK a ENa
ENaC
R C
Basolateral
Basolatera
l
Figura 9. O CFTR como regulador de outras condutâncias. Desenho esquemático representando o CFTR
estimulando o canal de cloreto ORCC e o canal de potássio ROMK e inibindo o canal de sódio ENaC. Figura
original.
secreção de Cl- em células que também expressam CFTR, o que sugere que quando o CFTR
seja ativado, os ENaCs são inibidos (STUTTS et al., 1995; MALL et al., 1996; MORALES et
al., 1999). Outros trabalhos já sugeriram que o CFTR e os ENaCs interagem diretamente por
ligação proteína-proteína, além do transporte de Cl- pelo CFTR contribuir para a inibição de
ENaCs, mas sem um mecanismo ainda definido. (ISMAILOV et al., 1996 e 1997;
ramo grosso ascendente da alça de Henle e a secreção de potássio no ducto coletor cortical
através de sua expressão luminal nestes segmentos (WANG et al., 1997). A reciclagem do
grosso ascendente, que leva à concentração destes solutos na medula renal (GREGER, 1985).
motriz para e reabsorção de sódio, cálcio e magnésio. E por terceiro, a reciclagem de potássio
também inibe a atividade de ROMK2. Esta inibição ocorre, provavelmente, por aumento da
concentração local de ATP ou por interação direta entre SUR e ROMK2 (INAGAKI et al.,
1995). Portanto, uma proteína acessória é necessária para a completa atividade de ROMK2.
Os canais SUR1 e SUR2, envolvidos na interação com ROMK2, não são expressos nos rins
CFTR se acoplar ao ROMK para formar um canal de potássio sensível ao ATP e de baixa
coexpresso juntamente com ROMK2, a aplicação de agentes que inibem SUR, como
haja um acoplamento entre o CFTR e o ROMK1, fazendo com que ROMK1 tenha sua
sensibilidade ao ATP aumentada. Isso faz com que sua atividade também seja aumentada.
Concentrações milimolares de ATP-Mg não tiveram efeito sobre ROMK1 quando este estava
expresso sozinho. No entanto, sua coexpressão com CFTR fez com que o canal de potássio se
tornasse mais sensível ao ATP (RUKNUDIN et. al, 1998). Esses dados sugerem que o CFTR
cloreto que participa do fluxo desse íon. A sua principal função talvez seja a de regular outras
outras condutâncias. Entre os distúrbios presentes nesta doença, pode-se destacar obstrução
caucasiana (1:2500 nascidos vivos) (QUINTON, 1994). Dois terços dos casos de fibrose
cística são atribuídos à uma única mutação: deleção da fenilalanina 508 em NBD-1. Apesar
disso, ainda há mais mil mutações associadas à fibrose cística. A proteína ∆508-CFTR não
produzem uma proteína truncada ou canais que possuem sua capacidade de transporte
Apesar das alterações funcionais nos diferentes órgãos, pacientes com fibrose
cística não apresentam disfunções renais importantes, a não ser pelo fato de possuírem a
excreção renal de NaCl e a capacidade de diluir e concentrar urina diminuídas, mas sem
STENVINKEL et al., 1991). Esta falta de um fenótipo renal é, a priori, paradoxal, já que o
CFTR é bastante expresso nos rins e está envolvido na regulação de mecanismos de secreção
e reabsorção tubulares (MORALES et al., 1996; 2000, 2001; DE ANDRADE PINTO et al.,
função do CFTR. Isso não parece ocorrer já que o CFTR não está envolvido apenas com o
regulam este volume como a aldosterona e o fator atrial natriurético induzem o transporte
iônico não só nos rins, mas também no cólon distal (GROTJOHANN et al, 1999; CORIC et
al., 2004; NOVAIRA et al., 2006). Esses hormônios regulam a expressão de canais de cloreto
no tecido renal (MORALES et al., 2001; JENTSCH et al., 2002; ORNELLAS et al., 2002) e
o canal de cloreto CFTR em córtex e medula de rim de rato e também em células da linhagem
MDCK-I. Ratos privados de água também tiveram o aumento da expressão do CFTR no rim
tireoidianos tiroxina (T4) e triiodotironina (T3) afetam tanto a morfologia quanto a atividade
de transportadores renais alterando tanto sua função e/ou expressão no néfron (DE
tanto do ritmo de filtração glomerular quanto da capacidade de concentrar urina (KATZ et al.,
27
1975). Recentemente, nós demonstramos que ratos com hipotireoidismo têm a expressão de
CFTR diminuída e os ratos com hipertireoidismo têm essa expressão aumentada (DE
natriurético na modulação do CFTR. Foi observado que este hormônio é capaz de aumentar a
sua ação sobre os transportadores de íons é também relevante para a formação e manutenção
também conhecida como hormônio antidiurético (ADH), que tem a propriedade de regular a
também a liberação de hormônios natriuréticos (oxitocina, por exemplo), estes por sua vez
sede e a inibição do apetite por sal. Em condições de hipotonicidade, essas respostas são
arterial também induzem à sede, embora de maneira menos eficiente (STRICKER &
VERBALIS, 1999).
hipotálamo, de onde elas projetam axônios que vão até a neurohipófise. Este hormônio é
transportado em vesículas pelo axônio até as terminações nervosas. Como a neurohipófise não
sistêmica (figura 10) (BROWNSTEIN et. al, 1980; OLDFIELD et. al, 1991).
da aquaporina-2 (AQP2), na membrana apical das células principais destes segmentos. Este
hormônio liga-se ao receptor localizado na membrana basolateral que ativa uma cascata de
Figura 10. Desenho esquemático do hipotálamo, onde o hormônio AVP é sintetizado; da hipófise posterior,
onde este hormônio é liberado e de seu local de ação no néfron. Voisin & Bourque, 2002.
ativar o transporte de cloreto de sódio no ramo grosso ascendente da alça de Henle, ativar o
transporte de ureia no ducto coletor e tem ação vasoconstritora na musculatura lisa arteriolar.
urinária. A medula permite que haja um gradiente osmótico para a reabsorção de água na
presença do hormônio AVP. Este processo ocorre pelo acúmulo progressivo de solutos no
interstício renal, principalmente, cloreto de sódio e ureia. O AVP controla tanto a reabsorção
C B A
AVP
AQP2
AQP3
Vesículas de AQP4
AQP2
Figura 11. Eventos celulares associados com a ação do AVP na permeabilidade à água da célula principal do
ducto coletor. (A) O ADH liga-se ao receptor localizado na membrana basolateral e, através da proteína G
(G), ativa a adenilato ciclase (AC), produzindo AMP cíclico (AMPc) que ativa proteína cinase A (PKA). (B)
Esse evento faz com que vesículas de aquaporina 2 (AQP2) pré-existentes no citoplasma (C) insiram-se na
membrana luminal, tornando este epitélio permeável à água e possibilitando a sua reabsorção. Outras
aquaporinas não sensíveis ao ADH são constitutivas da membrana basolateral (AQP3 e AQP4). Figura
original.
grosso ascendente da alça de Henle e é crucial para a reabsorção de cloreto de sódio. Ele
também serve para manter o gradiente osmótico corticomedular que permite que a urina seja
et. al, 2008; GREGER, 2000). Isso ocorre quando o AVP se liga ao receptor V2 acoplado à
proteína Gαs, que aumenta AMPc e ativa PKA. A PKA fosforila o NKCC2 e aumenta a sua
ureia UT-A1, UT-A2 e UT-A3. Esses transportadores estão presentes nas células do ducto
31
coletor da medula interna e medeiam a reabsorção de ureia para o interstício. Assim como o
concentração urinária, mantendo a medula renal interna hipertônica. O UT-A1 está localizado
apenas na basolateral (STEWART et. al, 2007; SHAYAKUL et. al, 2000)
O AVP age nas células-alvo através de seus receptores que pertencem à família
levam à uma cascata de sinalização distinta para cada um deles. Quando o receptor V2 é
(AMPc) aumenta a proteína cinase A (PKA) e leva à inserção do canal de água AQP-2 na
(DAG) e inositol (1,4,5)-trifosfato (IP3). O IP3 por sua vez, estimula o receptor de inositol
liberação de cálcio dos estoques intracelulares. Esta liberação ativa canais catiônicos
divalentes chamados trp, que permite o fluxo de cálcio extracelular para dentro da célula para
mais tarde, respostas no núcleo da célula (resposta a longo prazo). Este último se deve devido
com a modulação da expressão do gene do CFTR, embora as bases moleculares deste processo
ainda não tenham sido demonstradas (DJELIDI et al., 1999) (Figura 12).
Membrana basolateral
AC AVP AVP
V2R V1R
γ
β DAG PIP2 γ
α β +
GS + α
α GTP Gq
PLCβ
+ α
AC
+ IP3 + [Ca++]
cAMP
+ Núcleo
PKA
Inserção
do canal
AQP-2
H2O
Membrana apical
Figura 12. A cascata de sinalização do AVP. Representação de uma célula hipotética contendo receptor V1
(V1R) ao lado direito e o receptor V2 (V2R) ao lado esquerdo e suas respectivas consequências da sinalização.
Adaptado de Birnbaumer, 2000.
33
2. JUSTIFICATIVA
apresentam o quadro conhecido como fibrose cística. Estes indivíduos não apresentam
disfunções renais importantes, mas estudos recentes mostraram que estes pacientes
intuito de verificar se fatores envolvidos com o processo de concentração urinária tais como
AVP e hipertonicidade extracelular podem estar envolvidos com a modulação do canal CFTR
nos rins.
34
3. OBJETIVOS
em células MDCK.
confocal;
de superfície.
35
4. MATERIAL E MÉTODOS
glutamina, 100 U/ml penicilina e 100 µg/ml estreptomicina (Gibco, EUA) a 37o C até
atingirem 70% de confluência. Em seguida, as células foram incubadas com meio D-MEM na
ausência de soro fetal bovino por 12 horas e posteriormente tratadas com AVP ([Arg8]-
placas de 6 poços. Para o estudo das vias de sinalização secundária na ação do AVP sobre a
expressão do RNAm do CFTR, as células foram previamente incubadas com antagonistas dos
2) AVP;
3) antagonista de V1;
4) antagonista de V2;
plasmídeo do CFTR juntamente com o gene da green fluorescent protein (GFP). Esta
linhagem celular constitui células de túbulo proximal com maior expressão de CFTR. Estas
CFTR para a membrana plasmática. Esta linhagem foi gentilmente cedida pelo professor
de osmolaridade normal (320 mOsm) adicionando a ele NaCl ou ureia ou sacarose até atingir
a osmolaridade de 480 mOsm ou 560 mOsm. As osmolaridades dos meios foram confirmadas
por um osmômetro (Vapor Pressure Osmometer, Model 5100C, WESCOR). Estes solutos
assim, o choque hiperosmótico. A linhagem celular estável de MDCK foi tratada durante 18
horas com o meio normal, com os meios de 480 mOsm de cada soluto e com os meios de 560
biotinilização. Resumindo, as células são divididas de acordo com os meios: controle (Ctrl)
(células tratadas com o meio normal), meio com 480 mOsm de NaCl (NaCl 480), meio com
480 mOsm de ureia (Ureia 480), meio com 480 mOsm de sacarose (Sac 480), meio com 560
mOsm de NaCl, (NaCl 560), meio com 560 mOsm de ureia (Ureia 560) e meio com 560
O RNA total foi extraído das células utilizando-se o reagente Trizol® (GIBCO-
BRL, N.Y., EUA) seguindo o protocolo sugerido pelo fabricante. Em seguida, o RNA foi
tratado com DNase I (GIBCO-BRL, N.Y., EUA) durante 30 minutos a 37oC para eliminação
de possível contaminação com DNA genômico. A integridade do RNA extraído foi verificada
por eletroforese em gel de agarose a 1% corado com brometo de etídio para permitir a sua
visualização.
complementar (DNAc) através da sua incubação a 65oC por 3 minutos, na presença de 0,5
transcrição reversa das amostras foi realizada em um volume total de 50 µl contendo 2,5 U da
enzima transcriptase reversa (SuperScriptTM Gibco BRL, N.Y, EUA), 10mM de dNTPs
Rockville, MD, EUA). O controle negativo correspondeu a uma alíquota de 500 ng do RNA
denominado RT(-). A reação de síntese de DNAc foi interrompida por incubação a 65°C por
7,5 M por 24 horas à temperatura de -20oC. O DNAc foi lavado com etanol 70% e
Biotech, Piscataway, NJ, EUA), 2mM de MgCl2, tampão de PCR 10X (Amershan Pharmacia
Biotech, Piscataway, NJ, EUA), O PCR foi realizado nas seguintes condições: desnaturação
inicial a 94oC por 4 minutos, seguida de 35 ciclos caracterizados por: 1 minuto a 54oC para
anelamento dos primers, 1 minuto a 72oC para alongamento e nova desnaturação a 94oC por 1
minuto. A reação foi concluída com uma etapa de alongamento por 10 minutos a 72oC. A
determinação do número de ciclos ideais, bem como a quantidade de RNA total para a
realização da técnica de PCR já haviam sido padronizados por nosso laboratório em trabalho
anterior (MORALES et al., 2001), sendo um passo fundamental para validação do RT-PCR
semi-quantitativo.
CFTR e da β-actina em células MDCK-I, foram confeccionados com base na seqüência dos
CFTR (humano)
β-actina (canina)
5’ GCCGTCTTCCCCTCCATCGTG 3’ 21-41
Sense 482 pb
433-502
5’ CGGGACCTGACCGACTACCT 3’
Antisense
por hormônio AVP foi realizada uma transfecção transiente com plasmídeo da luciferase
acoplado à seqüência do promotor do gene do CFTR para quantificar a atividade desta região.
39
Foi utilizado também o plasmídeo com o gene da β-galactosidase para fins de normalização
do experimento.
CA, EUA), segundo o protocolo fornecido pelo fabricante. Desta maneira, 2 µg da construção
de meio D-MEM sem soro e sem antibióticos para a preparação da diluição do DNA. Foi
controle interno do experimento (gentilmente cedido pelo Dr. Peter Kopp, Departamento de
que a diluição do plasmídeo do CFTR. Por outro lado, foi feita a diluição do lipídeo catiônico
sem soro e sem antibióticos, posteriormente a mistura das amostras diluídas foi incubada a
temperatura ambiente por 30 minutos para permitir a associação dos DNA plasmidial ao
foram adicionados a cada poço da placa de cultura reagindo durante 3 horas, sendo retirado
depois desse tempo, e com a posterior adição de 2 ml de meio D-MEM contendo 5% de soro
fetal bovino em cada poço (figura 13). As células foram submetidas ou não ao tratamento com
AVP, e após 24 horas as células foram lisadas utilizando tampão de lise (gly-gly 25mM,
MgSO4 15mM, EgTA 4mM, Triton X 25% e DTT 2mM), para obtenção do extrato de
Lipofectamina Lipofectamina
Adicionar complexos
DNA 2000® diluída +
à cultura celular
diluído DNA
Ensaio para
expressão dos genes
transfectados
Incubar por 20
Incubar por 24 horas
minutos
Ann Arbor, MI, EUA), após a adição de 100 µl do reagente de ensaio (gly-gly 25mM, MgSO4
15mM, EgTA 4mM, KH2PO4 15mM, ATP 6mM e DTT 3mM). Depois da quantificação da
1) Não transfectadas;
4) Transfectadas + AVP;
diferentes grupos experimentais por Western Blotting. Foi utilizado um anticorpo primário
et al. 2003).
minutos foi realizada. O precipitado foi descartado e o sobrenadante das duas centrifugações
método de Bradford (1976), utilizando albumina sérica bovina (BSA) a 1mg/ml como padrão
(BSA). Todos os extratos de proteínas são solubilizados por aquecimento a 95°C por 2
cada homogenato de proteínas de membranas são colocadas em cada poço de gel de SDS-
eletroforese as proteínas são transferidas para uma membrana de nitrocelulose com poros de
diluído a 5% em tampão salino TBS-T 0,05% e incubadas com anticorpo contra a proteína do
CFTR na diluição de 1:1000 por 1 hora à temperatura ambiente em tampão (leite desnatado a
do CFTR é o IgG anti-coelho marcado com fosfatase alcalina para revelação na diluição de
Rockvile - USA) em solução alcalina contendo 100 mM NaCl, 5 mM MgCl2, 100 mM Tris
tampão de lise (50 mM de NaCl, 150 mM de Tris-HCl, pH 7.4, 1% Nonidet P-40) com
Amersham Biosciences) capturada pelo sistema FujiFilm LAS-1000 com câmera CCD de
a confluência ser atingida antes do tratamento com os meios hipertônicos. Após o tratamento
permeabilizadas com Nonidet P-40 a 0,2%. Ligações não-específicas foram bloqueadas com
As células foram coradas com wheat germ agglutinin (WGA- Invitrogen, 1:500)
mostrado na cor azul. Para análise do GFP-CFTR, ele foi visualizado no espectro da
utilizado, uma vez que ambos os meios hipertônicos (480 e 560 mOsm) apresentaram os
realizada como já foi descrito anteriormente (KRASNOV et. al, 2008). As proteínas de
Essas proteínas, então, foram isoladas do lisado através de uma incubação com NeutrAvidin
beads a 4oC por 2 horas (Pierce; número de catálogo 53151). As proteínas ligadas foram
eluídas com tampão 2x Laemmli (50mM de Tris, 0,38M de glicina, 0,2% de SDS),
suplementado com 100 mM de ditiotreitol a 42oC por 30 minutos. As proteínas eluídas foram
submetidas a um gel de SDS-PAGE e posterior Western Blotting. A revelação foi feita por
44
O software GraphPad Prism Trial 5.0 foi utilizado para fazer as análises estatísticas.
entre os grupos experimentais foram avaliadas por análise de variância (One Way ANOVA)
grupos experimentais para serem comparados, foi utilizado o teste t não pareado. Os valores
5. RESULTADOS
5.1 Estudo da ação do hormônio AVP sobre a expressão do RNAm do canal de cloreto
colaboradores (2001)
CFTR e da β-actina. Este último utilizado como gene interno. Demonstrou-se que houve um
são tratadas com AVP na concentração de 10-8 M (n=4, p<0,05) (figura 14).
expressão do RNAm do canal de cloreto CFTR em células MDCK-I a longo prazo (24 horas).
A Ctrl AVP
B
2.5 *
CFTR/Beta-Actina em relação
2.0
ao controle
1.5
1.0
0.5
0.0
Ctrl AVP
Figura 14. RT-PCR semiquantitativo dos genes do CFTR e da β-actina. (A) Gel de agarose representativo do
experimento de RT-PCR onde foram amplificados tanto o CFTR (297pb) quanto a β-actina (482pb). (B)
Gráfico representando os valores densitométricos obtidos pela razão do CFTR pela β-actina correspondente
em relação ao grupo controle (n=4, p< 0,05).
46
renal distal da linhagem MDCK-I crescidas em cultura e submetidas a tratamentos com AVP
da banda da proteína do CFTR obtidas por Western Blotting dos diferentes grupos mostrou
um aumento da expressão de 0,44 (± 0,09) no grupo tratado com AVP quando comparado
com o grupo controle (n=3, p<0,05) (figura 15). O experimento foi normalizado com a
expressão da β-actina.
1.6
*
CFTR/Beta-Actina em relação
1.5
1.4
ao controle
1.3
1.2
1.1
1.0
0.9
0.00
CTRL AVP
Figura 15. Expressão da proteína do CFTR em células MDCK-I não tratadas (Ctrl) e em células tratadas com
AVP na concentração de 10-8 M por 24 horas. (A) Figura representativa das bandas do CFTR e da β-actina
numa membrana de nitrocelulose. (B) Gráfico representativo da média dos valores densitométricos relativos
obtidos para as bandas do CFTR normalizados com a β-actina. (n=3, p<0,05).
47
5.3 Estudo da ativação da região promotora do CFTR pelo AVP em células MDCK-I
MDCK-I induzido por AVP era produzido pelo estímulo da sua transcrição gênica, foi
hormônio de 0,21 vezes (±0,03)e 0,019 vezes (±0,06), respectivamente (p<0,05, n=4). Estes
que a transfecção celular foi bem sucedida. Todo os resultados foram normalizados pela
1.25 * *
(Luciferase/Beta-Galactosidase)
1.20
Valores Arbitrários
1.15
1.10
1.05
1.00
0.95
0.1
0.0
AVP - AVP + AVP - AVP 10-8M AVP 10-9M
Figura 16. Representação gráfica das médias obtidas da análise da atividade da luciferase normalizada
através da quantificação da β-galactosidase (n=4, p< 0,05).
.
48
via AVP em células MDCK-I foi demonstrada através da técnica de RT-PCR semi-
quantitativo.
expressão de RNAm do canal de 1,14 (± 0,35) no grupo tratado com AVP em relação ao
controle (n=4, p<0,05). Nas células que foram tratadas com AVP e antagonista do receptor
V1, também foi observado um aumento significativo de 1,3 (± 0,53) em relação ao controle
(n=4, p<0,05). Já no grupo tratado com AVP e antagonista do receptor V2, o aumento da
expressão do RNAm pelo AVP foi inibido em relação ao controle. Os demais grupos, onde
foram utilizados apenas antagonistas, serviram como controles negativos (figura 17).
canal de cloreto CFTR em células MDCK-I tratadas com AVP (figura 15).
hipertônicos (NaCl 480mOsm, ureia 480mOsm, sacarose 480mOsm, NaCl 560mOsm, ureia
B
Valores Densitométricos Arbitrários
3.0
2.5 * *
2.0
(CFTR/Beta-Actina)
1.8
1.2
0.6
0.0
VP
l
V1
V2
V1
V2
2
tr
+V
+V
C
V1
V1
Antagonistas Antagonistas + AVP
Figura 17. Resultado do RT-PCR semiquantitativo da ação do AVP sobre a expressão do CFTR em células
MDCK-I. (A) Gel de agarose representativo do experimento de RT-PCR onde foram amplificados tanto o
CFTR (297pb) quanto a β-actina (482pb). (B) Gráfico representando as médias das razões entre os valores
densitométricos obtidos para o CFTR pela β-actina correspondente (n=4, p< 0,05).
.
hipertônicos quando comparados com o grupo controle (n=5-8, p < 0,01), exceto no caso do
meio hipertônico de uréia (tanto em 480 mOsm quanto em 560 mOsm) (Figura 16). Os
aumentos da expressão da proteína para células tratadas com meios de 480 mOsm foram de
1,49 (±0,18) e 1,55 (±0,23) para NaCl e sacarose, respectivamente, em relação. Para as células
tratadas com meios de 560mOsm, os aumentos foram de 2,04 (±0,54) e 2,05 (±1,03) para
A GFP-CFTR
GAPDH
B
Valores Densitométricos Arbitrários
4
*
*
(GFP-CFTR/GAPDH)
3
* *
2
0
Ctrl NaCl Ureia Sac NaCl Ureia Sac
confocal
confocal.
do GFP e do WGA foram maiores nas células tratadas do que nas células não tratadas (Ctrl)
(n=4, p<0,001) (figura 19). Os aumentos para as células tratadas com meios hipertônicos de
51
480 mOsm, em relação ao controle, foram de 0,62 (±0,11); 0,79 (±0,16) e 0,61 (±0,12) para
NaCl, ureia e sacarose, respectivamente. Para o tratamento com meios hipertônicos de 560
mOsm, os aumentos em relação ao controle foram de 0,70 (±0,18); 0,54 (±0,18) e 0,64
A
Ctrl
NaCl 480
Ureia 480
GFP-CFTR
WGA (membrana)
Sac 480 DAPI (núcleo)
NaCl 560
Ureia 560
Sac 560
B
2.5
na membrana plasmática
*
2.0
* * * *
% de GFP-CFTR
*
1.5
1.0
0.5
0.0
Ctrl NaCl Ureia Sac NaCl Ureia Sac
Figura 19. Microscopia confocal do GFP-CFTR co-localizado com GWA, demonstrando a co-localização e
o aumento de GFP-CFTR na membrama. (A) Imagem representativa da microscopia confocal. (B) Gráfico
representativo dos valores das intensidades das fluorescências em relação ao controle (n=4, p<0,001)
52
biotinilização de superfície das células MDCK GFP-CFTR tratadas com meio hipertônico.
confocal tanto na concentração de 480 mOsm quanto na de 560 mOsm, as células foram
tratadas apenas na concentração de 480 mOsm. A expressão das proteínas de membrana foi
normalizada com a expressão de proteínas totais. Isso demonstra o quanto da proteína total
estatístico da expressão da proteína do CFTR na membrana tanto com o meio de NaCl ( n=5,
p<0,05) quanto para o meio de ureia (n=5, p<0,05). Porém, neste caso, células tratadas com o
meio de sacarose não foram significativamente diferentes do controle (figura 20). Para o
tratamento com meio de NaCl, o aumento em relação ao controle foi de 1,58(±0,34) e para o
A
A
(Proteína de Membrana/Proteína Total)
B
Valores Densitométricos Arbitrários
3.0 *
2.5 *
2.0
1.5
1.0
0.5
0.0
Ctrl NaCl Ureia Sac
480 mOsm
Figura 20. Análise da biotinilização de superfície demonstrando a razão da expressão de proteína de
membrana pela proteína total. (A) Imagem representativa das bandas da proteína total e de membrana de
GFP-CFTR. (B) Gráfico representativo da relação dos valores densitométricos arbitrários de GFP-CFTR de
membrana sobre GFP-CFTR total (n=5, p<0,05)
53
6. DISCUSSÃO
vários órgãos. Os principais órgãos afetados são pulmões, intestino e pâncreas (RIORDAN et
al., 1991; MORALES et al., 1996) e ele participa do fluxo de secreção de cloreto nos rins e
também funciona como um regulador de outras condutâncias no epitélio renal (DJELID et al.,
1999; SCHWIEBERT et al.,1999). Talvez esta função regulatória seja a principal função do
CFTR no rim tendo em vista que sua condutividade é muito baixa (6-10pS) (BERGER et al.,
1991). Além disso, o fato de que pacientes com fibrose cística não apresentam disfunções
renais importantes nos leva a crer que os outros canais de cloreto expressos ao longo do
néfron – os canais da família ClC, por exemplo – compensam a falta de atividade do CFTR
concentração urinária diminuída pode sugerir que o CFTR esteja envolvido nos mecanismos
al., 1992). O canal de potássio ROMK retroalimenta o transportador tríplice NKCC e este, por
CFTR na fibrose cística poderia deixar de regular ROMK, o que diminuiria a atividade deste
da hipertonicidade medular.
túbulos renais distais devido à inserção de aquaporinas, como foi demonstrado por Agre e
colaboradores (1993). Este evento aumenta a permeabilidade das células do ducto coletor à
água permitindo, assim, que ela seja reabsorvida neste segmento. A AVP também é capaz de
54
medular renal. A ureia é responsável por 50% da hipertonicidade medular e sua recirculação é
(NKCC2) também são modulados positivamente pela AVP e estes também são responsáveis
possível.
processo de concentração urinária podem estar envolvidos com a modulação do canal CFTR
nos rins. Já foi demonstrado que a AVP é capaz de modular positivamente a expressão de
receptor V2, sugerindo uma importante participação deste receptor na modulação do gene
do canal CFTR. Este receptor é expresso ao longo do néfron e é por ele que a AVP exerce
transfectadas com plasmídeos contendo o promotor do gene CFTR ligado ao gene repórter
ação do AVP em células MDCK-I poderia ser através do estímulo da região promotora
células MDCK-I era também capaz de modificar a expressão deste canal na membrana
proteína do CFTR. Esta variação na expressão pode ter sido induzida pelo aumento da
linhagem, são originárias de túbulo proximal canino. O túbulo proximal expressa pouco
onde está localizado em organelas intracelulares ao longo das vias endocíticas e secretórias
para a membrana. Além disso, a marcação do gene do CFTR com o do GFP facilita a
plasmática mostra que há aumento deste canal na membrana quando as células são
biotinilização, as células tratadas com meio hipertônico de sacarose (480 mOsm) não
foram significativamente diferentes das células controle. Este resultado conflitante pode ter
microscopia confocal, a coloração de membrana com WGA pode ficar espessa e quando a
CFTR pode ser superestimada. Por essa razão, decidimos usar ambas as técnicas. Na
biotinilização, foram utilizados apenas meios hipertônicos de 480 mOsm, uma vez que na
do meio.
aumentou com o tratamento com os meios hipertônicos, exceto com o tratamento com o
meio hipertônico de ureia. Estes resultados são consistentes com estudos em peixes e aves
extracelulares de cloreto de sódio, mas não com altas concentrações extracelulares de ureia
(ERNST et. al, 1994; SINGER et. al, 1998). Isto sugere que o aumento da expressão de
proteína do CFTR pode estar relacionado com o controle do volume celular já que a ureia
afetando o seu volume. Outros dados publicados mostram que meios hipertônicos de NaCl
É proposto, então, neste estudo, que a expressão do canal de cloreto CFTR seja
modulada pelo AVP e por meios hipertônicos, sugerindo sua importância fisiológica na
hipótese fica bastante respaldada se lembramos que esse canal é capaz não somente de
participar do fluxo transepitelial de cloreto, mas ainda de regular outras condutâncias iônicas
1995). Com esse trabalho, portanto, esperamos estar contribuindo para o entendimento da
7. CONCLUSÕES
expressão de sua proteína e de seu RNAm. Esta modulação é feita a partir do estímulo da
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