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Dr.

António Salomão Chipanga, Assistente Universitário da Faculdade de Direito da UEM e do Instituto


Superior de Ciencia e Técnologias de Moçambique (ISCTEM) – Disciplina de Ciência Política e Direito
Constitucional.

DIREITO CONSTITUCIONAL MOÇAMBICANO

Tema: ACORDO DE LUSAKA

1. legitimidade do poder político e o poder constituinte

O poder constituinte, procede a criação de normas jurídicas de


natureza constitucional, que são normas jurídicas consideradas
superiores a todos os outros do ordenamento jurídico, que tendem
para objectivação de conteúdos jurídicos que tem a ver com a
organização do Estado.

Através do poder constituinte pretende-se a revelação internacional


de valores jurídicos que visam a fundamentação da estrutura da
organização e funcionamento do Estado.

Estamos perante um impulso constituinte que nas sociedades


modernas, cabe às forças políticas e sociais, confissões religiosas,
forças militares e mesmo à constituição material.

Esse impulso constituinte pode afirmar-se através de várias formas


ou procedimentos que em determinadas sociedades são essas
formas ou procedimentos que atestam a legitimidade desse mesmo
poder constituinte. Portanto, o poder constituinte, é um poder inicial
autónomo e omnipotente. Sendo estas as características do poder
constituinte na teoria clássica de Sieyes.

É um poder inicial, na medida em que se propõe que antes dele não


existe nem de facto, nem de direito, qualquer outro direito.

É um poder autónomo, na medida em que se trata da afirmação de


uma autoridade suprema. A ele e só a ele compete decidir como,
quando dar uma Constituição.

E, é um poder omnipotente, porquanto, não está condicionado a


qualquer outra forma pré-estabelecida. Não está subordinado a
qualquer a qualquer regulamento de forma ou de fundo.

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Posto isto, devemo-nos interrogar, qual é pacífico, porque traduz


uma polémica entre as várias pessoas da sociedade.

Em resposta à questão, diremos que a base jurídica sobre a qual


assenta o poder político em Moçambique está nos Acordos de
Lusaka, assinados entre o legítimo dignatário do povo moçambicano
e o Governo Português.

Os Acordos de Lusaka, traduzem uma solução jurídica de um conflito


internacional em que estiveram envolvidos interesses de um Estado
e de outros Estados estrangeiros.

Temos duas partes, nomeadamente, o Estado Português e um


movimento de libertação nacional, a Frelimo. Este documento que na
prática é constituído por dois documentos, está na base do exercício
de poder constituinte em Moçambique.

Há dois aspectos fundamentais a reter nos Acordos de Lusaka que


tem relevância para o nosso tema:

1). Consagração jurídica do princípio da independência e da


transferência do poder do Governo Português para a Frelimo.

2). A natureza do regime transitório estabelecido para a


constituição de um Governo independe e soberano.

Quanto ao primeiro aspecto, importa referir que:

Uma vez que a Frelimo, Frente de Libertação de Moçambique,


afirmou-se como único e legítimo representante do povo
moçambicano e sendo reconhecido pela comunidade internacional,
nos princípios da década de 60 a 70, a Frelimo, surgiu aos olhos da
comunidade moçambicana, como representante da nação.
A nível internacional, os requisitos necessários para o
reconhecimento de um movimento de libertação são:

 O movimento que requer apoio e reconhecimento internacional


deve ter raízes no território pelo qual luta;

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 O movimento a beneficiar do apoio externo deve lutar pela


libertação do seu povo, do território e da independência
nacional;
 O movimento de libertação deve ainda gozar no plano interno
de um consentimento pacifico do povo que se propõe libertar e
pelo qual luta.

Estes requisitos resultam da aplicação do princípio da


autodeterminação das nações e povos, adoptada pelas Nações
Unidas e consagrada na sua carta no artigo 1, n. 2 e também no
corpo do artigo 55.

Este princípio define-se como sendo o direito de os povos


escolherem por si mesmos uma forma de organização política e o
seu relacionamento com outros povos. A escolha pode ser:

 Independência como Estado ou


 Associação com outros povos em Estados Federados ou
 ainda a assimilação dum Estado Unitário.

É importante sublinhar que a ONU desempenhou um papel


preponderante na libertação dos povos colonizados, porquanto, na
sequência da interpretação do princípio da autodeterminação das
nações e povos, aprovou um conjunto de instrumentos legais de
Direito Internacional Público, das quais pela sua importância no
presente tema vamos destacar a declaração sobre a concessão da
independência aos países e povos colonizados, de 1960. Esta
declaração foi depois incorporada em muitos outros instrumentos
jurídicos internacionais.
Em 1965 numa outra Resolução, Res. n2105 (XX) a Assembleia
Geral das NU, reconhece a legitimidade da luta dos povos sobre o
Governo colonial para exercer o seu direito a auto - determinação e
independência.

Na mesma resolução, a Assembleia Geral convidava todos os


Estados a darem a assistência material aos movimentos de
libertação nacional nos territórios coloniais.

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Em 1970 a Assembleia Geral Através da Resolução n2621 (XXV)


declara formalmente o colonialismo como um crime internacional e
reafirmava o direito de todos os povos lutarem contra o colonialismo
usando todos os povos necessários à sua disposição.

Em seguida, a Assembleia Geral das NU, concedeu o estatuto de


observador aos movimentos de libertação nacional junta daquela
organização internacional.

Foram movimentos beneficiários deste estatuto: o ANC, ZANU,


ZAPU, FRELIMO, entre outros.

Quanto ao Segundo aspecto, temos a dizer que nos termos das


cláusulas dos Acordos de Lusaka, assistimos que a repartição das
funções de soberania e das funções de governação entre o Governo
Português e a Frelimo, nos termos destes acordos, coube ao
Governo Português, o exercício das funções de soberania, no plano
interno e externo, nomeadamente a defesa da integridade territorial
do país.

Assim, foi designado um Alto Comissário representante da soberania


portuguesa.

As funções de governação, couberam à Frelimo, através da


nomeação de um Primeiro Ministro e 2/3 dos membros do governo
estabelecido. Como se pode verificar, não houve uma repartição
idêntica a aquela que se fez no Zimbabwe ex-Rodésia e Namíbia.

É na sequência destes Acordos, que surge a legitimidade da Frelimo,


para constituir o poder constituinte.

A Frelimo, assumiu-se como única e legítimo representante da nação


moçambicana.

É na base desta realidade histórica que o Comité Central da Frelimo,


institui-se como o legislador constituinte que aprova em 1975, a
primeira Constituição da República, no dia 20 de Junho de 1975,
conforme o B.R. n1, de 25 de Junho de 1975, I Série.

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Estes, são os dados históricos que temos, os Acordos de Lusaka,


que são a base jurídica que legítima o exercício do poder em
Moçambique pela Frelimo.

A pergunta que permanece, é aquela que diz respeito se nos termos


estabelecidos nos Acordos de Lusaka que por um lado não previam
um procedimento constituinte aos parâmetros modernos, se se
questiona, se através desta realidade jurídica, não se terá criado
uma situação que conduziu à uniformidade entre a Constituição
aprovada e a consciência jurídica dos moçambicanos?

Face a esta pergunta, muitos juristas defendem ideias segundo as


quais, a Frelimo não adoptou um procedimento adequado, que
pudesse permitir a todo povo moçambicano, aprovar a Constituição
consubstanciada com os seus interesses e consciência jurídica.

É uma concepção válida como tal, assim como a que adoptou desde
que seja devidamente justificada e convincente.

A legitimidade quanto ao título, subscreve-se nos Acordos de Lusaka


e a legitimidade intrínseco corresponde à conformidade do exercício
do poder constituinte como dados políticos sociológicos do momento
histórico que estamos a tratar, ou seja, o procedimento constituinte
que está subjacente aos Acordos de Lusaka, está em conformidade
com a realidade política de 1975.

Resumindo a questão da legitimidade em Moçambique, diremos que


são os Acordos de Lusaka, sobretudo o ponto n.º. 18 que legitima o
poder constituinte em Moçambique, a Constituição ela própria e o
poder político constituído.

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2. Procedimentos constituintes subjacentes à Constituição


de 1975

Poder constituinte, é o poder de constituir a Constituição. Parte do


pressuposto da existência de um poder original.

Poder derivado, é o poder atribuído, ou seja, conferido pelo poder


constituinte, para proceder às revisões constitucionais e emanação
das demais leis ordinárias, artigo 179 da CRM, nos termos da
Constituição.

Entre os poderes derivados, temos o poder de soberania que se


substancia com a legitimidade.
No período tradicional, o título do poder político, era soberano, que
exercia a soberania por graça de Deus.

A ideia de graça de Deus, surge do facto de se reconhecer a


existência de uma força sobrenatural – Deus, com um poder
supremo e omnipotente, que na terra, para comandar os homens e a
sociedade, incorporou-se no rei, tornando-o seu legítimo
representante. Pelo que, o soberano, exerce o poder por graça de
Deus.

Com o desenvolvimento da sociedade, os homens, foram ganhando


consciência e se aperceberam que o exercício do poder pelo
soberano, não era por graça de Deus, mas sim pelas suas
capacidades e vontade própria. Por outro lado, os homens deviam
gozar dos mesmos direitos e demais, o que implicava a separação
dos poderes do soberano, como garante da prossecução dos direitos
e deveres dos particulares.

A repartição do poder do rei, veio provocar uma destruição do poder


divino do monarca o que acelerou o período absoluto e dos regimes
monárquicos, dando lugar a República, que se instala sob uma base
filosófica que assenta nas seguintes correntes:

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1.ª corrente: o poder reside na nação.

Esta corrente, atribui o poder à nação, o que se traduz na


soberania nacional, cujo poder, no seu entender, está na
nação, sendo a nação, uma unidade política, económica e
cultural coesa, indivisível e inalienável.

2.ª corrente: o poder reside no povo.

É uma corrente filosófica, que se traduz na soberania popular.


Considera a origem do poder, assente no povo, isto é, em cada
um dos seus membros. O que quer dizer, que cada cidadão, é
titular de uma parcela do poder e detector de uma faculdade de
dar ou não dar, a parcela do poder que detém.

Segundo esta corrente, os titulares do poder original se não


cederem livremente o poder que detém aos órgãos que
compõe o Estado, este, ficará desprovido da soberania e
consequentemente, não poderá se manter em exercício.

Associadas a estas correntes filosóficas, surge a teoria de


Estado ou teoria Hegeliano, Segundo a qual, o Estado é o ente
supremo, existe independentemente do povo que comanda. É
uma teoria que se opõe a outra que defende que o Estado é a
organização mais perfeita da comunidade. Portanto, não há
Estado sem o povo.

Karl Marx, foi um dos filósofos que se inspirou em parte na


teoria hegeliana, embora para ele, não seja fácil determinar os
elementos que constitui o Estado.

A presente reflexão é uma nota introdutória, que no entanto


não é parte do tema em abordagem fizemo-lá, para mostrar
que a opção tomada pelo legislador constituinte, não é pacífica.

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A Constituição moçambicana, de 2004, dispõe no seu artigo 2, n.º 1,


que a soberania reside no povo, e, por sua vez, o artigo 135, define
os procedimentos que permitem o exercício da soberania pelo povo.
(Ver ainda os artigo 73, 78, 148 e 170, da CRM).

A Constituição da República de Moçambique, define o sistema de


representação proporcional no parlamento, conforme o previsto no
n.º 2 do artigo 135 e para o Presidente da República adopta o
sistema de maior dos votos expressos, artigo 148.

O poder constituinte, na sua variante moderna, reflecte uma


coexistência das duas filosofias clássicas: soberania popular e
soberania nacional.

Quanto a concepção democrática como património comum da


humanidade, vejamos então como se concretizou.

Supondo que o poder constituinte em Moçambique, o fosse definido


nos termos modernos e a Assembleia resultante, aprovar uma nova
Constituição, que prevê uso de métodos coactivos em contraposição
aos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos. Qual seria a
reacção da comunidade?

Obviamente que seria contrária, tendo em conta que tal constituição,


seria contrária aos princípios universalmente aceites sobre os
direitos fundamentais do Homem. Os princípios universais são o
resultado da consciência cada vez mais sobre certos valores da
dignidade do homem, que estão consagrados na ordem jurídica
universal.

A independência de Moçambique, trouxe para o seu povo, a


dignidade e soberania que antes não tinha.

Foi a partir da proclamação da independência que o povo


Moçambicano, recuperou a sua dignidade, passando a exercer seus
direitos e a autodeterminar-se.

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Desta breve exposição, encontramos a lógica da dignidade do povo


moçambicano. Da mesma forma, podemos encontrar a origem do
Direito.

Como se sabe, o Direito define-se como sendo uma ordem


normativa que visa organizar, com emprego de coacção se
necessário, os aspectos fundamentais da convivência social, de
uma certa comunidade.

Os jurisnaturalistas sustentam teorias segundo as quais o direito é


um fenómeno social que resulta da vontade individual do agente, isto
é, a manifestação de uma vontade natural.

Deste modo, os jurisnaturalistas, opõe-se ao poder constituinte


derivado, através da qual, a Assembleia constituinte, procede a
elaboração da Constituição, introduzindo alterações a anterior
legislação.

Quando a Constituição, define os procedimentos formais para a sua


revisão e indica o órgão competente para proceder conforme, estão
fixados os meios e definido a quem cabe a legitimidade e titularidade
legal para o estabelecimento de uma Constituição.

Assim, a legitimidade que resulta numa ruptura com o poder


constituinte anterior é ilegal, uma vez que nenhuma Constituição de
que país for do mundo, prevê acabar com um regime vigente de uma
forma arbitrária, sem seguir determinados requisitos formais.

O direito de resistência e legitimidade dos movimentos de libertação,


na sua luta pela instalação no país de uma nova ordem jurídica é um
fundamento jurídico que justifica a tomada do poder, pelas armas, a
proclamação da independência e instalação de uma nova ordem
jurídica, quando reconhecida pela comunidade internacional,
condição sem a qual, o acto é inconstitucional.

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Na luta de um movimento de oposição, está subjacente uma filosofia


que pretende acabar com o direito vigente e instauração de uma
nova ordem jurídica, o que implica uma mudança jurídica, na lei
fundamental do país.

Qualquer movimento de oposição, reclama junto da comunidade


nacional e internacional, a sua legitimidade e não legalidade, porque
só é legal, aquele que detém o poder nos termos constitucionalmente
estabelecido.

Nestas circunstâncias, donde resultará então o poder constituinte, se


o movimento apenas declara a legitimidade e o poder constituinte,
provém por um lado da legitimidade e por outro, sobretudo, da
titularidade legal.

Em Moçambique, sucede que o poder legalmente instituído para


exercer o título de soberania, que era o Governo Português,
transferiu para a Frelimo legítimo representante do Povo
moçambicano, a titularidade legal, para constituir o poder
constituinte.

O Governo Português, por sua vez, foi-lhe conferido o poder, pela


Conferência de Berlim.

Como sabem, o poder político, para que o seu titular exerça


legitimamente, é necessário que a comunidade internacional
reconheçam a titularidade.

A situação moçambicana foi por exemplo, diferente da que se


verificou na Guiné-Bissau de Amílcar Cabral. O PAIGC, sob
liderança de Amílcar Cabral, ciente da titularidade legal do Governo
Português, começou por fazer uma ocupação efectiva do terreno, e
gradualmente montar as estruturas de governação.

De referir que era um movimento que gozava de legitimidade, junto


da comunidade nacional e internacional. Finalmente, proclamou
unilateralmente a independência do país que mereceu o
reconhecimento da comunidade internacional, pois reunia os

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requisitos necessários, para se tornar num Estado independente, sob


a direcção do PAIGC.

O teor do Acordo entre o Estado Português e a Frente de


Libertação de Moçambique celebrado em Lusaka em 7 de
Setembro de 1974

O Acordo de Lusaka, é constituído por um conjunto de documentos,


que integra as seguintes componentes:

1). Acordo de Lusaka, propriamente dito. É um documento de


natureza política.

2). Protocolo anexo, documento operativo militar, que inclui os


acordos sobre o cessar fogo que por sua vez, contém duas
partes, designadamente:

 Regime jurídico do cessar fogo;


 Conduta das forças armadas beligerantes.

O conteúdo do documento político, onde se estipula o regime de


transição, estabelece o princípio da independência de Moçambique e
os mecanismos de transmissão de poderes políticos para a Frelimo,
Frente de Libertação de Moçambique.

No Segundo documento – Protocolo anexo, estabelece-se o regime


de transmissão das responsabilidades desde o período do cessar
fogo até a independência nacional.

Destes dois documentos, vamos salientar os conteúdos do regime de


transição, sendo necessário, para entender, abstrairmo-nos da
situação actual e tentar imaginar a situação prevalecente em 1974,
período da assinatura dos Acordos de Lusaka.

O regime de transição, tinha que levar à sua responsabilidade, a


situação política, militar, económico-social, existente nas áreas sob o
domínio de cada uma das partes, que obviamente, eram diferentes.

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Havia zonas de controlo administrativo da Frelimo, que eram as


zonas libertadas e zonas do controlo administrativo do Governo
Português, com exercito, policias e administração pública.

O teor dos Acordos de Lusaka, consistem na divisão do exercício do


poder, pelas partes intervenientes, tendo ficado confiado ao Governo
Português, o exercício da soberania e à Frelimo, a governação,
promoção da transferência progressiva de poderes e preparação da
independência de Moçambique.

Nestes termos, coube ao Governo Português, responder pela


soberania territorial e a defesa e segurança do país. O Governo
Português, nas funções, foi representado pelo Alto-Comissário
Português, que também, acumulava as funções da chefia da
Comissão Militar Mista com funções de Controle e Verificação da
execução do cessar-fogo.

A chefia desta Comissão, foi atribuída à parte portuguesa, porque


tinha todos os meios necessários para a garantia da defesa e
segurança do país, por um lado e por outro, temia-se na possível
invasão externa, proveniente da República da África do Sul. Tratava-
se de uma situação delicada que requeria uma atenção especial.

A Comissão Militar Mista, integrava as forças armadas de ambas


partes, com um comando unificado e único. O Governo por sua vez,
dirigido por um Primeiro Ministro nomeado pela parte da Frelimo,
integrava Ministros de ambas as partes proporcionalmente, sendo
2/3 para a Frelimo e 1/3 para o Governo Português.

Na realidade, a proporção estabelecida, vigorou formalmente, pois


houve uma desproporção a favor da Frelimo, na medida em que a
parte Portuguesa, adquiriu a nacionalidade moçambicana, o que lhe
tornava, representante da parte moçambicana, do ponto de vista
político. Esta situação, deu vantagem a Frelimo, que como sabemos,
no país não havia parlamento e, o poder legislativo, foi confiado ao
Governo de Transição.

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A composição do Governo, sendo maioritariamente moçambicana, a


Frelimo, exercia um domínio. Assim sendo, a legislação emitida,
reflectia interesses deste movimento.

Porém, o Alto Comissário, na qualidade de representante da


soberania portuguesa em Moçambique, tinha competências de
promulgar formalmente leis emitidas pelo Governo.

No âmbito das competências conferidas ao Governo, cabia a este,


criar e dirigir a polícia, enquanto que a Comissão Militar Mista, para
além da garantia da integridade territorial, isto é, defesa da
soberania, devia garantir a ordem e tranquilidade dos cidadãos.

Efeitos jurídicos dos Acordos de Lusaka

O Acordo de lusaKa tem como efeito jurídico o facto de ser uma prë
constituição, porquanto, define o regime jurídico que rege o Estado e
sociedade.

É no Acordo de Lusaka onde se acha o fundamento jurídico da


transferência dos poderes do Governo Português para a Frelimo.

É no Acordo de Lusaka onde se acha ainda os órgãos do Estado,


seu relacionamento, hierarquia e competências de cada um, assim
como os princípios fundamentais do exercício da soberania.

Maputo, Março de 2007

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