ÓI A COBRA! ÓI A COBRA!
30.03.2018
OPRECÍDIO COLETÂNEA
andre felipe koopman
ÓI A COBRA!
corte-as
só pro seu prazer
e as assista morrer
mas cuidado, as sementes resistentes
que vem de dentro dela
podem cair em terra
e vai vingar!
NESTES ARES COLETÂNEA
felipe loriaga
ÓI A COBRA!
de moralismo social.
nestas salas com ar condicionado estou seguro!
longe das tramas maquiavélicas dos arautos
grandiosos de interesses
mesquinhos e orgulhosos
eu que não sou nada, nem ninguém,
me dou ao luxo de não ser nada nem ninguém,
me dou ao luxo de fazer meu trabalho, sem esperar
recompensa, mesmo quando sei que ela vem,
por que meu tempo é o do processo judicial e o do
processo judicial
é as vezes não ter tempo pra terminar,
eu que me engano a procurar o que a própria parte
as vezes ignora
e que me acalenta a alma quando dá certo,
homem que, chamado a viver, não se esquivou de vir,
mas que muitas vezes deseja voltar
para sabe-se lá onde!
Talvez à infância, talvez ao centro da família, talvez
ao seio da esposa,
que pela falta, sente as palavras que devem vir,
sopesando os anseios todos em pequenas gotas
num cálice de beber os únicos venenos que matam aos
poucos
mas que dão sentido a vida.
BRIOS E PINHÕES COLETÂNEA
gabriel marcondes
ÓI A COBRA!
ando perdido em meio aos seres
cujos brios são feito pinhões
que caem aos montes
nas testas dos desavisados
a paciência necessária
para cozê-los ao ponto
de apreciar vossas companhias
tem me saído cada vez mais cara
quartos grandes
camas pequenas
livros tão diferentes
espalhados pela casa,
pela estante
e pelo chão
COLETÂNEA
ÓI A COBRA!
E
em meio ao caos
com noites de sono perdidas
Nadando em xícaras de café, maços de
cigarro
A culpa me rodeando
sempre
E um barulho enorme na cabeça
COLETÂNEA
ÓI A COBRA!
De repente
BOOM!
somem.
Agora
tudo está
como
deveria.
O dormir
Só o fato de
dormir
Que é algo que fomos programados
biologicamente
Finalmente se deu sentido
Literalmente
canção
COLETÂNEA
ÓI A COBRA!
Quando eu o vejo
A canção toca repetidamente
Sabe,
I’ve Just seen a face
aquela dos Beatles?!
Então...
Outro nome
(Shiiiiiu!)
Não fala, só pensa
Tu já sabe.
Respira fundo
1... 2... 3...
Solta
Devagar
Igual foi ontem
CASTANHAR
christy bemfica
COLETÂNEA
ÓI A COBRA!
após vários saraus e várias discussões sobre a utilidade de um evento que aconteceria distante
do então consolidado rolê “na praça do green”, decidimos tentar uma mudança radical, e
mudá-lo para um lugar mais bem vigiado: a frente da prefeitura. foi um golpe de mestre. o
público que na média juntava vinte pessoas havia atraído vários setores da nossa cidade:
desde poetas mais velhos, “civis” ainda não iniciados na poesia, e a consolidação da nossa
transição de temática. antes “poetas bêbados blablabla” agora poetas da resistência (hoje a
maioria a fazer leituras e performances são mulheres, lgbt’s, com a crescente valorização
e fortalecimento das pessoas negras, trazendo desde o ritmo, as performances mais bem
trabalhadas e significativas, e os poemas mais impactantes [um beijo, lírio, você é um divisor de
águas no sarau. devíamos chamá-lo em duas fases AL/DL {antes de lírio / depois de lírio}]).
desde então, músicos (giovanni, vem fazer sua performance, saudades), o tradicional rap do
afrodopactus, tocadores de instrumentos mais variados, não-iniciados, estreantes, velhos
da casa, catadores de latinha (quem lembra quando o catador de latinha parou e começou
a curtir o sarau? se fosse num auditório aquilo aconteceria?), vem permeando as nossas
bases. a ideia do zine se consolida aí. maturamos ela em bares, edições do sarau, discussões.
maturamos ela em grupos do whatsapp (lembra aquela discussão sobre vender ou não a
arte e fortalecer o capitalismo? quem viu, viu..). publicar, o sonho de qualquer escritor,
valorizar a nossa arte. dar voz aos nossos membros. divulgar. incentivar. consolidar, então,
as bases da cultura que vinha a duras penas sendo criada..
é claro que também não foiCOLETÂNEA
um conto de fadas. até hoje é possível ouvir por aí que o
objetivo foi chamar atenção para mim, que “é apenas um rolêzinho de sarau de dois riquinhos
ÓI A
brancos” (queria eu ser rico, tinha COBRA!
comprado uma caixa de som pra gente desde o começo…),
e etc. é sempre assim. qualquer coisa que você tentar fazer cria automaticamente um teto
de vidro. lido com isso da mesma forma que sempre lidei com tudo: explodindo - brimks.
esse texto emerge também para tentar conscientizar essas pessoas. conhecer um pouco da
trajetória não faz mal a ninguém. nada nasce da pedra, a não ser a pedra. e somos ar. sempre
tem alguém que dirá isso. sempre alguém vai falar mal. e falador vai passar mal também (já
diziam os originais do samba).
mas sempre os apoiadores fizeram valer a pena. já citei alguns aqui que deixaram de ser
apenas “apoiadores” para organizadores e chamadores. e gente que nunca colou, elogiando,
divulgando, fazendo críticas construtivas. gente que sacou: criar uma cultura não é fácil.
ainda mais no nosso chão..
por isso sempre teimei com a divulgação. precisamos do boca a boca, dos eventos no face,
e da “criação do rolê”. não adianta, por enquanto, divulgar em rádio-tv-paredes-por-aí.
primeiro porque não temos estrutura para duzentas pessoas (a necessidade da caixa de som
não é tão nova, mas é frequente, precisamos urgente). segundo que antes é necessário uma
base, uma frequência, um senso de coletividade e uma comunidade, para depois expandir. se
não transformamos o sarau num “evento”, vertical, aos moldes da festa cheers ou do rock
& consciência: por isso sempre insisti. sarau não é evento. é cultura. não pode ser puxado
apenas por uma pessoa, e isso se consolidou. eu não faço esse sarau. no máximo chamei
algumas das últimas edições, mas não sou mais o responsável pela “lógica da presença”. quem
fez isso foi você, apoiador. um evento que sobrevive assim morre com o tempo. o que venho
discutindo com muitos dos “colantes” há algum tempo é que o sarau faz parte de um plano
maior: a passos de formiga. não precisamos ter pressa. só assim ele sobreviverá além de nós.
no meio disso rolaram os saraus “comunista” (da gio) e “sarau comunitário” na frente da
câmara (organizado pelo caio). o nosso bebê caminhava sozinho. era preciso apenas lapidar a
base cultural. algumas após essas.
o último paradigma foram as duas edições (de início de ano) na praça anchieta, que nos trouxe
a tona que talvez não fôssemos assim tantos já que num espaço mais aberto parecíamos
menos, a necessidade iminente da caixa de som, e a certeza de que faltava um centímetro para
que o sarau se tornasse um slam. e a edição de carnavrau na barbearia hard beard, que nos
salvou da chuva e possibilitou uma das mais intimistas, lindas e fortes edições do sarau (beijo
kibe, obrigado cara). essa é a nossa breve trajetória. tudo isso só foi possível com o senso
de comunidade, as amizades desenvolvidas, a admiração e o respeito mútuo e multilateral dos
participantes, e dos pedidos e desejos e cada vez mais pessoas:
“precisamos de sarau! quando COLETÂNEA
vai ter sarau? vamos fazer sarau?”
ÓI Aum
nos influenciamos. lendo e ouvindo COBRA!
ao outro, é inegável que temos traços da poética
de cada um traduzidas na nossa. isso é a definição de uma cena. de um contexto. de uma
cultura. isso é uma vitória. do ponto de vista prático, pense em todas as questões que
foram mobilizadas aqui, a profundidade do que nos tornamos, da nossa força, da transição
necessária e significativa do foco do sarau para as pautas mais urgentes. isso só aconteceu
porque desde o início nós não tivemos pressa. não devemos ter pressa agora.
agora temos algumas questões de necessidade: precisamos de uma página no face. minha
proposta é continuar discutindo em sarau, em público, o nome da page e sua função. bem
como seus administradores… que urgem como necessidade: quem vai chamar o sarau? como
vai chamar? para onde ele deve caminhar?
se o objetivo é poetar, acho que o fluxo do rio é um bom caminho. vamos cavocá-lo ainda
mais.