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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL

CONCRETO PROJETADO PARA TÚNEIS


DOUTORANDA: SILVANA BLUMEN FOÁ, MS. C.
PROF. ANDRÉ ASSIS, Ph. D.

APOSTILA COMPLEMENTAR AO CURSO DE OBRAS SUBTERRÂNEAS

CÓDIGO: ENC 362506


CARGA HORÁRIA: 2 CRÉDITOS

BRASÍLIA / DF: FEVEREIRO/ 2002


Universidade de Brasília
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental / Faculdade de Tecnologia
Programa de Pós-graduação em Geotecnia

FICHA CATALOGRÁFICA
FOÁ, SILVANA BLUMEN & ASSIS, ANDRÉ
Concreto Projetado para Túneis
[Distrito Federal] 2002
70 p., 297 mm (ENC/FT/UnB, Geotecnia, 2002)
Apostila - Universidade de Brasília. Faculdade de Tecnologia
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental.
1. Concreto Projetado 2. Túneis.
I. ENC/FT/UnB II. Título (Série)

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
FOÁ, SILVANA BLUMEN & ASSIS, ANDRÉ (2002). Concreto Projetado para Túneis.
Apostila, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília,
Brasília, DF, 70 p.

CESSÃO DE DIREITOS
NOME DO AUTOR: Silvana Blumen Foá e André Assis

É concedida à Universidade de Brasília a permissão para reproduzir cópias desta apostila


para emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O
autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte deste trabalho pode ser
reproduzida sem a autorização por escrito dos autores.

____________________________ ____________________________
Prof. André P. Assis, Ph.D. Silvana Blumen Foá, Ms.C.
(aassis@unb.br) (sil@e-net.com.br)

"Tudo é loucura ou sonho no começo.


Nada do que o homem fez no mundo teve início de outra maneira.
Mas já que tantos sonhos se realizaram,
não temos o direito de duvidar de nenhum."
Monteiro Lobato, Mundo da Lua (1923)

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO __________________________________________________________3
2. ELEMENTOS DE SUPORTE ________________________________________________5
3. CONCRETO PROJETADO _________________________________________________8
3.1. CONCEITO __________________________________________________________8
3.2. BREVE HISTÓRICO DO CONCRETO PROJETADO ____________________________8
3.3. PROCESSOS DE PROJEÇÃO ____________________________________________13
3.4. COMPARAÇÃO ENTRE OS PROCESSOS ___________________________________16
3.5. PROPRIEDADES DO CONCRETO PROJETADO ______________________________18
3.5.1. REFLEXÃO _____________________________________________________18
3.5.2. DESPLACAMENTO _______________________________________________21
3.5.3. POEIRA E NÉVOA ________________________________________________22
3.5.4. HOMOGENEIDADE E DEFEITOS TÍPICOS ______________________________22
3.5.4.1 EFEITO DE SOMBRA ______________________________________________23
3.5.4.2 LAMINAÇÃO ____________________________________________________23
3.5.4.3 IMPERFEIÇÕES SUPERFICIAIS ______________________________________24
3.5.4.4 CONTROLE DA HOMOGENEIDADE ___________________________________24
3.5.5 ADERÊNCIA ____________________________________________________26
3.6. MATERIAIS ________________________________________________________27
3.6.1. AGREGADOS ____________________________________________________27
3.6.2. CIMENTO ______________________________________________________28
3.6.3. ADITIVOS ______________________________________________________28
3.6.4. ÁGUA _________________________________________________________30
3.7. DOSAGEM _________________________________________________________31
4. CONCRETO PROJETADO COM ADIÇÕES ____________________________________31
4.1. CONCRETO PROJETADO COM POLÍMERO ________________________________31
4.2. CONCRETO PROJETADO COM SÍLICA ATIVA _____________________________33
4.2.1 OBJETIVOS DO USO DA SÍLICA ATIVA _____________________________ 34
4.3. CONCRETO PROJETADO COM FIBRA _________________________________35
4.3.1 INTERAÇÃO FIBRA-MATRIZ ______________________________________ 38
4.3.2 VOLUME CRÍTICO DE FIBRA ______________________________________40
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4.3.3 COMPRIMENTO CRÍTICO DA FIBRA _____________________________ 42


4.3.4 CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS ___________________________________44
4.3.5 CONTROLE DO CONCRETO COM FIBRAS _________________________ 45
4.3.5.1. TENACIDADE________________________________________________ 45
4.3.5.2. TRABALHABILIDADE E MISTURA________________________________ 47
4.3.5.3. RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO__________________________________ 51
4.3.5.4. FADIGA____________________________________________________ 51
4.3.5.5. DURABILIDADE______________________________________________ 52
4.3.5.6. RESISTÊNCIA AO IMPACTO____________________________________ 53
4.3.5.7. OUTRAS PROPRIEDADES E CARACTERÍSTICAS_____________________ 53
4.3.6 APLICAÇÕES _________________________________________________54
4.3.6.1. CONCRETO PARA PAVIMENTOS _________________________________54
4.3.6.2. CONCRETO PROJETADO PARA TÚNEIS ___________________________55
4.3.6.3. OUTRAS APLICAÇÕES _________________________________________56
5. CONTROLE DO CONCRETO PROJETADO ____________________________________56
6. QUALIDADE DO CONCRETO PROJETADO ___________________________________58
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ________________________________________________61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS __________________________________________63
APÊNDICE A – DADOS TÉCNICOS ________________________________________ 65

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1. INTRODUÇÃO

O desenvolvimento sócio-econômico tem gerado um aumento na demanda do transporte


tanto de passageiros quanto de mercadorias. Entretanto, obstáculos naturais ou artificiais,
podem tornar inviável este transporte pelos meios convencionais. A execução de obras
subterrâneas tem se mostrado uma boa alternativa na solução desta questão. Túneis são
hoje utilizados com as mais diversas finalidades. Pode-se citar, como exemplo, a escavação
de túneis em montanhas que reduzem significativamente as distâncias a serem cobertas por
vias de transporte, satisfazendo a inclinação máxima permitida. Outras utilizações são
adução de água, transportes urbanos, passagem de cabos, mineração, reservatórios etc.

Atualmente, a maior necessidade de obras subterrâneas se concentra na construção de


túneis de tráfego e cavernas de estocagem, principalmente em centros urbanos densamente
ocupados, liberando espaço na superfície para utilizações mais nobres tais como, novas
áreas para moradia e lazer.

Uma das aplicações de obras subterrâneas em rocha e sua estabilização, ocorrem em minas
subterrâneas, cavernas de armazenamento e de uso público, barragens com circuito
hidráulico subterrâneo e túneis, os quais podem ter as mais diversas finalidades
(transportes rodoviários, ferroviários e de água). Os custos da estabilização destas
escavações são onerosos assim como podem ser os custos (prejuízos) de uma eventual
ruptura. Escavações subterrâneas sofrem dificuldades naturais de uma boa investigação
geológico-geotécnica, levando a mudanças de projeto durante a fase executiva da obra.

No Brasil, a construção de túneis, tem sido feita na sua grande maioria pelo método
NATM (New Austrian Tunneiing Method) onde o concreto projetado representa um
elemento fundamental. A demanda de novos túneis é estimada em dezenas de quilômetros.
Além das obras urbanas se destacam as rodoviárias, quer sejam federais ou estaduais,
como foi a Rodovia dos Imigrantes, em São Paulo, onde o concreto projetado teve uma das
primeiras grandes aplicações.

Outro sinal da importância econômica do concreto projetado é a diversidade de seus


campos de aplicação. Além do revestimento de túneis, pode-se citar a recuperação de

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estruturas, os revestimentos refratários, e as novas construções. Com isto, muitas pesquisas


vêm sendo desenvolvidas tanto no Brasil como no exterior.

Esta apostila tem como objetivo principal dar um panorama geral do concreto projetado. A
análise se constitui em abordagens sobre os seguintes tópicos principais:

!"elementos de suporte;
!"conceito e breve histórico do concreto projetado;
!"processos de projeção e comparação entre os processos;
!"propriedades, materiais utilizados e dosagem do concreto projetado;
!"concreto projetado com adições;
!"aplicações do concreto projetado;
!"controle tecnológico do concreto e do processo de projeção.

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2. ELEMENTOS DE SUPORTE

Na década de 30, Rabcewicz iniciou o desenvolvimento de um novo método de escavação,


utilizado pela primeira vez na construção do túnel de Lodano-Mosagno, em 1950. Este
processo conhecido como New Austrian Tunnelling Method – NATM (Novo Método
Austríaco de Abertura de Túneis) foi oficializado em 1957. Ele pode ser considerado uma
filosofia de escavação, pois não fixa uma seqüência para a abertura da cavidade ou
instalação de suporte.

Segundo a filosofia do NATM, o maciço deixa de ser um elemento de carga, e começa a


trabalhar em conjunto com o sistema estrutural de suporte, para estabilizar a cavidade. Ele
fundamenta-se em três princípios básicos:
!"o maciço é visto como principal elemento estrutural;
!"a complementação, quando necessária, da estrutura de sustentação deve ser executada
através da instalação de um sistema de suporte otimizado;
!"é indispensável instrumentar o túnel.

Os sistemas de suporte são instalados para garantir certos níveis de deslocamentos


admissíveis ou para prevenir a ruptura do maciço. A instalação do suporte se faz necessária
quando o maciço é incompetente, ou seja, não possui capacidade de auto-sustentação
(depois da escavação), ou ainda quando certos níveis de deformações não são tolerados
pelas estruturas circunvizinhas. Três princípios determinam o sistema de suporte:

!"tempo de instalação, que na verdade constitui o tempo de fechamento do anel;


!"rigidez e resistência do maciço, tal que o sistema de suporte funcione como um cilindro
de paredes finas, minimizando cortantes e momentos;
!"na necessidade de um suporte de alta capacidade, que teria paredes grossas, neste caso
é preferível manter as paredes finas e reforçar com tirantes.

O suporte deve possuir rigidez para acompanhar as deformações no maciço. Caso o mesmo
possua uma alta rigidez, passa a restringir as distorções devidas à pressão diferenciada no
maciço, impedindo assim, o alívio de tensões. Deve ainda apresentar resistência suficiente

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para suprir as deficiências estruturais do maciço, absorvendo esforços e evitando


deformações excessivas.
Além da rigidez e da resistência, o sistema de suporte deverá ser instalado num espaço de
tempo, menor do que o de auto-sustentação, com o intuito de interceptar a curva
característica do maciço num certo deslocamento admissível, conforme a Figura 1.

Figura 1 – Curva característica do maciço x elemento de suporte.

Caso a mobilização de sua capacidade se dê tardiamente, ultrapassando o tempo de auto-


sustentação do maciço, ocorrerá a desagregação do terreno. Em se instalando o suporte
precocemente, o alívio de tensões no maciço será reduzido e, com isso, haverá necessidade
de uma estrutura mais resistente e mais onerosa. Atualmente, um dos grandes pontos de
pesquisa é a determinação do tempo ideal para se instalar o suporte.

Assim, define-se como tempo de auto-sustentação do maciço, stand-up time, o período


entre a abertura da cavidade e a ruína da mesma, sem que haja ação de qualquer agente
externo. A avaliação do tipo de suporte deve considerar o stand-up time, a resistência
requerida e o tempo de aplicação do suporte, ou seja, o tempo que o mesmo requer para
adquirir a resistência prevista.

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O suporte da cavidade pode ser executado em duas etapas; suporte de primeira e segunda
fase. O suporte de primeira fase, primário, imediato, temporário ou inicial, tem função de
induzir a formação do efeito arco, restabelecendo o equilíbrio tridimensional preexistente.
Para tal, deverá possuir rigidez suficiente para absorver esforços, evitando deslocamentos
excessivos, e flexibilidade suficiente para acompanhar as deformações impostas pelo
maciço. Já o suporte de segunda fase, secundário, permanente ou final, é aplicado somente
após a estabilização dos deslocamentos do maciço, com função estética e de aumentar a
segurança da obra.

Os sistemas de suporte podem ser divididos em categorias segundo sua área de aplicação.
Assim sendo tem-se: suportes pontuais ou isolados (tirantes ativos), suportes lineares
(cambotas e treliças metálicas, e enfilagens cravadas ou injetadas) e suportes superficiais
ou contínuos (concreto projetado, concreto moldado in loco, suportes segmentados).
O sistema de suporte contínuo ou externo ativo controla a instabilidade do maciço na
superfície da escavação. Estes suportes atuam contra a solicitação de instabilidade do
maciço. Eles geram tensões de equilíbrio aos deslocamentos do maciço, devido a um
incremento na tensão de confinamento (∆σ3) do maciço circundante, mudando a trajetória
e o nível de tensões. Este tipo de suporte é representado por uma força distribuída na
superfície de escavação do maciço. Como exemplos têm-se: o concreto projetado, o
concreto moldado in-loco, os segmentos de concreto pré-moldado, os segmentos de placa
metálica e as cambotas metálicas.
O concreto projetado tem sido cada vez mais utilizado. Suas características se adaptam
perfeitamente à filosofia do NATM, pois consiste em um sistema de suporte que promove
boa interação entre o maciço recém escavado e o mesmo, preenchendo os vazios da
sobrescavação. O concreto projetado é usado como elemento estabilizante devido as
seguintes propriedades:
!"tempo de endurecimento controlável através da utilização de aditivos;
!"perfeita aderência ao maciço recém escavado;
!"alta resistência a baixas idades;
!"flexibilidade adequada às deformações impostas pelo maciço;
!"estanqueidade e durabilidade;
!"versatilidade - dispensa o uso de escoramento, formas e armaduras e podendo ser
utilizado em associação a outros elementos estabilizadores

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3. CONCRETO PROJETADO
3.1. CONCEITO

As definições de concreto projetado possuem sempre como ponto de partida uma descrição
do processo de projeção deste material. No Brasil, a Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT), na norma NBR 14026 (ABNT, 2001) define “o concreto projetado
como um concreto com dimensão máxima do agregado inferior a 4.80 mm, transportado
através de uma tubulação e projetado sob pressão, a elevada velocidade sobre uma
superfície, sendo compactado simultaneamente”.

Pode se dizer, então, que o concreto projetado é o nome genérico para a mistura formada
por cimento, areia, agregado fino e água, que é aplicada pneumaticamente, e compactada
dinamicamente a grandes velocidades. Pode-se citar que a principal aplicação do concreto
projetado é em estruturas contínuas, como estas:
!"Túneis;
!"Revestimentos de taludes;
!"Recuperação de estruturas;
!"Novas construções.

3.2. BREVE HISTÓRICO DO CONCRETO PROJETADO

O Brasil caracteriza-se por ser um país com grandes concentrações populacionais nos
centros urbanos. Por esta razão, qualquer novo empreendimento na área de transporte,
onde a cidade apresenta problemas crônicos, irá implicar num grande custo em termos de
desapropriações. Este fato faz do metrô e dos túneis rodoviários urbanos alternativas
economicamente viáveis, passíveis de construção.

Grandes somas vêm sendo gastas em tentativas de melhoria das condições de trânsito em
todo o Brasil. A construção de túneis tem tido ênfase, sendo na sua grande maioria pelo
método NATM onde o concreto projetado é um elemento fundamental. Atualmente, a
demanda de novos túneis, para novas linhas do Metrô, é estimada em dezenas de
quilômetros. Além das obras urbanas se destacam as rodoviárias, quer sejam federais ou
estaduais, como foi a Rodovia dos Imigrantes, onde o concreto projetado teve sua primeira
grande aplicação. Tais obras se constituem num mercado promissor para empresas de

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projeto, construção e controle de grandes obras.

Outro sinal da importância econômica do concreto projetado é a diversidade de seus


campos de aplicação, além do revestimento de túneis. Neles podemos incluir também a
recuperação de estruturas, os revestimentos refratários, pavimentação e concreto pré-
moldado. Com isto, muito tem sido investido no seu desenvolvimento no Brasil e no
exterior com novos centros de pesquisa.

Nos meados dos anos 80, as especificações de construções de túneis exigiam que o
revestimento secundário fosse de concreto convencional lançado com o auxilio de formas
metálicas. Isso demonstrava que, além de exigências de ordem estéticas (acreditava-se que
o acabamento do concreto projetado era de baixa qualidade), existiam dúvidas quando à
durabilidade do revestimento. As construções terminavam com um alto custo e baixa
velocidade de execução.

No final dos anos 80, iniciou-se a aplicação do concreto projetado por via úmida com a
utilização de braços mecânicos. Atualmente emprega-se esta técnica, com o uso do sistema
de pré-umidificação e com injeção de água sob pressão. Na década de 90, houve um
avanço dos túneis com o emprego de novos equipamentos de escavação. No entanto, um
grave acidente ocorrido na Cidade de São Paulo (Camargo, 1993), levantou uma série de
questões sobre a segurança dos túneis e a necessidade de aprofundar o conhecimento
tecnológico na área.

O concreto projetado apresenta dificuldades na pesquisa de cunho científico, uma vez que
é complexa a implantação de laboratórios para seu estudo. Em 1989, o primeiro projeto de
pesquisa sobre concreto projetado, envolveu a Universidade de São Paulo, através da
Escola Politécnica, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo - IPT e a
Companhia Brasileira de Projetos e Obras (CBPO). Este projeto deu origem aos quatro
primeiros trabalhos acadêmicos sobre o assunto no país. Um deles abordou a dosagem e o
controle do concreto projetado (Prudêncio, 1993, citado em Figueiredo, 2000). Foi um
trabalho fundamental para a tecnologia do concreto projetado, uma vez que introduziu uma
abordagem científica do estudo do concreto projetado. Em paralelo houve a publicação de
uma dissertação abordando a questão do controle do processo de projeção (Figueiredo,

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1992). Outros dois trabalhos abordaram o uso de materiais específicos no concreto


projetado: a sílica ativa (Silva, 1997) e as fibras de aço (Figueiredo, 1997).

Atualmente conta-se com quatro centros a nível internacional dispondo deste laboratório.
O mais antigo é o da Universidade de Bochun na Alemanha, onde foi produzida uma série
de trabalhos com enfoque principal no estudo do processo de projeção. O segundo centro
que se destaca é o de Vancouver, no Canadá, onde está a Universidade da Colúmbia
Britânica e foram realizados trabalhos abordando a reologia do concreto projetado sendo a
utilização de fibras de aço tanto para a via seca como para a via úmida. Lá também está o
pesquisador D. R. MORGAN que atua nas áreas de aplicação de túneis e recuperação de
estruturas (Figueiredo, 2000). O terceiro centro é o da Universidade de Laval (Canadá),
onde está sendo dada ênfase no estudo dos aditivos para o concreto projetado. Outro centro
é o da Universidade de Loughborough, no Reino Unido. Lá os pesquisadores atuam tanto
na área do revestimento de túneis como na recuperação de estruturas, estudando também a
utilização das fibras de aço.

O concreto projetado reforçado com fibras de aço (SFRS) é uma tecnologia recente para o
revestimento de túneis. Ele apresenta uma série de vantagens quando comparado ao
reforço da tela metálica. Desenvolvimentos foram apresentados em áreas fundamentais da
tecnologia do SFRS, como o controle da qualidade e a dosagem do material, onde a
interdependência das influências da fibra e da matriz no comportamento do compósito têm
de ser consideradas. Outros aspectos desta tecnologia merecerão estudos futuros.

Ao contrário de países desenvolvidos, que já utilizam a fibra de aço como reforço do


concreto projetado mesmo sem haver um consenso geral tanto em nível de projeto como de
controle, segundo Figueiredo & Helene (1993) não há notícias de sua aplicação no Brasil.
Um dos fatores que inibiu tal utilização foi um comportamento técnico conservador dos
construtores e projetistas brasileiros. Isto porque, a construção de túneis pelo método
NATM, foi feita em São Paulo, cujo solo exige um baixo período de tempo para que o
revestimento primário apresente resistência suficiente para suportar os deslocamentos do
maciço. Assim, os construtores exigiam que a fibra tivesse equivalência comprovada à tela
metálica, como elemento de reforço.

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Segundo, ainda, Figueiredo & Helene (1993), outro fator inibidor do uso das fibras no
Brasil está no fato de ser recente seu uso como reforço do concreto. As fibras nacionais
eram, basicamente, subprodutos. Elas produziam um baixo desempenho pós-fissuração, ou
dificultavam a mistura e a aplicação provocando entupimentos nos equipamentos.
Atualmente, existem fabricantes nacionais especializados.

Em relação às normas utilizadas no concreto projetado, por muitos anos, só existiam


normas estrangeiras. Os contratos entre construtores e proprietários criavam suas próprias
normas e procedimentos (como o metrô de São Paulo e a Secretária de abastecimento de
São Paulo – SABESP).

Em 1983, a ABNT nomeou uma Comissão Técnica para elaboração das normas brasileiras
de concreto projetado. Neste meio tempo o Código de Proteção do Consumidor assumiu as
normas brasileiras como documentos de referência legais para o projeto, construção e
acompanhamento técnico de obras. Devido a isto, foram exigidos, em caráter de urgência,
normas técnicas brasileiras sobre o concreto projetado.

A comissão, então, preparou e publicou nove normas, sendo: uma especificação, seis
métodos de ensaios e dois procedimentos. Agora, estão sendo preparadas outras normas,
principalmente relacionadas a métodos de ensaio. Além disto, o Instituto Brasileiro de
Concreto – IBRACON nomeou, também, um Comitê Técnico para a produção de
documentos, como diretrizes, manuais, e relatórios técnicos. Atualmente a comissão e o
comitê trabalham juntos. Entre as normas criadas pode-se citar:

#"
NBR 13044 (ABNT, 1993) – Reconstituição de mistura recém projetada. Ela é similar
ao método recomendado pelo ACI. Tem por objetivo determinar o teor de aditivos,
proporção entre agregados (miúdo e graúdo) e o cimento, correção do teor de cimento:
medindo o passante na peneira 200 (ou 100) do agregado e o retido para o cimento;
#"
NBR 13069 (ABNT, 1994) – Determinação de tempo de pega em pastas de cimento
Portland com e sem aditivos aceleradores. É muito similar ao método ASTM C1102/88
com diferença apenas na massa da agulha para determinação do início de pega (190.35g).
Porém, não é considerado representativo do desempenho do concreto projetado em campo.
É recomendado para controle de recebimento.

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#"
NBR 13070 (ABNT, 1994) – Moldagem de placas. Esta norma fixa as dimensões das
placas (devido o calor de hidratação, uma placa maior alcança temperaturas mais altas
devido a dificuldades em dissipação de calor) e o procedimento de moldagem, a
determinação de resistência potencial.
#"
NBR 13317 (ABNT, 1995) – Concreto projetado – Determinação do índice de reflexão
por medida direta – Método de ensaio;
#"
NBR 13354 (ABNT, 1995) – Concreto projetado– Determinação do índice de reflexão
em placas – Método de ensaio;
#"
NBR 13597 (ABNT, 1996) – Qualificação de mangoteiro – via seca. Esta norma avalia
a capacidade do mangoteiro de manter a homogeneidade do concreto. Possui um
procedimento simples, sendo:
!"Moldagem de duas placas (não em seqüência);
!"Mangoteiro deve proceder a regulagem do equipamento;
!"Variações limitadas (especialmente consistência).

#"
NBR 14278 (ABNT, 1999) – Determinação da consistência pela agulha de Proctor.
Tem por objetivo a medida da consistência pela resistência à penetração da agulha e
trabalhabilidade. No caso de aditivo acelerador à base de aluminatos: o ensaio mede apenas
o tempo de pega (flash set). É similar à ASTM C1117 com uma diferença no tempo de
penetração de 25 mm em 1 segundo.
#" NBR 14279 (ABNT, 1999) – Aplicação do concreto projetado via seca. São regras para
boa aplicação.

Em análise e a serem publicados pelo IBRACON ou pela ABNT:


!"Penetrômetros de energia constante e profundidade constante: determinação da
resistência inicial – Método de ensaio;
!"Determinação da resistência à compressão por testemunhos cilíndricos extraídos:
resistência a maiores idades;
!"Determinação do índice de reflexão por reconstituição de traço (em análise);
!"Aplicação do concreto projetado via úmida.

O IBRACON está elaborando práticas recomendadas. A primeira publicação sobre o


assunto é a “Verificação de compatibilidade cimento/aditivo”, tratando procedimento
experimental com placas e penetrômetros para verificar a conformidade da mistura com as

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exigências de resistência à compressão. Para análise futura estão sendo planejadas as


seguintes práticas recomendadas:
!"Concreto projetado – recomendações para o uso;
!"Concreto projetado – recomendações para aplicação;
!"Concreto projetado – controle de qualidade;
!"Concreto projetado – Higiene e segurança no trabalho.
Além disso foram publicados dois manuais sobre o assunto:
!"Controle da qualidade anterior à projeção: “Materiais, dosagem, testes preliminares”;
!"Controle da qualidade após a projeção: “Guia de inspeção dos revestimentos e
estruturas de concreto projetado”.

3.3. PROCESSOS DE PROJEÇÃO

O concreto projetado (CP) é uma metodologia já bem definida. O objetivo principal é o de


funcionar como uma estrutura de revestimento que mantêm um corte ou a abertura de um
túnel estável durante a vida útil da obra.

Este revestimento permite uma economia de custos e prazos (se comparado a concreto “in
loco”). A sua alta capacidade de suporte, sem a necessidade do uso de formas e
escoramentos, aumenta a velocidade de concretagem, reduzindo o custo e o prazo de
conclusão dos serviços.

A American Cocrete Institute – ACI (1990), citado em Figueiredo e Helene (1993), alerta
que o sucesso da aplicação do concreto requer um equipamento com operação e
manutenção apropriada. Desta forma, o concreto projetado depende, intimamente, do
processo de projeção utilizado, o qual irá definir as propriedades do concreto.

Os processos de projeção podem ser classificados, segundo o tipo de equipamento


utilizado e em função do ponto da mistura entre os componentes sólidos do concreto e a
água. Identificam-se dois tipos de processo o via seca ou o via úmida. No Brasil, existe,
ainda, uma terceira opção a semi-úmida. Resumidamente, os processos podem ser estes:

♦ Via seca (dry mix) ⇒ o concreto é conduzido à bomba de projeção a seco. A mistura
de agregados e cimento é conduzida por ar comprimido, através de um mangote até o
bico de projeção, onde é adicionada água;

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♦ Via úmida (wet mix) ⇒ o concreto é conduzido à bomba com toda a água necessária já
misturada, sendo o ar comprimido utilizado para acelerar a projeção no bico e, por
vezes, para pressurização de câmaras da bomba de concreto ou mesmo para transporte
mistura úmida mangote;

♦ Via semi-úmida ⇒ é um caso especial da via seca, onde se adiciona água à mistura de
agregados e cimento antes do bico no mangote, por meio de um anel umidificador, e
próximo ao bico (igual ao processo de via seca).

No concreto projetado a seco, os componentes se misturam e logo se aplica um pré-


umedecimento para reduzir o pó. Esta mistura é colocada na máquina de bombeamento a
seco com agitação contínua e ar sob pressão é introduzido pelo cilindro rotatório para
transportar o material em forma contínua através da mangueira de expulsão. A água é
introduzida à mistura apenas no bico injetor. Gunita foi o nome dado ao concreto projetado
a seco a partir de 1960, mas que entrou em desuso pelo termo mais genérico de concreto
projetado. A Figura 2 mostra um organograma de como funciona o sistema de concreto
projetado a seco. Este sistema, detalhado na Figura 3, apresenta elevado índice de reflexão,
decorrente do processo, incrementa o nível de partículas sólidas em suspensão no ar. A
geração de pó é prejudicial a saúde, mas este problema pode ser reduzido umedecendo
ligeiramente a mistura antes de sua aplicação. No Brasil, atualmente, é o processo mais
usado, devido à facilidade de projeção descontínua.

transporte da ar comprimido bico


mistura seca

cimento
concreto
mistura máquina de projeção projetado
agregados

Aditivo acelerador

água

Figura 2 - Organograma da projeção a seco (modificado – Figueiredo e Helene, 1993).

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Figura 3 - Sistema de projeção a seco (modificado – Figueiredo e Helene, 1993).

No caso do concreto projetado úmido, os componentes são misturados com água num
caminhão misturador. Depois é jogado no sistema de bombeamento hidráulico, que
bombeia a mistura até o bico injetor, onde se introduz ar para o projetar sobre uma
superfície (Figura 4 e 5). Com isso têm-se índices de reflexão reduzidos e uma melhoria
das condições de operação. Contudo algumas restrições à aplicação deste método se
tornam necessárias no que tange ao tempo de pega. Este não deve ser excessivamente
reduzido para evitar o endurecimento do concreto no interior do equipamento de projeção;

transporte de
bico
concreto

cimento
máquina de projeção concreto
água mistura ou bomba projetado

agregados

Aditivo inibidor Aditivo acelerador


ar comprimido
Aditivo plastificante Aditivo ativador

Figura 4 - Organograma da projeção via úmida (modificado – Figueiredo e Helene, 1993).

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aplicação de vácuo para restituir o


estado normal do tubo de bombeamento ar acelerado
ingresso do ar
rolos

saída da
mangueira

mistura úmida

rolos paletas rotatórias


sucção
tubo de bombeamento

Figura 5 - Sistema de projeção via úmida (modificado – Figueiredo e Helene, 1993).

3.4. COMPARAÇÃO ENTRE OS PROCESSOS

O concreto projetado terá suas propriedades fortemente influenciadas pelo processo de


projeção utilizado. Este processo é classificado segundo o tipo de equipamento utilizado e
as condições em que se irá trabalhar com o material. A Tabela 1 mostra a comparação
resumida dos processos de projeção via úmida e via seca. Para escolha do melhor processo
para um túnel, alguns critérios de seleção podem ser:
!"disponibilidade do equipamento;
!"fatores físicos e logísticos de obra;
!"tempo disponível;
!"especificações e exigências legais;
!"equipe de projeção.

Vale salientar que, segundo a ACI, citado em Figueiredo e Helene (1993), a equipe de
projeção é apontada como o elemento mais importante para que se obtenha uma aplicação
de concreto projetado bem sucedida. Na projeção por via seca, por exemplo, o mangoteiro
é o responsável pelo controle da umidificação do material, que é um dos mais importantes
fatores da variação das propriedades do concreto projetado.

Assim, na equipe, o mangoteiro tem o papel chave, sendo ele o responsável pela aplicação
do material, o controle da quantidade de água adicionada e o controle da uniformidade do
fluxo de ar, da vazão e da pressão adequadas para uma boa compactação do concreto.
Acima de tudo, o mangoteiro tem a responsabilidade de conhecer e executar a aplicação

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adequada do concreto, evitando problemas como a laminação, a reflexão excessiva, o


efeito de sombra, a oclusão da reflexão, os desplacamentos e as imperfeições superficiais.
Tabela 1 – Quadro comparativo (modificado – Figueiredo e Helene, 1993).

FATOR VIA SECA VIA ÚMIDA


• Maior investimento total e menos
• Menor investimento total; equipamentos no local de trabalho;
• Operação manual difícil;
1. Equipamento • Manutenção simples;
• Menor desgaste de bicos mangueiras
• Fácil operação. e bombas para mesma produção;
• Consumo de ar até 60% menor.
• Só na usina e apurada;
• Na obra ou na usina;
• Maior homogeneidade;
• Uso de misturas pré-dosadas;
2. Mistura • Abatimento interfere no processo;
• Desempenho alterado devido
a umidade da areia. • A umidade da areia não altera o
processo.
• Raramente ultrapassa os • de 3 a 20m3/h⇒ projeção manual;
3. Produção e 5m3/h no campo;
3
alcance • Pode transportar materiais a • até 20m /h⇒ projeção mecanizada -
maiores distâncias. robô.
• 15 a 40%⇒ parede vertical; • Baixa reflexão ⇒ menor que 10%;
• 20 a 50%⇒ teto;
• Sem a formação de bolsões de
• formação de bolsões de
4. Reflexão material refletido;
material refletido;
• variação do traço devido a • pequena perda de agregado.
perda de agregado.
• Alta resistência ⇒ baixo
fator a/c; • baixa resistência ⇒ alto fator a/c;
5. Propriedades • menor homogeneidade;
• depende da experiência da • maior homogeneidade do material..
mão de obra.
• Maior ⇒ melhor adesão e • Adequada para uso em túneis e
6. Velocidade
fácil aplicação no teto; minas;
do jato
• Maior ⇒ fácil compactação. • Material menos compacto.

• Podem ser dispensados;


• Em pó posto na betoneira; • Líquidos;
7. Aditivos
• Líquidos posto no bico de • Em pó só no Japão.
injeção.
• Baixa a média (fluxo aerado), com
• Grande produção, dificuldade
8. Poeira e melhor visualização;
de visualização do trabalho;
névoa • Pode produzir névoa de aditivo
• Em túneis exige ventilação.
líquido tóxica exigindo ventilação.

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3.5. PROPRIEDADES DO CONCRETO PROJETADO

Uma das desvantagens do concreto projetado apontada pela comunidade técnica foi sempre
a grande variação das propriedades deste material, causando dúvidas quanto sua
confiabilidade e viabilidade ao longo do prazo. Lorman (1968), citado em Figueiredo &
Helene (1993), afirma que em varias pesquisas, de 1911 a 1965, as propriedades físicas do
concreto projetado variavam do pobre ao excelente.

Glassgold (1989), citado, também, em Figueiredo & Helene (1993), contra-ataca e


questiona a variabilidade dos resultados em relação a adequação dos ensaios e da forma de
executá-los, da qualidade das matérias primas utilizadas e devido ao grande número de
variáveis envolvidas no processo, a possibilidade de comparar concretos projetados em
regiões diferentes. O próprio autor defende que a maioria dos casos históricos publicados
não fornece informações completas para avaliar as conclusões obtidas. Em alguns casos,
não existem relatos sobre os equipamentos utilizados na projeção e a forma de execução.

Vale salientar, ainda, que além da caracterização do processo, deve-se indicar a forma
como foram obtidas as propriedades do material e abordar todos os aspectos envolvidos no
processo desde a dosagem até o uso. A seguir serão descritas algumas propriedades do
concreto projetado, sendo elas dependentes do processo de projeção.

3.5.1. REFLEXÃO
Durante o impacto do concreto projetado contra superfícies duras (como armaduras ou o
próprio concreto), parte do material é refletido. Assim, ele não se incorpora ao alvo de
projeção e, consequentemente, cai ao chão. Este fenômeno é conhecido como reflexão.

A reflexão é quantificada pelo índice de reflexão (IR), devendo ser mínimo, expresso por:

IR = MR × 100
MT
Onde:
MR= massa de material refletido;
MT= massa de material total inicial.

Segundo Parker et al. (1976), citado em Figueiredo & Helene (1993), a reflexão é um
processo dinâmico dividido em duas fases distintas sendo:
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!"Primeira fase ⇒ corresponde à formação de um colchão de amortecimento (composto


de uma fina camada de pasta de cimento e argamassa). Quando se inicia a projeção a
reflexão é intensa, pois só a pasta se adere à superfície alvo. À medida que a espessura
da camada projetada aumenta, progressivamente, passa-se a incorporar agregados de
dimensões maiores até o agregado graúdo ser incorporado, iniciando-se a segunda fase.
!"Segunda fase ⇒ corresponde a absorção quase completa do material de concreto
projetado. Nesta etapa, a intensidade de reflexão passa a ser constante e com níveis
bem inferiores ao da primeira fase.

Este comportamento é causado pela incapacidade inicial de dissipação da energia cinética


dos agregados. Durante a projeção, os grãos sofrem um choque elástico com o alvo,
retornando com grande velocidade. À medida que a espessura da camada de concreto
projetado aumenta, o choque passa a ser inelástico, que possibilita a incorporação de grãos
de dimensão cada vez maior. A Figura 6 resume a dinâmica da reflexão.
superfície de impacto pasta
Impacto pasta argamassa
impacto pasta argamassa

bico bico
bico

Reflexão com muito Reflexão


Reflexão com
agregado graúdo
muito agregado concreto
PRIMEIRA FASE SEGUNDA FASE
SUBSTRATO PRIMEIRA FASE

Figura 6 – Dinâmica da reflexão (modificado – Figueiredo e Helene, 1993).

Quando existe a necessidade de executar uma camada espessa de concreto projetado,


obtêm-se uma reflexão maior. Normalmente, esta camada é executada em duas etapas.
Após o endurecimento da primeira etapa, voltando ao estágio da primeira fase (onde é
maior a reflexão), aplica-se uma nova camada. Desta forma, tanto a reflexão como a
heterogeneidade do material será maior quanto o número de passadas utilizadas para se
obter uma mesma espessura de camada.

Maior será a reflexão, também, quanto maior for a quantidade e a dimensão do agregado.
Isto se deve ao fato de quanto maior for o agregado, maior será a camada necessária para o
amortecimento, o que aumenta a duração da primeira fase e, portanto, maior a reflexão.

Concreto Projetado para Túneis 19


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Além disso, é maior a probabilidade de ocorrência de choque elásticos entre os agregados.


Da mesma forma, quanto maior o consumo de cimento ou o teor de finos da mistura,
menor será a reflexão. Devido a isto, indica-se o uso de microsílica para reduzir a reflexão,
pois além de aumentar a coesão, dada a sua grande finura, aumenta o teor total de finos.

Quanto maior a quantidade de água da mistura, menor será a reflexão. Isto porque maior
será a plasticidade da mistura projetada e, por conseqüência, maior será a capacidade do
colchão de amortecimento terá de tornar o choque anelástico. É obvio que a quantidade de
água não pode exceder a certos valores que fluidifiquem a mistura, perdendo sua coesão
impedindo sua aderência à parede.

A reflexão é afetada, também, pela superfície de impacto onde se projeta. Quanto mais
irregular for à superfície maior será a camada de amortecimento e, portanto, maior a
duração da primeira fase e maior a reflexão. O mesmo ocorre com as superfícies rígidas
que demandem uma maior camada de amortecimento. Por outro lado, ao se projetar sobre
telas que vibrem e causem o desprendimento dos grãos fracamente aderidos, tem-se uma
maior reflexão.

Vale salientar, ainda, que existe uma variação do traço dos materiais que ficaram aderidos
a parede e aqueles que foram dosados inicialmente. Isto ocorre, pois a maior parte do
material refletido é composta de agregado graúdo. Assim, o material que ficou retido no
alvo de projeção é mais rico em finos do que a mistura seca, a qual alimentou a máquina de
projeção. Vários estudos existem para orientar a estimativa de gastos com materiais
constituintes do concreto dentre eles o de Aliva (1981) e o da ACI (1990), ambos citados
em Figueiredo e Helene (1993).

Um dos fatores ligados ao processo de projeção que influencia a reflexão é o próprio


processo em si. Uma das vantagens da via úmida é a maior coesão do material e a menor
velocidade de projeção que tornam pequena a reflexão, em relação à via seca. A reflexão
aumenta com grandes pressões no mangote e grandes velocidades de projeção e em relação
inversa ao diâmetro do bico utilizado. Outro fator importante é o ângulo que o jato de
concreto faz com a superfície, quanto mais próximo de 90° menor será a reflexão. A

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literatura aponta a distância de projeção ideal variando entre 0,60 a 1,80 m, quando haveria
o maior grau de compactação para a menor reflexão possível.
A incorporação de material segregado na superfície em projeção, devido a reflexão,
denomina-se oclusão. Esta é uma das principais causas da heterogeneidade do concreto
projetado. Este fenômeno provoca o aparecimento de regiões de baixa resistência e alta
permeabilidade. Ela é formada da parcela de material refletido que ao invés de cair no
chão, acaba se aderindo a armadura, a forma ou a cambota formando um concreto com
pouco teor de finos e baixa compactação.

Para combater a oclusão deve ser feita uma limpeza utilizando o bico de jato de ar, para
ajudar a manter o material refletido e o solto fora do campo de trabalho durante a projeção.
A oclusão diminui a aderência (monolitismo) entre as camadas, a resistência à compressão
axial, e aumenta a permeabilidade do concreto. A Figura 6 mostra dois corpos de prova
(CP1 e CP2) extraídos de uma estrutura onde se verificou uma queda de resistência devido
à oclusão.

Concreto São
Concreto São

Material
Refletido

Concreto São

CP1: fc28 = 4,5 MPa CP2: fc28 = 21 MPa

Figura 6 – Corpos de prova extraídos da estrutura (modificado – Silva 1997).

3.5.2. DESPLACAMENTO

O fenômeno de destacamento de massa já projetada por falta de aderência denomina-se


desplacamento. A falta de aderência é devido a aplicação de concreto projetado sobre
superfícies com materiais soltos (da reflexão ou pó), muito lisos, presença de camadas de
carbonato de cálcio (estalaquitite), muito úmido ou concreto projetado com excesso de
umidade e retardo no início de pega. Outra razão é que o concreto projetado normal,
dificilmente consegue atingir espessuras superiores a 7.5 cm sem que haja o rompimento
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por falta de coesão. Assim, para atingir estas espessuras, ou utiliza-se várias passadas (o
que aumenta a reflexão) ou se recorre a aditivos aceleradores de pega ou microssílica.
O desplacamento gera um maior risco de acidentes no trabalho, durante a projeção. Pode
ocorrer queda de material sobre algum operário ou sobre o próprio mangoteiro.

3.5.3. POEIRA E NÉVOA

A liberação de poeira durante a projeção é um fenômeno típico da via seca pois a


umidificação completa do material é muito difícil de se obter. Outras fontes podem ser:
!"alimentação da cuba da máquina de projeção, quer seja manual ou mecanizada;
!"a máquina de projeção, principalmente, se for a rotor;
!"equipamentos sem manutenção apropriada;

No caso da via seca com injeção de água a elevada pressão, onde a umidificação da
mistura seca é mais eficiente, pode ocorre outro problema que é a produção de uma névoa
a partir do jato de água pulverizado. Esta névoa prejudica a visualização do serviço. Além
disto, ao se utilizar aditivos líquidos, diluídos na água, os quais são a base de aluminatos
ou silicatos de sódio ou potássio, pode-se provocar uma atmosfera cáustica, nociva a saúde.

3.5.4. HOMOGENEIDADE E DEFEITOS TÍPICOS

A falta de homogeneidade do concreto projetado aparece devido ao próprio processo de


projeção, a uma execução descuidada ou a uma falta de experiência da equipe. As causas
principais da heterogeneidade do material, apresentando-se com defeitos, são estas:

!"oclusão de material refletido;


!"laminação;
!"efeito de “sombra”;
!"desplacamentos;
!"alterações na superfície do material;
!"variação da resistência à compressão do material.

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3.5.4.1 EFEITO DE SOMBRA


Os vazios formados atrás das armaduras ou embutido, em relação ao fluxo de projeção, são
denominados de sombra. Este fenômeno pode ser originado de uma má projeção (distância
e ângulo do bico em relação à superfície de impacto incorretos) e excesso de aditivo
acelerador de pega, o qual acelera a hidratação em uma velocidade tal que o concreto
projetado não tenha consistência necessária para preencher os vazios atrás da armadura. Na
Figura 8 observa-se o efeito de sombra após a projeção.

Concreto
Velho

Concreto
Armadura projetado

Direção de Vazio ou sombra


projeção

Figura 8 - Efeito de sombra (modificado – Silva, 1997).

3.5.4.2 LAMINAÇÃO
Entende-se por laminação a ocorrência de camadas ou faixas alternadas, visivelmente
diferenciadas, de material de alta e baixa densidade no sentido perpendicular ao da
projeção, formando um material anisotrópico e de durabilidade reduzida. Este fenômeno
pode ser observado em testemunhos extraídos de um concreto projetado, sendo um
esquema visto na Figura 9. A ocorrência da laminação deve-se a alguns fatores, como:

!"ao jateamento do concreto sobre a superfície que orienta o material em função das
camadas umas sobre as outras;
!"a projeção da mistura muito seca, segregando o material e aumentando a reflexão.
!"variações de traço devido a variações de fluxo da máquina;
!"utilização de aditivos a base de aluminato que dificultem a compactação do concreto e
a utilização de mão de obra pouco qualificada ou supervisão inadequada.

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Direção da projeção Superfície de impacto

Material arenoso sem Concreto São


coesão

Figura 9 - Efeito de laminação (modificado – Silva, 1997).

3.5.4.3 IMPERFEIÇÕES SUPERFICIAIS

As imperfeições superficiais do concreto projetado podem ocorrer pelo uso excessivo ou


inadequado de aditivos aceleradores de pega ou outros produtos químicos. O excesso de
água pode produzir o carreamento dos finos quando ela escorre pela superfície do concreto,
produzindo um aspecto rústico com aparecimento do agregado graúdo. A projeção
inclinada pode formar dunas no concreto. Além disso o manejo inadequado do mangote
pode produzir variações na rugosidade e manchas.

3.5.4.4 CONTROLE DA HOMOGENEIDADE

Os controles estatísticos fornecem uma avaliação quantitativa da homogeneidade do


material, o que facilita o seu controle. Porém, vale ressaltar que estes indicadores não
suprimem a necessidade de uma avaliação qualitativa, pois o caráter pontual de alguns
defeitos os torna de difícil detecção por uma análise amostral. Indica-se, então, três formas
do controle para a uniformidade do material, que serão detalhadas a seguir.

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a) Controle visual

O controle visual é uma etapa essencial no processo de projeção. Os principais motivos


deste controle podem ser:
!"grande possibilidade de durante ao processo de projeção se obter defeitos pontuais, que
podem ser minimizados pela correta supervisão do trabalho do mangoteiro;
!"é importante garantir as mesmas condições de modelagem para o concreto aplicado e
os corpos-de-prova dos quais será determinada a resistência a compressão. Estes corpos-
de-prova são preparados a partir dos testemunhos extraídos de placas e não da estrutura.
!"devido à projeção de concreto ser um processo dinâmico é possível corrigir certas
falhas com a aplicação de outra camada de concreto.

A inspeção visual permite, ainda, as seguintes verificações:


!"detectar zonas onde existam vazios devido ao desprendimento do material ou por
deficiências da projeção;
!"avaliar qualitativamente a quantidade de água;
!"estimar o índice de reflexão.

b) Controle de pega e de endurecimento

O controle de pega e de endurecimento para o concreto projetado tem especial importância


quando se aplicam aditivos aceleradores. Pode ser definido também como o controle da
resistência a baixa idade, ou seja, valores de resistência inferiores a 8 MPa. Para este fim
são empregados dois tipos de aparelho, sendo eles: o Penetrômetro de Meynadier (PEM) e
o Penetrômetro de Energia Constante (PEC).

O PEM é utilizado para resistências inferiores a 1 MPa e o PEC para a faixa variando de 1
a 10 MPa. Ambos têm como principio básico a correlação entre a penetração de uma
agulha no concreto e a sua resistência à compressão. O PEM é um equipamento manual
que fornece índices para penetração de 15 mm de uma agulha padronizada no concreto. O
PEC utiliza o disparo de uma mola para penetrar no concreto um pino padrão. Assim, a
resistência é obtida por uma correlação com a profundidade de penetração.

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Estes equipamentos, também, são usados para avaliação da uniformidade do material uma
vez que para a obtenção da resistência a compressão é feita diversas medidas, para se
analisar a dispersão de resultados. Devido a facilidade de manuseio o PEM pode forncer
resultados do material, logo após a projeção, o que agiliza o controle da homogeneização a
respeito dos aditivos aceleradores de pega e endurecimento.

c) Controle da resistência à compressão

O controle da resistência à compressão do material após 24 horas é realizado com o


rompimento de corpos-de-prova cilíndricos extraídos de placas. Eles permitem a avaliação
da uniformidade do material pela dispersão dos valores obtidos de resistência e pela
verificação da ocorrência de defeitos como oclusão, lentes de areia, laminação ou sombra.

3.5.5 ADERÊNCIA

A aderência é uma propriedade fundamental para o concreto projetado, pois sem ela não é
possível se executar nenhuma camada estrutural, já que o material não se adere ao alvo de
projeção. Para os túneis, Figueiredo (2000) recomenda que o concreto projetado se
mantenha aderido a superfície do maciço de maneira a preservar a sua resistência natural e
mantê-lo sem alterações o quanto for possível.

O processo de projeção facilita a aderência do concreto, pois o jatemaneto contra a


superfície provoca um tamponamento dos poros e fissuras com a pasta forma na primeira
fase da reflexão. A pasta endurecida atua como uma ponte de aderência entre o substrato e
o concreto. Desta forma, suportes rugosos (como o próprio concreto) ou rocha melhoram a
aderência e o desempenho do projetado.

Por outro lado substratos fracos, muito lisos, contaminados com material solto ou
parcialmente endurecido, material pulverulento, graxas, tintas, desmoldantes ou com
umidade excessiva provocam um falta de aderência do concreto comprometendo seu
desempenho.

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Outro fator que provoca perda de aderência é a baixa resistência a compressão do material
nas primeiras horas após a projeção. Nesta etapa, o material pode apresentar fissuaramento
na superfície de contato entre o substrato e o concreto. Neste instante o peso próprio da
camada e sua deformabilidade, torna a aderência nula. Nestes casos a solução,
normalmente, aplicada é a utilização de maior quantidade de aditivos aceleradores de pega.
Alternativas diferentes poderiam ser:

a) utilização de microsílica, em especial, em regiões úmidas;


b) utilização de fibras que diminuem a fissuração por retração.

Uma das primeiras formas de controle da aderência pode ser realizada preparando a
superfície do substrato. Porém, é muito difícil, medir a resistência ao cisalhamento quando
o substrato é um solo friável, mole e úmido, pois neste caso, sabe-se apenas, que ela é
muito baixa. Então, o critério de avaliação é o próprio sistema de execução do
revestimento: ele está aprovado se não houver desplacamento.

Outra forma de se avaliar a aderência do concreto projetado com um substrato de concreto


mais antigo é a extração de testemunhos cilíndricos. Eles devem conter a superfície de
aderência em seu eixo e posterior ruptura da mesma por compressão diametral.

3.6. MATERIAIS
3.6.1. AGREGADOS
Os agregados a serem utilizados, areia e pedrisco, devem seguir as especificações da
norma da NBR 7211/EB 4, quanto a granulometria, torrões de argila e matéria orgânica. O
excesso de torrões de argila e matéria orgânica pode reduzir a aderência da pasta ao
agregado (diminuindo a resistência) e alterar a pega.

A utilização de areia mais grossa geralmente resulta em maior reflexão, enquanto areia
mais fina gera maior retração por secagem. De acordo com Silva (1997), o módulo de
finura da areia deverá estar compreendido entre 2.35 e 2.75 e a dimensão máxima
característica do pedrisco não deverá ser maior que 9.5 mm, pois 60% a 70% dos grãos
acima desse diâmetro são refletidos. No caso do processo via seca, Silva (1997) atenta que
o teor de umidade da areia deverá estar compreendido entre 3% e 7%. Abaixo de 3% pode

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gerar maior quantidade de pó, quando da projeção, e acima de 7% pode causar


entupimento do mangote e uma pré-hidratação do cimento.

3.6.2. CIMENTO
O cimento utilizado pode ser do tipo I (Portland Comum), II (Portland Composto), III
(Portland de Alto-Forno), IV (Portland Pozolânico), V (Portland de Alta Resistência
Inicial) e ARI-RS.

Os cimentos ARI e ARI-RS são os que apresentam maiores resistências iniciais (até 3 dias)
e finais, conforme pode ser observado na Tabela 2. Os cimentos com superfície específica
blaine superior a 400 m2/kg são mais susceptíveis a retração e fissuração, e por conseguinte
exigem maiores cuidados na cura. Caso o concreto for manter contato com terrenos ou
águas sulfatadas, deve ser utilizado um cimento resistente a sulfatos.

Tabela 2 – Tipo de cimento x resistência x finura “Blaine” (modificado – Silva, 1997).


fc 10h fc 24h fc 3d fc 7d fc 28d
CIMENTO BLAINE (m2/kg)
(MPA) (MPA) (MPA) (MPA) (MPA)
CPI-S 349 1.0 10.7 24.3 32.2 43.6
CPII-E 373 1.1 7.9 21.0 30.7 42.9
CPII-F 364 1.4 12.5 25.4 30.0 38
CP-V-RS 423 1.9 14.6 28.9 41.2 50.8

3.6.3. ADITIVOS
Os aditivos mais utilizados em concreto proejado são:
• aditivo acelerador em pó (à base de carbonato de sódio - Na2CO3), para o processo via
seca ou líquido (à base de aluminato de potássio - KAl2O3), para os processos via seca e
úmida. Estes aditivos são cáusticos. Já existem no Brasil aditivo não cáustico, tanto na
forma líquida como em pó, os quais não queimam a pele dos operários;
• aditivo plastificante, somente para o via úmida;
• aditivo superplastificante, somente para o via úmida.

Os aditivos aceleradores de pega e de endurecimento têm por finalidade:


• acelerar a evolução da resistência inicial durante o endurecimento do concreto;
• reduzir os tempos de início e fim de pega;
• propiciar a execução de grandes espessuras de concreto projetado de uma única vez;
• permitir a projeção contra superfícies ligeiramente úmidas.
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Apesar dos objetivos acima descritos dos aditivos aceleradores, eles têm o inconveniente
de reduzirem a resistência do concreto a 28 dias em relação a um concreto sem esse
aditivo, além de aumentarem a sua porosidade (volume de vazios permeáveis). A
porcentagem de aditivo acelerador, para um mesmo traço, deverá ser igual tanto para as
paredes quanto para as calotas.

Silva (1997) exemplifica este fenômeno citando um caso no qual a resistência do concreto
sem aditivo acelerador após 28 dias foi de 48 MPa e absorção de água de 4%, e o mesmo
traço, com a adição de 3% do acelerador cáustico obteve 30 MPa de resistência a 28 dias e
6,3% de absorção. Recomenda-se para os aditivos cáusticos que o teor seja inferior a 3%.
Acima de 3%, observa-se um menor acréscimo de resistência de 3 dias para 7 dias (inferior
a 10%) e o mesmo ocorre de 7 dias para 28 dias (inferior a 5%).

O aditivo cáustico em pó à base de carbonato de sódio, Na2CO3, acelera a hidratação do


cimento funcionado como acelerador de endurecimento. Este aditivo acelera a dissolução e
precipitação do C3S e tendo um efeito menor nas propriedades iniciais (maior tempo de
para a pega e menores resistências a 10 e a 24 horas) que o aditivo cáustico líquido.

O aditivo cáustico líquido à base de aluminato de potássio, KAl2O3, reage com o gesso do
cimento (o qual retarda o início de pega), reduzindo a formação de etringita (composto que
também retarda o início de pega) e dessa forma acelera a hidratação do C3A (responsável
pelas resistências de 10 e 24 horas); logo, ele é um aditivo acelerador de pega.

A Tabela 3 apresenta um estudo comparativo em um mesmo traço de argamassa, entre os


aditivos cáusticos líquidos e pó, para um mesmo tipo de cimento e uma mesma
porcentagem de aditivo acelerador. Observa-se que o início de pega é mais rápido no
aditivo em pó e que as resistências a 10 e 24 horas são maiores no líquido. Vale salientar,
ainda, que a perda de resistência aos 28 dias é menor no aditivo em pó.

Tabela 3 – Efeito dos aditivos aceleradores da pega (modificado – Silva, 1997).


INICIO DA PEGA fc 10h fc 24h fc 3d fc 7d fc 28d
ADITIVO
(H:MIN) (MPA) (MPA) (MPA) (MPA) (MPA)
Nenhum 4:25 1.0 12.7 30.6 42.7 50.9
Pó 0:16 5.9 12.8 29.5 38.5 40.4
Líquido 0:08 6.4 14.5 25.9 31.6 32.8

Concreto Projetado para Túneis 29


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O teor máximo de aditivo acelerador a ser utilizado deverá ser determinado em ensaios de
compatibilidade cimento x aditivo, em laboratório, e verificado em campo. Este teor não
deverá ser superior a 3%, por razões tecno-económicas. A Tabela 4 mostra a relação não
proporcional entre o aumento na porcentagem de aditivo acelerador e a resistência inicial.
Observa-se a existência de um teor ótimo para cada tipo de cimento e aditivo.

Antes da utilização do aditivo líquido deve-se verificar se ele não se encontra cristalizado
(podendo entupir a mangueira ou a bomba de aditivo). A verificação da presença ou não de
cristais é visual, utilizando-se de uma proveta de 1.000 ml. Os aditivos devem ser isentos
de cloretos, para evitar a corrosão das armaduras.

Com relação aos aditivos aceleradores não cáusticos, o teor recomendado, para o pó, varia
entre 5% e 8% sobre a massa de cimento e, para o líquido, entre 6% e 10%. A perda de
resistência devida à utilização dos aditivos aceleradores não cáusticos também ocorre, só
que é bem menor que os cáusticos. Para um teor de 7% do aditivo não cáustico observa-se
uma queda de 8% da resistência à compressão axial.

Tabela 4 – Resistência x % de aditivos acelerador (modificado – Silva, 1997).


% DE ADITIVO fc 10h fc 24h fc 3d fc 7d fc 28d
ACELERADOR (MPA) (MPA) (MPA) (MPA) (MPA)
0 1.4 5.7 23.6 32.8 40.6
2 2.0 6.6 17.0 23.0 39.2
3 2.5 7.4 16.7 23.1 33.3
4 3.1 7.7 15.3 20.3 32.8
5 2.8 7.8 16.5 19.1 31.8

3.6.4. ÁGUA

A água a ser utilizada deverá apresentar ph compreendido entre 5.8 e 8, além de atender
aos limites máximos de matéria orgânica, sulfatos, cloretos, açúcar e resíduos sólidos,
estabelecidos na NBR-6118 (ABNT, 1982), sendo:
• matéria orgânica (expressa em oxigênio consumido) 3mg/l.
• resíduo sólido 5.00mg/l.
• sulfato (expressos em íons SO4) 300mg/l.
• cloretos (expressos em íons Cl-) 500mg/l.
• açúcar 5mg/l.

Concreto Projetado para Túneis 30


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3.7. DOSAGEM

Entende-se por dosagem racional do concreto o estudo da proporcionalidade dos materiais


para atender:
• à resistência característica do concreto (fck); aos parâmetros de “durabilidade” (por
exemplo: absorção de água < 8%, capilaridade < 8 cm, penetração de água < 6 cm etc.);
• às técnicas de execução: lançamento e adensamento;
• ao custo.

O traço de concreto obtido através do estudo de dosagem deverá apresentar a menor


retração possível, pois isto conduzirá a uma maior aderência entre o concreto e o substrato,
entre as camadas do projetado (1ª e 2ª fase), e menor fissuração (aumento da durabilidade).
Para reduzir a retração deve-se reduzir o teor de finos (menor teor de pasta), menor relação
água/cimento, cimento mais grosso, boa compactação, ângulo de aplicação do concreto
projetado de 90º e cura.

As principais diferenças entre a dosagem dos concretos projetados e normais são com
relação ao consumo de cimento e dimensão máxima do agregado. A dimensão máxima
característica do agregado a ser utilizado deverá ser inferior a 12.5 mm. Traços contendo
pouco cimento (misturas pobres) aumentam a reflexão e diminuem a aderência.

4. CONCRETO PROJETADO COM ADIÇÕES

CONCRETO PROJETADO COM POLÍMERO

Polímero é uma macromolécula formada pela combinação de monômeros. Os tipos mais


comuns de monômeros são o estireno e o metilmetacrilato. O polímero depende do
monômero usado, dos métodos de polirnerização e do processamento. Polimerização é a
reação de síntese que transforma um monômero em um polímero. Como exemplos de
polímeros têm-se o Epóxi, Estireno Butadieno (SBR), PVA, Acrílico etc.

O concreto polímero é todo concreto ao qual se adiciona um polímero se subdividindo em


três tipos principais:
a) concreto impregnado com polímero consiste em se executar o concreto de forma
convencional e depois de ele endurecido introduz-se um polímero;

Concreto Projetado para Túneis 31


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b) concreto de resina consiste na mistura de resina com fíller e agregados (secos ou com
umidade de até 2%), ou seja, o aglomerante passa a ser o polímero.
c) concreto de cimento e polímero é a mistura de cimento, polímero, agregados e água.

Devido a seu efeito plastificante e adesivo, os polímeros permitem a redução da relação


água/cimento, melhoram a ligação pasta/agregados e reduzem a quantidade e diâmetro dos
poros. Desta forma há uma redução da permeabilidade, da absorção, um aumento na
resistência à ação dos agentes agressivos (cloretos, gás carbônico etc.). Desta forma, os
principais objetivos do uso de polímero no concreto projetado são:
!"redução da permeabilidade do concreto;
!"redução da absorção de água;
!"redução da reflexão, devido a melhora na ligação pasta/agregados;
!"aumento da resistência aos agentes agressivos;
!"redução da retração por secagem, devido a redução na relação água/cimento;
!"não há necessidade de cura úmida ou com produtos de cura (química);
!"cura ao ar, pois o aumento de umidade há uma piora em seu desempenho.

Há alguns polímeros que não resistem à ação do meio alcalino, formando ácido e outros
produtos. O ácido interfere na hidratação do cimento, produzindo um concreto menos
resistente. Deve-se verificar a compatibilidade entre o tipo de cimento e o polímero, pois
existem polímeros cujo uso não é compatível com cimento pozolânico (CP IV).

No Brasil foram realizados alguns ensaios com o uso de polímeros. Silva (1997) cita como
exemplo de comparação entre um traço com e sem polímeros (CS) onde houve uma
redução de consumo de 60 kg de cimento/m3. Os resultados obtidos a 28 dias foram:

!"resistência à compressão axial = 35 MPa (25% maior que o CS);


!"absorção de água por imersão e fervura = 7,2% (20% menor que o CS);
!"absorção de água por capilaridade = 25 mm;
!"penetração de água sob pressão = 30 mm;
!"módulo de deformação estática = 29,9 GPa;
!"resistência à tração por compressão diametral = 3,3 MPa;
!"índice de reflexão foi igual ao do concreto sem polímero.

Concreto Projetado para Túneis 32


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A pressão e a vazão da bomba foram, respectivamente, de 5 kgf/cm2 e 4 m3/h. A aplicação


foi realizada por um equipamento de projeção por via úmida, equipada com robô. O
polímero empregado foi o acrílico.

O teor mínimo recomendado de polímero sobre a massa de cimento é de 6%. O teor ideal
deverá ser determinado em testes práticos na obra, levando-se em consideração o
custo/beneficio (atendimento aos parâmetros especificados). Apesar de tudo exposto o
concreto projetado com polímeros não é, comumente, usado no Brasil, necessitando de
maiores pesquisas.

CONCRETO PROJETADO COM SÍLICA ATIVA

Entende-se por concreto projetado com sílica ativa a mistura de cimento, areia, pedrisco,
água, aditivos plastificantes e superplastificantes (para via úmida somente) e sílica ativa. A
sílica ativa é um material com propriedades pozolânicas, em forma de pó, cuja coloração
varia de branco a cinza dependendo do teor de sílica. Este material é constituído com no
mínimo 85% de sílica amorfa que o torna mais reativo (SiO2 não cristalizado). É obtida em
fornos a alta temperatura (2.000º C), quando o quartzo perde a sua estrutura cristalina. Não
adianta tentar obtê-la apenas moendo o quartzo, pois desta forma não se consegue destruir
a sua estrutura cristalina e o produto resultante não é reativo (ele não é amorfo).

A finura real de um material em forma de pó (superfície específica blaine), para o cimento


Portland brasileiro varia entre 320 m2/kg e 500 m2/kg, enquanto para a sílica ativa é da
ordem de 20.000 m2/kg.

A sílica ativa pode ser fornecida na formas densificada, não densificada e de lama
(misturada com água). O processo de densificação consiste na aglomeração e formação de
pequenos nódulos de sílica ativa. A massa unitária da não densificada está compreendida
entre 300 kg/m3 e 400 kg/m3, enquanto para a densificada é de 600 kg/m3. Para o concreto
projetado só se utiliza a não densificada.

A sílica ativa modifica as propriedades do concreto projetado, devido aos efeitos de


microfiller e pozolânico, sendo estes:

Concreto Projetado para Túneis 33


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EFEITO DE MICROFILLER ⇒ efeito de redução no diâmetro dos poros do concreto


(reduzindo sua permeabilidade), devido à elevada finura da sílica ativa.

EFEITO POZOLÂNICO ⇒ reação entre a sílica ativa e a cal hidratada do cimento (Ca
(OH)2), formando C-S-H (silicato de cálcio hidratado). O C-S-H é o composto responsável
pela resistência do cimento e de sua aderência aos agregados. Desta forma a sílica ativa
aumenta a resistência do concreto, devido a uma melhora na ligação pasta/agregado e no
aumento da resistência da pasta de cimento. Há um aumento na durabilidade do concreto,
pois o teor de Ca (OH)2 é menor e o tamanho dos poros é reduzido.

Para uma mesma relação água / (cimento + sílica ativa) pode haver uma queda de
resistência, caso ocorra segregação de material. Esta segregação é devida a um excesso de
aditivo superplastificante.

4.1.1 OBJETIVOS DO USO DA SÍLICA ATIVA

Os principais objetivos do uso de sílica ativa no concreto projetado são:


!"redução da reflexão;
!"aumento da espessura da camada projetada;
!"redução da permeabilidade;
!"aumento da resistividade elétrica volumétrica;
!"aumento da durabilidade em ambientes agressivos;
!"aumento da resistência inicial e final;
!"aumento da aderência a substratos úmidos.

A redução da reflexão e da retração é devido à elevada superfície específica da sílica ativa,


que aumenta a coesão da pasta de cimento, ficando incorporada maior quantidade de
agregados ao substrato.

A redução da permeabilidade é devido a uma redução dos diâmetros dos poros do concreto
projetado quando da adição de sílica ativa, isto é a formação de uma zona de transição
menos porosa. Verifica-se através do ensaio de penetração de água sob pressão uma

Concreto Projetado para Túneis 34


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dificuldade para passagem de líquido. Devido a isto, também, maior é a dificuldade de


penetração de agentes agressivos, como o cloreto.

A resistividade elétrica volumétrica é aumentada devido à maior dificuldade de passagem


de corrente elétrica na interface concreto/aço e através do próprio concreto.

Como o teor de Ca (OH)2 disponível é menor, há maior resistência química à ação das
águas sulfatadas (sulfatos).

A sílica ativa retém os álcalis do cimento, reduzindo os riscos de uma reação de agregados
reativos com o cimento (reação álcali-agregado).

O aumento na resistência inicial e final é muito mais significativo no concreto projetado


via úmida que no via seca. Conforme ensaios realizados, resistência à compressão axial na
projeção via seca há um aumento de até 10% e na via úmida o acréscimo pode ser de 50%.
Quando se adiciona sílica ativa, existe o aumento da aderência do concreto projetado em
substratos úmidos, devido à baixa exsudação do concreto projetado com sílica ativa.

O teor de sílica ativa recomendado está compreendido entre 5% e 10%, sendo o valor de
8% o mais usual. O uso de um aditivo superplastificante acelerador ou normal (nunca um
superplastificante retardador), sempre se faz necessário quando o processo de projeção é
por via úmida. O teor de aditivo acelerador pode ser reduzido de 0,5% a 1,0% em relação
ao concreto projetado sem sílica ativa.

A colocação da sílica ativa na betoneira pode ser feita junto com os outros materiais na
correia transportadora (coberta por uma lona), em forma de lama (na obra) ou misturada
com o cimento (que é a forma mais prática).

CONCRETO PROJETADO COM FIBRA

O concreto é um material que apresenta excelente resistência à compressão (fck) e baixa


resistência à tração (ftk = fck/10). O concreto se retrai (retração plástica, por secagem, etc.) e

Concreto Projetado para Túneis 35


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caso a tensão de tração (σt) for maior que ftk, ele fissura. Para aumentar o valor de ft
adicionam-se ao concreto compósitos como fibras de aço, telas ou fibras de base orgânica.
Os materiais compósitos vêm sendo utilizados na construção civil desde a antiguidade.
Mais recentemente surgiram novos possibilidades tecnológicas como os concretos
reforçados com fibras de aço. A adição de fibras de aço aos concretos minimiza o
comportamento frágil característico do concreto. Ele passa a ser um material pseudo-dúctil,
ou seja, continua apresentando uma resistência residual a esforços nele aplicados mesmo
após sua fissuração. A alteração do comportamento é função das características das fibras e
da matriz de concreto e da sua interação. Com isto o material passa a ter exigências
específicas para seu controle da qualidade, dosagem e mesmo aplicação, diferentes do
concreto convencional. Ao mesmo tempo, as possibilidades de aplicação do material são
ampliadas. Para algumas aplicações o concreto projetado com fibras apresenta vantagens
tecnológicas e econômicas em relação ao convencional, como é o caso do revestimento de
túneis, dos pavimentos e dos pré-moldados.

Vale salientar que deve haver uma grande compatibilidade entre a fibra e a matriz,
podendo se esperar uma durabilidade satisfatória do conjunto. Isto não acontece com a
utilização de fibras de vidro em matrizes cimentícias. Neste caso ocorre a natural
deterioração da fibra por parte dos álcalis do cimento, o que demanda a utilização de uma
fibra especial, resistente a álcalis.

Além das fibras de aço também são aplicadas as de base orgânica que podem ser sintéticas
ou de origem vegetal, como a palha, fibras de cisal, as casca de coco e as de celulose. Elas
são empregadas na produção de componentes como tijolos, telhas e cochos. Estas fibras
apresentam o problema de garantia de durabilidade satisfatória quando aplicadas em meios
alcalinos, como é o caso das matrizes de base de cimenticia. No entanto, podem
representar uma alternativa muito interessante para a construção no meio rural ou até de
habitações populares onde as exigências de desempenho não são muito elevadas.

Um compósito que tem tido um aumento no volume de aplicação, inclusive no Brasil, são
as argamassas e concretos reforçados com fibras sintéticas (polipropileno e nylon). No
Brasil, existem representantes comerciais e fabricantes destas fibras. Um ganho apreciável
de desempenho quanto ao controle de fissuração por retração plástica foi observado para

Concreto Projetado para Túneis 36


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argamassas de reparo (Figueiredo, 1998), onde o baixo módulo de elasticidade das fibras é
suficiente para inibir a propagação das fissuras. Quando o módulo de elasticidade da matriz
é maior as fibras de polipropileno tendem a apresentar uma limitada capacidade de reforço.
Isto se deve ao fato dos cimentos atuais, em conjunto com os aditivos aceleradores de pega
e redutores de água, propiciarem um elevado ganho de resistência inicial e do módulo de
elasticidade. Com isto, as fibras de baixo módulo só têm possibilidade de atuar como
reforço num curto espaço de tempo após o lançamento, onde a cura bem feita já garante os
bons resultados. Resumidamente, os tipos de fibra existentes podem ser compostos de:
!"aço;
!"vidro;
!"ferro fundido (Fe, Cr, C, Si);
!"plástico (polipropileno e nylon);
!"carbono.

Suas principais características são:


!"fibras de vidro podem ser destruídas pela elevada alcalinidade da pasta de cimento do
concreto, além de uma possível reação entre os álcalis do cimento e a sílica da fibra;
!"fibras de plástico dão bons resultados no combate a retração plástica, mas não
aumentam a tenacidade do concreto devido ao seu baixo módulo de deformação estático;
!"fibras de carbono dão bons resultados, porém não são usadas devido ao seu custo;
!"fibras de aço são as mais utilizadas.
Existem diversos fabricantes e com diferente geometria. A qualidade da fibra é maior
quanto maior forem os parâmetros, a seguir :
!"resistência ao escoamento;
!"fator de forma r (relação entre o comprimento L e o diâmetro equivalente ∅e.):
$" fibra de seção circular ⇒ o diâmetro do círculo é o ∅e;

$" fibras de seção quadrada ou retangular ⇒ ∅e = 1,1284 × b.h ( b= largura e h= altura);


!"capacidade de ancoragem.

A função do reforço com fibra de aço é oferecer ao concreto projetado maior ductilidade e
menor possibilidade de ruptura frágil. A distribuição não uniforme das deformações de
grande magnitude, pode sobrecarregar e levar a ruptura o sistema de suporte, a menos que

Concreto Projetado para Túneis 37


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28
d = 0.5

0.45
25
0.53

0.50
32.5
1.35

0.50
32.5
2.75

0.25
25.5
1.12

L = comprimento (Seção Transversal)

o sistema tenha suficiente ductilidade para acomodar às deformações e redistribuir o


carregamento uniformemente. A Figura 10 mostra alguns tipos de fibras de aço.

Figura 10 – Tipos de fibras de aço (modificado – Figueiredo, 2000).

4.1.2 INTERAÇÃO FIBRA-MATRIZ

As fibras de aço, quando adicionadas ao concreto, dificultam a propagação das fissuras


devido o seu elevado módulo de elasticidade. Pela capacidade portante pós-fissuração que
o compósito apresenta, as fibras permitem uma redistribuição de esforços no material
mesmo quando utilizada em baixos teores. Isto é particularmente interessante em estruturas
contínuas como os pavimentos e os revestimentos de túneis (Figueiredo, 2000). Para
visualizar este comportamento deve-se lembrar que o concreto, por ser um material frágil,
é susceptível a concentração de tensões quando do surgimento e propagação de uma fissura
a partir do aumento da tensão a ele imposta.

No caso do concreto simples quando existe uma fissura, ela representa uma barreira à
propagação de tensões, diagramadas pelas linhas de tensão, conforme o apresentado na
Figura 11. Este “desvio” irá implicar numa concentração de tensões na extremidade da
fissura e, no caso desta tensão superar a resistência da matriz, teremos a ruptura abrupta do
material. Caso o esforço seja cíclico, pode ocorrer uma ruptura por fadiga, ou seja, para
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cada ciclo há uma pequena propagação das microfissuras e um aumento progressivo na


concentração de tensões em sua extremidade até o momento da ruptura do material. Assim,
a partir do momento em que se abre a fissura no concreto, ele rompe abruptamente,
caracterizando um comportamento frágil. Ou seja, não existe nenhuma capacidade
resistente do concreto fissurado.

Quando se adicionam fibras ao concreto, estas atuam como ponte de transferência de


tensões pelas fissuras, minimizando a concentração de tensões nas extremidades das
mesmas, conforme o ilustrado na Figura 12. Ocorre uma redução da propagação das
fissuras passando o concreto a ter um comportamento pseudo-dúctil, ou seja, apresenta
uma certa capacidade portante pós-fissuração. Deve-se ressaltar que o nível de tensão que a
fibra consegue transferir pelas fissuras depende de uma série de aspectos como o seu
comprimento e o volume de fibras.

Figura 11 – Esquema de tensões no concreto sem fibras (modificado – Figueiredo, 2000).

Concreto Projetado para Túneis 39


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Figura 12 – Esquema de tensões no concreto com fibras (modificado – Figueiredo, 2000).

4.1.3 VOLUME CRÍTICO DE FIBRA

O volume crítico corresponde ao teor de fibras que mantém a mesma capacidade portante
para o compósito, a partir da ruptura da matriz. Isto significa que abaixo do volume crítico,
no momento em que haja a ruptura da matriz, ocorre necessariamente uma queda na carga
que o material tem capacidade de suportar. Acima do volume crítico, o compósito continua
aceitando níveis de carregamentos crescentes mesmo após a ruptura da matriz. Este
conceito se encontra ilustrado na Figura 13 onde são apresentadas curvas de carga por
deslocamento em corpos de prova prismáticos de concretos com fibras rompidos à flexão.
Existe um trecho elástico linear inicial, correspondente ao estágio pré-fissurado da matriz
do compósito e outro, similar a um patamar de escoamento, onde se pode diferenciar o
comportamento do concreto reforçado com teores abaixo, acima e igual ao volume crítico.

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A determinação do volume crítico (Vfcrit) é baseada na modelagem proposta por Aveston,


Cupper e Kelly (1971), citada em Figueiredo (2000), que focaliza um compósito ideal, com
fibras contínuas e alinhadas à direção do esforço principal. Segundo Figueiredo (2000), o
Vfcrit tem um teor de cerca de 0,4% em volume para a fibra de aço e em torno de 0,8% para
a fibra de polipropileno, o que não é verificado nas condições práticas. Esse modelo não
representa com precisão a realidade porque as fibras são descontinuas e distribuídas
randomicamente.

Figura 13 – Curva de carga versus deslocamento (modificado – Figueiredo, 2000).

Para corrigir estes desvios são normalmente utilizados os chamados fatores de eficiência,
que permitem uma maior aproximação do Vfcrit teórico e aquele obtido experimentalmente.
Os fatores de eficiência considerados são basicamente dois: o η1 e o η2. O valor de η1
está associado ao efeito da orientação da fibra e o η2 ao comprimento da fibra.

Corrigindo o valor de Vfcrit de 0,4% para compósitos de matriz de concreto reforçado com
fibras de aço orientadas em duas direções, que é o normalmente esperado para o concreto
projetado, tem-se o valor sendo:
Vfcrit corrigido = Vfcrit/η1 = 0,3 1/0,375 = 0,83 %

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4.1.4 COMPRIMENTO CRÍTICO DA FIBRA

O comprimento crítico de uma fibra é definido como aquele que permite a fibra
desenvolver uma tensão no seu centro igual à sua tensão de ruptura do sistema. Este
modelo baseia-se no conceito de que a transferência de tensão entre a matriz e a fibra
aumenta linearmente dos extremos para o centro da fibra. Então, a tensão máxima ocorre
quando a tensão a que está submetida à fibra se iguala à tensão de cisalhamento entre a
fibra e a matriz. O fator de eficiência η2 está associado à redução de desempenho
provocada pelo fato de se utilizar fibras descontínuas de comprimento reduzido. Este fator
é determinado através do estabelecimento do comprimento crítico (Lc). Na Figura 14 são
apresentadas as situações possíveis de distribuição de tensão na fibra em relação ao
comprimento crítico (Lc), sendo L o comprimento da fibra. Desta forma, estabelece-se:

a) Se L= Lc ⇒ a fibra terá na região média do seu comprimento uma tensão igual à sua
tensão de ruptura;

b) Se L< Lc ⇒ a carga de arrancamento advinda do comprimento embutido na matriz não


é suficiente para produzir uma tensão que supere a resistência da fibra. Com o aumento da
deformação e da abertura da fissura, a fibra que está atuando como ponte de transferência
de tensões pela fissura e será arrancada do lado que possuir menor comprimento embutido.
Este é o caso encontrado em fibras de aço no concreto de baixa e moderada resistência;

c) Se L> Lc ⇒ Quando se tem um concreto de elevada resistência mecânica, melhora-se a


condição de aderência entre a fibra e a matriz e, nestes casos, é possível ultrapassar o valor
do comprimento crítico causando rupturas de algumas fibras.

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Figura 14 – Distribuições possíveis de tensão ao longo e uma fibra em função do


comprimento crítico (modificado – Figueiredo, 2000).

Aplicando-se os fatores de correção do volume crítico os teores de fibras necessários para a


manutenção da capacidade portante do concreto reforçado com fibras de aço subirão para
algo em torno de 1%, o que é mais que o dobro do previsto pelo modelo de Aveston,
Cupper e Kelly (1971). No caso das fibras de polipropileno o volume crítico será ainda
maior, pois seu módulo de elasticidade e resistência última é bem menor que do aço. Com
isto, tem-se como premissa que na maior parte dos casos trabalhar-se-á com volumes de
fibra abaixo do volume crítico para o reforço do concreto. Desta forma, a principal
contribuição destas fibras se dará no comportamento pós-fissuração da matriz, pois serão
responsáveis pela redução da propagação das fissuras .

Concreto Projetado para Túneis 43


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4.1.5 CONSIDERAÇÕES PRÁTICAS

Pode-se concluir, pelas análises acima que quanto mais direcionadas as fibras estiverem
em relação ao sentido da tensão principal de tração, melhor será o desempenho do
compósito. Como consequência prática, recomenda-se a utilização de fibras, cujo
comprimento seja igual ou superior ao dobro da dimensão máxima característica do
agregado utilizado no concreto. Em outras palavras, deve haver uma compatibilidade
dimensional entre agregados e fibras de modo que estas interceptem com maior frequência
a fissura que ocorre no compósito. Esta compatibilidade dimensional possibilita a atuação
da fibra como reforço do concreto e não como reforço da argamassa do concreto. Isto é
importante pelo fato da fratura se propagar preferencialmente na região de interface entre o
agregado graúdo e a pasta para concretos de baixa e moderada resistência mecânica.
Assim, a fibra que deve atuar como ponte de transferência de tensões nas fissuras deve ter
um comprimento tal que facilite o seu correto posicionamento em relação à fissura, ou seja,
superior a duas vezes a dimensão máxima do agregado. Na Figura 15 representa-se um
concreto com compatibilidade dimensional entre agregado e fibra e na Figura 16 outro
onde isso não ocorre. Percebe-se que, quando não há esta compatibilidade, poucas fibras
trabalham como ponte de transferência de tensões na fissura. Duas alternativas são
empregadas de maneira a otimizar a mistura de concreto com fibras: ou se reduz a
dimensão máxima característica do agregado, ou se aumenta o comprimento da fibra.

Figura 15 – Concreto com compatibilidade dimensional entre a fibra e o agregado graúdo


(modificado – Figueiredo, 2000).

Concreto Projetado para Túneis 44


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Figura 16 – Concreto sem a compatibilidade dimensional entre a fibra e o agregado graúdo


(modificado – Figueiredo, 2000).

4.1.6 CONTROLE DO CONCRETO COM FIBRAS

4.3.5.1. TENACIDADE

Para os compósitos, a definição mais aceita define a tenacidade como sendo a área sob a
curva carga por deslocamento (Figueiredo, 2000). Ou seja, o trabalho dissipado no material
ou a energia absorvida pelo material, em Joules, até um certo nível de deslocamento. Tal
valor é o utilizado na avaliação dos compósitos e possui a desvantagem básica de depender
das dimensões do corpo-de-prova, bem como do sistema de aplicação dos esforços.

Um dos métodos mais usados para o concreto é o ASTM C1018 (1994) proposto pela
American Society for Testing and Materiais (ASTM), normalmente aplicado em conjunto
com o método ASTM C78 (1984) para determinação da resistência à tração na flexão do
concreto. Este ensaio é muito similar, com relação à metodologia, ao ensaio prescrito pela
Japan Society of Civil Engineers (JSCE-SF4, 1984), alterando-se os critérios de medida do
trabalho pósfissuração do concreto. Ambos são realizados ensaios em corpos-de-prova
prismáticos carregados segundo quatro cutelos. Além destes métodos existem os propostos
pela EFNARC (European Federation of Producers and Applicators of Specialist Products
for Structures) (EFNARC, 1996) que são dois: um de punção de placas e outro de tração
na flexão com corpo-de-prova prismáticos. Todos estes métodos forma citados em
Figueiredo (2000). Os objetivos do ensaio de tenacidade são:

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!"controle da qualidade do concreto projetado com fibra;


!"diferenciar os tipos de fibra;
!"diferenciar os teores de fibra.

Ao se moldar placas, ou mesmo durante o acompanhamento tecnológico, deverá ser


determinado o teor de fibra incorporada (Ti) à estrutura. Este parâmetro é expresso por:

Pf .Mu
Ti = (kg/m3)
Pa
Onde:
Mu = a massa unitária do concreto fresco em kg/m3 (soma dos consumos de materiais/m3);
Pa = peso de uma amostra da estrutura (kg);
Pf = quantidade de fibra contida na amostra (kg).

AASTM-C1018 define os índices de tenacidade (I5, I10, I30), Figura 17, como sendo:
área OACD
a) I 5 = (I5 ≥ 3,5);
área OAB

área OAEF
b) I10 = (I10 ≥ 5,0);
área OAB

área OAGH
c) I 30 = (I30 ≥ 14,0);
área OAB

Figura 17 – Curva da carga x deslocamento (modificado – Silva, 1997).

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A função das fibras é aumentar a tenacidade, para resistir a cargas e deslocamentos


previstos ou não, dependendo dos seguintes fatores:

!"do fator de forma da fibra (r =L/φ);


!"da quantidade de fibra (kg) por m3 (volume);
!"do tipo de fibra.

Quanto maior o valor de r, maior será a tenacidade do concreto. Entretanto, o valor de L


deverá ser menor ou igual a 60% do diâmetro do mangote. Quanto maior a quantidade de
fibra/m3 (volume), maior será a tenacidade do concreto. Entretanto, um excesso de fibra
pode tornar difíceis os processos de mistura, transporte e projeção. O volume de fibra
recomendado está compreendido entre 30 kg/m3 e 65 kg/m3. O valor mais usual é da ordem
de 40 kg/m3. O empelotamento de fibras pode ser devido à alta relação L / Ø ou elevado
consumo de fibra. A mistura inadequada sempre causa o empelotamento de fibras.

4.3.5.2. TRABALHABILIDADE E MISTURA

Apesar do melhor desempenho conferido pelas fibras no que se refere à contenção da das
fissuras, quando o concreto se encontra no estado endurecido, a adição de fibras altera a as
condições de consistência do concreto e a sua trabalhabilidade. Isto ocorre porque ao se
adicionar à fibra ao concreto está se adicionando também uma grande área superficial que
demanda água de molhagem. Assim, tem-se uma menor quantidade de água disponível
para fluidificar a mistura.

Devido a isso, quanto menor for o diâmetro da fibra, maior será a influência da mesma na
perda de fluidez da mistura. De maneira similar, fibras mais longas atuam na consistência
do concreto. Tais parâmetros podem ser representados em conjunto através do conceito do
fator de forma que consiste na relação entre o comprimento da fibra e o diâmetro da
circunferência com área equivalente à sua seção transversal. Assim, quanto maior for o
fator de forma maior será o impacto na trabalhabilidade do concreto. Por estas razões,
aponta-se a adição da fibra como um elemento redutor da trabalhabilidade dos concretos,
podendo ocasionar prejuízos à sua compactação e à sua durabilidade e desempenho
mecânico incluindo aí a própria tenacidade.

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Vale salientar que as informações dadas acima precisam ser analisadas a luz dos pelos
métodos de medida indireta da trabalhabilidade. O American Concrete Institute (ACI)
recomenda três diferentes métodos para a avaliação.

O primeiro e o mais simples é o abatimento do tronco de cone, o qual pode não apresentar
capacidade de medida da consistência do concreto quando o teor de fibras é elevado. O
segundo método é o que mede a fluidez do concreto com fibras submetido à vibração e
forçado a descer por um cone de abatimento invertido (ASTM C995-94), como mostra a
Figura 18. Há, ainda, a utilização do VeBe (ACI 211.3), Figura 19, para a determinação
dos parâmetros de trabalhabilidade do concreto com fibras.

Num estudo realizado por CECCATO (1998), citado em Figueiredo (2000), demonstrou-se
que o ensaio com o cone invertido não é adequado para a avaliação da trabalhabilidade de
concretos reforçados com quaisquer teores de fibra. Isto aconteceu por duas razões:

a) se o concreto é muito plástico acaba passando pela extremidade inferior aberta do cone
invalidando o ensaio;
b) se o concreto é muito coeso acaba por entupir a mesma extremidade inferior de modo a
impossibilitar a obtenção de qualquer resultado do ensaio.

Estudos realizados na EPUSP comprovaram que as adições de baixos teores de fibras


alteram as condições de trabalhabilidade, sem reduzir a compactação do material (Ceccato,
Nunes (citados em Figueiredo, 2000) e Figueiredo, 1997). Ceccato (1998) demonstrou que,
para teores de fibra inferiores a 60 kg/m3, o ensaio do abatimento do tronco de cone se
mostrou adequado para a medida da consistência de concretos com fibras. O mesmo
pesquisador comprovou experimentalmente a influência do teor da fibra e do fator de
forma na trabalhabilidade do material. Na Figura 20 se encontra apresentado o gráfico
obtido no ensaio VeBe de concretos reforçados com fibras de diferentes fatores de forma e
em vários teores. Nota-se claramente que à medida que se aumenta o teor de fibras,
aumenta-se o tempo de compactação dado pelo VeBe, devido à maior coesão do material.
Este aumento é mais intenso quanto maior for o fator de forma da fibra utilizada.

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Figura 18 – Equipamento para o ensaio do cone invertido (modificado – Figueiredo, 2000).

Figura 19 – Equipamento para o ensaio do VeBe (modificado – Figueiredo, 2000).

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Figura 20 – Influência do fator de forma das fibras (modificado – Figueiredo, 2000).

Outro problema associado à aplicação dos concretos com fibras é o aparecimento dos
chamados ouriços. Estes são bolas formadas por fibras aglomeradas como a apresentada na
Figura 21. Neste caso serão produzidos uma redução do teor de fibra homogeneamente
distribuída e um ponto fraco (poroso), no local onde o mesmo se alojar. No caso do
concreto projetado estes ouriços produzem entupimentos de mangote, com sérios riscos à
operação do processo.

A formação dos ouriços é associada à mistura inadequada do material. As fibras de maior


fator de forma produzem um maior risco de embolamentos. Quando a fibra é adicionada à
betoneira de maneira descuidada, virando-se o saco ou caixa de fibras de uma só vez, o
risco é muitas vezes maior. Assim, recomenda-se lançar a fibra em taxas controladas junto
com os agregados, homogeneizando a mistura antes do lançamento do cimento.

Figura 21 – Ouriço formado por fibras de aço (modificado – Figueiredo, 2000).

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4.3.5.3. RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO

Vários estudos já foram feitos para avaliar se a adição de fibras ao concreto altera a
resistência à compressão do mesmo e não há um consenso entre os resultados. Alguns
trabalhos apontam uma redução nos valores obtidos para a resistência à compressão como
uma conseqüência da má compactação obtida com o material. Porém, como as fibras
atuam como ponte de transferência de tensões pelas fissuras, sejam elas produzidas por
esforços de tração ou cisalhamento como ocorre no ensaio de compressão, o concreto
também apresentará um ganho quanto à tenacidade, isto é, haverá um maior consumo
energético após a fissuração do material.

Da mesma forma que a tenacidade medida no ensaio de tração na flexão, a tenacidade


medida na compressão e o controle da fissuração apresentarão um ganho quando da
utilização de um teor maior de fibras, ou mesmo fibras com maior fator de forma. Em seu
estudo experimental ZANGELMJ Jr. (1999), citado por Figueiredo (2000), não encontrou
variações significativas nas características elásticas e mesmo os valores de resistência do
concreto quando do aumento do teor de fibras.

O gasto energético pós-fissuração por compressão apresenta diferenças em função de um


direcionamento preferencial da fibra. No concreto projetado, existe uma clara tendência ao
direcionamento preferencial da fibra, segundo o plano de projeção. Tal efeito induz a uma
anisotropia para o material no que se refere ao consumo energético. pós-fissuração. Assim,
se o concreto for comprimido no sentido perpendicular ao plano de projeção apresentará
um maior gasto energético pós-fissuração do que o concreto comprimido no sentido
paralelo ao plano de projeção.

4.3.5.4. FADIGA

A fadiga é a ruptura de um material devido a um carregamento cíclico, em um nível de


tensão inferior ao determinado durante o ensaio estático. Este efeito ocorre devido à
propagação das microfissuras existentes no concreto. A cada ciclo as fissuras tendem a se
propagar diminuindo a área útil para transferência de tensão. Quanto mais próxima à carga
estiver da correspondente à resistência do material, menor será o número de ciclos
necessários para se atingir a ruptura do concreto.

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As fibras atuam como ponte de transferência de tensão pelas fissuras e reduzem a


propagação das mesmas. O trabalho da estrutura de concreto ocorre com um maior número
de ciclos ou mesmo com um maior nível de tensão para a mesma vida útil.

Deve-se ressaltar, então, que o concreto com fibras de aço, mesmo fissurado, continua
suportando esforços, devido o seu comportamento pseudo-dúctil. Mesmo pequenas
quantidades de fibras representam um ganho com relação à fadiga. Tal característica é
vantajosa em estruturas sujeitas a esforços cíclicos como caso dos pavimentos rígidos.

4.3.5.5. DURABILIDADE

Não existem provas técnicas de que à durabilidade do concreto aumente devido ao reforço
com fibras de aço. Isto se deve ao fato de se observar fibras oxidadas na superfície de
pavimentos e túneis, ou mesmo daquelas que se perdem durante a reflexão do concreto
projetado. No entanto, é conveniente citar que as fibras de aço não recebem nenhum
tratamento para evitar a corrosão, logo sua durabilidade é condicionada ao confinamento
no meio fortemente alcalino (pH em torno de 12,5) do concreto onde é apassivada.
Estudos reportados por Figueiredo (2000) envolvendo ensaios de durabilidade, mostraram
que as fibras no concreto apresentaram mínimos sinais de corrosão e nenhum efeito
deletério nas propriedades do concreto após sete anos de exposição a ataque de sais de
descongelamento. Assim, a corrosão das fibras na superfície do concreto está associada à
carbonatação do concreto que se inicia justamente nesta região mais próxima da atmosfera
e força a redução do pH. Quando o mesmo atinge o valor de 9 o aço é despassivado e
principia-se a corrosão. No entanto, isto vem a indicar a necessidade de previsão de um
recobrimento, que pode ser até uma camada de sacrifício que garantirá uma seção mínima
de trabalho para a estrutura durante a sua vida útil.

Deve-se ressaltar o fato de que as fibras restringem a propagação das fissuras no concreto.
Como consequência direta, tem-se um aumento da resistência à entrada de agentes
agressivos com o aumento da durabilidade da estrutura. Assim, espera-se que a estrutura
apresente um desempenho superior com relação à durabilidade com a utilização de fibras.
Helene (1986) aponta que a corrosão localizada, apesar de intensa e perigosa, é originada
quando os ânodos são de dimensões reduzidas e estáveis, sendo, portanto rara no concreto

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armado. Tanto maior será a dificuldade de se encontrar uma diferença de potencial numa
armadura quanto menor forem suas dimensões.

4.3.5.6. RESISTÊNCIA AO IMPACTO

O ACI (1988), citado em Figueiredo (2000), baseado numa série de pesquisas, relata que a
resistência aos esforços dinâmicos é de 3 a 10 vezes maior no concreto reforçado com
fibras (esforços como cargas explosivas, queda de massas e cargas dinâmicas de
compressão, flexão e tração). Isto advém do fato de ser grande a quantidade de energia
dissipada no concreto com fibras, gerada no esforço de se arrancar à fibra da matriz para a
ruptura do material.

Existem várias formas diferentes de ensaios para medir a resistência aos esforços
dinâmicos. O mais simples destes métodos é o preconizado pelo ACI (1989), citado em
Figueiredo (2000). Ele consiste na queda de uma massa sobre uma esfera de aço apoiada
sobre um determinado ponto fixo do corpo de prova. O ensaio possui um carácter
qualitativo, servindo para avaliar o ganho de desempenho quando da adição de fibras de
aço. Existem limitações neste ensaio, incluindo sua grande variabilidade. Um outro ensaio
é a instrumentação da fissura que permite medidas de tenacidade, a dissipação de energia, a
resistência última e as deformações para diferentes taxas de carregamento ou deformação.

4.3.5.7. OUTRAS PROPRIEDADES E CARACTERÍSTICAS

A retração e a fluência são pouco afetadas pela adição de fibras. Como estes fenômenos
estão associados ao movimento de fluidos dentro do concreto, a fibra representa pouca ou
nenhuma restrição quando o concreto permanece não fissurado. No entanto, quando a
retração é restringida, as fibras podem proporcionar um beneficio no que se refere ao
controle da fissuração.

A erosão devido ao desgaste no atrito de pequenas partículas ou pelo trânsito de pessoas ou


veículos que não estão associados a esforços de impacto, pode ser até maior no concreto
reforçado com fibras. Isto ocorre pelo fato de se reduzir à quantidade total de agregado
graúdo no concreto reforçado com fibras, que são os responsáveis com relação ao
desempenho do concreto à abrasão.

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A reflexão do concreto projetado com fibras pelo processo via seca é bem maior que pelo
processo via úmida. A reflexão de fibras é maior que a reflexão de concreto. A reflexão das
fibras depende de alguns itens, como:
!"do comprimento da fibra;
!"da espessura da camada de projetado;
!"da reflexão total;
!"da consistência do concreto;
!"do ângulo e distância de aplicação.

4.1.7 APLICAÇÕES

4.3.6.1. CONCRETO PARA PAVIMENTOS

Segundo Figueiredo (2000), o Brasil já se superou a marca dos dois milhões de metros
quadrados de pavimentos industriais executados com fibras de aço. Isto ocorre apesar de
alguns aspectos de sua tecnologia ainda carecem de desenvolvimento e popularização. Tal
popularização só ocorrerá quando se possuir uma normalização sobre o assunto
proporcionando uma maior confiabilidade. Porém, algumas vantagens tecnológicas são
inquestionáveis se comparadas ao uso das telas de aço soldadas:
!"inexistência da etapa de colocação das telas metálicas, reduzindo o tempo total o
número de operários necessários para a execução do pavimento.
!"redução de espaço na obra, uma vez que não é necessário estocar a armadura.
!"inexistência de espaçadores como nas telas metálicas;
!"reforço de toda a espessura de concreto do pavimento (deve-se usar concreto com
consistência adequada e sem excesso de vibração);
!"as fibras também permitem o corte das juntas de dilatação sem a necessidade de barras
de transferência pré-instaladas. Além disso, as fibras reforçam as bordas das juntas
minimizando o efeito de lascamento nessas regiões;
!"existe uma maior facilidade de acesso ao local da concretagem, podendo-se atingir o
local de lançamento do concreto com o caminhão betoneira, o que é impossível quando da
utilização de telas metálicas que impedem o livre trânsito de pessoas e equipamentos após
a sua instalação;
!"não representam restrição quanto à mecanização da execução do pavimento.

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Esta tecnologia apresenta, também, certas limitações e desvantagens. Quando a fibra


minimiza a fissuração, ela aumenta o risco de empenamento do pavimento por retração
diferencial. Nestes casos, os cuidados relativos à cura são fundamentais. Mesmo após a
realização acabamento superficial, algumas fibras ficam na superfície da placa. Estas fibras
estarão susceptíveis à corrosão, que irá provocar o aparecimento de pontos de ferrugem
prejudicando o aspecto estético.

4.3.6.2. CONCRETO PROJETADO PARA TÚNEIS

O concreto projetado reforçado com fibras de aço é um dos recentes desenvolvimentos


alcançados para a execução do revestimento de túneis. Ele apresenta uma série de
vantagens quando comparado ao reforço da tela metálica. Algumas das vantagens
específicas do uso de fibras aço no concreto projetado destinado à execução do
revestimento de túneis estão listadas a seguir:
!"concreto projetado reforçado com fibras de aço pode ser aplicado imediatamente após a
escavação, diminuindo o risco de acidentes por desprendimento de parte do maciço;
!"a velocidade de execução do túnel é aumentada pela eliminação da fase de instalação
da cambota e tela metálica. No sistema tradicional, o ciclo completo de escavação de um
túnel de 50 m2 de área de seção transversal demanda mais de quatro horas. Com a
utilização de fibras isto pode ser reduzido a cerca de três horas. Deve-se salientar que este
procedimento irá acarretar uma maior exigência quanto à resistência inicial e maiores
riscos de ruptura do revestimento;
!"a execução de um revestimento de concreto projetado sem o uso de cambotas irá
produzir uma estrutura mais homogênea e reduzir a permeabilidade do material, bem como
a ocorrência de vazamentos localizados;
!"a utilização das fibras reduz a fissuração do revestimento primário (que sofre grandes
deformações iniciais devido ao maciço recém escavado) de concreto projetado;
!"a durabilidade do revestimento aumenta devido à redução da fissuração, que é o
caminho preferencial de entrada de agentes agressivos no túnel;
!"uma menor reflexão se deve a eliminação da tela e das irregularidades das cambotas.
!"a eliminação da cambota implica em uma redução do consumo de aço e dos riscos de
acidentes associados à sua locação.

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4.3.6.3. OUTRAS APLICAÇÕES

Em concretos de alta resistência, onde se produz planos de ruptura extremamente regulares


por não contornarem os agregados, tem-se uma menor área de superfície de fratura e um
material mais frágil.

Em obras em que a estrutura está muito sujeita a esforços dinâmicos, como é o caso das
estruturas construídas em regiões com abalos sísmicos ou mesmo sujeitas à fadiga por
esforço cíclico é viável a utilização de concretos reforçados com fibras para se minimizar o
dano causado por estes esforços e minimizar a fissuração da estrutura. Isto garante uma
maior vida útil para o material da estrutura.

As construções militares são obras onde a resistência ao impacto é importante. Nelas existe
o risco de impactos provocados pelos mais variados projéteis. Há um enorme potencial do
concreto reforçado com fibras para este tipo de construção, pois o mesmo tem todas as
condições para proporcionar um desempenho superior ao do concreto armado.

A indústria de pré-moldados é outro campo de aplicação dos concretos com fibras devido à
maior velocidade de produção que seu uso proporciona. Isto advém do fato de eliminar a
fase de instalação da armadura nas formas previamente ao lançamento do concreto.

5. CONTROLE DO CONCRETO PROJETADO

Um dos principais parâmetros da qualidade de um concreto é a resistência à compressão


em corpos-de-prova prismáticos, cúbicos ou cilíndricos de um traço de dosagem padrão.
Diversos métodos têm sido propostos para a previsão da resistência à compressão do
cimento ou do concreto, antes de decorrido o tempo necessário para atingir-se a chamada
idade de controle (geralmente 28 dias). Eles fornecem a resistência prevista em função de
um conjunto de características do cimento ou do concreto em questão, classificando-se em:

a) Métodos baseados em resistência obtida sob cura ou hidratação acelerada: acelerar-se as


reações de hidratação, geralmente através do aquecimento controlado dos corpos-de-prova;
inferem-se previamente relações entre os resultados dos ensaios sob cura acelerada e os
sob cura normal, que são empregadas na previsão das resistências em condições similares

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às do estudo; subdividem-se em métodos de aquecimento imposto ao meio, métodos de


aquecimento autógeno (utilizando o próprio calor de hidratação do cimento), e de
aquecimento sob alta pressão; mais recentemente tem-se também acelerado as reações
quimicamente, misturando quantidade padrão de aditivo acelerador à mistura fresca.

b) Métodos baseados numa resistência sob cura normal à baixa idade: usa-se correlações
entre os resultados obtidos a uma baixa idade, sob cura normal, com resultados em corpos-
de-prova irmãos, à idade de interesse.

c) Métodos de correlação com outras características do cimento ou do concreto: são os


métodos que utilizam correlações previamente estabelecidas entre a resistência à
compressão e a composição química e a finura do cimento, a porosidade inferida pelo
conteúdo de ar e relação água/cimento da mistura fresca, o calor de hidratação e a
velocidade de propagação de ondas ultra-sônicas a baixas idades.

O Controle Tecnológico do Concreto consiste em verificar se os resultados obtidos


atendem ou não aos requisitos exigidos em projeto. Ele compreende o controle de
produção (durante a execução da obra) e de aceitação (atividades na fase final da obra).

O Controle de Produção compreende as seguintes atividades:


• análise dos materiais constituintes;
• estudos de dosagens;
• acompanhamentos de concretagem;
• ensaios de resistência à compressão axial do concreto projetado, tenacidade (no caso de
concretos com fibras) e “parâmetros de durabilidade”;
• análise dos dados de ensaio e emissão de relatórios técnicos conclusivos.

O Controle de Aceitação compreende as seguintes atividades:


• determinação da espessura do revestimento de concreto projetado, através de furos
executados neste concreto;
• inspecção visual, para verificar a existência ou não de fissuras e/ou carbonato de cálcio
(manchas brancas - lixiviação da cal do cimento);

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• verificação da presença ou não de infiltrações de água, as quais possam prejudicar o


desempenho do concreto;
• extrações de corpos-de-prova, para determinação do fck e “parâmetros de durabilidade”
• análise dos dados de ensaio e emissão de relatórios técnicos conclusivos.

Silva (1997), sugere um critério para aceitação e rejeição da estrutura, onde a avaliação do
concreto projetado na superfície de aplicação será realizada mediante inspeção visual e
extração de corpos de prova da estrutura. O método é exposto a seguir:

1ª) Aceitação Automática


A estrutura será aceita se as condições de projeto (fck, fator de tenacidade, absorção de
água por imersão, capilaridade etc.) e de execução (fissuras com abertura inferior a 0,1
mm, inexistência de vazamentos, laminações, oclusão, sombra, etc.) forem satisfeitas.

2ª) Rejeição Parcial


a) Caso o fck est. for menor que o fck de projeto, deve-se rever o cálculo estrutural,
adotando-se fck = fck est. Reforçar o concreto ou substituí-Io, caso seja verificada a
necessidade.
b) Áreas ou regiões da superfície de aplicação que contenham concreto laminado com
oclusão ou sombra deverão ser reparadas, removendo-se o concreto de má qualidade.
c) Fissuras com aberturas superiores às especificadas em projeto deverão ser tratadas.
d) As infiltrações, bem como a lixiviação, deverão ser estancadas.

6. QUALIDADE DO CONCRETO PROJETADO

Após examinar vários aspectos das propriedades do concreto projetado pode-se afirmar
que um produto de qualidade pode ser obtido a partir de materiais convencionais e uma
equipe habilitada. Um dos pontos críticos em todo o processo é a mão de obra, que pode
tornar um material de qualidade em um repleto de falhas executivas. Neste cenário o
controle do processo de projeção é um dos itens de especial atenção, onde são
imprescindíveis o conhecimento, a habilidade e a experiência da equipe executora. Para o
sucesso da aplicação do concreto projetado apresenta-se uma síntese dos cuidados que
devem ser observados no processo na Tabela 5.

Concreto Projetado para Túneis 58


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Tabela 5 – Síntese dos cuidados no processo de projeção (modificado Figueiredo, 1992).


ATIVIDADES COMENTÁRIOS
A mão-de-obra deve receber formação adequada ou Ter
experiência e habilidade comprovada por meio de teste.
Formação e qualificação da
Deve ser verificado se os operários respeitam as regras de
mão-de-obra
segurança e higiene no trabalho e, principalmente, se utiliza
equipamento de proteção individual.
Avaliação das condições de manutenção e ajuste dos
Verificação dos mesmos: Pressão e vazão de ar comprimido, alimentação
equipamentos - vazão e contínua e homogênea da mistura seca e aditivos,
pressão de ar e água umidificação na intensidade ótima e com pressão acima da
de ar comprimido.
O encarregado deve conhecer os valores especificados na
Dosagem
dosagem, suas tolerâncias e a freqüência de amostragem.
As propriedades definidas a dosagem devem ser verificadas
durante o recebimento das materiais. Os agregados devem
ser armazenados sem riscos de contaminações e grandes
Materiais variações no teor de umidade dos mesmos. Os aditivos
devem ser conservados em lugar fresco e seco, sem contato
com a luz solar. Antes da sua utilização, deve-se verificar a
ocorrência ou não de cristalização.
A superfície deve estar limpa, isenta de material refletido,
Preparo da superfície
poeira, graxas, óleos e materiais provenientes do solo.
Verificar, visualmente, as condições de homogeneização
através da variação da cor (o que não deve ocorrer).
Mistura seca
Verificar, por reconstituição de traço, se o concreto
misturado em central mantém o traço definido na dosagem.
Verificar os equipamentos:
Caso a máquina de projeção esteja com sua cuba cheia deve-
1) ar comprimido, 2) bomba
se inverter os itens 3 e 4, obviamente o item 5 só será
de água, 3) alimentadora,
efetuado no caso de aditivo líquido. No caso de aditivos em
4) máquina de projeção,
pó ele deve ocorrer concomitantemente com o item 3.
5) dosador de aditivos.
Avaliação visual, realizada pelo mangoteiro e encarregado.
A relação água cimento recomendada são: na parede de 0.4 a
Ajustes iniciais - vazão e
0.6, no teto: de 0.6 a 0.8, com aditivos à base de aluminato:
pressão de ar e água
acima de 0.8. A alteração do ajuste da água ocorrerá com
uma não conformidade nestes índices.
Dirigir o jato perpendicularmente ao plano de projeção, o
Direção do jato de concreto
que resulta em menor reflexão e maior compactação.
Movimento do bico de O bico deve receber movimentos circulares para
projeção homogeneizar o material projetado.
Deve permanecer no intervalo de 1 a 1.5 m, abaixo tem-se
Distância do bico à grande reflexão e dificuldade de visualização do trabalho e,
superfície de aplicação acima aumenta-se a reflexão e diminui-se a compactação do
concreto com risco de sombra.
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Tabela 5 – Síntese dos cuidados no processo de projeção (modificado Figueiredo, 1992).


ATIVIDADES COMENTÁRIOS
Manutenção de fluxo
Visa manter a umidade constante e evitar: poeira, maior
constante de mistura seca
reflexão, desplacamentos, escorrimentos, etc.
pelo mangote
Procedimento: interromper o processo de projeção e
Entupimentos: no mangote,
identificar o ponto de entupimento, iniciando a procura pelos
na linha d'água, na linha de
estrangulamentos. Caso o problema ocorra na linha de
aditivos.
aditivo líquido, deve-se remover todo o aditivo cristalizado.
Projeções em locais Iniciar da parte inferior da superfície para a superior e das
limitados por cantos bordas para o centro do espaço.
Interromper o processo (prevenir acidentes) e determina-se a
consistência, se baixa implica na avaliação do teor de
Desplacamento umidade e de aditivos e sendo normal ou alta, na verificação
de falhas na alimentação do aditivo, ocorrência de lentes de
areia e espessuras exageradas.
Eliminar as irregularidades internas do mangote, que
Ocorrência de solavancos
produzem acúmulos e desprendimento dos materiais.
Fim de operação:
Garantir que o mangote esteja limpo antes de se interromper
alimentadora, dosador de
o fluxo de ar. Em interrupção mais longa, desmontar e
aditivo, água e ar
limpar a máquina de projeção, utilizando vassoura e ar
comprimido, limpeza da
comprimido.
máquina de projeção.
Limpeza da máquina de
Toda a mistura seca deve ser removida.
projeção
O equipamento deve permanecer isento de sobras de aditivo.
Limpeza dos dosadores de
No caso de aditivos líquidos, deve-se bombear água limpa
aditivos
pelo sistema até se garantir que esteja isento de aditivo.
Limpeza do mangote Limpar cuidadosamente o bico de projeção e o dispositivo
quando utilizada a pré- pré-umidificador, desconectando o mangote, principalmente
umidificação concretos com micro-sílica e aditivos líquidos.
Defeitos localizados Corrigir falhas do mangoteiro, verificar se é qualificado.
Verificar se ocorrem variações de fluxo, escassez de água,
Laminação excesso de aditivo, erros no direcionamento do jato ou ainda
mistura seca não homogeneizada.
Falha superficial:
Dunas Corrigir direcionamento do jato
Manchas Verificar o teor de aditivo,
Rugosidade Verificar se não há umidificação em excesso.
Espessura da camada Verificar adequação dos gabaritos e espaçadores
Cura Verificar se a cura está sendo executada adequadamente
Verificar se há falhas na umidificação do material, como
Elevado coeficiente de
equipamento inadequado, intervenções constantes do
variação
mangoteiro, na alimentação e homogeneização do aditivo.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O concreto projetado pode ser controlado e dosado cientificamente, sem lançar mão de
traços empiricamente desenvolvidos. No entanto, muito ainda deve ser investido nesta
área. Com relação ao controle do concreto projetado sugere-se estudar métodos de
avaliação do material em laboratório, sem utilização do equipamento de projeção. Neste
caso, a avaliação dos aditivos aceleradores de pega e endurecimento é a mais promissora.

A dosagem do concreto em geral segue duas vertentes básicas: o atendimento aos


requisitos de desempenho quanto ao comportamento mecânico e quanto à durabilidade.
Existem estudos já executados abordando a via úmida deverão ser realizados outros
abordando a durabilidade do concreto projetado via seca. Devem ser ampliadas as análises
com novos materiais, incluindo aí os aditivos não alcalinos.

A utilização de aditivos não alcalinos vem sendo viabilizada na Europa e já chegaram ao


mercado brasileiro. Tais aditivos apresentam vantagens, como a ausência de cuidados
especiais durante a sua utilização, a melhoria das condições ambientais dentro do túnel e
não prejudicar a resistência do concreto a maiores idades. Estudos de compatibilidade
destes aditivos com o cimento são fundamentais para sua aplicação futura.

O desenvolvimento de fibras ou matrizes que possibilitem um nível de incorporação maior


durante o processo de projeção por via seca é um dos pontos importantes a serem
pesquisados no sentido de se viabilizar o sistema tanto a nível técnico como econômico. A
elevação do fator de forma forneceu um ganho de desempenho que merece estudos
específicos que abordem as condições de mistura e projetabilidade.

Devido às grandes dificuldades associadas ao estudo da via úmida muito deve ser feito em
matéria de pesquisa. Sua reologia, permite uma avaliação do comportamento do material
em laboratório, uma vez que é um concreto plástico e, em muito se assemelha aos
concretos bombeados. Por isso, métodos de análise de consistência e trabalhabilidade
devem ser estudados e correlacionados com as condições de obra. Isto deve ocorrer para o
concreto com o reforço das fibras de aço, da mesma forma que a utilização de aditivos
aceleradores.

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Um dos grandes campos de estudo futuro para o concreto projetado via úmida trata da
utilização de novos aditivos. Neste aspecto, ressalta-se o surgimento de novos produtos
como os aceleradores não alcalinos e os inibidores de endurecimento. Eles possibilitarão
uma grande economia de cimento, uma vez que, estes aceleradores não produzem perda de
resistência a maiores idades, e os inibidores evitam a perda de trabalhabilidade.

A avaliação do comportamento do material na estrutura, pelo monitoramento da mesma.


Isto contribuirá para a obtenção de um melhor entendimento da interação entre o
revestimento de concreto projetado e o maciço, fundamental no processo de
dimensionamento dos túneis. Assim, seria possível obter a parametrização das exigências
de desempenho que partem do projeto de execução do túnel.

Concreto Projetado para Túneis 62


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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro. RJ. 2 p.

ABNT (1994). Determinação de tempo de pega em pastas de cimento Portland com e sem
aditivos aceleradores: NBR 13069. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de
Janeiro. RJ. 2 p.

ABNT (1994). Moldagem de placas: NBR 13070. Associação Brasileira de Normas


Técnicas, Rio de Janeiro. RJ. 2 p.

ABNT (1995). Concreto projetado – Determinação do índice de reflexão por medida direta
– Método de ensaio: NBR 13317. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de
Janeiro. RJ. 2 p.

ABNT (1995) Concreto projetado – Determinação do índice de reflexão em placas –


Método de ensaio: NBR 13354. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro.
RJ. 2 p.

ABNT (1996). Qualificação de mangoteiro – via seca: NBR 13597. Associação Brasileira
de Normas Técnicas, Rio de Janeiro. RJ. 2 p.

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Cotia, SP. 2 p.

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qualidade do processo. Dissertação de Mestrado. Escola Politécnica, USP, São Paulo, SP,
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processo de projeção. Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP. Departamento de
Engenharia Civil - BT/PCC/92. EPUSP, USP, São Paulo, SP, 34 p.

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para túneis. Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP. Departamento de Engenharia
Civil – BT/PCC/181. EPUSP, USP, São Paulo, SP, 21 p.

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com fibra de aço. Tese de Doutorado. Escola Politécnica, USP, São Paulo, SP, 342 p.

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Politécnica da USP. Departamento de Engenharia Civil – BT/PCC/260. EPUSP, USP, São
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HELENE, P. R. L. (1986). Corrosão em armaduras para concreto armado. Editora Pini,


São Paulo, SP, 95 p.

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practice guide. Thomas Telford Publishes. London, England, UK, 88 p.

SILVA, P. F. A. (1997). Concreto projetado para túneis. Editora Pini, São Paulo, SP, 92 p.

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APÊNDICE A – DADOS TÉCNICOS


As Figuras 22 e 28 apresentam utilizações e especificações técnicas dos equipamentos e
acessórios para o concreto projetado. Algumas de suas aplicações podem ser:
#"Revestimento de estruturas metálicas com produtos para proteção ao fogo;
#"Encamisamento de estacas de madeira e recuperação de pontes de madeira;
#"Construção de abóbadas, cúpulas para igrejas, estádios, auditórios, etc.
#"Construção rápida de casas e prédios em núcleos residenciais
#"Paisagismo em jardins, zoológicos, parque de diversões, cavernas turísticas;
#"Restauração de construções antigas de alvenaria, com preservação da arquitetura
original (teatros, igrejas, monumentos, escadas, pontes, aquedutos, etc.);
#"Túneis, galerias de mineração e qualquer outro tipo de escavação subterrânea;
#"Recuperação e recomposição de estruturas de concreto danificadas (por incêndio, ação
do tempo, agentes químicos);
#"Estabilização de solos e contenção de encostas;
#"Construção de canais de irrigação e outros tipos de canais de adução de água;
#"Controle de erosão (proteção de encostas e margens de rios), canaletas de drenagem;
#"Aplicação de materiais refratários para revestimentos e reparos em fornos, chaminés;
#"Escoramentos periféricos de infra-estruturas;
#"Injeção de grafite para correção do teor de carbono (em fornos siderúrgicos);
#"Revestimento de proteção ou recuperação de tanques, açudes, reservatórios e piscinas;
#"Construção (in situ) de tubulações adutoras, silos, tanques de armazenamento de
petróleo, de aeração de esgotos, caixas d’água elevada, etc;

Figura 22 - Reforço de Superestrutura, Conjunto residencial dos estivadores - BNH –


Santos, SP (Este, 2001).

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(a) antes do tratamento (b) após a aplicação da primeira camada de


concreto projetado

(c) após a conclusão


dos serviços

Figura 23 – Secção em planta e aplicação de tela metálica e tirante monobarra de resina, para
contenção de taludes na BR101/BA - Desenvale - Norberto Odebrech (Este, 2001).

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Figura 24 – Concreto projetado para canal de irrigação, Fazenda Califórnia - Norberto


Odebrecht (Este, 2001).

Figura 25 – Contenção de talude com microestacas, concreto projetado e drenos,


Prefeitura municipal de Taboão da Serra /SP (Este, 2001).

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Figura 26 – Contenção de talude com concreto prejetado e chumbadores, Mairinque/SP -


Fepasa/CBPO (Este, 2001).

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Figura 27 – Equipamentos para o concreto projetado (modificado – Este, 2000).

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Figura 28 – Acessórios dos equipamentos o concreto projetado (modificado – Este, 2000).

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