Bentinho emou
Dom
não traiu
Mestre supremo da sabedoria, me diga, Capitu traiu ou não Bentinho?
Eduarda Souto, Governador Valadares, MG
Respostinha batata em todos os vestibulares éva: talvez. E esse é, justamente,
um dos aspectos mais geniais do livro: não há como decifrar o enigma
construído por Machado de Assis porque o livro traz apenas o ponto de vista
de um personagem, Bentinho. “Não é possível afirmar, por meio da
investigação das marcas textuais no romance, que Capitu tenha ou não tenha
traído Bentinho”, explica Andrea de Barros, doutora em Teoria e História
Literária pela Unicamp.
Desde que foi lançado, em 1899, até a década de 60, Dom Casmurro foi lido
como as memórias de um homem desiludido por ter sido traído pela mulher e
pelo melhor amigo. Bentinho, o narrador, conta a história do amor por Capitu
e depois a dor pela traição dela com Escobar.
Mas, no início dos anos 60, essa leitura foi modificada com a ajuda da crítica
norte-americana Helen Caldwell, que escreveu o livro O Otelo Brasileiro de
Machado de Assis. “A partir da referência direta a Shakespeare e,
especificamente, a Otelo, Caldwell leu Dom Casmurro como as memórias
narradas por um homem ciumento”, explica Antônio Sanseverino, professor
do Instituto de Letras da UFRGS. A comparação com Otelo é justificada: o
ciúme levou Otelo a dar ouvidos a Iago e acreditar na traição de Desdêmona,
que era inocente. “A partir dessa relação, pode-se ler o romance como a
escrita de Bento, homem ciumento e cheio de imaginação, que condena
Capitu sem ter provas e vê, em seu filho Ezequiel, a imagem de Escobar”, diz
Sanseverino.
Ou seja, muitas leituras foram feitas sobre o livro, mas nenhuma levou a uma
conclusão definitiva sobre o possível adultério. O que se pode afirmar é que o
narrador não dá voz para Capitu e, desde o início da narrativa, dá pistas que
tentam fazer o leitor duvidar do caráter da personagem.
Sanseverino traz alguns exemplos: “Bentinho diz que ela, aos 14 anos, era
muito mais mulher do que ele era homem. Depois, descreve sua beleza, sem
deixar de apontar a pobreza de sua condição. Não deixa de apontar sua
dissimulação, quando eles são surpreendidos pelo pai dela. Ele fica
atrapalhadíssimo, ela age como se nada tivesse acontecido”. Assim, como
temos apenas a versão parcial de Bentinho, que acredita na traição, não há
como desvendar o mistério.
Esta análise tem como objetivo o estudo da influência da obra Otelo, de William
Shakespeare, no romance Dom Casmurro, de Machado de Assis.
Com o intuito de assumir o posto esperado, Iago trama com Rodrigo uma
briga que envolve Cássio, bêbado, e Rodrigo, a fim de Otelo presenciar e
consequentemente, dispensar Cássio de seu cargo.
Otelo vê o lenço. Bastou para que ele acreditasse na traição de sua mulher.
Furioso, Otelo mata Desdêmona. A criada da casa, Emília, conta toda a verdade
a Otelo, que se mata.
Otelo se deixa conduzir por Iago, o qual inventa uma intriga e incrimina
Desdêmona.
Pode-se citar na obra Dom Casmurro, três capítulos, que fazem referências
diretas à obra Otelo, de Shakespeare, os quais são: “Uma ponta de Iago” (LXII),
“Uma reforma dramática” (LXXII) e “Otelo” (CXXXV).
“O Otelo –